Nórdicos livro 1 - Mitos e Sagas
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Sobre este e-book
Reunimos contos que abordam a criação do cosmos e dos homens, o surgimento dos deuses e dos gigantes, os feitos e as personalidades de Odin, Thor, Loki e outras criaturas fantásticas, como elfos e anões, além da grande batalha de Ragnarok, que tudo destruirá para que o mundo renasça.
As sagas, por sua vez, contam histórias de homens e heróis, viagens marítimas e descobertas e são a grande inspiração para boa parte da literatura de fantasia, que, ainda hoje, continua a fascinar leitores e a inspirar autores e artistas no mundo todo.
Hans Christian Andersen
Hans Christian Andersen (1805~1875) produced 130 volumes of outstanding children's stories during his lifetime. Today, his stories are loved and recognized all around the world.
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Nórdicos livro 1 - Mitos e Sagas - Hans Christian Andersen
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(Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha elaborada por: Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
A544m
1.ed
Andersen, Hans Christian
Mitos e sagas / Hans Christian Andersen, Snorri Sturluson ; traduzido por Fátima Pinho, Juliana Garcia. - Cotia, SP : Pandorga, 2020. 252 p. ; 14cm x 21cm..
ISBN: 978-85-8442-468-9 (recurso eletrônico)
1. Literatura. 2. Mitos. 3. Sagas. I. Sturluson, Snorri. II. Pinho, Fátima. III. Garcia, Juliana. IV. Título.
CDD 890
CDD 82.9
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura 890
2. 2. Literatura Diversos 82-93
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA PANDORGA
www.editorapandorga.com.br
O ser humano sempre teve fascínio por entender a origem da vida e o mundo como vemos hoje. De onde viemos? Como tudo começou? De onde surgiram as coisas que conhecemos? Todas essas perguntas são inerentes ao ser humano. Os povos antigos tentavam responder a esses questionamentos por meio de narrativas de caráter simbólico-imagético de deuses, heróis e figuras sobrenaturais que explicavam fatos da realidade e fenômenos da natureza. A essas narrativas damos o nome de mitos.
Estamos falando de histórias muito antigas, de tempos em que a escrita ainda não existia ou não era difundida. Elas passavam, então, de geração a geração oralmente, sendo contadas ou cantadas em casa e, em alguns lugares do mundo, sendo usadas como fonte de educação nas primeiras escolas. A essa prática chamamos de tradição oral
. É de se imaginar, portanto, que não haja apenas uma versão desses mitos, e sim inúmeras, com incontáveis diferenças.
Portanto, ao falarmos em mitologia, independentemente do lugar no mundo, estamos falando de contos gerados pelo imaginário popular e que foram sendo transmitidos oralmente e transformados através das gerações até que, em algum momento, alguém resolveu compilá-los, colocando-os no papel.
Com relação à mitologia nórdica, temos duas grandes compilações de mitos: as Eddas, na região da Escandinávia, e a Kalevala, na Finlândia e em algumas comunidades minoritárias.
A compilação das Eddas é atribuída a Snorri Sturluson e datam aproximadamente dos anos 1220 a 1225. Sturluson condensou as extensas sagas em histórias em prosa que tornaram consistentes os vários relatos da mitologia nórdica. Atualmente, as Eddas em verso e em prosa são a mais importante fonte original de informações sobre a mitologia e os heróis escandinavos. Especula-se que a denominação edda
seja originária do termo eda
, que significa bisavó
em um antigo poema nórdico. Como são contos transmitidos de geração a geração, representam algo como contos da bisavó
. Outra teoria acerca da origem do termo é de que edda
significa poética
. Também existe outra versão que defende, por sua vez, a tese de que a palavra significa O livro de Oddi
, já que Sturluson foi educado em Oddi, na Islândia.
Existem duas versões das Eddas: em prosa, também conhecida como Edda Prosaica, Edda Menor ou Edda de Snorri; e em verso, denominada também Edda Poética, Edda Maior ou Edda de Saemund.
Já a Kalevala foi compilada por Elias Lönnrot no século XIX e é tida como a épica nacional da Finlândia e da Carélia. A Kalevala é considerada um dos mais importantes trabalhos da literatura da língua finlandesa.
A primeira versão da Kalevala (chamada de Kalevala Antiga) foi publicada em 1835. A versão mais conhecida atualmente foi publicada pela primeira vez em 1849 e consiste em 22.795 versos, divididos em cinquenta runot ou cantos.
Ainda na esfera da tradição popular, os nórdicos são famosos por suas sagas. A palavra saga
vem do nórdico antigo e significa o que é dito/contado
. A grande maioria das sagas a que temos acesso tem origem na Islândia, ainda que também existam algumas originárias de outros países escandinavos. Diferentemente dos mitos, as sagas não contam histórias de deuses, e sim de atos heroicos praticados por humanos. Atualmente, o conceito de saga sofreu alterações, e uma série de livros ou uma história longa com muitas aventuras também é conhecida como saga, distanciando-se do significado original.
