SONGBOOK
Eduardo Lucas
SONGBOOK
Eduardo Lucas
edu.trumpet@gmail.com
EQUIPE
Coordenação Editorial – Eduardo Lucas
Pesquisadora – Joelma Consuelo
Assessoria de Imprensa – Gilberto Medeiros
Pesquisador – Anclebio Junior
Transcrição dos Sambas – Edu Martins
Fotografia – Ricardo Galvão
Projeto Gráfico e Capa – Paulo Prot
Assistente de Editoração – Matheus Ottoni
Revisão Textual – Pedro J. Nunes
Revisão da Melodia – Márcio Neiva
Revisão Musical – Eduardo Lucas e Edu Martins
O Espírito Samba reúne as 14 agremiações do samba capixaba com o intuito de fornecer um
songbook, um livro de partituras, contendo um samba mais representativo de cada escola.
Agora qualquer pessoa com conhecimentos do sistema notacional da música poderá tocá-los.
Esse trabalho é inédito, e pretende ser um mais do que merecido tributo ao povo capixaba.
Além das partituras, o livro apresenta um resumo de histórico de cada uma das escolas, bem
como as partituras, que estão no formato leadsheet, ou seja, na partitura constam a melodia,
os acordes e a letra.
FICHA CATALOGRÁFICA
L933e
Espírito Samba: songbook. / Eduardo Lucas. –Vitória: TNB, 2017.
108 p. il.
ISBN 978-85-93199-01-1
1. Samba 2.Notação e Interpretação 3.Guia I.Título.
CDD. 781.630981
Dedicatória
Dedico esta obra a todos os amantes do samba. Também
dedico aos meus familiares:
Meu pai José da Silva
Minha mãe Marlene Lucas
Meus irmãos Rafael Lucas e Laisa Maria Lucas
Minha noiva Jaqueline Vieira, que pacientemente me apoiou
no processo de confecção desse projeto
Aos meus sobrinhos, que tornam a minha vida mais divertida!
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AGRADECIMENTOS
Este songbook só foi possível porque tive o apoio de muitos amigos, que não posso deixar de mencionar: Márcio Roberto, Didilson, Emerson Xumbrega, Edson Neto,
Vanildo Silva, Guilherme Monteiro, Robertinho da MUG, Edvaldo da Padaria, Angelo
Borgo, Nizete Marques (Nega), Alessandro Souza, Alex Santos, Reginaldo, Vinicius
Caran, presidentes das agremiações que aceitaram participar deste projeto. Agradeço
pelo apoio da LIESES (Liga Espírito-Santense das Escolas de Samba), na pessoa do seu
presidente Rogério Sarmento, que se inclinou para o projeto. A Prefeitura Municipal de
Vitória que por meio da sua lei de incentivo Rubem Braga tornou este projeto possível.
A minha excelente equipe, que desempenhou com maestria as atividades para a
concretização do projeto, Joelma Consuelo, Gilberto Medeiros, Anclebio Junior, Edu
Martins, Ricardo Galvão, Paulo Prot, Matheus Ottoni, Pedro J. Nunes e Márcio Neiva.
Léo de Paula, que carinhosamente aceitou meu convite para prefaciar.
Aos meus amigos Paulo Pelissari, Roberto Tibiriçá, José Roberto Santos Neves, Juca
Magalhães, Dicesar, Jace Theodoro, que de bom grado aceitaram o convite de tecerem comentários sobre o songbook. Armando Chafik foi o anjo da guarda do projeto,
cedeu todo o seu acervo fonográfico dos sambas de enredo além dos brasões de cada
escola. Ao escritor Lucas Monteiro, que elaborou e cedeu um texto para o songbook.
A Hermógenes Fonseca (in memoriam), que nos presenteou com uma pesquisa séria
sobre o samba. A Milene Mello, coordenadora de responsabilidade social do instituto
UNIMED.
Aos talentosos compositores que deixaram um legado de composições maravilhosas:
Felipe Vianna, João Vitor, Claudio Ferreira, Zinho Furão, João Carlos, Big Roger’s, Julio
Negada, Bid, Douglas Jacaré, Emerson Xumbrega, Neguinho da Beija-Flor, Dominguinhos do Estácio, Darcy do Nascimento, Lorival das Neves, Lauro, Zé Kuruba, Leko, Renilson Rodrigues, Willian Ribeiro, Edmar Barbosa, Mário do Pega, Adilson Nascimento,
Jorge Candotti, Francisco Velasco, Lorival das Neves, Marquinho Gente Bamba, Attilio
Juffo, Adiel Carteiro Poeta, Flávio Manoel e Vaca Preta.
Fechando, gostaria de agradecer especialmente a todos os que fazem do Carnaval
essa festa memorável e do samba o seu hino.
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“Quem não gosta de Samba, bom sujeito não
é, é ruim da cabeça ou doente do pé.”
(Dorival Caymmi)
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Biografia
Eduardo Lucas da Silva nasceu em 1988, na capital Vitória. Iniciou seus estudos musicais no projeto social Banda Júnior da Polícia Militar do Espírito Santo, cursou música
na Faculdade de Música do Espírito Santo “Maurício de Oliveira” (FAMES), no curso
Bacharelado em Música com habilitação em trompete. É aluno do mestrado Profissional
em música da UFRJ (PROMUS), sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria José Chevitarese.
Foi responsável por diversas editorações de livros, a saber: Oficina de choro da
FAMES apresenta: Edu Martins – Edu Martins, Trompa sem mistérios – Ricardo Lepre,
A rítmica do Brasil – Eric Carvalho, Acordes na guitarra – Fábio Calazans, Jaceguay
Lins: personalidade e obra – Paula Galama, Radamés Gnattali: fantasia brasileira em
dois pianos – Cláudia Marques, Bandolim: notação e interpretação – Fernando Duarte,
Songboook Maurício de Oliveira: Clássico e popular – Benedito Geraldo Miglio Pinto,
tendo também editorado a obra orquestral Lacrimabilis do compositor Jaceguey Lins.
Participou de diversos festivais de música, como: Festival Internacional de Domingos
Martins, Semana da Música de Ouro Branco – MG, Seminário de Regência do Conservatório de Tatuí - SP, Festival de Música de Sarzedo - MG, Seminário Performa – RS e IV
Seminário de Pesquisa em Arte da UNIMONTES – MG.
Como trompetista atuou em vários grupos no Espírito Santo: Banda Júnior da Polícia
Militar do Espírito Santo, Banda Sinfônica da FAMES, Orquestra Sinfônica da FAMES,
Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (OSES), Coral Arcellor Mittal, Orquestra Pop&Jazz do IFES, FAMES Jazz Band, Quinteto FAMES de Metais, Banda Kalifa, Orquestra
Pop Jovem da FAMES, Orquestra Jovem Vale Música, Orquestra do show de 25 anos
da banda Clube Big Beatles e também da Big Band formada para o show da cantora
Bibi Ferreira em Vitória.
Em paralelo à atividade editorial, desenvolve um trabalho como maestro da Banda
Sinfônica Vale Música e da Jazz Band Vale Música, grupos que vêm se destacando
no cenário musical capixaba, com concertos que abrangem a música de concerto e a
música popular. Em 2015 esses grupos fizeram um concerto de trilha sonora de filmes
no teatro Universitário da UFES com uma homenagem ao Maestro Antônio Paulo Júnior
(Toninho). Em 2016, ano de centenário do Samba, no primeiro semestre organizaram
um concerto em tributo ao centenário do samba com a participação de um regional
de samba, da bateria da Escola de Samba Novo Império e participação especial do
jornalista e cronista Jace Theodoro, no segundo semestre continuaram a homenagem ao
samba, com a participação especial da Banda Kalifa no teatro SESC Glória.
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
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BIOGRAFIA
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PREFÁCIO
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APRESENTAÇÃO
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VIVA O SAMBA!
17
UM ENREDO, UM SAMBA, UM DESFILE
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COMO TUDO COMEÇOU
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AGREMIAÇÕES
Andaraí
29
Unidos de Barreiros
35
Independentes de Boa Vista
40
Chegou o que faltava
45
Imperatriz do Forte
50
Independentes de São Torquato
56
Mocidade Unida da Glória (MUG)
61
Novo Império
66
Pega no Samba
71
Rosas de Ouro
75
Tradição Serrana
80
Unidos da Piedade
87
Unidos de Jucutuquara
94
Chega Mais
99
11
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PREFÁCIO
Antes de mais nada, é uma grande satisfação receber esta incumbência do querido
Eduardo Lucas. Convivemos durante um significativo período da graduação na Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES) e compartilhamos vivências profissionais
há certo tempo, seja tocando ou lecionando. Desde o princípio, sabia que este projeto
estava em boas mãos, haja vista o respeito, cuidado e critério que meu camarada tem
com sua arte e demais trabalhos que realiza.
Este livro é bastante especial por várias razões. Meu despertar para a música se deu
pelo Carnaval, os sambas-enredo tiveram um papel fundamental neste processo. Desde
as iniciais batucadas no Rio de janeiro até os dias atuais (lá se vão mais de 15 anos),
sambas de enredo permanecem como trilha indispensável. Entretanto, o buraco é mais
embaixo. Para muito além das minhas recordações, os sambas-enredo constituem um
gênero épico absolutamente brasileiro. Preservam histórias, exaltam personagens, criticam, provocam, brincam, embalam sonhos e, sobretudo, emocionam. Representam,
muito bem, parte da identidade da música deste país tão plural.
É um gênero preservado e difundido na tradição oral. Espírito Samba vem para
engrossar o caldo e eternizar importantes obras que representam uma digna face da
cultura capixaba. Afinal, com estas partituras, músicos interessados passam a ter acesso
a parte do repertório, da mesma forma que acessam obras centenárias, mundo afora.
Poderão tocar Bach, Beethoven, Tom Jobim e sambas que embalaram folias capixabas.
Tal iniciativa é pioneira e possibilita um rompimento de fronteiras, realmente, promissor.
O Carnaval capixaba tem apresentado um crescimento expressivo nos últimos anos.
Intérpretes, carnavalescos, ritmistas e outros segmentos se superam a cada desfile. Os
investimentos e a geração de renda, também, crescem. Espírito Samba é parte deste
momento expansivo. São necessárias publicações que contribuam com a preservação
do reinado do Momo na terra da moqueca e da panela de barro. Na hora da apuração, uma certeza podemos ter: Espírito Samba... nota 10!
Léo de Paula
Percussionista, educador musical, produtor e comentarista carnavalesco
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O samba e o Carnaval sempre precisaram de Quixotes, heróis
com alguma dose de loucura pra transformar sonhos, antes impossíveis, em realidade. O maestro Eduardo Lucas é um desses que
empunham as armas da arte, as que não causam danos, mas
conferem sabores e perfumes aos sonhos. Ao escrever este songbook com as partituras de grandes sambas-enredo do Carnaval
capixaba, ele literalmente imprime a história do nosso samba,
dá-lhe vida e o coloca em outro patamar. Como cronista atento
ao samba e Carnaval, só me resta tirar toda a minha coleção
de trinta chapéus pra este trabalho e pro maestro Eduardo Lucas,
com quem trabalhei e tenho imenso apreço pelo seu talento, pela
sua postura artística e, mais que tudo, pelo belo exemplar de ser
humano que ele é. Senhoras e senhores, eu tiro com vigor o meu
chapéu pra este songbook!!!
Jace Theodoro
Jornalista e cronista
ESPÍRITO SAMBA
APRESENTAÇÃO
Este songbook nasce de um sonho, o sonho de difundir as manifestações musicais
do meu estado. Eu venho refletindo constantemente sobre as questões relacionadas à
cultura do Espírito Santo, e um dos pontos que me deixam curioso é o fato de termos,
em formato de partitura, tão poucos registros da nossa música. Antes do advento do
fonógrafo, a maneira mais viável de se registrar uma música era mediante a partitura,
e é graças a esse registro que temos contato com obras dos séculos passados.
Na minha infância tive um contato muito estreito com o samba, minha família tinha
uma casa de shows tradicional na região da Grande São Pedro, intitulada Sonho Doce.
Lá aconteciam shows de forró, funk e samba. Minhas primeiras lições musicais foram
nesse ambiente, ouvindo, dançando, nutrindo-me daquelas belas melodias. O tempo
passou, e eu hoje não tenho dúvida de que essa vivência musical na infância foi preponderante para que eu escolhesse fazer música pelo resto da minha vida.
