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Demolidor: O homem sem medo
Demolidor: O homem sem medo
Demolidor: O homem sem medo
E-book318 páginas3 horas

Demolidor: O homem sem medo

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Sobre este e-book

ROMANCE ADAPTADO DOS QUADRINHOS DE FRANK MILLER & JOHN ROMITA JR.

UM PAI TOMADO PELA CULPA.
UM MENTOR SEVERO. UMA PAIXÃO ARREBATADORA.
O QUE MOVE O HOMEM SEM MEDO?

Matt Murdock foi criado apenas por seu pai, Jack, um pugilista decadente com uma última chance de se dar bem – chance que lhe custou a vida. Provocado e atormentado por outras crianças, a vida de Matt muda drasticamente após um terrível acidente que acaba por cegá-lo ao tentar salvar um idoso. O resultado? Inteligência aguda e força de vontade implacável, que o ajudam a administrar seus supersentidos. A história do Demolidor é uma saga de amor, dor, decepção e força. Testemunhe as estranhas maquinações por trás da vida de um dos mais amados super-heróis do universo Marvel nesta inédita e surpreendente adaptação em prosa da obra de Frank Miller & John Romita Jr
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de out. de 2020
ISBN9788542812978
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    Demolidor - Paul Crilley

    Parte ICapítulo 1

    Cozinha do Inferno.

    Hoje.

    Depois de um tempo, a dor se torna um modo de manter a contagem dos pontos. Um modo de manter o controle de quantas pessoas ele irritou.

    E, nesta noite, Matt Murdock irritou um monte de gente.

    Ele se contrai e rola. Sua bochecha esquerda está gelada por ter ficado enfiada na neve ensanguentada. Volta toda sua atenção para a bochecha. É a única parte do corpo que não está gritando de dor. Arranhões, cortes, ossos fraturados e, definitivamente, uma ou duas costelas quebradas. Ele acha que consegue ouvir o gorgolejo do sangue nos pulmões. Nada bom.

    Feche os olhos, sussurra uma voz em sua cabeça. Apenas descanse um pouco.

    Seus olhos vão se fechando. Sim. Um descanso. Ele poderia descansar um pouco. Ele mereceu, não é? Depois de tudo?

    Não. Ainda não. Ele ainda não é merecedor de nada.

    Seus olhos lentamente se abrem. Ruídos de botas se aproximando, correndo pelas poças e pela neve. Ele pode ouvir seus estrondos no píer, o som se erguendo acima do assovio e do rugido do oceano à sua esquerda.

    Eles têm armas, Murdock. Melhor você se preparar.

    Mas ele não consegue. Não consegue sequer se mover.

    Seus olhos se fecham novamente enquanto os passos se aproximam.

    – Ele está aqui!

    • • • •

    Cozinha do Inferno.

    Treze anos atrás.

    – Ele está aqui!

    Matt Murdock lança um largo sorriso para os dois policiais gordos vindo pelo beco em sua direção. Seus uniformes possuem enormes manchas escuras de suor, e eles se esforçam para conseguir respirar. Até mesmo Matt está suando, mas pelo menos ele tem uma desculpa: está usando uma velha máscara de esqui para esconder sua identidade.

    Mesmo assim, faz uma nota mental para que, da próxima vez que tiver vontade de se mostrar na frente dos valentões da escola em uma tentativa de evitar ser espancado, o faça em um dia em que não seja um dos mais quentes do ano.

    – Apenas… fique onde está, garoto! – grita um dos policiais. Matt acha que seu nome é Policial Leibowitz. Já o viu pela vizinhança. Seu parceiro parece mal conseguir falar, seu rosto está alarmantemente vermelho e ele arqueja enquanto se apoia em uma das paredes do beco. Matt torce para que o cara não sofra um ataque cardíaco. Provavelmente se encrencaria por isso também.

    – Vamos lá – diz Leibowitz. – Só queremos o cassetete do Policial Mitch de volta. Não podemos sair quebrando cabeças de criminosos sem ele. Devolva, garoto.

    Em resposta, Matt salta para cima de uma lixeira. Quase escorrega e cai dentro, mas consegue se equilibrar, segurando-se na escada de incêndio suspensa. Ele olha para dentro da lata. Vegetais podres, carne vencida, jornais molhados. Seringas. Algo que parece um gato morto. É. Não quer cair ali.

