Fusão
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Fusão - Isabella Branquinho
Fusão
Por Isabella Branquinho
Fusão, por Isabel a Branquinho
FUSÃO
"Fui educada para ser
realista, pensar que
uma pessoa só era feliz
porque era iludida. Mas
eu
não
precisava
pensar
assim,
não
mais. Eu poderia correr
×××
atrás
da
minha
felicidade, mesmo que
isso me tornasse esse
estereótipo. Eu preferia
viver uma feliz ilusão a
uma realidade doente e
desagradável."
Por Isabella Branquinho
[ 2 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
1
A luz surgia por entre as frestas da janela fechada. Já tinha
amanhecido e eu não havia dormido mais que algumas horas,
porque os meninos aqui da república só abaixaram o volume do
rádio às três da madrugada. E isso foi só diminuir o som; a festa em si
acabou umas seis horas da manhã.
Minha vida parece um seriado para as garotas na fase da
adolescência: Eu moro em uma república, com mais oito pessoas.
Duas delas são meus melhores amigos — Amanda e João. Duas
pessoas são bem gaiteiras — Pedro e Maria Elisa. Rafael namora
outra moradora da república, Teresa. Eu tenho uma inimiga mortal
,
Natale. E também tem Juliano, que é lindo de morrer. Moro em uma
cidade diferente das dos meus pais. Não namoro e "sou o alvo de
muitos olhares masculinos", como diz minha melhor amiga desde
que nos conhecemos — não que eu concorde com ela, mesmo depois
desse tempo todo.
Às vezes era meio complicado morar com mais quatro meninos e
quatro meninas tão diferentes, mas, apesar de tudo, essas pessoas
faziam parte da minha vida.
Amanda sempre morou aqui nessa cidade febril, Ribeirão Preto.
Sinceramente, não sei como aguentou.
Eu só vim para cá no ano passado, depois de terminado o ensino
médio. Tudo bem que em São Paulo eu também poderia fazer uma
faculdade boa, mas minha mãe insistiu para eu vir — acho que ela
[ 3 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
queria que eu desenvolvesse certa responsabilidade. E eu sempre sigo
o que ela me recomenda.
A república em que moro é grande e todos aqui pertencem a boas
famílias. Porém a forma com que encaram a faculdade é bem
diferente: dos nove moradores, poucos se dedicam aos estudos. Além
disso, só Amanda e eu trabalhamos.
Amanda é parecida comigo: Embora também não precise
trabalhar, quer sua independência financeira, quer tirar aquela voz
que fica na cabeça dizendo Papai cuida de você!
. Em geral, também
é bom para ganhar um dinheiro extra no fim do mês. Eu trabalho no
melhor lugar da cidade: a perfumaria do Sr. e da Sra. Lemos, pais de
Am.
Eu havia terminado o Ensino Médio e vindo para Ribeirão para
fazer cursinho, mas o primeiro ano aqui foi de adaptação e não me
rendeu frutos no vestibular. Esse ano, porém, ia ser diferente. Com
praticamente 19 anos, estava na hora de entrar em uma
universidade logo.
Foi quando uma luz intensa invadiu o quarto que eu percebi que
estava ali, parada e de pijama, deitada na cama. Havia me perdido
em pensamentos, como sempre fazia.
Era Maria Elisa, que havia aberto a janela, com o propósito de
fazer pirraça mesmo.
Maria tinha características físicas bem diferentes, como, por
exemplo, o seu cabelo vermelho vivo tingido. Não era muito alta, mas
era magra — o corpo esguio bem parecido com o meu. Os olhos
[ 4 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
eram negros, como carvão, e eu fico me perguntando se os cabelos
dela também eram pretos. Ficaria muito.. diferente.
— Hmm, que horas são? — eu disse meio atordoada.
— Por que não se levanta e vê você mesma? — murmurou Natale
bem baixinho enquanto passava pelo corredor vestindo o seu pijama
meio transparente.
