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NOÇÕES DE DIREITO

Aula 1- 17.02.2015

I. O DIREITO

O Homem vive em sociedade e não se concebe que possa viver isolado. Só vivendo
em sociedade é que o Homem pode conservar a espécie humana, assegurar a sua
subsistência, satisfazer as suas necessidades.

Contudo, a convivência em sociedade só é possível se existir um conjunto de princípios


ou regras que pautem as condutas humanas, que visam instituir a ordem, a paz, a
segurança, a justiça e diminuir os conflitos de interesses que surgem nas relações
sociais.

Assim, existem várias ordens normativas que regulam a vida do homem em sociedade,
das quais se destacam pela sua importância: ordem moral, ordem religiosa, ordem
de trato social e ordem jurídica.

Todas estas ordens normativas exprimem regras que regulam o comportamento do


Homem em sociedade.

1. Ordem Moral

A ordem moral é uma ordem de conduta humana dirigida para o bem.

As regras morais são impostas ao Homem pela sua própria consciência, de tal modo
que o seu incumprimento é sancionado pela reprovação emanada da sua própria
consciência.

Por exemplo: o remorso, o arrependimento.

As regras de ordem moral distinguem-se das regras de direito, através do critério da


coercibilidade, as normas jurídicas são susceptíveis de aplicação coerciva, enquanto as
morais não.

Há normas morais que são coincidentes com o direito "Não matar, não furtar".

Também existem, entre a Moral e o Direito, situações de indiferença (regras de trânsito,


sociedades comerciais) e de conflito (despenalização do aborto em determinadas
situações).

1
2. Ordem Religiosa

A ordem religiosa tem a função de regular as condutas humanas em relação a Deus.


As suas normas têm proveniência divina.

O não cumprimento das normas de ordem religiosa leva a punições extraterrenas. Por
exemplo: punições ou castigos depois da morte.

O Direito apenas se limita a garantir o livre exercício da actividade religiosa, sem


assumir, o conteúdo das normas religiosas.

3. Ordem de Trato Social

As normas de trato social destinam-se a permitir a convivência mais agradável entre as


pessoas.

São normas de trato social por exemplo: as regras de etiqueta e boas maneiras, regras
de cortesia. Estas regras surgem espontaneamente no meio social.

As regras de trato social se não forem cumpridas não põem em causa a subsistência
da sociedade. Contudo todo aquele que não as cumprir está sujeito a reprovação social.

Para o Direito estas normas de trato social são indiferentes.

4. Ordem Jurídica

A ordem jurídica é constituída pelo conjunto de normas jurídicas que regulam a vida do
Homem em sociedade.

Estas normas provêm de uma autoridade com competência legislativa.

A ordem jurídica visa atingir os valores da justiça e segurança.

A ordem jurídica ao contrário das outras ordens normativas, serve-se da coacção como
meio de garantir e impor o cumprimento das normas jurídicas.

Portanto, estamos agora em condições de dizer, que apesar do Homem pautar a sua
conduta em conformidade com as várias ordens normativas, apenas a ordem jurídica
faz parte do Direito.

2
Aula 2- 19.02.2015

II. A ORDEM JURÍDICA COMO ORDEM NORMATIVA

1. Caracterização
a) Necessidade.

Pergunta que se coloca é, será ordem jurídica necessária? Jurisconsultos romanos


diziam ―ubi homo ibiocietas‖ significando que onde há sociedade há direito. Não é
defensável sobretudo nos dias de hoje a existência duma sociedade sem direito,
porque seria anárquica, à espécie da expressão ―no deserto sobrevive o mais forte‖.

A ordem jurídica (direito), aquela ordem normativa da sociedade dirigida à organização


dos aspectos fundamentais da convivência social é perfeitamente necessária porque
toda a sociedade implica uma organização tendo como norte principal a paz e a
convivência sociais.

Portanto, não se podendo conceber uma sociedade sem direito, é manifesta a sua
necessidade.

b) Imperatividade.

Em princípio todas as ordens normativas da sociedade são imperativas, havendo


diversidades quanto à existência ou não da sanção e da garantia da sua execução com
recurso à força pública.

A ordem jurídica exprime-se através de imperativos, de enunciados deônticos que


postulam um deve ser.

A Ordem Jurídica é, tal como outras ordens normativas, imperativa. A sua


imperatividade é própria, não dependendo doutra ordem normativa. Assim, o carácter
imperativo da ordem jurídica não se fundamenta num mandato de qualquer ordem
normativa, como seja, os imperativos da ordem religiosa, moral, ou de trato social. O
Direito vincula por si mesmo, impõe autonomamente.

A imperatividade da ordem jurídica é global, por ser uma característica genérica da


ordem jurídica, ainda que não esteja presente em toda a regra jurídica, exprime-se por
regras através das quais é realizada a organização da convivência e paz sociais a que
se destina o direito.

3
As regras jurídicas que se extraem dos preceitos legais (artigos) têm uma estrutura
própria: por serem constituídas por dois elementos fundamentais, designadamente:

 Previsão: a parte da regra onde está referida a situação jurídica, o elemento de


facto que serve de base à aplicação da regra, ou seja hipótese legal.
 Estatuição: a parte da regra que estabelece certo efeito jurídico para
representação na previsão, ou seja consequência legal.

c) A estatalidade ou estadualidade.

A estatalidade ou estadualidade do Direito tem sido apontada por certos autores em


dois sentidos:

1- No sentido de que o Estado e o Direito são uma mesma realidade; e

Não é este entendimento defensável. Desde logo porque o Estado e o Direito na sua
conceptualização têm sentidos diversos e porque o Estado não é detentor do
monopólio de criação de Direito. As autarquias e as diversas organizações sociais
produzem leis regulamentares, ou posturas.

2- No sentido de que o Direito, para ser, há de ter necessariamente origem Estadual.

Noção elementar do Estado. A mais vulgar definição seria considerar o Estado como
um povo politicamente organizado num dado território.

O professor Castro Mendes ensina que ―Estado é uma sociedade politicamente


organizada, fixa em determinado território que lhe é privativo e tendo como
características a soberania e a independência ‖1.

De qualquer das duas definições resultam três elementos fundamentais que


caracterizam o Estado:

 O elemento pessoal: povo, população;


 O elemento político: organização do poder político;
 O elemento territorial: o território.

1
Introdução ao Estudo do Direito, pág. 31.

4
Estes três elementos conexos com a definição do Estado, não podem dar lugar á
confusão com a definição do Direito considerando qualquer deles –Estado ou Direito –
uma e mesma realidade.

A tese da estadualidade do Direito no sentido da coincidência das noções de Estado e


de Direito, pretende que o Direito coincida com a organização do poder político na
sociedade, isto é, aquilo que é o poder político do Estado seria o Direito.

Não pode, de forma alguma, ser defensável tal definição do Direito convergindo com a
noção do Estado. Desde logo, porque modernamente, o estado está subordinado ao
Direito, ainda que por si criado. O direito não se confunde com o Estado, como ainda,
tem o papel fundamental de limitar e legitimar o poder do Estado. O professor
Baptista Machado, defende que: ―significa isto que há princípios de Direito que se
impõem ao próprio Estado e este não pode constituir uma ordem jurídica sem referir ao
princípio superior da justiça‖.2

Igualmente a tese de que todo o Direito provém do Estado, não pode ser defensável,
como transparecemos acima, isto é, é de refutar a pretensa estatalidade do Direito.

Pelo exposto, o Estado não tem monopólio de criação do Direito, ainda que se
manifeste o produtor mais significativo. O Direito é um fenómeno social que emerge de
comunidades infra-estatais, como a um nível supra-estatal.

As comunidades primitivas, dotadas de uma organização rudimentar, desprovidas de


uma autoridade central e de um sistema organizado detêm também a sua ordem
jurídica, ainda que a diferenciação desta perante as restantes ordens normativas, seja
menos evidente que na sociedade estatal.

Concluindo e concatenando, o Estado tem, certamente, uma função de elemento


aglutinador ou propulsor da normatividade jurídica nas sociedades modernas, que são
cada vez mais legiferentes, mas não se confunde com ele nem detém o monopólio da
edição da ordem jurídica.

d) A Coercibilidade

Há que questionar se a coercibilidade é característica necessária da ordem


jurídica?

Certos autores defendem que a coercibilidade deveria ser tomada sempre como um
elemento definidor do Direito, já que a subsistência de uma ordem jurídica passa
pela eficácia da sua imperatividade.

2
Introdução ao estudo do direito e discurso legitimador

5
Efectivamente, uma ordem jurídica desprovida de qualquer mecanismo de aplicação
sancionatório do Direito, poderia assistir impotente, à sua subversão generalizada,
aquilo que a própria ordem jurídica estabelece.

Sem coercibilidade o Direito seria letra morta.

A imperatividade do Direito, é sem dúvida, reforçada da imperatividade das regras


jurídicas que estabelecem dados comportamentos como devidos é realizado através de
sanções.

A sanção seria uma consequência indesejável dirigida pelo Direito a quem


infringe o disposto nas regras. As regras que prevêem a violação das condutas
juridicamente tuteladas, chamam-se regras sancionatórias.

Modalidades das Sanções

As sanções podem ser:

 Sanções compulsórias;
 Sanções reconstitutivas;
 Sanções compensatórias;
 Sanções preventivas;
 Sanções punitivas.

As sanções compulsórias, visam influenciar ou compelir o indivíduo no sentido de o


obrigar a adoptar o comportamento devido, o comportamento suposto como sendo o
correcto.

As sanções reconstitutivas, recaem, sobre quem provocou uma situação indesejável


por ter violado uma norma impondo a obrigação de reparação do dano, isto é,
obrigando á reposição da situação anterior á violação.

Sanções compensatórias, fazem recair sobre aquele que provocou uma situação a
reposição por outra valorativamente equivalente à situação anterior à violação, quando
a reconstituição não seja possível ou não equitativa.

Sanções preventivas, compreendem medidas restritivas de liberdade ou de direitos


com vista a evitar dano social que se teme que o agente possa dar causa.

Sanções punitivas, visam directamente a retribuição do Direito violado com uma


consequência desagradável para o infractor, castigando-se o violador da regra jurídica.

Esta sanção visa punir o infractor pelo seu comportamento. Vulgarmente se fala de
castigo.

6
2. Normas Jurídicas

Quando falamos das ordens normativas, verificamos que apenas a ordem jurídica era
composta por normas jurídicas.

A Norma Jurídica é uma regra de conduta imperativa, geral e abstracta, imposta de


forma coerciva pelo Estado.

2.1. Estrutura

A norma jurídica está estruturada de acordo com os seguintes elementos:

 A previsão da norma consiste na descrição da situação de facto que, a verificar-se


efectivamente, produz determinadas consequências jurídicas.
 A estatuição da norma estabelece as consequências jurídicas produzidas pela
verificação da situação descrita na previsão.

Ou seja, a previsão prevê a situação, a estatuição estatui a consequência jurídica da


verificação dessa situação.

Tome-se por exemplo o homicídio: "Quem matar outra pessoa é punido com pena de
prisão de 8 a 16 anos."

Previsão da norma "Quem matar outra pessoa...."

Estatuição da norma ".....é punido com pena de prisão de 8 a 16 anos".

Outro exemplo:

Art. 130º CC

Previsão("Aquele que perfizer 18 anos de idade..")

Estatuição ("....adquire plena capacidade de exercício de direito, ficando a reger a sua


pessoa e a dispor dos seus bens.")

2.2. Características das Normas Jurídicas

 Imperatividade: a norma jurídica impõe obrigatoriamente um certo comportamento.

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 Generalidade: diz-se que uma norma jurídica é uma regra de conduta geral, o geral
para se contrapor ao individual. Geral é a norma jurídica que se dirige a uma
pluralidade indeterminada de destinatários (pessoas).
 Abstracção: diz-se que uma norma jurídica é uma regra de conduta abstracta, o
abstracto para contrapor ao concreto. Abstracta é uma norma jurídica que se dirige
a um número indeterminado de casos e situações. Portanto uma norma jurídica não
pode ser individual e concreta.
 Coercibilidade: consiste na susceptibilidade de aplicação coactiva de sanções, se
a norma for violada.

2.3. Classificação das Normas Jurídicas

 Normas Imperativas ou Injuntivas: São normas que impõem condutas por acção
ou por omissão;
 Normas Perceptivas: São normas que impõem certas condutas por acção. Ex.: As
normas que obrigam a pagar impostos.
 Normas Proibitivas: são normas que proíbem determinadas condutas. Ex.: as
normas que punem o furto e o homicídio etc.
 Normas Permissivas ou Facultativas: São normas que permitem ou autorizam
certos comportamentos.
 Normas Interpretativas: São normas que se destinam a definir o sentido e o
alcance a certas condutas ou a certas expressões.
 Normas Supletivas: são as normas que podem ser afastadas pela vontade das
partes. Ex: regime casamento de comunhão de adquiridos.
 Normas Gerais: são normas que constituem um regime regra.
 Normas Especiais: são normas que sem contrariarem o regime regra, estão
contidas nas regras gerais, vêm adoptar estas normas a circunstâncias particulares.
Ex.: o direito civil é um direito privado comum (norma geral) o direito comercial
(especial)
 Normas Excepcionais: são normas que constituem uma oposição ao regime regra.
 Normas Universais: são aquelas que se aplicam em todo o território nacional
 Normas Regionais: são aquelas que se aplicam nas regiões autónomas.
 Normas Locais: são aquelas que se aplicam no território de uma autarquia local
(posturas e regulamentos locais).
 Normas Autónomas: normas que por si só têm um sentido completam.
 Normas não Autónomas ou Remissivas: normas, que por si só não têm um
sentido completo (falta-lhe toda a parte da previsão, toda a parte da estatuição).

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Aula 3- 24.02.2015

III. Conceito de Direito

Todos nós temos uma ideia vaga do que seja direito. Normalmente ligamos direito à
ideia da lei. Ligamos direito à conduta correcta. Temos estado a ouvir discursos que
apontam para estado do direito. Mas nenhum principiante do estudo do direito tem a
ideia certa do que seja com propriedade.

Examinemos dois tratadistas conceituados na matéria.

O professor CASTRO MENDES, define o direito como sendo ―sistema de conduta


social, assistido de protecção coactiva‖ 3 Desta definição há três elementos
fundamentais a reter, designadamente:

a) Sistema;
b) Norma; e
c) Protecção coactiva.

Ao falarmos do sistema é fundamental entender as normas jurídicas como um conjunto


complexo, harmónico, correlacionado, coerente e hierarquizado. A norma compreende
o que chamamos de preceito. Protecção coactiva significa que, o direito pode ser
imposto, com recurso à força pública, sempre que necessário.

Como se pode ver, o direito será constituído por regras de conduta social, por preceitos
que ordenam e regulam a convivência dos Homens em sociedade mediante imposição
de acções e omissões, com vista à prossecução da paz, da justiça e do bem comum.

Ensina o professor ―GALVÃO TELLES,‖4o direito como ―conjunto de regras jurídicas


de conduta social, estabelecidas em vista da paz, da justiça e do bem comum e
impostas pela força, quando necessário e possível.‖

Aos estudantes se recomenda optarem por quaisquer definições dos diversos


tratadistas da matéria, desde que saibam fundamentar as posições que tomarem.

