Ii Reis
De Silvio Dutra
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Ii Reis - Silvio Dutra
II Reis 1
Elias, o Profeta do Fogo
Nós vemos no primeiro capítulo do livro de II Reis, que os moabitas e edomitas foram feitos tributários de Israel, desde os dias de Davi, mas agora, em razão da idolatria dos israelitas eles se sentiram fortalecidos para romperem o compromisso ao qual haviam sido sujeitados, quando reinava Acazias, filho de Acabe (II Rs 1.1).
Nós veremos no terceiro capítulo, que nos dias de Jorão, irmão de Acazias, que passou a reinar depois da morte deste, que a rebelião dos moabitas deu ensejo a uma guerra contra eles com uma coalizão de tropas de Judá, Israel e Edom.
Nós veremos no capítulo oitavo, que nos dias do rei de Judá, filho de Josafá, de nome Jeorão, os próprios edomitas também se rebelaram contra Judá, para não serem mais seus tributários (8.22).
O motivo do rompimento com Israel, da parte dos moabitas foi o pecado de idolatria que havia na casa de Acabe, e o rompimento que houve posteriormente, em relação a Judá foi também o pecado da adoração a Baal, que havia sido exportado de Israel para Judá, através do casamento de Jeorão, rei de Judá, filho de Josafá, com Atalia, filha de Acabe com Jezabel.
No caso de Acazias, filho de Acabe, o motivo da rebelião dos moabitas foi devido ao fato de ter dado continuidade ao culto a Baal em Israel, e além disso, ele seguiu os passos de seu pai Acabe, tendo total desconsideração para com o Senhor e com os seus profetas.
Ele reinou apenas dois anos, porque caiu através das grades de um quarto elevado do seu palácio em Samaria, e veio a ficar gravemente enfermo, e morreu desta enfermidade, por causa de um juízo do Senhor proferido contra ele, através do profeta Elias, porque enviou mensageiros a Ecrom, terra dos filisteus, para consultarem a Baal-Zebube, deus deles, se ele sararia daquela doença (II Rs 1.2).
Mas o anjo do Senhor, no original hebraico, malak iehvah, mensageiro de Jeová, ordenou que Elias fosse ter com os mensageiros de Acazias, para que estes retornassem a ele com a seguinte mensagem: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Agora, pois, assim diz o Senhor: Da cama a que subiste não descerás, mas certamente morrerás
(v. 3,4).
Deus conhecia a maldade de Acazias e bem sabia que não se converteria do seu mau caminho, ainda que fosse curado daquela enfermidade por Ele.
Assim, a mensagem não tinha a finalidade de produzir arrependimento, como de fato não produziu, senão juízo sobre a insensatez do rei em mandar consultar um deus de outra terra.
Ele havia desprezado e ignorado o Deus de Israel, a quem ele deveria não apenas consultar, mas servir, na condição de ser um israelita, descendente de Abraão, Isaque e Jacó, povo com o qual o Senhor havia feito uma aliança de ser o Deus deles para sempre.
Por isso, ele seria também desprezado, e não ficaria sem resposta para a consulta que mandara fazer em Ecrom, porque a receberia da parte do próprio Deus de Israel.
Entretanto, quando os mensageiros de Acazias lhe fizeram saber que um profeta do Senhor lhes dissera que morreria daquela enfermidade, e que havia procedido mal em tentar consultar um deus estranho; tendo inquirido seus mensageiros, quanto às características do profeta que lhes havia falado, ficou sabendo que se tratava de Elias, a quem ele bem sabia que era profeta de Deus e o quanto o seu pai o odiava por tudo o que fizera em Israel, sobretudo aos falsos profetas de sua mãe Jezabel.
Então, não se conformou com a resposta que lhe fora dada e ficou enfurecido a ponto de enviar um pelotão com cinquenta soldados e um capitão sobre eles para trazerem Elias, ainda que à força, à sua presença.
Ele deve ter considerado uma afronta o fato de o profeta ter mandado os seus mensageiros de volta, sem que tivessem cumprido a missão que lhes havia dado.
Ele se sentiu desprezado em sua autoridade de rei, pelo profeta, que na verdade não estava sendo rebelde ao rei agindo por sua própria conta, senão obedecendo ordens superiores às do próprio rei, daquele que é o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Tanto que para que não houvesse dúvida quanto à procedência da ordem, esta fora dada ao profeta Elias através de um anjo, e não por meio de sonhos ou visões.
Caso o oráculo dos demônios que falavam em nome do falso deus Baal-Zebube tivesse dito a Acazias que ele morreria, nenhum furor teria sido despertado nele, mas como a mensagem lhe veio da parte do Deus único e verdadeiro, ficou extremamente ofendido.
A doença de Acazias não produziu nele nenhuma atitude de humildade perante Deus, e muito menos qualquer tipo de quebrantamento.
Ele recebeu um juízo de morte como consequência daquela enfermidade, mas nem com isto se humilhou, antes, procurou ameaçar o profeta e trazê-lo à força à sua presença, para lhe dar a devida satisfação, que segundo ele o caso requeria.