O Carnaval é uma das maiores festas do mundo, mobilizando todos os anos milhões
de pessoas, que ao embalo do samba festejam e se alegram. Realmente é uma festa
magnífica.
No início da pesquisa não tinha noção da riqueza do Carnaval, principalmente das
composições. Um fato que me chama atenção é que esses compositores são pessoas
que, na grande maioria das vezes, exercem profissões diversas, mas fazem belíssimas
composições imbuídos de uma inspiração e de um talento extraordinários, criando lindas melodias e poemas.
Existe quem não dê a dimensão devida a esse fenômeno. Mas em conversa com
os presidentes e com alguns membros das escolas, pude constatar o amor e a paixão
que todos eles têm pelo samba. Tomo a liberdade para comparar sua dedicação a um
ritual para o qual as pessoas se preparam com o que têm de melhor, comungando dos
mesmos valores, celebrando a vida. Mesmo com todas as dificuldades, todos os anos,
mesmo após dias cansativos de trabalho, lá estão eles, inteiramente devotados ao samba. Vários foram os momentos em que me emocionei.
A música ocidental detém um sistema notacional bastante eficaz, em que frequências,
dinâmicas, intensidades, tempos são codificados e decodificados. O sistema é aceito
universalmente, tornando mais fácil a propagação. Transcrever a nossa música para
esse sistema é facilitar o acesso.
O Espírito Samba reúne as 14 agremiações do samba capixaba com o intuito de
fornecer um songbook, um livro de partituras, contendo um samba mais representativo
de cada escola. Agora qualquer pessoa com conhecimentos do sistema notacional
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SONGBOOK
da música poderá tocá-los. Esse trabalho é inédito, e pretende ser um mais do que
merecido tributo ao povo capixaba. Além das partituras, o livro apresenta um resumo
de histórico de cada uma das escolas, bem como as partituras, que estão no formato
leadsheet, ou seja, na partitura constam a melodia, os acordes e a letra.
Um dos primeiros nomes a se debruçar sobre o Carnaval capixaba e o samba foi
Hermógenes Lima Fonseca, folclorista e primeiro presidente da UBES (União das Batucadas e Escolas de Samba). Homenageamos esse artista com a inserção de um de seus
textos que conta a história do Carnaval capixaba, um texto riquíssimo de informações.
Um jovem jornalista, Lucas Monteiro é autor do livro Carnaval Capixaba: histórias,
honras e glórias, referência indispensável para quem deseja conhecer a história do
nosso Carnaval. O autor atendeu ao nosso convite e escreveu um texto exclusivo para
este songbook.
Eduardo Lucas
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ESPÍRITO SAMBA
VIVA O SAMBA!
Samba: Cada uma das danças nacionais derivadas do batuque africano. Essas
danças foram trazidas de Angola e do Congo para a América, e distinguem-se, umas
das outras, na sua movimentação, como dança de umbigo, dança de pares, dança de
roda e dança em fileiras.
O samba tornou-se gradualmente urbano no final do século XIX, e já tinha como
marca registrada: o compasso binário e os ritmos altamente sincopados. São encontradas variantes do samba por todo o Brasil. No Rio de Janeiro, surgiu a forma musical
padronizada, por volta da década de 1920, cujo primeiro exemplo histórico foi o
samba “Pelo telefone” de Ernesto dos Santos (Donga). Várias formas de samba foram
desenvolvidas, como: o samba de breque, o samba de partido alto, o samba canção,
o samba choro, o samba funk, o samba reggae e o samba-enredo, que foi a essência
do projeto “Espírito Samba”, idealizado pelo músico e regente Eduardo Lucas, no qual
participei fazendo a transcrição dos melhores sambas-enredo do Carnaval capixaba
para compor um songbook, promovendo acessibilidade aos músicos para execução e
apreciação dos mais belos sambas do Carnaval do Espírito Santo. Fiquei muito feliz
com o convite, por considerar de grande relevância e extremamente importante para
a história do Carnaval capixaba. Abracei esta missão, e confesso que não foi fácil a
empreitada, devido a minha maior preocupação de fidelidade e respeito com os compositores e suas obras, considerando que alguns áudios que me foram enviados não tinham qualidade satisfatória, o que tornou a minha responsabilidade ainda maior. Após
três meses de audições, correções, finalizei as transcrições, e o sentimento foi de dever
cumprido, realizado, extremamente feliz e muitas vezes surpreso, com tamanha beleza
das melodias e harmonias ali contidas, criadas por pessoas da comunidade, sem conhecimento técnico, pessoas simples, humildes, contudo, muito talentosas. Para finalizar,
agradeço a Deus, ao ilustre amigo Eduardo Lucas, pela oportunidade e confiança, e
que esta obra fortaleça e promova a cultura do Estado do Espírito Santo. Viva o Samba!
Edu Martins
Compositor, pianista e violonista com mais de 150 obras
compostas, dois CDs lançados e um songbook publicado
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SONGBOOK
UM ENREDO, UM SAMBA, UM DESFILE
Quando a escola de samba atravessa o portão de dispersão e o Carnaval termina,
muitos dos que se divertiram deixam para trás sua fantasia e outros aguardam as notas dos jurados, mas com certeza uma pequena parcela já está de olho no próximo
Carnaval. Para estes, que preparam a folia, é necessário antes de mais nada pensar
primeiramente no tema que a escola apresentará na Avenida. É assim que começa um
desfile carnavalesco.
A partir da escolha do tema, constrói-se o enredo, que é a forma como este tema será
abordado pela Escola de Samba. Geralmente, constitui-se a narração de uma história –
que pode ser um fato, um conceito, uma crítica, uma biografia, etc. Ao desenvolvimento
do enredo em sua forma textual dá-se o nome de sinopse.
A partir da sinopse, constrói-se a setorização e o roteiro que possibilitará ao carnavalesco desenvolver o desenho de fantasias e alegorias. É também a partir desta
que compositores criam os sambas- enredo que serão cantados na Avenida, contendo
elementos de maior relevância dentro da sinopse. Muitas escolas optam por realizar
concursos para a escolha do samba de enredo, mas outras preferem encomendar a
obra para músicos profissionais.
O enredo é, portanto, o fio que conduz todo o trabalho dos profissionais do Carnaval
e que dá sentido à escola em desfile, possibilitando ao espectador entender a história
que está sendo contada. Nesse sentido, o samba-enredo é uma ferramenta primordial
para que esse entendimento ocorra.
Muitas obras musicais das escolas de samba ultrapassam o período carnavalesco e
se tornam “imortais” pela poesia de sua letra e por sua qualidade melódica. Sambas
como “É hoje” (União da Ilha, 1982), “Peguei um Ita no Norte” (Salgueiro, 1993),
“Sonhar não custa nada, ou quase nada” (Mocidade Independente, 1992), “Liberdade,
liberdade! Abra as asas sobre nós” (Imperatriz Leopoldinense, 1989), só para ficar em
alguns exemplos mais recentes, nasceram da ideia de um tema, foram construídos em
cima de uma sinopse bem escrita, ajudaram o entendimento do desfile e ganharam o
gosto popular por sua qualidade.
Por todos esses fatores o trabalho de construção e pesquisa de um bom enredo torna-se fator fundamental para a criação dos sambas-enredo e para o bom desenvolvimento do desfile.
Anclebio Júnior
Pesquisador
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O samba capixaba fez história, mas ainda há muito a ser desvendado sobre as Escolas de Samba da Grande Vitória e os personagens que construíram seu passado de glórias. Este songbook
coordenado pelo maestro Eduardo Lucas da Silva representa um
importante passo para a valorização dos sambas-enredos das
agremiações capixabas, na medida em que transporta para as
partituras toda a potência rítmica e melódica que encantou o público nos desfiles do Sambão do Povo. E – nunca é demais lembrar – reforça a presença do samba no caldeirão da identidade
cultural capixaba, a exemplo do papel ocupado por este gênero musical como elemento central da identidade nacional, tese
amplamente desenvolvida por pesquisadores do porte de Sérgio
Cabral e Hermano Vianna.
José Roberto Santos Neves
Jornalista e pesquisador musical. Autor dos livros Maysa, A
MPB de conversa em conversa, Crônicas musicais e Rockrise
SONGBOOK
COMO TUDO COMEÇOU
O Carnaval de Vitória tem sua história de altos e baixos acompanhando, naturalmente, as condições econômicas e culturais. Do bate-moleque e do entrudo, foi tomando suas formas. Dos limões de cheiro e bisnagas, surgiram os lança-perfumes e os
bailes à fantasia.
Houve, inicialmente, o período das grandes sociedades, com seus carros alegóricos
puxados a cavalo. Foi o tempo da Fênix carnavalesca e do Pierrot, quando o pessoal
da alta sociedade participava. Destaca-se nesse período a presença da Casa Cruz,
uma empresa dos Cruz Sobrinho, que marcou época. Quando surgiram os automóveis
de capa de lona, os fordecos, apinhados de gente jogando serpentinas e confetes, era
o chic. Todo mundo saía às ruas para ver o corso.
O último baile do Pierrot foi no antigo Cine Central (ao lado do Hotel Capitólio), que
tinha, no andar térreo, a casa Morgado Horta. O Cine Central depois se transformou
em armazém de café e ficava onde é hoje o edifício das Repartições, na avenida Jerônimo Monteiro.
Além dessas sociedades, tinha ainda o Flor da China, o Flor do Abacate, o Resedá.
O Flor da China era do pessoal dos Nascimento, uma família numerosa e tradicional
que residia na Capixaba. Eram grandes festeiros, pois, além dos congos, eram organizadores das marujadas. Nos desfiles dos três dias de momo, havia grupos musicais,
como o Centenário, surgido em 1922; os Sururus, que a última vez que desfilou foi
cantando a marcha Na Pavuna... Na Pavuna...
Ainda desfilava pelas ruas o grupo musical Mocidade. Antes, porém, existiam dois
grupos famosos: Morcegos e Diabos em Folia. Eles se encontravam na rua Duque de
Caxias, que era a principal e a mais movimentada, apesar de estreita como é até hoje.
Nesse encontro, o pau comia. Era briga na certa. Seus componentes eram o pessoal da
Estiva e Docas, trabalhadores da firma Antenor Guimarães ou, como diziam, o pessoal
do “bravo meu mano”.
Acontece que, em um desses encontros de brigas e das fantasias do Diabo com
chifres, o bispo diocesano pediu ao chefe de polícia que proibisse a saída dos Diabos
em Folia. Nas proximidades do Carnaval do ano seguinte, o pessoal se reuniu para
discutir as medidas do chefe de polícia. Nessa época, havia um ditado popular: “Está
cruel. A vida está cruel”. Durante a discussão, na procura por outro nome, apesar das
várias sugestões, não chegavam a um acordo e diziam “é... está cruel”.
Até que um dos presentes sugeriu: “Por que não botamos o nome de Está Cruel?”
Todos aceitaram, e o bloco saiu com esse nome, sob a direção de Pedro Furão, que
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ESPÍRITO SAMBA
dançava agarradinho e com a caixa de fósforos no bolso. Às vezes, dançava-se o
escambau, quando era permitido pelo Cabo Queiroz. Mas o escambau era dançado
mesmo na pensão da Aurora Gorda, na Volta de Caratoíra.
O escambau foi o precursor da lambada, que hoje faz tanto sucesso. O Está Cruel
deixou de desfilar e só promovia bailes. O cabo Queiroz, mesmo depois das sucessivas
promoções, continuou sendo chamado de cabo Queiroz ou, às vezes, até de tenente
cabo Queiroz.
Após os bate-moleques e o entrudo, o Carnaval era iniciado pela manhã do primeiro
dia, com o Congo de João Capuchinho, que ia da Praça 8 até o Cais Schmidt, no final
da rua do Comércio, próximo à Vila Rubim, onde havia a fábrica de cerveja Apolo.
Seus componentes eram recebidos com alegria e muita cerveja. Cantavam eles: “Oi,
rei congo, rei congo é de beira-mar, rei congo foi para a guerra. Ai, meu Deus, como
será? Oi, rei congo, rei congo é de beira-mar.” Tudo no batido dos tambores do congo.
João Capuchinho era serrano e grande animador das folias que organizava, fazendo
alegria da então pacata cidade de Vitória.