Contudo, perfilhamos no final que o Direito é uma ordem normativa composta


por normas jurídicas gerais e abstractas, obrigatórias assistidas de protecção
coactiva, que regulam a vida do Homem.

Direito como ordem jurídica é um conjunto de regras que se inspiram nos valores da
sociedade com vista a que haja justiça e segurança social.
3
Introdução ao Estudo do Direito, página 40
4
Introdução ao Estudo do Direito, vol. I pág. 24
5
Castro Medes, pág. 4

9
Distingue-se das outras ordens tais como: ordem moral, ordem religiosa e ordem do
trato social, pelas suas características nomeadamente:

 A Imperatividade, que é a obrigatoriedade do cumprimento da norma jurídica;


 A estatalidade ou estadualidade, a norma é estabelecida pelo Estado através do
órgão com poderes para tal; e
 A coercibilidade, que é a susceptibilidade de aplicação da norma pela força.

1. Sentidos do Direito

Pese embora o Direito ser visto como um conjunto de normas ou sistema de conduta
social assistidas de protecção coactiva, ele ainda comporta outros sentidos que abaixo
passamos a abordar.

1.1. Sentido Epistemológico ou Científico que será o estudo das melhores formas
de conseguir tecnicamente a atribuição a cada um o que é seu.

1.2. Direito Natural e Direito Positivo

a) Direito Positivo

O Direito Positivo é constituído pelas leis, que têm em vista a harmonia e convivência
social, com existência efectiva e que se formam na sociedade em vista da organização
desta, por isso, tendo a autoridade pública a prorrogativa de impô-lo à força se
necessário.

Ele provém da vontade mais ou menos arbitraria dos homens que normalmente
procuram cria-lo tão perfeito quando possível, mas que pela fraqueza e contingências
das suas forças fazem quase obra precária, senão imperfeito.

Deste modo, o conjunto de normas jurídicas vigentes no nosso país, plasmadas no


Código Civil, Penal, Comercial, Código de Processo Civil, Código de Estrada, dentre
outros códigos, bem como toda a legislação avulsa vigente em Moçambique no nosso
caso concreto, forma o direito positivo. Por outras palavras, o direito positivo, é o direito
elaborado pelo Homem, é obra humana, com respeito o mecanismo de legislação que
é exclusivo do Estado, quando não seja o costume.

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b) Direito Natural

Contrariamente, o Direito Natural, são certas normas de conduta que por serem
inerentes à própria natureza do homem, são anteriores e superiores ao Estado é uma
designação próxima da de ―Direitos do Homem‖.

Portanto, ele não é obra humana. As leis naturais apesar de não constarem de
qualquer código são o reflexo imediato da justiça.

―Cícero, por exemplo, interrogava: poderá considerar-se legítima uma lei contrária à
natureza, como a que declara permitindo o homicídio, ó porque ela promana dum tirano
ou duma multidão irresponsável?‖5

1.3. Direito Objectivo e Direito Subjectivo

a) Direito Objectivo

É o direito legislado, ou seja, o conjunto de normas jurídicas gerais, abstractas e


hipotéticas, emanadas pelo Estado e dotadas de protecção coactiva que regulam as
condutas dos Homens.

O direito objectivo é o Direito. O direito objectivo é assim constituído por leis, que são
exteriores à vontade particularística dos indivíduos. É uma pluralidade de preceitos
genéricos e abstractos que orientam os particulares, resolvendo inclusivamente os
seus conflitos de interesses. O direito objectivo está acima dos indivíduos, é a norma
de agir.

1.4. Direito Subjectivo

Consiste no poder ou faculdade atribuído pelo direito, isto é, atribuído ao titular de um


Direito Objectivo a uma pessoa de livremente exigir de outrem um comportamento
positivo (acção) ou negativo (omissão). Por outras palavras, consiste no poder jurídico
atribuído pela ordem jurídica a uma pessoa, de livremente exigir ou pretender de outro,
em um comportamento positivo (acção) ou um acto de uma autoridade pública,
produzir determinados efeitos jurídicos que incontestavelmente se impõem a outra
pessoa – contraparte ou adversário. Só se nos depara um Direito Subjectivo quando o
exercício do poder jurídico respectivo está dependente da vontade do seu titular.

5
Castro Medes, pág. 4

11
Exemplo:

O art. 1305º CC (conteúdo de direito de propriedade) "O proprietário goza de modo


pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe
pertencem.....". Esta norma jurídica constitui o direito objectivo e esta norma concede
ao proprietário os direitos de poder usar, fruir e dispor das coisas que lhe pertencem,
são os direitos subjectivos.

Concluindo:

 Se o direito objectivo é a norma de agir, o direito subjectivo é a faculdade de agir.


Ex: O direito de arrendamento é um direito de agir, é um direito-faculdade.
 Quando se fala do Direito que rege os Homens, Estado de Direito, Direito
Internacional, tem a ver com Direito objectivo, contrariamente, quando se diz eu
tenho direito de fazer isto, refere-se ao direito subjectivo.
 A relação que existe entre direito objectivo e direito subjectivo afere-se pelo facto de
o direito subjectivo só existir na medida como o direito objectivo o prevê.
 Os ingleses na distinção entre estes dois sentidos de direito são mais fáceis, pois
para eles, Direito objectivo ou positivo, designam-no por law e direito subjectivo
designam-no por right.

IV. RAMOS DO DIREITO

A ordem jurídica é una, mas o seu estudo impõe a demarcação de sectores. A esses
sectores se chamam tradicionalmente aos Ramos de Direito, então, entendemos ser
ramo do Direito um certo sector normativo do Direito.

Apesar de o Direito ser uno e indivisível, tornar-se necessário proceder-se à sua


divisão de modo a que ele possa regulamentar de modo especifico relações sócias
especificas.

O conteúdo de cada ramo deve ser estruturado por intermédio de princípios gerais
próprios desse ramo. Isto permite um aprofundamento coordenado das matérias nele
abrangidas.

A primeira e mais tradicional divisão do Direito é a que distingue entre DIREITO


PÚBLICO e DIREITO PRIVADO.

Esta distinção tem sido polémica ao longo dos tempos, sendo vários os critérios de
distribuição proposto pelos diversos autores.

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1. Critérios de Distinção

Existem 3 critérios de distinção, a saber:


 Critério da natureza dos interesses;
 Critério da qualidade dos sujeitos na relação jurídica;
 Critério da posição dos sujeitos na relação jurídica;

a) Critérios da Natureza dos Interesses

Este critério é de base material. Assenta a distinção entre Direito Público e Direito
Privado nas soluções consagradas na norma jurídica a classificar. As normas jurídicas
expressam-se resolvendo conflitos de interesse entre os protagonistas da ordem
jurídica. Assim, a natureza do interesse protegido pela norma daria para classificar
como sendo do Direito Público ou do Direito Privado.

Então, de acordo com este critério, o Direito Público, teria como objectivo a satisfação
de interesses públicos, pelo contrário, o Direito Privado, visaria a satisfação de
interesses privados. Assim, se uma norma prossegue interesse público é do Direito
Público, e será do Direito Privado se directamente protege e visa interesse privado.

Este critério não é defensável pois, é difícil dizer se uma norma regula interesses da
colectividade (públicos) ou se tutela interesses privados.

Na verdade todas as normas jurídicas, mesmo as de Direito Privado são criadas no


interesse público, porque os interesses protegidos pelo Direito, mesmo os individuais
devem ter certa relevância pública.

Exemplo: As normas que fixam as penas para os diversos crimes, procuram defender
a segurança da colectividade, garantir a paz social e nessa medida tutelar interesses
públicos.

Por seu lado, as normas de Direito Público visam regular a conduta dos homens em
sociedade e tutelam também os interesses dos particulares.

Exemplo: As normas que fixam os diversos impostos protegem antes de mais um


interesse do Estado, que é a obtenção de receitas publicas; mas os particulares
também são beneficiados com essas receitas se o Estado lhes proporcionar serviços
públicos eficientes.

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b) Critério da Qualidade dos Sujeitos na Relação Jurídica

Este critério é de base formal. Segundo este critério para determinar se uma norma é
de Direito Público ou do Direito Privado, impõe-se examinar, não o conteúdo dessa
norma, mas qualidade das partes na relação jurídica às quais a norma seria de aplicar.

De acordo com este critério, o direito público, é constituído pelas normas que regulam
as relações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público em geral e o Direito
Privado é constituído pelas normas que regulam as relações entre particulares.

Este critério também é sujeito a criticas, uma vez que o estado e demais entes públicos
podem actuar e frequentemente actuam, nos mesmos termos que qualquer particular.

Exemplo: Quando o Estado desprovido do seu poder soberano, também tido por ius
imperii, celebra com um ente privado um contrato de compra e venda as normas do
contrato não deixem de ser de direito público, para passarem a ser de direito privado.

c) Critérios da Posição dos Sujeitos na Relação Jurídica

Este critério é igualmente de base formal. Segundo ele a distinção entre o Direito
Público e Direito Privado, fundamenta-se na posição relativa dos sujeitos da relação
social regulada pela norma. Para examinar se uma norma é de Direito Público ou de
Direito Privado, deve começar-se por verificar-se a posição relativa das partes da
relação jurídica a que a mesma se aplica.

Se as partes se apresentam na relação jurídica em pé de igualdade trata-se de uma


relação jurídica de Direito Privado e a norma que a ela se aplica tem essa mesma
natureza. No entanto, se uma das partes ocupa uma posição de supremacia, a norma
jurídica ter-se-á por Direito Público.

Assim, o Direito Público disciplina as relações jurídicas que se estabelecem entre o


Estado (ou outros estes públicos) e os particulares, intervindo o Estado numa posição
de supremacia, isto é, como entidade dotada de poder soberano ―IMPERIUM‖; as
normas de Direito Privado, regulam as relações sociais entre particulares ou em que
intervenham o Estado (ou outros entes públicos) desprovidos do seu ―IMPERIUM‖;

Assim, os sujeitos da relação jurídica estão numa relação de igualdade ou paridade.

Exemplo: Quando o Estado celebra um contrato de arrendamento com o proprietário


de um prédio para lá instalar um serviço, ele actua em pé de igualdade com o
proprietário do prédio, não exercendo nessa relação nenhuma função soberana.
Estamos perante uma relação de Direito Privado

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Pelo contrário, certas relações tributárias que se estabelecem entre os particulares e o
Estado, e em que este intervém com o seu poder soberano, dizem-se de Direito
Público.

É evidente que estes dois ramos de direito, o Direito Público e o Direito Privado, não
constituem dois compartimentos estanques, separados de forma absoluta. Pelo
contrário, existem muitos pontos de conexão entre eles.

2. Aplicação das Normas de Direito Privado e Direito Público

No campo da aplicação do Direito, è importante distinguir se a norma è de Direito


Público ou de Direito Privado para se saber se a pretensão resulta de uma relação de
Direito Público ou de Direito Privado e se determinar qual o tribunal que pode julgar.
Assim:

A norma jurídica é de Direito Público quando visa uma relação jurídica na qual no
mínimo uma das partes é uma entidade pública revestida da sua autoridade pública,
intervindo nessa relação jurídica munida de tal autoridade - iusimperii, poder de mando.

No que concerne às normas do Direito Privado, regulam as relações que se


estabelecem entre particulares e ainda as relações em que intervêm como sujeitos,
entidades dotadas de autoridades e, poderes públicos, apresentando-se desprovidos
dessa autoridade, colocando-se no mesmo plano que os particulares.

Os Tribunais Judicias (Civis, de trabalho, de família), são competentes para


resolver os diferendos que surgem entre particulares, ou entre particulares e o Estado,
estando os sujeitos numa posição de igualdade – Relação de Direito Privado.

Os Tribunais Administrativos, são competentes para resolver os diferendos entre


particulares e entre públicos, ou entre públicos diversos, estando estes munidos de
poder soberano – Relação de Direito público.

3. Ramos do Direito Público

Dentro do Direito Público é vulgar distinguir nomeadamente os seguintes ramos de


Direito:
 Direito Constitucional
 Direito Administrativo
 Direito Financeiro
 Direito Fiscal

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 Direito Criminal
 Direito Processual

Vejamos agora qual é o objecto próprio de cada um destes ramos de Direito:

3.1. Direito Constitucional

É o primeiro ramo do Direito Público, ocupando lugar cimeiro de todo o ordenamento


jurídico.É o conjunto de normas que regulam a organização fundamental do Estado e
que estabelecem ainda os direitos e obrigações reciprocas do Estado, bem como os
direitos e deveres dos cidadãos.

O Direito Constitucional é constituído pelas normas que no seu conjunto regem os


órgãos de soberania. O Direito Constitucional é o conjunto de normas que regulam a
composição, designação, estrutura, relacionamento e funcionamento dos órgãos de
soberania.

Este ramo do Direito regula a esfera de competência do poder político, fixa-lhe as


balizas, nomeadamente no que diz respeito aos Direitos fundamentais do cidadão.

a) Constituição

A constituição pode ser definida como a lei fundamental dum pais, que fixa os grandes
princípios da organização política e da ordem jurídica em geral e os direitos e deveres
fundamentais dos cidadãos.

As normas constitucionais ocupam assim um lugar cimeiro na hierarquia das leis.

Moçambique tem uma história constitucional muito nova, pois, só depois da


independência, em 1975, é que tivemos a nossa primeira constituição. Ela sofreu
alterações até a aprovação da Constituição em vigor desde 2004.

3.2. Direito Administrativo

O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que rege a função administrativa


do Estado, regula a organização interna da Administração Pública, seu funcionamento
e exercício de funções específicas.

16
Portanto é constituído pelas normas jurídicas reguladoras da organização da
administração pública e do seu processo próprio de agir nas relações com os
particulares.

O Direito Administrativo moçambicano pode definir-se como o sistema de normas


jurídicas que regulam a organização e o processo próprio de agir da Administração
Publica e disciplinam as relações pelas quais ela prossegue interesses colectivos
podendo usar da iniciativa do privilégio de execução prévia e da presunção legal dos
actos da Administração.

O privilégio de execução prévia consiste na faculdade concedida a certas pessoas ou


órgãos de executarem imediatamente as medidas destinadas á satisfação das
necessidades colectivas, em vez de aguardarem que um órgão judicial decida
previamente sobre se é ou não legal a medida projectada.

Exemplo: O Estado pode executar o património do devedor para realização dos


créditos não voluntariamente satisfeitos, sem necessidade de declaração judicial prévia
do seu direito

3.3. Direito Financeiro

É constituído pelo conjunto de normas jurídicas que regulam a actividade financeira do


Estado

O Estado para satisfazer as necessidades colectivas, desenvolve actividade financeira,


tendo por objectivo a obtenção de receitas e a realização de despesaspúblicas.

O Direito Financeiro, regula assim as formas de recolha, gestão e aplicação dos meios
financeiros do Estado. Esses meios financeiros, são obtidos através de impostos e
taxas, receitas patrimoniais e empréstimos públicos.

3.4. Direito Fiscal

É a parte do direito público que regula a obtenção de receitas através da cobrança de


impostos e taxas definidas nos termos legais, portanto, éo conjunto de normas jurídicas
reguladoras do nascimento, desenvolvimento e extinção das relações jurídicas
suscitados pela percepção do imposto.

