Xeretando a linguagem em Francês
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Pré-visualização do livro
Xeretando a linguagem em Francês - Adriana Zavaglia
Bibliografia
Introdução
A coleção Xeretando a linguagem em italiano, inglês, francês, espanhol e latim é dirigida para aqueles que gostam de ler argumentos importantes e interessantes com leveza, sutileza e sem compromisso; que não se intimidam em confessar que gostam de xeretar
e se divertir, até mesmo com palavras, e, consequentemente, com línguas.
Quem não tem curiosidade em saber como se diz isso ou aquilo
em uma língua estrangeira? E ainda: quem não gostaria de saber como são usadas e o que significam certas palavras ou certas expressões estrangeiras que raramente são encontradas em dicionários de língua, bilíngues ou monolíngues?
Foi pensando nessas pessoas que veio à tona a ideia desta coleção, que procurou tratar de temas atraentes e convidativos para chamar a atenção do leitor para certas peculiaridades dessas línguas estrangeiras e do português do Brasil. Desse modo, os livros estão divididos em 06 capítulos que correspondem cada um deles a um fenômeno linguístico trabalhado, com cerca de 50 a 80 entradas, além de uma breve introdução concernente ao assunto tratado, ao início de cada um deles.
No primeiro Capítulo, você irá se deparar com várias expressões idiomáticas frequentemente utilizadas no português e nas outras línguas, com explicações sobre o seu significado e o seu uso. Ouvimos e nos utilizamos tanto dessas expressões que muitas vezes não nos damos conta da sua importância nas línguas estrangeiras (e às vezes nem as entendemos em português!). De fato, pode ser bastante complicado estar na França e achar que Aboyer à la lune é quando os cães uivam para a lua
ou então que Avaler sa fourchette significa engolir seu garfo
... Do mesmo modo poderá ocorrer na Itália, quando você convidar seu amico para ir pra balada
e ele lhe disser Sono alla frutta e você entender que ele está na fruta
ou coisa parecida! Será uma super mancada! Imagine então se ele disser Gatta ci cova no meio de uma narração misteriosa e você achar que ele quis dizer que a gata está na cova
. Vai ser engraçado o desfecho! Com as outras línguas envolvidas na coleção ocorre a mesma coisa!
O segundo Capítulo traz vários provérbios ou ditos populares ou sentenças, como são chamados, empregados no nosso dia a dia e também nas línguas estrangeiras. Saber entender (e reconhecer!) uma expressão proverbial em um idioma estrangeiro pode ajudá-lo a se relacionar com os estrangeiros, a interagir com os costumes daquele país e conhecer um pouquinho dessa cultura milenar. Assim, entender que L’air ne fait pas la chanson significa O hábito não faz o monge pode ser crucial em uma conversa sobre aparências, bem como compreender o significado de Chi non risica, non rosica ou de Donde hay capitán no manda marinero e de Do as I say, not as I do se você estiver pensando em se aventurar pelo mundo em busca de seus desejos!
Já no terceiro Capítulo, você vai encontrar dicas de como não confundir alhos com bugalhos
, porém, no que diz respeito às palavras! São os famosos falsos cognatos ou falsos amigos, ou seja, aquelas palavrinhas que se parecem com outras, mas que na verdade não têm nada em comum umas com as outras. E fazem muitas pessoas caírem em verdadeiras armadilhas devido à confusão que causam. É o caso de Actually e Costume, em inglês; de Burro e Furare, em italiano; de Bâton e Bobonne, em francês, por exemplo.
No quarto Capítulo você vai colorir sua linguagem ainda mais e tomar conhecimento de como o português e as outras línguas estrangeiras se utilizam de nomes de cores, tais como preto, branco, vermelho, verde, amarelo, azul, marrom, rosa, cinza, entre outros, em suas expressões linguísticas. Além disso, para cada uma dessa cores, são fornecidos significados e seus empregos mais frequentes para cada par de língua da coleção. Muitas das expressões são bem comuns em português e a intenção foi demonstrar que elas podem ser igualmente utilizadas em cada uma das línguas estrangeiras tratadas. Outras, ao contrário, demonstram que cada língua pode colorir
as suas expressões usando nomes de cores diferentes, demonstrando que cada país pode enxergar
de maneira diferente determinado acontecimento histórico, social ou cultural.
Com o quinto Capítulo, você vai poder mergulhar
em tribos
diferentes e conhecer uma linguagem peculiar que pertence às pessoas mais jovens, que possuem seus grupos de amigos e histórias em comum, e, por isso mesmo, criam
meios de se entenderem e compreenderem entre si. Assim, produzem um tipo de linguagem riquíssimo no quesito criatividade e obscurantismo, a partir do momento que certas palavras podem ser indecifráveis e jocosas para pessoas que não fazem parte daquele grupo que as emprega. Além disso, você vai saber como se diz jeans
, eletricista
, pizza
, pipoca
e muito mais em... latim! É isso mesmo! O latim ainda é uma língua falada!
