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Doidinho
Doidinho
Doidinho
E-book231 páginas3 horas

Doidinho

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Sobre este e-book

Publicada em 1933, a obra "Doidinho", continuação de "Menino de Engenho", traz Carlinhos em um mundo completamente diferente do engenho Santa Rosa. Carlinhos agora é Carlos de Melo, está saindo da infância e entrando na pré-adolescência, enquanto vive num colégio interno, sob o olhar de um diretor cruel e autoritário. Enquanto lida com o despertar de sua sexualidade, sente falta da antiga vida no engenho, e encontra refúgio nos livros.

As mudanças na vida de Carlos acompanham as mudanças na história do Brasil. Os engenhos estão sendo trocados por usinas, enquanto há uma percepção de que a mão de obra na cultura açucareira é análoga à escravidão.

Com introdução da pesquisadora, crítica literária, autora de literatura juvenil e professora universitária Marisa Lajolo, "Doidinho" é a segunda obra do chamado Ciclo da Cana-de-Açúcar de José Lins do Rego.

O ano de sua publicação coincide com a da obra "Casa-Grande & Senzala" de Gilberto Freyre, de quem José Lins do Rego era amigo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de jan. de 2021
ISBN9786556120591
Doidinho

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    Doidinho - José Lins do Rego

    DOIDINHO

    José Lins do Rego

    Apresentação

    Marisa Lajolo

    ***

    1ª edição digital

    São Paulo

    2020

    Sumário

    Doidinho, o menino que aprendeu o Brasil, Marisa Lajolo

    Doidinho

    Cronologia

    Doidinho, o menino que aprendeu o Brasil

    Marisa Lajolo

    Corria o ano de 1933

    Getúlio Vargas governava o Brasil, passava nos cinemas Ganga bruta, filme dirigido por Humberto Mauro, e nas livrarias figuravam os recém-chegados Cacau, de Jorge Amado, e Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre. Ao lado deles, o romance Doidinho, de José Lins do Rego (1901-1957), escritor paraibano que, no ano anterior, tivera imenso sucesso com seu livro de estreia, Menino de engenho.

    Doidinho, que dá nome ao livro de 1933, é o apelido de Carlos Melo, menino de 13 anos, interno em um colégio em Itabaiana, longe do engenho Santa Rosa, onde era criado pelo avô José Paulino. No livro, Lins do Rego dá a palavra a Doidinho, que nos faz acompanhar a vida numa escola cheia de regras, com um diretor autoritário e cruel, a um tempo em que alunos apanhavam e ficavam trancados, de castigo, em quartos.

    Doidinho, o menino que tinha vários nomes

    O livro se desenrola numa linguagem envolvente, como se Doidinho, o narrador, estivesse conversando com os leitores, dividindo com eles a história de seu dia a dia na escola e o relato das breves temporadas que passava no engenho da família.

    Ao longo da leitura, o leitor provavelmente se solidariza com o narrador, menino órfão e muito sensível, atormentado pelas circunstâncias trágicas de sua orfandade. Muitas vezes ele apanha do diretor da escola e fica de castigo. Aprende, então, a refugiar-se nos livros, identificando-se com as personagens e situações das histórias.

    O desenrolar do romance acompanha, de forma extremamente delicada, o percurso da criança ao jovem, do menino ao adolescente, e as descobertas, sofrimentos e conquistas do crescimento. Nas palavras do narrador:

    Em casa, era Carlinhos, ou então Carlos, para os mais estranhos. Agora, Carlos de Melo. Parecia que era outra pessoa que eu criara de repente. Ficara um homem. [...] O Carlos de Melo que me chamavam era bem outra coisa que o Carlinhos do engenho, o seu Carlos da boca dos moradores, o Carlos do meu avô.

    [...] Tinha também ganho o meu apelido: chamavam-me de Doidinho.