Tradicionalmente são apresentadas as seguintes fases do imposto:

 — Incidência – é a definição geral e abstracta, feita pela lei, dos actos ou situações
sujeitos a impostos e das pessoas sobre as quais recai o dever de prestar.

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 — Lançamento – consiste na serie de operações administrativas, que levam à
determinação da matéria colectável.
 — Liquidação – é um conceito que abrange as operações administrativas do
lançamento e ligação propriamente dita, ou seja a aplicação da taxa a matéria
colectável, para a determinação do montante do imposto.
 — Cobrança – é a fase ultima do imposto e consiste na operação administrativa
que visa a entrada do imposto nos cofres do Estado.

3.5. Direito Criminal ou Penal

É o conjunto de normas jurídicas que procuram qualificar determinados factos como


crimes e fixam os pressupostos da aplicação das sanções criminais correspondentes
(penas e medidas de segurança).Portanto, são normas que prevêem a lesão dos bens
jurídicos fundamentais da sociedade através de comportamentos humanos contrários
ao Direito e que estabelecem uma reacção da ordem jurídica a esses comportamentos.

A estes comportamentos graves, este Direito reage através deformas extremas que
incluem a privação da liberdade, embora existam Estados que até tiram a vida ao
infractor com recurso à pena de morte.

O Direito criminal indica não só os diversos tipos de crime, mas também as condições
em que existe culpa, bem como as modalidades da culpa (dolo ou negligencia), as
circunstâncias agravantes e atenuantes do crime, as condições e termos em que pode
ser decretada uma medida de segurança, etc.

O Direito Penal tem como princípio caracterizador fundamental a tipicidade, de acordo


com o qual, nenhum acto pode ser considerado crime, assim, punido, sem que esteja
previsto na lei nullumcrimen sine lege, nenhuma pena pode ser aplicada sem que
haja crime – nullapoena sine crimen.

* O crime é um elemento central, deste ramo de Direito publico.

3.6. Direito Processual

É o conjunto de normas que fixam os termos a observar na propositura e


desenvolvimento de uma acção, portanto, é constituído pelo conjunto de regras que
orientam a actividade jurisdicional dos tribunais, regulamentando a actuação das partes
em juízo, o funcionamento dos tribunais e o formalismo dos actos conducentes à
aplicação do Direito pelos tribunais.

18
Os tribunais são órgãos de aplicação do Direito especialmente virados para a
composição dos litígios, caracterizando-se pela sua imparcialidade e pela sua
independência da estrutura hierarquizada do Estado.

Portanto, o Direito Processual, não atribui directamente direito às partes, senão orientar
às partes no sentido de como as partes devem agir para fazer valer em tribunal os seus
direitos.

Deste modo há tantos Direitos processuais a saber:

 Direito Processual Civil: É um conjunto de normas que estabelecem os termos a


observar no propositurae no desenvolvimento das acções civis, ou seja, nas acções
fundadas no direito civil;
 Direito Processual Criminal ou Penal: É um conjunto de normas que estabelecem
os termos a observar na instalação e no desenvolvimento da acção criminal;
 Direito Processual Fiscal;
 Direito Processual Administrativo;
 Direito Processual Laboral ou do Trabalho; e
 Outros.

O Direito Processual Civil, sendo subsidiário dos outros direitos processuais, como é o
seu substantivo o Direito Civil o Comum, e a ele recorre-se subsidiariamente na falta de
disposição legal aplicável no ramo do Direito Processual respectivo.

Com estes fundamentos, o Direito Processual é considerado Direito Adjectivo ou


Instrumental, por ser como acessório – instrumento – da realização do Direito
Subjectivo.

O Direito Processual regula a actividade dos tribunais quando se discute, como fazer
para alguém gozar do direito que a lei substantiva fixa. Discute-se uma situação de vida
regulada materialmente por outras regras jurídicas, as do Direito Substantivo, que
atribuem os direitos e fixam os deveres.

Neste Direito processual, um princípio desempenha papel importante, o do caso


julgado. Uma decisão transitada em julgado é aquela que não pode mais ser apreciada
pelo mesmo tribunal, nem mesmo pelo outro salvo casos extremos, o caso de recurso
de revisão.

4. Direito Privado

Como se referiu atrás o critério mais adequado para alguns autores, é o que define o
Direito Privado como um conjunto de normas que regulam as relações sociais que se
estabelecem entre os participantes ou entre particulares e o Estado (ou outros entes
públicos) desde que estes intervenham em pé de igualdade com os particulares.

19
Divisões do Direito Privado

 Direito Civil
 Direito Privado Especial

*O ramo mais importante no Direito Privado é o Direito Civil.

4.1. Direito Civil

O Direito Civil, é o Direito Privado Comum ou Direito-Regra, cujo campo de secção


tende a abranger todas as relações de Direito Privado. É o núcleo fundamental do
Direito Privado, daí que em relação aos outros ramos do Direito Privado, seja
considerado um Direito subsidiário, isto é, sempre que surja um caso a resolver que
não esteja previsto nesses ramos, ter-se-á que recorrer às normas contidas no Direito
Civil.

O Direito Civil, é constituído pelo conjunto de normas que regulam as relações que se
estabelecem entre os participantes considerados como pessoas em geral

* O principio central do Direito Civil é o da livre autonomia da vontade das partes.

A autonomia consiste na liberdade de cada um ordenar, dentro de certos limites gerais,


o leque de relações que lhe diz respeito; consiste ainda na liberdade de exercer ou não
os poderes de que é titular.

* O diploma fundamental do Direito Civil é o Código Civil.

O próprio Código Civil, testemunhando elevado grau de elaboração do Direito Civil,


contém regras e princípios gerais que constituem uma teoria geral da lei, aplicáveis a
todos os ramos do Direito e uma teoria geral da relação jurídica aplicável num âmbito
que excede as fronteiras do Direito Privado.

O código Civil aparece-nos subdividido em parte geral onde constam os títulos 1 e 2 e


a parte especial onde constam os diversos livros.

Parte Geral

Titulo I – Das leis, sua interpretação e aplicação.

Contém uma «teoria geral da lei» (teoria das fontes de Direito, teoria da interpretação e
aplicação da lei, teoria da aplicação da lei no tempo e teoria da aplicação da lei no
espaço).

20
Titulo II – Das relações jurídicas.

Contém uma «teoria geral das relações jurídicas» (a teoria geral do facto jurídico, a das
pessoas, a das coisas, e a do exercício de direito de direitos e das pessoas.

Subclassificação do Direito Civil

O Direito Civil comporta sub-ramos que são designadamente:

a) Direito das Pessoas

Traça a disciplina jurídica fundamental da personalidade e da capacidade jurídicas,


tanto no que diz respeito às pessoas singulares, indivíduos, como as pessoas
colectivas, associações, fundações e sociedades.

b) Direito das Obrigações

Regula um tipo particular de relação jurídica, a que se chama obrigação, relação


jurídica obrigacional ou relação jurídica de crédito.

A obrigação tanto como pode resultar de um contrato como de um acto ilícito, dando
lugar a responsabilidade civil, o enriquecimento sem causa e a gestão de negócios. O
contrato é no entanto por excelência a expressão da autonomia privada.

Estabelece o artigo 397 do Código Civil, ―obrigação é o vínculo jurídico por virtude do
qual uma pessoa fica adstrita para com a outra à realização de uma prestação ‖.

Numa relação obrigacional o sujeito passivo é aquele que está à realização de certo
facto ou ao cumprimento de determinada prestação – entrega de certo bem ou coisa –
por exemplo, o qual se designa devedor. Por sua vez é designado por credor o sujeito
activo da obrigação, aquele que tem o direito de exigir a realização de certo facto ou
entrega da coisa.

c) Direito das Coisas ou Direitos Reais

A instituição central é a propriedade. Os Direitos Reais distinguem-se em:

21
 Direitos Reais de Gozo: propriedade, usufruto uso e habitação, direito de superfície
e servidão predial;
 Os que atribuem ao seu titular um poder oponível a terceiros fruir uma coisa;
 Direitos Reais de Garantia: hipoteca, penhor e outros;
 Os que atribuem ao seu titular o poder de satisfazer um crédito seu, através do
valor de certa coisa; e
 Direitos reais de aquisição: que são direitos oponíveis a terceiros, à aquisição de
certa coisa.

d) Direito da Família

Disciplina as relações jurídicas familiares assentes nas instituições públicas:

 do casamento;
 da adopção;
 do parentesco;
 e da afinidade.

e) Direito das Sucessões

Disciplina a sucessão por causa da morte, «mortis causae».

Este Direito ocupa-se em determinar o destino a dar aos bens e dívidas de que era
titular uma pessoa falecida, de cujus. O Direito Sucessório regula o ingresso de outrem
nas situações jurídicas daquele que faleceu.

Se o ingresso tem por base um chamamento realizado por testamento denomina-se


Sucessão Testamentária ou pela Lei denominando-se Sucessão Legal. Dentro da
Sucessão Legal, ainda se distingue a Sucessão Legitimária que se caracteriza por
não poder ser afastada pelo autor da sucessão, nomeadamente através de um
testamento e a Sucessão Legítima que visa encontrar um sucessor para o falecido,
para que os direitos e deveres deste não fiquem nullius, de ninguém, sem dono, na
falta de familiares em que se chama o Estado à herança.

f) Direito Internacional Privado

É o ramo de Direito que regula as situações da vida internacional, como as da órbita


relacionadas com mais que um ordenamento jurídico.

22
O Direito Internacional Privado apresenta como característica ser em ampla medida
composto por normas que contém directamente a disciplina jurídica aplicável, mas que
remetem em função de certos factores de competência, para a ordem jurídica cujo
Direito deve ser aplicado – normas de conflito de leis.

Por exemplo, em vez de dispor sobre a forma de casamento celebrado entre pessoas
de diferentes nacionalidades, artigo 50 do código Civil, determina que ela é regulada
pela lei do Estado em que o acto é celebrado. Trata-se de uma situação em que a lei
nos remete para o salto ao obscuro porque abiinitio o intérprete não sabe para que
disposições legais forasteiras se lhe remetem.

4.2. Direito Privado Especial

a) Direito Comercial

O Direito comercial é um Direito Privado Especial, que se mostra autónomo do Direito


Civil e tem como finalidade regular a actividade mercantil.

Aparentemente, a determinação do campo da lei comercial seria facilitada pelo


confronto com o conceito de comércio – actividade de mediação entre a produção e o
consumo de bens.

No entanto, o conceito jurídico de comércio é muito mais extenso e abrange ainda a


indústria.

Eis os princípios que regem a actividade comercial:

 Celeridade;
 Reforço do crédito;
 Boa-fé;e
 Fim lucrativo da actividade comercial.

A necessidade de celeridade de tráfego mercantil, o seu timbre lucrativo ou de proveito


económico e a importância de que se reveste a boa fé, bem como a necessidade da
protecção do credor comercial conduziram à criação de regras específicas que
justificam o Direito Comercial.

Este Direito, não é exclusivo dos comerciantes, porque por exemplo há cidadãos que
podem emitir cheques para pagamento duma dada despesa. Tal acto de emissão de
cheque, sendo comercial, pode ser praticado por não comerciante, trata-se de um acto
de comércio objectivo, sendo subjectivo o caso de acto exclusivo do comerciante.

Do Direito Comercial tende a autonomizar-se também algumas áreas como sub-ramos,


ao exemplo de Direito Bancário, Direito de Seguros, Direito Marítimo e outros.

23
b) Direito do Trabalho

O Direito do Trabalho estuda as normas jurídicas que regem a relações de trabalho: os


direitos e obrigações dos trabalhadores face a entidade patronal e, de ambos
(trabalhadores e entidade patronal), face ao Estado.

O Direito do Trabalho regula apenas relações da classe subordinada e nunca da classe


empregadora.

4.3. Outros e Novos Ramos do Direito

A ordem jurídica não se esgota nos ramos do Direito acabados de indicar. No Direito
Público vários outros ramos poderiam apontar-se, designadamente: o Direito dos
Registos e Notariado. No Direito Privado, o Direito do Autor e o Direito de Informática.

No que respeita a certas áreas novas do Direito, a clássica divisão do Direito Público e
o Direito Privado não parece servir para abrigar algumas áreas normativas
recentemente parecidas ou reformuladas.

24
Aula 4- 26.02.2015

V. FONTES DO DIREITO

Fontes do Direito em sentido técnico-jurídico, consiste nos modos de formação e


revelação das normas jurídicas num determinado ordenamento jurídico.

As fontes do direito podem-se distinguir em:

 Fontes Imediatas ou Directas do Direito: São aquelas que criam normas jurídicas.
 Fontes Mediatas ou Indirectas do Direito: São aquelas que não criam normas
jurídicas, mas contribuem para a sua formação.

Tradicionalmente são enumeradas quatro fontes do direito, a saber:

 A lei;
 O costume;
 A jurisprudência; e
 A doutrina.

Como iremos ver de seguida, o Código Civil estabelece nos artigos 1.º a 4.º
disposições sobre as fontes do direito e considera a lei como única fonte imediata do
direito em contraposição aos usos (art.º 3º) e equidade (artº4º) cuja força vinculativa
provém da lei, ou seja, os usos e equidade só têm relevância jurídica, quando a lei o
determine. Portanto, temos: A lei como fonte imediata do direito

1. A Lei

A lei é considerada uma fonte imediata do direito, e para alguns autores ela é a única
fonte imediata admissível, para outros autores é, ao lado da Lei, o costume também é
fonte imediata do direito.

Consideram-se leis todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais


competentes. No entanto este conceito é empregue em sentido amplo.

No entanto, o art. 1º do CC acolhe a Lei como a única fonte imediata do Direito.

Portanto a lei como fonte imediata do direito, cria normas jurídicas, com carácter
vinculativo emanadas do órgão dotado de competência legislativa.

O termo lei pode ter vários significados:

25
 Tem o significado de ordenamento jurídico, como por exemplo, onde se consagra
que todos os cidadãos são iguais perante a lei
 Tem o significado de acto legislativo como por exemplo, onde se consagra que os
impostos são criados por lei.
 Tem o significado de norma jurídica, como por exemplo onde se refere "As decisões
dos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas na forma
prevista na lei.
 Tem o significado de Direito
 E tem ainda o significado de diploma legislativo.

Para se compreender verdadeiramente o termo lei temos que ter em conta a distinção
entre os vários sentidos em que a lei se apresenta:

1.1. Lei em Sentido Amplo

Refere-se a qualquer diploma que consagre normas jurídicas emanadas dos órgãos
estaduais competentes, pela Assembleia da República, Governo e Assembleias
Municipais, ou seja, leis, decretos-lei, regulamentos, portarias e posturas.

Resumindo, a lei em sentido amplo abrange todos os diplomas que consagram normas
jurídicas.

1.2. Lei em Sentido Restrito (lei propriamente dita)

Refere-se aos diplomas emanados pela Assembleia da República (Lei)

1.3. Distinção Entre Lei e Decreto-Lei

Lei: diploma emanado pela Assembleia da República (art. 143 da CRM).

Decreto-Lei: diploma emanado pelo Governo (art. 143 da CRM).

