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Fator Amazônia
Fator Amazônia
Fator Amazônia
E-book345 páginas4 horas

Fator Amazônia

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Sobre este e-book

Uma crise internacional envolvendo a soberania da região amazônica está em andamento. Militares brasileiros, liderados por um oficial “casca grossa”, partem numa operação Ultra-Secreta capaz de alterar os rumos da crise.
Fator Amazônia promete fortes emoções. Sua narrativa transporta o leitor para o coração da selva, em companhia de tropas especializadas.
Embarque nesta aventura!

IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2011
ISBN9781458093585
Fator Amazônia
Autor

Rayel G. C. Barroso

O escritor brasileiro Ráyel G. C. Barroso busca inspiração no cotidiano,na essência dos relacionamentos humanos e nas formas diferenciadas de assumir a vida. Simpatizante do aprendizado pelo grande caminho, o Tao ( 道 ), Ráyel dialoga intimamente com o processo pelo qual cada coisa se transforma no que é. Totalmente livre de rótulos ou regras editoriais, suas obras cruzam a fronteira do meramente comercial para, mais adiante, serem incorporadas ao próprio caminho do autor.

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    Fator Amazônia - Rayel G. C. Barroso

    FATOR AMAZÔNIA

    by Ráyel G. C. Barroso

    Published by

    Ráyel G. C. Barroso

    at Smashwords

    Copyright 2011 by Ráyel G. C. Barroso

    Smashwords Edition, License Notes

    This ebook is licensed for your personal enjoyment only. This ebook may not be re-sold or given away to other people. If you would like to share this book with another person, please purchase an additional copy for each recipient. If you’re reading this book and did not purchase it, or it was not purchased for your use only, then please return to Smashwords.com and purchase your own copy. Thank you for respecting the hard work of this author.

    Todos os direitos desta edição reservados à

    Ráyel Guilherme Curado Barroso

    rayelgcb@yahoo.com.br

    Este livro é dedicado aos brasileiros que de forma anônima investem suas vidas na árdua tarefa de manter a presença do Estado no imenso vazio ecumênico da região do Alto Rio Negro, Amazonas.

    PRÓLOGO

    Na selva amazônica, sob chuva intensa, militares atravessavam um rio. Nas duas margens, integrantes da patrulha realizavam a segurança aproximada dos companheiros ainda dentro d’água.

    Quando todos os militares, com seus uniformes encharcados, alcançaram a margem oposta, a equipe voltou a desaparecer na mata rica em cipós, espinheiros e arbustos. A patrulha liderada pelo tenente Ramos avançava com dificuldade, enquanto a vegetação insistia em se enroscar nas mochilas, pernas, ombros e pescoços.

    O chiado das gotas de chuva se chocando com as folhas era acompanhado por uma atmosfera carregada, ainda mais vaporosa e úmida do que a já existente na selva amazônica.

    Mais algumas horas de marcha e Ramos, por meio de gestos, mandou a tropa parar de progredir e estabelecer a segurança do local. Instantes depois, um novo gesto serviu para chamar o rádio operador da patrulha. Próximo ao local onde a equipe estava, havia uma grande clareira criada dias atrás pelo fogo. Aquele acidente da natureza, fruto da queda de um raio, seria útil aos militares.

    A chuva havia cessado por completo a mais de uma hora. Os uniformes, entretanto, permaneciam encharcados.

    Ao se aproximar do oficial, o militar, que carregava um desajeitado equipamento rádio preso junto ao peito e uma volumosa mochila às costas, recebeu a ordem:

    - Guerreiro, envie a mensagem pré-estabelecida para a chegada de ZEUS ao ponto de extração. Depois aguarde o pedido de autenticação.

    O rádio operador era um jovem de vinte e três anos. Seu nome era Mário, um soldado que fora promovido a Cabo por conta de atos de bravura durante missões realizadas na região da fronteira do Brasil com a Colômbia. Mário era um sujeito de pouca fala, porém muito observador. Filho de caboclos, nascido em terras de Marajó, aparentava estar sempre acima do peso.