Normal, pensei. Ela sempre me tratava mal e eu sequer
desconfiava do por quê. Tinha uma época que eu a tratava com
muita cordialidade, eu até a suportava, mas esse tempo passou e eu
havia desistido de tentar uma amizade com ela. Quer saber? Agora
eu não iria me importar se ela gostava de mim ou não: iria
simplesmente ignorá-la.
Eu sabia muito bem por que ela usava aquele pijama. Ela era do
tipo que gostava de ser o centro das atenções, ser a mais desejada.
Natale tinha os cabelos loiros que eram seu principal ponto de
orgulho. Os olhos tinham uma tonalidade de castanho muito
intrigante. Era bem magra, com as feições do rosto sempre retraídas,
como se estivesse brava com alguma coisa.
Em uma graciosidade imensa, Amanda deu um pulo na minha
cama e deitou-se ao meu lado, falando:
— Você não perdeu muita coisa da manhã. Ainda são nove horas.
— E sorriu me desejando bom dia bem baixinho.
Teresa olhou cinicamente para nós duas, mas atrás daquela
máscara de garota malvada
, ela desejava mesmo era que ela e
Natale fossem próximas do jeito que eu e Amanda éramos.
[ 5 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
Teresa era a mais reservada das garotas, sempre quietinha. Ela
tinha os cabelos negros — no sol eles tinham uma tonalidade de
vermelho escuro — lisos por natureza. Era magra, tinha um corpo
estrutural — daqueles de que se morre de inveja. Os seus olhos eram
verdes esmeralda, como o de minha prima Elisabete.
Em um pulo me lembrei de que meu horário de entrar na loja era
às oito. Amanda não ter me acordado era bem estranho.
— Ah! Vamos chegar atrasadas hoje! — As palavras saíram
rápidas enquanto eu puxava uma calça jeans escura de minha gaveta
sem me importar nas outras garotas no corredor olhando.
— Não acredito nisso, Becca. Hoje meus pais foram viajar e nos
deixou de folga. Como você pode esquecer? Eles vinham falando de
sair nessa sexta desde o mês passado. — Amanda ria tão alto que por
um momento pensei que tinha que exorcizá-la.
Meu ponto forte nunca havia sido me lembrar das coisas. Nem me
manter em um mesmo humor durante o dia — ele oscila
loucamente. Eu era desequilibrada no sentido literal da palavra, não
de desequilibrada mental.
— E, ainda mais — continuou —, você não colocaria essa calça,
não é? Do jeito que você é, deve ter esquecido até que a gente usa
uniforme.
Eu franzi os lábios, sem argumentos a favor. Tinha me esquecido
mesmo, no susto do momento.
Amanda era, só um pouco, menos alta do que eu. Seu cabelo era
de um loiro intenso e seus olhos cor de mel faziam jus à sua beleza.
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Fusão, por Isabel a Branquinho
Minha amiga parecia um sol radiante: Cabelo e olhos dourados mais
pele branca.
— Hmm.. — Tentei mudar de assunto. — Então acho que
faremos nada hoje.
— Ou fazemos nada ou programamos uma festinha para amanhã
à noite, que tal? — Amanda falou em volume normal, pois já
estávamos sozinhas no quarto.
Revirei meus olhos, enquanto separava uma roupa confortável
para vestir.
— Ai, Amanda. Nem vou falar nada. Até parece que você é
obrigada a curtir uma festa por semana!
— Ok, não preciso mesmo que você fale nada. Sabe de uma coisa?
Às vezes me pergunto se você faz isso de propósito. — Ela olhou para
minha direção e acenou de cima para baixo, da minha cabeça aos
meus pés.
— O que? — Eu a encarei, tentando entender em que assunto ela
estava.
— Olha aí no espelho.
Eu ri, fazendo o que me havia sido ordenado. Eu era alta, tinha o
cabelo castanho meio ondulado, meio liso, meio frisado, sei lá (eu o
chamava de indefinido) e olhos castanhos escuros. Nada fora do
normal e nada tão atrativo.