Neste volume, você vai encontrar uma seleção de alguns dos mais interessantes mitos e sagas dos povos que viveram nessa região gelada e distante do planeta, traduzidos em linguagem acessível para todos.
Sumário
Capa
Ficha Catalográfica
Folha de rosto
Apresentação
A CRIAÇÃO DO COSMOS
Ymir e a vaca Audhumla
Midgard, o mundo dos homens
Mani e Sol, Nott e Dag
Anões e elfos
Ask e Embla, os primeiros humanos2
A árvore Yggdrasil
A ponte Bifrost
OS DEUSES NÓRDICOS
A guerra entre Æsir e Vanir
O hidromel da poesia
Ægir
A deusa Ran
As ondas
A pesca de Thor
BALDER
A morte de Balder
BRAGI
O deus da música
FORSETI
A história de Heligoland
FREY
O deus do país das fadas
O cortejo de Gerda
FREYA
A deusa do amor
Rainha das Valkírias
Freya e Odur
FRIGGA
O ouro roubado
AS AJUDANTES DE FRIGGA
Fulla
Hlin
Gna
Lofn, Vjofn e Syn
Gefjon
Eira, Vara, Vör e Snotra
Heimdall
O GUARDIÃO DO ARCO-ÍRIS
HELA
IDUN
As maçãs da juventude
O sequestro de Idun
LOKI
O arquiteto gigante
NIORD
O deus do verão
NORNAS
A história de Nornagesta
ODIN
A FONTE DE MÍMIR
SKADI
A deusa do inverno
A despedida de Niord e Skadi
A adoração de Niord
THOR
OS CABELOS DOURADOS DE SIF
A CRIAÇÃO DO MARTELO DE THOR
TYR
A história de Fenris
ULLER
Adoração a Uller
VALI
VALKÍRIAS
As donzelas das batalhas
Volund e as Valkírias
VIDAR
A Profecia da Norna
CRIATURAS FANTÁSTICAS
GIGANTES E OGROS
Origem das montanhas
O gigante apaixonado
BEOWULF E GRENDEL
ANÕES
A lenda de Kallundborg
A magia dos anões
A passagem dos anões
ELFOS
KRAKEN
OUTRAS DIVINDADES DO MAR
LORELEI
HULDRA
SELKIES
ESPÍRITOS DA TERRA
Bäckahäst ou Bækhest
Landvættir, Tomte, Nisse, Huldufólk
Os quatro Landvættir da Islândia
Vittras
Tomte
RAGNAROK
O crepúsculo dos deuses
O declínio dos deuses
A Grande Batalha
A regeneração
Um novo céu
ERIK, O VERMELHO
HERVOR E HEIDREK
A HISTÓRIA DE SIGURD
Curiosidade nórdicas
A Kalevala
Runas
O significado das Runas
A CRIAÇÃO DO COSMOS
Ymir e a vaca Audhumla
Antes de o céu, o chão ou qualquer natureza existir, havia apenas o frio e o calor. O frio era Nifelheim, um mundo de escuridão, frio e nevoeiro. O calor era Muspelheim, o mundo do calor eterno. Entre esses dois mundos, havia um grande abismo, cujo nome era Ginnunga-gap.
As chamas vindas de Muspelheim e o gelo vindo de Nifelheim deslocaram-se em direção um ao outro e se encontraram sobre o abismo de Ginnunga-gap. Desse encontro entre frio e calor surgiu uma criatura estranha, um enorme ogro chamado Ymir, o maior gigante que já existiu. Quando o gelo derreteu, as gotas formaram outra criatura, com úberes e chifres: uma vaca colossal chamada Audhumla, que tinha tetas enormes, de onde o leite nevado escorria como um rio caudaloso. Foi assim que Ymir encontrou sustento.
O gigante Ymir era hermafrodita e teve filhos consigo mesmo. Enquanto dormia, começou a suar e, de repente, um macho e uma fêmea emergiram de sua axila esquerda. Depois Ymir uniu os dois pés e deu à luz um filho com seis cabeças. Assim nasceram os gigantes do gelo, conhecidos como trolls ou ogros. E foi assim também que Ymir, que era um gigante destrutivo, acabou se tornando o pai dos gigantes do gelo.
E Audhumla? A vaca lambia as pedras salobras e cobertas de gelo que estavam ao redor dela e do gigante. Então, algo estranho aconteceu. De repente, a forte lambida do ruminante arrancou de uma das pedras longos fios de cabelo. No dia seguinte, da mesma pedra emergiram uma cabeça e um rosto. No terceiro dia, a vaca finalmente extraiu com suas lambidas um corpo inteiro. Era um menino, alto e bonito. Seu nome era Buri, o primeiro dos deuses do Æsir¹, e dele descendem todos os deuses.
