Efeitos económicos no Brasil da liberalização das tarifas
da União Europeia de importação de etanol
Economic effects in Brazil of liberalization of the European Union tariffs
of ethanol import
Tamara Silvana Menuzzi Diverio1, Rui Manuel Fragoso2,*, Pery Francisco Assis Shikida3,
Weimar Freire da Rocha Júnior3, Márcia Carla Ribeiro4 e Oksandro Osdival Gonçalves4
Universidade de Cruz Alta, Programa de Pós‑Graduação em Desenvolvimento Rural. Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil
Universidade de Évora, Departamento de Gestão de Empresas. Évora, Portugal
3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Programa de Pós‑Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Cascavel, Paraná, Brasil
4 Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Escola de Direito. Curitiba, Paraná, Brasil
(*E‑mail: rfragoso@uevora.pt)
http://dx.doi.org/10.19084/RCA16003
1
2
Recebido/received: 2016.01.11
Recebido em versão revista/received in revised form: 2016.07.25
Aceite/accepted: 2017.01.02
RESUMO
Este estudo pretende avaliar os efeitos económicos no Brasil da eliminação das barreiras da União Europeia no
comércio de etanol. A metodologia utilizada baseia‑se na abordagem de equilíbrio geral computável e na utilização
do modelo Global Trade Analysis Project (GTAP). Os resultados indicam que a liberalização das barreiras tarifárias da
União Europeia para a importação etanol tem um impacto positivo na economia do Brasil, nomeadamente, em termos
do crescimento do PIB, dos termos de troca e no setor da produção de etanol de cana‑de‑açúcar.
Palavras‑Chave: Equilíbrio Geral, Biocombustíveis, Etanol, Barreiras comerciais.
ABSTRACT
This study aims to assess the economic effects in Brazil from elimination of the European Union trade tariffs for bioe‑
thanol import. The methodology used is based on the computable general equilibrium approach and in the application
of the Global Trade Analysis Project (GTAP). Results show that the liberalization of European tariff barriers regarding
bioethanol importations has a positive impact on Brazil economy, namely, at the level of the GDP growth rate, exchange
value and on the ethanol sector from sugar cane.
Keywords: General equilibrium, Biofuels, Ethanol, Trade barriers.
INTRODUÇÃO
As variações do preço do petróleo, o impacto dos
derivados de petróleo no meio ambiente, as metas
para redução de emissões de CO2 e a possibili‑
dade de geração de rendimento e de empregos são
fatores que levam a considerar que os biocombus‑
tíveis são uma alternativa viável aos combustíveis
fosseis (Paulillo et al., 2007; Mazzuchetti, 2014).
Neste cenário, o Brasil surge como protagonista no
mercado internacional de biocombustíveis, prin‑
cipalmente no etanol, em que é um dos maiores
produtores mundiais (27,5 bilhões de litros) e
o maior exportador. Para além disso, o etanol
brasileiro, quer devido às principais fontes de
matéria‑prima que utiliza, quer devido à tecno‑
logia empregue, representa uma opção sustentável
para a produção de biocombustíveis no mundo
(Rissardi Júnior, 2015).
É claro o interesse do governo brasileiro na
produção e comercialização de biocombustíveis à
escala global, bem como em intensificar as negocia‑
ções com a União Europeia (UE), dada a sua grande
importância comercial para o Brasil (Paulillo et al.,
Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(2): 483-492 483
2007). No entanto, a efetivação do potencial expor‑
tador do Brasil depende de outras variáveis além
da capacidade produtiva, dentre as quais estão
as práticas tarifárias, as barreiras não tarifárias
e a exigência das denominadas “cláusulas socio
ambientais” impostas por países importadores,
nomeadamente, a UE.
biocombustíveis e sobre os efeitos económicos da
produção de biocombustíveis. A quarta secção do
artigo é dedicada à metodologia e a quinta à imple‑
mentação empírica do modelo GTAP. As últimas
duas secções referem‑se à apresentação e discussão
dos resultados e principais conclusões.
