Discutindo o gênero literário do
Evangelho de Tomé: os Evangelhos de sentenças
Discussing the literary genre of the
Gospel of Thomas: the Gospels of sentences
José Aristides da Silva Gamito1
RESUMO
O gênero literário “evangelho” comporta quatro variações: Evangelhos de sentenças, de diálogos, de narrativas e de discursos. O Evangelho de Tomé é um evangelho de sentenças e a importância deste gênero está no fato de ser uma forma textual primitiva na história da
transmissão dos ensinamentos de Jesus. O processo de formação das
crenças do cristianismo primitivo dependeu num primeiro momento
destas tradições.
PALAVRAS-CHAVE
Evangelho de Tomé. Gênero literário. Sentenças. Cristianismo primitivo.
ABSTRACT
The literary genre “gospel” comprises four kinds: Gospels of Sentences, of Dialogues, of Narratives and of Discourses. The Gospel of
Thomas is a gospel of sentences and it portrays the earliest textual
form in the history of the transmission of the teachings of Jesus. The
SURFHVV RI EHOLHI IRUPDWLRQ RI (DUO\ &KULVWLDQLW\ GHSHQGHG ¿UVWO\ RQ
these traditions.
%DFKDUHOHOLFHQFLDGRHP)LORVR¿DHVSHFLDOLVWDHP'RFrQFLDGR(QVLQR%iVLFRHP
Docência do Ensino Superior, em Língua Latina e Filologia Românica, mestre em
Ciências das Religiões. Professor de Lógica Simbólica no Seminário Diocesano
Nossa Senhora do Rosário, Caratinga – MG. E-mail: joaristides@gmail.com.
1
420
REFLEXUS - Ano XII, n. 20, 2018/2
KEY-WORDS
Gospel of Thomas. Literary genre. Sentences. Early Christianity.
Introdução
A literatura teve um papel decisivo na formação das crenças no
cristianismo primitivo. Essas crenças que remontam a Jesus foram
inicialmente formadas e transmitidas pela oralidade, pelo encontro de
pessoas, mas a partir de um dado momento a literatura tornou-se o tesWHPXQKRPDLVFRQ¿iYHOGRTXH-HVXVHQVLQRXHUHDOL]RX$SDUWLUGHXP
tempo que não havia mais nas comunidades cristãs primitivas pessoas
que foram testemunhas oculares da pregação de Jesus, os evangelhos
tornaram-se os documentos indispensáveis para a sobrevivência da comunidade. A manutenção da identidade cristã dependeu em parte da
¿[DomRGH(VFULWXUDV
As formas textuais mais próximas da oralidade na tradição de Jesus
foram o gênero literário das sentenças. Elas são um gênero conciso e
de praticidade mnemônica. A redação de coleções de sentenças pode ter
dado origem aos diversos evangelhos. O Evangelho de Tomé e o Documento Q são exemplos disso. Considerando que os evangelhos foram
escritos por diferentes comunidades, tempos e necessidades, uma variedade de formas textuais pode ser encontradas sob a denominação “evangelhos”. Nesta análise, interessam-nos os evangelhos de sentenças.
O Evangelho de Tomé é um evangelho de sentenças e se situa no
início das tradições mais primitivas de transmissão dos ensinamentos
de Jesus. A primeira camada redacional de Tomé pode remontar à comunidade de Jerusalém por volta de 50 do século I. Evidentemente, o
texto integral conhecido atualmente pode ter sido terminado em 140, em
Edessa, na Síria2. A discussão de seu gênero literário é importante para o
conhecimento da formação dos evangelhos, da preservação dos ensinamentos de Jesus e da identidade social dos cristãos.
2
HAYGOOD, Lisa. The Battle to Autenticate “the Gospel of Thomas”. LUX, A Journal of Transdisciplinary Writing and Research from Claremont Graduate University,
v.3, n. 1, 2013, p. 1-31.
REFLEXUS - Revista de Teologia e Ciências das Religiões
421
2VHYDQJHOKRVHVHXVJrQHURVOLWHUiULRV
Ao longo dos dois primeiros séculos da Era Comum, produziu-se e
circulou entre as comunidades cristãs uma variedade de textos sob a denominação de “evangelhos”, dos quais os mais conhecidos são Mateus,
Marcos, Lucas e João. Nos evangelhos de Lucas e de João encontramos
duas informações sobre os bastidores da redação. Lucas no prólogo de
seu evangelho informa que muitos tentaram compor uma narração dos
fatos ocorridos com Jesus (Lc 1,1) e João confessa no seu epílogo que
-HVXVIH]PXLWDVRXWUDVFRLVDVHXVDQGRXPDKLSpUEROHD¿UPDTXH³R
mundo não poderia conter os livros que se escreveriam” (Jo 21,25). Os
evangelhos canônicos são exemplares de um fenômeno literário amplo:
a transmissão da tradição sobre Jesus. Eles vão desde textos com estruturas simples até textos com especulação teológica mais completa.
