Dias de domingo
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Sobre este e-book
Um dia aguardado, festejado, temido, diferente dos outros. Ninguém fica indiferente ao domingo. No domingo cabe toda uma vida, várias mortes, sorrisos, visitas, choros, muitos ou só alguns chopes, um descanso, um desassossego, encontros, desencontros, com os outros, consigo, cabe muita coisa num domingo. Imagine então o quanto cabe numa coletânea de domingos— ou em Dias de domingo.
Organizada por Eugênia Ribas-Vieira, essa coletânea reúne quinze escritoras e escritores que têm se destacado no atual cenário literário brasileiro se inspiraram (e muito) nessa temática ao mesmo tempo tão universal quanto particular. A multiplicidade das vozes que compõem esta antologia potencializa o tema, que acaba por tocar não só nos dias de domingo, mas em toda a vida. De todos os modos.
Se é, afinal, a cada domingo que nos preparamos para os dias que virão, para a semana que se inicia, que Dias de domingo seja uma inspiração para seguir em frente, para ver a vida acontecer e fazer de conta que ainda é cedo, como diria a lendária canção.
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Ficção Literária para você
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Pré-visualização do livro
Dias de domingo - Adriana Lisboa
Dias de domingo
Contos
Organização
Eugênia Ribas-Vieira
Textos de
Adriana Lisboa, Adriana Lunardi, Carlos Eduardo Pereira, Cíntia Moscovich, Giovana Madalosso, Julia Wähmann, Juliana Leite, Marcelo Ferroni, Marcelo Maluf, Maria Ribeiro, Maurício de Almeida, Noemi Jaffe, Sérgio Rodrigues, Tobias Carvalho e Veronica Stigger
1ª edição
José OlympioRio de Janeiro
2021
Copyright © 2021 by Adriana Lisboa, Adriana Lunardi, Carlos Eduardo Pereira, Cíntia Moscovich, Giovana Madalosso, Julia Wähmann, Juliana Leite, Marcelo Ferroni, Marcelo Maluf, Maria Ribeiro, Maurício de Almeida, Noemi Jaffe, Sérgio Rodrigues, Tobias Carvalho, Veronica Stigger
Capa: Angelo Bottino
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L531
Dias de domingo [recurso eletrônico] / Adriana Lisboa... [et al.].; organização Eugênia Ribas-Vieira. – 1. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 2021.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5847-064-9 (recurso eletrônico)
1. Contos brasileiros. 2. Livros eletrônicos. I. Ribas-Vieira, Eugênia.
21-74182
CDD: 869.3
CDU: 82-34(81)
Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439
Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo da Língua Portuguesa.
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Reservam-se os direitos desta edição à
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Rua Argentina, 171 – 3º andar – São Cristóvão
20921-380 – Rio de Janeiro, RJ
Tel.: (21) 2585–2000.
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sac@record.com.br
isbn 978-65-5847-064-9
Produzido no Brasil
2021
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo
Ver o sol amanhecer
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingo
Um dia de domingo
, música de Michael Sullivan e Paulo Massadas, na voz da Gal e do Tim Maia
SUMÁRIO
Nota da editora
Apresentação
Domingo de manhã
Sérgio Rodrigues
Isabel
Noemi Jaffe
Suéter
Marcelo Ferroni
Messias
Cíntia Moscovich
Nossos ossos
Giovana Madalosso
Um domingo sem fim
Carlos Eduardo Pereira
Biografia e correspondência
Adriana Lunardi
Como se nada. Como se tudo
Maria Ribeiro
Meu bom amigo
Juliana Leite
Domingo
Veronica Stigger
Absolutamente
Marcelo Maluf
Fui a Paris e comprei um piano
Julia Wähmann
Manejo
Maurício de Almeida
Eric
Tobias Carvalho
Abstração informal
Adriana Lisboa
Sobre os autores
NOTA DA EDITORA
Não seria exagero dizer que a Editora José Olympio moldou a literatura brasileira tal qual conhecemos hoje. A Casa, como era chamada por Carlos Drummond de Andrade e outros gigantes, foi celeiro dos maiores autores brasileiros. Agora, ao completar 90 anos, a editora volta seu olhar para a literatura nacional contemporânea. Esta antologia, com importantes nomes e diferentes vozes da atualidade, simboliza isso.
