DICIONÁRIO
Quem é Quem
na Museologia
Portuguesa
COORDENAÇÃO
Raquel Henriques da Silva (IHA-NOVA/FCSH)
Joana d’Oliva Monteiro (IHA-NOVA/FCSH)
Emília Ferreira (MNAC; IHA-NOVA/FCSH)
Elisabete Pereira (IHC-NOVA/FCSH-UÉ)
EDIÇÃ
REVIST O
AE
AMPLI
ADA
Índice
Editorial
A
ALARCÃO, Adília
ALARCÃO, Jorge de
ALLEN, Eduardo
ALLEN, João
ALMEIDA, António de Medeiros e
ALMEIDA, Januário Correia de
ALMEIDA, Luís Augusto Ferreira de
ALVES, Francisco Manuel
AMARAL, João
ANDRADE, Carlos Freire de
ANDRADE, Guilherme Rebelo de
ANDRADE, Sérgio Augusto Albuquerque Guimarães de
ARAGÃO, Augusto Carlos Teixeira de
ARAÚJO, António Jacinto de
AZEVEDO, Carlos Mascarenhas Martins de
AZEVEDO, Frei José Batista da Costa
AZUAGA, Marciano
4
7
11
14
17
20
24
27
31
35
39
42
45
48
52
55
58
60
B
BALSEMÃO, Luís Pinto de
BANDEIRA, José Ramos
BAPTISTA, António José Vidal
BÁRTHOLO, Maria de Lourdes Coelho
BEAUMONT, Maria Alice Mourisca
BELLINO, Albano Ribeiro
BEM, D. Tomás Caetano do
BENAVENTE, Luís
BOCAGE, José Vicente Barbosa du
BONVALOT, Carlos Augusto
BORBA, João Botelho Moniz
BOTO, Joaquim Maria Pereira
BRANDÃO, D. Domingos de Pinho
BUCHHOLZ, Karl
65
68
72
75
77
80
84
87
90
93
97
100
103
106
C
CABRAL, António Moreira
CABRAL, Madalena
CÁCERES, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e
CALDEIRA, Francisco Xavier Cardoso
CAMPOS, Alfredo Luís
CARVALHO, Armindo Ayres
CARVALHO, Domingos Pereira de
CASTELBRANCO, Eduardo Ernesto de
CASTRO, Fernando de
CENÁCULO, Frei Manuel do
CHAVES, Luís Rufino
CHICÓ, Maria Alice Lami Tavares
CHICÓ, Mário Tavares
COIMBRA, Maria Helena
CORDEIRO, Luciano
CORREIA, António Mendes
110
114
118
121
123
125
128
132
136
140
143
146
149
153
157
161
2
CORREIA, Eugénio
CORREIA, Raul Alexandre de Sá
CORREIA, Vergílio
CORTEZ, Fernando Russell
COSTA, Alfredo Augusto Machado e
COSTA, João Manuel da
COSTA, José Miguel da
COUTO, João Rodrigues da Silva
CRUZ, André Monteiro da
165
168
172
175
178
181
184
187
191
D
DANTAS, Júlio
DAUPIAS, Pedro Eugénio
DEVISME, Gerard
DIAS, António Jorge
195
198
201
203
F
FERNANDES, Joaquim Agostinho
FERNANDES, Luís José Seixas
FERNANDO II, Rei‑consorte de Portugal
FERRÃO, Julieta
FERREIRA, Alexandre Rodrigues
FEYO, Salvador Barata
FIGUEIREDO, José de
FONSECA, António José Branquinho da
FORMOSINHO, José dos Santos Pimenta
FRANÇA, José‑Augusto
FREIRE, Luciano Martins
207
211
215
219
222
225
228
232
235
238
241
G
GALHANO, Fernando
GARCIA, Eduíno Borges
GEORGE, Frederico
GIL, Fernando Bragança
GLÓRIA, António José Nunes da
GOMES, Jacinto Pedro
GONÇALVES, António Anastácio
GONÇALVES, António Augusto
GONÇALVES, António Nogueira
GRAÇA, António dos Santos
GRAINHA, Manuel Borges
GUARIENTI, Pietro Maria
GUIMARÃES, Alfredo
GUIMARÃES, António José Gonçalves
245
248
251
254
257
260
263
266
269
272
275
278
281
285
H
HOLSTEIN, D. Francisco de Sousa
289
J
JÚNIOR, Francisco Tavares Proença
JÚNIOR, Manuel Domingues Heleno
JORGE, Artur Ricardo
JÚNIOR, António José da Silva Sarmento
JÚNIOR, Frederico Augusto Lopes da Silva
293