O gênero “evangelho” apresenta quatro variações: 1º – Evangelhos de
sentenças; 2º – Evangelhos de diálogos; 3º – Evangelhos de narrativas e 4º
– Evangelhos de discursos. Segue uma breve distinção entre esses gêneros.
1º – Os evangelhos de sentenças envolvem coleções de sentenças proferidas por Jesus como o Documento Q e o Evangelho de Tomé. 2º – Os evangelhos de diálogos reportam conversas entre Jesus e seus discípulos após a
UHVVXUUHLomR(VVHVWH[WRVVmRLGHQWL¿FDGRVFRPR³GLiORJRVGR5HGHQWRU´
Eles ocorrem entre os cristãos gnósticos e tinham como propósito a instrução catequética. São exemplares: o Evangelho de Maria e o Evangelho de
Judas3. 3º – Os evangelhos de narrativas são os mais divulgados por ser o
gênero encontrado no Novo Testamento. Seu gênero se assemelha à bioJUD¿D±2VHYDQJHOKRVGHGLVFXUVRVVmRWH[WRVGLVVHUWDWLYRVTXHWUDWDP
de ensinamentos atribuídos a Jesus em forma de tratados ou homilias. Tomamos dois exemplos: o Evangelho de Filipe, cujo gênero literário é conVLGHUDGRWDPEpPXPÀRULOpJLRSRUTXHDSDUHQWDXPDFROHomRGHSHTXHQRV
discursos4, e o Evangelho da Verdade, que é uma homilia5.
3
4
5
SCNHEEMELCHER, Wilhelm. New Testament Apocrypha I: Gospels and Related
Writings. Louisville; London: Westminster John Knox Press, 2003, p. 228-229.
SCNHEEMELCHER, 2003, p. 215.
MAGNUSSON, Jörgen. Rethinking the Gospel of Truth: A study of its eastern ValenWLQLDQVHWWLQJ'LVVHUWDomRGH0HVWUDGRÀV)DFXOW\RI7KHRORJ\8QLYHUVLW\RI
Uppsala, Uppsala, 2006, p. 17.
422
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Os evangelhos cumprem três funções fundamentais para o seu público: a função memorial, a função didática e a função mimética. Em
VXPDRVHYDQJHOKRVVmRHVFULWRVSDUDUHFRUGDURVGDGRVELRJUi¿FRVHRV
ensinamentos de Jesus, ensinar sua doutrina para os novos discípulos e
estimular a prática da fé através dos exemplos. Com a morte da primeira
geração de discípulos, incluindo daqueles que foram testemunhas oculares de Jesus, havia a necessidade de preservar os ensinamentos de Jesus.
$OLWHUDWXUDIRLRLQVWUXPHQWRHVFROKLGRSDUDHVWH¿P3RUWDQWRDSUHRFXpação com a memória dá início à literatura dos evangelhos.
Justino de Roma (100-165) nos informa na Apologia I que, no século II, os cristãos tinham o costume de se reunirem no dia do Sol para
lerem as memórias dos apóstolos. O uso dos evangelhos tem, neste contexto litúrgico, a função de preservar a memória dos apóstolos e de apresentar essas narrativas como exemplos para a imitação6. A transmissão
dos ditos de Jesus estava relacionada com a credibilidade do testemunho
das fontes. Papias de Hierápolis (69-150) comenta que ao compor a sua
obra Exegese das Sentenças do Senhor procurou ouvir testemunhos diretos das memórias dos apóstolos. Ele buscava interrogar os cristãos que
tinham convivido com os apóstolos e depositava nestas declarações o
critério de credibilidade7.
De acordo com a epistemologia social, a memória e o testemunho
são fontes comprovadas de conhecimento. A literatura é um suporte
para o acesso ao conteúdo deste conhecimento. Segundo Robert Audi,
a memória é um veículo cognitivo individual, mas quando associada ao
testemunho desempenha um papel social8. A literatura dos evangelhos
explora a vantagem das fontes memoriais e testemunhais para a formação da identidade ideológica e social da comunidade. O evento Jesus é
separado das novas gerações de cristãos pelo tempo. O conhecimento de
sua pregação é mediado pela literatura. As sentenças e as histórias sobre
o mestre só poderiam ser acessadas através da memória e do testemunho
dos apóstolos. Por isso, Justino destaca as memórias dos apóstolos.
6
7
8
ROMA, Justino de. I e II Apologias; Diálogo com Trifão. Trad. de Ivo Storniolo e
Euclides M. Balancin. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2014, p. 43.
CESARIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 1999, p. 74.