    Depois de estabelecer o contato rádio com a aeronave, Ramos chamou o sargento que o acompanhava naquela operação. Quando o militar se aproximou, em voz sussurrada, mandou preparar a carga para o embarque.

    A poucos quilômetros da posição ocupada pela patrulha um helicóptero cortava os céus em navegação de baixa altitude. Como P1, ou primeiro piloto, estava o experiente coronel Nascimento, oficial das Forças Especiais, um dos pioneiros da aviação do Exército no Brasil. No posto de P2, ou segundo piloto, voava o tenente Donizete, recém especializado naquele tipo de aeronave, fazendo um de seus primeiros vôos sobre a região amazônica.

    Após o recebimento da mensagem rádio informando que a patrulha estava pronta para a exfiltração, a voz rouca do coronel Nascimento deu início ao processo de autenticação. Procedimento, este, sempre realizado antes do toque de aeronaves no solo do teatro de operações. A autenticação servia para constatar se a tropa em terra era realmente amiga e se a situação estava dentro de um quadro de normalidade.

    - Zeus, Mutum em posição autentique: Foxtrote Uno.

    - Mutum, Zeus em posição: Yanque Nono.

    A autenticação estava correta, segundo a tabela vigente para aquela data. Confirmada a normalidade da situação em solo a aeronave mergulhou na selva, realizando o pouso na clareira criada pelo fogo.

    Os motores permaneceram ligados. Em questão de segundos, a equipe de terra abandonou o dispositivo circular de segurança e embarcou. Após o sinal de positivo, feito pelo tenente Ramos, o mecânico informou ao P1 que o embarque estava concluído. O helicóptero, então, arremeteu.

    Durante o vôo, a presença de uma pessoa encapuzada dentro da aeronave despertou a curiosidade do mecânico.

    CAPÍTULO 1

    Depois de semanas acompanhando intensos treinamentos militares na selva, o Major Flening Stark aproveitava o dia de folga. Como de costume, ele gozava a dispensa na comodidade de um hotel à beira mar na costa oeste dos Estados Unidos.

    Diferentemente da grande maioria dos companheiros de trabalho, Flening não possuía uma família ou alguém para quem retornar ao final das missões. Abandonado nas docas de um supermercado de subúrbio com apenas poucos dias de nascido, ele morou até os três anos em orfanatos. Sua sorte ensaiou mudar quando foi adotado. Com os pais adotivos, Flening conheceu carinho, afeto e, também, recebeu o incentivo para, desde muito cedo, seguir carreira como militar.

    Harshey, o pai adotivo de Flening era Sargento do Corpo de Fuzileiros Navais. Um homem de poucas palavras, militar de muitas condecorações. Harshey teve os testículos arrancados por estilhaços de granada durante a guerra do Vietnã e realizou o sonho de ser pai por meio da adoção.

    Quis o destino que os pais adotivos de Flening vivessem pouco. Quando ele ainda cursava o primeiro ano da Academia Militar seu pai não retornou com vida de um suposto treinamento realizado no Panamá, segundo o governo a causa morte foi malária. O caixão chegou lacrado, em aeronave militar, e assim ocorreu o sepultamento.

    A mãe, que jamais se conformou com a perda do companheiro, definhou rapidamente. Mergulhada na amargura, inconsolável, da saudade e em incontáveis copos de vodca, ela faleceu no ano seguinte ao da morte do marido por conta de uma cirrose.

    Naquela manhã a piscina do hotel onde Flening estava hospedado era um convite a contemplação. Em meio às curvas da extensa piscina de águas azuis, hospedes em trajes de banho circulavam sorridentes. Alguns se refrescavam sob as cascatas artificiais postadas em vários pontos ao longo da piscina. Outros formavam rodas embaladas pela conversa descompromissada, drinques e pela sombra de palmeiras exóticas, estrategicamente dispostas nas proximidades dos quiosques de bebidas e alimentos.