— E o que eu tinha que achar aqui, além do meu reflexo? —
ironizei.
[ 7 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
— Ah, vão parar de conversinha aí e vir ajudar com o café da
manhã? — Um grito ecoou da cozinha e eu imaginei ser o "mala-
sem-alça" do João.
João era meu amigo bonitão (e irritante, por causa das suas
brincadeiras sem graça). Mas ser amiga dele também tinha suas
vantagens: Ele fazia praticamente tudo que eu pedia, e vice-versa, e
éramos tão íntimos que se eu chegasse à cozinha e desse um selinho
nele de bom dia ele iria revidar com outro, apesar de todos os demais
acharem meio esquisito.
Amanda riu e saiu saltitando para o andar de baixo. Procurei
rapidamente uma sandália e a segui.
Quando cheguei à cozinha, pude ver apoiado no balcão João —
meu alvo fácil. Concentrei-me um pouco mais. . Em um pulo eu
estava em cima das costas dele.
— Bom dia, cavalo! — Sorri alegremente para ele.
— Bom dia, amazona! Bom humor?
— Nossa, como você adivinhou? — brinquei.
— Vejamos. . Você não sabia? Eu vejo o que vocês, garotas, sentem
com a ajuda de minha visão de raios-X de tecnologia super de ponta.
— Há. Aham, com certeza você tem essa sua visão de raios-X. E
deixa só eu fazer uma observação: Esse seu super ficou meio gay.
— Tão engraçadinha quando está com esse bom humor. Se eu não
soubesse que você não liga muito pra isso, acharia que você anda
namorando escondido.
Revirei os olhos. Ele sabia que, praticamente, eu era a única
encalhada aqui.
[ 8 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
Apesar de Amanda estar solteira no momento, sempre arranjava
um namorado. Natale também.
Maria Elisa preferia ficar a namorar, mas sempre tinha as suas
exceções.
Teresa namora Rafael. E eles combinam muito.
Pedro sai pela cidade e namora a primeira que ele acha
interessante. O namoro dificilmente resiste a um mês de
compromisso.
Juliano não namora ninguém porque não quer. É bonito, com
traços bem desenhados no rosto. Tem cabelos castanhos e olhos
azuis. Ele é muito encantador e às vezes é difícil resistir aos seus
olhares. . Muito difícil.
Resumindo: Ele não namorava por vontade própria. Ou seja, não
era um encalhado.
João acabou com seu namoro recentemente porque já não era
mais a mesma coisa. Mas isso também não era nenhuma novidade. .
Ele me colocou no chão para sentarmos à mesa de café da manhã.
João também era bonito, de um jeito diferente. Ele tinha os cabelos
pretos e olhos da mesma cor. A pele era de um contraste imenso, pois
era bem branca. Chegava a ser engraçado.
Teresa chegou com Natale, ambas se sentando perto da janela.
Amanda estava na cadeira do meu lado esquerdo. Jason sentou-se ao
lado de João e Maria Elisa sentou-se na minha frente. Depois se
juntaram a nós Rafael e Pedro.
[ 9 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
Rafael era o mais calado dos homens, assim como Teresa era a
comportada da ala feminina. Acho que esse simples fato era um dos
principais que faziam com que eles se dessem tão bem.
Tenho que admitir que eu sempre tive certa quedinha por ele.
Lógico que minhas esperanças foram extintas quando ele começou a
namorá-la, mas era impossível não admirá-lo. Ele sempre foi tão
lindo. Seu cabelo era grande, jogadinho
, loiro apagado.
Pedro era o garoto mais saidinho da república, visto que era um
garanhão. Tinha o cabelo castanho, meio desalinhado. A boca era
enorme e os olhos eram castanhos claros, cheios de mistério.
Café da manhã seguiu previsível e rotineiro. Assim que eu acabei
de lavar as louças (minha obrigação do dia), fui de encontro com os
garotos, que estavam na área da piscina.
— Becca, a gente estava combinando aqui sobre quem a gente vai
chamar para a festinha de amanhã. — Am já foi me interando do
assunto.