AUDI, Robert. Robert. Epistemology: A Contemporary Introduction to the Theory of
Knowledge. New York: Routledge. 2003, p. 133.
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423
A função didática dos evangelhos aparece na prática catequética. As
instruções catequéticas e as práticas litúrgicas foram os meios de preservação de muitos ensinamentos de Jesus. A “Oração do Pai-Nosso”, por
exemplo, é um ensinamento de Jesus que foi preservado pelos evangelhos
canônicos e pela Didaquê. Justino de Roma utiliza citações de ensinamentos de Jesus que são adaptações de textos dos evangelhos e de outras fontes
FRPD¿QDOLGDGHGHLQVWUXomRGDFRPXQLGDGH9. As coleções de sentenças
do cristianismo primitivo tinham este propósito catequético também.
A função mimética dos evangelhos diz respeito à busca do conhecimento dos ensinamentos morais e as histórias sobre a vida de Jesus
que servem de exemplo para o discípulo seguir. Há muitas ocorrências
de imitação (mimesis) no Evangelho de João: A relação entre Jesus e o
discípulo é uma imitação da relação entre Jesus e o Pai (Jo 5,19; 15,5;
12,49; 17,8); o episódio do lava-pés indica o exemplo a ser imitado pelos
discípulos (13,1-20), a unidade entre os cristãos deve tomar a unidade de
Jesus e do Pai como modelo (17,20-22) e o envio dos discípulos exige
também imitação (20,21)10. Mateus prefere a expressão do seguimento
(Mt 9,9). O Evangelho de Tomé toma a imitação e o seguimento como
assimilação. O discípulo que aprende as palavras de Jesus torna-se como
ele; e ele, como eles (logion 108).
Portanto, a literatura dos evangelhos contribuiu para a formação
da identidade das gerações de cristãos após a morte dos apóstolos. As
funções memorial, didática e mimética aproximam os novos cristãos do
que foi, ensinou e praticou Jesus. A multiplicidade destas fontes gera,
posteriormente, os debates em torno das heresias. As diferentes versões
GRVHQVLQDPHQWRVGH-HVXVGHVD¿DPDKRPRJHQHLGDGHHPWRUQRGRTXH
seriam ou do que acreditariam os cristãos. Além das variantes textuais,
as diferentes interpretações da doutrina dos apóstolos contribuíram para
um cristianismo não-homogêneo.
'RVDQRVDWp¿QDOGRVpFXOR,,IRUDPHVFULWRVPXLWRVHYDQJHOKRV
Além dos evangelhos canônicos podemos elencar alguns: Evangelho dos
9
KOESTER, Helmut. Gospel and Gospel Traditions in the Second Century. In:
GREGORY, Andrew F.; TUCKETT, Christopher M. Trajectories through the New
Testament and the Apostolic Fathers. Oxford: Oxford University Press, 2005, p. 31.
10
BENNEMA, Cornelis. Mimesis in the Johannine Literature: A study in Johannine
Ethics. New York: Bloomsbury; T&T Clark, 2017, [s. p.].
424
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Nazarenos, dos Ebionitas, dos Hebreus, dos Egípcios, de Pedro, de Filipe, de Maria, de Tiago, do Salvador, da Verdade, o Apócrifo de Marcos e
da Infância de Tomé110DVDGLYHUVLGDGHH[LJLXXPSDUkPHWURSDUDGH¿nir as palavras que eram genuinamente de Jesus e quais evangelhos eram
PDLV¿GHGLJQRVjWUDGLomRGRVDSyVWRORV,QLFLDVHXPORQJRSURFHVVRGH
padronização dos evangelhos que será chamado de canonicidade.
A pluralidade de evangelhos, o processo de canonização dos texWRV GR 1RYR 7HVWDPHQWR RFRUUHUi FRPR HVIRUoR GH GH¿QLomR GH XPD
identidade do cristianismo. A igreja primitiva utilizou as sentenças e as
SDUiERODVTXHFLUFXODYDPVREDDXWRULGDGHGH-HVXVSDUD¿QVGHH[RUtação moral, de prática litúrgica, de apologética e de controle social.
A literatura assumiu um papel de delineador da identidade social dos
primeiros cristãos. Este conjunto de funções associadas aos evangelhos
se caracteriza como instrumentos da memória social12.
2JrQHUROLWHUiULRGR(YDQJHOKRGH7RPp
0DUYLQ 0H\HU FODVVL¿FD RV (YDQJHOKRV GH7RPp H GH -RmR FRPR
evangelhos sapienciais. Esses evangelhos apresentam Jesus como aquele
que proclama a sabedoria e o conhecimento. O Evangelho de Tomé se
compõe de sentenças de teor sapiencial e o Evangelho de João oferece narrativas com discursos místicos de Jesus. O uso desses evangelhos
SDUD¿QVJQyVWLFRVDFRQWHFHSRUFDXVDGHVWHDFHQWRVDSLHQFLDOHPtVWLFR13.