Eram dois tipos por todos conhecidos: João Capuchinho e Pedro Furão, que estavam
sempre à frente de tudo, inclusive nas festas religiosas, principalmente a de São Benedito. Também os Nascimento marcaram a sua época lá pela década de 20 a 30,
satirizando os governantes e criticando-os.
Na Revolução de 30, quando o presidente do Estado, Aristeu Aguiar, fugiu a bordo
de um navio italiano, fizeram uma paródia com a marcha “Taí. Cadê Aristeu e Mirabeau, que ninguém viu? Azularam com o dinheiro do Estado e deixaram, e deixaram o
povo sacrificado”. Dizem que a paródia foi de João Capuchinho. Mas, nesse tempo, as
marchas e os sambas eram feitos por diversos compositores, não se cogitava em direitos autorais. Ninguém sabia de quem eram, nem o autor os reivindicava. Algumas organizações ensaiavam às escondidas para provocar surpresas no povo que as ia ouvir.
Certa vez, os componentes do Diabo em Folias mandaram um representante ao Rio
para saber das músicas que estavam cantando e trazê-las para Vitória, sob todo sigilo.
Devemos levar em consideração que o rádio estava nascendo, e mal se ouvia o que se
cantava, a não ser “Seu cabelo não nega”, que foi um estouro quando o rádio divulgou
a música pela primeira vez.
Com a Crise de 1929 e logo depois a Revolução de 30, com Getúlio Vargas, desapareceram as grandes sociedades e os grupos musicais. No Carnaval, saíam pequenos
grupos chamados de batucadas, que foram aumentando, tomando forma e, então,
surgiram em vários subúrbios, chegando a 12.
Assim, foi fundada a União das Batucadas e Escolas de Samba, embora não exist-
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SONGBOOK
issem escolas de samba. A primeira a se organizar foi a Unidos da Piedade, sob a
direção de Rominho (na Fonte Grande), que esteve no Rio, aprendendo o ritmo dos
surdos e tamborins.
Na Fonte Grande, foram constituídas duas batucadas. Em um Carnaval, na subida
do morro, na rua 7 de Setembro, as duas se encontraram, e o pau comeu solto, numa
briga tremenda.
A batucada Centenário, oriunda do grupo musical com sede em Santa Lúcia, incentivou o aparecimento de outras, como a Santa Lúcia, a Mocidade da Praia, a Andaraí,
a Prazer das Morenas, Gurigica do Centro, além do Império da Vila e São Torquato.
Cada batucada tinha sua marcha oficial, como a Chapéu do Lado, muito divulgada:
“Quem é, quem é que vem chegando com tanta animação? Quem é? Quem é? Chapéu
do Lado do meu coração.”
As marchas eram puxadas por um cavaquinho ou banjo. Jaime Cachacinha puxava
com seu banjo a Chapéu do Lado. Sob o aspecto social, o interessante era que cada
uma das organizações era dirigida por um líder (sua família também fazia parte), e
as reuniões eram feitas em sua casa. Por exemplo, Mocidade da Fonte Grande era da
família de Nestor Lima; Chapéu do Lado, do seu Eduardo e a filharada; Centenário, da
família de João da Cruz e agregados; Santa Lúcia, de Júlio Henrique, um estivador com
o apelido de Júlio Tripa de Oca, com uma enorme família entre filhos, genros e netos.
Foi por volta de 1950 que os batuqueiros decidiram criar uma união, no sentido
de congregar todos os carnavalescos e tomar decisões para solução dos problemas,
procurando unir suas organizações, com a elaboração de estatuto para obter personalidade jurídica e licenças da polícia. Esse foi o primeiro trabalho que coube à União
das Batucadas e Escolas de Samba (Ubes).
Depois, os trabalhos de preparação dos desfiles passaram a ser também por eles mesmos organizados. Em torno da Ubes, congregaram-se sem nenhuma influência política
que pudesse provocar a desunião. Não obstante, por fora, alguns psicopatas do Golpe
de 64 consideravam que a Ubes era foco de subversivos.
Os primeiros concursos foram realizados na porta da redação de A Tribuna, sob a
direção de José Luiz Holzmeister, e o critério de julgamento era simbólico. Ali mesmo,
discutia-se qual a melhor, e se anunciava a vencedora, que recebia os prêmios e se
mandava sem protestos. Depois se achou por bem ter uma concentração no estádio
Governador Bley, com comissão julgadora, estabelecendo-se critérios para figurantes,
porta-bandeira, bateria, fantasia e música.
Não havia enredo, e o desfile era em ritmo de marcha. Como o julgamento e a escolha dos julgadores deu encrenca, elaborou-se um regulamento, estabelecendo regras,
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ESPÍRITO SAMBA
condições, escolha dos jurados, quando muita confusão e protestos se verificavam.
No início, havia pouca divulgação das músicas cariocas, e só umas poucas, de
grande sucesso, eram cantadas pelo rádio, como o Seu Cabelo não Nega, que se
imortalizou até hoje. Cada batucada tinha o seu corpo de compositores, que levavam
as músicas para os ensaios. No princípio, os integrantes do Trapiche e Cais do Porto
eram os autores, aproveitando os fatos vivenciados.
Ninguém sabe quando e como apareceu a figura de Rei Momo. Quem poderia
dizer isso era o João Gualberto (já falecido), mas infelizmente ninguém registrou suas
memórias dos velhos Carnavais.
Houve vários Reis Momos. Contudo o que mais tempo permaneceu no reinado foi
Chico Mussielo, que tinha uma fábrica de calçados na rua 7 de Setembro. Quando o
Chico morreu, escolheu-se um português que tinha um bar na rua Duque de Caxias.
Mas, no dia de uma passeata pré-carnavalesca, ele não apareceu, ficando de longe,
apenas observando.
Como A Gazeta tinha uma página dedicada ao Carnaval, malhou Lázaro, o que foi
defendido pelo jornal Ao Roncar da Cuíca, dirigido por José Luiz. No entanto fizeram
as pazes no boteco do Lázaro, e se resolveu fazer a chegada do Rei das Arábias com
Pitomba e sua mulher Terezinha montados no camelo e no dromedário. Foi um grande
espetáculo, com uma multidão da Capixaba à Praça 8.
Outros reis surgiram democraticamente eleitos. As notícias dos jornais denominavam
os dirigentes carnavalescos de Lords. Era Lord João da Cruz, Lord Nestor e tantos outros. Os diversos acontecimentos, os grupos e as famílias, essa história toda, sem dúvida
nenhuma, daria um interessante livro sobre a vida de Vitória.
No sábado, saía o pessoal do Banco do Brasil com um bloco sujo denominado
Alegria da Vaca, à tarde, abrindo o Carnaval. Depois, apareceu o Tristeza do Boi, do
pessoal do Departamento Nacional do Café (DNC), posteriormente Instituto Brasileiro
do Café (IBC). Com a transferência de funcionários do Banco, o Alegria da Vaca acabou desaparecendo.
Com o desaparecimento das grandes sociedades, o Carnaval passou para os clubes
Saldanha, Vitória, Álvares Cabral e Náutico Brasil, formando os blocos de salão, como
o Solta a Negra, do Vitória. Também os rapazes e moças organizavam seus blocos. No
Saldanha, organizou-se o Bate-Papo, que cresceu e até saiu em desfile em grande estilo. A música do Bate-Papo se tornou conhecida por todo o povo, e todos a cantavam:
“Bate-papo. Bate-papo, meu povo...”
A música e a letra eram de autoria de Moacyr e Clóvis Cruz. Por causa de uma briga
no Saldanha, saiu o pessoal da família Grijó, que foi para o Vitória, clube conhecido
23
SONGBOOK
como aristocrático, que só admitia gente da alta sociedade. Clóvis, então, fez uma
marcha com a letra: “Maria você é mulata, como é que pode ser aristocrata?”, que ele,
no final de sua vida, negou ser alusiva à saída dos Grijós do Saldanha. Era cantada
pelos “Street Boys” só para provocar.
No princípio, ninguém cogitava em pedir auxílio à Prefeitura, pois tudo era feito
com amor. Cada participante se esforçava em fazer a sua fantasia e as dos figurantes,
conseguidas com o Livro de Ouro, corrido no comércio. Quem assinava dava sua contribuição em dinheiro ou em material.
Só mais tarde, consignou-se uma verba no orçamento do município como auxílio
para o Carnaval, contando-se com a boa vontade de Adelpho Monjardim, que era
um saldanhista ligado a essas organizações, tinha seus conhecidos e ia assistir aos ensaios. Era conhecido como Bio e tinha, entre seus amigos, Mané Donêncio e outros. Bio
chegava aos ensaios e se sentava rodeado dos amigos. Era, sem dúvida, um grande
incentivador desse povo. O Barão no meio de seus vassalos.
Tudo começou com o Rominho da Fonte Grande, organizando a Unidos da Piedade,
com a maioria do pessoal da Chapéu de Lado. Foi uma grande novidade naquele ano,
com seu ritmo diferente e seu enredo apresentando-se com toda a pompa.
Também, no Rio de Janeiro, era a Mangueira, a Estácio e outras que iniciavam o
Carnaval carioca, que chegou a esse grande espetáculo, atraindo gente do estrangeiro
para ver o que é considerada a maior festa do mundo. As escolas desceram do morro
para o asfalto, a princípio na Praça 11, com suas alegorias críticas. Mas, na ditadura
de Getúlio, houve intervenção e sequer elas podiam ser registradas com o nome de
escola, a não ser acrescentando a expressão grêmio recreativo escola de samba.
Os sambas só podiam ser de exaltação ao Brasil, quando foi organizada a Federação das Escolas, sob a presidência de um coronel. O folclorista Édison Carneiro
escreveu a história das escolas desde o início e registrou que elas surgiram com o ritmo
das folias de reis e dos lundus com as chulatas. Várias escolas foram organizadas pelo
povo do subúrbio e seguiam as mesmas normas das escolas cariocas, com seus enredos
e alegorias.
Hoje a preparação de uma escola de samba é uma ciência e envolve muita gente.
As alas são compostas por pessoas de todo o tipo de área profissional (medicina, direito e magistério, por exemplo), acompanhadas por suas respectivas famílias, todas
fiéis à sua escola.
O Carnaval capixaba nada fica devendo aos de outros lugares. Há muitos Joãozinhos Trinta por aqui, no anonimato. Logo após um Carnaval, eles já começam a trabalhar para o próximo. Os enredos são discutidos e estudados. Começa-se por aí.
24
ESPÍRITO SAMBA
Depois de escolhido o enredo, entram em ação os compositores, que fazem o samba
e o submetem a julgamento, e, em seguida, os figurinistas. Na Independente de São
Torquato, certa vez, procuraram-me para fazer um enredo folclórico, e tive que proferir
uma palestra para os compositores sobre como era o folclore capixaba.
Dois deles conversaram longamente comigo, e confesso que não dei crédito à capacidade deles de colocarem tudo em um samba. No dia do ensaio do samba vitorioso, caí
de costas pela descrição e pela beleza do samba, concluído com o refrão: “Ticumbi,
Ticumbi. Ticumbi fenomenal. Ticumbi, Ticumbi, de fama nacional.”
O desfile não é nada fácil no seu deslocamento. Unidos da Piedade, Novo Império,
Independentes de São Torquato, Mocidade da Praia, Unidos de Jucutuquara e todas as
demais, que enriquecem o desfile e passam por uma coisa de doido. Cada ala tem o
seu chefe, que conhece o roteiro.
São milhares de pessoas a se juntarem dentro de uma rígida organização, com
tempo determinado, alegorias, tudo previsto, controlado e comandado: ritmo, som,
bailado, evolução, posição de cada ala, obediência, amor, paixão, cores da escola a
serem honradas, comissão de frente, figurantes, destaques, carros deslizando. Tudo isso
é uma grande demonstração de capacidade de nosso povo, englobando gente de toda
a espécie, em que não há discriminação entre doutores e doqueiros, médicos com suas
famílias junto com o povaréu. É a maior demonstração de democracia.
Hermógenes Lima Fonseca
Folclorista e jornalista
25
Com a publicação deste songbook, o Espírito Santo firma raízes
para o futuro no qual as antigas e novas gerações poderão melhor se conhecer, aparecer e até – quem sabe? – se reinventar.