A utilização de biocombustíveis pela UE está rela‑
cionada com a estratégia de redução dos gases do
efeito estufa (GEE), derivada dos compromissos
do Protocolo de Quioto (1997), em que se pretende
intensificar o uso de biocombustíveis renováveis
no mercado europeu em substituição aos combus‑
tíveis derivados do petróleo (Malhão, 2009).
Assim, a UE decidiu que até 2020 vai introduzir na
gasolina e no gasóleo 10% de combustíveis reno‑
váveis, ou seja, de biocombustíveis. O Brasil pode
ter um papel importante neste processo, uma vez
que domina a tecnologia para produzir tanto o
biodiesel como o etanol (Rissardi Júnior, 2015).
Perspetivas na produção e consumo
de biocombustíveis
No entanto, para que o Brasil possa beneficiar
do interesse da UE pelos biocombustíveis neces‑
sita de enfrentar limitações importantes, como as
barreiras tarifárias e não tarifárias contra a impor‑
tação de biocombustíveis brasileiros, sobretudo de
etanol. A liberalização do mercado e a consequente
redução das barreiras comerciais da UE deverão
permitir ao Brasil consolidar a sua posição no
comércio internacional de biocombustível, nomea‑
damente de etanol, e ter um contributo positivo no
crescimento do PIB e no bem‑estar.
Deste modo, este artigo tem como objetivo deter‑
minar os efeitos económicos no Brasil da elimi‑
nação das barreiras tarifárias da UE à importação
de etanol. Procura‑se avaliar os efeitos da elimi‑
nação dessas tarifas na economia brasileira em
termos dos preços domésticos da produção, dos
preços dos fatores primários, das quantidades
produzidas, dos fluxos internacionais e de alguns
indicadores macroeconómicos, como o PIB e o
bem‑estar. Para o efeito, utiliza‑se o modelo de
equilíbrio geral computável (EGC) Global Trade
Analysis Project (GTAP).
Além desta introdução, o artigo encontra‑se orga‑
nizado em mais seis secções. Nas próximas duas
secções tecem‑se algumas considerações sobre
as perspetivas da produção e do consumo de
484 Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(2): 483-492
A produção mundial de biocombustíveis continua
a crescer rapidamente e prevê‑se que a produção
mundial do etanol em 2022 aumente em quase 70%
em relação à média de 2010 ‑2012. Espera‑se que
os Estados Unidos, Brasil e UE continuem a ser
os três principais produtores (OECD/FAO, 2011).
A produção e o uso de biocombustíveis nos Estados
Unidos e na UE dependem dos incentivos políticos
existentes. O aumento da utilização de etanol no
Brasil está relacionado com o desenvolvimento na
indústria do automóvel com combustível flexível e
com as importações dos Estados Unidos.
Segundo a FAO (2010) e Barros e Adami (2011), o
Brasil deverá registar o maior crescimento mundial
no setor agrícola, representando uma expansão
superior a 40% até 2020. O excedente das expor‑
tações tenderá a aumentar também nos próximos
anos, o que levará a um reforço da participação do
Brasil no comércio agrícola internacional e também
dos biocombustíveis. A UE continua sendo o
grande comprador dos produtos do agronegócio
brasileiro, em 2010 foi responsável por mais de 25%
dos embarques de produtos do País.
No entanto, no comércio internacional não basta
haver um excedente exportável que possa ser
transportado a custo economicamente viável, é
necessário ter também em conta o caráter discri‑
minatório das políticas comerciais de produtos
agrícolas. Mesmo que a intervenção do governo
brasileiro promova a produção doméstica de
biocombustíveis, as restrições tarifárias e não tari‑
fárias à importação dos países compradores difi‑
cultam o comércio exterior (Sybille e Zilla, 2012).
