Orelhas

Sumário

Prefácio Tiago Ferro

Curso de escrita descriativa Marcílio Godoi

Orelha a um jovem escritor Thiago Romaro

Lady Babushka Ana Paula Dugaich

O livro dos cuidados Luana Chnaiderman de Almeida

As flores de Margareth Carol Rodrigues

Zwartack Elisa Band

Enciclopédia o mundo da criança Fernanda Machado

Q&A — Question and Answer Tatiana Filinto

Enigma-Rizoma: A arte ocasional de Tito R. Broomer Felipe Miguel Arruda

La Roulette Júlia Rosemberg

Vermes Raphael Guedes

Contos de orelhão Fernanda Machado

Piratinha Ana Paula Dugaich

História da locomotiva e estudos de sistemas dinâmicos de frenagem Elisa Band

Ali a vida se curvou 90 graus Tatiana Filinto

A biblioteca alheia Luana Chnaiderman de Almeida

O homem que fabricou o século XXII Carol Rodrigues

O livro dos livros não publicáveis Marcílio Godoi

Pulo no rio Erê Tatiana Filinto

As coisas de verena Júlia Rosemberg

O desfile Carol Rodrigues

O detetive intruso Renato Zapata

Imaginário de lágrimas Ana Paula Dugaich

Ficções Elisa Band

Lunáticos: perfis psicológicos de astronautas a partir de objetos deixados na lua Felipe Miguel Arruda

Gusmão & Silva Tatiana Filinto

Metrópole invertida Júlia Rosemberg

Um minuto são 60 segundos Fernanda Machado

Kinabalu Marcílio Godoi

Capilares Carol Rodrigues

Astolfo e Astolfinho Thiago Romaro

O cântico dos tântricos Renato Zapata

Alto-mar Tatiana Filinto

Besta Elisa Band

O céu sueco Marcílio Godoi

A festa Luana Chnaiderman de Almeida

Valise Fernanda Machado

O menor romance da história Raphael Guedes

Pó de menina Ana Paula Dugaich

ANA PAULA DUGAICH

CAROL RODRIGUES

ELISA BAND

FELIPE MIGUEL ARRUDA

FERNANDA MACHADO

JÚLIA ROSEMBERG

LUANA CHNAIDERMAN DE ALMEIDA

MARCÍLIO GODOI

RAPHAEL GUEDES

RENATO ZAPATA

TATIANA FILINTO

THIAGO ROMARO

[...]

Aquilo que revelo

e o mais que segue oculto

em vítreos alçapões

são notícias humanas,

simples estar-no-mundo,

e brincos de palavra,

um não-estar estando,

mas de tal jeito urdidos

o jogo e a confissão

que nem distingo eu mesmo

o vivido e o inventado.

Tudo vivido? Nada.

Nada vivido? Tudo.

A orelha pouco explica

de cuidados terrenos;

e a poesia mais rica

é um sinal de menos.

Poema-Orelha

Carlos Drummond de Andrade

[prefácio]

OS LIVROS IMAGINADOS Tiago Ferro

Uma das vozes mais originais do cenário contemporâneo; força os limites da ficção; impossível de classificar em algum gênero literário; forte, perturbador, mas deliciosamente irônico; questiona a sociedade de consumo e o local do sujeito; polifônico; repleto de deslocamentos e rupturas; para quem quer pensar o presente para além das narrativas convencionais.

Dificilmente a apresentação de uma obra contemporânea deixará de lançar mão de algumas das características listadas acima. Seria isso um cacoete do resenhista ou, de tanto percorrer o caminho do deslocamento e da ruptura, a própria literatura marcou a trilha que agora permite que todos venham de lá pra cá sem solavancos?

Como então apresentar um livro que faz da receita algo de fato surpreendente? Abro mão dos conceitos-clichês e apenas apresento o livro que você tem em mãos agora.

São 39 textos de orelhas de livros inexistentes. Ou inexistentes por enquanto. Talvez livros que estejam sendo escritos em algum lugar do mundo enquanto sua orelha foi pensada. Livros que nunca existiram e jamais existirão. Livros em línguas estrangeiras, em línguas mortas, inventadas. Exemplar único numa biblioteca bombardeada em Aleppo, molhado no fundo da carroça do morador de rua que percorre a cracolândia. Um manual. Um catálogo de uma exposição em uma galeria que já não existe mais. Um livro infantil que caiu atrás da cama e só será encontrado depois que a família se mudar. Enfim, livros imaginados.

Mas que o leitor não se sinta enganado. Essas orelhas oferecem mais do que qualquer orelha convencional. É possível desfrutar do mesmo tipo de prazer de Kublai Khan ouvindo Marco Polo narrar as cidades invisíveis inventadas por Italo Calvino. Calvino opera a transformação das cidades de espaço geograficamente definido para símbolo. Aqui, a materialidade do texto pendurado na capa do livro também se abre para uma série de especulações intelectuais.

Doze autores são o Djalma – coletivo literário (aliás, outro clichê de nossa época). Mas este coletivo tem nome de autor. A soma das partes não é o todo aqui. Provavelmente você já leu algo de um ou outro escritor presente em Orelhas. Mas neste caso eles são outro. Apesar da individualidade de cada voz, Djalma é uma ideia, um papo, um encontro, um autor também imaginado por esse grupo que se reúne há anos para pensar literatura.

Ouvi falar da ideia deste livro de orelhada. Tudo começou quando os