SHORT REPORTS
Prognóstico visual em pacientes com hifema traumático:
estudo prospectivo de 43 casos
Visual outcome in patients with traumatic hyphema: prospective study of 43 cases
Paulo Dantas Rodrigues n
Pablo F. Larco Recalde 11
Luciene S. Barbosa n
Nilva S. Bueno Moraes 11
Denise de Freitas 11
RESUMO
Um estudo prospectivo de 43 casos consecutivos de hifema traumático, com
acompanhamento ambulatorial, foi realizado em São Paulo, no período de
01/06/93 a 30/01/94.
O sexo masculino foi o mais acometido (6,4: 1) e a média de idade dos
pacientes foi de 20,8 anos. Intervenção cirúrgica foi necessária em 5 pacientes.
Ressangramento foi observado em 2 (5,4%) pacientes, e não teve influência
na acuidade visual final. A recessão angular foi observada em 18 pacientes
entre os 23 em que foi possível realizar gonioscopia, sendo que 1 (5,5%)
desenvolveu glaucoma necessitando intervenção cirúrgica.
Foi observado um pior resultado visual final nos pacientes que tiveram
lesões de segmento posterior.
Palavras-chave: Hifema; Traumatismos oculares.
INTRODUÇÃO
O hifema traumático (HT) é uma
condição relativamente freqüente na
prática oftalmológica, associada mui
tas vezes com alterações do segmento
anterior e posterior 1 • Tem interesse
social e econômico por acometer fai
xas etárias jovens e produtivas 2 •
Este estudo teve o objetivo de anali
sar as alterações de segmento anterior
e posterior e as complicações associa
das, em pacientes acompanhados
ambulatorialmente . Relacionou- se
também a acuidade visual final destes
pacientes com o grau inicial de hifema
e as alterações oculares associadas.
•
Pronto-Socorro de Oftalmologia do Hospital São Paulo
Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de
Medicina.
Endereço para correspondência : Paulo Dantas
Rodrigues - Rua Botucatu, 820 - V. Clementino - CEP
04023-062 - São Paulo - SP
ARQ. BRAS. OFTAL. 58(6), DEZEMBR0/1995
PACIENTES E MÉTODOS
Os pacientes portadores de hifema
secundário ao trauma contuso foram
acompanhados ambulatorialmente, por
dois observadores, com retomo diário
até resolução do hifema. O exame
constou de medida da acuidade visual
com melhor correção, biomicroscopia,
tonometria de aplanação, oftalmosco
pia indireta e sempre que possível
gonioscopia, comparando-se o olho
traumatizado com o olho contralateral.
Ressangramento foi identificado pelo
aumento do nível do hifema e/ou pre
sença de sangue recente em câmara
anterior.
Classificou-se o hifema de forma
quantitativa 3 como: Grau I quando nível
de sangue inferior ou igual a 1 /3 da câ
mara anterior; Grau II, entre 1 /3 e 1 /2;
Grau III, maior que 1 /2 (exceto hifema
total) ; Grau IV correspondendo a
hifema total e finalmente, hifema mi
croscópico quando apenas se observa
va a presença de hemácias livres no
humor aquoso.
A conduta inicial consistiu em uso
de agente cicloplégico (atropina 1 %) a
http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19950016
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Prognóstico visual em pacientes com hifema traumático:
estudo prospectivo de 43 casos
cada 8 horas, e uma combinação de
antibiótico (neomicina e polimixina) e
corticóide ( dexametasona O, 1 % ) tópico
cuja freqüência era determinada pela
severidade de inflamação intra-ocular.
Os pacientes foram orientados a per
manecer em repouso, manter decúbito
elevado a 45 graus e aumentar a inges
tão hídrica.
RESULTADOS
O Pronto-Socorro de Oftalmologia
do Hospital São Paulo, Departamento
de Oftalmologia da Escola Paulista de
Medicina, atendeu 43 casos de hifema
associado ao trauma contuso. Destes, 6
não cumpriram com os retornos sendo
retirados do estudo. O sexo masculino
foi predominantemente acometido
com 32 (86%) casos em relação ao
sexo feminino 5 ( 1 4%).
A idade dos pacientes variou de 4 a
50 anos, com média de 20,8 . Foi obser
vado que 79% dos pacientes tinham
menos de 30 anos. O tempo médio de
seguimento foi de 80 dias.
Quanto ao grau de hifema no mo
mento do primeiro atendimento, 24
(64,9%) apre sentaram Grau 1; 8
(2 1 ,6%) Grau II; 1 (2,7%) Grau III e 3
(8, 1 %) Grau IV. Hifema microscópico
foi observado em 1 (2,7%) caso.
O intervalo de tempo entre o trauma
e primeiro atendimento foi, em média,
de 1 1 horas ( 1 5 minutos e 96 horas).
Todos os pacientes foram controla
dos clinicamente com exceção de 5
( 1 3,5%) casos que necessitaram de in
tervenção cirúrgica. Um paciente ne
cessitou de trabeculectomia (na tercei
ra semana pós-trauma), um de facecto
mia com implante de lente intra-ocular
(no 20 º diã), dois de lavagem de câma
ra anterior (por ímpregnação hemática
da córnea, no 8 ° e 1 0 ° dia pós-trauma)
e um paciente foi submetido a correção
cirúrgica de estrabismo.