— Vocês pretendem chamar muita gente? — Imaginei uma festa
de arromba, daquelas que Amanda adorava fazer.
— Os meninos queriam chamar três amigos deles de outra
república que fica no outro lado da cidade. Eles chegariam amanhã
depois do almoço e iriam embora no domingo. Que tal?
— Hmm, ok.
Amanda me olhou com uma cara de desejo: desejo de poder soltar
raio laser pelos olhos e perfurar meu cérebro.
— Que ânimo o seu, Becca — ironizou, revirando os olhos e
começando a me ignorar. — Bem, quem vai convidá-los?
[ 10 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
— Eu chamo. — João piscou para mim.
— E quem são eles? — perguntei.
Mas eu tive minha concentração pulverizada. O modo com que
Juliano me olhava fez com que eu perdesse a noção do que
estávamos falando ali. Quando ele percebeu meu olhar, sorriu de um
modo conquistador.
Estava muito perfeito o momento até que Amanda mais uma vez
me trouxe para o mundo real, consequentemente me fazendo olhar
para baixo toda envergonhada.
— Ah, João, eu já tenho certeza que ela não ouviu os nomes deles.
— E deu uma olhada rápida e nervosa para mim.
Ela sempre falava que Juliano não me merecia e que ele não era
totalmente bom — isso porque ela mesma já o namorara no passado
e o relacionamento não foi um dos melhores. Am dizia que ele a
traiu. Embora eu confiasse no que ela me dizia, não conseguia
imaginar o lindo Sr. Olhos Azuis fazendo uma coisa dessas, então
comecei a ignorar isso tudo para não morrer de enxaqueca.
Resumindo: Por isso, minha lindíssima amiga nunca aprovou os
flertes dele, principalmente quando eu flertava de volta.
— É, não ouvi. — Dei uma mordida involuntária nos lábios.
— Tudo bem, Rê. Eu tenho o dia todo e não me importo de repetir
os nomes dos garotos toda hora — disse meu amigo, irônico. — Mas,
enfim, um deles é David Patrocínio, um bobão de 20 anos, que só faz
piadas. Hmm. . Outro é o Arthur Cardoso, também com 20 anos. O
terceiro é mais novo, tem 18 anos, igual à gente. Ele se chama Sam
Wade.
[ 11 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
Wade... Totalmente não brasileiro e cem por cento legal.
Comecei a desconfiar o porquê de Amanda querer tanto essa
festa. Ela estava é querendo flertar com algum dos três meninos.
Depois de programar o evento do ano
, quase todos os meninos
saíram com Amanda para decidir os preparativos. Ela sempre tinha
mais amizade com os meninos, mais do que qualquer uma nessa
república.
Sem o que fazer, fui para o meu quarto, que estava bem fresco.
Delicadamente, eu pulei ao lado do meu ursinho de pelúcia, Tobby, e
o abracei bem forte. Minha mãe havia me dado quando eu aceitei vir
para Ribeirão. Ela me apoiava fortemente, pois, na época, eu faria 18
anos e podia cuidar de mim mesma. Meu pai relutou um pouco em
me deixar mudar de cidade, mas percebeu que era o melhor para
mim também.
Minha mãe era neurologista, muito bem sucedida no que fazia.
Meu pai era advogado, um dos melhores. Não falo isso porque eles
eram meus pais, mas porque eles eram realmente bons em seus
trabalhos. Eu não tinha irmãos. Minha família era conhecida como
uma família séria e de poucos representantes. Os meus parentes de
nome Morgan tinham no máximo dois filhos por casal.
Pela barulheira que de repente adentrou a casa, Amanda já tinha
retornado junto com os outros meninos. As gargalhadas que eu ouvia
denunciava que tudo havia dado certo.
Apareci na sala onde todos estavam aglomerados comendo pizza.
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Fusão, por Isabel a Branquinho
— Que bom que eu fui convidada para a bagunça — falei com
sarcasmo, fazendo um biquinho.