1.4. Distinção entre Lei Constitucional e Lei Ordinária.

Lei Constitucional Originária: É a lei que cria a constituição.

Lei Constitucional Derivada (Lei de Revisão): É a lei que altera a Constituição.

26
Lei Ordinária: São todos os restantes diplomas emanados pelo poder legislativo (Lei
da Assembleia da República, decreto-lei do Governo)

Podemos definir Lei como uma norma jurídica criada e imposta na sociedade emanada
de uma autoridade competente.

Vimos os tipos ou categorias de leis, que fazem parte do Direito. Agora vamos ver
como as leis se fazem e como cessa a sua vigência.

Importa recordar que o Estado goza de três poderes distintos:

 Poder legislativo: Exercido pela Assembleia da República e pelo Governo;


 Poder executivo (administrativo): Exercido pelo Governo; e
 Poder judicial: Exercido pelos tribunais.

A Lei emerge do poder legislativo.

Vamos apenas ter presente as leis, da Assembleia da República, os decretos-leis e os


decretos-regulamentares, do Governo.

Em certas matérias só pode legislar a Assembleia da República, é a reserva absoluta


de competência legislativa.

Noutras matérias pode legislar a Assembleia da República ou o Governo com


autorização dela, através duma lei de autorização, é reserva relativa de competência
legislativa (art. 143 da CRM).

Portanto a Assembleia da República tem competência para fazer leis e o Governo tem
competência para fazer decretos-leis e bem assim competência regulamentar exercida
através de decretos-regulamentares; resoluções do Conselho de Ministros; portarias e
despachos normativos (art. 143 da CRM).

1.5. Feitura Das Leis.

O processo legislativo ou de elaboração das leis compreende as seguintes fases:

 Elaboração ou Preparação;
 Aprovação;
 Promulgação;
 Publicação; e
 Entrada em Vigor.

27
a) Elaboração ou Preparação

Em primeiro lugar há que elaborar o texto da lei.

Na Assembleia da República, a elaboração e aprovação da lei obedece a certas


formalidades que estão reguladas e previstas na constituição.

Só pode iniciar o processo legislativo, quem tiver competência de iniciativa legislativa:

A iniciativa da lei compete aos Deputados, as Bancadas Parlamentares, as Comissões


da AR, ao Presidente da República e ao Governo, al. b) do art 173, artigo 183 e al. c)
do nº 1 do artigo 204 da CRM.

b) Discussão e Votação

A seguir à elaboração segue-se a discussão e votação, art. 184 da CRM.

Aprovação das leis por maioria na Assembleia da República e os decretos-leis por


maioria em Conselho de Ministros.

A elaboração e votação dos decretos-lei e dos decretos regulamentares por parte do


Governo é informal.

c) Promulgação

As leis, os decretos-leis e os decretos regulamentares carecem de promulgação do


Presidente da República. A promulgação é o acto pela qual o Presidente da República
atesta solenemente a existência da norma e intimida à sua observância, art. 162 da
CRM.

A falta de promulgação determina a inexistência do acto.

d) Publicação

A lei para poder ser aplicada tem que ser conhecida e para ser conhecida tem que ser
publicada e a sua publicação faz-se no Boletim da República, al. a), nº 1 do art 144 da
CRM.

Com a publicação, a lei passa a ser obrigatória, isto não significa que ela seja desde
logo aplicável, há ainda a necessidade de estabelecer o começo da sua vigência.

28
e) Entrada em Vigor

Depois da lei ser publicada no Boletim da República para a sua entrada em vigor,
existe um espaço de tempo. A este tempo que medeia entre a publicação e a entrada
em vigor da lei, chama-se "Período de Vacatura‖ ou ―Vacatio Legis".

1.6. Cessação da Vigência das Leis

A lei mantém-se em vigor até que algo a faça cessar a sua vigência, porém, a lei pode
deixar de vigorar por:

 Caducidade; ou
 Revogação.

Outra realidade diferente e que não põe termo à vigência da lei, é a suspensão de
vigência de lei, ou seja, a lei suspensa continua a existir na ordem jurídica, só que não
produz quaisquer efeitos.

a) Caducidade

Consiste no termo de vigência da lei, que pode ser a própria lei prever uma data de
cessação de vigência, ou um prazo de duração (leis temporárias) ou ainda em
consequência de um facto superveniente., isto é, pelo desaparecimento definitivo da
realidade a que a lei se aplicava.

b) Revogação

Consiste no termo da vigência da lei em consequência da entrada em vigor de uma Lei


nova de valor hierárquico igual ou superior.

A revogação pode ser:

Revogação Expressa: Quando a lei nova declara quais os preceitos que deixam de
vigorar. Por exemplo quando a lei nova diz que são revogados os artigos de uma Lei ou
decreto-lei, quando a lei nova diz que determinado diploma é revogado.

Revogação Tácita: quando a lei nova é incompatível com a lei anterior, neste caso
prevalece a lei posterior. Cabe ao intérprete a descoberta dessa incompatibilidade. Por

29
exemplo: posteriormente a uma Lei que estabelece um prazo de 5 anos para propor
certa acção, é publicada outra Lei fixando para o mesmo efeito, o prazo de três anos.

2. O Costume

O costume é prática de uma conduta social reiterada e constante, acompanhada da


convicção da sua obrigatoriedade pela comunidade.

O costume é constituído por dois elementos essenciais que devem estar sempre
presentes sob pena de não ser costume:

Corpus (usus)- uma prática social reiterada e constante.

Animus- a convicção da respectiva obrigatoriedade, como se estivesse a obedecer a


uma norma geral e abstracta.

Do ponto de vista da lei, o costume pode ser de três espécies:

Costume Secundum Legem (segundo a lei): o costume confirma ou interpreta. A lei


ignora-o, o que significa que não o considera relevante.

Costume Praeten Legem (para além da lei): o costume regula aspectos não regulados
pela lei. Este não é permitido pelo Direito, pois, O código civil não alude ao costume
como meio de integração de lacunas da lei.

Costume Contra Legem (o costume contrário à lei): O costume cria uma


regulamentação contrária à lei. Este costume não é admitido no ordenamento jurídico
moçambicano.

O código Civil exclui o costume como fonte imediata de direito e nem sequer o
reconhece como meio de integração das lacunas da lei.

O legislador apenas admitiu que os usos tinham relevância jurídica quando a lei para
ele remete e portanto nunca contra a lei - fonte mediata de Direito.Aliás, quando na lei
civil nos aparece a referência ao costume é mais no sentido de uso.

Diferente do costume é o uso, ou seja, o uso é prática reiterada de uma conduta a que
falta a convicção da respectiva obrigatoriedade (o animus).

Contrariamente, no direito internacional público, o costume é uma importante fonte de


direito

30
3. Jurisprudência

Jurisprudência é o conjunto de decisões (sentenças e acórdãos) proferidas pelos


tribunais ao fazerem a interpretação e aplicação da lei aos casos concretos que lhe são
submetidos.

3.1. Tipos de decisões judiciárias:

Sentenças:são as decisões proferidas pelos tribunais singulares, ou seja, decisões


proferidas por um único juiz;

Acórdãos: são as decisões proferidas por tribunais colectivos, que são constituídos
por três juízes.

A Jurisprudência é apenas uma fonte mediata do Direito por apresentar um papel de


relevo como contributo para a formação de normas jurídicas, cuja criação fica
reservada ao poder legislativo (Assembleia da República e Governo)

Para que a Jurisprudência constituísse fonte imediata do Direito era necessário que
criasse Direito através da orientação seguida pelos tribunais nas decisões de casos
concretos e individuais de forma a que vinculasse todos os outros tribunais a julgarem
de igual modo situações idênticas.

Na verdade, não vigora a regra do precedente, ou seja, a decisão proferida por um


tribunal não vincula o próprio tribunal, nem os demais tribunais aquando do julgamento
de casos futuros semelhantes.

As decisões dos tribunais só vinculam o caso concreto sobre o qual é proferido a


decisão do tribunal.

Os tribunais apenas estão sujeitos à Constituição e à Lei.

Excepcionalmente existem decisões do Tribunal Constitucional com força obrigatória


geral que criam Direito, são situações em que o tribunal constitucional aprecia e
declara a inconstitucionalidade ou ilegalidade de certas normas, com força obrigatória
geral.

Os juízes são independentes e não têm que decidir como eles próprios ou outros o
fizeram anteriormente.

Os Tribunais de instância inferior não têm que julgar em conformidade com decisões de
instâncias superiores.

31
Apenas em caso de recurso (reapreciação da decisão judicial por outro tribunal
hierarquicamente superior) é que a decisão proferida pelo tribunal superior vincula face
à decisão recorrida, não valendo já para outros casos semelhantes.

É de salientar, que há uma hierarquia judiciária: juízes superiores e inferiores, mas


deve-se ter em atenção, que esta hierarquia difere da hierarquia administrativa. A
hierarquia administrativa traduz-se no poder dos superiores darem ordens aos
inferiores, o que tal não acontece na hierarquia judiciária, justamente pela aplicação do
princípio da independência dos juízes.

3.2. Papel Importante Desempenhado pela Jurisprudência

A jurisprudência desempenha um papel importante, sobretudo a proveniente dos


tribunais superiores, em que os acórdãos têm um peso efectivo nas decisões futuras,
muitas das vezes são referidos ou citados, quando se entende que o novo caso sob
judicio é análogo ao que foi decidido por um desses acórdãos. Em todo o caso não
vinculam os tribunais, mas contribuem para aquilo que se chama a jurisprudência
uniformizada, a fim de se atingir maior segurança nas decisões e evitar desperdício da
actividade jurisprudencial em casos semelhantes.

4. Doutrina

Doutrina é o conjunto de estudos, opiniões e pareceres dos jurisconsultos sobre a


forma adequada de interpretação, integração ou aplicação do Direito.

Jurisconsultos são juristas qualificados, em geral, professores nas Universidades.

A doutrina consta de tratados, manuais, comentários às leis (códigos) e à


jurisprudência, monografias e estudos jurídicos vários.

A doutrina não é considerada fonte imediata ou directa do Direito uma vez que ela não
cria normas jurídicas e por conseguinte não tem carácter vinculativo.

A doutrina é uma fonte mediata do direito, apesar de não criar Direito, tem uma
importante relevância prática na revelação do próprio Direito, dado que as opiniões dos
Jurisconsultos contribuem para esclarecer o sentido e o alcance de determinadas
normas jurídicas e ajudam a colmatar algumas omissões na lei.

Uma outra relevância importante da Doutrina é a influência que ela exerce na feitura
das leis, nas decisões judiciais e na actuação da administração pública.

32
Hierarquia das Fontes ou das Leis.

A hierarquia das leis prende-se com o facto de que nem todas as normas têm o mesmo
valor jurídico. As leis estão escalonadas hierarquicamente.

Assim as normas de hierarquia superior prevalecem sobre as normas de hierarquia


inferior

Exemplo:

Se uma norma de hierarquia inferior contrariar uma norma de hierarquia superior


poderá ser considerada inconstitucional ou ilegal, consoante contrarie, respectivamente
a Constituição ou qualquer outra lei.

As leis especiais prevalecem sobre as leis gerais.

A hierarquia das leis respeita a hierarquia dos órgãos de que são emanados.

A hierarquia das leis tem a seguinte configuração em forma de pirâmide:

Constituição

 Normas constitucionais editadas pelo poder constituinte originário


 Normas constitucionais editadas pelo poder constituinte derivado ou de revisão

Direito Internacional

 Convenções e tratados inclui o Direito Comunitário

Actos Normativos

 Leis (AR)
 Decretos-lei (Governo)

Actos Administrativos

 Decretos Regulamentares
 Resoluções do Conselho de Ministros
 Portarias
 Despachos Normativos

33
 Instruções
 Circulares
 Regulamentos e posturas locais

34
Aula 5 - 2.03.2015

VI. INTERPRETAÇÃO DA LEI

Interpretar uma lei, consiste em determinar o sentido e o alcance real da lei.

1. Espécies de Interpretação da Lei

1.1. Quanto a sua Fonte e Valor

Duas formas de interpretação:

 Autêntica; e
 Doutrinal.

1.1.1. Interpretação Autêntica:

É aquela que é realizada pelo próprio legislador, mediante uma lei igual ou de valor
superior à lei interpretada. A essa lei interpretada chama-se lei interpretativa (art. 13º
CC) e destina-se a interpretar uma lei anterior.

A interpretação autêntica tem força obrigatória ou seja, tem carácter vinculativo.

1.1.2. Interpretação Doutrinal:

É aquela que é realizada pelos:

 Tribunais;
 Administração pública;
 Juristas;
 Particulares.

A interpretação doutrinal realizada pelos tribunais e pela Administração Pública, tem


força vinculativa, mas apenas em relação ao caso concreto sobre o qual é proferida a
decisão pelo tribunal.

35
Nos restantes casos não têm força obrigatória.

Em relação à interpretação feita pelos juristas, esta tem maior ou menor força
persuasiva, consoante maior ou menor for o prestígio do jurista.

a) Elementos Fundamentais da Interpretação Doutrinal

São aquele elemento que o intérprete se serve para interpretar as leis, vide art. 9.
Assim temos:

 Elemento Gramatical ou Literal

É constituído pelo texto ou "a letra da lei", por meio do qual o intérprete inicia a
interpretação, através da determinação do significado das palavras utilizadas pelo
legislador na lei.

Princípios Orientadores:

 As palavras não se devem entender isoladamente mas sim no conjunto do texto;


 Deve-se partir do princípio que todas as palavras do texto legal têm nele uma
função útil;
 O sentido das palavras deve ser, em princípio, o que resulta da linguagem corrente,
salvo tratando-se de termos com significado técnico-jurídico, que neste caso serão
estes os utilizados.

 Elemento Lógico

Por meio do elemento lógico o intérprete vai apurar a partir do texto qual o espírito da
lei e para isso recorre ao elemento sistemático, ao elemento histórico e ao elemento
teleológico.

 Elemento Sistemático: Uma lei não está isolada, por isso a sua interpretação tem
que ter em consideração as relações existentes entre a lei a interpretar e as outras
leis e ter também em conta todo o sistema jurídico.
 Elemento Histórico: Este elemento compreende os dados ou acontecimentos
históricos para que expliquem a criação da lei. E então socorre-se:

 À história do Direito, para, confrontar a lei que se pretende interpretar com leis
anteriores que regularam a mesma matéria;

36
 Aos estudos doutrinais em que o legislador se baseou para fazer a lei que se
pretende interpretar e por vezes recorrer a doutrinas e leis estrangeiras;
 Aos projectos e anteprojectos da lei.

 Elemento Teleológico: Consiste em saber qual foi o objectivo que motivou o


legislador a elaborar a lei. Qual foi a finalidade da lei e o que ela pretende alcançar.

Na interpretação o elemento gramatical e o elemento lógico têm que ser sempre


utilizados conjuntamente.

O art. 9º/1 do CC refere-se a ambos os elementos:

 "a letra da lei" - elemento gramatical ou literal


 "ao pensamento legislativo" (espírito da lei) - elemento lógico.

O art. 9º/1 do CC também se refere às subdivisões do elemento lógico:

 "unidade do sistema jurídico " - elemento sistemático


 "as circunstancias em que a lei foi elaborada" - elemento histórico
 "as condições específicas do tempo em que é aplicada" - elemento teleológico ou
racional.