Ressangramento foi observado em 2
(5 ,4%) pacientes (com 5 e 32 anos) que
inicialmente apre sentavam hífema
graus I e II, e ressangraram no 4 º e 3 º
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dia após trauma, respectivamente. Ne
nhum destes pacientes necessitou in
tervenção cirúrgica e a acuidade visual
final em ambos os casos foi de 20/2 5 .
Dos 2 3 pacientes submetidos à
gonioscopia, observou-se recessão an
gular em 1 8 (78,2% ). Destes, 9 apre
sentavam pelo menos, 1 80 graus de
recessão e 1 (5,5%) desenvolveu glau
coma, necessitando cirurgia (na 3 ª se
mana) por nao obtenção de controle
clínico.
A abrasão corneana 20 (54%), o
edema de córnea 1 3 (3 5%) e a rotura
de esfincter iriano 8 (2 1 ,6%) foram os
achados associados mais freqüentes no
segmento anterior, enquanto que no
segmento posterior, o edema de retina
1 2 ( 3 2 % ) , a hemorragia vítrea 5
( 1 3 ,5%), a hemorragia subretiniana 5
( 1 3 ,5%) e a rotura de coróide 3 (8, 1 %)
foram observados.
Dos 24 pacientes que apresentaram
hifema grau 1, 6 ( 2 5 % ) tiveram
acuidade visual final menor que 20/40
devido, na grande maioria a alterações
do segmento posterior, como rotura de
coróide e hemorragia vítrea. Em todos
os casos de hifema graus II e III (9
casos), a acuidade visual foi melhor
que 20/40, assim como o único caso
que apresentou hifema microscópico.
Dos 3 pacientes com hifema grau IV, 1
(33%) apresentou acuidade melhor que
20/40, e os demais também evoluíram
com alterações de segmento posterior
e em conseqüência, acuidade visual fi
nal menor que 20/200.
DISCUSSÃO
O s dados obtidos neste e studo
prospectivo de 43 casos de hifema
traumático, no que diz respeito a idade
e sexo mais acometidos, são concor
dantes com estudos prévios 2 - 5 , onde
o indivíduo j ovem do sexo masculi
no foi o mais freqüentemente acome
tido .
A incidência de ressangramento por
nós constatada (5,4%), foi semelhante
a de outros estudos que envolveram
populações com distribuição étnica se
melhante 1 • 5 • 6, ou seja de 3 a 3 8%.
Outros fatores no entanto, também po
deriam ter influência nesta variabilida
de. O grau de hifema e a idade dos
pacientes não tiveram relação com a
incidência de ressangramento.
A distribuição de lesões do segmen
to anterior, foi semelhante a da litera
tura 2 , onde o comprometimento
corneano e da íris foram os mais fre
qüentes.
A recessão angular costuma estar
presente na maioria dos pacientes com
hifema pós-trauma contuso, com
prevalência variando de 20 a 1 00%.
Também a literatura mostra que a ex
tensão da recessão não tem relação
com o grau de hifema 7 • A incidência
de glaucoma em paciente s com
recessão varia de 1 a 7% 3 • 7 •
A oc orrência de impregnação
hemática relaciona-se com: duração
prolongada do hifema, disfunção
endotelial, aumento da pressão intra
ocular e hifema ocupando mais da me
tade da câmara anterior 7 • 8 • Sua inci
dência na literatura varia entre 5,6% 8 e
1 0,5% 9, ocorrendo mais freqüen
temente do 6 º ao 1 2º dia 9 . Em nosso
estudo, 2 (5 ,4%) pacientes iniciaram
com impregnação hemática entre o 8 ° e
1 O º dia de evolução, necessitando lava
gem de câmara anterior.
A relação entre o grau de hifema
inicial e . a acuidade visual final tem
sido freqüentemente discutida na lite
ratura 3 • 6 • 9, onde hifemas maiores têm
pior acuidade visual final. Devido ao
pequeno número de pacientes com
hifema graus III e IV, não foi possível
neste estudo constatar esta relação. No
entanto, pudemos observar que o resul
tado visual final em nossos pacientes
esteve mais relacionado à ocorrência
de lesões de pólo posterior do que ao
grau do hifema, fato este também rela
tado em outras séries 1 • 6 •
O tratamento do hifema traumático
permanece sem uma padronização. A
possibilidade de predizer os pacientes
mais suscetíveis ao ressangramento,
ARQ. BRAS. OFTAL. 58(6), DEZEMBR0/1 995
Prognóstico visual em pacientes com hifema traumático:
estudo prospectivo de 43 casos
bem como sua prevenção, constitui
para alguns o aspecto mais importante
na condução de pacientes com hífe
ma 4 , _
Muitas das alterações responsáveis
pela baixa de acuidade visual no
hifema traumático, relacionam-se mais
com a severidade do trauma inicial do
que com o hifema propriamente dito.
Este fato releva a importância de medi
das preventivas em relação ao trauma
contuso.
6
SUMMARY
A prospective study of 43
consecutive cases of traumatic
hyphema was conducted in São Paulo
from ]une 1, 1993 to January 30,
1 994. There was a 6. 4: 1 male/female
ratio and the average age was 20. 8
years.
Rebleeding ocurred in 2 (5. 4%)
patients and had no influence in final
visual acuity. The study revealed
angle recession in 18 patients among
23 in whom gonioscopy was
performed, and it was associated with
secondary glaucoma in 1 (5. 5 %) case
that required surgery for adequate
IOP control.
We observed that final visual
acuity was worse in patients with
posterior segment injuries.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
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