Juca Magalhães
É músico e escritor. Autor de livros sobre o Porto de Tubarão
e a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (OSES)
Agremiações,
Presidentes e
Brasões
ESPÍRITO SAMBA
Andaraí
Presidente:
Márcio Roberto
Fundação: 1946
Cores: Verde e Rosa
Endereço: Rua Oswaldo Aranha, 131
Bairro: Santa Martha, Vitória, ES
Em 1º de dezembro de 1946, nasceu o Grêmio Esportivo Andaraí Futebol Clube. No
ano seguinte, o time de futebol se transformou num bloco carnavalesco, que recebeu a
denominação de Batucada Andaraí e que adotou as cores azul e branca. Em 1973,
passou a ser chamado Grêmio Carnavalesco Bloco Andaraí.
Mais tarde, em 16 de abril de 1975, o bloco chegou à condição de escola de
samba, uma representante dos moradores do bairro Santa Martha e região. Tendo a
Estação Primeira de Mangueira como madrinha, o Grêmio Recreativo Escola de Samba
Andaraí fez do verde e do rosa suas cores.
Apesar de ter adquirido a característica de escola apenas em 1975, o grupo carnavalesco Andaraí foi sempre considerado parte da folia capixaba. Na época dos concorridos desfiles de batucadas, trazia um enredo com motivos relacionados ao Espírito
Santo em todas as ocasiões, mostrando as potencialidades do estado.
29
SONGBOOK
Carnaval de 2004
“Mármore e granito. A força das pedras do Espírito Santo”
Compositores: Felipe Vianna e João Vitor
Vou cantar, vou sonhar
Ver o fogo nascer. Minha pedra lascar
Pode crer (vou cantar, vou sonhar, vou zuar)
Num gesto de dominação
Aconteceu a integração
Do homem com a mãe natureza
Fui das cavernas, fiz história
Pois com o fogo tive a glória
Do poder da criação
Eu cacei, pesquei, sobrevivi e fiz belezas surgir
Coliseu que ousadia
E palco de guerreiros medievais
A força das pedras no oriente
Se faz presente ao luar
Muralha da china, maravilha milenar
Os deuses da mitologia
Os faraós, mas quem diria
Uniram épocas distantes
Era de sonhos fascinantes
O mundo vou contagiar
Vim das pedreiras sou grandiosa
Potencial dos quatro cantos do país
Sou das rochas, estou feliz
Com minha força vou seduzir
O meu Brasil vou representar
De branco e preto vou me cobrir
Exaltar!
E assim... Nova Venécia e Cachoeiro vão brilhar
Fonte de riqueza, Barra de São Francisco
Ainda tem muito pra explorar
O mármore encantou
E a pujança do granito a colorir
O meu amor, minha paixão, Andaraí!
30
"Mármore e granito. A força das pedras no Espírito Santo"
Andaraí
Felipe Vianna e João Vitor
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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ESPÍRITO SAMBA
Unidos de Barreiros
Presidente:
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Fundação: 1972
Cores: Vermelho e Branco
Títulos: Não possui no Especial
Endereço: Rua José Motta Fraga, 75
Bairro: São Cristovão, Vitória, ES
Por volta de 1963, foi criado em São Cristóvão, bairro situado na região da Grande
Maruípe, o bloco Barreiros. São Cristóvão estava localizado numa fazenda cujas estradas não possuíam calçamento, por isso a escolha do nome.
O crescimento comercial e populacional fez com que o bairro e o bloco passassem
por uma expansão. Assim, em 1972, o Barreiros fez seu primeiro desfile oficial na
avenida Princesa Isabel, no Centro de Vitória, trazendo as mais tradicionais personalidades de São Cristóvão. Dez anos depois, foi transformado em escola de samba.
A Unidos de Barreiros teve altos e baixos em sua trajetória como escola de samba.
Em 1987, na estreia do Sambão do Povo, desfilou no primeiro grupo, com o enredo
“ABC do samba”, mas foi rebaixada, permanecendo no segundo grupo até 1992.
Veio a interrupção dos desfiles, e a Barreiros volta a se apresentar em 2000, com o
enredo “De conquistas, belezas e glórias, eu amo Vitória!” Em 2002, houve o retorno
dos desfiles competitivos, e a escola ficou em oitavo lugar (só havia um grupo), com
“Hélio Dórea - gente bacana”, em homenagem ao jornalista baiano.
35
SONGBOOK
Carnaval de 2000
“Das conquistas, belezas, eu amo Vitória”
Compositores: Cláudio Ferreira, Zinho Furão e João Carlos
[Alô, Vitória, que orgulho de você, sou capixaba sou Barreiro até morrer]
Que maravilha, que beleza de Vitória
Na passarela vou mostrar e recordar
Praças, clubes e avenidas
Parques e praias tão lindas
Para a gente se encantar
Ilha do mel, minha Vitória querida
Com Barreiros na avenida
Vamos juntos desfilar
O capixaba se apaixonou
Na panela de barro
Moquecas preparou
Esta delícia é um mar e paixão
As paneleiras moram no meu coração
E os pescadores, lá da Praia do Suá
Na festa de São Pedro pedem sua proteção
E o “Amores da Lua” é folclore e tradição
No vai e vem, no vem e vai
No porto de Vitória
O navio, entra e sai
Tem mistérios e magias!
Lendas e contos de emoções
A Pedra de Dois Olhos e o Penedo
Guardam segredos, por seus Guardiões
Ô Maria Ortiz
Maria Ortiz
Com muita garra, os holandeses expulsou
Na escadaria, o seu nome registrou
36
"De conquistas, belezas e glórias, eu amo Vitória "
Cláudio Ferreira, Zinho Furão
e João Carlos
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Unidos de Barreiros
Samba de enredo
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39
SONGBOOK
Independentes de Boa Vista
Presidente:
Emerson Xumbrega
Fundação: 1975
Cores: Azul, Vermelho e Branco
Títulos: 2010, 2012, 2014
Endereço: Rua Muniz Freire, 55
Bairro: Itaquari, Cariacica, ES
Em 14 de outubro de 1975, nasceu, na cidade de Cariacica, o bloco que, mais tarde,
seria transformado na escola de samba: Independente de Boa Vista. A escola desfilou
no primeiro grupo, em 1984, com o enredo “O festejar da natureza”. Em 1985, com
“O Carnaval é um jogo de bicho”, foi rebaixada para o segundo grupo. Retornaria ao
primeiro grupo das escolas capixabas três anos depois.
Após a interrupção dos desfiles, iniciada em 1993, a Independente de Boa Vista
retorna em 1998, com o enredo “Quem viver, verá”. Com a volta dos desfiles competitivos em 2002, a escola atravessa o Sambão do Povo ao som de “O Congo e o Jongo,
o mais capixaba dos enredos” e conquista a sexta colocação.
Nos anos posteriores, a agremiação enfrentou momentos difíceis, mas conseguiu se
manter no grupo principal. O esforço foi recompensado graças aos resultados obtidos
nos desfiles seguintes. Nos anos de 2010 (“Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que
balança cai”), 2012 (“Vida em Poesia... A Lira que é Lucinda”) e 2014 (“Teu cheiro me
dá prazer... Boa Vista espalha o perfume no ar”) a Boa Vista foi a grande campeã do
Carnaval de Vitória.
40
ESPÍRITO SAMBA
Carnaval de 2003
“360º Vitória, uma viagem em torno de ti”
Compositores: Big Roger’s, Júlio Negada, Bid, Douglas Jacaré e Emerson Xumbrega
[Venho lá do alto da colina de uma escola tão querida, colorido visual, sou Independente, sou
de Boa Vista para alegrar seu Carnaval]
O Galo canta, é alvorada,
Reflete pela luz do sol.
Você é minha namorada
Girando o mundo, coisa igual não há!
Vitória!
É lindo te ver assim,
Esculpida pela natureza,
Cenário que Deus criou ô ô ô
O forte é minha fortaleza
Hoje minha águia cruza os mares
Vou por todos os lugares
Cheios de encantos mil.
Quero te exaltar na passarela
Em amarelo, vermelho, azul anil.
Ilha do mel, meu mar,
Explode a paixão!
É Boa Vista
Estremecendo a multidão!
Remei, remei
Pra te alcançar
Eu reciclei pra preservar
Ai quem me dera,
Bênção do Papa
Para me abençoar
Vou na volta da Itaputera
Me banhe em flores,
Rainha do mar.
Eu já pesquei
Meu marlim azul.
Da sua casquinha eu provei
Da torta eu gostei
Por sua moqueca
Me apaixonei.
41
"360º Vitória, uma viagem em torno de ti "
Big Roger's, Júlio Negada,
Bid, Douglas Jacaré
e Emerson Xumbrega
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Independentes de Boa Vista
Samba de enredo
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Presidente:
Edson Neto
Fundação: 1980
Cores: Azul e Branco
Bairro: Morro do Quadro, Vitoria, ES
A Chega Mais foi fundada em 25 de fevereiro de 1980 e desfilou nos grupos de
acesso do Carnaval de Vitória na década de 1980, mas deixou de desfilar em 1992,
quando ocorreu o fim da competição. Com novo presidente, Edson Rodrigues de Freitas Neto, a escola voltou a desfilar em 2013, ao apresentar um enredo reeditado dela
mesma, do ano de 1983, sobre o sambista paulista Adoniran Barbosa.
45
SONGBOOK
Carnaval de 2016
“Anjo Negro, Lindo Anjo – Tributo a Neguinho da Beija-Flor”
Compositor: Neguinho da Beija-Flor
Desde criança sempre teve a esperança
De ser cantor, compositor, fazer carreira
Moleque pobre que vendeu limão na feira
Cresceu, venceu nesse malvado mundo cão
Ê menino pé no chão, se inspirou no Mestre Jamelão
Beija-Flor sua escola
Sua vida, seu amor
Ierêrê, ô ô ô ô
A deusa que lhe consagrou
Sonhou com Rei deu Leão
Primeira comemoração
A sua história é demais
São mais de quarenta carnavais
Um fato bem marcante em sua vida
Foi seu casamento na avenida
E os sucessos que eternizam sua voz
São gratificantes para nós
Domingo eu vou ao Maracanã
Torcer para o meu time que sou fã
De azul e branco eu vou festejar
Lá vem Chega Mais pra te conquistar
Nos braços do povo com muita emoção
No sonho de ser campeão
A felicidade o Anjo Negro lindo abençoou
O rei da humildade Neguinho o poeta sonhador
Grito de guerra de um vencedor
A voz do samba que no mundo ecoou
46
"Anjo Negro, Lindo Anjo – Tributo a Neguinho da Beija-Flor”
Chega Mais
Neguinho da Beija-flor
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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SONGBOOK
Chegou o que faltava
Presidente:
Nizete Marques (Nega)
Fundação: 1976
Cores: Azul, Branco e Rosa
Bairro: Grande Goiabeiras, Vitória, ES
Fundada em 6 de junho de 1975, o GRES Chegou o que Faltava viveu momentos turbulentos na última década. Em janeiro de 2009 teve fim uma intensa disputa judicial entre a antiga diretoria e a nova, dando a esta última o direito de assumir a agremiação.
Esta, por sua vez, concluiu que seria impossível organizar o desfile em 15 dias e pediu
licença da liga, se ausentando do Carnaval 2009.
Após a licença no Carnaval de 2009, a escola retornou, no entanto terminou entre as
três últimas que participaram do grupo de acesso no Carnaval 2011. Após o descenso,
com o enredo “Despertar”, a escola abriu o desfile do grupo de acesso do Carnaval de
Vitória e terminou na 3º colocação. Para 2012, a escola optou por um enredo sobre
a Índia, mas devido à falta de recursos e atraso no repasse das verbas para o desfile
desistiu de desfilar nesse ano.
De volta ao Carnaval capixaba em 2013, a escola decidiu contar a história das
quadrilhas nas festas juninas, terminando em 3° lugar. Em 2014, com o enredo “Joga-se
búzios, cartas e tarô. Traz seu amor de volta em 5 dias”, a agremiação de Goiabeiras
fez um desfile digno, porém aquém das concorrentes. O samba não funcionou como o
esperado, a comissão de frente inovou com os integrantes em cima de pernas de pau,
mas tornou-se ineficiente, fazendo com o que os integrantes tivessem dificuldades para
evoluir em suas coreografias, e, por último, outro ponto negativo foi a falta de beleza
plástica nas alegorias e fantasias.