Am riu.
— Não seja melodramática. Eu já estava indo te chamar.
Enquanto comíamos (além de pizza, também tinha sorvete!
Hmm), nós conversávamos animadamente sobre a chegada dos três
hóspedes e continuamos assim mais um bom tempo. Amanda os
descrevia com perfeição; eu quase conseguia fazer uma imagem
mental deles. Começou a ficar tarde e, de um em um, o pessoal foi
sumindo da sala, até que sobramos Amanda e eu.
— Ei, Am. Descobri porque você quer que os meninos venham
amanhã. — Fiz uma cara de esperta enquanto observava sua reação.
Ela ficou com uma postura rígida, como se estivesse preocupada.
— Está na cara que você quer um deles como namorado. Não sei
qual. — Meu sorriso malicioso de canto a deixou mais aliviada (ou
assim pareceu).
— Não é bem por isso, mas se eu fosse escolher um deles,
escolheria o Sam. Mas que pedaço de mau caminho! — E suspirou
como se tivesse pensando em suas formas.
— Nossa, Amanda! Você até me deixou curiosa — eu disse,
ironicamente, enquanto ela saía da sala me chamando para eu ir com
ela. — Eu vou depois que eu arrumar as coisas esparramadas aqui.
— Ok — falou, saltitando para fora. Ela já estava acostumada
com o meu TOC parcialmente controlado.
[ 13 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
Terminei tudo e fui para o quarto. Amanda já estava adormecida.
Eu tinha sorte de dividir meu quarto só com ela. . Nada de Maria
Elisa, Natale ou Teresa. Só Amanda, minha melhor amiga.
Coloquei um pijama, escovei os dentes e me joguei na cama. Não
demorou muito até que eu retornei a pensar em meninos, mas eu
tinha que me concentrar. Apaixonar-me não era a minha prioridade,
eu memorizava, tentando seguir a minha linha de pensamento.
Porém, eu não acreditava nessa frase e sabia muito bem disso; vinha
pensando há um bom tempo:
Eu precisava de um namorado.
[ 14 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
2
Havia amanhecido e eu fui a primeira a acordar. A casa estava
silenciosa.
Eu tive um sonho completamente confuso — e estranho — com
Amanda e Sam. Na verdade, não sei bem se era Sam, mas pela
descrição que minha amiga fizera na noite anterior, poderia muito
bem ser.
Em meu sonho, Amanda chegou correndo, toda suada e me
puxou. Estávamos indo em direção a um carro prateado e muito
compacto, mas o que ela estava procurando estava exatamente
dentro dele.
Sam Wade.
Quando chegamos perto, ela soltou minha mão e pegou a dele.
Nesse momento eles começaram a correr para dentro de uma cidade,
que não estava na minha frente nos últimos dois segundos. Na
verdade, parecia mais uma vila do que cidade. Eu queria parar, mas
Amanda corria, se virava e gritava:
— Corre, Becca, vamos nos atrasar.
Eu tentava correr mais rápido, e Amanda continuou falando, cada
vez mais urgente.
Pude ver que chegávamos perto de uma construção graciosa, bem
simples. A igreja tinha somente uma torre e uma cruz no alto dela.
Subimos à escadaria e, com muito custo, abrimos a pesada e
gigantesca porta de madeira. Não havia nada: nenhuma decoração,
[ 15 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
nenhum convidado. Apenas o padre que resmungava algo inaudível
que parecia mais com Atrasados de novo
.
Eu assisti sozinha à cerimônia de casamento, que passou mais
rápido do que eu pude imaginar. Os noivos, Sam e Amanda,
correram para a porta de madeira, passando por mim sem ao menos
se despedirem. Saíram da igreja, deixando a porta aberta, e eu os
acompanhei. Estava parado na frente da entrada um carro todo
decorado com os escritos ‘Recém casados’. Amanda e Sam partiram
no carro, me deixando completamente só, em uma vila quase
abandonada. Olhei para trás, tentando localizar o padre, mas eu não
consegui ver onde ele estava. Ele não estava mais lá e eu.. fiquei
sozinha.