    Como toda passagem, a de Carlinhos a Doidinho é acompanhada de rituais, um dos quais bem pode ser representado pela sucessão de nomes que designam o sofrido menino. Entre outros, o despertar da sexualidade o atormenta. Num ambiente escolar de erotismo ao mesmo tempo despertado e condenado, Doidinho sofre. Mistura as recordações do antigo amor pela prima Maria Clara, sentimento depois castamente duplicado pela colega de classe, Maria Luísa, com a atração pelas mulheres negras mais velhas e pela prática do sexo solitário.

    E sofre.

    Os vários Brasis de Doidinho

    Além do discurso memorialista de tom confidencial, que aproxima o leitor dos sentimentos e emoções do narrador, pela voz de Doidinho, o leitor acompanha também transformações do Brasil.

    A transformação do Carlinhos – como era chamado em casa – no aluno identificado pelo nome e sobrenome não é a única transição que o leitor acompanha no livro.

    Junto com Doidinho, o Brasil muda.

    A passagem do menino Carlos para Carlos de Melo do internato traz os prenúncios da decadência da cultura açucareira, da falência do patriarcado rural nordestino (do qual o avô de Doidinho é requintado exemplo), da passagem do engenho para a usina. Não sem razão, a crítica costuma considerar esse livro – ao lado de alguns outros romances de José Lins do Rego – como parte de um ciclo, que se intitula ciclo da cana-de-açúcar.

    Nos anos trinta do século passado, a cultura da cana-de-açúcar já tinha uma longa história no Brasil. Foi ainda no século XVI que se iniciou seu plantio, matéria-prima do açúcar, produto de exportação da colônia portuguesa, primeiramente produzido em engenhos, com tecnologia muito primitiva.

    Ao tempo em que a história de Doidinho se passa, a economia brasileira repousava na exportação do açúcar, mas o modo de produção começava a modernizar-se, substituindo-se o engenho pela usina.

    Uma passagem do livro registra o momento em que o narrador, numa conversa com colegas, percebe essa passagem de um modo de produção para outro:

    — Eu vi a usina Cumbe. O açúcar lá sai branco. Usina, sim, que é bonito pra se ver. Você nunca viu usina.

    Ouvira falar das usinas pelos moradores que voltavam da de Goiana. Quando ele me dizia que as moendas puxavam a cana numa esteira, eu me espantava. Via no engenho os negros tombando cana, feixe por feixe. Na usina a esteira puxava para a moenda, sem ninguém empurrar. Era só sacudir a cana em cima. [...] Me encantava a notícia dessa engrenagem das usinas. Pensava nos trens, nas maquinazinhas de brinquedo, puxando vagões de cana por dentro dos partidos.

    [...]

    A verdade é que as usinas já estavam ali para humilhar os banguês do meu avô.

    Senhores de engenho como José Paulino, o avô de Doidinho, enriqueciam com a cultura canavieira, com a cana moída em engenhos tocados por trabalhadores cujo regime de trabalho era muito próximo à escravidão. A abolição recente não tinha apagado a macabra herança escravocrata nem as práticas de beneficência nela instituídas, muitas vezes assumidas e proclamadas como generosidade dos senhores de engenho.

    Nesse aspecto, esse romance de José Lins do Rego envolve, numa bela história, a teoria que, em estilo ensaístico, Gilberto Freyre expõe no seu clássico Casa-grande & senzala, livro lançado simultaneamente ao romance Doidinho.

    Outra passagem do livro registra o momento em que Doidinho percebe a diversidade de Brasis que o cercam, seus olhos se abrindo para a realidade que tinha vivido – talvez sem compreender – no engenho do avô.

    Ele recorda e analisa a trajetória dos filhos dos trabalhadores:

    Em pequenos achavam graça no que os molequinhos diziam. Amimávam-nos como aos cachorrinhos pequenos. Iam crescendo, e iam saindo da sala de visitas. E quanto mais cresciam mais baixavam na casa-grande. Começavam a lavar cavalos, levar recados. [...]