Um exemplo é a imposição de barreiras tarifá‑
rias à entrada do etanol brasileiro nos EUA e na
UE (Herrmann, 2007). Os Estados Unidos impõem
a tarifa de US$ 0,54 por galão (3,78 litros) de etanol
importado do Brasil. Da mesma forma, a UE taxa o
etanol produzido no Brasil em 0,19 euro por litro.
Estes valores elevam o custo do etanol brasileiro,
cujo custo de produção no Brasil é estimado em
US$ 0,26 por litro (OECD/FAO, 2011).
As tarifas à importação de etanol do Brasil inter‑
ferem na procura e no preço do mercado interno
brasileiro, uma vez que uma eventual oferta exces‑
siva conduz à redução de preço.
De acordo com a OECD/FAO (2011) o biocombus‑
tível produzido internamente na UE é insuficiente
para satisfazer a procura, o que a torna importa‑
dora de etanol e biodiesel. Entre 2008 e 2010, as
importações abasteciam quase 15% do consumo de
biodiesel e mais de 20% de etanol na UE.
Efeitos económicos da produção
de biocombustíveis
As análises económicas de políticas climáticas,
energia e biocombustíveis baseiam‑se frequente‑
mente em modelos de EGC. Esta categoria de modelos
possibilita a análise dos impactos de políticas
inclusive na área da energia e dos biocombustíveis.
O recente aumento das pesquisas que pretendem
avaliar os efeitos das alterações climáticas e da
produção e utilização de biocombustíveis, tem moti‑
vado a construção de bases de dados e modelos rela‑
cionados com as emissões de gases de efeito estufa,
uso da terra e produção de biocombustíveis, que
podem ser usados com modelos de EGC. (Oliveira
e Ferreira‑Filho, 2008; Rissardi Júnior, 2015).
Alguns trabalhos analisam os impactos do mercado
dos biocombustíveis, do etanol e do biodiesel, na
economia europeia, americana e brasileira (Sims,
2003; Gohin e Moschini, 2007; Banse et al., 2008;
Birur et al., 2008; Gurgel, 2011).
Sims (2003) destacou a necessidade de analisar
as questões económicas, ambientais e sociais
no planeamento de um projeto de bioenergia.
De acordo com este autor, os projetos de bioenergia
para serem bem‑sucedidos no longo prazo, devem
incluir na sua avaliação a comparação com as
alternativas de combustíveis fósseis e incorporar
os respetivos benefícios ambientais, económicos e
sociais, sendo que os modelos de EGC são particu‑
larmente úteis.
Gohin e Moschini (2007) avaliaram os impactos
da política de biocombustíveis na agricultura
europeia utilizando um modelo de EGC. Os seus
resultados sugerem que a maior parte da procura
de biodiesel será satisfeita pelas importações,
enquanto no caso do etanol a principal fonte de
abastecimento deverá ser a produção doméstica.
Banse et al. (2008) avaliaram os impactos das políticas
de biocombustíveis da UE no mercado agrícola e de
alimentos. O estudo analisou as implicações globais
e setoriais das diretivas da UE para biocombustí‑
veis utilizando um EGC. Os resultados mostraram
que as metas da Diretiva Biocombustíveis UE não
seriam atingidas em 2010 sem a obrigatoriedade de
misturar biocombustíveis nos combustíveis fósseis
ou sem estimular o uso de culturas energéticas para
a produção de biocombustíveis através de subsí‑
dios. Esta análise mostrou também que o aumento
da produção de culturas energéticas para produzir
biocombustíveis na UE, tem um forte impacto
na agricultura em termos mundiais. Portanto, os
incentivos para aumentar produção na UE levarão
a um aumento dos preços da terra e dos rendi‑
mentos agrícolas na UE e noutras regiões do Mundo.