297
300
303
306
K
KAMENEZKY, Eliezer
KEIL, Alfredo
KEIL, Luís Cristiano Cinatti
KUGEL, Jacques
309
313
316
319
L
LACERDA, Abel de
LARCHER, Tito
LIMA, Manuel Coelho Baptista de
LOPES, Adriano de Sousa
LOPES, António Teixeira
LOPES, Carlos Manuel de Penha e Costa da Silva
LUÍS I, Rei de Portugal
323
326
330
333
336
339
342
M
MACEDO, Diogo de
MACEDO, Manuel de
MACHADO, Bernardino
MALTA, Eduardo
MARDEL, Fernando
MARQUES, António Paes da Silva
MARQUES, Manuel Augusto Paixão
MAYNE, Frei José
MENDONÇA, Maria José de Almeida Furtado de
MOITA, Irisalva
MONTANHA, José António Furtado
MONTÊS, António
MONTÊS, Paulino António Pereira
MOREIRA, Francisco de Almeida
MOURA, Abel de
MOURA, Manuel António de
MOURINHO, António Maria
346
349
353
357
360
363
366
369
372
375
379
382
386
390
392
395
398
N
NATIVIDADE, Manuel Vieira
NORONHA, D. Pedro José de
402
405
O
OLEIRO, João Manuel Bairrão
OLIVEIRA, Bernardino Lopes de
OLIVEIRA, Ernesto Luís Alves da Veiga de
OLIVEIRA, Manuel Paulino de
OLIVEIRA, Manuel Sousa d’
ORTIGÃO, José Duarte Ramalho
OSÓRIO, Júlio
409
412
415
418
422
425
429
P
PEIXOTO, Augusto da Rocha
PEREIRA, Gabriel Victor do Monte
PERDIGÃO, Maria Madalena Biscaia Azeredo
PESSANHA, D. José Maria da Silva
PINA, D. Manuel Correia de Bastos
PINHEIRO, Columbano Bordalo
PINTO, Maria Helena Mendes
POPPER, Erich
PORFÍRIO, António Ventura
433
436
439
443
446
449
452
455
458
R
REIS, Carlos
RELVAS, José de Mascarenhas
462
466
3
REY, Jorge
RIBEIRO, João Baptista
RIBEIRO, Luís da Silva
ROCHA, António dos Santos
RODRIGUES, Armando Porfírio
RODRIGUES, Francisco de Assis
RODRIGUES, José Filipe
RODRIGUES, José Rafael
ROSAS, Etheline Isaac Chamis
469
472
475
478
483
486
489
492
495
S
SAA, Mário
SALDANHA, Fernando António de Almeida e Silva
SALGADO, José Bénard Guedes
SAMPAIO, Alberto
SANTOS, Joaquim José Júdice dos
SANTOS, Luciano Afonso dos
SANTOS, Luís Reis
SARMENTO, Francisco Martins de Gouveia Morais
SCHMITZ, Ernst Johann
SERRÃO, Eduardo da Cunha
SILVA, Abílio de Mattos e
SILVA, Casimiro Gomes da
SILVA, Cristiano Augusto da
SILVA, Joaquim Possidónio Narciso da
SILVA, Marciano Henriques da
SILVA, Maria Madalena de Cagigal e
SILVA, Mário Augusto da
SIMÕES, Augusto Filipe
SIMÕES, João Miguel dos Santos
SOUSA, João Vidal da Costa e
SOUSA, José Vasco Alvim de
500
503
506
509
512
515
517
520
523
526
529
532
535
539
542
545
548
552
555
558
560
T
TAVARES, Joaquim do Couto
TAVARES, José Augusto (Padre)
TÁVORA, Bernardo Ferrão de Tavares e
TAXINHA, Maria José
TEIXEIRA, Raúl Manuel
TIRINNANZI, Luiz
TORRES, António da Silva e Sousa
TRINDADE, Leonel de Freitas Sampaio
565
568
571
574
577
580
583
586
V
VALENTE, António Vasco Rebelo
VAN‑DECK, José Rollem
VANDELLI, Domingos
VASCONCELOS, Flórido Teles de Menezes e
VASCONCELOS, Joaquim António da Fonseca de
VASCONCELOS, José Leite de
VEIGA, Estácio da
VERMELHO, Joaquim José
VIEIRA, Custódio José
VILHENA, Ernesto Jardim de
VITORINO, Pedro
591
594
596
599
602
606
609
612
615
618
621
Z
ZAGALO, Manuel Carlos de Almeida Cayola