    […] Pensei, engolindo a minha farta comida, na miséria da casa do Riachão, na farinha seca de Andorinha. Na cozinha a negra Generosa distribuía a ração dos pastoreadores, descompondo. O mesmo para variar: carne do ceará com farinha seca.

    Doidinho, literatura e história do Brasil

    Doidinho, ao lado de obras de Jorge Amado (1912-2001), Graciliano Ramos (1892-1953), Rachel de Queiroz (1910-2003) e alguns outros, é considerada uma das grandes obras representantes do romance regionalista nordestino.

    A história que o livro conta ilumina a história brasileira de seu tempo.

    Os anos trinta e quarenta do século passado – que viram a publicação dos vários livros de José Lins do Rego que integram o chamado ciclo da cana-de-açúcar – marcam a transição do agronegócio brasileiro para um modelo econômico que cada vez mais se distanciava do modelo que tinha vigorado nos séculos anteriores.

    A substituição do engenho pela usina mencionada no romance, na concretude dos prédios que os representam, pode sugerir bem mais do que o mero registro dessa transição. Pode também ser lida como uma metáfora de valores e de modos de vida que se substituem e se atropelam. E o desajeito do protagonista narrador para gerenciar sua vida talvez também possa ser lido como algo que ultrapassa a experiência individual de Carlos de Melo.

    Se tal leitura é possível, fica para José Lins do Rego, entre outros méritos, ter escrito – entre muitas outras – uma obra como Doidinho, tão apreciada pelo público desde seu lançamento quanto reconhecida pela crítica. E para isso talvez não seja indiferente o fato de o livro contar uma história coletiva – um pedaço da história do Brasil – pela voz de um jovem afastado dos grandes centros.

    A Augusto Frederico Schmidt,

    Aurélio Buarque de Holanda Ferreira

    e Valdemar Cavalcanti.

    1

    — Pode deixar o menino sem cuidados. Aqui eles endireitam, saem feitos gente – dizia um velho alto e magro para o meu tio Juca, que me levara para o colégio de Itabaiana. Estávamos na sala de visitas. Eu, encolhido numa cadeira, todo enfiado para um canto, o meu tio Juca e o mestre. Queria este saber da minha idade, do meu adiantamento. O meu tio informava de tudo: doze anos, segundo livro de Felisberto de Carvalho, tabuada de multiplicar.

    — Então não esteve em aula desde pequeno, pois aqui tenho alunos de sete anos mais adiantados.

    Já me olhava como se estivesse me repreendendo.

    — Mas o senhor vai ver: com um mês mais, estará longe. Eu me responsabilizo pelo aluno. O menino de Vergara chegou aqui de fazer pena: não sabia nem as letras. E está aí.

    E gritou para dentro de casa:

    — Emília, mande aqui o senhor Francisco Vergara.

    Depois, para o tio Juca:

    — Esse que o senhor vai ver é o pior aluno do meu colégio. Chegou-me que nem sabia soletrar. Um vadião de marca.

    E com pouco entrava um menino de minha idade, moreno, gordo. Vinha com medo, os olhos assustados.

    — É este. Hoje já pode escrever uma carta. Deu-me o que fazer. Quisera que o senhor o visse no primeiro dia de aula, gaguejando. O pai perdeu um dinheirão no colégio dos padres; botou-mo aqui desenganado. Quando voltou para as férias de São João, recebi uma carta do velho, espantado. Dizia-me que o menino já sabia mais do que ele. Deus sabe o trabalho que me deu.

    O menino já se sentia outro com as palavras pacíficas do velho. Passara-lhe o susto, me olhava como a um companheiro.

    — Mas, olhe – dizia o diretor —, não tome o exemplo dele. É um peralta. Quero que o senhor estude e se aplique. Menino bom é meu amigo, sou um amigo do aluno estudioso. Pode ir lá para dentro com o senhor Vergara.

