EDITORIAL
A permanente mudança no ecossistema midiático:
continuidades e transformações
P
egamos emprestado uma parte do título do dossiê para este editorial, que percorre de maneira diversa, na América Latina, as
continuidades e transformações na Comunicação de uma região
pulsante neste ano de 2019. Com vinte artigos, “Ficção televisiva e narrativa transmídia: continuidades e transformações”, coordenado pelas professoras Maria Cristina Palma Mungioli, Rosario Sánchez Vilela e Giuliana
Cassano teve o objetivo de “reunir trabalhos sobre os diferentes aspectos
relacionados aos estudos de ficção televisiva”, dimensionando “os temas e
as pesquisas que estão em curso em alguns países latino-americanos”, nas
palavras dos professores organizadores. O contexto da elaboração desta
seção está bastante detalhado na apresentação do mesmo, e convidamos os
leitores a lê-lo para um aprofundamento na leitura do contexto que abarca estes dois temas inevitavelmente complementares e interdisciplinares
na sociedade contemporânea, a ficção televisiva e a narrativa transmídia.
Trata-se de um novo contexto do ecossistema midiático, “marcado pela
expansão da internet”, pontuam os organizadores.
Assim, os dois primeiros artigos do dossiê, de Claudia Benassini, intitulado “La contribución de los mundos ficticios a la construcción
de la transmedialidad de las series de televisión”, e “Estratégias transmídia na ficção televisiva infantojuvenil: considerações sobre o personagem Luca Tuber, de as Aventuras de Poliana (SBT)”, escrito por
Fialho Martins, Nantes e Hergesel, mergulham justamente na convergência das estratégias transmídias para a ficção televisiva, desbravando estas possibilidades. Nos três artigos seguintes, “TV universitaria
argentina y ficción seriada durante la ley SCA: representación e identidade” (Soledad Ayala, Alejandra Pía Nicolosi e Sabrina Fleman),
“Do dramatizado às narco séries: a configuração do seriado colombiano
ao longo do tempo” (Frederico de Mello Brandão Tavares e Gedma Alejandra Salamanca) e “As armadilhas do ‘horário nobre é o meu’” (Vanessa
Scalei e Mágda Rodrigues da Cunha) temos um panorama de abordagens
pertinentes às especificidades latino-americanas. O primeiro aborda a Ley
de Servicios de Comunicación Audiovisual (LSCA) na Argentina, que marca, a partir de 2009, a participação das universidades na distribuição audiovisual no país. Brandão, Tavares e Salamanca buscam entender a linha
do tempo histórica da ficção na Colômbia, aludindo a um dos últimos
sucessos de ficção daquele país (quem não viu ao menos o primeiro episódio de “Narcos”?). A seguir, explora-se as mudanças na temporalidade do
consumo televisivo tendo como ponto de partida uma expressão bastante
conhecida no Brasil desde que a TV passou a ocupar espaço privilegiado
7
na vida do brasileiro, o “horário nobre”, que marca a apresentação do telejornal mais assistido na
televisão brasileira, na Rede Globo, o Jornal Nacional e, a seguir, a exibição da telenovela das oito
horas da noite (ou quase nove, nos dias atuais).
Audiências potencialmente distintas marcam a narrativa dos próximo quatro artigos. “Paradigmas televisivos em transição: a adaptação de dramas americanos na Coréia” de Daniela Mazur, Melina Meimaridis e Afonso Albuquerque, “Prédio quadrado, cheio de tédio
e desespero”: sociedade e identidade em seriados de teen drama”, de Lúcia Loner Coutinho,
“La congregación de los jóvenes sentimentales: las teleficciones infanto-juveniles en argentina”, escrito por Cristina Andrea Siragusa e “Recepção de A regra do jogo por mulheres de diferentes classes sociais”, de Camila da Silva Marques. A produção cultural para
jovens na Coréia é assunto literalmente de Estado, já que o governo patrocina as bandas de
música teen de K-Pop, fenômeno mundial. É preciso prestar atenção neste país, se quisermos entender a lógica contemporânea da geopolítica da cultura. Seguindo na temática adolescente, Coutinho disseca as séries que se passam em ambientes escolares, e descobre que
“(...) estas séries trazem categorias, interligadas: a relação entre os alunos e a escola como instituição de ensino, proporcionando análise da relação de autoritarismo e o sistema educacional;
e as relações entre os alunos protagonistas e o restante do corpo discente, que possibilita reflexões a respeito e integração, status e também bullying”, temas imprescindíveis para reflexão de
qualquer ator do sistema educacional. Siragusa, no artigo sobre teleficções infanto-juvenis na
Argentina, leva a atenção para a compreensão das narrativas multiplataformas que ocorrem com
esta temática. Estudos de recepção norteiam o último artigo deste bloco, que investiga como as
duas classes sociais retratadas, a do “morro” e a do “asfalto” na novela “A regra do jogo”, de 2016
(autoria de João Emanuel Carneiro) elaboram esta ficção.