    Sentados em espreguiçadeiras, alguns hospedes preferiam apenas relaxar ao sol enquanto garçons, em um constante vai-e-vem de bandejas cobertas de drinques e porções, se esforçavam para satisfazer os sempre apressados pedidos.

    Flening estava deitado em uma das espreguiçadeiras. De sua posição era possível acompanhar boa parte de toda aquela movimentação. O corpo estava relaxado e a mente desocupada.

    Aos poucos, os olhos abertos deixaram de recolher imagens do mundo exterior. Flening adormeceu.

    A surpresa do toque suave de lábios femininos junto aos seus, retirou, imediatamente, o major do sono. Alguém lhe roubara um beijo.

    Ao abrir os olhos, Flening reconheceu os olhos azuis e o contorno suave daquele sorriso, quase moleque, da loura com o corpo inclinado sobre sua cadeira. Era Kate de March. Uma jovem que conhecera durante um vôo para o Brasil.

    Com aquela linda comissária de bordo Flening viveu a experiência amorosa de sua vida. A maior, a mais intensa, a melhor e a única acesa até hoje.

    As lembranças do corpo bem torneado, quente e macio, de Kate a banhar-se junto ao seu, sob a luz da lua, nas águas, calmas, da Lagoa de Araruama, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, por vezes se repetiam para ele em sonhos. Aquela mulher, doce e inteligente, despertara em Flening amor, desejo e saudade.

    Desde o primeiro contato com Kate o major teve o cuidado de não levantar suspeitas sobre o verdadeiro motivo das constantes idas e vindas suas ao Brasil. Evitando constrangimentos, para ambas as partes, o major fez uso de uma consistente história cobertura, mas ele sabia que tal conjectura o impediria de manter um relacionamento afetivo mais profundo. Pelo menos, por hora.

    Flening entendia que o seu nível de comprometimento com o sucesso da missão em curso, fazia valer a postergação de quaisquer interesses pessoais.

    - Por onde tem andado Flening? Minhas amigas disseram que tem ido à Manaus?

    Mudando o foco da questão, o major sorrindo, repassou para Kate a palavra.

    - Primeiro eu quero saber o quê você está fazendo aqui? Não sabia que voava para a costa oeste. Que surpresa boa!

    - Acho que o destino me deu um presente. Estou de férias e aproveitei para conhecer algumas cidades daqui. Mas o que eu queria mesmo era te ver novamente. Tinha a esperança de cruzar com você.

    Algumas horas mais tarde, Flening sentia novamente o calor e a maciez do corpo de Kate junto ao seu. Com um movimento circular de quadris, Kate cavalgava, em ondas de prazer, sobre o corpo musculoso do Major, que acariciava entre breves mordiscadas os seios rosados e rijos de Kate.

    Após momentos de gozo e sussurros espargidos, os dois deitados, lado a lado, com os corpos suados trocavam olhares de paixão.

    Eles ensaiavam um delicioso estudo do terreno conquistado na inebriante batalha do amor, quando foram interrompidos pelo toque do celular de Flening.

    Com cuidado, ele retirou o braço que estava por baixo da cabeça de Kate, pegou o celular e caminhou até a sacada, aparentemente esquecendo-se de que estava nu. A loira se divertia apreciando os contornos generosamente bem definidos dos glúteos e das pernas do major.

    Não era uma chamada de voz, mas sim uma mensagem de texto e aquele não era um celular qualquer, havia uma placa de sistema dedicada à criptografia incorporada ao pequeno aparelho. A mensagem foi recebida, descriptografada, exigindo a inserção de uma palavra chave para viabilizar sua leitura. Após rabiscar algo no visor, o amontoado de letras e números tomou a forma de um texto:

    …reporte-se ao covil, situação pérola.

    Durante o vôo para Washington Flening lia longos relatórios de inteligência, seus olhos absorviam com avidez informações de caráter ultra-secreto.