625
Índice de autores
628
Lista de abreviaturas
633
Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa
Editorial
O Dicionário Quem é Quem na Museologia
Portuguesa, acessível no site do Instituto de História de Arte da Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
(IHA-NOVA FCSH), é um projecto editorial inédito integrado no Grupo de investigação Museum
Sudies (MuSt).
Com coordenação científica de Raquel Henriques da Silva, Joana d’Oliva Monteiro, Emília
Ferreira e Elisabete Pereira, foi especificamente
concebido como um work in progress e assume
como objectivos fundamentais facultar uma
visão abrangente, um conhecimento preciso
e uma valorização actualizada das personalidades associadas à Museologia Portuguesa,
que exerceram a sua actividade entre o século XVIII e os anos 1960, e actuantes em diferentes tipologias científicas (Arte, Ciência,
Antropologia, Arqueologia, História, Etnologia); visando, ainda, contribuir para uma mais
ampla compreensão da História dos Museus e
da Museologia.
A delimitação temporal elegida foi meramente operativa e conjuntural: entendeu-se que é
necessária maior distância cronológica para se
estudar o impacto das acções e das contribuições teóricas e profissionais dos biografados que
estão ainda em actividade ou deixaram de estar
em tempos muito recentes.
Inscrito na tipologia de iha-seed-projects
(micro-projectos), uma das linhas estruturais
estratégicas do IHA-NOVA FCSH que o financiou conjuntamente com a Direcção-Geral do
Património Cultural (DGPC), que se associou o
projecto, aposta nas virtualidades da publicação online, dando continuidade ao investimento
deste Instituto numa política de acesso aberto.
Obra desenvolvida numa instituição académica, norteou-se pela boa prática colaborativa e
inclusiva através da abertura de uma chamada
pública, amplamente divulgada e dirigida a toda
a comunidade científica e profissional fora da
academia. Importa sublinhar a resposta obtida à
chamada de trabalhos, manifestada, desde logo,
pelo significativo número de propostas submetidas (cerca de duas centenas).
Após a apresentação pública do Dicionário Quem é Quem… a 28 de Março de 2019 no
Palácio Nacional da Ajuda, com 93 entradas biográficas online, o projecto conheceu um impulso
muito significativo e um manifesto reconhecimento nos planos nacional e internacional, atestado quer pelo número exponencial de acessos
no site do IHA-NOVA FCSH, quer pela efectiva
divulgação nos diversos media da especialidade
– destaque, a título exemplificativo, para a Associação Portuguesa de Museologia (APOM); Ibermuseos; ICOM Portugal; Ministerio de Educación
Cultura y Deporte e o interesse despertado por
Universidades estrangeiras (ex. Universidade
de Belo Horizonte-Brasil), a que se deve, igualmente, o esforço empreendido pela Coordenação
Científica na sua persistente divulgação e apresentação do Projecto em iniciativas variadas de
cunho académico-científico e respectiva publicação de artigos.