Birur et al. (2008) analisaram através de um modelo
EGC o impacto da produção de biocombustíveis
nos mercados agrícolas e no uso da terra. Estes
autores utilizaram zonas agroecológicas (AEZS)
de uso da terra para cada um dos setores. Os seus
resultados revelaram um aumento da produção de
biocombustíveis à custa da substituição de área
cultivada com outras culturas agrícolas. Nos cená‑
rios simulados, verificou‑se uma tendência para
o aumento da procura de grãos nas três maiores
regiões produtoras (Estados Unidos, UE e Brasil).
Gurgel (2011) estimou os impactos do crescimento
da procura de etanol na produção agrícola e no uso
da terra no Brasil e nos Estados Unidos. Aumentos
na procura de etanol no Brasil e nos Estados Unidos
foram simulados de forma a refletir a política norte‑
‑americana e as projeções da procura brasileira
para a próxima década. Os resultados sugerem
que o Brasil deve especializar‑se na produção de
cana‑de‑açúcar e etanol em detrimento de outros
produtos agropecuários.
Diverio et al., Efeitos da liberalização das tarifas de importação de etanol 485
De um modo geral, um aumento da procura
de biocombustíveis terá um impacto forte na
produção e no comércio de produtos agrícolas, que
por conseguinte influencia a afetação dos recursos
naturais e os preços agrícolas.
METODOLOGIA
Neste estudo utilizou‑se uma abordagem baseada
no modelo de EGC, nomeadamente no GTAP (Global
Trade Analysis Project). Os modelos de EGC têm
sido a principal ferramenta de análise empírica de
políticas comerciais, setoriais e macroeconómicas,
que envolvem várias regiões e setores produtivos.
O GTAP é um modelo padrão multi regional de
equilíbrio geral que estuda os fluxos de comércio
internacional. A sua descrição detalhada e formu‑
lação pode ser consultada em Hertel (1997). Este
modelo compreende uma base de dados global e
um modelo económico para desenvolver simu‑
lações, que utiliza retornos constantes à escala e
o pressuposto da concorrência perfeita nas ativi‑
dades de produção e consumo (Feijó e Alvim, 2008).
No GTAP o funcionamento da economia global
pode ser explicado através da análise de uma
região arbitrária e das suas relações com as outras
regiões, considerando a imposição de condições de
equilíbrio entre os agentes globais. Este modelo é
inspirado na experiência bem‑sucedida do projeto
australiano Impact e está em contínuo desenvol‑
vimento, nomeadamente, na Universidade de
Purdue (Burniaux e Truong, 2002; McDougall e
Golub, 2007; Birur et al., 2008).
Neste estudo foi utilizada a versão 7 da base de
dados do GTAP, que contempla 112 regiões/países,
57 setores de atividade e cinco fatores de produção,
que podem ser agregados conforme o interesse
do investigador. A base de dados contém também
as tabelas de insumo ‑produto para caracterizar
as ligações entre os setores numa dada região.
Na versão 7, o modelo GTAP retrata as relações
da economia mundial em 2004. Trata‑se da versão
mais recente do modelo a que os autores puderam
aceder. No entanto, não é de mais referir que muitas
das relações que se estabelecem nos modelos de
EGC são relações técnicas do tipo input‑output que
se mantêm fixas durante muito tempo.
486 Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(2): 483-492
O GTAP 7 é executado com o software GEMPACK,
desenvolvido por Codsi e Pearson (1988). Nesta
versão do GTAP as funções de produção são estabe‑
lecidas numa estrutura de “ninho” com três níveis
de especificação (Hertel, 1997; Azevedo e Feijó, 2010).
No nível superior a substituibilidade entre os
fatores primários de produção e os consumos
intermédios é nula (tecnologia de Leontief). Neste
nível, o mix ótimo de fatores primários é indepen‑
dente dos preços dos consumos intermédios e o
mix ótimo de consumos intermédios não varia com
o preço dos fatores primários.