    CAPÍTULO 2

    Na Base Aérea de Manaus o helicóptero, pilotado pelo Coronel Nascimento, era aguardado por vários militares. Tão logo a aeronave pousou, Ramos foi informado que as viaturas estavam em posição para realizar a retirada de sua equipe para a base de operações e que o General comandante do Comando Militar da Amazônia, o CMA, o aguardava em uma das viaturas. Ramos estranhou o fato, mas prosseguiu na tomada das providências necessárias.

    Alguns militares, que aguardavam na Base Aérea, conduziram o homem encapuzado até uma área coberta onde três vans idênticas estavam estacionadas. Após o embarque em uma das vans a porta corrediça lateral foi fechada e os três veículos iniciaram o deslocamento.

    Ainda na cabeceira da pista, Ramos reuniu sua equipe, determinando que fosse realizada a manutenção do armamento e equipamento tão logo chegassem à base de operações. Designou, ainda, a hora e o local em que ocorreria a avaliação da missão. Todos conheciam a rotina, mas sentiam-se reconfortados com a dedicação e o comprometimento de Ramos no exercício da liderança.

    A confiança da equipe na capacidade do comandante para a tomada de decisões acertadas, em situações de risco, tornava aquela tropa capaz de impulsionar-se nas mais arrojadas missões.

    Emitidas as ordens, Ramos passou o comando da tropa para o sargento. Permanecendo ali, parado, observando os militares embarcarem no caminhão que estava estacionado ao lado da pista.

    Após o embarque do último patrulheiro, Ramos se dirigiu para a viatura onde estava o comandante do Comando Militar da Amazônia. Quando se aproximava da van, de cor verde oliva, identificada pela insígnia da autoridade à qual servia, o motorista se antecipou, abrindo o porta-malas do veículo para que Ramos guardasse a mochila e o equipamento. Em seguida, abriu a porta para a entrada do oficial.

    O General o aguardava no interior do veículo.

    - Boa noite, senhor!

    - Boa noite e parabéns, meu jovem!

    Ramos acenou com a cabeça em agradecimento. Em sua mente a questão era: o que levaria um oficial de tão alta patente a tamanho interesse em uma de suas missões?

    O cheiro acre da farda do Ramos, ainda úmida, rapidamente invadiu o interior da van.

    - Fui informado de que houve forte resistência. Nossos relatórios de inteligência estavam incorretos? Perguntou o General inclinando ligeiramente o corpo para frente e apoiando os cotovelos sobre as pernas.

    O veículo passava pelo portão de saída da Base Aérea quando Ramos iniciou o relato. Sentado em um banco imediatamente a frente do ocupado pelo superior o tenente usava um tom baixo de voz.

    - Sim senhor. Após doze dias acompanhando as atividades no setor centauro, concluímos que o nosso alvo estava muito bem guarnecido. Nosso planejamento, realizado com base nos relatórios da inteligência, nos colocou em desvantagem numérica. Fomos obrigados, então, a adaptar e improvisar um pouco.

    No décimo quinto dia de observação, depois de obtermos todos os elementos essenciais de informação solicitados, iniciamos a Operação Louva Deus. Assim, no amanhecer do dia seguinte, realizamos a captura do alvo, nossa encomenda.

    O General interrompeu a narrativa de Ramos fazendo um gesto com mão direita. Do bolso da camisa ele retirou um celular. A pequena tela acesa indicava o motivo da interrupção. Por alguns poucos instantes, o militar de cabelos brancos, pele morena e fisionomia cansada fitou a tela do aparelho e resmungando algo tornou a colocá-lo no bolso sem atender a chamada.

    - Pode prosseguir - disse o General.

    Ramos, durante o relato, quase que podia sentir novamente o cheiro da queima da pólvora, do sangue e do suor misturados ao ar vaporoso próprio ao interior da selva amazônica.

    - Seguindo as instruções do escalão superior, não empreendemos nenhum esforço em objetivo secundário, uma vez garantida a posse da encomenda. Passamos, então, à retirada. Seguindo até o ponto de encontro com o helicóptero.