A edição que agora se publica, revista e
ampliada, conta com 96 novas entradas biográficas, tendo sido a selecção dos autores arbitrada por uma Comissão Científica criada para o
efeito, comprovando, uma vez mais, a relevância desta abordagem centrada no género biográfico, ao dar destaque ao papel empreendido
por um naipe de individualidades regionais e
4
Editorial
Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa
locais, algumas delas desconhecidas ou desvalorizadas e áreas que, em geral, permanecem
insuficientemente estudadas, convertendo-se o
Dicionário Quem é Quem… numa obra de referência
nacional e internacional nesta área de estudos,
revelando-se, de igual forma, este mapeamento
sem precedentes, um contributo determinante para a construção de uma historiografia que
permite compreender os museus criados em Portugal de forma a enquadrá-los no contexto internacional, passo decisivo para avançar para um
Dicionário exclusivamente dedicado a Museus.
Tal não seria possível sem os contributos de
investigações recentes, muitas delas desenvolvidas em ambiente académico, no âmbito da realização de dissertações de mestrado e / ou teses de
doutoramento.
Pensada como um corpus em permanente
construção e actualização de conteúdos, goza
da vantagem de serem preenchidas lacunas que
venham a ser detectadas e cada um dos autores
poderá actualizar os seus verbetes, na sequência
de desejáveis sugestões e críticas ou pelo desenvolvimento da investigação, em favor do imperioso aprofundamento das actuais e muito positivas
dinâmicas da museologia em Portugal, especialmente no que se relaciona com a valorização da
sua história, que encaramos como campo em
expansão, pluridisciplinar e participativo.
Resta agradecermos a todos os autores e aos
membros da Comissão Científica que procederam à revisão dos artigos a generosidade do seu
trabalho, desenvolvido gratuitamente.
5
GARCIA, Eduíno Borges
Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa
Na sua atividade como investigador destaca-se, nos anos de 1968-69, o trabalho de campo
sobre a olaria açoriana nas ilhas Terceira, Santa
Maria e, em particular, na de S. Miguel (Fig. 1). A
coleção de cerâmica decorrente destes trabalhos
constitui um núcleo representativo da olaria açoriana que integra o acervo do Museu de Olaria de
Barcelos, tendo sido por esta instituição editado
um catálogo (Fernandes, 1993).
Os profícuos estudos históricos e arqueológicos, nomeadamente da Igreja Visigótica de S.
Gião em parceria com Fernando de Almeida,
das Anforetas, das Torres e Fachos da Lagoa
da Pederneira, dos Pelourinhos dos coutos de
Alcobaça, entre tantos outros, desenvolvidos ao
longo das décadas de 1960 e 1970, começam a
ser preteridos pela atenção conferida às comunidades rurais. Esta reorientação quase exclusiva
do programa de investigação para o domínio da
etnotecnologia e da cultura popular verifica-se
em função das profundas transformações que
abalavam o universo rural, o seu tecido social,
as dinâmicas de trabalho e produção. É por esta
consciencialização de um mundo em erosão que
considera premente salvar para memória futura
os trabalhos e os dias das populações camponesas tradicionais.
GARCIA, Eduíno Borges
Ribeira Grande (S. Miguel, Açores) 1922 – Lisboa, 1979
Borges Garcia teve uma vida demasiado curta
para tantos projetos e interesses de uma geografia tão dispersa como a literatura, a história, a
arqueologia, a etnografia e a museologia. Num
percurso de vida intensamente ligado à cultura,
privilegiou a popular que considerava ameaçada
pelas profundas transformações socioeconómicas e políticas em curso. Formado em Farmácia pela Universidade do Porto, exerceu funções
diretivas no Instituto Pasteur de Lisboa, mas a
dimensão técnica e de gestão que desenvolveu
profissionalmente não podia conter uma personalidade e um caráter tão inquisitivo e sensível sobre a realidade social. A defesa da cultura
implica, na sua conceção de vida, um fator de
militância ativa e consciente e é este exercício
pleno de cidadania que melhor o descreve.