Plataformização de conteúdos, vídeo on-demand, serialização e a pioneira destes princípios no
mundo, a Netflix, são os assuntos dos próximos três artigos: “Ficção televisiva em plataformas
de video-on-demand: reconfigurações do cenário audiovisual brasileiro – e suas implicações nos
estudos de mídia” (Ligia Maria Prezia Lemos, Lucas Martins Néia e Andreza Almeida dos Santos), “O mundo de Hawkins: a serialização contemporânea em Stranger Things (Marcel Vieira
Barreto Silva e Jéssica Maria Brasileiro de Figueiredo) e “Mais espaço, mais histórias, mais vozes:
Netflix e a promessa da diversidade na tela”, de Maíra Bianchini e Bárbara Camirim. Lemos,
Néia e Santos se aprofundam no cenário brasileiro on-demand na TV aberta YouTube, TV paga
e Netflix, tomando-os “como eixos de análise, identificando as dinâmicas e estratégias presentes
nas relações entre as chamadas mídias novas e mídias tradicionais”. Aqui, o objetivo é, ainda nas
palavras dos autores, “traçar perspectivas teórico-epistemológicas pertinentes à complexidade e
reticularidade do novo ecossistema comunicacional.” Quem foi capturado pelo upside down (não
daremos spoilers) de Stranger Things tem a oportunidade de descobrir como e porque isso se dá
na prática, no estudo de Silva e Figueiredo sobre a construção narrativa específica para o vídeo
on-demand. Já Bianchini e Camirim querem entender como a demanda por representação diversa na mídia acontece nas produções originais da Netflix, que também, aproveitando o gancho,
é a plataforma na qual pode-se acessar a série Coisa mais linda, objeto de Rocha, Silva e Vieira
como meio de entender a globalização do melodrama latino-americano. Também sem spoilers,
a série trata da subjetividade e questões femininas em um Rio de Janeiro no início do fenômeno
musical mundialmente conhecido como bossa nova. Sim, no início da série parece que estamos
vendo uma novela da Rede Globo, mas a sensação vai se esvaindo ao longo da temporada, e aí
pode-se apreender que algo distinto está acontecendo, mas ao mesmo tempo familiar, o nosso
tão conhecido melodrama latino-americano (palavra de espectador).
Em “Homeland: terror e gênero”, Silvana Seabra e Thais Eleutério partem do pressuposto da
série como TV de alta qualidade e destacam as possíveis metáforas com o 11 de setembro norte-americano. Já em “Uma análise da representação feminina na série Jessica Jones”, de Márcia
Diniz de Souza e Dagmar de Mello e Silva e “Stella Gibson: luminescência na escuridão invisível”,
de Karina Gomes Barbosa e Rafael Pereira Francisco, novamente a questão da representação
feminina ganha contornos mais específicos no tema do dossiê.
A reta final desta seção, com os trabalhos “Motivações simbólicas e imagens arquetípicas da
narrativa seriada True Detective”, de Adriana Pierre Coca e Danilo Fantinel, “Como o VOD está
afetando a forma de contar histórias: uma análise comparada entre Flash e Demolidor” (Jéferson
Cristiano Cardoso e Cristiane Finger), “Recapitulações na série original Netflix Dark: alterações
na estrutura narrativa tradicional televisual”, de Angela Miguel Corrêa e Herom Vargas, e, por
último, “Game of Thrones e a descentralização da pós-produção sonora na ficção televisiva contemporânea”, de Rodrigo Carreiro. Os faz, por meio de narrativas diferentes, um aprofundamento nas mudanças que a apresentação do dossiê explicita.