No desfile de 2015, homenageando o carismático apresentador Ferreira Neto, a
Chegou o que Faltava se apresentou de forma tímida e plasticamente muito simples,
seus dois carros alegóricos possuíam graves problemas de leitura e acabamento, mas
teve como grande destaque o seu primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, que
realmente realizou apresentações técnicas e de enorme sincronia. Sem dúvida alguma,
o melhor casal do grupo de acesso.
Para o ano de 2016 a agremiação contara a história de Bernardo José do Santos,
o Caboclo Bernardo, e de sua terra natal Regência Augusta, distrito da cidade de Lin-
50
ESPÍRITO SAMBA
hares, no norte do Espírito Santo. A escola foi a primeira a entrar no Sambão do Povo,
abrindo assim o Carnaval capixaba no dia 29 de janeiro de 2016.
Carnaval de 1989
“Chegou o que faltava, o periquito da sorte”
Compositores: Dominguinhos do Estácio e Darcy do Nascimento
Meu periquito faceiro
Meu mensageiro da paz
Diga pra fada madrinha
Se liga na minha
Que a minha é demais
E o desfolhar da margarida, oi
Espante nossos ais
Cartomante, bola de cristal
Que o mago agite o nosso Carnaval
Axé, oi axé
Pra Iemanjá, minha mãe
Jogos de búzios no chão
Muita lenha seca pra fogueira
Chova foguetes, viva São João!
Vista sua caipira, periquito
E vem pra roda brincar
Faz um gracejo a iô iô
Faz um xodó pra iá iá
E o realejo a tocar
Deu meia-noite
Um copo d’água abracei
Fiz um pedido com fé
Meu sonho realizei
Ôô ôôô, balança a viola, é com esse que eu vou
Ôô ôôô, chegou quem faltava chegar, Chegou.
51
"Chegou o que faltava, o periquito da sorte"
Chegou o que Faltava
Dominguinhos do Estácio
e Darcy do Nascimento
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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ESPÍRITO SAMBA
Imperatriz do Forte
Presidente:
Vanildo Silva
Fundação: 1975
Cores: Verde e Rosa
Títulos: Não possui no Especial
Endereço: Morro do Romão
Bairro: Forte São João, Vitória, ES
A escola de samba Imperatriz do Forte foi fundada em 15 de dezembro de 1972,
no Forte São João. No ano seguinte, em sua primeira participação, desfilou como
estagiária, ou seja, sem verba e não concorrendo a prêmios. A escola se valeu da
mobilização da comunidade e de um livro de ouro para colocar seus componentes na
passarela. O desfile oficial ocorreu em 1974, ao som do enredo “Lendas do Apiacá”.
De 1993 a 1997, não houve desfile. Algumas escolas retornaram em 1998, mas
a Imperatriz só voltaria em 1999, com o enredo “A festa do Senhor do Bonfim”. Em
2002, com “Batalhas e vitórias - Saldanha - 100 anos de glórias”, a escola ficou em
terceiro lugar (Grupo Único).
“De porto em porto, Vitória do Espírito Santo” foi o enredo de 2003. A agremiação
enfrentou problemas com seus carros alegóricos, o que prejudicou sua evolução e harmonia, porém seu samba fez com que o desfile fosse muito aplaudido e a escola conquistasse o quinto lugar no único grupo existente.
55
SONGBOOK
Carnaval de 2001
Aquários, um grito de paz
Compositores: Lourival das Neves e Lauro
[ Eu quero paz eu quero ser feliz com minha querida Imperatriz]
Um grito de paz, amor e igualdade
Ecoa! Ecoa pela cidade
A imperatriz do Forte São João
Trouxe para a avenida
A era de Aquários que emoção
O universo veste a fantasia
E cai de coração na folia
Os filhos de Urano
Tocando suas trombetas ...Ôba!...Ôba!
Anunciam essa chegada
Divinamente iluminada
Do seu portal um anjo despontou
E uma chuva de estrelas clareou
Assim veio a união
Do oriente com o ocidente
E a sabedoria
Imperando todas as mentes
Eu posso sentir minha gente
Troco armas por flores
Quem quer trocar
Com a temperança vem Nanã e Oxalá
Nesse clima de integração geral
Esperançosos os povos dão as mãos
E deixam a árvore da vida
Germinar sem repressão
A natureza e o homem em harmonia
Prosperam renascidos de alegria
Após a noite virar um belo dia.
56
"Aquários, um grito de paz"
Imperatriz do Forte
Lorival da Neves e Lauro
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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59
O Projeto ESPÍRITO SAMBA eleva a cultura popular ao mais alto
patamar musical e eterniza, no centenário do samba, o gênero
samba-enredo para as gerações futuras. É um marco para o Carnaval e para as escolas de samba capixabas.
Armando Chafik
Professor, pesquisador, criador do site Viva
Samba e do troféu Faisão de Ouro, atualmente
faz parte da Diretoria de Carnaval da LIESES
ESPÍRITO SAMBA
Independentes de São Torquato
Presidente:
Angelo Borgo
Fundação: 1974
Cores: Vermelho e Branco
Títulos: 1981, 1982, 1983, 1991, 1992
Endereço: Av. Anézio José Simões
Bairro: São Torquato, Vila Velha, ES
Sediada no tradicional bairro de São Torquato, em Vila Velha, a escola de samba
Grêmio Recreativo Independentes de São Torquato, cinco vezes campeã no Carnaval
capixaba, foi a primeira a levar os grandes carros para a avenida. A agremiação
surgiu do Bloco Caveira, fundado no início dos anos 50. Em 1974, o bloco se tornou
uma escola de samba e adotou o nome atual após ter sido campeão tanto no concurso
oficial de blocos de Vitória, quanto no concurso de Vila Velha.
Em 1975, concorrendo pela primeira vez, a escola obteve o quarto lugar com o
enredo “Exaltação a Pedro Nolasco”, uma homenagem ao idealizador da estrada de
ferro Vitória a Minas. Em 1979, ela conquista o vice-campeonato com “Exaltação aos
signos do zodíaco”.
Em 1981, a São Torquato chega à sua primeira vitória, com o enredo “Festas e
folguedos populares do Brasil”, dividindo o título com a escola de samba Mocidade
da Praia. Em 1982, é bicampeã com o enredo “Liberdade, liberdade Brasil” e, no
ano seguinte, conquista o tricampeonato com “Brasil, terra da gente”. “Sinfonia de
um espectro” foi o enredo de 1991, ano em que a escola obteve mais uma vitória.
Em 1992, a São Torquato se torna novamente campeã ao som de “A hora e a vez na
terra do descaso”.
Em 1998, depois de cinco anos sem desfile, algumas escolas voltam a desfilar. Contudo, somente em 2005, a São Torquato retorna com o enredo “Respeitável público,
sua majestade o Grêmio Recreativo Escola de Samba Independentes de São Torquato
no Carnaval”.
61
SONGBOOK
Carnaval de 1988
São Torquato em Quimeras, uma utopia capixaba
Compositor: Attilio Juffo
[Vou te peito aberto alegrando a avenida, de vermelho e branco eu estou feliz da vida]
Entre a Rua Ponte Nova e a São Pedro
Há o segredo de um povo diferente,
Que fez o seu próprio mundo,
Sem ser profundo,
Pra não deixar de ser gente,
Ali a vida era um ritual de fantasia,
Onde a rapaziada rompia a madrugada
Na oficina ou na orgia... na orgia.
Lá estava Mazinho, junto ficava também Altemar,
Cantando e fazendo, como um toque de malícia,
Toda a moçada sonhar.
Mundo antigo, mundo novo,
Gente da mesma nação,
São Torquato abre o leque,
A independente assina o cheque
E faz a transformação.
Recordei e pensei
Que eu sempre quis
Qual um Almir Sapateiro,
Sem dinheiro, ser feliz.
Foi no terreiro de Maria Cinquenta
Veio o transe e deslumbrado
Vi o desfilar da opulenta
Civilização do passado.
E a projeção de novas eras
Tudo havia transformado
No bairro, no lugar das taperas,
Surgiu um mundo novo, iluminado,
E o São Torquato em Quimeras
Mostra o futuro relembrando o seu passado.
Vou de peito aberto alegrando a avenida
De vermelho e branco eu estou feliz da vida.
62
"São Torquato em quimeras, uma utopia capixaba"
Independentes de São Torquato
Attilio Juffo
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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SONGBOOK
Mocidade Unida da Glória (MUG)
Presidente:
Robertinho da MUG
Fundação: 1980
Cores: Vermelho e Branco
Títulos: 2003, 2005, 2011, 2013 e 2016
Endereço: Rua Mourisco, s/n
Bairro: Glória, Vila Velha, ES
A Mocidade Unida da Glória (MUG), escola de samba de Vila Velha, surgiu em 9
de agosto de 1980. Seu alicerce foi um bloco carnavalesco fundado por um grupo
de amigos jogadores de futebol do time Leão Glória. Esse bloco era chamado Calção
Vermelho, já que seus componentes desfilavam da Glória até o centro de Vila Velha
trajando somente calções com essa cor.
Já como escola de samba, a MUG iniciou suas atividades desfilando apenas no Centro de Vila Velha. Lá, saiu vitoriosa nos anos de 1981, 1982, 1983 e 1984.
Também em 1984, desfilou em Vitória, no segundo grupo, com o enredo “No reino
onde chorar é proibido”. Campeã, ascendeu ao grupo principal. Contudo, em 1985,
foi rebaixada com “Raízes da história de uma civilização”. No Carnaval de 1986, ao
som de “Quem te viu, quem TV”, foi bicampeã no segundo grupo, o que permitiu o
retorno ao primeiro, no qual conquistou o vice-campeonato em 1990, com “Do sonho
à fantasia”.
Em 1992, um incêndio destruiu o barracão da MUG, impedindo-a de desfilar. Seus
componentes voltaram a pisar na avenida no Carnaval de 2002, após a interrupção
dos desfiles e com a volta da competição entre as escolas. Naquele ano, foi vicecampeã (um grupo reunia todas as escolas de samba), tendo como fundo musical “O
renascer das cinzas”.
A Mocidade Unida da Glória sagrou-se campeã no Sambão do Povo nos anos de
2003 (“De passo a passo, faço os passos de Anchieta”), 2005 (“Grécia... Uma viagem
fantástica ao templo dos Deuses da Mitologia”), 2011 (“Mocidade - A cerevisia que
contagia”), 2013 (“Oui voilá le France! Mocidade singra os mares de Dunkerque. Merci beacoup”) “ e 2015 (“Nos reinos de sua majestade: o sonho”).
66
ESPÍRITO SAMBA
Carnaval de 2006
“Quente como o inferno, puro como um anjo, doce como o amor... Quem vai provar? Quem
vai querer? Eu sou o café e meu banquete é pra você”
Compositores: Leko e Renilson Rodrigues
Do coração, da África
A plantação Fantástica
Girou o mundo a seduzir
A maravilha descoberta por Kaldi
Chegou ao Brasil
Lá da Guiana Francesa
Com Francisco de Mello Palheta
Português desbravador e genial
De lá pra cá “parou no Pará”
Beleza, pureza, paixão, paladar
E hoje em cada lar desse país
Um cafezinho deixa o dia mais feliz
Seu “ar” de sedução
Trazendo imigrantes e a miscigenação
A força da planta enriquece a nação
O Espírito Santo “jorra” café da veia
A terra mais fértil e sagrada
Da pátria amada mãe gentil! Ô meu Brasil é capixaba
Nascendo sementes quebrando as correntes
Liberdade desejada
Bota água pra ferver
Essa noite eu brindo a você
Com sabor do prazer
Um aroma de enlouquecer
Quem vem de longe já sabe o que é
É o meu café!
Vem meu amor! Vamos provar
A mocidade é quem vai te levar pro cafezal
Delírio desse Carnaval.
67
"Quente como o inferno, puro como um anjo, doce como amor...
Quem vai provar? Quem vai querer?
Eu sou o café e meu banquete é para você"
Mocidade Unidada Glória
Samba de enredo
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ESPÍRITO SAMBA
Novo Império
Presidente:
Alessandro Souza
Fundação: 1956
Cores: Azul, Branco e Rosa
Títulos: 1978, 1980, 1985, 1987, 1988, 1989, 2014
Endereço: Av. Santo Antônio, 301
Bairro: Caratoíra, Vitória, ES
Sediada no bairro Caratoíra, a Novo Império é uma das mais antigas escolas de
samba do Espírito Santo. Fundada em 20 de dezembro de 1956, com o nome de
Império da Vila, adotou a denominação atual na década de 1970.