A matriz do seu pensamento forjado na ação
desenha-se, desde cedo, nas publicações que
desenvolve no periódico micaelense A Ilha. Como
salienta Urbano Bettencourt, no prólogo à obra
póstuma Ilhéus, Portugas & Outros, que reúne a
esparsa produção literária de cariz neorrealista desenvolvida por Borges Garcia entre 1953 e
1971, desde os primeiros escritos da juventude a
preocupação intelectual sobre a paisagem humanizada, o património histórico e arqueológico, as
artes e ofícios e trabalho do povo afirmavam-se
como um indicador em construção (Bettencourt,
1995: 5-6). O interesse que lhe desperta a literatura e os seus renomados autores leva a acolher
na sua casa de Caxias o escritor John dos Passos,
segundo testemunho da sua mulher Elisabete
Rodrigues Garcia.
FIG. 1 Eduíno Borges Garcia. Fotografia em que
o investigador exibe uma peça cerâmica de Vila
Franca do Campo (S. Miguel), n.º 112 (24 de janeiro
de 1971).
248
G
GARCIA, Eduíno Borges
Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa
Os levantamentos arqueológicos e etnográficos levados a cabo por Borges Garcia surgem
sempre como contributos para uma museologia
regional. Em plena campanha de S. Gião, o investigador é aliciado a doar o espólio descoberto nas
escavações ao futuro Museu Regional da Nazaré,
proposta que inicialmente declina dado acreditar
estar para breve a criação do Museu Arqueológico de Alcobaça que tinha como fundamento a
coleção arqueológica de Manuel Vieira Natividade (Garcia, 1976: 13). Borges Garcia colabora no
projeto de planeamento do modelo museológico
da Nazaré que abrange secções dedicadas à arte,
à arqueologia e à etnografia. O investigador, que
assume a presidência da direção dos Amigos do
Museu entre 1969-71, considerava que o futuro
museu deveria contemplar de forma soberana a
vertente etnográfica, a que mais podia realçar os
usos e costumes desta comunidade marítima.
No ano de 1975, constitui em Alcobaça, com
um grupo de jovens, uma equipa de estudos de
etnografia com o propósito de promover a recolha de materiais para o futuro Museu dos Coutos
de Alcobaça (Fig. 2). A primeira reunião aconteceu na casa de Leocádia Natividade, futura Casa-Museu Vieira Natividade, dada a intimidade do
investigador com a família, nomeadamente com
o Professor Joaquim Vieira Natividade. Esta atividade de campo mensal e por vezes quinzenal
decorreu até à sua morte, tendo incidido sobre as
práticas do calendário agrícola, as artes e ofícios
tradicionais, as estruturas culturais e mentais do
mundo rural.
Os estudos etnográficos que desenvolve de
forma mais sistemática e duradoura nesta peregrinação pelos campos centram-se sobre as oficinas de canastreiros de Évora de Alcobaça, de
cutelaria em Turquel e Santa Catarina, de esteiraria na Castanheira e Póvoa de Cós. De realçar
ainda os trabalhos sobre a tipologia das eiras e
sua relação com a propriedade e cultivares, as
construções de armazenamento e conservação das águas na beira Serra dos Candeeiros e,
FIG. 2 Desenho de um arado recolhido na povoação
de Carvalhal de Turquel (1976) pelo escultor Luís Carlos
Cruz que, na altura, integrava o grupo de trabalho de
etnografia ©
geograficamente exógena ao território dos coutos, a incursão às olarias de Flor da Rosa no Alto
Alentejo.
