Coronavírus e as cidades no Brasil: reflexões durante a pandemia
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Coronavírus e as cidades no Brasil - Andrea Borges
CORONAVÍRUS
E AS CIDADES
NO BRASIL:
REFLEXÕES
DURANTE
A PANDEMIA
ORGANIZADORAS:
ANDREA BORGES LEILA MARQUES
Adriana Fiorotti Campos
Aline Souza do Nascimento
Andrea Borges de Souza Cruz
Andréa de Lacerda P. Borde
Carlos Fernando Andrade
Clarisse de Almeida
Daniel Sousa
Daniela Zanetti
Daphne Costa Besen
Débora Ungaretti
Denise Vogel
Diana Helene
Dinah Papi Guimaraens
Duarte de Souza R. Filho
Eduardo S. Salsamendi
Eleonora Mascia
Erminia Maricato
Fábio Bruno de Oliveira
Glauco Bienenstein
Gustavo Jucá
Isabel Rocha
Jaucele Azerêdo
José Ricardo de M. Lopes
Leila Marques
Luciana Deutsch
Lúcio Nascimento
Marcela Abla
Michele Baruffaldi
Mila Avellar Montezuma
Nabil Bonduki
Núbia Nemezio
Pedro H. R. Mendonça
Raquel Rolnik
Regina Bienenstein
Rogerio Cardeman
Ruskin Freitas
Shirley Carvalho Dantas
Simone Feigelson
Vicente Loureiro
William Bittar
Copyright © 2020 by Adriana Fiorotti Campos, Aline Nascimento, Andrea Borges de Souza Cruz, Andréa Lacerda de P. Borde, Carlos Fernando Andrade, Clarisse de Almeida, Daniel Sousa, Daniela Zanetti, Daphne Costa Besen, Débora Ungaretti, Denise Vogel, Diana Helene, Dinah Papi Guimaraens, Duarte de Souza Rosa Filho, Eduardo S. Salsamendi, Eleonora Mascia, Erminia Maricato, Fábio Bruno de Oliveira, Glauco Bienenstein, Gustavo Jucá, Isabel Rocha, Jaucele Azerêdo, José Ricardo de Moraes Lopes, Leila Marques, Luciana Deutsch, Lúcio Nascimento, Marcela Abla, Michele Baruffaldi, Mila Avellar Montezuma, Nabil Bonduki, Núbia Nemezio, Pedro H. R. Mendonça, Raquel Rolnik, Regina Bienenstein, Rogerio Cardeman, Ruskin Freitas, Shirley Carvalho Dantas, Simone Feigelson, Vicente Loureiro e William Bittar
Capa e projeto gráfico: Thiago de Barros | TDB Estúdio
Diagramação: Leandro Collares | Selênia Serviços
Revisão: Carolina Medeiros
Coordenação editorial: Lucia Koury
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
C822
Coronavírus e as cidades no Brasil : reflexões durante a pandemia / organizadoras: Andrea Borges, Leila Marques. – Rio de Janeiro : Outras Letras, 2020.
208 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-990531-3-9
1. 1. Cidades e vilas – Aspectos da saúde – Brasil. 2. Planejamento urbano – Aspectos da saúde - Brasil. 3. Saúde urbana – Brasil. 4. Arquitetura e urbanismo – Aspectos humanos – Brasil. 5. Arquitetura e sociedade – Brasil. 6. COVID-19 (Doença) – Aspectos sociais - Brasil. 7. Coronavírus - Aspectos sociais - Brasil. 8. Epidemias – Aspectos sociais – Brasil. 9. Sociologia urbana – Brasil. I. Borges, Andrea, 1966-. II. Marques, Leila, 1962-.
CDD – 307.760981
Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Lioara Mandoju CRB-7 5331
Todos os direitos desta edição estão reservados à
Outras Letras Editora Ltda.
Tel.: 21 2267 6627
contato@outrasletras.com.br
www.outrasletras.com.br
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Nesse exato momento em que pessoas precisam de um leito de hospital, uma máscara, água e sabão, um prato de comida, tantas necessidades básicas essenciais, cabe-nos agradecer, primeiramente, aos profissionais de saúde, aos de abastecimento alimentar e voluntários em geral, que nos proporcionaram condições para a realização deste livro durante essa pandemia, e, decerto, agradecer a todas as autoras e todos os autores parceiros, que aceitaram o convite, e se entregaram a este projeto conosco.