1.2. Interpretação Quanto ao Resultado

 Interpretação Declarativa;
 Interpretação Extensiva;
 Interpretação Restritiva.

1.2.1. Interpretação Declarativa

Quando o sentido da letra coincide com o espírito da lei (pensamento legislativo).

1.2.2. Interpretação Extensiva

Quando o sentido da letra da lei fica aquém do seu espírito. O legislador disse menos
do que pretendia.

37
O intérprete tem de fazer uma interpretação de modo a fazer corresponder a letra da lei
ao seu espírito.

1.2.3. Interpretação Restritiva

Quando o sentido da letra da lei vai além do seu espírito. O legislador disse mais do
que aquilo que pretendia.

O intérprete terá de restringir o texto da lei de modo a harmonizá-lo com o espírito da


lei.

VII. Integração de Lacunas

Depois de esgotados todos os elementos interpretativos de que o intérprete se


socorreu, verificou que determinado caso não cabe no conteúdo de uma lei. Portanto,
estamos perante um caso omisso ou uma lacuna da lei. Neste caso temos que integrar
uma lei ao caso omisso.

Integrar uma lei é aplicar uma lei a um caso omisso ou a uma lacuna da lei.

Se não temos uma lei como é possível aplicar uma lei ao caso omisso?

Através da chamada integração de lacunas da lei previsto no artigo 10º CC.

A interpretação do caso omisso ou lacuna da lei, faz-se com recurso à analogia que
consiste em aplicar ao caso omisso a norma reguladora de casos análogos (art. artigo
10º do CC).

E se não forem encontrados casos análogos com regulamentação própria?

Neste caso temos resposta no artigo 10º do CC.

O intérprete iria criar uma norma geral e abstracta, como fosse o legislador e iria aplicá-
la ao caso omisso.

Esta norma criada pelo intérprete tem aplicação apenas para o caso concreto.

Em certos casos a lei proíbe a analogia:

 Nas normas penais incriminais; e


 Nas normas fiscais relativamente à incidência de impostos, à taxa, aos benefícios
fiscais e às garantias dos contribuintes.

38
VIII. Aplicação das Leis no Tempo

Prende-se com o problema das sucessões das leis no tempo. Os artigos 12º e 13º do
CC, contém os princípios gerais sobre a aplicação das leis no tempo no nosso
ordenamento jurídico.

A aplicação das leis no tempo consiste em determinar qual a lei aplicável a uma
determinada situação: se é a lei antiga ou se é a lei nova.

Segundo o nº 1 do artigo 12 do CC "A lei só dispõe para o futuro": princípio da não


retroactividade (regra geral) "ainda que lhe seja atribuída eficácia retroactiva" esta
eficácia retroactiva é atribuída pelo legislador" (direito transitório).

Porém, para a regra de não retroactividade há excepções:

 Quando decorre da lei: Por vezes é a lei nova que estabelece ela própria, regras
destinadas a regular a sucessão da lei. Tais regras fazem parte do Direito
Transitório.
 Quando trata-se de uma lei interpretativa, Nos termos do art. 13.º do CC a lei
interpretativa é retroactiva, ressalvando-se, no entanto, os efeitos já produzidos:
pelo cumprimento da obrigação e pela sentença transitada em julgado; e
 Na verificação dos prazos: aos prazos que já estiverem a decorrer aplica-se de
imediato a lei nova, quer estabeleça um prazo mais curto quer estabeleça um prazo
mais longo, artigo 297º do CC.

39
Aula 6 - 04.03.2015

IX. RELAÇÃO JURÍDICA

Noção da Relação Jurídica

Durante a convivência social, o homem estabelece diversos tipos de relações, desde a


as de carácter social, familiares, de amizade, de confiança, de namoro e etc…

No seio da convivência jurídica a realidade não é estranha pois, no seu quadro também
o homem, como sujeitos de direito também estabelecem relações e essas relações
particularmente podem ser jurídicas.

Os Sujeitos de Direito são os entes susceptíveis de serem titulares de direito e


obrigações, de serem titulares de relações jurídicas. São sujeitos de direito as
pessoas6, singulares e colectivas.

A relação jurídica pode ser tomada em dois sentidos:

Sentido amplo (vasto);

Sentido restrito (limitado);

Relação Jurídica em Sentido Amplo

É toda a relação da vida social disciplina pelo Direito ou seja, relevante para a ordem
jurídica designadamente por produzir consequências de Direito.

Por esta noção ser bastante vaga adoptaremos para o nosso estudo a seguinte:

6
Pessoa física ou natural "É o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações"
(Maria Helena Diniz), que para receber essa denominação de pessoa, basta nascer com vida, e
desse modo adquirir personalidade.

40
Relação Jurídica em Sentido Restrito ou Técnico

É a relação da vida social disciplina pelo Direito, mediante a atribuição a um sujeito de


um Direito subjectivo e a imposição a outro de um dever jurídico ou de uma sujeição.

Elementos da Relação Jurídica

Sujeitos;

Objecto;

Factos Jurídicos;

Garantia.

Sujeito: são pessoas entre as quais se estabelece a relação jurídica. São os titulares
do Direito Subjectivo (sujeito activo ou credor) e das posições possíveis
correspondentes - dever jurídico ou sujeito passivo ou devedor).

Objecto: é aquilo sobre que recaem os poderes do titular do Direito (coisas ou


prestações).

Facto Jurídico: é todo o acontecimento natural ou acção humana, produtivo ou de


efeitos ou consequências jurídicas e que poderá ser o de criara, modificar, ou extinguir
uma relação jurídica.

Garantia: é a susceptibilidade de protecção jurídica. Deste modo o titular activo da


relação jurídica pode recorrer aos meios coercitivos que a lei põe `a sua disposição
para obter a satisfação do seu Direito no caso de violação ou ameaça do mesmo.

Exemplo de uma relação jurídica:

Imagine-se que BEETHOVEM e CHEMA celebram entre si um contrato de compra e


venda, em que aquele se obriga a vender a esta uma carro.

Estabeleceu-se entre eles uma relação jurídica em que se distinguem os seguintes


elementos:

41
Sujeitos – BEETHOVEN e CHEMA;

Objecto – o carro

Factos Jurídicos – contrato de compra e venda

Garantia – faculdade que cada um dos sujeitos dispõe de recorrer ao tribunal para
obrigar a outro a cumprir a sua obrigação, no caso da recusa.

Agora iremos abordar em pormenor cada um dos elementos da relação jurídica.

Sujeitos

1. Personalidade e Capacidade Jurídica

A Personalidade Jurídica traduz-se precisamente na susceptibilidade de ser titular de


direitos e de estar adstrito a vinculações. Ela adquire-se no momento do nascimento
completo e com vida, nos termos do nº 1 do artigo 66º CC, e cessa com a morte do seu
titular. Assim, mo momento da morte, a pessoa perde os direitos e deveres da sua
esfera jurídica, extinguindo-se os de natureza pessoal e transmitindo-se para seus
sucessores mortis causa os de natureza patrimonial, nos termos do nº 1 do art. 68º CC.

Personalidade jurídica é a susceptibilidade de ser titular de Direitos e obrigações.

À Personalidade Jurídica é inerente a Capacidade Jurídica ou a Capacidade de Gozo


de direitos (art. 67º CC).

É a medida de direitos e vinculações de que uma pessoa é susceptível, art. 67º CC,
traduzindo esta inerência, estabelece que “as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer
relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário: nisto consiste na sua
Capacidade Jurídica”.

Capacidade jurídica: é a medida de Direitos e obrigações que é susceptível de ser


titular.

Então, a Capacidade Jurídica seria a susceptibilidade de ser parte numa relação


jurídica.

42
A Capacidade jurídica divide-se em Capacidade de Gozo, é a medida de direitos e
vinculações de que uma pessoa pode ser titular e a que pode estar adstrita. É a medida
de Direitos e obrigações de que a pessoa ‗e susceptível de ser titular;

Capacidade de Exercício, consiste na medida de direitos e de vinculações que uma


pessoa pode exercer por si só pessoal e livremente. É a medida de direitos e
obrigações que a pessoa pode exercer ou cumprir por si, pessoal e livremente.

NB. Enquanto a personalidade jurídica ‗e um conceito puramente qualitativo, refere-se


apenas `a condição jurídica de entidade em causa, a capacidade jurídica tem um
sentido quantitativo, pois a medida de Direitos e obrigações de alguém poder titular ‗e
variável.

Por oposto existe a Incapacidade Jurídica, que é a medida de direitos e vinculações


de que uma pessoa não é susceptível. Há pessoas que são titulares da Capacidade de
Gozo, mas não de exercício. Pode-se ter Capacidade de Gozo genérica e não ter uma
Capacidade de Exercício genérica, ex. menores.

Existem duas formas de suprimento: a representação e a assistência

A representação, quando o incapaz não é admitido a exercer os seus direitos


pessoalmente. Para suprir a sua incapacidade tem de aparecer outra pessoa que actue
em lugar do incapaz.

A assistência, situações em que certas pessoas são admitidas a exercer livremente os


seus direitos. Nestes casos, o incapaz, pode exigir mas não sozinho. Ou seja, o
suprimento da incapacidade impõe única e simplesmente que outra pessoa actue
juntamente com o incapaz.

Pessoas as Singulares e Pessoas Colectivas

Todo o sujeito de Direito é necessariamente pessoa em sentido jurídico e estas podem


ser:

Pessoas as Singulares
São singulares os seres humanos vivos, desde que nascem até que morram.

Personalidade Jurídica

 Início da personalidade jurídica: Art. 66º nº1 C.Civil – ―A personalidade


adquire-se no momento do nascimento completo e com vida‖.

43
 Termo da personalidade: Art. 66º nº1 C. Civil – ―A personalidade cessa com a
morte‖.

Capacidade jurídica

Em princípio todas as pessoas singulares podem ser titulares de quaisquer Direitos e


adstritos a quaisquer obrigações, salvo disposição legal em contrário – Art. 67º C. Civil
referimo-nos `a capacidade de gozo em que ela ‗e genérica, sofrendo contudo algumas
excepções – as incapacidade concretas de gozo – que são insupríveis.

Exemplo de incapacidade de gozo:

Os menores não emancipados, os interditos e os inabilitados, não podem ser tutores.

Em regra também, as pessoas singulares são capazes de exercício podem exercer os


direitos e cumprir as suas obrigações por si pessoal e livremente.

Estas regra tem excepções: os incapazes que podem ser:

 Os menores;
 Os Interditos;
 Os inabilitados;

Menores: São aqueles que ainda não atingiram a maioridade, que segundo o C.Civil
ora em vigor nos termos dos seu artigo 122, atinge-se aos 21 anos, que é diferente
para efeitos políticos, que se atinge aos 18 anos, n.º 2 do artigo 73 CRM.

Interditos: nos termos do artigo 138 e seguintes do C.Civil são as pessoas que
declaradas por via de sentença judicial em virtude de padecerem de anomalias se
mostram incapazes de governar suas pessoas e bens, portanto, são equiparadas aos
menores. Eis as condições:

 Anomalia psíquica;
 Surdez – mudez;
 Cegueira.

Inabilitados: nos termos do artigo 152 e seguintes do C.Civil também só podem ser
decretados por sentença judicial e só podem ser os indivíduos cuja anomalia psíquica,
surdez-mudez ou cegueira, embora de caracter permanente, não seja de tal modo
grave que justifique a sua interdição, assim como aqueles que, pela sua habitual
prodigalidade ou pelo abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem
incapazes de reger convenientemente os seus patrimónios.

44
Formas de suprimento de incapacidade de exercício.

 Menores: Poder paternal (Pais) e na falta destes tutela (Tutores) representação.


 Interditos: tutela (tutores) representação
 Inabilitados: Curatela (curadores) – assistência.

Quanto a pessoas singulares, em princípio todas as pessoas singulares têm


Capacidade de Exercício de direitos. Tal regra resulta, não do art. 67º CC, que se
refere à Capacidade de Gozo ou Capacidade Jurídica, mas dos arts. 130º (efeitos de
menoridade), 133º (efeitos de emancipação) CC.

Pessoas Colectivas

Acabamos de referir a capacidade das pessoas singulares mas também existem


pessoas colectivas, que o Direito Objectivo atribui personalidade jurídica (organizações
com um substrato social e uma individualidade própria), por serem organizações
destinadas a realização de interesses comuns ou colectivos, isto é, o Direito atribui-lhes
personalidade jurídica para que possam ser titulares de relações jurídicas e para uma
melhor consecução dos fins sociais ou colectivos que se propõem.

São organizações constituídas por uma colectividade de pessoas ou por uma massa de
bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou colectivos, às quais a ordem
jurídica atribui a Personalidade Jurídica.

É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a susceptibilidade


de direitos e vinculações.

Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente


por bens, que constituem centros autónomos de relações jurídicas.

Há, duas espécies fundamentais de Pessoas Colectivas: as Corporações e as


Fundações.

As Corporações, têm um substracto 7 integrado por um agrupamento de pessoas


singulares que visam um interesse comum, egoístico ou altruístico. Essas pessoas ou
associados organizam a corporação, dão-lhe assistência e cabe-lhe a sua vida e
destino.

7
Substracto da pessoa colectiva É o conjunto de elementos da realidade
extrajurídica, elevado à qualidade de sujeito jurídico pelo reconhecimento. O
substracto é imprescindível para a existência da Pessoa Colectiva.

45
O Elemento Pessoal, verifica-se nas Corporações. É a colectividade de indivíduos que
se agrupam para a realização através de actividades pessoais e meios materiais de um
escopo ou finalidade comum. É o conjunto dos associados.

As Fundações, têm um substracto integrado por um conjunto de bens adstrito pelo


fundador a um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a
atribuição patrimonial a favor da nova Fundação, as directivas ou normas de
regulamentação do ente fundacional da sua existência, funcionamento e destino.

O Elemento Patrimonial, intervém nas Fundações. É o complexo de bens que o


fundador afectou à consecução do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se
habitualmente por dotação.

1.1. Órgãos

Conjunto de poderes organizados e ordenados com vista à prossecução de um certo


fim que se procede à formulação e manifestação da vontade da Pessoa Colectiva,
sendo assim que a Pessoa Colectiva consegue exteriorizar a sua vontade (colectiva).

 Órgão individual – decide;


 Órgão deliberativo – delibera.

Quanto a Pessoas Colectivas, tem plena capacidade negocial de exercício. Só


sofrerá restrições quando excepcionalmente, estiverem privadas dos seus órgãos,
agindo outras entidades em seu nome e no seu interesse, ou quando, para dados
efeitos, seja necessária a autorização de certas entidades alheias à Pessoa Colectiva .

As pessoas colectivas podem classificar-se em:

Pessoas Colectivas de Direito Publico de tipo territorial

 Estado
 Autarquias locais

Pessoas Colectivas de Direito Publico de tipo institucional ou institutos públicos

 Serviços administrativos personalizados

46
Ex: I.C.M.; Laboratório de engenharias, etc.

 Fundações públicas (fundação – Empresas publicas)

1 – Empresas de serviços públicos (R.M.; TVM; etc)

2 – Empresas públicas económicas (TDM; CFM; etc)

Pessoas Colectivas de Direito Publico de tipo associativo

 Associações públicas.

