Experiências Afetivas com a Natureza na Formação Inicial de Professores
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Experiências Afetivas com a Natureza na Formação Inicial de Professores - Zemilda do Carmo Weber do Nacimento dos Santos
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico esta obra a todas e todos os acadêmicos que, ainda em sua formação inicial, debruçaram-se sobre a investigação pautada no conceito da relação afetiva da criança com a natureza. Ensejo que possam seguir realizando experiências potentes que permitam a si e a outrem também estabelecer uma relação permeada de afetos felizes com a natureza da qual somos todos seres integrantes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus masculinos em constituição por povoarem comigo este plano de imanência.
O conceito de um pássaro não está em seu gênero ou em sua espécie, mas na composição de suas posturas, de suas cores e de seus cantos: algo de indiscernível, que é menos que uma sinestesia que uma sineidesia.
(Deleuze e Guattari)
Sumário
1
INTRODUÇÃO 15
2
EXPERIÊNCIA DE BEBÊS EM CONTATO COM A NATUREZA 19
João Gabriel Pereira
Maria Luísa Legal
Beatriz Rocha Souza
3
EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS POR CRIANÇAS EM CONTATO COM A NATUREZA 31
Aline Annayki de Borba
Letícia Ribeiro Cupertino
Marcia Cristine da Cruz
Susan Juliana de Lima
Fábio Alexandre da Silva Toniazzo
4
A INTERAÇÃO COM A NATUREZA: EXPERIÊNCIAS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES 43
Cristiane Rhayase Borba
Sara Bragança,
Halanny Almeida Tavares
Ester Moretto
Carlos Roberto Nascimento
5
A NATUREZA E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA EDUCAÇÃO: RELAÇÕES AFETIVAS NO DESENVOLVIMENTO 53
Edna da Silva Szimanski de Oliveira,
Gabriela Teixeira Moura
Mayra Fernanda Galm
6
CRIANÇA E A EXPERIÊNCIA AFETIVA NO CAMINHO SENSORIAL 65
Beatriz Godinho
Ketlyn Amanda Lima Vieira
Maria Fernanda Alencar Balbino
Marquivia Amorim Pereira
Nairton Paulo Kunzler
7
CULTIVANDO A RELAÇÃO ENTRE O SER HUMANO E
A NATUREZA 79
Alexia de Miranda
Bianca Marzani
Carlos Roberto Nascimento
Daniele Cristine de Andrade
Diuvani Tomazoni Alexandre
8
A ALIMENTAÇÃO NATURAL DOS BEBÊS NAS PRIMEIRAS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO 89
Maria Luísa Legal
Beatriz Rocha Souza
João Gabriel Pereira
Sandra Maria Ferreira Balsan
9
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL COMO PROMOTORA DA RELAÇÃO AFETIVA COM A NATUREZA EM BEBÊS DE 0 A 2 ANOS 103
Aline Annayki de Borba Abreu
Jacquelyne Spricigo
Jeniffer Catarina De Deus
Letícia Ribeiro Cupertino
Susan Juliana De Lima
10
CONTRIBUIÇÕES PARA A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA DE CRIANÇAS DE 0 a 5 ANOS: O USO DE INSUMOS NATURAIS
EM POMARES 119
Alexia de Miranda
Beatriz Godinho
Bianca Marzani
11
MUSICALIZAÇÃO E LITERATURA COMO ESTRATÉGIAS NA PROMOÇÃO DE HÁBITOS ALIMENTARES NATURAIS COM CRIANÇAS DE 0 A 5 ANOS 131
Daniele Cristine Andrade
Edna da Silva Szimanski de Oliveira
Gabriela Teixeira Moura
Ketlyn Amanda Lima Vieira
Maria Fernanda Alencar Balbino
Thamires Bráz
12
OS BEBÊS E OS AFETOS DA NATUREZA: UM ESTUDO DE CASO DO AMBIENTE NATURAL COMO ESPAÇO DE ACOLHIMENTO 145
Serena Spronello
Zemilda do Carmo Weber do Nacimento dos Santos
13
A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM A NATUREZA: O QUE DIZEM AS ATUAIS DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE CINCO MUNICÍPIOS DA AMFRI 179
Isis da Costa Kruger
Zemilda do Carmo Weber do Nacimento dos Santos
SOBRE OS AUTORES 233
1
INTRODUÇÃO
Esta obra apresenta experiências de formação inicial realizadas com acadêmicos e acadêmicas do curso de Pedagogia de uma instituição de ensino superior, no âmbito de projetos interdisciplinares e de trabalhos de conclusão de curso. As experiências se deram com base no conceito da relação afetiva com a natureza
, alcunhado por Santos (2016). O conceito propõe que as experiências vivenciadas pelas crianças com a natureza se deem pautadas em relações de afeto de alegria, ou seja, de experiências brincantes que possibilitem aos sujeitos crianças desfrutarem da natureza de forma prazerosa, espontânea, exercendo características próprias dessa idade, como por exemplo, a curiosidade, o estranhamento, o encantamento, a sensibilidade, a descoberta, sentires que lhe permitirão constituir uma relação de afeto
, de amor para com a natureza.