    Apoia­-se na escada e sobe até o primeiro nível.

    – Eu vou atirar nele, Oswald – grita o Policial Mitch. – O pequeno verme não pode simplesmente roubar o cassetete de um policial!

    Matt olha para baixo e vê o Policial Mitch colocando a mão sobre a arma. Arregala os olhos surpreso. Rapidamente, olha ao redor, procurando um jeito de escapar. O beco termina em um muro, mas talvez ele consiga pular para o outro lado…

    Sobe até o próximo nível e, então, na grade, e salta até a parede dos fundos.

    – Ele está indo para a 9a Avenida! – grita Leibowitz.

    Matt olha por sobre o ombro e vê Leibowitz correndo pelo beco na direção da Rua 51 Oeste. O Policial Mitch ainda está tentando pegar a arma. Ele não atiraria realmente em um menino, não é? Por roubar um pedaço estúpido de madeira?

    Mas não quer ficar para descobrir. Salta do muro e pousa com leveza no asfalto – sem chance de o Policial Mitch segui­-lo por ali.

    Leibowitz, por outro lado… Assim que Matt sai do beco, vê o policial virando a esquina da 51a com a 9a, correndo.

    – Pare! Parem aquele garoto!

    Obviamente, Leibowitz é novo na cidade. Qualquer nova iorquino em sã consciência sabe que a melhor maneira de ser assassinado é tentando interferir nos problemas alheios. Matt pode ser um garoto de doze anos, mas ninguém mais sabe disso. Ele poderia ser um psicótico. Um assassino em série que fugiu de um orfanato. Sem chance de alguém querer detê­-lo.

    Matt vira e corre pela 9a Avenida, desviando das pessoas que estão na rua desfrutando a tarde de verão. Os cheiros e visões atacam seus sentidos: cachorros­-quentes, batatas fritas, hambúrgueres, gasolina. Algumas crianças arrancaram a tampa de um hidrante e brincam no chafariz de água. Uns adultos também aproveitam para se refrescar. Matt atravessa no meio da água, deixando que ela o refresque. Passa correndo por sedans e caminhões de entrega, ignorando os gritos mal­-humorados dos motoristas que lentamente cozinham em seus carros. O sol brilha com força em seus olhos, refletindo os para­-brisas e as vitrines. Ele mantém os olhos semicerrados, desvia de um grupo de adolescentes escutando uma música da qual Matt costumava gostar, mas que agora parece tocar exageradamente nas rádios.

    Ele arrisca uma rápida olhada para trás. Leibowitz ainda está vindo. Nada mal. Nota 10 pelo esforço, policial. Mas ainda não é páreo para mim.

    Matt acelera e atravessa o tráfego, chegando no lado com sombra da rua. Leibowitz tem de esperar um ônibus passar – e, nesse momento, Matt está virando na 50a Oeste, ainda a toda velocidade. Ele entra em outro beco, que o leva para 49a Oeste e…

    … pode relaxar. Sem sinal de Leibowitz.

    Está perto de casa agora. A salvo. Continua correndo, movendo-se pelo coração da Cozinha do Inferno. O trânsito não é tão maluco por ali e os carros que ele vê são mais velhos, mais acabados. As calçadas são rachadas e cheias de plantas. Um vapor que fede como uma mistura de cadáveres e lixo emerge das tampas de bueiro. Certa vez, Matt foi desafiado a colocar o rosto sobre uma dessas tampas e ficar ali por um minuto inteiro. Aguentou três, mas vomitou logo em seguida e se sentiu enjoado por todo o dia seguinte.

    Matt olha ao redor para se certificar de que não há policiais por perto e, então, tira a máscara e a enfia no bolso, virando o rosto na direção da brisa. Ela está quente e pesada, mas ainda o refresca.

    Ele sorri e se põe a correr novamente, passa voando pela escola e pela velha bodega que está ali desde que seu pai era garoto, passa pelo açougue onde os velhos mafiosos se encontravam para comprar seus cortes de carne e pela 44a Oeste.

    Ele conseguiu. Voltou para o ginásio com o cassetete de um policial. Venceu a aposta. De novo. Estava tendo problemas na escola com alguns dos garotos maiores, mas realmente precisava pensar em um novo método de se livrar das surras. As apostas estão ficando cada vez mais perigosas e mais malucas, e se ele for pego – não será, mas se for – seu pai terá algo a dizer sobre isso.