As organizadoras
O Instituto Niemeyer e o livro Coronavírus e as cidades no Brasil
O Instituto Niemeyer de Políticas Urbanas, Científicas e Culturais (Inpuc), instituição sem fins lucrativos, pessoa jurídica com direito privado, foi criado em 2 de junho de 2010 por Oscar Niemeyer, seu presidente de honra, e seu bisneto, Paulo Sérgio Niemeyer, arquiteto e urbanista, atual presidente do Instituto, sócio-diretor da Niemeyer Arquitetos Associados. Seu objetivo principal é preservar o legado deixado por Oscar Niemeyer, e avançar sempre na busca de uma sociedade mais justa, equilibrada e solidária. Em todos os projetos e ações envolvidas, o Instituto trata pessoas, instituições, empresas, governos, comunidades, com igual respeito, e baseado no princípio da perfeita convivência, que era a filosofia de vida de Oscar Niemeyer, testemunhada por todos que tiveram a honra de conviver com ele.
A fim de operacionalizar esse objetivo geral, a Escola Niemeyer de Artes e Humanidades do Inpuc foi criada difundindo o pensamento crítico, a análise e a reflexão baseados na troca das mais variadas áreas de conhecimento, como uma síntese do saber humanístico. A pretensão é despertar o interesse pela colaboração da construção de conhecimento, que considere os valores humanos nas áreas da sociologia, antropologia, psicologia, filosofia, história, artes e estética, entre as demais áreas do desenvolvimento humano. De acordo com Oscar Niemeyer, O objetivo dessa Escola deveria ser um curso amplo, que abordasse questões que ultrapassassem os limites da Arquitetura e das Artes como campo de investigação (...) Sempre considerei que a vida é mais importante do que a Arquitetura
.
Nesse contexto, o livro organizado pelas arquitetas e urbanistas Andrea Borges e Leila Marques, que busca diagnosticar as cidades brasileiras em tempos da pandemia do coronavírus, através do olhar de vários urbanistas e outros profissionais, vai perfeitamente ao encontro dos objetivos específicos do Instituto que, orgulhosamente, apoia a brilhante iniciativa e parabeniza a todos os envolvidos, por esse trabalho lúcido, tempestivo e de união de saberes.
Sobre esse momento específico que o mundo está passando, onde se faz necessário o isolamento social, percebe-se que a humanidade passou o século XX investindo tanto em tecnologias, e descuidou-se de tratar da principal calamidade pública mundial que são as desigualdades sociais tão ricamente comentadas pelos diversos autores desta obra.
Isso, certamente, não significa abandonar as tecnologias para cuidar das atividades voltadas às questões humanitárias. Ao contrário, o que se propõe é ajustar o rumo dessas diversas tecnologias em função de atender melhor essas questões, para que elas passem a fazer parte prioritária da finalidade de todo esse esforço e avanço científico, do qual o Brasil, hoje, já encontra reconhecimento mundial.
O Instituto Niemeyer, em nome de seu presidente, agradece a honra de ter sido convidado a se envolver com esse projeto que traz, cada vez mais, a certeza de que a ciência é hoje uma grande utopia, e que o capital humano sempre será a nossa maior riqueza.
"A possibilidade de sonhar um sonho, utópico ou não, faz do indivíduo um ser transformador, pois só através do sonho podemos criar".
Paulo Sergio Niemeyer
Presidente
Instituto Niemeyer
Ciência e inovação contra a Covid-19
No momento em que o planeta passa por grandes desafios e inúmeras incertezas, agradecemos a oportunidade de apoiar uma iniciativa brasileira que divulga a visão de vários autores dedicados ao estudo das cidades. A Gerar Arquitetura, Engenharia e Sustentabilidade, como uma empresa nascida na Coppe/UFRJ, considera uma honra contribuir com esse projeto.