Na seção Artigos Livres, “Deu Zika na mídia: uma análise da cobertura midiática sobre o Aedes Aegypti no Jornal o Estado de São Paulo”, de Ítalo Rômany de Carvalho Andrade e Irenilda
de Souza Lima, cumpre um importante papel de fiscalização da cobertura da imprensa (2015 e
2016) de uma epidemia causada pelo Aedes Aegypti, um “vetor”, na linguagem cientifica, de outras importantes arboviroses, como a Dengue, que, infelizmente, não dá sinais de arrefecimento
no Brasil. Já João Figueira traz a tona um lado não tão divulgado de José Saramago sob o ponto
de vista histórico: o Saramago jornalista, em “Uma releitura histórica do jornalismo de compromisso político de José Saramago”. O lado escritor foi divulgado no documentário “José e Pilar”,
que entrelaça a abordagem do escritor com o seu lado pessoal.
Em “Percepções acerca do racismo estrutural: entrecruzamentos de discurso e moda”, Valquiria Michela John, Debora C.A.C Milla e Luciana Panke discutem o racismo e “as condições
que subjazem a perpetuação de seus discursos” tendo a internet como espaço de pesquisa, onde
analisam os comentários realizados nesta plataforma sobre “uma marca de roupas renomada
brasileira, que teve a ilustração de uma de suas peças de coleção associada à escravidão”. É neste
espaço das redes que entra Mariano Ure no artigo que finaliza a seção, “El espacio del estar juntos en el territorio interactivo de las redes”, no qual analisa o vínculo do sujeito com o território
digital. A noção de espaço midiático é explorada aqui, no entrelaçamento também de espaços
que permeiam a vida cotidiana, tema que titula a entrevista desta edição La vida cotidiana es
la gran cantera de la ficción, com Valerio Fuenzalida, entrevistado por Rosario Sánchez Vilela,
Diretora do Departamento de Comunicação da Universidade Católica do Uruguai. Fuenzalida é
chileno, especializado em recepção pela audiência TV Pública e infantil, entre outras credenciais.
Atualmente é professor da Cátedra UNESCO de Comunicação.
Na seção de Estudos, contamos com o “Panorama das pesquisas do GI ficção televisiva e narrativa transmídia da ALAIC, por Anderson Lopes da Silva, Flavia Suzue de Mesquita Ikeda e
Helen Emy Nochi Suzuki. O texto nos ajuda a compreender ainda mais esta edição, que tem
como foco justamente estes temas, no âmbito da associação. Por fim, as duas resenhas, “Estudos
em comunicação na América Latina: ad-extra e ad-intra das realidades latino-americanas”, de
Maria Cristina Gobbi sobre o livro de Ferreira e Peruzzo “Comunicação na América Latina: da
metapesquisa aos estudos mediáticos (São Paulo: Intercom, 2018), resultado “de duas edições do
Colóquio Latino-Americano de Ciências da Comunicação na América Latina, promovidos pela
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), realizados nos
anos de 2016 e de 2017”, uma compilação recente sobre a produção acadêmica latina. Na última
resenha, do livro de Ana Regina Rêgo, “Os desafios da pesquisa em história da comunicação:
entre a historicidade e as lacunas da historiografia (Porto Alegre: EdiPUCRS, 2019), Marialva
Barbosa nos ajuda a adentrar os desafios propostos por Rêgo a respeito da historicidade e historiografia da comunicação no texto “Desafios: palavra síntese na perspectiva historiadora.”
Esperamos que nesta edição nossos leitores façam como com as série-televisas: marotonem
por entre os artigos, entrevista, estudo e resenhas diversos com uma ótima leitura da edição 31
da Revista ALAIC.