$SDUWLUGDFODVVL¿FDomRGH0DUYLQLGHQWL¿FDPRVR(YDQJHOKRGH7RPp
como um evangelho sapiencial de sentenças, enquanto o Evangelho de
João distingue-se por ser um evangelho sapiencial de narrativas.
O Evangelho de Tomé tem analogia formal com o Documento hipotético de sentenças Q. O gênero “sentenças” foi amplamente utilizado
11
12
13
ERHMAN, Bart. Lost Scriptures: Books that did not make it into the New Testament.
Oxford: Oxford University Press, 2003, p. 8. Ver também páginas seguintes.
SCHWARTZ, Barry. Christian Origins: Historical Truth and Social Memory. In:
KIRK, Alan; THATCHER, Tom. Memory, Tradition and Text: Uses of the Past in
Early Christianity. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2005, p. 48.
BARNSTONE, Willis; MEYER, Marvin. The Gnostic Bible. Boston; London:
Shambhala, 2003, p. 38.
REFLEXUS - Revista de Teologia e Ciências das Religiões
425
pela literatura grega, romana e judaica para a função didática e sapiencial. Muitas coleções de sentenças são encontradas na história dessas
literaturas. Durante o processo inicial de transmissão das palavras de
Jesus, as coleções de sentenças tiveram um papel importante. Segundo
Koester, a existência do Evangelho de Tomé demonstra que bem cedo
na história do cristianismo existiram coleções de sentenças de Jesus.
O marco temporal mais cedo possível para elas seria a segunda metade
do século I14.
.ODXV%HUJHUGH¿QHVHQWHQoDVFRPR³GLWDGRVRXSURYpUELRVHPTXH
se expressa uma experiência universal, geralmente em forma descritiva
e em frases curtas”. Estas formas estão presentes na linguagem oral e se
caracterizam pela brevidade da forma e a concisão de pensamento15. As
sentenças estão presentes em vários outros gêneros de evangelhos como
os de narrativas. A singularidade do Evangelho de Tomé é que ele se
compõe majoritariamente desta forma literária.
O gênero sentenças ocorre em muitos textos dos evangelhos canônicos. As sentenças apresentam conteúdos variados e podem se aproximar
de vários outros gêneros. Elas não se limitam a determinados gêneros,
mas aparecem em modo de destaque. Seu conteúdo pode ser de admoestação e pode retratar experiências universais. A versatilidade das sentenças, às vezes, as põe em situação alheia ao contexto e tem funcionalidade
semelhante às parábolas16. No Evangelho de Tomé, elas dividem espaço
com as parábolas e os diálogos.
As analogias mais próximas das sentenças dos evangelhos aparecem na literatura sapiencial judaica. Os textos de Provérbios, Coélet,
Tobias 4 e 15, Sirácida e Jó contêm sentenças similares. A forma literária
presente nestes textos é o mashal. Trata-se de uma sentença breve que
comunica uma verdade sobre a vida numa dimensão concreta. São enunciações simples, mas que conduzem a uma sabedoria profunda17. Provérbios 22,5 apresentam uma dessas sentenças: “Espinhos e laços há no
14
15
16
17
KOESTER, 2005, p. 29.
BERGER, Klaus. As Formas Literárias do Novo Testamento. Tradução de Fredericus Antonius Stein. São Paulo: Loyola, 1998, p. 60-61.
BERGER, 1998, p. 60-61.
O’CONNOR, Kathleen. The Wisdom Literature. Minnesota: The Liturgical Press,
1990, p. 20.
426
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caminho do perverso; quem presa a vida dele se afasta.” Esta literatura
tem um aspecto teológico e outro prático. Os textos se ocupam da relação do homem com Deus, mas também de fundamentos práticos de
suas ações cotidianas, principalmente levando em considerações as consequências éticas do agir humano18.
As sentenças foram utilizadas amplamente na literatura greco-romana. As gnomes eram utilizadas em muitos textos educativos romanos
HJUHJRV$ULVWyWHOHVH4XLQWLOLDQRXWLOL]DUDPDVVHQWHQoDVSDUD¿QVUHWyricos. No período helenista, o uso das gnomes é amplamente atestado19.
A tradição sapiencial e o uso das sentenças continuam na literatura cristã.
O Sermão da Montanha é um texto sapiencial dentro do Evangelho de
Mateus20, são também sapienciais a Epístola de Tiago21, a Didaquê, a
Epístola de Barnabé 22 e as Sentenças de Sexto23. Os ágrafos encerram
muitos ensinamentos de sabedoria. Para o propósito desta análise, vamos
nos deter nas sentenças que serviram para transmitir os ensinamentos de
Jesus para a discussão sobre o gênero literário do Evangelho de Tomé.