    E o meu tio me chamou para o abraço. Parecia que me deixava de vez, porque foi com o coração partido que me cheguei para perto dele.

    — Estude. Em junho venho lhe buscar.

    Saí chorando. Era a primeira vez que me separava de minha gente, e uma coisa me dizia que a minha vida entrava em outra direção.

    O colégio de Itabaiana criara fama pelo seu rigorismo. Era uma espécie de último recurso para meninos sem jeito. O Diocesano não me aceitara porque estava de matrícula encerrada. Lembraram-se do colégio do seu Maciel, como era conhecido nos arredores o Instituto Nossa Senhora do Carmo. Lá estiveram os meus primos uns dois anos. Voltaram contando as mais terríveis histórias do diretor. Um judeu. Dava sem pena de palmatória, por qualquer coisa. Era ali onde estava agora.

    O menino gordo me levou para o quarto de dormir. Era preciso mudar de roupa. O colégio estava vazio. A meninada saíra para a feira com os pais. A casa-grande, com um salão cheio de tamboretes, e uma cadeira de braços em frente de uma mesa, em cima de um estrado. Fiquei por ali, com essa dor pungente de quem se sente isolado no mundo. Não tinha de quem me aproximar. Foi quando uma mulher meio velha me chamou:

    — Você é primo de Silvino? Era um menino danado, inteligente como ele. Está fazendo figura no Diocesano. O Maciel dava-lhe muito. Tudo por comportamento. Por causa de lição nunca apanhou neste colégio. Foi o melhor aluno de aritmética que tivemos até hoje. O outro irmão não dava para nada. O Maciel se cansava, inchava-lhe as mãos de bolo, mas era o mesmo que nada. Você parece que é bonzinho. Está é muito atrasado.

    Era d. Emília, a mulher do diretor.

    Depois começaram a chegar os meninos, uns dez internos. Passavam por mim dizendo: é um novato. E iam-se lá para dentro com as mãos cheias de embrulhos. Traziam os bonezinhos pretos com as iniciais do colégio INSC – Instituto Nossa Senhora do Carmo. Eu tinha também que comprar meu bonezinho preto, com a pala caída sobre os olhos e as letras douradas. A farda do colégio Diocesano, sim, que era bonita. Farda mesmo de soldado, com quepe e dragonas de oficial.

    Foram-se chegando os colegas:

    — É do Pilar? Primo do Silvino? – me perguntava um mais velho. — O meu pai conhece muito o seu avô; compra gado a ele. Eu sou do Sapé. Estive com o Silvino aqui no colégio um ano. Zé Baú, o irmão dele, apanhava que só cachorro. Seu Maciel não tinha pena. O velho é uma peste: por qualquer coisa está dando na gente. O Chico Vergara da Paraíba chega a ter a mão azul de bolo: é de manhã e de noite.

    Estavam chamando para o jantar. Descemos uma escada para a sala de refeições. Uma mesa grande para todos. O seu Maciel na cabeceira, d. Emília e o pai dela de lado, e a negra Paula servindo. Quando me botaram o prato de feijão, recusei:

    — Não gosto de feijão.

    — Pois é o que o senhor tem de comer aqui todos os dias.

    Engoli, com um nó na garganta, a minha primeira boia de prisioneiro.

    — Se o senhor quiser escolher comidas, vá para o hotel.

    Isto com uma voz seca, estridente, atravessando o interlocutor de lado a lado.

    O resto dos meninos olhando para o prato, devorando a ração num silêncio de igreja. Pareceu-me aí o diretor uma figura de carrasco. Alto que chegava a se curvar, de uma magreza de tísico, mostrava no rosto uma porção de anos pelas rugas e pelos bigodes brancos. Tinha uns olhos pequenos que não se fixavam em ninguém com segurança. Falava como se estivesse sempre com um culpado na frente, dando a impressão de que estava pronto para castigar. A mulher, com uns olhos azuis e uns cabelos de inglesa, era bem mais simpática. Percebia-se também que a fúria de seu marido ia até as intimidades domésticas. O pai, o seu Coelho, era um boêmio, uma dessas velhices que trazem sempre consigo o pouco juízo da mocidade. Mas tudo isto eu viria a perceber depois.

