Contos encantados
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Sobre este e-book
Uma pequena feiticeira, uma lebrezinha com poderes mágicos, um espírito das águas e uma bruxa boa: Magia e sabedoria, realidade e lendas se unem em quatro histórias para ler sorrindo e para refletir.
Uma história na qual é importante pensar muito bem sobre o que desejamos. Duas histórias sobre o poder da natureza e o descuido dos homens. E um conto de Natal bem diferente.
O que outros dizem a respeito:
“Os textos são abrangentes e apropriados para crianças de várias idades e divertem inclusive os adultos. (...) Todas as histórias baseiam-se fundamentalmente numa questão que toca a todos nós: se trata de defender e proteger a natureza que está ameaçada pela desrespeitosa procura do lucro.”
“Quatro histórias delicadas e emocionantes, que não divertem somente crianças, e fazem mesmo adultos sorrirem. (...) Crianças ficam totalmente exaltadas pela magia dos contos, e adultos também, pois todas as histórias, elaboradas com experiência de vida, vão a fundo.”
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Contos encantados - Annemarie Nikolaus
O riacho
Era uma vez uma pequena menina que morava com seu pai e sua mãe numa velha azenha às margens da aldeia. O pai utilizava a força agreste do riacho zelosamente para manter o fogo da sua ferraria: Para isso, as águas faziam girar incessantemente uma grande roda de ferro. Atrás do moinho, o riacho se expandia sobre rochas escarpadas, para, então, despenhar-se subitamente. A espuma jorrava alto e deitava-se, em forma de pérolas brilhantes, sobre os arbustos, que se declinavam sobre o riacho murmurante. Era nesse lugarzinho que a menina ficava sentada, e não se cansava de ouvir o trovejar das águas.
Lena, o que você está fazendo?
, perguntava o pai de vez em quando.
Estou ouvindo-o!
E o pai sorria, e retornava à sua bigorna.
No inverno, ela sentava com o gato na janela, e não se fartava de observar o mundo maravilhoso dos cristais de gelo reluzentes que o frio havia criado à beira da queda-d’água. E, quando sua mãe perguntava o que ela estava fazendo, ela assim respondia: Estou observando-o!
A saber, o riacho, que assim como o gatinho saltava alegremente de pedra em pedra, descia a encosta pulando e rolava pela grama, parecia, para Lena, um ser vivo como o seu gato. Depois de seus pais, esses dois eram o que ela mais gostava nesse mundo. E ela desejava, dia após dia, que o espírito das águas aparecesse pessoalmente para ela, assim como outrora ele havia aparecido para a sua avó.
E, assim, os anos foram se passando. Então chegou a primavera, na qual não queria chover. As sementes secavam nos campos, e os camponeses começaram a reclamar. O riacho também foi ficando cada vez mais magro. Porém ele se alimentava de fontes profundas da parte interna das montanhas, e sendo assim o ferreito pôde tranquilizar sua filha, dizendo-lhe que o riacho não secaria jamais.
Quando o verão chegou a essas terras, a miséria se expandiu ainda mais. Impiedosamente o sol ardia desde o céu, e o gado nas pastagens gritava de sede. O riacho de Lena tornou-se estreito e fraco, mas continuava impulsionando a roda do moinho.
Por horas, Lena ficava sentada à beira olhando fixamente para os regatos. Às vezes, ela se desfazia em lágrimas, pois ela ainda tinha medo de que logo ele sumisse completamente.
Por vezes, o pai vinha, certamente para consolá-la. A água é eterna, minha filha
, costumava dizer. "E nada no mundo é mais poderoso. Ela vence o fogo. Nenhuma pedra resiste a ela.