Em 1964, a escola parou de se apresentar por discordar dos critérios adotados no
desfile e retornou em 1973, na condição de estagiária. “Esplendor da natureza” era
seu enredo no Carnaval de 1978, quando alcançou sua primeira vitória. Foi a primeira
colocada também nos anos de 1980 (“O incrível reino da fantasia”) e 1985 (“De lá
pra cá”).
Após a interrupção nos desfiles, a agremiação volta a pisar na avenida em 1998.
Seu enredo naquele ano foi “Rei Zulu”. Em 2002, obteve o quinto lugar, com “Ouro
Negro e o turismo em terras capixabas”. Embalada pelo enredo “Uma Cidade Presépio
que se chama Vitória”, a escola conquistou o vice-campeonato em 2003.
71
SONGBOOK
Carnaval de 1978
O esplendor da natureza brasileira
Compositores: Willian Ribeiro e Edmar Barbosa
Surgiu na imensidão
O astro-Rei com seus raios coloridos
Saudando a natureza
Este sonho de esplendor
Que Deus criou
Faço verso com as estrelas
Sob a luz do luar
Esperando o sol raiar
Para o dia clarear
Campos, matas verdejantes
Fauna fascinante
Manancial de riquezas
Minerais em profusão
Ouro, petróleo e manganês
Milagre do solo e da mineração
Primavera, estação das flores
Muitos poemas, inspirando amores
Como é sutil
O gorjear do Uirapuru
Verdadeira sinfonia
Ao despontar do dia
E assim, esta poesia divinal
O império traz para este Carnaval.
72
"O esplendor da natureza brasileira"
Novo Império
Willian Ribeiro e Edmar Barbosa
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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Eduardo Lucas, ex-aluno da Fames, nos apresenta o livro “Espírito Samba”, um trabalho cujo ineditismo deve ser ressaltado e
comemorado, e que contribui de forma significativa para a divulgação e preservação da cultura do samba em nosso Estado.
O autor da obra personifica a figura do músico empreendedor,
que atua além dos palcos e procura diversificar a sua atividade
profissional nas diversas áreas que o mercado da música proporciona, demonstrando muito bem como a profissão de músico
pode e deve ser subsumida na economia criativa e na atividade
econômica em geral.
Paulo Pelissari
Diretor da Faculdade de Música do Espírito
Santo “Maurício de Oliveira”
SONGBOOK
Pega no Samba
Presidente:
Alex Santos
Fundação: 1976
Cores: Azul, Vermelho e Branco
Títulos: Não possui no Especial
Endereço: Rua Dr. Américo de S. de Oliveira, 455
Bairro: Consolação, Vitória, ES
A origem da escola Pega no Samba está num bloco carnavalesco fundado em 28
de janeiro de 1976. Antes de se tornar bloco organizado, o Grêmio Recreativo Bloco
Carnavalesco Pega no Samba era conhecido no bairro da Consolação, Vitória, como
Bloco Pega Tudo. Nessa época, os homens saíam às ruas vestidos de mulher, batendo
lata e arrastando a multidão.
Em 12 de fevereiro de 1982, surge oficialmente a escola Pega no Samba integrando o segundo grupo. Nesse mesmo ano, conquistou o título de campeã com o enredo
“Sonho infantil”. Em 2005, conseguiu o quarto lugar (só havia um grupo no desfile).
No ano de 2007, a Pega no Samba disputou no segundo grupo. Com a reedição
do samba enredo “Tipos populares de Vitória”, a agremiação foi a primeira colocada,
retornando ao grupo principal.
76
ESPÍRITO SAMBA
Carnaval de 1986/2007
Tipos populares de vitória
Compositores: Mário do Pega, Adilson Nascimento e Jorge Candotti
[ Eu sou Pega no Samba e venho da Consolação, hoje a alegria mora no meu coração]
O pega descontraidamente vem apresentar ô ô
Em seu enredo a história
Dos tipos populares de Vitória
Quem não se lembra de Otinho e Rosinha
Um idílio tão profundo que marcou
Em um dos seus poemas ele assim se expressou
Uma rosa é uma rosa, uma flor é uma flor
Não existe um só jardim quando se fala de amor
E Domingas...
Domingas, a catadora de papel
Hoje tem na escadaria, sua estátua que está vendo lá do céu
Meio Fio o mendigo elegante
Dando uma de importante
O capixaba conquistou ô ô
João Ramiro que matou o pistoleiro
Temido por muita gente valente se machucou
Quero ver pegar, oi, quero ver pegar
Maria Tomba Homem, camburão vai te levar
Nesta festa de recordação
Aurora Gorda, Melo Bico e Boião
Nadar só queria nadar
Gringo ficou famoso na avenida Beira Mar
Mané Diabo o eterno apaixonado
Vivi com seu caderno tornou-se popular
Vamos recordar, Vavá, Juju
Que bom lembrar
Walmor Miranda quanta saudade nos dá.
77
"Tipos populares de Vitória"
Pega no Samba
Mário do Pega,
Adilson Nascimento e Jorge Candotti
Samba de enredo
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Edição e Revisão: Eduardo Lucas
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79
SONGBOOK
Rosas de Ouro
Presidente:
Reginaldo da Silva
Fundação: 1984
Cores: Azul e Dourado
Bairro: Serra Dourada III, Serra, ES
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Rosas de Ouro é uma escola de samba da cidade da Serra, porém disputa o Carnaval da capital, Vitória. Tem como cores dourado
e azul royal. É oriunda das comunidades de Serra Dourada I, II e III, mas em parceria
com outra escola de Serra (Tradição Serrana) passou a dividir ensaios, eventos e até a
confecção de alegorias e fantasias.
Em 2008, com o enredo Rosas de Ouro, canta o grande amor à natureza, foi a última
colocada do Grupo Especial - 1A, sendo rebaixada para o Grupo de Acesso - 1B.
Em 2009, mas com a fusão dos grupos para um só, apresentou o enredo Do reino de
Odin ao Sol Nascente, o país do futebol é a terra da gente.
Para 2010, ano em que completava 25 anos de fundação, a Rosas apresentou o
enredo Rosas brancas, rosas vermelhas, rosas amarelas! E no Carnaval tem Rosas de
Ouro na avenida, com o qual terminou entre as três rebaixadas que fariam parte do
grupo de acesso, recriado para 2011.
Para 2011, ao abordar um enredo sobre a pirataria, contratou o intérprete Maxuel
Freitas e apresentou Leilane Neves como rainha de bateria, ficando próxima de voltar
à elite do samba capixaba.
Para 2012 a escola trouxe como enredo Serra, terra da gente, a 4ª cidade que mais
cresce no país, sou capixaba, sou da serra e sou feliz, de Marco Aranha e Marcyo
de Olliveira, tendo samba-enredo feito pelo compositor carioca Moacir Alves e, como
rainha de bateria, Rivany Frizzera.
80
ESPÍRITO SAMBA
Carnaval de 2005
“Eu sou Afro-Serrano, sou cultura, sou raiz”
Compositores: Lourival das Neves e Marquinho Gente Bamba
Eu sou Afro-Serrano
Com muito orgulho e muito amor
Minha cultura resistiu
Por esse imenso Brasil
Trezentos anos de trabalho e dor
Toco meu berimbau
Jogo capoeira
Brinco meu carnaval
Levanto poeira
Mostrando um samba de primeira
Rosas de Ouro
É minha tela
É meu tesouro
Na passarela
E assim vou vivendo a vida
Sem esquecer da escravidão
Índios, brancos e Queimado
A luta por libertação
Mas hoje nesta ilha de magia
Vou curtir cidadania
Preservando a raiz
Deixada pela força de meu povo
Retratada por Assis
Mãe África eu tô feliz
Eu puxo o mastro, eu danço congo com alegria
São Benedito me protege noite e dia
81
"Eu sou Afro-Serrano, sou cultura, sou raiz"
Lorival das Neves
e Marquinho Gente Bamba
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Rosas de Ouro
Samba de enredo
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ESPÍRITO SAMBA
Tradição Serrana
Presidente:
Vinicius Caran
Fundação: 2000
Cores: Azul, Branco e Vermelho
Títulos: Não possui no Especial
Bairro: Feu Rosa e Vila Nova de Colares, Serra, ES
Por volta de 1998, depois de uma partida de futebol, um grupo de amigos do bairro
Feu Rosa, na Serra, cantarolava num barzinho, quando veio a ideia de criar um bloco
carnavalesco. Reuniram-se na residência do sambista Mário Ferreira Mendes, o popular “Mário do Pega”, e fundaram o bloco Tradição do Samba.
Mesmo sem ajuda dos órgãos públicos, o bloco desfilou por vários anos no Carnaval
capixaba e conquistou o vice-campeonato em 1997. Com o passar do tempo, foi ganhando a adesão da comunidade e atingindo maiores proporções. Por isso, em reunião
extraordinária, os dirigentes transformaram, em 2000, o bloco em escola de samba,
que recebeu o nome de Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Tradição Serrana.
Nos anos de 2003 e 2004, a agremiação não desfilou, mas, ao retornar em 2005,
não mais saiu da avenida.
85
SONGBOOK
Carnaval de 2005/6
Na era do reciclável, nada mais é descartável
Compositores: Adiel Carteiro Poeta, Flávio Manoel e Vaca Preta
[O clássico bailar dos colibris ao brilho da coroa soberana reflete nossa garra nossa ... com
muito orgulho sou a tradição serrana]
Bom, bonito e barato
Vou buscando artefatos para minha criação
Sou matéria reciclável, maleável, descartável
Sou a mistura da cruel poluição
Dinheiro não cai do céu
Nem é semente para se plantar
Usando a minha criatividade,
Despoluo a cidade é preciso reciclar
Lado a lado com a nobreza
Veja a pobreza no lixão... a trabalhar
Ai meu Deus quanta tristeza!
Pra levar pra mesa o sustento do seu lar
Água fonte de energia da vida alegria de vê-la jorrar
E os resíduos poluentes querem deixá-la doente
Se não tratá-la a fonte a fonte vai secar
E o chuê, chuê, chuá
Desta fonte murmurante, eu quero ouvir cantar
E o chuê, chuê, chuá
Esta fonte fascinante não pode acabar
Hoje o lixo vira luxo
Se parar na não do artesão
Na era do reciclável
Nada mais é descartável
Aqui na minha tradição
Quem não tem cão,
Caça com gato, diz o dito popular
Reciclei a fantasia e com muita galhardia
Eu cheguei pra ficar.
86
"Na era do reciclável, nada mais é descartável"
Tradição Serrana
Adiel Carteiro Poeta,
Flávio Manoel e Vaca Preta
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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bem-vindo! Sendo assim, acredito que o projeto ESPÍRITO SAMBA seja mais um deles! Tenho plena confiança que ele vem para
somar!
Roberto Tibiriçá
Maestro brasileiro, titular da cadeira de nº 5 da Academia
Brasileira de Música desde 26 de março de 2003
SONGBOOK
Unidos da Piedade
Presidente:
Edvaldo Teixeira da Silveira
Fundação: 15/01/1955
Cores: Verde, Vermelho e Branco
Títulos: 1958, 1959, 1960, 1961, 1962, 1963, 1965, 1973, 1974, 1975, 1976,
1977, 1979, 1986
Endereço: Praça Mário de O. Silva, 38
Morro da Fonte Grande Bairro: Centro, Vitória, ES
O Grêmio Recreativo Unidos da Piedade é a escola mais antiga do Carnaval de
Vitória. Surgiu em 15 de janeiro de 1955, na Fonte Grande, em Vitória. Foi 14 vezes
campeã do Carnaval, mas não vence desde 1986. No ano de 2007 ficou em quarto
lugar no total de 6 agremiações do segundo grupo capixaba. Em 2008 foi a última
colocada do Grupo de Acesso do Carnaval da cidade. Em 2009, quando todas as
escolas voltaram a competir em apenas um grupo, a escola se superou conquistando a
quarta colocação. Em 2010 terminou em oitavo lugar.
Para 2011, teve como enredo “Senhoras e senhores, bom espetáculo!”, terminando
na terceira colocação. Em 2012, homenageou a AFECC. Em 2013, terminou na quinta
colocação, disputando no ano de 2014, ano em que homenageou o Estado de Pernambuco com o enredo “Do agreste do sertão de Gonzaga e Lampião - Pernambuco Histórias de luta, do frevo e do São João”, conseguindo o 3º lugar. Em 2015, sob nova
diretoria, a escola conseguiu o 4º lugar falando de sua própria trajetória no enredo
“Piedade 60 anos. Uma odisseia carnavalesca de conquistas”.