Margarida Maria Krohling Kunsch
Maria Cristina Palma Mungioli
Daniela Osvald Ramos
EDITORIAL
El permanente cambio en el ecosistema mediático:
continuidades y transformaciones
T
omamos prestada una parte del título del dossier para este editorial, que transcurre de diversas maneras, en América Latina, las
continuidades y transformaciones en la Comunicación de una región palpitante en este año 2019. Con veinte artículos, “Ficción televisiva y
narrativa transmedia: continuidades y transformaciones”, coordinado por
las profesoras Maria Cristina Palma Mungioli, Rosario Sánchez Vilela y
Giuliana Cassano, tuvo como objetivo el “reunir obras sobre los diferentes
aspectos relacionados a los estudios de ficción televisiva”, dimensionando
“los temas y las investigaciones que están en curso en algunos países Latinoamericanos”, en palabras de los docentes organizadores. El contexto de
la elaboración de esta sección está bastante detallado en su presentación, e
invitamos a los lectores a leerlo para una lectura más profunda del contexto
que abarcan estos dos temas inevitablemente complementarios e interdisciplinarios en la sociedad contemporánea, la ficción televisiva y la narrativa
transmedia. Se trata de un nuevo contexto del ecosistema de medios, “marcado por la expansión de Internet”, señalan los organizadores.
Así, los dos primeros artículos del dossier, de Claudia Benassini, titulados
“La contribución de los mundos ficticios a la construcción de la transmedialidad de las series de televisión”, y “Estrategias transmedia en la ficción televisiva infantil y juvenil: consideraciones sobre el personaje Luca Tuber, de
las Aventuras de Poliana (SBT)”, escrito por Fialho Martins, Nantes y Hergesel, se sumergen en la convergencia de estrategias transmediáticas para la
ficción televisiva, abriendo la senda a estas posibilidades. En los siguientes
tres artículos, “TV universitaria argentina y ficción seriada durante la ley
SCA: representación e identidad” (Soledad Ayala, Alejandra Pía Nicolosi
y Sabrina Fleman), “De lo dramatizado a las narco series: la configuración
de la serie colombiana a lo largo del tiempo” (Frederico de Mello Brandão
Tavares y Gedma Alejandra Salamanca) y “Las trampas del ‘horario noble
es el mío’” (Vanessa Scalei y Mágda Rodrigues da Cunha), tenemos un panorama de enfoques pertinentes a las especificidades latinoamericanas. El
primero aborda la Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual (LSCA) en
Argentina, que marca, desde 2009, la participación de las universidades en
la distribución audiovisual en el país. Brandão, Tavares y Salamanca buscan
entender la línea de tiempo histórica de la ficción en Colombia, aludiendo
a uno de los últimos éxitos de ficción de ese país (¿quién no ha visto por lo
menos el primer episodio de “Narcos”?). A continuación, se exploran los
cambios en la temporalidad del consumo de televisión teniendo como punto de partida una expresión bien conocida en Brasil desde que la televisión
11
comenzó a ocupar un espacio privilegiado en la vida del brasilero, el “horario noble”, que marca
la presentación de las tele noticioso más visto en la televisión brasilera, en la Rede Globo, el Jornal
Nacional, y luego la proyección de la telenovela de las ocho de la noche (o casi nueve, en los días
actuales).
Audiencias potencialmente diferentes marcan la narrativa de los siguientes cuatro artículos.
“Paradigmas televisivos en transición: la adaptación de dramas americanos en Corea” de Daniela
Mazur, Melina Meimaridis y Afonso Albuquerque, “Edificio cuadrado, lleno de aburrimiento
y desesperación”, de Lúcia Loner Coutinho, “La congregación de los jóvenes sentimentales: las
tele-ficciones infanto-juveniles en Argentina”, escrita por Cristina Andrea Siragusa y “Recepción
de La Regla del Juego por mujeres de diferentes clases sociales”, de Camila da Silva Marques. La
producción cultural juvenil en Corea es literalmente un asunto de estado, ya que el gobierno
patrocina bandas de música para adolescentes K-Pop, un fenómeno mundial. Debe prestarse
atención a este país si queremos comprender la lógica contemporánea de la geopolítica de la cultura. Siguiendo en la temática de la adolescencia, Coutinho disecciona la serie que tiene lugar en
entornos escolares y descubre que “(...) estas series traen categorías interconectadas: la relación
entre los estudiantes y la escuela como institución educativa, proporcionando un análisis de la
relación del autoritarismo y el sistema educativo; y en las relaciones entre los estudiantes protagonistas y el resto del alumnado, lo que permite reflexionar sobre la integración, estatus y también
el bullying”, temas que son esenciales para la reflexión de cualquier actor del sistema educativo.