Desde 2003, reunimos experiência e inovação para a melhor solução dos desafios urbanos por meio das nossas marcas ModuLar Casas Modulares, Baylac Arquitetura, Branding e VM, e Caruá Negócios Sustentáveis. Com a ModuLar, consolidamos nosso sonho de levar aos nossos clientes uma nova experiência de morar com qualidade, baixo custo e sustentabilidade. Na Baylac, desenvolvemos projetos de ambientação residencial, comercial e corporativa, com foco na arquitetura sensorial, realçando os sentidos, e transformando ambientes em sensações. A marca Caruá vem consolidar nossa trajetória de apoio à inovação em busca de uma cidade criativa, abrindo espaço para a economia circular, promovendo as artes, e incentivando o trabalho colaborativo, como um novo modelo de desenvolvimento diante das transformações globais.
O livro Coronavírus e as cidades no Brasil: reflexões durante a pandemia consolida uma rica coletânea de reflexões desenvolvidas durante o isolamento social por consagrados autores e pesquisadores brasileiros, das mais variadas áreas do conhecimento científico, comprovando que o momento tem proporcionado uma revisão de valores, conceitos, planos e antigas certezas, que hoje exigem novos olhares e outros rumos.
Nesse instante, em que as cidades brasileiras precisam reunir todas as forças para o atendimento das graves demandas provocadas pelo coronavírus, a reunião de ideias e propostas apresentadas nessa obra é fundamental para a superação das dificuldades que se tornaram endêmicas no Brasil, tais como os sistemas de transporte e saúde públicos, o acesso à moradia, os espaços de sociabilidade e as condições de saneamento e infraestrutura urbana. Tais pontos, entre tantos outros discutidos no livro, revelam as desigualdades sociais, ambientais e urbanas que buscam soluções diante de um novo cenário global.
É também nesse instante que a Gerar, em parceria com especialistas do setor de saneamento, desenvolve o projeto Saneamento Social em Regime de Mutirão para atender a delicada situação das comunidades mais vulneráveis nos grandes centros urbanos.
Nosso projeto prevê a construção e instalação de um modelo de saneamento de baixa complexidade, já experimentado com sucesso em comunidades ribeirinhas. O modelo prevê no máximo dois trabalhadores para cada grupo de três casas, garantindo assim a distância mínima de segurança contra possíveis contágios entre eles. O projeto foi elaborado sem custo e contará com o apoio da inciativa privada e instituições de fomento social para o financiamento das obras em caráter emergencial.
Em um momento de tanta gravidade, com o desenvolvimento do Projeto Saneamento Social e o apoio à publicação do livro Coronavírus e as cidades no Brasil, a Gerar busca contribuir para a superação da crise global causada pela pandemia, parabenizando as organizadoras e os autores pela rica iniciativa que visa contribuir para um planeta mais sustentável e humano.
Nathalia Baylac
Diretora
Gerar Arquitetura
A Asser, a educação pública de qualidade e este livro
A Associação dos Servidores do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ) é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, cuja finalidade principal é incentivar a integração entre os servidores, promovendo a sua valorização, sua dignificação e seu desenvolvimento sociocultural e profissional. Em defesa desses interesses e da educação pública gratuita e de qualidade, a Asser tem buscado apoiar a qualificação e a capacitação dos servidores para melhor servirem à sociedade.
Assim, ao conhecermos o conteúdo deste livro humanitário, propositivo, que mistura vários saberes, organizado por Andrea Borges e Leila Marques, esta última diretora/presidente da associação, de 2004 a 2012, com um reconhecido trabalho de resgate da valorização profissional de seus pares, que tem servido de exemplo às direções seguintes, nossa ideia foi de apoiá-las.
A situação mundial de pandemia nas cidades é um problema que atinge a todos, e, por isso, gostaríamos de nos solidarizar com os familiares das pessoas que estão padecendo desse terrível patógeno e apresentar nosso compromisso para com a saúde de nossos associados, seus parentes, de nossos empregados e colaboradores, alunos, professores, técnicos-administrativos e terceirizados do nosso Cefet/RJ, estabelecendo um novo olhar sobre os valores do mundo em que vivemos e que deixaremos para as gerações futuras.
Paulo Renato Monteiro Meira
Presidente
Asser
Quando a cidade perde a humanidade
Quando a cidade perde a humanidade, o vírus invade,
a endemia cresce, a epidemia floresce
e a pandemia ocupa cada corpo, cada mente, cada sonho,
porque sonhos são fatos humanos, narrativas inconscientes da vida,
caminhos trilhados sem culpa nas entrelinhas do ser.