92
ESPÍRITO SAMBA
Carnaval de 2005
Sou terra, fogo água e ar. 50 anos de história...
Sou piedade, sou estrela, vou brilhar
Compositor: Francisco Velasco
[ Eu moro naquela montanha e as pedras são minhas vizinhas, Piedade, se você me ama, aceite essa lembrança minha.]
[laiá, laiá]
Eu hoje sou estrela, vou brilhar. Felicidade!
Eu tenho muita história pra contar
Vou sacudir essa cidade
Na vida vou plantar e vou colher verdades... poesias
Hoje eu sou terra, sou coração
Sou água, a fonte da vida
Minha alegria está no ar
Sou fogo da paixão contida
Eh! Mãe África
Sou alma, sou semente, sou raiz
De um povo que nasceu guerreiro
Que luta e deseja ser feliz
Fundadores, benfeitores
E a nova geração
Figurantes, ritmistas vão brilhar
Velha guarda e baianas... a tradição
Cantores, compositores...
É a fonte a cantar
Em janeiro de 55
A consciência despertou
Os morros Fonte Grande e Piedade
Conquistaram a cidade
Assim foi que a história começou
Amarra o burro, a mocidade
Chapéu do lado, deixar cair
E hoje a maior felicidade é ver a comunidade
Sentindo orgulho do que pôde construir
93
SONGBOOK
Depois de muitas vezes campeão
Tenho a nobre missão:
Levar o samba para quem quiser ouvir
A estrela é do povo... constelação
Festa do cinquentenário... o céu está no chão
Nasci no berço do samba e quero mais
Muita luz e esperança. Amor e paz
Parabéns pra você.
Muitos anos de vida.
Muitas felicidades.
Piedade querida.
94
"Sou terra, água, fogo e ar... 50 anos de história.
Sou Piedade, sou estrela, vou brilhar"
Unidos da Piedade
Samba de enredo
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ESPÍRITO SAMBA
Unidos de Jucutuquara
Presidente:
Guilherme Monteiro
Fundação: 1972
Cores: Verde, Vermelho e Branco
Títulos: 1990, 2002, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009
Endereço: Av Paulino Muller, 1409
Bairro: Jucutuquara, Vitória, ES
O bloco Unidos de Jucutuquara nasceu em 29 de janeiro de 1972. No começo, não
havia enredo, e os integrantes (só homens) saíam de tamanco. Depois a fantasia oficial
foi a de pescador. Com o decorrer do tempo, a Unidos de Jucutuquara incluiu outras
vestimentas e recebeu mulheres como componentes.
A partir de 1980, o bloco começa a participar dos concursos promovidos pela Prefeitura de Vitória, sendo campeão por cinco anos consecutivos. A Prefeitura sugeriu,
então, que o bloco virasse escola de samba, o que aconteceu em 1986.
Em 1987, no seu primeiro desfile como escola de samba e com o enredo “Debutei!
Saudades do meu bloco”, a Unidos de Jucutuquara foi a campeã do segundo grupo e
ascendeu ao primeiro. Conquistou o título de campeã do primeiro grupo nos anos de
1990 (“Na mistura da torta, a nossa mistura”), 2002 (“Da escuridão à luz... a noite,
seus encantos e mistérios”), 2004 (“Quantos mais caminhos houver, mais descaminhos haverá!”), 2006 (“Os tambores de Jucutuquara soam nas terras dos botocudos.
Linhares, a joia do Rio Doce”), 2007 (“Caparaó capixaba, os encantos da montanha
sagrada”), 2008 (“De Vitória à Samotrácia: um canto de vitórias”) e 2009 (“Convento
da Penha: o relicário de um povo”).
99
SONGBOOK
Carnaval de 1998
Retorno: carnaval e alegria estão de volta
Compositor: Zé Kuruba
[Eu tenho um grande amor nessa vida minha escola querida,
gosto tanto de você!
Ai, tá na rima tá na cara, você é Jucutuquara
meu amor meu bem querer]
Volta nesta Vitória colorida
A nossa escola vai desfilar nesta avenida
Para mostrar que nós desta cidade
Também fazemos samba de verdade
No Carnaval que passou
Nossa escola desfilou
E nosso samba foi sucesso geral
Voltamos e queremos desta vez
Duplicar o que se fez
No outro Carnaval
Quando pisarmos na avenida
E o nosso surdo ressoar...
O povo inteiro vai saber
É Jucutuquara que vem lá...
Anoiteceu, vai clarear
A nossa escola que chegou pra desfilar
Anoiteceu, vai clarear, Jucutuquara te convida pra sambar
100
"O retorno: carnaval, a legria está de volta"
Unidos de Jucutuquara
Zé Kuruba
Transcrição: Edu Martins
Edição e Revisão: Eduardo Lucas
Samba de enredo
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103
SONGBOOK
Esse é um projeto fantástico!!! Acredito que o ESPÍRITO SAMBA
venha se tornar um divisor na história de samba enredo e do Carnaval capixaba. No ano em que o samba completa seu primeiro
centenário esse songbook é um marco. Parabéns ao maestro Eduardo Lucas pela iniciativa e realização. Tenho plena confiança de
que ele vem preencher uma lacuna e será referência para esta e
futuras gerações.
Dicesar Rosa
Entusiasta e blogueiro do Carnaval capixaba
104
ESPÍRITO SAMBA
No centenário do samba, a música que se tornou trilha sonora e cartão-postal de um
país inteiro, temos a grata surpresa de saber que o samba produzido em terras capixabas é motivo de pesquisa, estudo e publicação de um importante Songbook. Nada
poderia ser melhor para enaltecer a qualidade dos nossos compositores e de nossa
música. Aqui, ela é representada apenas pelos sambas-enredo das escolas de samba
capixaba, mas devido à diversidade de nossos poetas e músicos que dão vida aos
sambas se torna uma homenagem à própria música capixaba.
E pensar que quando tudo isso começou, o samba era um ritmo quase proibido. Já
se fazia um tipo de música diferente, parecido com o maxixe. Mas, até então, o novo
ritmo não havia sido batizado. O registro só foi feito em 1917, quando Donga e Mauro
Almeida fizeram a primeira gravação de um “samba”, o famoso “Pelo telefone”.
O que deveria ser motivo de festa, se tornou protesto, visto que o ritmo era reconhecido como o som que ecoava nos encontros de músicos pobres e nas festas de morro
onde moravam os pobres e negros. Isso sem contar as discussões internas entre os
músicos, que tentavam encontrar uma origem para o novo ritmo, seja ela genuinamente
carioca, ou baiana, ou a mistura de cantos da macumba dos negros bantos com os
músicos intelectuais da época, ou ainda uma reprodução do semba, a famosa umbigada proveniente da região onde hoje se encontram Congo e Angola, local de onde veio
a maior parte da população de escravos africanos. As discussões persistem até hoje.
E alheio a tudo isso, o ritmo se espalhou e conquistou adeptos em todo o país. No
entanto, ainda era visto como desorganizado e fugia dos padrões exigidos para os
grupos carnavalescos, inclusive por sua dança, na qual casais remexiam os quadris de
forma sensual e desordeira, como nunca visto antes em nenhuma outra dança.
O pesquisador Nei Lopes descreveu em suas primeiras impressões que o samba é no
passo curto, é drible de corpo, é “no faz que vai, mas não vai”, é no passo largo cheio
de ginga, é no balançar dos braços, é no girar constante da cabeça. Para Lopes, a
combinação de gestos determinados com a improvisação criativa do sambista produz
movimentos no corpo que ninguém do mundo consegue fazer igual ao brasileiro.
E foi assim, de passo a passo, de boca a boca que o ritmo foi ganhando variações:
o samba do morro, de partido-alto, samba de batucada, samba-rancho, samba-choro,
samba-canção, samba-exaltação e o samba de roda, samba de breque, samba-enredo,
entre tantos outros.
Era preciso que o povo tivesse vez para expressar seus sentimentos, emoções; que
tivesse uma chance de falar o que pensava. Daí veio o nome do bloco: “Deixa Falar”,
que no mesmo dia foi consagrado como “escola de samba”, devido a uma sugestão
de Ismael Silva, que fez uma analogia à Escola Normal do Rio de Janeiro, próxima ao
local da reunião, onde eram formados professores para as escolas públicas. O argu105
SONGBOOK
mento de Ismael foi bem simples: se os mestres da educação se reúnem numa escola
para ensinar o que sabem, os sambistas também são mestres e professores quando se
reúnem para discutir sobre samba.
Para diferenciar as novas composições das marchinhas, das músicas europeias e do
ritmo de maxixe do primeiro samba gravado no país, foram proibidos os instrumentos
de sopro. Apenas o apito era permitido, pois servia para comandar os sambistas batuqueiros. Mas, foram incluídos novos instrumentos aos conjuntos de samba, como o
agogô, o chocalho, a cuíca e o surdo, este último, instrumento criado pelo próprio Bide.
De acordo com o sambista, o primeiro surdo foi feito com uma lata de manteiga de 20
kg e servia para alertar o coro de pastoras e brincantes sobre as mudanças melódicas
do samba, além de manter o ritmo sempre igual. Com tantas inovações e tanta repercussão, o samba se tornou uma das mais marcantes expressões musicais do nosso país.
O primeiro samba-enredo da história surgiu apenas em 1933, no concurso de Carnaval organizado pelo jornal O Globo. A Unidos da Tijuca apresentou como tema “O
mundo do samba”, composição de Nelson de Moraes interpretada por Alceu Maranhão, que é considerada, então, o primeiro samba-enredo da história.
Nestes primeiros desfiles, não havia ainda um samba-enredo único cantado pelas
escolas de samba, como acontece atualmente. Os mestres de canto ou versadores
cantavam estrofes de samba acompanhados das pastoras e o restante da letra era improvisado com refrãos criados na hora, ao longo do desfile. A Unidos da Tijuca cantou
apenas um samba, dos três permitidos por desfile.
Por onde passam as escolas de samba vão adquirindo características locais, seja nos
enredos, nas batidas da bateria, no compasso do samba, no material das fantasias.
No Estado do Espírito Santo, o termo “escola de samba” surgiu antes mesmo de elas
existirem. Em 1948 foi instituída a União das Batucadas e Escolas de Samba (Ubes). O
fato de a expressão “escolas de samba” estar incluído no nome da instituição simboliza
apenas que essas batucadas também faziam sambas, como aqueles apresentados no
Carnaval carioca.
Nesta época ainda não havia escolas de samba no Espírito Santo: a primeira só foi
fundada em meados da década de 50, a Unidos da Piedade. Rominho, que não era
nenhum mestre de bateria, mas havia aprendido o básico de como fazer a batucada
parecida com a dos desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro, ensinou aos sambistas dos
Morros da Fonte Grande e Piedade como segurar o instrumento, a posição correta da
baqueta, como afiná-los e tudo mais que uma bateria precisa para tocar em harmonia.
Esse fato chegou a ser retratado em uma composição interpretada por Papo Furado
para iniciar os desfiles da Unidos da Piedade. “Às seis horas da tarde, o sino da igreja
bateu. Lá do morro, Unidos da Piedade desceu”.
106
ESPÍRITO SAMBA
O gosto pela novidade e pelos novos instrumentos fez com que aumentasse o número
de pessoas interessadas. Homens, mulheres e crianças apareciam de todos os cantos
do morro para fazer parte da escola de samba de Rominho. Mas, somente os homens
podiam participar da bateria. Às mulheres era reservada a parte da costura de fantasias e no Carnaval elas desfilavam de passista ou porta-bandeira. As crianças eram
livres e podiam percorrer todos os setores do desfile, mas normalmente não chegavam
nem mesmo à metade do percurso.
O sucesso foi enorme e deu origem à Unidos da Piedade. Foi ela também a responsável pela introdução dos primeiros sambas-enredo do Carnaval capixaba. Até o
início da década de 60, definia-se um tema para a escola e suas fantasias, e o desfile
era realizado ao som de vários sambas com o mesmo tema, mas raramente um samba
era composto para um desfile específico. Muitas vezes, o puxador cantava versos de
sambas conhecidos e improvisava o restante conforme a escola progredisse na avenida.