6HJXLQGR D FODVVL¿FDomR GH .ODXV %HUJHU DV FDUDFWHUtVWLFDV PDLV
comuns das sentenças são: a) As frases sobre determinadas ocupações
como profetas, escravos, mestres e discípulos: “Em verdade vos digo
que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4,24) e “Um
profeta não é recebido em seu povoado. Um médico não cuida daqueles
que o conhecem” (logion 32, EvT); b) As frases sobre a condição do
ser humano: “que aproveita ao homem ganhar o mundo e arruinar a sua
vida?” (Mc 8,36); c) As sentenças conectadas com as parábolas; d) sobre
18
DELLE, Katharine J. Wisdom Literature. In: PERDUE, Leo G. The Blackwell Companion to the Hebrew Bible. Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001, p. 418-420.
19
HENDERSON, Ian Hebert. Sententiae Jesus: Gnomic Sayings in the Tradition of
Jesus. Oxford: University of Oxford, 1989, p. iii-iv.
20
787/(*DU\$7KH6HUPRQRQWKH0RXQW,WV:LVGRP$I¿QLWLHVDQGWKHLU5HODWLRQ
to its Structures. Journal of the Evangelical Theological Society, La Mirada, [s. d.],
p. 213-230.
21
HOLLOWAY, Gary. James and New Testament Wisdom Literature. Leaven, v. 8,
n. 8, 2000, p. 89-92.
22
RIPER, Ronald Allen. Wisdom in the Q-Tradition: The Aphoristic Teachings of Jesus. Cambridge: Cambridge University Press, 1989, p. 68.
23
WILSON, Walter T (Ed.). The Sentences of Sextus. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2012, p. 1-2.
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427
consequências das ações humanas: “Pois todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 18,14); e) perspectivas
sobre o futuro: “Pois nada há de encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado” (Mt 10,26), “pois
nada há de oculto que não se manifeste” (logion 5, EvT); f) julgamentos
sobre aquilo que é melhor: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo da
agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mc 10,25) e g) regras
gerais: “Quem não está a meu favor, está contra mim, e quem não ajunta
comigo, espalha” (Mt 12,30)24.
$V VHQWHQoDV SRGHP DSDUHFHU QR PHLR QR ¿P RX QD FRQFOXVmR GH
uma unidade textual, com o propósito de admonição. Berger aponta o uso
GH VHQWHQoDV FRP ¿QV DSRORJpWLFRV HP +HEUHXV ³6HP HIXVmR GH
sangue não há remissão”). Elas podem ser usadas também para anunciar
um juízo, uma ameaça ou um vaticínio. E, de modo geral, podem aparecer
como axiomas para anunciar princípios gerais da experiência humana25.
Esses diferentes subtipos de sentenças são encontrados no Evangelho de Tomé. Juntamente, com as sentenças existem as chreiai e as
gnomes que também se caracterizam pela concisão frasal. A chreia é uma
IUDVH EUHYH RX XP IDWR DWULEXtGR D XP SHUVRQDJHP HVSHFt¿FR RX DOJR
que diz respeito ao personagem26. Seu uso geralmente está associado à
ELRJUD¿D$chreia de ditos funciona dentro de diálogo onde há um questionamento e a resposta do interlocutor27. A chreia de ações serve para
relembrar os hábitos ou as ações de um personagem conhecido28. Essas
situações ocorrem diversas vezes no Evangelho de Tomé.
As gnomes aparecem associadas às sentenças e às chreiai. A gnome é uma sentença de caráter sapiencial com a função de aconselhar
alguém29. Segundo Ian Henderson, as gnomes são normativas, éticas
e de aplicação universal. Este gênero foi utilizado na transmissão das
24
25
26
27
28
29
BERGER, 1998, p. 62-63.
BERGER, 1998, p. 64.
SANDNES, Karl Olav. Early Christian Discourses on Jesus’ Prayer at Gethsemane:
Courageous, Committed, Cowardly? Leiden; Boston: Brill, 2016, p. 131.
BERGER, 1998, p. 77-78.
ROBBINS, Vernon K. The Chreia. In: AUNE, David E. (Ed.). Greco-Roman Literature and New Testament: Selected Forms and Genres. Atlanta: School Press, 1988, p. 1-2.
BERGER, 1998, p. 77-78.
428
REFLEXUS - Ano XII, n. 20, 2018/2
VHQWHQoDVGH-HVXVHWLYHUDPD¿QDOLGDGHGHFRQIHULUDXWHQWLFLGDGHDHVWD
tradição30. A autoridade de Jesus era necessária para validar o código
moral da comunidade cristã.