Por outro lado, ao ler o Capítulo 6, quando algum nativo quiser fazer piadinhas
com você, ensinando-lhe palavrinhas que na verdade são palavrões na língua estrangeira, só para que ele tire uma da sua cara
, tenha a certeza que você não cairá nesse trote
ou brincadeira! É isso mesmo. Ali você encontrará muitas das expressões empregadas pelos nativos que inexistem nos livros em que se estudam línguas estrangeiras; logo, não temos como aprendê-las em nossas aulas. Se o seu professor não for um cara descolado
e sem papas na língua, você vai demorar para aprender o que significa Minchia em italiano, To bang em inglês, Suceur de quenelle em francês, Las domingas em espanhol, Sopio, em latim. Sem pudores, esse capítulo traz um elenco de palavras empregadas para se referirem às nádegas, à vagina, ao pênis, aos testículos, ao ânus entre outros. Além disso, procura tratar certas expressões obscenas que são bastante empregadas na linguagem comum daquele país em questão, nos mais variados contextos.
Então, mãos à obra! Vá xeretar as páginas deste livro e aprenda se divertindo!
Claudia Zavaglia
Coordenadora editorial
Claudia Zavaglia é Livre-Docente em Lexicografia e Lexicologia e doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP - Campus de São José do Rio Preto - SP - IBILCE. É autora dos livros Canzoni Italiane degli anni ’90 (2001); Parece mas não é: as armadilhas da tradução do italiano para o português (2008); Dicionário Temático Ilustrado Português – Italiano (Nível Avançado) (2008); Passarinho, Passarinha, Passarão: dicionário de eufemismos das zonas erógenas – português-italiano (2009) e Um significado só é pouco: dicionário de formas homônimas do português contemporâneo do Brasil (2010).
A Profa. Adriana Zavaglia tem pós-doutorado em Linguística (Université de Paris VII) e em Estudos Tradutológicos (Universidade de São Paulo/Fapesp), é doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. Atualmente é professora Doutora da Universidade de São Paulo, na qual ministra aulas de Tradução para os alunos de francês do Curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). É também autora de capítulos de livros e artigos científicos sobre Linguística e Estudos da Tradução.
Maria Cristina Parreira da Silva é doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-FCLar). Atualmente é Professora Assistente de Língua Francesa no curso de Letras com Habilitação de Tradutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-IBILCE). Também atua no curso de pós-graduação em Estudos Linguísticos. Publicou capítulos de livro e artigos em sua área de pesquisa – Lexicologia e Lexicografia – tratando principalmente do ensino-aprendizagem do léxico e dos dicionários bilíngües francês-português. É líder do grupo de pesquisa GAMPLE – Grupo Acadêmico Multidisciplinar: Pesquisa Linguística e Ensino. Realizou estágios didáticos e científicos na França e no Canadá, todos com bolsa de estudo.
Claudia Xatara fez seu pós-doutorado pela Université de Nancy 2-França (2005) e em 2008 habilitou-se ao título de Livre-docente na UNESP de São José do Rio Preto. É também tradutora juramentada de francês desde 2000. Como pesquisadora, tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Lexicografia, atuando principalmente nos seguintes temas: expressão idiomática, fraseologia da língua comum, tradução e dicionários especiais. Autora de diversos trabalhos científicos, dentre os quais se destaca o Dictionnaire d’expressions idiomatiques français-portugais-français, publicado na França em 2007, além do Dicionário de falsos cognatos francês-português-francês, de 1995 e 2a ed. 2008, do Dicionário de provérbios, idiomatismos e palavrões francês-português-francês, de 2002, do Novo PIP de 2008, 1995 e 2a ed. 2008 (esses quatro: em co-autoria com Wanda Leonardo de Oliveira) e da coordenação de uma coleção de oito Dicionários Temáticos Visuais Bilíngues (www.dtvb.ibilce.unesp.br). Encontra-se em fase final outro dicionário sob sua coordenação: um Dicionário multilíngue de regência verbal.
Capítulo 1
VOCÊ ESTÁ FALANDO GREGO?
Expressões Idiomáticas
Quando consultamos a equivalência na língua materna de uma expressão idiomática na língua estrangeira, isto é, de um conjunto de palavras que deve ser entendido como um só bloco de significação figurada, encontramos, na maioria dos dicionários, apenas uma explicação do idiomatismo e não uma equivalência fraseológica no mesmo nível de linguagem. A explicação sugerida normalmente, além de nem sempre ter o mesmo nível de frequência e de uso, não apresenta uma tradução correspondente, ou seja, um idiomatismo também na língua de chegada, o que leva o usuário a utilizar uma linguagem menos rica em conotações, em imagens, e a cometer enganos que prejudicam a comunicação por não ficar clara a situação de uso em que a expressão idiomática pode ser empregada.
Se observarmos um grande número de expressões idiomáticas nas línguas estrangeiras, perceberemos que as equivalências adequadas podem ser quase literais, transparentes
, o que gera um grau de dificuldade menor para a sua compreensão. Porém muitas delas são linguística e culturalmente bem diferentes. Neste último caso, nas chamadas expressões opacas
, existe uma grande curiosidade em se entender por que em outra língua é diferente e então surge o interesse em saber qual é a base linguística para a construção de suas imagens e conotações.
Vejamos os exemplos mais significativos de idiomatismos em francês com uma correspondência nada literal em português:
À cent balles
Por uma bagatela (ninharia)
Embora as expressões em francês e português transmitam a mesma ideia de uma quantia irrisória, muito provavelmente o que for uma ninharia para eles, já seria, de certo modo, caro para nós,