Quando os gigantes tomaram consciência da existência do deus Buri e de seu filho Borr, começaram a travar uma guerra contra eles, pois, como os deuses e os gigantes representavam as forças opostas do bem e do mal, não havia perspectiva de viverem juntos e em paz. A luta se prolongou por eras, sem que nenhuma das partes obtivesse uma vantagem decisiva, até Borr se casar com a giganta Bestla, filha de Bolthorn (Espinho do Mal), que lhe deu três filhos poderosos, metade deuses, metade gigantes: Odin (Espírito), que mais tarde se tornaria o deus supremo do Æsir, e seus dois irmãos, Vili (Vontade) e Ve (Piedoso).
Esses três filhos imediatamente se juntaram ao pai na luta contra os hostis gigantes do gelo e sua linhagem. Travou-se uma batalha feroz, da qual Odin e seus irmãos saíram vitoriosos. Os deuses mataram o gigante, e o sangue que jorrou da ferida de Ymir foi tanto que quase todos os gigantes do gelo se afogaram na correnteza. Apenas o gigante Bergelmer e sua mulher conseguiram escapar da enchente, em um baú, e chegar à montanha de Jotunheim, que se tornou a casa dos gigantes. Desses dois gigantes, que fugiram pelo nevoeiro em busca de refúgio na terra das brumas, vêm todas as gerações posteriores de gigantes do gelo.
Audhumla, a primeira vaca, certamente também foi arrastada pelas ondas e caiu no abismo, já que, depois daquele banho de sangue, ninguém mais teve notícias dela.
Midgard, o mundo dos homens
Então os deuses alados arrastaram o corpo de Ymir para o centro do imenso vazio, Ginnunga-gap, e o colocaram como uma cobertura no abismo. Depois, do corpo sem vida do gigante criaram o mundo. O sangue de Ymir deu origem a oceanos, rios, lagos e fontes, e com sua pele e músculos os deuses criaram Midgard, como chamavam a Terra. Os ossos do colosso transformaram-se em montanhas e penhascos, e os dentes e lascas de ossos quebrados, em pedras e pedregulhos. Do cabelo ondulado nasceram as árvores, as plantas, as flores e a grama, e do cérebro foram feitas as nuvens. O crânio do gigante foi colocado como uma abóboda que cobria a terra e os oceanos. Por fim, estava criada a Terra.
A Terra era um grande círculo rodeado pelo oceano. Com as sobrancelhas do gigante, os deuses construíram uma enorme cerca ao redor dela para manter os gigantes afastados da raça de homens que eles pretendiam criar. Uma enorme serpente, chamada Jormungand, a Serpente, rodeia toda a extensão do círculo da Terra, devorando qualquer homem que queira sair de Midgard.
Para dar luz ao mundo recém-criado, os deuses pegaram faíscas do Muspelheim em chamas e as penduraram no céu, onde até hoje elas brilham, dentro do que um dia foi o crânio de Ymir. E foi assim que surgiram as estrelas. As mais vívidas dessas faíscas, no entanto, foram reservadas para a fabricação do sol e da lua, que foram colocados em belas carruagens de ouro.
Mani e Sol, Nott e Dag
As carruagens estavam prontas, e os corcéis já estavam com seus arreios e impacientes para começar sua ronda diária. Mas quem os guiaria pelo caminho certo? Os deuses olharam ao redor e viram os dois filhos do gigante Mundilfari, que, muito orgulhoso da beleza de seus filhos, havia dado a eles os nomes dos orbes recém-criados: Mani (Lua) e Sol. Ultrajados pela arrogância de Mundilfari, os deuses deram aos irmãos a tarefa de conduzir para sempre os corcéis com seus respectivos nomes. Assim, os dois foram transferidos para o céu e, dia após dia, cumprem seus deveres e guiam seus corcéis pelos caminhos celestes.
Em seguida, os deuses convocaram Nott (Noite), filha de Norvi, um dos gigantes, e confiaram aos cuidados dela uma carruagem escura, puxada por Hrim-faxi (Crina de Geada), de cuja crina ondulante o orvalho e a geada caíam sobre a Terra. A deusa da noite havia sido casada três vezes. Com o primeiro marido, Naglfari, ela teve um filho chamado Aud; com o segundo, Annar, uma filha chamada Jord (Terra); e do terceiro casamento, com o deus Bellinger (Amanhecer), nasceu outro filho, de radiante beleza, que recebeu o nome de Dag (Dia).
Assim que os deuses souberam da existência desse belo ser, deram a ele uma carruagem, puxada por um corcel branco