O segundo nível de especificação da função de
produção envolve uma elasticidade de substituição
constante (CES), tanto ao nível dos consumos
intermédios como entre os fatores primários de
produção. Os consumos intermédios importados
são diferenciados por origem e os consumos
domésticos são discriminados em relação aos
importados. No entanto, de acordo com hipóteses
de Armington, as firmas primeiro determinam o
mix ótimo de consumos intermédios domésticos e
importados e só depois é que decidem a respeito
da origem das importações. Portanto, de acordo
com esta hipótese um bem produzido numa dada
região é um substituto imperfeito para bens simi‑
lares da mesma indústria produzidos noutras
regiões. Desta forma, a mesma commodity pode ser
comercializada a preços diferentes em função da
região em que foi produzida.
O nível inferior do “ninho” também assume elasti‑
cidade de substituição constante entre os consumos
intermédios importados de diferentes regiões.
Neste modelo, em cada região existem (i) indús‑
trias utilizando (j) fatores primários e (t) consumos
intermédios, que podem ser produzidos localmente
ou importados. Cada mercadoria i importada tem
um preço internacional (pwmi) sobre o qual incide
uma tarifa alfandegária (ti). De modo que o preço
internalizado desta mercadoria importada (pmi) é
dado por: pm = pwm + t. Portanto, uma variação da
tarifa alfandegária provoca uma alteração inicial
dos preços internalizados das mercadorias impor‑
tadas, que afeta a procura dos agentes de cada
economia que são sensíveis a alterações nos preços
relativos (Feijó e Steffens, 2013; Oliveira et al., 2008).
As inter‑relações que se estabelecem no modelo
entre os agentes económicos internos e externos,
fazem com que os efeitos das alterações iniciais na
procura se espalhem por todo o sistema económico,
nomeadamente, ao nível dos preços dos produtos e
fatores, das quantidades produzidas, das importa‑
ções e das exportações, do PIB e do bem‑estar.
Na aplicação da abordagem de EGC há três aspetos
que são determinantes e que se prendem com
a agregação dos dados do modelo GTAP, com as
condições de fecho do modelo e com as alterações
das condições da situação de base.
A agregação dos dados visa simplificar a interpre‑
tação dos resultados. Neste caso foi utilizado o software GTAPAgg, que permite realizar a agregação
para setores, parâmetros e regiões. A escolha das
regiões e dos setores a considerar é estabelecida de
acordo com o interesse do investigador. Neste caso,
procurou‑se considerar no processo de agregação
os países que estão mais envolvidos no comércio de
biocombustíveis e as atividades que estão vincu‑
ladas de forma direta ou indireta na sua produção.
Portanto, os 112 países e os 87 setores originais
da base de dados do GTAP 7 foram agregados em
12 regiões (Quadro 1) e em 18 setores (Quadro 2).
Quadro 1 - Agregação regional utilizada
Sigla
Região
1. EUA
Estados Unidos
2. CAN
Canada
3. UE‑28
União Europeia 28
4. BRASIL
Brasil
5. CHINA
China e Hong Kong
6. INDIA
Índia
7. Alex
América Latina (exportadores de energia)
8. URSS_LEex
Rússia e Leste Europeu
(exportadores de energia)
9. OM_NAex
Oriente Médio e Norte da África
(Exportadores de energia)
10. ASSex
África Subsaariana
(exportadores de energia)
11. SULAex
Sul da Ásia (exportadores de energia)
12. ROW
Resto do Mundo (Japão, Resto da América
latina + Caribe, Resto da Europa, Resto da
Africa, Resto da Asia e Oceania)
Fonte: Base de dados GTAP 7.