Pessoas Colectivas de Direito Privado

* Fundações Art. 185º e ss C. Civil Ex: Associações dos Antigos de Zavala, etc.

* Associações (em sentido restrito; sem fins lucrativos)

Ex: Zonas Verdes; Associações dos Criadores do Gado; etc.

Sociedades Comerciais

 Em nome colectivo
 Em comandita;
 Anónimas;
 por Quotas.

Personalidade Jurídica das Pessoas Colectivas e Sociedades Comerciais

Aquisição de Personalidade

 Adquirem-na através do reconhecimento – Art. 157º e ss e lei 8/91

47
Causas de extinção de personalidade Art. 182º C. Civil.

 Pelos estatutos da pessoa colectiva (se tal estiver previsto);


 Quando o seu fim se tenha esgotado ou se haja tornado impossível;
 Quando o seu fim real não coincide com o fim expresso no acto da constituição
ou nos estatutos.
 Quando o seu fim seja sistematicamente e prosseguido por meios ilícitos ou
imorais; e
 Quando a sua existência se torne contrario `a ordem pública.

Objecto

2. Coisas

Num sentido corrente e amplo, coisa é tudo o que pode ser pensado, ainda que não
tenha existência real e presente. Num sentido físico, coisa é tudo o que tem existência
corpórea, “quod tangi potest”, ou pelo menos, é susceptível de ser captado pelos
sentidos.

Quanto ao sentido jurídico de coisa, há que considerar o art. 202º CC, onde se contém
a seguinte definição: “diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relações
jurídicas.”

Podemos definir as coisas em sentido jurídico como os bens (ou entes) de carácter
estático, desprovidos de personalidade e não integradores de conteúdo necessário
desta, susceptíveis de constituírem objecto de relações jurídicas, ou, toda a realidade
autónoma que não sendo pessoa em sentido jurídico, é dotada de utilidade e
susceptibilidade de denominação pelo homem.

Para esses efeitos devem apresentar as seguintes características:

 Existência autónoma ou separada;


 Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém;
 Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas.

Inversamente não é necessário:

 Que se trate de bens de natureza corpórea;


 Que se trate de bens permutáveis, isto é, com valor de troca;
 Que se trate de bens efectivamente apropriados.

48
2.1. Classificação das coisas

A lei indica no art. 203º CC, as várias classificações de coisas:

 Coisas corpóreas ou materiais: são caracterizadas por serem apreendidas pelos


sentidos;
 Coisas incorpóreas ou imateriais: serão as meras criações do espírito humano,
não podendo como tais ser apreendidas pelos sentidos;

2.2. Património

É tudo aquilo que se mostra susceptível de ser avaliado em dinheiro.

O Património tem uma função externa, em que o património do devedor é a garantia


comum dos credores do seu titular

3. Factos Jurídicos

É todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante. Esta


relevância jurídica traduz-se principalmente, senão mesmo necessariamente na
produção de efeitos jurídicos.

A constituição de uma relação jurídica depende sempre de um evento, evento esse a


que o Direito reconhece relevância como fonte de eficácia jurídica. A delimitação de
facto jurídico é tarefa que cabe ao próprio Direito.

4. Actos jurídicos

O acto jurídico é uma manifestação de vontade e que como tal, a norma atribuí
efeitos de Direito. Nos diversos actos humanos existe sempre uma manifestação de
vontade, sendo que esta é o elemento relevante do acto jurídico, que é entendida e
considerada pelo direito.

O prof. Castro Mendes, diz que só estamos na presença de um acto jurídico quando
pensamos num facto voluntário a que a Ordem Jurídica liga efeitos de Direito, em
atenção à sua voluntariedade.

49
A simples conjugação destes elementos permite a formulação de actos jurídicos,
entendendo-se aqui, a manifestação de vontade como tal, a norma jurídica atribuí
efeitos de Direito.

5. Negócios jurídico

Os negócios jurídicos são actos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar
sob tutela do direito, determinado o ordenamento jurídico produção dos efeitos jurídicos
conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.

O negócio jurídico é essencialmente um instrumento de regulação de interesses que se


obtém através da estipulação das partes ou da própria lei que integra o negócio

O negócio jurídico enquadra-se nos actos intencionais e caracteriza-se sempre pela


liberdade de estipulação.

No negócio, tem de haver de acção, sem esta, o negócio é inexistente. O autor do acto
tem de querer um certo comportamento exterior por actos escritos ou por palavras.
Tem de ser de livre vontade, de outra maneira será inexistente (ex. coacção física), tem
de haver uma declaração (exteriorização da vontade do agente), constitui um
elemento de natureza subjectiva.

O negócio diz-se singular, se apenas intervém uma pessoa, se intervierem mais de


que uma pessoa, o negócio diz-se plural.

Nos negócios unilaterais, há uma declaração de vontade ou várias declarações, mas


paralelas formando um só grupo. Nos contratos ou negócios bilaterais, há duas ou
mais declarações de vontade, de conteúdo oposto, mas convergentes, ajustando-se na
sua comum pretensão de reduzir resultado jurídico unitário, embora com um significado
para cada parte.

5.1. Estrutura do negócio jurídico

São elementos essenciais da estrutura do negócio jurídico:

 A Vontade;
 A Declaração;
 A Causa.

50
DIREITO COMERCIAL

Direito Comercial: é o complexo ou conjunto de normas ou regras judiciais a


actividade das empresas e dos empresários e mesmo os actos de comércio, mesmo
que não tenham em conta empresa.

As relações estabelecidas entre estes ramos do Direito são importantes, na medida em


que são muito frequentes as relações jurídico-comerciais ligadas por alguns dos seus
elementos (sujeitos, objecto, etc.) a ordens jurídicas de Estados diferentes.

Actos de Comércio

Regime Jurídico dos Actos de Comércio

Nos termos do artigo 4º C.Com.: ―Serão considerados actos de comércio os actos


especialmente regulados na lei comercial e os actos praticados no exercício de uma
empresa comercial desde que deles e das suas circunstâncias não resulte o contrário.

Portante, serão actos de comércio os que se achem especialmente regulados no


código comercial e, alem deles todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que
não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar‖

O nosso legislador do C.Com. Limita-se a remeter para outras disposições mas tudo se
passa como se as várias actividades comerciais fossem iniciadas logo pelo próprio
artigo 4.

Deve considerar-se actos de comercio não só os especialmente regulados no C.Com.,


(ex: conta Corrente artigo 344º) mas também os simultaneamente regulados no C.Com.
e no CC (fiança, artigo 101 do C.Com. e artigo 627 CC); a compra e venda do artigo
463º C.Com. e artigo 874 CC), etc. E além disso os regulados em legislação posterior
ao C.Com., sendo em regra fácil saber se uma lei é ou não comercial, porque a própria
lei o diz ou dá a entender mais ou menos claramente.

Depois de conhecida a definição legal de actos de comércio, passaremos a delimitar o


mesmo:

Sistema de Determinação de Actos de Comércio

51
Parte-se da noção de comércio ou de actos de comércio para a de comerciante.
Devem a sua comercialidade ao facto de se ajustarem em concreto a um dos tipos de
actividades descritos na lei mercantil.

Sistema Objectivo

A lei enumera de forma implícita os actos considerados comerciais, sendo que basta
que se pratique estes actos para que estejamos perante actos de comércio. É com
fundamento ou base na lei que se determinam os actos de comércio, mais
precisamente na al. a), nº 1 do artigo 4, do C.Com que a seguir transcreve-se ― Serão
actos de comércio os actos especialmente regulados na lei em atenção às
necessidades da empresa comercia, designadamente os previstos neste código e os
actos análogos todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste código.

Na al. a), nº 1 do artigo 4, a comercialização reside neles próprios, não está na pessoa
que os pratica, portanto é objectiva.

Exemplo: algum não comerciante compra um carro com o intuito de o revender.

Sistema Subjectivo

Parte-se da noção de comerciante para a de Acto de Comercio, sendo portanto este o


acto do comerciante no exercício da sua actividade mercantil. Partimos do preceituado
na al. b), nº 1 do artigo 4 C.Com que reza o seguinte: ―Os actos praticados no exercício
de uma empresa comercial.

Acrescenta a o nº 2 do artigo 4 do C.Com o seguinte: ―Os actos praticados por um


empresário comercial consideram tê-lo sido no exercício da respectiva empresa, se
deles e das circunstâncias que rodearam a sua prática não resultar o contrário.‖.

Temos aqui um conjunto de actos definidos em função da qualidade do seu sujeito:


Comerciante. Mas comerciante é aquele que faz profissão a prática de actos de
comércio, além das sociedades comerciais, e, em princípio, qualquer pessoa com
capacidade civil pode ser comercial, a noção de comerciante assenta também na
noção de actos de comércio.

A expressão ― ... todos contratos e obrigações dos comerciante é aquele que faz
profissão a pratica de actos de comercio, alem das sociedades comerciais, e em
principio, qualquer pessoa com capacidade civil pode ser comerciante ou constituir
noção de acto de comercio.

52
A expressão ― ...todos contratos e obrigações dos comerciantes ...‖, abrange todos os
factos dos comerciantes susceptíveis de gerar obrigações.

A expressão ― ...que não forem de natureza exclusivamente civil ..., deve ser entendida
no sentido de actos que nunca podem ter natureza comercial por exemplo, consideram-
se actos de natureza exclusivamente civil o casamento, a doação, a renda perpétua.

A expressão ― ...se deles e das circunstancias que rodearam a sua prática não resultar
o contrario. ―significa: que se do próprio acto (e não de circunstancias só mais tarde
conhecidas) não resultar que não é comércio. Por exemplo, uma compra de coisa
móvel feita por um comerciante sem que saiba se é para a revenda ou para aluguer, ‗e
comercial; mas, se do próprio acto resultar que ‗e para consumo ou uso do próprio
comercial. Assim, se um comerciante retalhista de mercearia, compra um par de
sapatos para um filho, tal compra não ‗e manifestamente comercial.

Para terminarmos o nosso estudo sobre o sistema de determinação de actos de


comércio, resta-nos chamar a atenção para o seguinte:

A principal preocupação do artigo 4 C.Com. está em, contrariar os actos de comércio


aos actos civis. Isto é, uma vez praticado um acto, teremos que proceder a um
exercício mental para descobrimos se será mercantil ou civil.

Exemplo 1: o Sr. Abelardo, comerciante pratica um acto e nós estamos interessados


em determiná-lo se será ou não mercantil.

Primeiro: teremos que recorrer a na al. a), nº 1 do artigo 4 C.Com. e se o acto não
estiver especialmente regulado na legislação comercial como tal então não será acto
de comércio.

Segundo: Não sendo um acto de comércio determinado objectivamente, pelas razões


acima apontadas, teremos que olhar para a pessoa do S. Abelardo, e logo ficamos a
saber que ele é comerciante.

Terceiro: Logo, teremos que recorrer na al. b), nº 1 do artigo 4 C.Com. e nesta teremos
3 soluções diferentes.

a) O acto será comercial determinado subjectivamente se resultar de obrigação ou


contrato, porque ele é comerciante;
b) Mas se o acto for de natureza exclusivamente civil, não será um acto de
comércio, mas sim civil;
c) Porém, se do próprio acto resultar que ele é comercial, então será civil e o
contrário será comercial;

53
Exemplo: os actos praticados pelos comerciantes, dizem-se comerciais; vender,
comprar, etc., se não fores exclusivamente civis.

Classificação dos Actos de Comércio

Não se deve confundir a distinção feita no artigo 4 C.Com., entre actos objectivos e
actos subjectivos com a que se segue. São duas classificações distintas, segundo
critérios diferentes.

Nos sistemas de determinação de actos de comércio (objectivos e subjectivos), temos


em vista verificar se estaremos perante um acto mercantil ou civil; ao passo que a
distinção entre actos objectivos e actos subjectivos iremos nos limitar aos actos de
comércio.

Uma vez chegamos à Conclusão (depois de determinação de que o acto é mercantil,


deveremos proceder à sua classificação, que pode ser a seguinte:

 Actos de Comércio Objectivos e Actos de Comércio Subjectivos;


 Actos de Comércio Absolutos ou por Natureza e Actos de Comércio por
conexão; e
 Actos de Comércio Puros e Actos de Comércio Mistos.

Em seguida, iremos retractar cada um deles.

Actos De Comercio Objectivos

São os qualificados como comerciais em função de requisitos, não subjectivos, mas


antes relacionados com o seu próprio conteúdo.

São actos que estão especialmente regulados na legislação comercial como tais.

Ex: A conta corrente - Art. 463º

Actos De Comercio Objectivos Subjectivos

São os qualificados pelo Direito como comerciais em função de requisitos ligados ao


seu sujeito. Se os sujeitos forem comerciantes, estão, o acto será mercantil.

54
Ex: contrato individual de trabalho entre um comerciante e um trabalhador (não
comerciante) para prestar, no estabelecimento regulada na lei comercial.

Actos de Comércio Absolutos ou Por Natureza

São os que têm por si próprios natureza comercial e a lei encontra características
especificas do comércio.

Os actos de comércio absolutos abrangem uma parte dos actos de comércio


objectivos.

Ex: A conta corrente – Art. 344º; Art. 463; etc..

Actos de Comercio por Conexão

São aqueles a que a lei atribui comercialidade atendendo `a sua especial relação com
determinado (outro) acto de comércio em geral.

Os actos de comércio por conexão abrangem os restantes actos de comércio


objectivos (que não cabem nos actos de comércio absolutos) e os subjectivos.

São actos que praticados autonomamente, não seriam actos de comércio, mas como
estão especialmente ligados a um acto mercantil, então, também serão considerados
actos de comércio.

Ex: A Fiança – Art. 101º; Art. 231º; Art.394º.

A Classificação dos actos de comércio em absolutos e por conexão tem grande


importância para a determinação do comerciante, referido no C. Com.: Em princípio é
comerciante quem pratica profissionalmente actos de comércio absolutos.

Actos De Comércio Puro

São os actos considerados comerciais em relação a todos os seus sujeitos.

Ex: Um comerciante grossista e outro retalhista, as compras que este fizer `a aquele
serão sempre comerciais.

55
Actos De Comércio Mistos

São os qualificados como comerciais em relação a um dos sujeitos apenas.

Ex: Um comerciante que compra um automóvel para seu uso pessoal (acto civil) a um
outro que comprara para revenda (acto mercantil).

A própria lei comercial atribui personalidade jurídica `as sociedades comerciais – art.
108. 108º C.Com.

Sujeitos da Relação Jurídica Comercial

O Direito Comercial não retira a personalidade jurídica a qualquer pessoa singular ou


colectiva que o seja por força de outros ramos do direito. A questão de saber se essas
pessoas podem ou não ser sujeitos de Direitos e Obrigações Comerciais é, todavia,
uma questão de capacidade jurídica.

Depois do explanado acima, sobre a relação jurídica partiremos do pressuposto que a


matéria já é do nosso conhecimento e agora a abordagem na perspectiva comercial.