As sentenças são as formas literárias predominantes no Evangelho de
Tomé. Os diálogos ocupam apenas 15% dos 114 logia. Neste levantamento,
estamos contando “diálogo” como a interação mínima entre dois interlocutores e não incluímos aqueles que ocorrem dentro das parábolas como em
57, 64 e 65. Nos logia 13, 60 e 61, há uma interação dialógica maior. Os elementos narrativos e de diálogos aparecem expressivamente nas parábolas.
As parábolas representam as unidades textuais mais longas do evangelho.
Os interlocutores mais frequentes de Jesus são seus próprios discípulos.
Os principais tipos de sentenças são: a) Chreiai mistas: são sentenças
com declarações ou fatos sobre Jesus; b) Sentenças sapienciais (gnomes):
uma forma textual breve que encerra um ensinamento universal (logia
45,47); c) Sentenças proféticas: elas trazem uma perspectiva de futuro
(logia 51, 111); d) Sentenças “eu” (anok pe): elas revelam a identidade
de Jesus e seus atributos (61, 77)31; f) Parábolas: são pequenas histórias
que utilizam uma comparação ou imagem para transmitir uma mensagem
(96,98)32; g) Macarismos: são formas declarativas com a expressão “bem
-aventurados”/ “felizes” (18); h) Sentenças “ais”; i) Sentenças proverbiais
(31,102); j) Sentenças legais (53,104); k) Sentenças normativas: Elas contêm prescrições ou normas para a comunidade cristã33. A seguir, faremos
algumas considerações sobre as chreiai, os diálogos e as parábolas.
As chreiai podem ser apofânticas ou responsivas. O primeiro tipo se
caracteriza por simples declarações e aparecem no Evangelho de Tomé
na forma de “Jesus disse”. Já as chreiai responsivas envolvem uma
pergunta e uma resposta ou um pedido de explicação34. Muitas chreiai
30
31
32
33
34
HENDERSON, 1989, p. iii-v.
KLAUCK, Hans-Josef. Evangelhos Apócrifos. Trad. de Irineu J. Rabuske. São Paulo: Loyola, 2007, p. 134.
SANOKI, Koichi. Parábola: Um gênero literário. Revista Eletrônica Espaço Teológico, v. 7, n. 12, 2013, p. 102-112.
KLAUCK, 2007, p. 134.
WOODRUFF, Archivald Mulford. A Créia, Elegante ou Deselegante, a partir dos
Progymnasmata, em relação ao Novo Testamento. Phoinix, Rio de Janeiro, v. 9,
2003, p. 55-64.
REFLEXUS - Revista de Teologia e Ciências das Religiões
429
encontradas neste evangelho são responsivas (12, 18, 20, 21, 24, 37, 43,
51, 52, 53, 72, 91, 104, 113 e 114). Os logia 60 e 100 são casos de
chreiai sem questionamento. Elas são do tipo das chreiai mistas porque combinam discursos e fatos35. As chreiai têm função memorial. Elas
preservam as recordações das lições de um mestre. Na antiguidade, elas
eram utilizadas nos exercícios de treinamento dos retóricos para provocar a reconstituição de uma memória. As chreiai estão relacionadas com
a recordação e podem ser expandidas para uma pequena história. Neste
sentido, o gênero é adequado aos evangelhos por causa da necessidade
de reconstruir a memória das palavras e dos fatos de Jesus36.
Os diálogos estão relacionados com as chreiai responsivas. A tendência em preservar os diálogos de Jesus e seus discípulos pode ser atestada em vários documentos. As sentenças mais primitivas ou mais próximas da oralidade ganham interpretações nas formas de diálogos. São
evidências deste gênero textual o Diálogo do Salvador, o Apócrifo de
Tiago e o Evangelho de Maria37. Os diálogos no Evangelho de Tomé têm
uma função didática. São, na maioria das vezes, iniciados por questionamentos dos discípulos. O mote principal de Tomé é “Aquele que procura
não deixe de procurar até encontrar” e os discípulos querem justamente
compreender a interpretação das palavras de Jesus. São temas dos diálogos: a) a identidade de Jesus (13, 37, 43, 61, 91); b) as normas da comunidade (6, 53); c) a condição e o destino do discípulo ou do homem
em geral (18, 21, 51, 60, 99, 100, 104, 114); d) a descrição do Reino dos
Céus (20, 22, 113). As chreiai desses diálogos estão envolvidas em quatro preocupações gerais: Quem é Jesus, qual a condição do discípulo no
mundo, o que é o Reino dos Céus, e como o discípulo deve se comportar
na comunidade.
As parábolas também são um gênero presente no Evangelho de
Tomé. Existem 12 parábolas de tamanhos diversos (logia 8, 9, 20, 57, 63,
64, 65, 76, 96, 98, 107 e 109). Elas representam 8% de todo o texto do
evangelho. López destaca que elas representam as formas mais antigas
35
36
37
ARNAL, William E.; DESJARDINS, Michel. Whose Historical Jesus? Ontario: Canadian Corporation for Studies in Religion, 1997, p. 58.