Quadro 2 - Agregação setorial utilizada
Sigla
Sigla
1. Arroz
Descrição
do setor
Arroz
2. Trigo
Trigo
11. Ou_Set_Prim
3. Pec
4. Florest
Pecuária
Floresta
(silvicultura)
Ethanol1
(milho)
Ethanol2
(cana de
açúcar)
Biodiesel
12. Carvão
13. Gas
Descrição
do setor
Outros
produtos
agrícolas
Outros setores
primários
(pesca e
mineração)
Carvão
Gás natural
14. Petr_Bru
Petróleo bruto
15. Petr_Ref
Petróleo
refinado
16. Ind_Int_En
Indústria inten‑
siva em energia
Eletricidade
5. Eth1
6. Eth2
7. Biod
8. Ou_Ali
Outros
Alimentos
9. Prod_Proc Produtos
animais
processados
10. Ou_Agri
17. Eletr
18. Ou_Ind_Sv
Outras indús‑
trias, serviços
e eletricidade
Fonte: Base de dados GTAP 7.
Os fatores primários de produção do modelo
original do GTAP 7 compreendem capital, trabalho
qualificado e não ‑qualificado, que são móveis
entre os setores, e terra e recursos naturais que
são fatores imóveis. O grau de mobilidade dos
fatores é ditado pela elasticidade de transformação
constante. Neste caso, considerou‑se o trabalho
qualificado e não qualificado com um único fator
primário.
O fecho do modelo descreve os impactos que serão
implementados e o ambiente macroeconômico em
que ocorrerão. Para que se chegue a uma solução é
necessário que o número de equações do modelo
seja igual ao número de variáveis endógenas.
Como o número de variáveis geralmente é superior
ao número de equações, devem ser selecionadas
algumas variáveis para serem exógenas ao modelo,
que determinam as suas condições fixas.
Neste caso, em que se pretende simular efeitos de
uma descida das tarifas de importação da UE ao
etanol do Brasil, é necessário determinar o efeito
da atual tarifa de importação em cada setor da
economia i, para cada região de origem r e de
destino s e o efeito se a tarifa passar a ser zero.
A determinação dessas tarifas tem em conta a
Diverio et al., Efeitos da liberalização das tarifas de importação de etanol 487
diferença percentual entre os preços do produto i
no mercado doméstico e no mercado internacional
(TMSL) e o nível de proteção ou efeito desejado da
tarifa (TMSH):
exportações e importações de etanol, decorrente
do cenário de liberalização das tarifas da UE de
importação para os maiores produtores mundiais,
a União Europeia a 28, o Brasil e os Estados Unidos.
(1)
Estes resultados sugerem que o preço doméstico no
setor do etanol de cana‑de‑açúcar (Eth2) no Brasil
sofrerá um acréscimo de 0,23%. Este aumento do
preço é superior ao que se verifica para o etanol de
milho (Eth1), sendo estas variações de preço idên‑
ticas às que se preveem para os Estados Unidos.
(2)
onde: VIMSi,r,s é o valor das importações do setor
i, da região r para a região s, a preços domésticos;
VIWS’i,r,s é o valor das respetivas importações a
preços mundiais; TMSHi,r,s é o efeito desejado da
tarifa de importação para o setor i, da região r para
a região s; e DESLIB é o coeficiente que determina
o nível de liberalização desejado, que para uma
liberalização total assume o valor 1.
Para rodar o modelo foi gerada uma rotina de
programação do GTAP, que contém o ficheiro dos
dados que simulam a liberalização das tarifas de
importação da UE do etanol.
RESULTADOS
Nesta seção são apresentados e discutidos os princi‑
pais resultados relativos aos efeitos económicos no
Brasil da liberalização das tarifas da UE de impor‑
tação de etanol. Os resultados são apresentados em
termos dos efeitos nos preços dos produtos e dos
fatores, na produção, nos fluxos de comércio inter‑
nacional e nalguns indicadores macroeconómicos,
como o PIB e o bem‑estar.
No Quadro 3 apresenta‑se a variação percen‑
tual dos preços domésticos, da produção e das
Este ligeiro aumento do preço do etanol no Brasil
reflete o aumento da procura e eventualmente
lucros mais elevados para os empresários, bem
como uma melhor remuneração dos fatores de
produção que poderão ter também um efeito posi‑
tivo na atração de capitais para o setor no Brasil.