    É fim de tarde de um domingo, então o ginásio está fechado, mas Matt tem seu jeito de entrar. Ele se esconde na parte detrás do edifício e empurra os antigos caixotes de frutas contra a parede e, então, os usa para subir até a janela do vestiário. A tranca não funciona, e ninguém nunca se deu ao trabalho de consertá­-la. Não há nada em um ginásio que valha a pena roubar.

    Ele empurra a janela para abri-la e sobe pelo parapeito, deslizando levemente para dentro da fria escuridão do vestiário. Precisa esconder o cassetete em algum lugar. Os outros vão querer ver se ele realmente conseguiu. Matt pensa por um segundo e, então, abre o armário mais próximo e tateia o fundo. A base é feita de madeira, e está solta. Ele a ergue, revelando uma cavidade onde pode esconder o cassetete.

    Fecha bem a base e o armário e se levanta, sentindo­-se muito bem consigo mesmo. Acabara de ganhar uns bons pontos. A notícia vai correr por aí, e talvez isso faça com que eles recuem.

    Ou então vão vir para cima dele com mais força, querendo colocá­-lo em seu lugar.

    Matt considera essa possibilidade por um momento, mas dá de ombros. Não há nada que possa fazer sobre o assunto no momento. Ele se volta para a janela…

    … e ouve alguém rindo.

    Matt congela. Era para o ginásio estar vazio. Trancado.

    Ele se move silenciosamente na direção da porta do vestiário e desliza para a passagem que leva até o ginásio. Está escuro ali. Não consegue ver nada. Ele passa a mão levemente pela tinta antiga, sentindo­-a desmanchar sob seus dedos.

    Escuta a risada novamente. Não gosta de como soa. Tem a cruel histeria de um valentão, do tipo que ele ouve na escola.

    Matt para perto da porta que leva até o ginásio.

    – Sabe… é o seguinte, Jackie. Não gosto quando as pessoas dizem não para mim. Especialmente quando sou legal com elas.

    – Legal?!

    Matt fica tenso, seu coração martelando com força no peito. Ele conhece aquela voz. Pai.

    Matt espia o ginásio. A luz acima do ringue de boxe foi ligada, inundando o centro da sala com uma dura luminosidade branca, enquanto todo o resto permanece em tons de escuridão. Há três figuras no ringue. O pai de Matt está de joelhos, mantido ali pelo cara enorme usando camiseta branca. O cara é coberto de grossos pelos pretos encaracolados. Matt já o vira pela vizinhança. Dizem que trabalha para a máfia.

    O terceiro homem está parado bem na frente de seu pai. Alto e magro. Cabelos grisalhos que brilham sob a luz toda vez que ele se move.

    – Sim. Este sou eu sendo legal. Confie em mim. Você não quer me ver quando estou puto. Certo, Slade?

    – Certo, patrão.

    – Sabe, as pessoas me respeitam por aqui, Jackie. Gostam de me deixar feliz. – O homem alisa o cabelo para trás e franze a testa para seu pai. – Neste momento, você não está me deixando feliz.

    O pai lentamente ergue o olhar para o homem e Matt, involuntariamente, recua um passo. Nunca vira seu pai desse jeito. Seus olhos estão cheios de… raiva. Fúria.

    – Ninguém respeita você, Rigoletto – o pai ruge. – Eles temem você. Há uma diferença.

    Rigoletto? Matt sente o medo crescer. Todos conhecem o nome Rigoletto. Ele é o cabeça da máfia da Cozinha do Inferno.

    – E você não teme? – pergunta Rigoletto. – Quer saber? Não se dê ao trabalho de responder. Eu não ligo. Porque você está errado… Medo e respeito são a mesma coisa.

    Rigoletto se agacha e segura o queixo do pai.

    – Pense com cuidado, Murdock. Estou lhe oferecendo um emprego. Um bom emprego.

    – Eu não quero trabalhar para você.

    – Por que não?

    Rigoletto olha para o enorme homem que está com a mão no ombro do pai.

    Você gosta de trabalhar para mim, certo?

    – Certeza, patrão.

    – Vê? Sou bom para meus funcionários. Lembra­-se daquela vez que deixei vocês trabalharem na minha boate?

    A tábua de músculos chamada Slade sorriu:

    – É. Tinham garotas.

