Os irmãos Baxter em as sombras do passado
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Sobre este e-book
O objeto, assim como as falas sem sentido do velho, parece revelar para as crianças um passado oculto da vida de sua mãe. Lembranças fantásticas que ainda vivem entranhadas naquela casa e prontas para se vingarem de Molly e seu pai.
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Os irmãos Baxter em as sombras do passado - Erick Alves Pereira
amor.
Prólogo
Joseph apoiou com força sua bengala na entrada do mercadinho, fazendo a ponta de borracha ressoar no chão e chamar a atenção do homem atrás do balcão. O sol do fim da tarde fazia com que sua sombra se estendesse pelo corredor, tornando a cena ainda mais dramática. Com o olhar furioso, Joseph atravessou o espaço que o separava de George, o proprietário do lugar.
Não havia mais ninguém ali para testemunhar a discussão que estava prestes a acontecer. Joseph havia esperado o dia todo por este motivo.
— Você não tinha o direito, George! — começou Joseph, com o dedo trêmulo apontando para o outro homem.
Por um momento, pareceu que George iria ignorá-lo; sua face tranquila sequer havia sido afetada pelo ataque de raiva de Joseph. No lugar de uma reação, George simplesmente ajeitou o bigode com os dedos — um hábito que adquirira anos atrás.
— Como ousa entrar em minha casa e me roubar? Achou mesmo que eu não daria falta de nada?
— Pare de drama, Joseph. Sabe que Patrick deixou a caixa para mim.
Ao contrário de seu acusador, George não era tão velho. Seus cabelos começavam a ganhar o tom grisalho e as rugas ainda eram novidade em sua face. Quem visse a discussão dos dois poderia muito bem achar que se tratava de algo entre pai e filho. Principalmente, se levado em conta a calma com que George tratava o velho. Era algo que apenas os muitos anos de amizade haviam proporcionado aos dois. Porém, era uma calma que só deixava Joseph mais furioso.
— Absurdo! Você sabe que não tem condições de lidar com aquilo. Se, por algum motivo, você deixá-lo sair… — Joseph parou um segundo para retomar o fôlego; começava a suar e sentia sua pressão subindo. — Só deus sabe o que vai acontecer…
Por um momento, George achou que o velho continuaria falando e apontando seu dedo ossudo para ele, tratando-o como se ainda fosse uma criança. Mas não foi assim.
Joseph respirou por mais um longo instante. Com um dos braços apoiado no balcão do mercadinho, sentia a respiração pesada e sofrida. Quando levantou os olhos novamente para George, o homem do outro lado do balcão soube que havia algo errado.
A face de Joseph estava contraída em uma careta, como se um dos lados tentasse expressar algum tipo incomum de dor, enquanto o outro permanecia impassível.
— Joseph?
— Eu… Eu estou bem, menino. — Voltando a se apoiar em sua bengala, Joseph se virou para a porta. — Só trate de me trazer aquela tralha de volta — respirou fundo novamente —, ou vou ser obrigado a tomá-la de você.
O velho parecia fraco; andava mais vagarosamente do que quando havia chegado. Fora o fato de ter simplesmente deixado a discussão de lado, o que não era algo do feitio de Joseph Baxter.
— Tem certeza que está bem, velho? — disse George, dando a volta no balcão.
— Eu só… Eu só preciso de um pouco de ar…
O restante da frase foi apenas um murmúrio antes de Joseph dar um passo em falso. A bengala, frouxa em suas mãos, falhou em seu apoio, fazendo-o cair.
— Joseph!
George correu até o senhor caído de bruços no chão. Abaixou-se e, ao virá-lo, viu que a careta de dor tomava seu rosto por completo. Colocando a cabeça de Joseph em seu colo, George puxou o celular do bolso para ligar para a emergência. Sua mão tremia quando digitou os números, errando-os uma vez antes de finalmente conseguir fazer a ligação.
Ao voltar os olhos novamente para o velho, viu que ele tentava murmurar alguma coisa. Entretanto, não conseguiu entender nada do que ele tentava dizer. Segundos antes de apagar, Joseph ainda segurava com todas as suas forças o tecido da sua camisa na altura do peito. O homem tremia; algo que não parou nem mesmo depois que fora levado pela inconsciência.
1
Molly parou o carro e olhou pela janela; finalmente haviam chegado. No banco de trás, Samuel e Leslie se olharam. Tinham uma expressão preocupada e sentiam uma pontada de decepção. Depois de tantas horas de viagem, a casa não era bem o que esperavam.
Olhando pelo espelho retrovisor, Molly viu a apreensão dos filhos.
— Ei, o que eu disse sobre fazer essa cara? Já cansei de repetir que isso é culpa do seu pai. Além do mais, o vovô precisa de nossa ajuda.
— Não tem mesmo jeito de ficarmos em casa? Eu falo com o papai — disse Samuel, como se o divórcio dos pais fosse algo que ele conseguisse resolver. Em resposta, ganhou um olhar piedoso da mãe, do tipo que queria dizer: Você não entende, filho. É coisa de adulto.
Exatamente o tipo de olhar que Samuel não queria receber.
Molly saiu do carro, espreguiçando e alongando as pernas. Olhou a rua que há tanto tempo tinha sido palco de sua infância. As casas sequer haviam sido pintadas de outra cor. Fora o asfalto novo, tudo parecia igual.
Seus olhos inconscientemente correram três casas à frente, parando onde costumava ser a residência dos Clark. Uma expressão sombria tomou seu rosto, mas não ficou ali por mais de um momento.
Forçando-se a pensar em outra coisa, Molly foi até a janela traseira do carro.
— Vamos. Ou querem passar a noite aí? — disse, batendo no vidro para chamar a atenção dos filhos.
As duas crianças entreolharam-se mais uma vez e saíram do veículo.
O sol laranja no horizonte escondia-se atrás da casa, deixando sua fachada encoberta em sombras e fazendo-a parecer ainda mais imponente do que realmente era. O casarão de dois andares em madeira tinha a tinta descascada pelo tempo e apenas uma luz no andar de cima indicava que ela ainda era habitada. O alpendre com sua estrutura de madeira tinha o lado direito habitado por uma videira que tentava escalar a casa, criando uma cortina verde que só fazia com que o lugar parecesse ainda mais abandonado.
Samuel ajeitou a mochila nas costas, sem saber o que dizer. Como qualquer garoto de treze anos, não queria admitir que sentia medo do lugar.
Olhando para o irmão, Leslie sorriu. Não que estivesse debochando do garoto, era um sorriso de compreensão. Podia ler o desconforto no rosto de Samuel.
— Vamos, eu vou na frente — disse ela, tentando encorajar o menino.
Molly, que já estava subindo as escadas da entrada, bateu na porta e a abriu. Sabia que o pai não viria atender a porta, não depois de seu acidente no mercadinho.
Atrás dela, Leslie e Samuel atravessaram a porta, apreensivos. Forçaram a vista para se acostumarem com a escuridão, tentando andar sem bater em nada. Molly tentou o interruptor ao lado da