Siragusa, en el artículo sobre tele-ficciones infante-juveniles en Argentina, llama la atención sobre
la comprensión de las narrativas multi-plataformas que ocurren con este tema. Los estudios de
recepción guían el último artículo de este bloque, que investiga cómo las dos clases sociales retratadas, de la “villa” y la del “asfalto” en la novela “La regla del juego”, de2016 (de autoría de João
Emanuel Carneiro) elaboran esta ficción
La plataformización de contenidos, el video-on-demand, la serialización y el pionero de estos
principios en el mundo, Netflix, son los asuntos de los siguientes tres artículos: “Ficción televisiva
en plataformas de video-on-demand: reconfiguraciones del escenario audiovisual brasilero - y
sus implicaciones en los estudios de medios” (Ligia Maria Prezia Lemos, Lucas Martins Néia y
Andreza Almeida dos Santos), “El mundo de Hawkins: la serialización contemporánea en Stranger Things” (Marcel Vieira Barreto Silva y Jessica Maria Brasileiro de Figueiredo) y “Más espacio,
más historias, más voces: Netflix y la promesa de diversidad en la pantalla” por Maíra Bianchini y
Bárbara Camirim. Lemos, Néia y Santos, se profundizan en el escenario brasilero on-demand en
la TV abierta, YouTube, televisión paga y Netflix, tomándolos “como ejes de análisis, identificando la dinámica y las estrategias presentes en las relaciones entre los llamados nuevos medios y los
medios tradicionales”. Aquí, el objetivo es, aún en palabras de los autores, “dibujar perspectivas
teórico-epistemológicas pertinentes a la complejidad y reticularidad del nuevo ecosistema comunicacional”. Aquellos que han sido capturados por el upside down (no brindaremos spoilers) de
Stranger Things, tienen la oportunidad de descubrir cómo y porqué esto sucede en la práctica, en
el estudio de Silva y Figueiredo sobre la construcción narrativa específica para video on-demand.
Ya Bianchini y Camirim quieren entender cómo la demanda por la representación diversa en los
medios acontece en las producciones originales de Netflix, que también, aprovechando el gancho, es la plataforma en la que se puede acceder a la serie Cosa más linda, objeto de Rocha, Silva
y Vieira como un medio para entender la globalización del melodrama latinoamericano. También sin spoilers, la serie aborda la subjetividad y los problemas femeninos en Río de Janeiro al
comienzo del fenómeno musical mundialmente conocido como bossa nova. Sí, al comienzo de la
serie parece que estamos viendo una telenovela de la Red Globo, pero la sensación se desvanece
durante toda la temporada, y luego se puede percibir que algo distinto está sucediendo, pero al
mismo tiempo familiar, nuestro conocido melodrama latinoamericano (palabra de espectador).
En “Homeland: Terror y género”, Silvana Seabra y Thais Eleutério parten de la suposición de la
serie como TV de alta calidad y destacan las posibles metáforas con el 11 de septiembre norteamericano. Ya en “Un análisis de la representación femenina en la serie Jessica Jones”, de Marcia
Diniz de Souza y Dagmar de Mello e Silva y “Stella Gibson: luminiscencia en la oscuridad invisible” (Karina Gomes Barbosa y Rafael Pereira Francisco), nuevamente el tema de la representación femenina gana contornos más específicos en el tema del dossier.
En la recta final de esta sección, con los trabajos “Motivaciones simbólicas e imágenes arquetípicas de la narrativa de la serie True Detective” de Adriana Pierre Coca y Danilo Fantinel,
“Cómo el VOD está afectando la forma de narrar historias: un análisis comparativo entre Flash
y Demolidor” , de Jéferson Cristiano Cardoso y Cristiane Finger, “Recapitulaciones de la serie
original de Netflix Dark: alteraciones en la estructura narrativa televisiva tradicional”, de Angela
Miguel Corrêa y Herom Vargas, y, finalmente, “Game of Thrones y la descentralización de la
postproducción sonora en la ficción televisiva contemporánea”, de Rodrigo Carreiro. Los hace
por medio de diferentes narrativas, se profundizan en los cambios que la presentación del dossier
hace explícitos.
