O despertador chamou Raul
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Sobre este e-book
Cláudia Tavares
Cláudia Tavares diplomou-se em Direito e português- literatura pela UERJ. Publicou em 2017 os livros “As três faces da moeda” e “Coisas de Amor”. Em 2018 reeditou “A volta da Gata” e editou o livro “O mistério dos dinossauros” sendo este uma parceria com os amigos Luís Carlos de Morais Junior e Eliane Colchete. Para sua surpresa ambos os temas estão atualissimos apesar dos anos que se passaram. Espera que o mesmo aconteça com suas novas edições e com este que agora lança “O despertar chamou Raul” ode à temática masculina depois de seus anos vividos e divididos com Reinaldo Bertonceli. Ainda tem o projeto de plantar um bilião de árvores brevemente. Não duvidem.
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O despertador chamou Raul - Cláudia Tavares
Copyright© 2018 by Cláudia Tavares
Direitos em Língua Portuguesa reservados à autora através da
QUÁRTICA ® PREMIUM.
Capa: Flávia Tavares
Revisão: Luis Carlos de Morais Junior
Editoração: Quártica Premium
ISBN - 978-85-8221-154-0 (2019)
ISBN - 978-85-8221-138-0 (versão impressa)
Conversão: Cevolela Editions
440QUÁRTICA® PREMIUM
site: www.litteris.com.br
Tel: 2223-0030/ 2263-3141
20080-005 - Rio de Janeiro - RJ
Av. Marechal Floriano, 143 sala 805- Centro
CNPJ 32.067.910/0001-88 - Insc. Estadual 83.581.948
Sumário
Capa
Introdução
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
XI
XII
XIII
XIV
XV
XVI
XVII
Sobre a autora
INTRODUÇÃO
Ler uma obra que desperta o prazer da leitura, e mais, muito mais ainda, que nos faz pensar e ver a fresta entre a realidade e sonho, entre o valor e a vida, essa é uma alegria quântica, que Claudia Dias Tavares nos oferece nova mente, na sua nova obra em tela: O despertar chamou Raul.
A emoção ao encontrar e perambular por esse romance cósmico, mítico, ontológico e beatífico é tão forte, que nada desejo falar ou escrever, a minha falescrita seria um claro ou clarão, que nada falaria e onde todo mundo entenderia que a vontade de encontrar um escritor fundamental no Brasil se realizou, Cláudia Tavares está madura e superpotente no Despertar, não sei a cronologia, seja um livro antigo ou dos mais recentes, marca o auge da produção de uma grande criadora.
Deus é o ator principal, mas brinca de coadjuvante. Ele gosta. Declara ele mesmo ser o maluco principal
, porque ama Raul como ama a todos os seus filhos, e o salva, não da loucura, mas da razão que quer a todo custo castrar a diferença.
Raul, que era o louco, o esquizofrênico, e era mesmo, e perfila seus remédios como quem fala de seus pratos do almoço e do jantar, assim como acontece em quase todos romances de Claudia; Raul, que era o pior, o gordo, o comilão, o vagabundo, o delirante, é aquele que decifra o enigma da família, do país, do mundo, do universo e da criação. É a ele que Deus vem por três vezes, para que ele possa viver e amar os três aspectos da Trindade.
É ele que lança ao vento os esporos de uma nova esperança: os índios não morreram nem nunca o farão, os homens selvagens do presente e do futuro estão vivos e bem, no Rio e no Mundo, e misturam todas as raças, no caldeirão universal do amor.
Luis Carlos de Morais Junior
I
Osineia dobrava a última fronha que passara a ferro no dia. O apartamento de Bangu estava ainda mais escuro do que de costume, já que ameaçava chover.Na roça, esta maneira da tarde se expressar, o céu nublado, o cheirinho de terra molhada, é uma benção... Mas aquele lugar era um tugúrio. Horroroso. O banheiro estava um fedor só, a porta aberta expandia o odor da latrina que acabara de ser usada pelo filho caçula. Raul! O único que ainda não se separara dela. E ela tivera quatro. Olavo, Joaquim, Candice e Raul.Os três primeiros haviam arrumado suas vidas com trabalho, moradia e roupas que lavavam por conta própria. Mas Raul não conseguira sair da estaca zero. O pior é que, a cada dia, ficava mais gordo e preguiçoso. Fazia dois meses que não ia mais à escola. E ele estava com vinte anos! O que acontecera naquela Faculdade de jornalismo? Ele odiava dizer que fazia Comunicação. Detestava todos os professores e professoras. Meu Deus! Lembrou-se do dia em que Raul chegara com os primeiros jornais do dia debaixo do braço e começara a recortar notícias descabidas como: Moda e Atualidade
, Bumbum espetacular
, Culinária e dietas cabíveis
, colunas de fofocas
e destacava com a tesoura todas as mulheres peladas e colocava tudo em destaque, no espelho do armário, nas paredes do quarto e até no chão. Sim, porque aquela bizarrice durou cinco dias. Depois que ele revestiu todos os cantos do quarto, parou de sair e comprar os periódicos. Aliás, não saiu mais. Ficava comendo comida chinesa que mandava chamar pelo telefone e que pagou com seu dinheiro de técnico de eletricidade até acabar. O grand finale se sucedeu quando o dinheiro da tal especialidade gastronômica foi roubado de sua bolsa. Osineia teve de esconder seu suado salário no banco porque não havia esconderijo que Raul não achasse. Desesperada, ela vivia com o cartão de débito colado com esparadrapo no corpo e só tirava para tomar banho. Ele ainda não se atrevera a inspecioná-la neste sentido.