Do lado da UE é de prever uma descida significa‑
tiva no preço doméstico no setor do etanol Eth2,
que é estimada em 25,25%. Esta descida é explicada
pelo aumento da disponibilidade deste tipo de
etanol no mercado europeu devido à liberalização
das importações e ao fato dos preços de impor‑
tação passarem a ser significativamente inferiores
aos que estavam em vigor na UE.
É de esperar que a produção de etanol Eth2 no Brasil
aumente em quase 5%, enquanto a produção de
etanol Eth1 deverá recuar marginalmente (0,17%).
No entanto, este aumento da produção de etanol
tem repercussões muito limitadas na produção
dos outros sectores da economia brasileira e está
focalizado sobretudo no sector do etanol Eth2 e na
produção de cana‑de‑açúcar. Portanto, o seu efeito
é muito limitado noutros setores do agronegócio,
com os quais o etanol compete diretamente na
procura de fatores, como é o caso do arroz, trigo
e pecuária.
Quadro 3 - Variação percentual dos preços domésticos, da produção e dos fluxos internacionais de etanol de milho (Eth1) e de
cana de açucar (Eth2)
Preços
União Europeia a 28
Produção
Exportações
Importações
Eth1
Eth2
Eth1
Eth2
Eth1
Eth2
Eth1
Eth2
0.15
‑25.25
0.00
‑1.40
0.02
‑6.43
0.00
12.49
Brasil
0.16
0.23
‑0.17
4.92
‑0.37
29.04
0.16
1.77
Estados Unidos
0.15
0.22
0.01
‑0.01
0.02
‑0.74
0.00
‑0.08
Fonte: Resultados da simulação com o modelo GTAP 7.
488 Revista de Ciências Agrárias, 2017, 40(2): 483-492
A liberalização das tarifas da UE de importação
de etanol do Brasil não tem qualquer efeito signi‑
ficativo na produção dos Estados Unidos. Já ao
nível da UE é de prever uma redução na produção
de Eth2 de 1,4% decorrente da substituição pelas
importações mais competitivas do Brasil.
No que se refere aos fluxos de comércio interna‑
cional, a liberalização das tarifas da UE de impor‑
tação de etanol vão permitir ao Brasil aumentar as
suas exportações de etanol ETh2 em 29,04%, sendo
de prever uma ligeira diminuição nas exportações
de etanol Eth1 (0,37%). No entanto, este aumento
das exportações de etanol terá reflexos nega‑
tivos nas exportações dos restantes sectores da
economia brasileira com destaque para os setores
do gás natural (2,27%), do arroz (1,62%) e do trigo
(1,04%).
Segundo Rissardi‑Júnior (2015), o Brasil tem
consolidado nos últimos anos sua participação
no comércio internacional de etanol, sendo atual‑
mente um dos principais exportadores mundiais.
Portanto, uma diminuição ou liberalização total
das tarifas de importação da UE permitiria reforçar
ainda mais, a participação do Brasil no comércio
internacional de etanol.
O aumento das exportações brasileiras de etanol
é acompanhado pela diminuição das exportações
nas restantes regiões do Mundo. Esta diminuição
é 6,43% na UE e 0,74% nos Estados Unidos, mas
também de acordo com os resultados das simula‑
ções atinge valores significativos noutras partes
do Mundo, nomeadamente na região da África
Subsaariana (5,89%), na região do Médio Oriente
e Norte de África (3,76%) e na região da Rússia e
Leste Europeu (2,42%).
Em relação às importações de etanol Eth2
verifica‑se um aumento de 12,49% na UE em
virtude do aumento das exportações brasileiras.
O Brasil também deverá registar um aumento das
importações de etanol Eth2 de 1,77% e de etanol
Eth1 de 0,16%, decorrente do aumento das expor‑
tações e da procura interna. Nos Estados Unidos
as importações deverão cair muito marginalmente
(‑0,08), como nas restantes regiões do Mundo.