Aqui estão quinze autoras e autores brasileiros que compõem uma polifonia literária. Diferentes escritas, estilos e contextos unidos por um tema inevitável: o domingo. Contos de domingo. Ou Dias de domingo, como afinal intitulamos. Esta coletânea é mesmo feita no plural, uma parceria entre a editora e a organizadora Eugênia Ribas-Vieira. Conforme os contos foram entregues para este encontro — que não tem hora, mas sim dia marcado —, ficava mais evidente sua importância. Todos os autores e autoras convidados se inspiraram muito, entregaram grandes textos, fizeram desta uma grande reunião. Consistente, divertida e memorável.
A antologia se tornou, no fim das contas, mais do que uma publicação ou uma celebração, virou mesmo uma festa. Num dia de domingo. Um livro que dá vontade de ler, reler, passar adiante. E que isso se espalhe, que façamos circular as boas histórias.
Editora José Olympio,
novembro de 2021 —
ano do 90º aniversário desta Casa
APRESENTAÇÃO
Neste 2021 fatídico, segundo ano da pandemia da covid-19 no Brasil e no mundo, é um alívio podermos voltar nossos olhos a outras experiências. Buscamos aqui essa expansão do olhar num recorte curioso de contos inéditos de autoras e autores expoentes da ficção contemporânea brasileira.
Escolhemos como desafio o recorte temático imparcial um domingo, tal qual uma fuga desse assunto comum que nos assola — o surto do Coronavírus e suas consequências. A intenção era fazer com que os autores se lembrassem de um domingo cotidiano, anterior à pandemia. Pensar o domingo, esse dia neutro, esse dia nonada, essa página em branco, esse tédio, como uma motivação maior.
Convidamos quinze escritoras e escritores de métodos e estilos variados, buscando, sobretudo, diversidade. De início, pensamos que poderia ser difícil manter todas as particularidades das vozes narrativas, considerando os vestígios pandêmicos compartilhados. O que será que podíamos esperar desses olhares subjetivos e autorais que, em meio a uma grave crise sanitária e social, estão sujeitos a tantas similaridades?
Esta coletânea revela pontos de vista que absorvem o medo, que evocam a fuga, a vontade de um outro mundo ou, simplesmente, a vontade de desaparecer. É curioso notar em alguns contos o recorte temático distópico e o diálogo com o realismo fantástico, o que talvez reverbere o sentimento mais próximo da experiência pandêmica.
Também podemos notar que alguns autores se voltam à exceção, ao diferente, a um outro que, ao ser redescoberto, é visto próximo e torna-se como um par: a manicure, a sociedade dividida, as pessoas mais idosas, os parentes numa viagem ou um leitor comum de livraria.
Ao fim, o olhar criativo e sensível dos escritores e escritoras venceu o flagelo da doença. O resultado é esta antologia original, brilhante e diversificada.
Nossos autores e autoras provam que até o tema mais comum pode ser misterioso. Por meio de observações furtivas — e de um exercício de escrita soberano e arrebatador —, conseguem enriquecer o banal, decifrar os códigos e o imaginário de nosso tempo. Aqui estão suas paixões. Seus gozos. Seus desejos. E a cura, talvez, de um mundo que aos poucos se perdeu, e que, num conto após outro se reconstrói, começando num dia de domingo.
Eugênia Ribas-Vieira, organizadora
DOMINGO DE MANHÃ
Sérgio Rodrigues
A melhor parte do domingo é você abrir os olhos na cama e se dar conta que é domingo, e antes mesmo de conferir o despertador na mesinha de cabeceira fechar os olhos outra vez porque na verdade não importa que horas sejam, é domingo, e aos domingos nada importa. Até poderia importar, e muito, se fosse um domingo de corrida, mas isso você sabe que não é. Neste momento a Fórmula 1 está se deslocando de um país para outro da Europa, e só no domingo que vem os motores voltarão a soltar o berro em mais uma tentativa do maior piloto da história, que por acaso é brasileiro, de se firmar aos olhos do mundo como o maior piloto da história.