Dois meses de insanidade, um mês e meio naquela tortura de não querer sair nem para a esquina e engordando como um porco cevado.
– Mamãe! Quero comer! – Gritou Raul do quarto, abrindo a porta.
– A janta está em cima do fogão.
– Traz ela aqui, por favor!
– Vai lamber sabão!
– Pôxa, mãe! Que droga! Eu tô só de cuecas.
– E eu estou passando as roupas de cama que você sujou de vômito. Seu cretino! Vê se para de comer como um suíno. Vai até a cozinha se quiser, de cueca e tudo!
A porta do quarto estrondou na parede. Raul saiu de lá resmungando e babando. Entrou na cozinha, pegou as panelas e levou para dentro de sua toca, não antes de fechar a porta com novo estrondo. Desta vez caiu uma lasca da parede, de cima da madeira que circundava a mesma.
A campainha tocou como um rugido. Era Sófocles, o pai de Raul. Ele sabia que não precisava tocar, era só usar a chave. Ela tirou o avental, foi atender, mas ele já adentrava.
– E aí? Como é que está Raul?
– Tá lá no quarto...
– Será que este pivete começou a usar drogas?
– Claro que não. Há meses que ele não sai. Quem estaria trazendo drogas para ele? Com qual dinheiro?
Sófocles coçou a barba rala. Ele fora louro, agora estava totalmente grisalho e meio calvo. Seus olhos azuis tristes pareciam pedir socorro, ao constatar que a mulher tinha razão. Ela era uma mulher morena, já pros sessenta, forte e robusta. A vida lhe poupara a saúde. Suas pernas continuavam grossas e sem varizes. Muitas mulheres com menos idade desejariam ter aqueles membros inferiores tão perfeitos. Nunca dispensava os brincos de bronze mesclado com ouro (ela assim acreditava) que ele lhe dera no aniversário de prata do casamento. Fora um filho atrás do outro e ela parecendo uma manequim. Ela estava sempre pronta para quando ele chegasse. Sua blusa branca rendada anunciando o sutiã vermelho, a saia preta justa marcada pela calcinha.... Diziam-lhe isto. Ele era amado! Quatro filhos. Três homens e uma mulher. Todos lindos... Só Raul é que... ficara daquele jeito.... Por quê?
– Sófocles! Acorda! Você fica aí, de cabeça baixa, pensando na morte do boi, para com isto! Estamos com um problemão.
Sófocles, mirando o infinito, tirou o cinto da calça e dirigiu-se ao quarto. Osineia estava recolhendo as roupas para pô-las no roupeiro. De repente, ouviu gritos horríveis e a voz alta do marido. Era Raul! Sófocles o surrava.
– Sai demônio! Sai deste corpo que não lhe pertence!
Os gritos do filho deles pareciam que o estavam matando. Osineia enfiou as roupas nas prateleiras, tudo de qualquer jeito. Correu para a briga e tentou evitar o espancamento.
A campainha tocou, batidas na porta. Eram os vizinhos apavorados. A desordem não cessou. Osineia foi atender para ver se conseguia explicar. Um velho do apartamento do lado direito empurrou-a com violência.
– Parem já com isto... – Nem terminou a frase e uma chuva de cintadas caiu em cima dele, despejadas pelo homem enfurecido.
– Então é você, velho gagá, que traz o bagulho pra ele! Vagabundo! Pilantra!
A vizinha gorda que acompanhava o senhor e que morava no apartamento debaixo pulou em cima de Sófocles e se estabacou no chão com grande ruído. No teto de seu conjugado caiu o lustre que já se despregava ultimamente. Todos tentaram levantá-la,em vão. Ela urrava mais do que Raul. A movimentação despertou a atenção de todos na rua e no prédio. Em poucos instantes, a casa de Osineia estava cheia de gente.
A noite caiu e tudo voltou à normalidade. Raul chorava baixinho nos lençóis de sua cama. Sófocles e Osineia conversavam na mesa da cozinha, muito deprimidos. Os vizinhos não chamaram a polícia porque por ali ninguém chama a polícia. Nem em caso de morte! Mas ameaçaram os dois com o tal amparo à violência doméstica. A sorte é que o coitadinho não era menor. A ideia do pai fora um desastre!
– Tem certeza que não é droga? –murmurou Sófocles.
– Absoluta!
– Então é caso de psicólogo. Temos de levá-lo para alguém que entenda do riscado.
– Dizem que isto é uma faca de dois gumes.
– É? E você tem uma ideia melhor? Já viu o peso dele? Ele tem um metro e sessenta e oito e parece um hipopótamo. Deve estar com quase cem quilos. Isto é obesidade mórbida, já li sobre isto numa revista médica.
– Eu conheço uma...
– Mulher, não, nem pensar! Vai ficar com pena deste filho da p....!
– Quem você sugere?
– Lá no escritório onde trabalho – não sei se você ainda está lembrada que seu marido é advogado...
– Sei!
– Pois é! Lá o filho do meu colega, o José Dantas...
– O dr. José Dantas?
– É! O filho dele surtou na batatinha. Não queria sair, nem namorar, ficava se masturbando o dia inteiro, dizendo que mulher não serve pra nada...
– Nossa!
– Eles arranjaram um médico, um clínico geral, que o mandou para o hospital psiquiátrico!
– O quê? Hospital? Você é que surtou!
– Calma! Depois o Zé viu que não era o caso e o tratou com um psicólogo: o dr. Toledol! Como eu já estava prevendo que esta surra não ia adiantar nada, já trouxe o cartão dele, aliás, trouxe também o cartão de um profissional que trata