    Ao se aproximar do Corpo da Guarda do Comando Militar da Amazônia, CMA, o comboio reduziu a velocidade. No momento em que a viatura cruzava a cancela, o general cumprimentou a guarda com o brado de SELVA. Ouvindo, em resposta, outro SELVA de muitas vozes.

    Após descer da viatura, o general informou aos presentes: Haveria reunião para o Estado Maior em duas horas.

    Ramos olhou para o relógio, colocou a mochila nas costas e desfez o silêncio da ordem.

    - Senhor, neste horário estarei com a minha equipe na avaliação da missão!

    - Adie ou cancele, tenente!

    - Com todo respeito senhor, negativo. Meus homens estarão mobilizados até o fim desta atividade. Alguns deles estão há mais de trinta dias sem um bom banho, uma boa refeição ou contato com seus familiares. Além disso, tenho dois homens que estarão aguardando a avaliação da missão para, só então, se apresentarem na enfermaria. Estão com malária e o tratamento foi iniciado durante a própria operação. Desta forma, peço ao senhor que faça a reunião após esta atividade.

    O general olhou para o chão, coçou o queixo e, com a testa franzida, concordou. Retificando sua ordem:

    - Escutem! Faremos a reunião tão logo o Ramos termine com o seu debriefing. Portanto estejam atentos.

    CAPÍTULO 3

    Para ocupar o tempo livre, alguns dos oficiais que participariam da reunião foram para os alojamentos se deitar. Outros aproveitaram a ocasião para reviver contos da caserna ou apenas ver televisão no cassino dos oficiais. Enquanto isso, o general, sentado em seu gabinete, dedicava tempo à leitura das páginas de um jornal de Manaus. A publicação trazia uma matéria sob a manchete Amazônia, o patrimônio universal?!

    … "Por muitos anos a sociedade brasileira esteve de costas para as necessidades de toda a região norte do país, mais especificamente para as necessidades da nossa Amazônia legal.

    Isto quer dizer que, quase, sessenta e dois por cento do território brasileiro sofreu e ainda sofre, com os séculos de abandono. Conseqüentemente, criou-se uma das maiores áreas de neutralidade geopolítica da atualidade, justamente dentro da região que, agora, é revelada como a grande e, talvez, a última arca de riquezas naturais do planeta".

    O governo abordou de forma superficial todos os indícios de interferência velada de outras nações na região. Mas não foram apenas a superficialidade do governo e o descaso de nossa sociedade que marcaram o trato aos assuntos amazônicos. Tem havido muita inépcia na articulação de interesses.

    Foi assim quando o governo cedeu à pressões externas e acabou demarcando reservas indígenas em terras de interesse estratégico. Uma destas reservas debruçada, perigosamente, sobre a faixa de fronteira Norte do país.

    Contrariando dispositivos magnânimos, como a Constituição Federal, autoridades brasileiras consentiram o denominar falacioso de Nação Ianomâmi à brasileiros, indígenas mas ainda sim brasileiros, residentes nestes enormes latifúndios. Por ter acontecido em um país soberano e sabedor de que está diante de uma comunidade internacional que repudia aparteísmos, ou que assim o faz quando é de seu interesse, como ocorreu na África do Sul, tais fatos nos levam a crer que a demarcação de territórios indígenas na Amazônia atendeu a algo mais do que preservação de comunidades ou de culturas indígenas.

    Será que alguém perguntou para estes cidadãos brasileiros, nascidos em comunidades indígenas da Amazônia, se era desejo deles viver toda uma existência sem as benesses da vida moderna? Ou dependentes de políticas assistencialistas e pontuais? Por que não podemos fazer como os Canadenses que respeitam seus indígenas, não por meio de isolamento geográfico, mas sim por meio de um compartilhamento harmônico e enriquecedor de culturas?