Mas não ainda. Este é um daqueles domingos de passagem, e por isso mesmo perfeitos: um domingo de transição entre a criança e o adulto, entre uma humanidade que ainda não se convenceu por completo que aquele cara é o maior piloto da história e uma humanidade que finalmente entenderá tudo. Você sabe que isso é inevitável, como se já tivesse acontecido, mas por enquanto o acontecido está suspenso num domingo futuro.
Em outras palavras, você tem tempo. Sempre de olhos fechados, um sorriso quase visível nos lábios, passa então a ouvir com atenção os sons que zumbem dentro do seu corpo: sangue circulando, hormônios bombando, ossos crescendo. É um ruído difuso, aquilo que chamam de ruído branco, como você aprendeu há uns anos e, talvez por achar graça da ideia de associar som e cor, nunca esqueceu. É possível que seja um ruído imaginário, mas é o suficiente para abafar os primeiros barulhos dominicais da casa, da rua e do mundo.
O que torna perfeito o dia ao seu redor é o fato de não trazer nada que impeça você de continuar deitado, dormir um pouco mais, quem sabe sonhar. Isso, sonhar. Você se dá conta que está sonhando agora mesmo com um mundo finalmente completo em que não ocorre a ninguém pôr em dúvida a grandeza absurda do piloto brasileiro, o que tem como consequência meio inexplicável, mas bem-vinda, que também já não seja preciso decorar tabelas periódicas, fórmulas geométricas, conjugações verbais, afluentes do Amazonas. Nenhum compromisso, nenhum arrependimento, nenhuma pressa, nenhuma dúvida: o domingo que embala você é perfeito.
Outro aspecto bacana desse sonho, na verdade um meio sonho acordado, é que tudo corre bem demais nas suas festinhas de sexta e sábado. É como se ali não houvesse lei da gravidade, nem espinhas, nem gagueira, você o centro dos olhares cheios de desejo das meninas mais bonitas da turma enquanto se exibe em coreografias interessantes na pista estroboscópica, um espetáculo. Chega a ser engraçado: com movimentos desinibidos, mas inegavelmente viris, ao som de Titãs ou Echo & the Bunnymen, você se vinga de forma incrível do desprezo que na vida real lhe dedicam as meninas mais bonitas da turma, e também as não tão bonitas e até as feias.
É por isso que, depois de abrir os olhos de novo, encarando dessa vez o mostrador digital de fósforo verde do rádio-relógio, mas sem registrar o que vê ali, você decide se virar para o outro lado e tentar dormir um pouco mais. Quem sabe ainda dê tempo de perseguir um resto de sonho, uma prorrogação, enquanto não chega a hora inegociável de se levantar para não perder o almoço dominical que sua mãe já começou a preparar e cujos aromas, como Space Invaders, tomam de assalto a penumbra do quarto.
A certa altura, sentindo uma ereção se formar, você teme que já não consiga adormecer de novo, que seu corpo esteja desperto demais, embora o cérebro ainda cabeceie na bruma. É com surpresa que ouve bem distante, lá no fundo do pavilhão auditivo, como uma leve cócega, aquele choro de bebê.
Ah, não. Por mais que esteja grogue da determinação de aproveitar ao máximo a manhã de domingo, extrair dela até a última gota de suco, você conserva bastante lucidez para saber que choros de bebê são predadores naturais da graça que persegue de forma tão obstinada. Abre os olhos de novo e, consultando seu celular bojudo na mesinha de cabeceira, tenta se conformar com o fato de que é hora de se levantar. E é mesmo, o choro do Francisco cada vez mais alto.
De repente, porém, silêncio. Parece um milagre, mas então você se lembra que o combinado é Márcia cuidar do menino esta manhã, ontem foi o seu dia, e sem revezamento ninguém tem saúde física e mental para lidar com a voracidade dos recém-nascidos. Melhor aproveitar a