    – É isso mesmo, Slade. Tinha um monte de garotas.

    O pai de Matt tosse e cospe sangue na lona. O sangue espirra no sapato de Rigoletto. Ele franze a testa, tira um lenço do bolso de seu paletó e limpa o sangue. Em seguida, joga o lenço no ringue e se levanta.

    – Fique esperto, Murdock. Estou tentando lhe fazer um favor.

    – Não preciso de um favor. E não preciso de emprego. Já tenho um.

    Rigoletto ri.

    – Lutando Boxe? Como é que te chamam no cassino? O Demolidor? Com sua fantasia vermelha? Todas as donas de casa gritando por você. Gosta disso, Murdock? Acha que isso é jeito de ganhar a vida?

    – Pelo menos é honesto.

    Rigoletto suspira.

    – Ouça. Todo esse falatório? Isso apenas atrasa as coisas. Nós dois sabemos que você vai acabar dizendo sim. A única coisa que deve se perguntar é quantas cicatrizes quer antes de chegar lá. Você vai trabalhar na vizinhança para mim. Cobrando os maus pagadores.

    – Não.

    – Sim. Ou…

    – Não! Faça o seu pior! – o pai grita. – Não vou fazer o trabalho sujo de um mafioso.

    – Eu não terminei, Murdock – Rigoletto aponta um dedo para ele.– Você precisa parar com isso. Interromper as pessoas quando estão falando. É um hábito terrível. Não é mesmo, Slade?

    – Grosseiro.

    – Isso mesmo. Grosseiro. É assim que vai ser, Jack: você cobra para mim o dinheiro de proteção que eles não pagaram – Rigoletto ergue a mão para desencorajar qualquer argumentação. – Senão as coisas vão ficar ruins para você… e para seu menino de olhos claros, seu pequeno Matt.

    O pai nada diz depois disso. Ninguém diz. O homenzarrão, que se chama Slade, puxa o pai até seus pés e o joga no chão. Rigoletto pisa com força o rosto do pai de Matt.

    – Aí está. Entende agora? É só questão de encontrar o ponto de pressão certo. Há uma lição para você aqui, Murdock. Talvez seja uma boa ideia para se lembrar quando estiver cobrando os devedores mais teimosos. Sempre encontre o ponto de pressão.

    Os mafiosos vão embora. Matt observa o pai largado no chão do ringue, as costas apoiadas no poste do canto. Ele não se move. Fica assim até que Matt não consiga mais ver aquilo.

    O menino desliza novamente pela janela e vai para casa.

    Mas sua casa não parece mais tão segura.

    E nunca mais parecerá.

    Capítulo 2

    Doze anos atrás

    O lance a respeito de se fazer um trabalho que você odeia, pensa Jack Murdock, é aprender a se dividir em duas pessoas. Uma vai para casa e a outra vai para o trabalho. E certifique­-se de que uma não cruze o caminho da outra.

    – Do modo que vejo, Jackie…

    Não me chame de Jackie, idiota.

    – Do modo que vejo… – Slade faz uma pausa, levando uma coxinha de frango à boca. – O que eu estava dizendo?

    Jack abre o vidro. O cheiro de frango frito o está deixando enjoado.

    – Você está doido? Fecha isso aí. Estamos no meio do inverno. Você sabe que fico gripado fácil.

    Jack fecha o vidro. Mas não por inteiro. Ele gosta da brisa noturna no rosto. O ar gelado o distrai, o mantém alerta.

    – Murdock. Fecha o vidro!

    Jack se vira no assento do motorista para encarar Slade. A veia da testa de Slade está visível. Destacando­-se em sua pele oleosa.

    Isso significa que vai ser uma noite ruim.

    Ele fecha completamente o vidro.

    – Assim é melhor. Respeite seus superiores. Faça o que te dizem, menino Jack.

    Jack range os dentes e envolve firmemente com as mãos enluvadas o volante, imaginando­-o sendo esmagado com o aperto e se despedaçando em suas mãos. E se imagina enfiando uma das lascas na garganta de Slade.

    – Vamos, Jack. Esta noite vamos ver como a outra metade vive. Vamos fazer uma visita a um dos ricaços.

    Jack arranca e entra no trânsito, sem pressa. Quanto mais tempo passar no carro, menos tempo passará fazendo o que odeia.