Desse modo, o primeiro artigo traz a reflexão acerca de como essa relação deve se constituir desde os bebês. A experiência realizada por esse grupo de acadêmicos e acadêmicas permitiu verificar que apenas com um ano de vida, já é possível sentir as marcas afirmativas ou negativas que o contexto social deixa no bebê. Quando é permitido ao bebê vivenciar a natureza desde o seu nascimento, o estranhamento não aparece, apenas o afeto, o amor, a apreciação por tudo o que advém do mundo natural.
O segundo artigo apresenta a experiência realizada com crianças de diferentes faixas etárias, que foram convidadas pelo grupo de acadêmicos a participar da experiência de percepção dos sentidos ao caminhar por uma trilha sensorial com elementos da natureza, e degustar de diversas frutas naquele ambiente. O grupo verificou que as crianças, devido a sua trajetória de vida cada vez mais intensa em ambientes recobertos por concreto, casa, rua, shoppings, têm
desenvolvido uma concepção equivocada da natureza. Muitas relataram a sensação de sentir as pedras sob os pés como algo ruim, doloroso, denotando que em suas representações do real, a natureza é objeto que de fato deve permanecer distante do ser humano.
A terceira experiência traz contribuições quanto à reflexão sobre os sentidos sensoriais de um grupo de acadêmicas e a relação destes com a natureza. O grupo verificou por meio dos resultados colhidos que, é premente a necessidade dos cursos de graduação em Pedagogia ampliarem o olhar quanto às questões ambientais e a sua relação com a formação do futuro professor, uma vez que, quando os acadêmicos têm a oportunidade de vivenciar as experiências de formação profissional de modo concreto, sua percepção e concepção acerca do processo educativo no que concerne à relação do humano com a natureza sofre transformações afirmativas.
Na mesma direção, o quarto artigo versa sobre o desencadeamento no grupo de acadêmicas, futuras professoras que realizaram a experiência, a reflexão sobre a importância de contemplar na organização do trabalho pedagógico com crianças, a relação afetiva do ser humano com a natureza, pois verificaram que o grupo de crianças que participou da experiência havia desenvolvido um conceito de representação virtual da natureza, onde apenas conheciam, ou haviam tido contato com a natureza, por meio de jogos virtuais ou imagens e vídeos em dispositivos eletrônicos.
Na sequência, o quinto artigo versa sobre como essas futuras professoras percebem, por meio da experiência desenvolvida, a necessidade de desenvolver noções e conceitos que contribuam para uma melhor compreensão do professor no que concerne à importância de as crianças terem contato cotidianamente com a natureza. Essa compreensão por parte do professor deve conceber a utilização desse ambiente de modo que contribua não apenas para o aprendizado, mas também para expandir sua capacidade intelectiva e sensório-motora.
O sexto artigo evidencia que os resultados obtidos apontam para a possibilidade de o professor trabalhar as questões que envolvem o cuidado e a preservação da natureza contemplando outras frentes, ou desenvolvendo outras metodologias, tais como a do pomar e do caminho sensorial. Também se constatou que, quando os seres humanos têm a possibilidade de estar em um ambiente natural, seu bem estar emerge de forma espontânea contribuindo para uma melhor harmonização com o ambiente natural.