ARNAL; DESJARDINS, 1997, p. 130-131.
KOESTER, 2005, p. 29.
430
REFLEXUS - Ano XII, n. 20, 2018/2
das parábolas. Ao tomar a versão de Tomé da parábola do Semeador (logion 9) em comparação com Marcos 4, 3-9, o pesquisador conclui que
a estrutura da forma mais antiga da parábola demonstra que elas eram
originalmente histórias completas sem alegorias. A interpretação alegórica acontece durante uma redação secundária. Primeiramente, elas não
possuíam também as interpretações apocalípticas. Eram apenas histórias
de sabedoria. Portanto, o Evangelho de Tomé conserva uma estrutura
literária mais simples nas parábolas. Esta característica pode advogar a
favor da antiguidade do texto, ou pelos menos a antiguidade de sua camada mais primitiva38.
Todas as formas textuais que compõem o Evangelho de Tomé são
típicas de literatura sapiencial. Este evangelho compartilha com o Evangelho de João este tipo de literatura39. Porém, quanto ao gênero literário,
as sentenças são predominantes. As parábolas ocupam 8% e os diálogos 15% do texto e os 77% restantes são de logia que iniciam com a
expressão “Jesus disse”, portanto, são sentenças. Se considerarmos que
os diálogos encerram chreiai responsivas, teremos mais ocorrências de
sentenças. O gênero de Tomé foi denominado por James Robinson como
logoi sophon (“palavras do sábio”)40. Uma coleção de ditos sapienciais
atribuídas à autoridade de Jesus constitui, neste caso, um evangelho de
sentenças. Esta designação torna-se mais adequada ainda pelo fato de
Tomé tomar Jesus como um mestre de alta sabedoria e não utilizar o
título “Cristo” em nenhum momento.
$VVHQWHQoDVHDWUDQVPLVVmRGRVHQVLQDPHQWRVGH-HVXV
$FRQFLVmRHDXWLOLGDGHGLGiWLFDGDVVHQWHQoDV¿]HUDPFRPTXHVXDXWLlização nos textos do cristianismo primitivo fosse muito difundida. As chreiai
funcionam como um bom facilitador da memória41. O compartilhamento
38
39
40
41
LÓPEZ, Ediberto. As origens do cristianismo e o evangelho de Tomé. Revista de
Interpretação Bíblica Latino-americana, n. 22, v. 3, 1995, p. 147-161.
BARNSTONE; MEYER, 2003, p. 38.
PATTERSON, Stephen. The Gospel of Thomas and Christian Origins: Essays on the
Fifth Gospel. Leiden: Brill, 2013, p. 144-146.
SANDNES, 2016, p. 131.
REFLEXUS - Revista de Teologia e Ciências das Religiões
431
de sentenças em muitos autores nos indica que uma ou mais fonte evangélica primitiva de sentenças circulou como referência para a recordação
das palavras de Jesus, embora o único texto integralmente conhecido
deste gênero seja o Evangelho de Tomé.
Consideramos que o uso das sentenças na transmissão das tradições
sobre Jesus é motivado pela própria natureza deste gênero. Segundo Berger, “o valor histórico especial das sentenças reside no fato de constituírem uma das poucas possibilidades de regressar com relativa segurança
a estados orais anteriores da tradição evangélica”42. A função memorial
GRVHYDQJHOKRVHQFRQWUDULDPDLVH¿FLrQFLDQDVVHQWHQoDVSRUTXHHODVUHmetem o ouvinte diretamente às palavras de Jesus. Mesmo na hipótese
de que estas palavras não assegurem literalmente a oralidade de Jesus,
mas somente a oralidade de suas testemunhas oculares, ainda seria o
único gênero que recriaria este ambiente da oralidade.
A história da crítica textual do Novo Testamento comporta uma hipótese que revela o papel das sentenças na preservação da memória de
Jesus. A hipótese da fonte Q surgiu a partir do esforço de compreensão
da concordância textual entre Mateus, Marcos, Lucas e João. A teoria
parte da tese de que Marcos é o evangelho mais antigo e foi utilizado
independentemente por Mateus e Lucas como fonte. Mas esses dois últimos contêm um material que não provém de Marcos. Esta concordância
textual entre os evangelhos de Mateus e de Lucas são provenientes de
uma fonte denominada Q (do alemão Quelle, “fonte”)43.
Depois da descoberta do texto copta do Evangelho de Tomé em
Nag Hammadi, em 194544, a hipótese de Q ganhou um suporte material.
A forma textual de Tomé indica que coleções das sentenças de Jesus
foram utilizadas na preservação da sua memória. Howes sugere que o
Documento Q teria sido utilizado com função catequética para os novos
membros da comunidade45. Semelhante sustentação pode ser feita sobre
o Evangelho de Tomé.