    • • • •

    Param para pegar outro par de mãos que os ajudará no trabalho, um jovem chamado Larks. Jack já o viu por aí – geralmente ao lado do cara careca que recentemente se juntou ao bando de Rigoletto como executor de baixo nível – e nunca gostou do jeito dele. Não apenas do jeito dele, embora fosse o suficiente para fazê­-lo se arrepiar: a pele pálida esticada sobre um crânio proeminente demais; os cabelos loiros quase brancos e lisos; e os olhos azuis muito claros. É tudo nele. Ele simplesmente faz com que Jack pire. Quase nunca fala. Nunca sorri. Apenas o encara com aqueles olhos sem vida.

    Chegam a casa um pouco depois das dez. Jack estaciona do outro lado da rua, dando-se conta de que seu velho Cadillac se destaca como… bem, como um Cadillac entre Audis, Porsches e Mercedes. Não é necessariamente discreto.

    Slade abre o vidro e olha para a casa. Todas as janelas estão escuras.

    – Então, qual é o serviço? – Jack pergunta.

    Slade não responde. Ele saca uma pistola e puxa o ferrolho para trás, colocando uma bala no cano. Jack franze a testa. Isso é novidade. Geralmente, eles fazem essas coisas com tacos de beisebol e com os punhos. Mas armas?

    Slade finalmente se vira e olha para ele.

    – Um cara chamado Mitchell. Ele deu para trás em um acordo que fez com o Rigoletto. E agora os outros investidores estão com um pé atrás. Entende?

    – Rigoletto quer fazer dele um exemplo?

    Slade sorri, mostrando dentes que foram tão clareados que parecem de plástico.

    – É isso aí, Jackie. Um exemplo. Está aprendendo. Já era hora. Já faz quase o quê… um ano? Há alguns guarda­-costas no andar de baixo. Vamos lidar com eles antes.

    Slade e Larks saem apressados do carro. Jack estica o braço e pega o taco de beisebol debaixo do banco. Ele não mexe com armas.

    Escalam o alto portão e caem em um jardim imaculadamente bem cuidado. Slade pisa nos canteiros, esmagando com uma alegria descarada as flores precisamente colocadas – e até fazendo desvios para se certificar de que havia pisado em cada uma delas. Idiota, pensa Jack. Os policiais podem usar suas pegadas como evidência.

    Não que haja muitos policiais que realmente ficariam contra Rigoletto.

    Eles dão a volta até a parte detrás da casa. A porta detrás é bem sólida. Madeira grossa. Parece capaz de suportar um aríete da polícia. Slade se ajoelha e retira uma coleção de gazuas, desenrolando o pedaço de couro no chão. Ele escolhe dois pedaços finos de metal e começa a trabalhar, sussurrando alguma música, todo feliz.

    Jack observa nervosamente. Os únicos momentos em que Slade parece feliz é quando está fazendo algum trabalho para Rigoletto. Quando ele se senta no ginásio – seu novo lugar favorito para matar tempo, onde ele fala dos dias em que costumava ser boxeador e como seria capaz de dar uma surra em Jack se fossem para o ringue juntos –, está sempre carrancudo e mal­-humorado. É como se ele precisasse estar infringindo a lei para se sentir bem.

    Jack dá uma olhada em Larks. Ele está sentando em um balanço infantil no meio do jardim, balançando-se lentamente para a frente e para trás, para a frente e para trás.

    A fechadura deve ser muito boa, pois Slade para de cantarolar e começa a xingar. Leva cinco minutos para finalmente ouvir o doce estalo do sucesso.

    Slade guarda novamente suas gazuas e abre a porta. Jack o segue, com Larks guardando a retaguarda.

    Jack espera no recinto até que seus olhos se ajustem à escuridão. Uma longa mesa toma conta da maior parte do espaço – uma sala de jantar. Além da porta, há um longo corredor que se estende até a frente da casa.

    – Guarda­-costas – sussurra Slade.

    Jack assente.

    Eles seguem pelo corredor até um enorme hall de entrada, totalmente coberto de azulejos. Uma escadaria acarpetada leva ao segundo andar. Slade os guia pela direita, para longe das escadas. Atravessam uma sala de estar até um corredor estreito e, finalmente, até um minúsculo lounge que abriga duas poltronas, uma mesa e cadeiras, e uma enorme televisão. À frente do lounge

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