    Estaremos nós assistindo à criação de um modelo que, de tão arcaico, passaria rapidamente de preservacionista à segregacionista! E ainda fica uma pergunta no ar, por que será que de uma hora para a outra o índio brasileiro, mais especificamente o índio brasileiro da Amazônia, ficou tão em evidência aos olhos da comunidade internacional?

    Assim como tenho certeza de que cada brasileiro tem as respostas às minhas perguntas, sei que igualmente bem informadas estavam as nossas autoridades quando permitiram que grandes jazidas de minério e parques com imensa biodiversidade fossem abrangidos nas demarcações de alguns dos territórios indígenas da Amazônia.

    Olhando para o passado, vemos que desde o século dezoito até os dias de hoje, pesquisadores estrangeiros justificam com invulgar facilidade suas incursões à selva amazônica. O governo, comunidade científica e a própria sociedade assistem, passivamente, a este quadro que, nos últimos tempos, vem recebendo sombrios retoques. A tinta, usada agora para os retoques, é a do emprego maciço da mídia. Anunciando, ao mundo, a total incompetência do Brasil em administrar o pulmão da terra, o último grande manancial hídrico do planeta. Anunciando, da mesma forma, a insensibilidade dos brasileiros para com as necessidades dos povos, das minorias, que integram as nações indígenas da Amazônia.

    As queimadas, realizadas por indígenas, caboclos e agricultores, são apresentadas como causadoras de um holocausto para a mata e para todo seu ecossistema. Concomitantemente, a falta de pulso de nossas autoridades, ou a corrupção, permitiu a penetração na área amazônica de madeireiras conhecidas globalmente pelas técnicas, nada ortodoxas, empregadas nas matas asiáticas.

    Fornecendo, assim, justos subsídios para campanhas de Organizações Não Governamentais que usam slogans como Preserve a Amazônia, queime um brasileiro! em alguns países da Europa.

    Não é difícil ver! Toda uma geração está sendo educada ao redor do planeta consumindo diariamente informações manipuladas para gerar a expectativa de um basta à má administração dos recursos hídricos existentes na bacia amazônica. Um basta ao desrespeito às nações indígenas e às suas ricas culturas. Expectativa de um basta às chamas e às madeireiras, pois elas devoram a selva amazônica, patrimônio universal."

    Ao terminar a leitura do artigo o General deu um suspiro, olhou para o relógio e levantou-se.

    CAPÍTULO 4

    Somente após a reunião com sua equipe, Ramos foi até o alojamento e tomou o primeiro banho de chuveiro das últimas semanas. Trivialidade bastante valorizada depois daquelas duras jornadas no interior da selva. Refeito, tratou de colocar uma farda limpa e seguir para a sala de reuniões, onde o aguardavam para o início dos trabalhos.

    No interior da sala, havia oficiais do Estado Maior do Comando Militar da Amazônia além de alguns vindos de Brasília. Este grupo, vindo da capital, trabalhava em algo muito especial, seguindo orientação direta do Ministro da Defesa. Algo que mudaria o destino de muitas vidas.

    Sentado em uma das extremidades da mesa, o General de Exército Barros de Castro mostrava para o General comandante do Comando Militar da Amazônia um documento elaborado pelo Comandante do Exército. Ele explicava que tal documento deveria ser lido quando da abertura, oficial, dos trabalhos.

    Banho tomado, roupas limpas e secas, poltrona macia, fala pausada do General Comandante, tudo conspirava para que o mais jovem oficial presente à reunião desse vazão ao cansaço. Entretanto, a curiosidade servia como estimulante, mantendo Ramos alerta. Afinal de contas, por qual motivo ele fora convidado a participar de uma reunião, no meio da madrugada, cercada de mistérios, cheia de rostos tensos e figurões do alto comando regional? Por que a urgência no relatório da missão?

    Iniciando a reunião, o General Barros deu um forte brado de SELVA. A resposta preencheu o ambiente. Veio uníssona, grave:

    - SELVA!