O sétimo artigo versa sobre o medo do desconhecido, ou seja, do ambiente natural. Tal apreensão verificou-se por meio da experiência realizada, onde o grupo proponente ocultava um dos sentidos de cada participante para que percorressem a trilha sensorial na natureza. Também se constatou que, a vivência no pomar trouxe diversos conhecimentos para ambas as partes; foram provados novos sabores, acrescentando mais conhecimento sobre as frutas, sobre o pomar, o que evidencia os primeiros indícios do estabelecimento de uma relação afetiva com a natureza.
Ainda sobre as experiências interdisciplinares, o oitavo artigo traz novamente os bebês para o palco. A experiência realizada utilizou dois cenários distintos, a instituição de educação infantil que os bebês frequentam e a instituição de ensino superior. Verificou-se que, essa interatividade com a natureza, a alimentação saudável e a experiência com o método Baby-led Weaning e os pratos ornamentados, permitiram a emergência de resultados além do esperado com os bebês, demonstrando que ambos os momentos estavam sendo prazerosos para eles, independente do cenário institucional.
O nono artigo traz a experiência de projeto interdisciplinar que permitiu suscitar a reflexão acerca de como a literatura e a arte podem potencializar o estabelecimento de uma relação afetiva dos bebês com a natureza. O grupo de acadêmicas verificou por meio da experiência realizada que, quando as crianças vivenciam momentos como esse, esse laço afetivo é reforçado, o que amplia consideravelmente a possibilidade da instituição de hábitos de alimentação saudáveis desde os primeiros dois anos de vida.
Seguindo na mesma direção, o décimo artigo aborda a reflexão acerca da constituição de uma consciência ecológica já na primeira infância. Apesar do foco da experiência ser as crianças como produtoras de uma cultura onde a consciência ecológica seja
imanente, o grupo de acadêmicas verificou que, por meio das várias experiências realizadas, elas mesmas ampliaram sua visão acerca da importância da constituição de uma consciência ecológica, uma vez que, apreenderam conceitos importantes sobre os benefícios dos insumos naturais, o quão saudável se torna um alimento colhido sem agrotóxicos, onde até o sabor se destaca diante de outro, e de como as experiências práticas são muito importantes na formação inicial. Pois, ao vivenciarem experiências de docência na educação, é possível colocar em prática os conhecimentos apreendidos em sala, sem contar como foi e é importante perceber a evolução das crianças, atingindo nossas expectativas.
O décimo primeiro artigo traz a experiência realizada com base na relação afetiva com a natureza por meio da música e da literatura. A experiência realizada pelo grupo de acadêmicas permitiu perceber o grande envolvimento e curiosidade das crianças, a habilidade de alguns, a expressividade de outros. Nos sorrisos e olhares fixados nos movimentos dos pequenos ao sentirem, ouvirem, dançarem, denotando que ali ocorreu efetivamente uma relação afetiva com a natureza.
Em seguida, o décimo segundo artigo é resultado de um trabalho de conclusão de curso e versa sobre um estudo de caso no período de acolhimento de um bebê em uma instituição de educação infantil. Dentre os achados dessa investigação exploratória, está a noção que o bebê constrói acerca do parque da escola, espaço naturalizado onde a professora consegue realizar o processo de acolhimento de forma tranquila e sem grandes traumas para a criança.
Por fim, o décimo terceiro artigo traz os resultados de um estudo exploratório sobre as concepções existentes nos documentos que norteiam a educação infantil no que concerne à relação da criança com a natureza nas cidades que compõem a Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí – AMFRI. Verificou-se que dos cinco municípios investigados, os quais foram incluídos na amostra por já terem seus documentos concluídos, apenas um município contemplava em seu documento, eixos orientadores da prática pedagógica voltada para a relação do humano com a natureza.
2
EXPERIÊNCIA DE BEBÊS EM CONTATO COM A NATUREZA
João Gabriel Pereira
Maria Luísa Legal
Beatriz Rocha Souza
Introdução
Diante da cultura tecnológica em que vivemos, podemos observar a desvalorização da importância sobre a educação ambiental. Devido ao crescimento das indústrias, as distâncias entre homem e a natureza aumentaram muito e, consequentemente, a distância entre a criança e a natureza da mesma forma. Daí advém nossa maior preocupação como futuros professores e professoras.