O primeiro samba-enredo oficial do Carnaval capixaba foi apresentado em 1962,
em um enredo que homenageava Alberto Santos Dumont. A autoria do samba é de
Mário Benedito Ramos e a interpretação na avenida ficou a cargo de Papo Furado.
Novas escolas foram criadas, blocos se tornaram escolas, e o sucesso dos desfiles do
Carnaval capixaba se espalhou pelo Brasil. No Rio, os carnavalescos, intérpretes, compositores e presidentes das famosas escolas de samba, como Mangueira, Beija-Flor,
Mocidade e Salgueiro ficaram curiosos para saber como era realizado o nosso desfile
e enviavam representantes para visitar as coirmãs capixabas.
A partir do final da década de 70, os cariocas passaram a frequentar as quadras e
barracões capixabas para fazer um intercâmbio de conhecimentos, materiais e mão de
obra. Algumas comitivas eram formadas por presidentes, mestre-sala e porta-bandeira,
intérpretes, passistas e bateria, que além de participar de ensaios, também “batizavam”
as agremiações capixabas e ainda emprestavam-lhes suas cores e símbolos. Assim, a
Beija-Flor batizou a Novo Império, o Salgueiro batizou a Independente de São Torquato
e a Mangueira batizou o Andaraí.
O Carnaval de 1984 foi marcado por uma grande novidade. Era a primeira vez
que os sambas-enredo capixabas eram gravados num disco oficial. Para que isso fosse
possível, uma parceria entre a Prefeitura de Vitória, empresários e as escolas de samba
realizou uma excursão com os intérpretes para o Rio de Janeiro. Lá, os músicos cariocas
gravaram a base instrumental de cada samba para que os intérpretes capixabas pudessem gravar a voz. Meses antes do Carnaval o disco já estava sendo comercializado
nas quadras das escolas de samba e nas bancas de toda a cidade. A experiência foi
repetida nos anos seguintes.
A qualidade dos desfiles impressionava o público. E era cada vez mais evidente a
107
SONGBOOK
necessidade da construção de um local próprio para a apresentação das escolas de
samba. As avenidas, por maiores e mais largas que fossem, estavam pequenas para a
quantidade de componentes. Foi então que os sambistas tiveram uma ideia de construir
um sambódromo semelhante ao que foi planejado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para
a cidade do Rio de Janeiro. Para diminuir os custos e facilitar as obras, decidiram adaptar a avenida Dário Lourenço de Souza, no bairro Mário Cypreste, próximo à sede da
maioria das escolas de samba.
A década de 90 foi marcada por confusões entre os sambistas e seus dirigentes. Muitas agremiações foram criadas por sambistas dissidentes, no entanto, os componentes
permaneciam os mesmos, o que causava mais confusão. Alguns bairros chegavam a ter
cinco escolas de samba e os desfiles contavam com quase 30 escolas. A Prefeitura de
Vitória, na época sob administração de Vitor Buaiz, ficou temerosa de que a criação de
novas escolas fosse apenas mais uma forma de captação de recursos junto à prefeitura
e empresas. Por isso, a partir de 1992 decidiu cortar toda a verba pública destinada às
escolas e ficar apenas com a manutenção do sambódromo e a organização do desfile.
Algumas escolas se recusaram a participar do Carnaval organizado pela prefeitura
e desfilaram apenas em seus bairros de origem. Em primeiro de julho de 1992 o então
prefeito de Vitória, Vitor Buaiz, por meio da Lei nº 3.800, cedeu à Secretaria Estadual
de Educação e Cultura (Sedu) a utilização de 15 camarotes localizados no complexo
cultural do Sambão do Povo para serem transformados em salas de aula.
Como protesto as escolas de samba decidiram não desfilar em 1993. Sem o desfile,
aproveitariam para arrecadar mais dinheiro para o Carnaval de 1994. Mas, ao contrário do que se esperava, a prefeitura, agora administrada por Paulo Hartung, retirou
os desfiles carnavalescos do calendário de festas da cidade, o que extinguiu todas as
agremiações ainda em atividade. Em 1997, a prefeitura aceitou o desafio dos sambistas e implantou o projeto “Barracão do Samba”, por meio do qual incentivaria a volta
dos desfiles. Caso o desfile fosse bom e tivesse aprovação da sociedade, entraria no
calendário de festas.
Para as escolas o desafio foi dobrado. Era necessário reunir novamente os bambas
de anos atrás, formar e ensaiar a bateria, criar enredos, sambas, costurar fantasias,
construir as estruturas de carros alegóricos que foram destruídos pelo tempo ou até
mesmo vendidos para ferro-velho. Enfim, o trabalho era grande, mas a vontade de ver
a escola desfilando era ainda maior.
Apenas seis escolas de samba conseguiram se organizar a tempo de desfilar no “Carnaval de Todos os Ritmos”, como era chamada a programação de Carnaval de Vitória.
Os intérpretes gravaram um CD com os sambas do ano, que foi produzido na própria
cidade e era comercializado durante os seus ensaios.
108
ESPÍRITO SAMBA
O local escolhido para o desfile remetia aos tempos onde tudo começou: o centro de
Vitória, mais especificamente, a avenida Jerônimo Monteiro. Por se tratar de um local
menor e de fácil acesso a todos, seria mais fácil para constatar se a volta dos desfiles
tinha agradado ou não os capixabas.
Cada escola que entrava na avenida era saudada pelo público que gritava seu nome
e aplaudia seus componentes. Assim que era autorizado o início do desfile os fogos de
artifício invadiam o céu. A batida do coração de cada sambista passa a ser controlada
pela batida da bateria.
As escolas não estavam tão bonitas, os carros não tinham um acabamento tão
caprichado, o samba não estava na ponta da língua dos componentes. Mas a emoção
era tanta e a receptividade do público foi tão boa que tudo parecia perfeito. Todas as
escolas saíram da avenida consagradas como campeãs. Nesse ano o desfile não foi
competitivo, pois o objetivo era estimular a volta dos componentes e das demais escolas.
O estímulo deu certo. Assim que o Carnaval terminou novas escolas se dispuseram
a participar dos desfiles, e no dia 1º de junho de 1998 a prefeitura, por meio da Lei
4.644, inclui oficialmente o desfile das escolas de samba no calendário de eventos
carnavalescos do município.
Com a boa repercussão, as escolas se organizaram em uma liga e a prefeitura promoveu a reforma do sambódromo. A área de arquibancadas que foi demolida ganhou
camarotes móveis. A capacidade foi drasticamente reduzida, de 18 mil pessoas em sua
inauguração (1987) para 7,5 mil pessoas em 2002.
Em outubro de 2005, as escolas realizaram um verdadeiro Carnaval fora de época.
Uma parceria inédita no estado entre a Prefeitura de Vitória, a Liga Capixaba das Escolas de Samba e a iniciativa privada organizou a 1ª Feira do Samba, um dos maiores
eventos culturais do Estado e de grande importância para valorização do Carnaval
capixaba.
O projeto ofereceu aos capixabas e turistas uma verdadeira cidade do samba erguida na Praça do Papa, em Vitória. Lá, cada agremiação contava com um estande,
onde divulgava seu enredo e comercializava fantasias, camisas e CDs. Havia ainda
salas reservadas para palestras e workshops dos mais diversos assuntos referentes ao
Carnaval. Nas praças de alimentação e restaurantes os sambistas aproveitavam para
aquecer as cordas vocais e afinar seus instrumentos antes de entrar no grande palco.
O evento contou com apresentação de shows de todas as escolas de samba, além de
participações especiais com roda de chorinho, a sambista Tereza Cristina e, é claro, a
Velha Guarda do Samba Capixaba. Foram dias de muito samba e descontração que
reuniram milhares de pessoas na Praça do Papa durante três dias.
109
SONGBOOK
Em 2006 o Carnaval capixaba foi levado para a Marquês de Sapucaí, nome como
é conhecido o Sambódromo carioca, com o desfile da G.R.E.S. Caprichosos de Pilares.
Numa iniciativa inédita, o governador Paulo Hartung e a Assembleia Legislativa, por
meio de sua comissão de turismo, que nunca tinham demonstrado apoio explícito à
realização do Carnaval capixaba, resolveram pagar uma escola carioca para falar do
Espírito Santo.
Esta iniciativa tinha como objetivo divulgar o potencial turístico do Estado para o
Brasil e o mundo por meio da grande repercussão das transmissões dos desfiles de
Carnaval do Rio de Janeiro. A informação foi noticiada em todos os meios de comunicação do Estado e recebida com protesto pelos sambistas capixabas devido à quantia
em dinheiro para a escola carioca.
Compositores capixabas acompanharam a explanação do enredo e puderam concorrer com suas composições ao concurso de sambas-enredo da escola carioca. As
eliminatórias capixabas eram paralelas às que aconteciam no Rio e aqui se realizavam
em ensaios alternados com a comitiva da Caprichosos, que percorreu diversas quadras. A final geral (cariocas x capixabas) aconteceu no Rio de Janeiro, e, depois de um
empate entre as notas, foi decidido que o samba que iria para a avenida seria carioca.
Em 2007, foi a criado o 1º Fest Samba, semelhante à Feira do Samba, realizada
em 2005, o evento contou com exposição e venda de fantasias, shows de sambistas
capixabas e nacionais. O diferencial era o concurso “Melhor Samba-enredo do Carnaval Capixaba”. Cada agremiação teve direito de concorrer com seu melhor samba e
inscrevê-lo no concurso apresentando letra, áudio, sinopse de enredo e fotos do Carnaval. Aos vencedores foi ofertado um prêmio em dinheiro.
O evento foi realizado nos dias 11, 12 e 13 de outubro de 2007, no Estádio do
Esporte Clube Caxias, em Itararé, Vitória. Entre os integrantes do júri estavam os músicos cariocas Paulinho da Mocidade, Roberto Eloy e o Mestre Dionísio, da escolinha de
Mestre-sala e Porta-bandeira do Rio, entre outros.
Os sambas campeões foram “Quente como o inferno, puro como um anjo, doce
como o amor... Quem vai provar? Quem vai querer? Eu sou o café e o meu banquete é
pra você!” (Mocidade Unida da Glória, 2006), “Quem é você? As máscaras que ocultam também revelam” (Unidos de Jucutuquara, 2005) e “Mármore e granito. A força
das pedras do Espírito Santo” (Andaraí, 2004).
Como era de se esperar, o resultado não agradou a todos os sambistas. A torcida maior era para que um dos sambas antigos vencesse a competição e entre eles
estavam: “São Torquato em quimeras, uma utopia capixaba” (Independente de São
Torquato, 1988), “Chegou o que faltava, o periquito da sorte” (Chegou o que Faltava,
1989), “Tipos populares de Vitória” (Pega no Samba, 1986) e “O esplendor da nature110
ESPÍRITO SAMBA
za” (Novo Império, 1978), desclassificado por não entregar a sinopse. Além do melhor
samba foi eleito também o melhor intérprete. O escolhido pelo júri foi Emerson Xumbrega, representando a Independentes de Boa Vista. Com o valor do prêmio, anunciou a
gravação de seu primeiro disco.
E as novidades não pararam, os desfiles passaram a ter transmissão nacional em
rede de TV, ampliou-se a cobertura em rádios, TVs e internet, livros foram lançados,
trabalhos acadêmicos levaram as escolas para a sala de aula e até mesmo um DVD,
com os sambas-enredo gravados em forma de clipe, foi lançado.
E assim segue a história do nosso Carnaval…
Lucas Monteiro
Escritor e jornalista. Autor dos livros Carnaval Capixaba: histórias,
honras e glórias, A máscara de Robson Saile, Corrupção, violência
e impunidade: o que fazer?, e Poesias de amor para sempre
111
SONGBOOK
Referências
1. CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Lumiar Editora, 1996.
2. SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro
(1917-1933). Zahar, 2001.
3. CHEDIAK, Almir; NOVA, Songbook Bossa. Songbook Noel Rosa. 1991.
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8. CHEGOU O QUE FALTAVA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
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9. INDEPENDENTE DE SÃO TORQUATO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.
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10. IMPERATRIZ DO FORTE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia
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ESPÍRITO SAMBA
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12. TRADIÇÃO SERRANA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Tradi%C3%A7%C3%A3o_Serrana&oldid=47160673>. Acesso em: 8 nov. 2016.
13. PEGA NO SAMBA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pega_no_
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