Mas a razão da pesquisa também envolvia
os próprios atores, como acontece no Casal do
Rei, em que a comunidade assiste a filmes que
retratam a sua própria vida de trabalho, provocando comentários e debate vivo, intervenção virtuosa a que não é estranho o espírito de
abril. A escola técnica de Alcobaça também é
chamada à liça com o projeto de medicina popular, pois era necessário cativar o corpo docente
e discente para o estudo e divulgação da cultura
local, tendo sido elaboradas fichas de trabalho de
campo que foram aplicadas pelos alunos tutorados pelos docentes. Borges Garcia, num breve
artigo designado “A Medicina Popular, o Museu
e a Escola”, apresenta as linhas programáticas
deste projeto, defende uma cooperação íntima
entre as duas instituições e pensa nisto como
um desígnio nacional. Para o autor, a ligação não
pode ser unívoca, defendendo que “o Museu deve
integrar-se com a Escola num Programa Educativo comum” (Garcia, 1978a: 18).
O investigador pensava a cultura de forma
integrada partindo da ideia de que só se preserva
o património quando as populações o reconhecem como um valor identitário, quando estes
bens constituem uma referência cultural assumida coletivamente. É nesta linha que defende a
249
G
GARCIA, Eduíno Borges
Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa
BIBLIOGRAFIA
BETTENCOURT, Urbano. 1995. “Eduíno Borges Garcia
“Traços de um Percurso”. GARCIA, Eduíno, Ilhéus, Portugas & os Outros. Lisboa: Edições Salamandra: 5-12.
FERNANDES, Isabel. 1993. Cerâmica Açoriana. Catálogo.
Barcelos: C.M.B./Museu de Olaria.
LAMEIRAS-CAMPAGNOLO, M.; Mestre, Vítor. 2008. “O
Museu dos coutos de Alcobaça: prioridades, singularidades”. Comunicação apresentada ao Seminário do
Património do Oeste (outubro de 2008).
GARCIA, Eduíno. 1975. “O Futuro Museu dos Coutos de
Alcobaça. Uma experiência Museológica”. Actas do
Colóquio APOM 75. Museus Para Quê? (1-3 de novembro
de 1975). Figueira da Foz: Associação Portuguesa de
Museologia. 123-134.
GARCIA, Eduíno. 1976. O Museu da Nazaré. Antecedentes
Históricos do Museu etnográfico e Arqueológico do Dr. Joaquim Manso. Lisboa: Livraria Portugal.
GARCIA, Eduíno. 1978a. “A Medicina Popular. O Museu e
a Escola”. Boletim da ADEPA (abril-setembro de 1978),
14-18.
GARCIA, Eduíno. 1978b. “Proposta dum esquema de organização para o futuro museu de Alcobaça”. Actas do Congresso Internacional de Defesa do Património. Alcobaça:
299-311.
FIG. 3 Casa do Monge Lagareiro, um dos núcleos
patrimoniais cistercienses a integrar o Museu dos Coutos
de Alcobaça. Fotografia de António Valério Maduro ©
aposta na ecomuseologia, tema de conversa com
Per-Uno Agren na visita que conduz ao território
dos antigos coutos. Borges Garcia considerava
que o Museu da Região de Alcobaça deveria ser
dotado de uma estrutura polinuclear realçando
as marcas patrimoniais do território (Fig. 3).
Este princípio basilar vai, aliás, animar a nova
proposta estruturante de modelo de Museu dos
Coutos de Alcobaça sustentada por Maria Olímpia Lameiras-Campagnolo e Vítor Mestre, entre
outros investigadores (Lameiras-Campanolo,
2008).
Reconhecendo que a sinalização pelo estudo
constitui um primeiro passo para alavancar a
ideia de museu, pelo qual a comunidade alcobacense tanto anseia, propõe a organização de
grupos de trabalho nos eixos que reputa de fundamentais: História Natural, Arqueologia, História de Arte e Etnografia. Para o investigador,
a missão do museu implica uma perspetiva de
compreensão do território como um todo, daí
apostar numa articulação funcional e dinâmica
entre os diversos núcleos, rejeitando um museu
passivo virado para si próprio. Pelo contrário,
advoga veementemente que o museu deve estar
ao serviço da comunidade, sair de portas, organizar sessões culturais nas localidades, convidar as pessoas a visitarem as suas exposições e
eventos tornando-o apelativo e próximo (Garcia,
1975: 123).
[A.V.M.]