    Quando saí da mesa os meninos me cercaram. Ainda com os olhos vermelhos do choro, respondi às perguntas. Um deles queria saber dos meus estudos; um outro, se trazia coleção de selo, quanto trouxera em dinheiro.

    — Quando entrei no colégio, meu pai me deixou com quatro mil-réis, e todas as terças-feiras eu recebia merendas.

    — Ele vai dormir no nosso quarto; botaram a cama dele perto da de Aurélio.

    Perguntaram também pelos meus pais, se eu era de engenho ou se voltaria para passar a semana santa em casa. E todo este inquérito ia desviando as minhas preocupações. O nosso recreio era situado numa nesga de quintal, e o único jogo permitido, a conversa. O diretor, numa preguiçosa, lia jornais. Um dos meninos conhecia meu avô, minha família:

    — O avô dele tem nove engenhos. Meu pai vota com ele nas eleições. É o velho Zé Paulino do Santa Rosa.

    Um magro procurava saber se a minha roupa preta tinha sido feita por alfaiate. E começaram a contar histórias da feira. Um havia almoçado no hotel com o pai. E davam notícias: vão botar luz elétrica em Itabaiana; Chegou um circo para o pátio da cadeia. E tinham ido à estação, aos Altos Currais, ao bilhar do Comércio, andado de bicicleta. Tudo isto me fazia esquecer a dura realidade do colégio do seu Maciel.

    Já ao escurecer me chamaram:

    — Seu Maciel quer falar com o Carlos de Melo.

    Era a primeira vez que me chamavam assim, com o nome inteiro. Em casa, era Carlinhos, ou então Carlos, para os mais estranhos. Agora, Carlos de Melo. Parecia que era outra pessoa que eu criara de repente. Ficara um homem. Assinava o meu nome, mas aquele Carlos de Melo não tinha realidade. Era como se eu me sentisse um estranho para mim mesmo. Foi uma coisa que me chocou esse primeiro contato com o mundo, esse dístico que o mundo me dava. A gente, quando se sente fora dos limites da casa paterna, que é toda a nossa sociedade, parece que uma outra personalidade se incorpora à nossa existência. O Carlos de Melo que me chamavam era bem outra coisa que o Carlinhos do engenho, o seu Carlos da boca dos moradores, o Carlos do meu avô.

    O diretor mandou-me sentar junto a ele. Ia-me submeter a um exame ligeiro. Fez-me umas perguntas de tabuada que eu mal respondia com o susto.

    — Vá buscar o seu livro de leitura.

    Voltei com o meu segundo livro de Felisberto de Carvalho. Li para ele ouvir a lição do começo; li em sobressalto, trocando os nomes, com o livro tremendo nas mãos.

    — O senhor não sabe nada. A sua lição de amanhã é esta mesmo. Pode ir lá para dentro, onde estão os outros.

    D. Emília foi que me disse:

    — Vou tomar conta de você.

    E voltando-se para o velho:

    — Ele passa para a minha classe, Maciel.

    — Não, fica comigo mesmo. Está muito atrasado. Fica comigo.

    Dizia isto com as mãos para trás, por cima do espaldar da cadeira, e com as pernas cruzadas. Ainda era mais magro assim, espichado na espreguiçadeira, com os olhos fechados sob um boné de pano mole.

    Lá fora os meninos indagavam para que me chamara ele.

    — Chico Vergara no dia em que entrou no colégio levou uns bolos – diziam. — Emperrou para Seu Maciel.

    A conversa toda agora era sobre um sargento que viria formar um tiro no colégio. Falavam da farda que iríamos ter. Uns achavam bonita a branca do Diocesano; outros queriam

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