A personalidade jurídica é adquirida no momento de nascimento completo e com vida


da pessoa singular e pelo reconhecimento quando `as pessoas colectivas, já o diz a lei
Civil e esta norma ‗e valida para todo o Direito e não somente para o Direito Civil; isto
é, só poderão ser sujeitos da relação jurídica comercial as pessoas (entes ou
personalidade jurídica), desde que tenham a necessária capacidade jurídica de gozo,
isto ‗e, assim porque como j‘a se explanou, a incapacidade de gozo ‗e insuprível, ao
contrario da tutela) e pela assistência (curatela).

Vigora o princípio de especialidade, Art. 160º C. Civil em que a capacidade das


pessoas colectivas abrange todos direitos e obrigações necessários ou convenientes à
prossecução dos seus fins, insto é, ter uma capacidade específica de gozo e
capacidade genérica de exercício.

A capacidade para o exercício da actividade empresarial encontra-se no artigo 9º


C.Com, capacidade para actos de comércio.

―Pode ser empresário comercial toda a pessoa singular, residente ou não residente, ou
pessoa colectiva, com sede estatutária no país ou não, que tiver capacidade civil…‖.

Quanto o Direito e as Obrigações comerciais de que alguém pode ser titular


(capacidade de gozo), valem as mesmas regras das estudadas sobre o assunto,
embora com algumas restrições. Art. 9C.Com.

56
Comerciante

Quando pode ser comerciante? E como se adquire essa qualidade?

Quando à primeira questão, a sua resposta depende essencialmente da medida em


que seja reconhecida a liberdade do comércio, e da natureza e efeitos das limitações
legais a essa liberdade.

Quanto à segunda questão, ela respeita ao conjunto de actos ou formalidades de que a


lei faz defender a produção do efeito aquisitivo da qualidade de comerciante, ou seja,
quanto aos comerciantes individuais, essencialmente, a prática profissional de actos de
comércio e, quanto as sociedades comerciais a sua constituição.

Aquisição da Qualidade de Comerciante

As relações jurídico-mercantis podem estabelecer-se tanto entre comerciantes como


entre não comerciante. (C.Com. artigo 1); tanto entre pessoas singulares como entre
pessoas colectivas (trate-se ou não de sociedades comerciais).

Vamos agora ocupar-nos das condições de que depende a aquisição de qualidade de


comerciante, e elas resultam do seguinte:

 Da circunstância de na lei existir, em termos gerais, uma presunção de


comercialidade para os actos dos comerciais, al. b) nº 1 do artigo 4 C.Com.
 Da circunstância de só os comerciantes estarem sujeitos aos deveres gerais do
artigo 18 C.Com.
 Do facto do instituto de falência ser, em princípio, privativo dos comerciantes.
Para os não comerciantes, aplica o instituto de insolvência civil.
 Por ultimo de existência na lei, de particulares facilidades para a prova das
obrigações mercantis dos comerciantes ‗e o que resulta do Art. 396º para o
empréstimo mercantil e do Art. 400º para o penhor mercantil.

Segundo a definição legal, pois a lei comercial define quem pode ser comerciante, no
seu artigo 2, teremos os seguintes entes como comerciantes:

 As pessoas singulares;

57
 As pessoas colectivas; e
 As sociedades comerciais.

Portanto, são comerciantes as pessoas, que tendo capacidade para praticar actos de
comércio, fazem deste profissão;

As sociedades Comerciais.

Pelo artigo 2 C.Com, podem ser comerciantes para alem das pessoas singulares e
colectivas, as sociedades comerciais, e estas podem ser as seguintes:

 Sociedades em nome colectivo;


 Sociedades em comandita;
 Sociedades anónimas;
 Sociedades por quotas;

Parte-se do princípio que a sociedade comercial é uma empresa com actividade


comercial organizada com o intuito de obter o lucro.

Em seguida iremos abordar de forma geral as características essenciais de cada uma


delas.

Sociedades em nome colectivo

Caracteriza-se pela responsabilidade pessoal, solidário e ilimitada dos sócios perante


os credores sociais. Quer isto significar que no caso de dívida da sociedade uma vez
executado o património da sociedade a dívida será da responsabilidade de qualquer
um dos sócios.

Ex: António Sousa, Companhia.

Sociedades em comandita

E uma combinação entre as sociedades em nome colectivo e sociedades anónimas,


pois intervém nela sócios que assumem responsabilidade ilimitada como os sócios das
sociedades em nome colectivo sócios comanditados) e sócios que só arriscam o valor
das suas entradas como os accionistas das sociedades anónimas (sócios
comanditários).

58
N.B.: Só devem constar no nome da sociedade, os nomes dos sócios comanditados.

Sociedades em nome colectivo

São uma sociedade típica de participação de capitais, em que cada quota representa
uma acção, e a responsabilidade civil dos sócios, restringe-se apenas `a fracção de
cada um deles e ela ‗e limitada.

Sociedades por quotas

A responsabilidade é solidária pela realização das quotas no capital social, porque


pode haver subscrição e não realização do capital.

A responsabilidade perante credores, cinge-se apenas ao património da sociedade.


tem que haver especificação do objecto da actividade da sociedade.

Quando é que uma sociedade é tida por comerciante?

―São condições essenciais para que uma sociedade se considere comercial:

 Que tenha por objecto praticar um ou mais actos de comércio;


 Que se constituam em harmonia com os preceitos do Código Comercial ― artigo
82 C.Com.

A primeira condição é que constitui realmente um requisito de atribuição de


comercialidade as sociedades. A segunda é apenas um registo de formalidade.

Empresário Comercial Singular

Requisitos

Com base na noção legal de comerciante, ―São comerciantes aqueles que tenham
capacidade para praticar actos de comércio o que significa capacidade comercial de
exercício ou, mais exactamente capacidade negocial específica para a prática de actos
de comércio. Isto é, quem não tiver a necessária capacidade comercial de gozo, não
poderá ser empresário comercial.

59
Mas não é suficiente a capacidade comercial de gozo: a lei exige a capacidade
comercial de exercício, de harmonia com entendimento adoptado.

De outras lições, mais precisamente da referente à capacidade jurídica das pessoas


singulares, referindo-nos às pessoas singulares, diremos que estas tem capacidade
comercial de exercício, com os mesmos limites que a capacidade civil, aliás é o que se
extrai do artigo 9 C.Com.

Importa agora notar que a prática de actos de comércio por incapaz, mas como modo
de vida habitual, não tem como consequência a aquisição de qualidade de
comerciante, tal prática é ineficaz (Nota: Ineficácia do acto jurídico, consiste em a lei
considerar o acto jurídico inadequado para produzir os efeitos que o seu autor ou
autores tinham em vista).

Não se diz que seja nula ou anulável, porque a nulidade e a anulabilidade se aplicam
apenas a actos isolados não à actividades e porque o que está em causa agora é
apenas o efeito legal da aquisição da qualidade de comerciante.

Sendo assim, podemos afirmar que os menores, os interditos e os inabilitados não


podem, em regra ser comerciantes.

Porém, toda a regra, comporta alguma excepção.

Excepções:

 O menor, maior de 18 anos, pode ser empresário comercial quando seja


autorizado a exercer essa profissão, nos termos estabelecidos pelo artigo 10
C.Com. Neste caso, o menor terá capacidade civil e comercial de exercício para
a profissão.
 Os pais, tutor e o curador autorizados pelo tribunal podem continuar o comércio
em que o menor interdito ou inabilitado suceda (por morte de comerciante) mas
só os pais (não o tutor e o curador), desde que autorizados pelo tribunal, podem
iniciar novo comércio em nome e por conta do menor.

Inexistência de Incompatibilidade

A lei estabelece diversas situações em que o exercício profissional do comércio e,


consequentemente, a qualidade do comerciante é incompatível com outras actividades
ou qualidades.

60
Quando a incompatibilidade se destina apenas a proteger o comércio (por exemplo:
defender os comerciantes). O exercício profissional da actividade mercantil é lícito e
ineficaz. Aquele que apesar disso, a exerce fica sujeito à responsabilidade civil e,
porventura, também disciplinar, e não adquire a qualidade de comerciante.

Ex: A inibição do falido para exercer o comércio.

Art. 191 do Código do Processo Civil

Quando a incompatibilidade se destina apenas a proteger determinados cargos ou


situações, o exercício do comércio é ilícito e, consequentemente, envolve
responsabilidade civil e/ou disciplinar, mas quem o exercer profissionalmente adquire a
qualidade de comerciante.

Ex: Art. 173º, 93 e 4º C.Com. quanto as Sociedades Anónimas, Art. 31º do código
sobre as sociedades por quotas.

Prática Profissional de Actos de Comercio

É óbvio que para ser comerciante não basta ter capacidade para tal; no estar afectado
por qualquer incompatibilidade e estar autorizado pelas autoridades administrativas par
exercer o comercio: E preciso praticar efectivamente actos de comércio como
profissão.

Isto significa o seguinte: É preciso praticar actos de comércio objectivos e absolutos,


em nome próprio ou através de representante; e pratica-los habitual ou regularmente,
como modo de ganhar a vida. A aquisição da qualidade de comerciante ‗e
precisamente um efeito desta prática profissional de actos de comércio.

Obrigações Especiais dos Comerciantes

As obrigações especiais dos comerciantes constam de lei comercial, mas precisamente


no artigo 18 C.Com. e estas são comuns aos comerciantes individuais e as sociedades
comerciais. Os comerciantes são especialmente obrigados:

 A adoptar uma Firma


 A ter escrituração mercantil;
 A fazer inscrever no Registo Comercial os actos a ele sujeitos;
 A dar Balanço e a prestar contas.

61
Em seguida iremos abordar em especial cada uma destas obrigações:

Noção de Firma

A Firma (ou nome comercial) é o nome ou designação que identifica o comerciante na


sua actividade mercantil. Ela corresponde à necessidade de intensificação do
comerciante como tal parente aqueles que negoceiam com ele e de diferenciação
relativamente a outros comerciantes do mesmo ou de outros ramos.

A firma a medida que vai sendo conhecida, ganha importância como sinal de qualidade
ou prestigio do comerciante, podendo tornar-se num factor patrimonialmente relevante
de atracão de clientela.

Convém não confundir a Firma (sinal nominativo de comerciante) com o nome do


estabelecimento, que é um sinal figurativo ou emblemática que identifica o
estabelecimento.

Também dever-se-á distinguir a Firma da marca, pois esta última identifica os produtos
da actividade do comerciante.

Direito a Firma

O comerciante tem o direito de usar a firma e só o comerciante ou quem ele autorize a


agir em seu nome tem esse direito em relação a sua própria Firma.

A Firma constitui o objecto de um direito subjectivo, correspondente a interesse do


comerciante, quer de natureza pessoal, semelhantes aos protegidos pelo direito ao
nome civil (artigo 72 C.C.), quer de natureza patrimonial semelhantes aos tutelados
pelos direitos reais sobre bens imateriais, na medida em que atrai clientela, merece
crédito e tem valor, sendo susceptível de transmissão.

A lei protege – garante – de diversos modos o direito exclusivo à firma, desde que
registada, artigo 24 C.Com).

Para que se registe uma firma é necessário obter-se a Certidão da Conservatória do


Registo Comercial, a confirmar a não existência de firma semelhante.

Mas nem sempre estes meios preventivos são suficientes para assegurar os direitos
relativos a firma e, por isso, a lei prevê a possibilidade de utilização de vários meios
repressivos:

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 A proibição do uso ilegal de firma
 A acção de indemnização por perdas e danos
 A acção criminal se a ela houver lugar.

Os Princípios da Verdade e do Exclusivismo da Firma

A firma na sua composição ‗e denominada fundamentalmente por três princípios: o da


verdade, o da novidade e o do exclusivismo.

O Princípio da Verdade

Este princípio resulta dos artigos 19 e 26 do C.Com. O principio de verdade exige que a
firma seja constituída pelo nome do comerciante em nome individual ou de um ou mais
sócios da sociedade, quando de a conhecer o objecto social, e quando denominação,
qual o ramo de comercio exercido, e em todos os casos, qual o tipo da sociedade.

Graças a este princípio, pode o público facilmente saber se determinada firma pertence
a um comerciante singular ou a uma sociedade; se tratar de firma, quais alguns dos
seus sócios se de denominação, qual o ramo de comercio exercido, e em todos os
casos, qual o tipo da sociedade.

O Princípio da Novidade

Este princípio resulta do artigo 20 C.Com. nos termos deste princípio, a firma deve
revelar distinção entre ela e as demais já registadas ou reconhecidas.

Os Princípios do Exclusivismo

Este princípio resulta do artigo 24 do C.Com. O princípio de exclusivismo impõe que a


firma de cada comerciante seja distinta da dos outros comerciantes, assegurando
assim a própria função essencial da firma, que consiste em individualizar ou distinguir o
comerciante no exercício do seu comércio.

63
Composição da Firma

Dos comerciantes em nome individual

Para composição de sua firma, deve o comerciante em nome individual observar o


disposto no Art. 20º C.Com. Estabelece este artigo três formas para a firma do
comerciante em nome individual a saber:

 O nome civil completo;


 O nome abreviado; e
 Aquele ou este com aditamento da espécie de comércio.

A lei faculta a utilização de qualquer destas formas, para que através delas fiquem
perfeitamente individualizados os comerciantes que porventura tenham nomes civis
idênticos, fazendo assim respeitar o princípio de exclusivismo.

É para esses fim o código excepcionalmente autoriza que a firma pessoal constante,
como aditamento do nome do comerciante, a dignação da espécie de comercio que
exerce.

Das sociedades

A lei estabelece para cada tipo de sociedade regras a que deve obedecer a
composição da sua firma.

Sociedades em nome colectivo

Nos termos do artigo 29 do C.Com., a firma das sociedades em nome colectivo deve
reproduzir o nome de todos os sócios, sem mais; ou apenas mencionar o nome de um
ou alguns deles, acrescido de designação ―Sociedade em Nome Colectivo‖ ou ―SNC‖.

Ex: Alberto Mafu Marrine & filhos, SNC.

Sociedades em Comandita

São constituídas por duas espécies de sócios, os de responsabilidade ilimitada ou


comanditados e os de responsabilidade limitada ou comanditários, mas só os nomes
dos primeiros podem figurar na firma da sociedade – Art. 22º C.Com.

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A firma deve conter o nome de um ou mais sócios de responsabilidade limitada,
devendo ser acrescido de um aditamento que indique a existência de sociedade em
comandita. Assim, teremos o aditamento,― Sociedade em Comandita‖ ou ―SC‖, para as
Sociedades em Comandita Simples e ―Sociedade em Comandita por Acções‖ ―SCA‖
para as Sociedades em Comandita por Acções.

Ex: Mandande, Guirissica, Mandevo, Sociedade em Comandita.

Hassane, Sousa, Munguambe, SCA.

Sociedades Anónimas

Nos termos do artigo 34 C.Com., a firma das sociedades anónimas é constituída


nuclearmente por uma denominação, que deve dar a conhecer o objecto da sociedade,
isto é, o ramo de comércio a que se dedica.

Além do elemento nuclear, a firma da sociedade anónima comporta obrigatoriamente


outro elemento, que revela o tipo da sociedade a que pertencera expressão Sociedade
Anónima de Responsabilidade Limitada ou as inicias S.A.R.L.; que podem preceder ou
seguir a denominação nuclear.

