(Excerto de capítulo - no prelo, previsão de publicação: 2019)
Resumo: Exploramos neste capítulo... more (Excerto de capítulo - no prelo, previsão de publicação: 2019) Resumo: Exploramos neste capítulo os modos como se dá a disputa entre narrativas concorrentes através de atos de tradução que inscrevem o conflito resultante tanto das lacunas interculturais entre participantes, quanto-e sobretudo-em face da economia política da violência étnico-racial, de gênero, sexual, na sociedade de classes. Tomada como efeito material e simbólico dos regimes metadiscursivos estruturantes das narrativas sociais (BAKER, 2006, 2016), a violência é focalizada enquanto resultado de processos de tradução que se apresentam como espelhamento da realidade, solicitando, assim, tanto sua problematização quanto a visibilização das disputas pela narração. Compõem o corpus analisado as traduções intra e interlinguais (JAKOBSON, 1959) feitas por coletivos voluntários como prática contradiscursiva às narrativas veiculadas pelo oligopólio midiático brasileiro, ao longo do processo de consolidação do golpe de 2016 no Brasil, entre março e agosto de 2016. A análise indica como limites da tradução ativista sua natureza reativa e também a dependência excessiva das redes sociais, o que refreia sua penetração, trânsito e sedimentação na esfera pública. Recorrendo a novas e criativas formas de afirmação política frente às narrativas dominantes, a tradução ainda assim se fortalece como campo de resistência e luta social. Introdução Eu falo, falo-diz Marco-, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno, outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances de aventuras. Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido (1990 p. 57). Depreendemos da afirmação aqui epigrafada do explorador Marco Polo, tomado por Calvino em sua obra ficcional Cidades Invisíveis, que a história não é independente dos sistemas de
(Excerto de capítulo - no prelo, previsão de publicação: 2019)
Resumo: Exploramos neste capítulo... more (Excerto de capítulo - no prelo, previsão de publicação: 2019) Resumo: Exploramos neste capítulo os modos como se dá a disputa entre narrativas concorrentes através de atos de tradução que inscrevem o conflito resultante tanto das lacunas interculturais entre participantes, quanto-e sobretudo-em face da economia política da violência étnico-racial, de gênero, sexual, na sociedade de classes. Tomada como efeito material e simbólico dos regimes metadiscursivos estruturantes das narrativas sociais (BAKER, 2006, 2016), a violência é focalizada enquanto resultado de processos de tradução que se apresentam como espelhamento da realidade, solicitando, assim, tanto sua problematização quanto a visibilização das disputas pela narração. Compõem o corpus analisado as traduções intra e interlinguais (JAKOBSON, 1959) feitas por coletivos voluntários como prática contradiscursiva às narrativas veiculadas pelo oligopólio midiático brasileiro, ao longo do processo de consolidação do golpe de 2016 no Brasil, entre março e agosto de 2016. A análise indica como limites da tradução ativista sua natureza reativa e também a dependência excessiva das redes sociais, o que refreia sua penetração, trânsito e sedimentação na esfera pública. Recorrendo a novas e criativas formas de afirmação política frente às narrativas dominantes, a tradução ainda assim se fortalece como campo de resistência e luta social. Introdução Eu falo, falo-diz Marco-, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno, outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances de aventuras. Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido (1990 p. 57). Depreendemos da afirmação aqui epigrafada do explorador Marco Polo, tomado por Calvino em sua obra ficcional Cidades Invisíveis, que a história não é independente dos sistemas de
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Resumo: Exploramos neste capítulo os modos como se dá a disputa entre narrativas concorrentes através de atos de tradução que inscrevem o conflito resultante tanto das lacunas interculturais entre participantes, quanto-e sobretudo-em face da economia política da violência étnico-racial, de gênero, sexual, na sociedade de classes. Tomada como efeito material e simbólico dos regimes metadiscursivos estruturantes das narrativas sociais (BAKER, 2006, 2016), a violência é focalizada enquanto resultado de processos de tradução que se apresentam como espelhamento da realidade, solicitando, assim, tanto sua problematização quanto a visibilização das disputas pela narração. Compõem o corpus analisado as traduções intra e interlinguais (JAKOBSON, 1959) feitas por coletivos voluntários como prática contradiscursiva às narrativas veiculadas pelo oligopólio midiático brasileiro, ao longo do processo de consolidação do golpe de 2016 no Brasil, entre março e agosto de 2016. A análise indica como limites da tradução ativista sua natureza reativa e também a dependência excessiva das redes sociais, o que refreia sua penetração, trânsito e sedimentação na esfera pública. Recorrendo a novas e criativas formas de afirmação política frente às narrativas dominantes, a tradução ainda assim se fortalece como campo de resistência e luta social. Introdução Eu falo, falo-diz Marco-, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno, outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances de aventuras. Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido (1990 p. 57). Depreendemos da afirmação aqui epigrafada do explorador Marco Polo, tomado por Calvino em sua obra ficcional Cidades Invisíveis, que a história não é independente dos sistemas de
Resumo: Exploramos neste capítulo os modos como se dá a disputa entre narrativas concorrentes através de atos de tradução que inscrevem o conflito resultante tanto das lacunas interculturais entre participantes, quanto-e sobretudo-em face da economia política da violência étnico-racial, de gênero, sexual, na sociedade de classes. Tomada como efeito material e simbólico dos regimes metadiscursivos estruturantes das narrativas sociais (BAKER, 2006, 2016), a violência é focalizada enquanto resultado de processos de tradução que se apresentam como espelhamento da realidade, solicitando, assim, tanto sua problematização quanto a visibilização das disputas pela narração. Compõem o corpus analisado as traduções intra e interlinguais (JAKOBSON, 1959) feitas por coletivos voluntários como prática contradiscursiva às narrativas veiculadas pelo oligopólio midiático brasileiro, ao longo do processo de consolidação do golpe de 2016 no Brasil, entre março e agosto de 2016. A análise indica como limites da tradução ativista sua natureza reativa e também a dependência excessiva das redes sociais, o que refreia sua penetração, trânsito e sedimentação na esfera pública. Recorrendo a novas e criativas formas de afirmação política frente às narrativas dominantes, a tradução ainda assim se fortalece como campo de resistência e luta social. Introdução Eu falo, falo-diz Marco-, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno, outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances de aventuras. Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido (1990 p. 57). Depreendemos da afirmação aqui epigrafada do explorador Marco Polo, tomado por Calvino em sua obra ficcional Cidades Invisíveis, que a história não é independente dos sistemas de