42
43
44
45
BERGER, 1998, p. 65.
KLOPPENBORG, John S. Q, the Earliest Gospel: An Introduction to Original Stories
and Sayings of Jesus. Louisville; London: Westminster John Knoxx Press, 2008, p. 2.
POKORNY, 2009, p. 4.
HOWES, Llewellyn. Judging Q and Saving Jesus: Q’s Contribution to the Wisdom
-apocaplypticism Debate in Historical Jesus Studies. South Africa: Aosis, 2015, p. 45.
432
REFLEXUS - Ano XII, n. 20, 2018/2
Os contatos de Q podem ser encontrados na Epístola de Tiago, 1
Clemente e Didaquê. O Evangelho de Tomé ao lado de Mateus e de Lucas possui também concordância textual com a fonte Q. Ele compartilha
37 sentenças que são atribuídas a Q. Este número representa quase um
terço dos 114 logia que compõem Tomé. Ao todo, podem ser estabelecidos 42 contatos textuais entre os dois documentos. Apesar da semelhança de gênero e da concordância textual, sustentar quem usa quem no
processo redacional é difícil46. Helmut Koester argumenta que as sentenças do Evangelho de Tomé possuem formas mais originais e, além disso,
apresentam traços diferentes do estilo redacional de Q47.
A distinção maior no conteúdo entre Tomé, Q e os evangelhos canônicos é a ausência da narrativa da paixão e da morte. Os logia de Q e
de Tomé têm sua atenção na pregação de Jesus. Eles podem ser situados
antes da morte ou depois da ressurreição. Esta segunda opção nos remete
aos evangelhos de diálogos que focam sua atenção nos ensinamentos
pós-pascais48. Como o prólogo de Tomé frisa que Jesus é o vivente podemos entender que o tempo neste evangelho ocorre no período pós-morte
e tem uma preocupação em revelar os ensinamentos de Jesus por meio
de sentenças, com escassos elementos narrativos. O Evangelho Q e o
Evangelho de Tomé representam uma fase do cristianismo que não havia
uma preocupação apocalíptica49.
3RU¿PQRVUHVWDSHUJXQWDURTXHDVLQJXODULGDGHGR(YDQJHOKRGH
Tomé representa no conhecimento de Jesus e do cristianismo primitivo?
Apesar de compartilhar semelhanças com os evangelhos canônicos, Jesus e o cristianismo de Tomé têm diferenças importantes. O cristianismo
tomasino não enfatiza a paixão e a morte de Jesus; nem a relação entre
pecado e expiação, não percebe a relação entre homem e Deus como
ruptura. A relação entre homem e Deus é próxima e a salvação é posta
HP WHUPRV GH XQL¿FDomR RX GH DVVLPLODomR GR GLYLQR7UDWDVH GH XP
46
47
48
49
KLOPPENBORG, 2008, p. 109.
KOESTER, Helmut apud KLOPPENBORG, John S. Q, the Earliest Gospel: An Introduction to Original Stories and Sayings of Jesus. Louisville; London: Westminster
John Knoxx Press, 2008, p. 111.
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PATTERSON, 2013, p. 146-147.
REFLEXUS - Revista de Teologia e Ciências das Religiões
433
cristianismo místico50. A identidade de Jesus para a comunidade tomaVLQDpDVDEHGRULDSHUVRQL¿FDGD-HVXVUHFHEHYiULRVWtWXORVPDVQmRp
tratado diretamente como o Cristo51.
&RQVLGHUDo}HV¿QDLV
2DXPHQWRGDSHVTXLVDHGDSURGXomRELEOLRJUi¿FDVREUHDOLWHUDWXra do cristianismo primitivo incluindo textos além do Novo Testamento
tem o mérito de enriquecer e de ampliar os horizontes da academia a
respeito das tradições sobre Jesus, principalmente superando a restrição
desses estudos à apologética. A compreensão dos aspectos formais e literários do Novo Testamento depende do conhecimento da literatura que
lhe é contemporânea. Os evangelhos são um fenômeno literário amplo,
GLYHUVL¿FDGRHGHLQWHUHVVHVGHiUHDVGHFRQKHFLPHQWRDOpPGDWHRORJLD
O Evangelho de Tomé é um texto indispensável para o entendimento do processo de registro das memórias dos apóstolos sobre Jesus. As
coleções de sentenças representam um estágio decisivo da literatura do
cristianismo primitivo. Uma parte considerável de textos catequéticos e
apologéticos utiliza a autoridade dessas sentenças para fundamentar as
crenças do cristianismo. Os estudos desta literatura fornecem dados para
o aprofundamento das visões sobre o cristianismo primitivo em seus aspectos religiosos, sociais e culturais.
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