Ex: UNIVENDAS - União de Compras e Vendas, SARL.

Entreposto Comercial de Moçambique, SARL.

Sociedades por quotas

Nos termos do artigo 32 do C.Com. as sociedades por quotas podem constituir-se com
firma stricto sensu ou denominação particular. De uma ou de outra forma, deverá
sempre a firma conter o elemento individualizado da espécie da sociedade, que é a
expressão ―LIMITADA‖. A firma stricto sensu deve ser constituída pelo nome de todos
ou alguns dos sócios.

A denominação particular, quando seja adoptada pela sociedade por quotas, deve dar
a conhecer quanto possível o objecto da sociedade.

Ex: SOMOFER – Sociedade Moçambicana de Ferragens, Lda.

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Alterações da Firma

Constituída a firma, pode ela não se manter inalterada durante todo o tempo de
actividade mercantil do comerciante.

Porém, por imperativos de lei a firma pode ser alterada, assim, a firma deve ser
alterada nos casos de aquisição mortis causa, nos termos do artigo 36 do C.Com e em
caso de morte ou saída de um dos sócios cujo nome figura na firma, e não autorizar
que este nela subsista, artigo 37 do C.Com.

Transmissão da Firma

A firma pode ser transmitida por acto entre vivos e por morte, nos termos do artigo 36
C.Com.

A face destes preceitos, não é lícita a transmissão de firma independente devendo esta
ser sempre acompanhada da respectiva empresa.

Extinção da Firma

O comerciante em nome individual pode cessar a sua actividade porque resolveu pôr-
lhe termo, e cessa-a por ter falecido.

No caso de pôr-lhe termo, a lei faculta-lhe a transmissão da empresa conjuntamente


com a firma, de modo que esta só se extinguirá se tal transmissão não se verificar.

No caso de transmissão da firma por mortis causa com o estabelecimento, e a firma só


virá a extinguir-se se os respectivos sucessores não continuarem a actividade mercantil
do falecido; ou não transferir em por seu turno o estabelecimento e a firma.

As sociedades cessam a sua actividade normal geralmente por dissolução mas, como
depois da dissolução a sociedade ainda fica com existência, embora apenas para
efeitos de liquidação e partilha, a firma subsiste, devendo aditar-se-lhe a expressão
―em liquidação‖.

Não obstante o acima arrolado, a firma pode ainda ser extinguida por vício, depois de
requerida a sua anulação ou nulidade.

Pode ainda ser extinta por caducidade e renúncia.

66
Escrituração Mercantil

Noção de Escrituração

A escrituração comercial consiste no registo, em livros adequados de actos e


operações dos comerciantes que podem influir sobre a sua fortuna ou situação
patrimonial, e bem assim de deliberação dos corpos colectivos das sociedades.

Tais livros umas vezes arquivam operações ai lançadas pela sua descrição sintética e
pelo seu valor - como livro de Inventario, Balanços e Diário; outras vezes, reproduzem
actos dos comerciantes, cartas ou telegramas - como o livro Copiador; outras ainda,
deliberação dos corpos colectivos das sociedades – como os livros de Actas.

A escrituração, de acordo com o artigo 42 C.Com., deve dar a conhecer fácil, clara e
precisamente as operações e a fortuna dos comerciantes. A contabilidade é a técnica
de escriturar os livros, em ordem a que a escrituração comercial preencha os requisitos
que aquele preceito indica.

Em linguagem corrente, os termos Contabilidade e Escrituração usam-se muitas vezes


como sinónimos, e não apenas para designar o registo das operações, actos e
deliberações em livros, mas ate os próprios livros em que esse registo se efectua.

Objecto de Escrituração

O objectivo de escrituração são as operações, os actos dos comerciantes e as


deliberações dos corpos colectivos das sociedades.

Livros Obrigatórios e Auxiliares

Os comerciantes estão sujeitos a obrigações de ter livros em que não de efectuar a sua
escrituração, mas essa obrigação só respeita aqueles livros que a lei considera
indispensáveis.

Nos termos do artigo 43, constituem indispensáveis ou obrigatórios os livros seguintes:

 Livros de diários;
 Livros de Inventários;
 Livros de balanços;
 Livro de actas, mas apenas obrigatórios para os empresários comerciais e
pessoas colectivas.

67
O livro de diário serve para nele serem lançados, individualmente e diariamente, todos
os actos relacionados com a actividade empresarial, sendo válida a anotação conjunta
dos totais das operações por períodos não superiores a um mês, desde que a sua
descrição conste nos noutros livros ou registos auxiliares.

O livro de inventários e balancos abre com o balanco inicial, no início da actividade,


e detalhado da empresa e nele são lançados os balancos a que o desempenho
comercial será obrigado por lei, ou seja que ele é obrigado a fazer nos primeiros três
meses do ano imediato.

O livro de actas são lancadas as actas das reuniões e sócios associados, de


administradores e do órgão de fiscalização.

A par dos livros obrigatórios, existem livros auxiliares que em regra o comerciante pode
ter ou não, conforme lhe aprouver e cujo número e espécie são igualmente derivados
ao seu arbítrio.

Os livros auxiliares destinam-se por um lado, a premir pormenorizar lançamentos que


se efectuam em conjunto ou em globos de livros obrigatórios e, por outro lado,
agrupam segundo determinados critérios as operações que constam dos livros
fundamentais, para obter uma melhor fiscalização da escrita, ou em melhor a
orientação do negocio.

São livros auxiliares, por exemplo, Memorial, Caixa, Livro de mercadorias gerais, o livro
de Letras a pagar e receber, e os devedores e credores.

O Registo Comercial

O registo mercantil tem essencialmente, por fim, dar publicidade comerciante de


pessoas singulares e sociedades, `a identificação de navios e aos factos referentes aos
comerciantes ou aos navios que a lei nela manda inscrever e isto para garantia de
terceiros.

A publicidade da qualidade de comerciantes e a identificação de navios realizam-se em


primeira linha mediante a matrícula, e a dos factos sujeitos e registo mediante a
respectiva inscrição.

Para que o registo se mantenha actualizado e vença a sua função, porém, necessário
que todas as alterações ao conteúdo das matrículas e inscrição e `as extinções dele

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constem, o que se faz através de averbamentos, quer as matriculas quer `as
inscrições.

O Registo Provisório e Definitivo

O registo pode ser efectuado definitiva ou provisoriamente

Registo Provisório pode sê-lo:

Por natureza: em virtude de expressa disposição da lei, só como provisório pode ser
requerido e efectuado;

Por dúvidas: se ao conservador sendo-lhe requerido o registo como definitivo, não


parecer liquido definir tal pretensão ou recusa-lo.

Por natureza e por dúvidas simultaneamente: Sempre que participe das


características daquelas duas espécies.

A Escrituração Comercial como Meio de Prova

Na 1ª Hipótese, os livros de cada um fazem prova contra ele, mas a outra parte que
dele se quiser socorrer devera igualmente aceitar o que lhe seja prejudicial.

Na 2ª hipótese, os livros de cada um fazem prova não só contra mas também a favor
do comerciante a quem pertencem, e se houver divergência entre as escritas
regularmente arrumadas, será este resolvido pelo recurso a outros meios de prova.

Na 3ª hipótese, os livros regularmente arrumados fazem prova contra e a favor do


comerciante a quem pertençam; os livros que não estão regularmente arrumados
fazem prova contra o comerciante a quem pertençam; e, havendo divergência entre o
que constar de escrita regularmente arrumado e de que o não está, prevalece aquele
sobre esse, salvo sempre e a possibilidade que assiste ao comerciante cuja escrita não
está regularmente arrumada de invocar outros meios de provas.

69
A Organização do Comerciante

À luz do desenvolvimento da actividade comercial, novos contornos desenharam-se


nas sociedades modernas, o que ditou reformações ou interpretações novas de certos
conceitos de modo a adequa-los a actualidade.

O conceito de empresa comercial consistiu, segundo a mais recente doutrina, o cerne


do direito mercantil. Assim, enquanto no passado a figura dominante no quadro da
matéria do comércio era a do ―Acto de Comercio‖, hoje a importância da empresa
comercial tornou-se mais que preponderante absorvente ou quase.

A vida económica moderna assenta em três elementos fulcrais:

 A empresa;
 O empresário;
 Estabelecimento Comercial.

Já abordamos sobre o empresário comercial, importa agora abordar sobre o a empresa


e o Estabelecimento comercial.

Empresa

Podemos encontrar o conceito da empresa em 4 sentidos ou acepções:

Empresa como sujeito ou agente jurídico

Refere-se a empresa sob o perfil da pessoa que exerça uma actividade económica de
produção de bens ou serviços reconduzindo, portanto, à própria pessoa daquele que
organiza e conduz a actividade, suportando o respectivo risco.

Aliás, a única nota distintiva da empresa, nesta acepção, em relação ao empresário


poderá destacar-se na ideia de que o repórter real do risco não é o empresário mas sim
o património que ele integra na unidade empresarial.

Este sentido objectivo comporta duas acepções:

Uma restrita: em que a empresa se reconduz a pessoa (ou pessoas) que organizam e
dirigem a actividade.

70
Outra ampla: para o qual a empresa abrange um conjunto de pessoas, um elemento
humano, comportando não só o (s) empresários (s), mas também os seus
colaboradores designadamente os trabalhadores que lhe prestem a sua colaboração
em ordem só desenvolvimento da actividade empresarial.

Empresa como actividade.

A palavra empresa, é, por vezes, também usada para significar a actividade económica
exercida pelo empresário de forma profissional e organizada com vista a realização de
fins de produção ou troca de bens e serviços

Empresa como objecto

Trata-se neste sentido de conjunto de factores de produção, e outros elementos


congregados e organizados pelo empresário com vista ao exercício da sua actividade.

Equivale principal acepção da palavra estabelecimento porventura a mais expressiva


da realidade jurídica deste. É neste sentido que dizemos que a Empresa e
Estabelecimento são sinónimos.

Empresa como conjunto de elementos

Este é o sentido dinâmico da palavra que vem nela a expressão de um circulo de


actividades rígido pela pessoa do empresário, fazendo apelo a factores e elementos de
natureza heterogénea, actuando sobre um património de coisas e direitos e dando a
origem a relações jurídicas, económicas e sociais.

É o sentido mais amplo e compreensivo da empresa, que a reconduz a uma instituição


de carácter basicamente económico, mas também social, um organismo vivo
polarizador de criação de riqueza, mas também, mas de empresa e até de cultura.

Para além destes sentidos, a palavra empresa ainda pode ser entendida em dois (2)
outros sentidos:

Sentido económico: como unidade económica de produção, organizada de factores


de produção (Capital e Trabalho) com o fim de obter lucros.

Sentido Jurídico: como actividade económica organizada e que é exercida pelo


empresário com caracter profissional para produção e troca de bens e serviços no
mercado.

71
Classificação das Empresas

As empresas classificam-se nos moldes seguintes:

Segundo o seu objecto económico.

Empresas agrícolas: organizações produtivas dos agricultores.

Empresas Comerciais: Abrangem todas as que desempenham das actividades


qualificadas na lei como comércio em sentido económico.

São comerciais as empresas através das quais são exercidas actividades de


interposição nas trocas, actividades industrial-transformadoras, de prestação de
serviços, agenciamento de negócios, exploração de espectáculos públicos, operações
bancárias, etc.

Em suma, são comerciais as empresas cujo objecto se traduza na realização de actos


objectivamente mercantis.

Empresas não Comerciais

Segundo os seus sujeitos jurídicos.

Empresas do sector público

Integram-se neste sector as empresas públicas do Estado, as empresas públicas das


regiões autónomas, as empresas municipais, intermunicipais e os serviços
municipalizados.

Empresas do sector privado

A propriedade de uma empresa do sector privado pertence a uma pessoa singular ou


colectiva privada

72
Elementos da empresa

Elemento Patrimonial

A empresa alcança aos seus objectivos a partir de um conjunto de bens afectos à


actividade económica que podem ser utilizados pelo dono do estabelecimento. Assim
temos:

 Coisas corpóreas ou materiais móveis e imóveis: dinheiro, instalações,


equipamentos, etc.
 Coisas incorpóreas ou imateriais: marcas, firmas modelos e desenhos
industriais, etc.

Elemento Pessoal

A empresa é o centro do trabalho, portanto, o rendimento da empresa depende da


actividade do seu empresário e do trabalho dos empregados e operários.

Elemento organizacional

A coesão da empresa depende das relações com fornecedores de matéria-prima e


capitai, bem como com a clientela, essas relações são manifestação de relevo da
empresa organizada e um dos indicadores mais importantes da sua capacidade
lucrativa, do seu aviamento.

Aviamento será a eficiência ou capacidade que uma empresa ou estabelecimento tem


de realizar o fim (lucrativo) para que foi criado, portanto, será a sua capacidade de
rendimento ou lucro.

Elemento teleológico

O empresário realiza uma actividade económica destinada à produção, para a troca


sistemática e vantajosa, o que significa que estas actividades podem não ter fim
lucrativo, porque realizar uma vantagem patrimonial pode não ter intuito lucrativo em
sentido restrito.

73
Elemento formal

As pessoas colectivas que exercem uma empresa comercial e as sociedades


comerciais regem-se por regras que condicionam a sua actuação e os fins que
pretendem realizar, bem como a composição dos seus órgãos e as respectivas
funções, que podem ser estatutos, para as pessoas colectivas e pacto ou contrato
social para as sociedades comerciais.

Estabelecimento Comercial

O estabelecimento comercial é a unidade distinta da pluralidade dos elementos que o


constituem e outras situações de que pode fazer parte o chamado aviamento da
empresa, ou seja, a reputação que goza perante parceiros tais como os bancos, os
fornecedores, bem como a própria clientela.

Elementos do estabelecimento

Coisas corpóreas: bens que integram o estabelecimento sejam eles móveis ou


imóveis.

 O dinheiro o mobiliário das instalações;


 As instalações;
 Mercadorias para vendas;
 As máquinas, meios de transporte; e
 Outros

Coisas incorpóreas: direitos resultantes de contratos e demais fontes


respeitantes à vida do estabelecimento, designadamente:

 Direitos resultantes de determinados tipos de contratos relativos ao âmbito das


actividades comercial;
 Direitos reais de gozo como exemplo os direitos de propriedade sobre as marcas,
modelos, patentes;
 As obrigações dos empresários mas apenas no tocante ao estabelecimento, ex: as
dívidas para com os fornecedores.

Negócios sobre o estabelecimento

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Trespasse

Trespasse é definível como sendo a transmissão da propriedade de um


estabelecimento por negócio entre vivos.

O trespasse traduz uma transmissão com carácter definitivo, é transmissão da


propriedade do estabelecimento.

O trespasse pode ser procedido em negócio oneroso ou de carácter gratuito. Por actos
inter vivos ou mortis causa.

Cessão de exploração do estabelecimento

É o contrato pelo qual o titular do estabelecimento, designado por cedente, entrega a


outrem, designado por cessionário, por tempo determinado, mediante retribuição, para
exploração comercial.

Assemelha-se ao arrendamento pois, existe uma transmissão temporária e a título


oneroso a fruição do imóvel do cedente para o cessionário.

Locação e Usufruto do estabelecimento

A locação tem as características similares da cessão.

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