En la sección Artículos Libres, “Dio zika en los medios: un análisis de la cobertura mediática
de Aedes Aegypti en el periódico, Estado de São Paulo”, por Ítalo Rômany de Carvalho Andrade
e Irenilda de Souza Lima, juega un papel importante en la supervisión de la cobertura periodística (2015 y 2016) de una epidemia causada por el Aedes Aegypti, un “vector” en el lenguaje
científico, de otros arbovirus importantes, como el dengue, que desafortunadamente no muestra
signos de disminución en Brasil. Ya João Figueira saca a la luz, un lado no tan publicitado de José
Saramago desde el punto de vista histórico: el periodista Saramago, en “Una relectura histórica
del periodismo de compromiso político de José Saramago”. El lado del escritor apareció en el
documental “José y Pilar”, que entrelaza el enfoque del escritor con su lado personal.
En “Percepciones sobre el racismo estructural: intersecciones del discurso y la moda”, Valquiria
Michela John, Debora C.A.C. Milla y Luciana Panke, discuten el racismo y “las condiciones que
subyacen a la perpetuación de sus discursos” teniendo a Internet como un espacio de investigación, donde analizan los comentarios realizados en esta plataforma sobre “una reconocida marca
de ropa brasilera, que tenía la ilustración de una de sus piezas de colección asociadas con la
esclavitud”. Es en este espacio de las redes donde surge Mariano Ure, en el artículo que concluye
la sección, “El espacio de estar juntos en el territorio interactivo de las redes”, en el que analiza el
vínculo del sujeto con el territorio digital. La noción de espacio mediático, es aquí explorada, en
el entrelazamiento también de espacios que impregnan la vida cotidiana, tema con el que se titula
a la entrevista de esta edición: La vida cotidiana es la gran cantera de la ficción, con Valerio Fuenzalida, entrevistado por Rosario Sánchez Vilela, Directora del Departamento de Comunicación
de la Universidad Católica del Uruguay. Fuenzalida es chileno, especializado en la recepción por
la audiencia de la televisión pública e infantil, entre otras credenciales. Actualmente es profesor
en la Cátedra UNESCO de Comunicación.
En la sección de Estudios, contamos con el “Panorama de la investigación del GI, ficción televisiva y narrativa transmedia de la ALAIC” de Anderson Lopes da Silva, Flavia Suzue de Mesquita
Ikeda y Helen Emy Nochi Suzuki. El texto nos ayuda a comprender aún más esta edición, que
se enfoca precisamente en estos temas, dentro del ámbito de la asociación. Finalmente, las dos
reseñas, “Estudios en comunicación en América Latina: ad-extra y ad-intra de las realidades latinoamericanas”, por Maria Cristina Gobbi sobre el libro de Ferreira y Peruzzo, “Comunicación
en América Latina: la meta-investigación a los estudios mediáticos (São Paulo: Intercom, 2018),
resultado de “dos ediciones del Coloquio Latinoamericano de Ciencias de la Comunicación en
América Latina, promovido por la Sociedad Brasilera de Estudios Interdisciplinares de Comunicación (Intercom), celebrados en los años de 2016 y de 2017”, una compilación reciente sobre
producción académica latina. En la última reseña, del libro de Ana Regina Rêgo, “Los desafíos de
la investigación en la historia de la comunicación: entre la historicidad y las lagunas de la historiografía” (Porto Alegre: EdiPUCRS, 2019), Marialva Barbosa nos ayuda a abordar los desafíos
propuestos por Rêgo al respecto de la historicidad e historiografía de la comunicación en el texto
“Desafíos: palabras síntesis en la perspectiva historiadora”.
14
Esperamos que en este número nuestros lectores hagan lo mismo que con las series de televisión: marotonen por entre los artículos, entrevistas, estudios y reseñas diversos con una óptima
lectura de la edición 31 de la Revista ALAIC.
Margarida Maria Krohling Kunsch
Maria Cristina Palma Mungioli
Daniela Osvald Ramos