Sendo assim, os acadêmicos de pedagogia do primeiro período desenvolveram, no âmbito do projeto integrador — o qual toma a relação do ser humano-natureza como objeto de estudo e de prática pedagógica —, um mini pomar com seis tipos de árvores frutíferas e um caminho sensorial com diversas sensações emergentes de elementos da natureza. Esse espaço construído no ambiente da instituição propicia que os acadêmicos possam desenvolver eles mesmos uma relação de maior proximidade com a natureza, transformando sua consciência ambiental e de professores.
Além disso, permite que sejam realizadas vivências com grupos de crianças, adolescentes e jovens de outras instituições. Essas vivências e experiências mostram-nos que onde de fato podemos desenvolver uma relação de amor pela natureza é nos espaços nos quais ela é cultivada. Do contrário, corremos o risco de desenvolver uma concepção virtual ou imaginária da natureza (SANTOS, 2016).
Nesse sentido, alguns autores afirmam que as trilhas ecológicas desempenham importante papel no processo de conservação da natureza, pois, ao facilitar o acesso de pessoas a locais naturais, a interação resultante desse contato direto repercute em mudança de comportamento na relação homem-natureza.
Temos assim o primeiro núcleo de representações da relação homem-natureza: o sujeito natural. Se o sujeito é um sujeito natural, a crise ambiental emerge a sua arrogância em não se submeter, que seria humilhação ficar à mercê da natureza. (TOZONI-REIS, 2008, p. 28).
Desse modo, a vivência por nós planejada com base nesse conceito de trilha sensorial tem como finalidade despertar em crianças (bebês) de 12 a 14 meses a sensibilidade, o contato com a natureza, o sistema táctil, gustativo, olfativo e visual.
Educação ambiental na educação infantil
A Educação Ambiental é o princípio do processo de aprendizagem que é necessário ser apresentado às crianças desde o berçário, ampliando a visão do mundo em que ela está explorando e conhecendo. Por conta do excesso de cuidados na correria e na busca por uma vida mais prática, os adultos acabam afastando as crianças desse contato mais íntimo com a natureza.
Observa-se que o olhar das crianças diante de questões ambientais passa muitas vezes despercebido, pois acabam não tendo contato com ambientes naturais (ARANCIBIA; CAVALCANTE, 2005).
Observa-se também que, no ambiente escolar e familiar, os brinquedos de plásticos ganham destaque, gramas são substituídas por terrenos cimentados ou até mesmo recobertos por grama sintética, os vasos de flores e plantas naturais são repostos pelas artificiais por conta de não precisar de cuidados, como água, iluminação ideal e dedicação de tempo. É preciso aprender com as mãos e o corpo inteiro, em contato com água, o sol e a chuva, as folhas, os bichos e a terra, colando nosso aparato corporal completo para sentir, perceber e aprender o sentido da natureza.
[...], a visão da criança como ser que é parte da natureza e do cosmo merece igualmente destaque, especialmente se considerarmos as ameaças do esgotamento de recursos em nosso planeta e as alterações climáticas evidentes nos últimos anos. Conforme alerta Tiriba (2005), os seres humanos partilham a vida na terra com inúmeras espécies vegetais e animais, sem as quais a vida no planeta não pode existir. (BRASIL, 2008, p. 14).
Desse modo, o caminho sensorial é uma estratégia proposta para proporcionar sensações de prazer aos sentidos sensoriais (tato, audição, olfato e visão) como ferramenta de aprendizagem significativa e pode ser uma técnica eficaz de ensino e aprendizagem. Durante as vivências no caminho sensorial, os participantes têm a oportunidade concreta de explorar o ambiente. A construção do conhecimento passa pela percepção do meio pelos sentidos e pelas sensações (OLIVEIRA; VARGAS, 2016).
Segundo Maria Montessori, o caminho do intelecto passa pelas mãos, porque é por meio do movimento e do toque que os pequenos exploram e decodificam o mundo ao seu redor. A criança precisa dessa convivência com o mundo natural, vivências e experiências positivas de modo a desenvolver amor por ele. É de fundamental importância o estímulo à percepção ambiental e ao seu estudo para que se possam entender melhor as relações do homem com o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas (PACHECO; SILVA, 2007).
A escola