Foi quando o sonho se transformou em um pesadelo e acordei
ofegante. Eu estava tão suada que parecia que eu tinha realmente
corrido, como no início do sonho.
Eu estava pirando, estava mesmo. Nunca tinha visto esse tal Sam e
já tinha sonhado com ele!
Minha cabeça estava confusa. Eu dizia para todo mundo a minha
volta que não precisava de namorado nenhum, mas no meu íntimo
— e no meu subconsciente, pelo que eu pude ver — eu me sentia só.
Pelo que eu pude entender do conjunto do meu sonho, eu tinha medo
que as pessoas perto de mim fossem embora, vivessem felizes e me
deixassem sozinha. O meu medo era que, no final de tudo, eu não
tivesse ninguém comigo. (Eu tento interpretar sonhos e pessoas; não
é a toa que eu vou começar meu curso de Psicologia. .)
Foi quando meus pensamentos voaram para Juliano.
[ 16 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
Essa coisa de ele me deixar louca era totalmente errada. Não
tínhamos as mesmas intenções. Ele queria que ficássemos uma vez, aí
depois nem notaria mais minha presença.
Duas vozes brigavam dentro da minha cabeça. Uma dizia: Ah, fala
sério! Lógico que ele quer namorar você. Ele lhe disse o contrário,
hein? A outra dizia: Ele não é certo. E você não gosta dele de verdade,
só está confusa. Se gostasse, tudo bem! Poderia se arriscar. . Ver se
daria certo.
Eu sinceramente não sabia qual ouvir, mas preferia acreditar na
segunda.
Resolvi me levantar e fazer alguma coisa. Se eu ficasse parada
com aquelas duas vozes mais um minuto iria enlouquecer.
Escovei os dentes pacientemente enquanto tomava banho,
pensando em colocar a mesa de café da manhã bem caprichada. E foi
exatamente o que eu fiz.
Voltei para o quarto para me trocar; eu estava de roupão, só para
constar. Quando eu estava trocada, Amanda já tinha acordado. Não
só ela, alguns dos meninos também.
— Oh, meu Deus! Quem colocou a mesa de café da manhã? —
exclamou Pedro assim que voltei para a sala de jantar.
— Acordei mais cedo hoje e resolvi caprichar — falei.
Peguei um sorriso de vergonha brotando em meus lábios
enquanto Juliano olhava com aprovação.
— Hmm. . Acho que você está ansiosa por hoje depois do almoço,
não é? — disse Pedro com malícia na voz.
[ 17 ]
Fusão, por Isabel a Branquinho
Amanda deu um cutucão em suas costelas forte o suficiente para
fazê-lo reclamar: Ai, doeu!
.
— Eu estou super ansiosa para a festa que eu organizei com a
ajuda dos meninos! — Amanda emitiu as palavras se orgulhando
dela mesma. Nunca vi alguém gostar tanto de festa.
— Por que eu estaria ansiosa? — perguntei, tentando arrancar
alguma coisa de Amanda ou Pedro.
— Três estranhos na casa, mais amigos. . Curtição, né! O que você
achou que poderia ser? — contra-atacou Amanda com seriedade,
mas não me convenceu.
— Humph, deixa pra lá — murmurei, quando vi que todos
olhavam para mim.
Amanda e eu estávamos no quintal, aproveitando a deliciosa brisa
que levava nossos cabelos.
— Que horas os garotos chegarão? — perguntei.
Eu não sei por que eu me interessava com isso. Acho que o índice
normal de progesterona e estrógeno de uma mulher não deixaria
fazer com que a vinda deles passasse despercebida.
Ela deu um sorriso atrevido.
— Mais ou menos uma ou duas horas da tarde.
— Ah, tá.
Voltei para dentro da casa quando me enjoei de ficar lá parada e
comecei a arrumar meu quarto.
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Fusão, por Isabel a Branquinho
Tudo terminado. Quarto arrumado e eu