ANTÓNIO VALÉRIO MADURO Doutorado em História Contemporânea pela Universidade de Coimbra. Leciona na secundária Francisco Rodrigues Lobo e no Instituto Universitário da
Maia/ISMAI. Investigador do Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (CETRAD/UTAD), colaborador
do Centro de História da Sociedade e da Cultura (CHSC/FLUC)
e do CEDTUR/ISMAI. Sócio da Rural/Report, da SPER e da APAI.
Integra a Comissão Instaladora do Museu do Vinho de Alcobaça. Secretário e editor da revista PASOS – Journal of Tourism
and Cultural Heritage, da Universidade de La Laguna (presente
na Web of Science). Autor de diversos estudos centrados na
história rural, etnotecnologia, património cultural e industrial.
250
G
DICIONÁRIO
Quem é Quem
na Museologia
Portuguesa
FICHA TÉCNICA
Título
Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa – edição revista e ampliada
Coordenação Científica e Editorial
Raquel Henriques da Silva (IHA-NOVA/FCSH)
Joana d’Oliva Monteiro (IHA-NOVA/FCSH)
Emília Ferreira (MNAC; IHA-NOVA/FCSH)
Elisabete Pereira (IHC-NOVA/FCSH-UÉ)
Comissão Científica
Adelaide Duarte (IHA-NOVA/FCSH)
Alexandre Nobre Pais (MNAz)
Ana Carvalho (CIDEHUS-UÉ)
Ana Cristina Martins (IHC-NOVA/FCSH-UÉ)
Clara Frayão Camacho (DGPC; IHA-NOVA/FCSH)
Duarte Manuel Freitas (CHSC)
Elisabete Pereira (IHC-NOVA/FCSH-UÉ)
Emília Ferreira (MNAC; IHA-NOVA/FCSH)
Graça Filipe (IHC-NOVA/FCSH)
Helena Barranha (IST-UL; IHA-NOVA/FCSH)
Hugo Xavier (Palácio da Pena/Parques de Sintra-Monte da Lua, S.A; IHA-NOVA/FCSH)
Joana Baião (IHA-NOVA/FCSH)
Joana d’Oliva Monteiro (IHA-NOVA/FCSH)
João Carlos Brigola (CIDEHUS-UÉ)
Lúcia Almeida Matos (FBAUP; IHA-NOVA/FCSH)
Maria de Aires Silveira (MNAC-MC)
Marta C. Lourenço (MUHNAC)
Paulo Oliveira Ramos (Uab; IHA-NOVA/FCSH)
Raquel Henriques da Silva (IHA-NOVA/FCSH)
Sandra Leandro (UÉ; IHA-NOVA/FCSH)
Revisão de conteúdos
Ana Caeiro
Design
José Domingues (Undo)
Edição
Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/NOVA
ISBN: 978-989-54405-5-9
2019/2022
Projeto editorial desenvolvido no IHA/NOVA FCSH, financiado por Fundos Nacionais através da
FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do Projecto Estratégico do IHA [UIDB/00417/2020].
Apoio da Direção-Geral do Património Cultural.
© Autores e Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/NOVA.
Todos os conteúdos publicados (textos e imagens) são da exclusiva responsabilidades dos Autores.
A opção de utilização do Acordo Ortográfico (1990) é responsabilidade dos autores.
Agradecimentos
Acácio de Sousa, Adília Alarcão, Ana Carvalho, Ana Margarida Martinho, Ana Paula Louro, Duarte Freitas,
Joaquim Pais de Brito, José Alberto M. G. Allen, José Luís Porfírio, Maria de Aires Silveira, Maria Isabel Roque,
Maria João Vilhena de Carvalho, Mariana Pinto dos Santos, Marta Lourenço, Quintino Lopes e Virgínia Gomes.
Instituto de História da Arte – NOVA FCSH
Campus de Campolide, Colégio Almada Negreiros
1099‑032 Lisboa, Portugal
www.institutodehistoriadaarte.com
Quem é Qu
na Museolo
Portuguesa
Quem é Qu
na Museolo
Portuguesa