O aumento da procura e dos preços domés‑
ticos decorrentes da liberalização das tarifas da
UE de importação de etanol tem repercussões na
procura e por conseguinte nos preços dos fatores
de produção primários. Os resultados do Quadro 4
mostram uma subida do preço em todos os fatores
de produção primários no Brasil, com destaque
para os recursos naturais (6,47%) e para a terra
(3,15%). Portanto, apesar de se esperar um aumento
dos preços domésticos no setor do etanol, é neces‑
sário ter em conta também um aumento dos custos
de produção, em virtude do aumento do preço dos
fatores primários.
Ao nível da UE, é de esperar uma ligeira descida
nos preços do fatores primários de produção, que
é também mais significativa nos recursos naturais
(1,76) e na terra (0,8%).
Quadro 4 - Variação percentual do preço dos fatores de
produção primários
Terra
Brasil
União Europeia a 28
3.15
‑0.80
Trabalho Capital
0.14
‑0.004
0.18
‑0.004
Recursos
Naturais
6.47
‑1.760
Fonte: Resultados da simulação com o modelo GTAP 7.
Globalmente a liberalização das tarifas de impor‑
tação de etanol na EU tem efeitos positivos na
economia do Brasil, nomeadamente em termos
do crescimento do PIB, dos termos de troca e dos
fluxos de comércio internacional (Quadro 5).
Quadro 5 - Variação Percentual do PIB, Termos de Troca e
Exportações e Importações
PIB
Termos
de troca
Expor‑
tações
Impor‑
tações
União Europeia a 28
‑0.01
0.00
0.01
0.01
Brasil
0.15
0.13
‑0.06
0.26
Fonte: Resultados da simulação com o modelo GTAP 7.
Ao nível do PIB é de esperar um crescimento
no Brasil de 0,15%, que reflete um aumento do
bem‑estar agregado de 113,76 bilhões de dólares.
Nos fluxos de comércio internacional, verifica‑se
que, apesar do aumento significativo das exporta‑
ções de etanol, as exportações brasileiras diminuem
marginalmente (0,06%) e as importações crescem
à taxa de 0,26%, o que traduz aumento do défice
Diverio et al., Efeitos da liberalização das tarifas de importação de etanol 489
da balança comercial de 140 biliões de dólares.
No entanto, os termos de troca apresentam uma
variação positiva de 0,13%, sugerindo um aumento
do valor dos produtos brasileiros relativamente às
restantes regiões do Mundo.
Na UE bem como nos restantes países do Mundo,
os efeitos macroeconómicos da liberalização das
tarifas da UE de importação de etanol do Brasil
praticamente não se fazem sentir.
CONCLUSÃO
Os resultados permitem concluir que a liberali‑
zação das tarifas da União Europeia de importação
de etanol do Brasil tem um impacto positivo na
economia do País, uma vez que se prevê um aumento
de 0,15% no PIB e de 0,13 nos termos de troca.
Ao nível do setor brasileiro do etanol, o aumento
das exportações para a União Europeia decorrente
da liberalização das tarifas, induz a um aumento
significativo da produção, que no caso do etanol
de cana‑de‑açúcar poderá chegar aos 5%. Este
aumento da produção repercute‑se de forma limi‑
tada na subida do preço do etanol, mas de forma
mais ou menos significativa nos fatores primários
de produção, com destaque para os recursos natu‑
rais e para a terra.
Do lado da União Europeia a liberalização das
tarifas de importação do etanol do Brasil pratica‑
mente não tem impacto em termos macroeconó‑
micos. No entanto, do ponto vista microeconómico
e meso ‑económico, o aumento das importações
de etanol na União Europeia induzirá, não só a
redução dos preços domésticos desta mercadoria,
como também a redução da sua produção.
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Diverio et al., Efeitos da liberalização das tarifas de importação de etanol 491
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