    O General continuou:

    - Sabemos do avançar da hora, no entanto a situação é de crise. Torna-se imperativo o desencadear de algumas ações sobre as quais deliberaremos nos próximos minutos. Tenho aqui, em minhas mãos, uma mensagem do Comandante do Exército, para ser lida aos senhores. Antes, porém, quero que todos ouçam com atenção os fatos que serão narrados pelo tenente Ramos.

    - Tenente, começando pelo teor da missão recebida, faça um relatório verbal dos fatos ocorridos durante a Operação Louva Deus.

    O Oficial, então, levantou-se e fazendo uso de cartas, croquis, fotos apostas em grandes painéis, passou a explicar: ... a Operação Louva Deus teve como objetivo localizar e capturar o coronel das Forças Especiais Norte Americanas Pool Allen que estava operando, com uma equipe que, segundo nossa inteligência, teria pequeno efetivo. Eles operavam dentro do setor centauro….

    Minutos depois, findo o relatório verbal, Ramos retornou para seu lugar à mesa. Neste momento, o General Barros passou a descrever as atividades de Pool em território brasileiro.

    - Pool, em sua estória cobertura, é o pastor Marcos. Ele colabora com uma ONG que está empenhada em divulgar o desrespeito das autoridades brasileiras aos direitos humanos. Em especial, desrespeitos ocorridos nas reservas indígenas dos Ianomâmis. Esta organização propaga o conceito de soberania restrita. Segundo o qual, santuários ecológicos, como a Amazônia, devem ser governados por um consórcio de países. Garantindo assim sua preservação. A ONG é apenas mais um dos longos tentáculos da CIA. - Barros prosseguiu falando, enquanto acomodava-se em sua cadeira.

    Em seguida, exibiu um vídeo com conteúdo ainda não editado de uma reportagem.

    - Esta transmissão de vídeo foi interceptada quando estava sendo enviada, por satélite. O sinal partiu de algum ponto no interior da selva. Hoje, sabemos qual o seu destino, uma grande emissora de televisão Norte Americana.

    Curiosamente, apesar da transmissão ter sido feita há vinte dias atrás, a matéria só foi levada ao ar, pela emissora, no dia de ontem. - comentou o General, nos instantes iniciais do vídeo.

    As imagens mostravam ao mundo verdadeiros massacres de índios. Dezenas de corpos de indígenas, da Nação Ianomâmi, estavam retorcidos, jogados ao chão, sem vida. Índias mortas, com seus filhos ainda presos à cintura, eram exibidas em algumas tomadas. As imagens retratavam uma crueldade surpreendentemente devastadora.

    No vídeo havia também trechos de como a matéria foi ao ar e de alguns noticiários que repercutiam o massacre e foram exibidos em vários países. Em todos eles, chamava atenção o destaque dado às imagens-denúncia, feitas com exclusividade pelos participantes da ONG Green Amazon. Imagens conseguidas por acaso. Pois, segundo os ativistas da Green Amazon, eles, coincidentemente, chegavam para fazer uma visita àquela comunidade quando encontraram o quadro macabro de flagrante desrespeito aos indígenas da Amazônia.

    As imagens e os relatos de nativos revoltados e chorosos costuravam a narrativa jornalística. O integrante da ONG perguntava a um dos indígenas o que acontecera ali. O indígena era o professor de português da escolinha da comunidade. Aos soluços, diante dos corpos perfurados de sua mãe, de sua esposa e filhos, ele relata que tropas do Exército Brasileiro haviam chegado à comunidade, como de costume, de helicóptero.

    "Daí em diante tudo começou a acontecer. Tudo de ruim veio junto. Foi informado ao tuxaua que aquela comunidade não deveria mais permanecer na região. Todos deveriam pegar comida, queimar os abrigos e abandonar a área, subindo o rio. Como o tuxaua negou-se a explicar tais ordens para os outros, que não entendem ainda muito bem o português, a tropa passou a realizar fogo em todas as direções. Não poupando ninguém. Quem estava perto levou tiro. Só sobrevivi porque corri para

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