Quando a cidade perde a humanidade, o vírus invade,
os guetos se estabelecem, a desigualdade se espraia,
a violência explode em cada cantão esquecido,
em cada corpo contorcido, em cada dor desprezada,
no ritmo de um crescimento que não leva a nada, porque nada é.
Quando a cidade perde a humanidade, o vírus invade,
a ganância se instala, o lucro ganha alma,
a acumulação desordenada ganha ares de normalidade, o poder
do dinheiro se sobrepõe à paz porque acumular capital
será sempre oposto de preservar vidas.
Quando a cidade perde a humanidade, o vírus invade,
as almas se vendem, os corpos se compram, as ideias se perdem,
os sonhos se retraem e quebram como folhas secas pisadas no chão,
porque máquinas não têm almas, lucros não têm corpos
e ideias só brotam em mentes irrigadas pela emoção.
Quando a cidade perde a humanidade, o vírus invade,
a natureza se esvai, as florestas ardem, os rios escurecem,
os mares enfurecem, as espécies declinam,
porque a vida só se abastece de vida, só se renova pela vida,
só permanece enquanto vida e não sobrevida.
Quando a cidade perde a humanidade,
Os sonhos cessam,
As dores crescem,
O capital floresce,
As ideias se rendem,
As vidas se perdem
quando a cidade perde a humanidade.
Andrea Borges de Souza Cruz [ 1 ]
Organizadora
[ 1 ] Arquiteta e urbanista, DSc.
Apresentação
O rápido avanço da contaminação pelo coronavírus levou autoridades do mundo todo a estabelecer, compulsivamente ou não, o isolamento social. No Brasil, essa ordem, lamentavelmente por vezes desobedecida pelo próprio chefe-maior da nação, significa que é permitido circular pela cidade apenas o profissional de atividades essenciais (da área da saúde, de abastecimento e correlatos), ou em casos de real necessidade, tais como fazer alguma compra.
Assim, sair às ruas para estudar, trabalhar, passear, honrar agendas de compromissos, atividades que antes eram meros cumprimentos das funções sociais das cidades, ganharam adaptações para serem desenvolvidas, ao menos em parte, de dentro de casa, evitando, assim, aglomerações e demais situações de contágio.
Esse cenário distópico nas cidades brasileiras, poderia até lembrar um dia de final de Copa do Mundo, com a seleção brasileira em campo, quando as ruas ficam desertas, com todo o comércio, escritórios e estabelecimentos de ensino fechados, não fosse pelo fato de que não há nada com que se animar na razão do atual confinamento, cujo final, no momento em que este livro é preparado, meados de abril de 2020, ainda é imprevisível.
Fazer quarentena em seu condomínio, com um sistema de delivery batendo à sua porta para lhe trazer alimentos prontos ou por preparar, em ambiente propício para a assepsia das mercadorias e das mãos com sabão e álcool 70º, é uma realidade intangível para grande parte da população. Desde quem divide os poucos cômodos da casa com um número muito grande de parentes, até para quem desempenha atividades informais cujo ganho diário é necessário para levar o pão nosso de cada dia
para os familiares, chegando, por fim, naqueles que sequer têm casa onde se quarentenar.
Questões sociais, como as citadas acima, além de outras de ordem econômica, afligem um país em quarentena, como salvar vidas humanas é preponderante, as comunidades virtuais iniciam diversos tipos de trabalho de solidariedade voluntária, inclusive o de tentar desmascarar as diversas fake new que prestam um desserviço à população e até colocam em risco a integridade física das pessoas.
Nessa complexa realidade, ao mesmo tempo distante fisicamente, e perto, através da rede mundial de computadores, diversos autores passaram a trocar suas reflexões, dentro de suas áreas de atuação, com os seus olhares voltados para as questões urbanas. Em plena pandemia, descrever suas observações, suas críticas, enfim, seus ensaios sobre os efeitos de uma nova ordem social numa população socialmente tão desigual, e tão igualmente assustada, torna-se uma alternativa de diagnóstico que registra uma cidade doente, em tempo real, que contribuirá para desenvolvimento de trabalhos de planejamento e de pesquisas futuras, o que, enfim, nos motivou a reuni-los, e nos trouxe à realização deste livro.
Leila Marques [ 2 ]