O endurecimento de Acazias daria ocasião a outros juízos de morte da parte de Deus sobre aqueles que foram enviados por ele a Elias, e que não tiveram o devido respeito ao profeta, senão o único desejo de agradarem o rei.
Uma mensagem poderosa dos céus seria dada não somente àquela geração, mas a todos os homens, de todas as épocas e lugares, de que aqueles que não temem ao Senhor, e que não dão ouvido à mensagem que Ele proferiu pela boca dos Seus profetas, e que estão registradas para nossa advertência na Sua Palavra, principalmente a que deu pela boca do Grande Profeta nosso Senhor Jesus Cristo, serão igualmente sujeitados a um juízo de morte, e serão queimados eternamente pelas chamas do inferno.
O grupo que foi enviado inicialmente ao profeta, encontrou-o assentado no cume de um monte, provavelmente o Carmelo, e o capitão daquele pelotão com cinquenta homens intimou Elias dizendo-lhe as seguintes palavras:
Ó homem de Deus, o rei diz: Desce.
.
Pela reação de Elias, e pela resposta e juízo que ele proferiu sobre aqueles homens, inspirado por Deus, nós só podemos entender que o vocativo Ó homem de Deus
foi feito em tom de desprezo e ironia, porque Elias introduziu a sua resposta antes de ordenar que descesse fogo do céu, com as seguintes palavras: Se eu, pois, sou homem de Deus
, como que a dizer que caso o capitão ainda tinha alguma dúvida de que ele era homem de Deus, ela seria dissipada com o que o Senhor faria naquela hora atendendo ao seu pedido.
É possível que pelo tempo decorrido, e por não ter sido uma testemunha ocular do dia em que o Senhor fez cair fogo do céu para queimar o holocausto sobre o Seu altar, que fora restaurado por Elias no Carmelo, que o capitão considerasse tal estória como sendo uma fábula e não um fato real.
Mas agora, ele teria a comprovação do fato, mas pagando com sua própria vida, porque o holocausto não seria um animal oferecido sobre o altar, mas o seu próprio corpo e os dos cinquenta homens que se encontravam com ele naquela ocasião (v. 9, 10), não sendo queimados como holocaustos aceitáveis e agradáveis a Deus, mas como merecedores de um juízo de fogo.
Tal era a obstinação e endurecimento de Acazias, que em vez de temer ao Senhor e ao Seu profeta, insistiu em trazer Elias pelo uso da força à sua presença, e enviou outros cinquenta com o seu respectivo capitão.
Este, além de ter incorrido no mesmo erro do primeiro, ainda ordenou que Elias não apenas descesse, mas que o fizesse apressadamente (v. 11).
O que o profeta havia dito ao primeiro, disse também a este, de forma que tanto ele quanto os seus cinquenta comandados foram consumidos pelo fogo de Deus, que desceu do céu sobre eles (v. 12).
Foi em face da recusa dos samaritanos em reconhecerem ao Senhor Jesus como o Profeta enviado por Deus ao mundo, que Tiago e João lhe sugeriram que lhes deixasse pedirem a Deus fogo que viesse do céu para consumir os samaritanos, e receberam do Senhor uma firme repreensão (Lc 9.52-56), porque não haviam entendido com que espírito e movido por quais motivos Elias o havia feito no passado em relação àqueles 102 homens que haviam sido consumidos pelo fogo, que veio da parte de Deus, desde o céu, sobre eles.
Na verdade, não eram nem sequer os motivos de Elias, mas os motivos de Deus, para cumprir os propósitos por Ele determinados para nos servir de exemplo e ensino quanto ao temor que lhe é devido, e ao profundo acatamento que deve ser dado a tudo o que Ele nos disse pela boca dos Seus profetas.
Todavia os apóstolos de nosso Senhor estavam vivendo numa nova dispensação, a da graça, na qual estes juízos extensos e imediatos como visitação da incredulidade e do pecado, já não existem, porque aqui se ordena que se ame os inimigos e que se ore pelos perseguidores, em vez de se pedir que venha fogo do céu sobre eles.
O próprio Elias, antes e depois deste evento, que encontramos narrado neste primeiro capítulo de II Reis, não vivia a pedir fogo do céu sobre todos que rejeitaram a sua mensagem, porque de outro modo, quase nenhuma carne restaria em Israel em seus dias, salvo os 7.000 que não haviam dobrado seus joelhos a Baal.
Ao contrário, o esforço de Elias era o de conduzir Israel ao arrependimento, tanto que ele desejou até mesmo a sua própria morte, quando pensou que sua missão havia fracassado, pelo fato de pensar que somente ele havia restado como o único profeta que permanecia fiel e leal ao Senhor, expondo sua vida para combater a idolatria, que havia se apoderado dos israelitas.
Realmente, Elias estava agindo debaixo da direção do Senhor, porque quando Acazias lhe enviou ainda um terceiro grupo de cinquenta homens, com o seu respectivo capitão, este não ordenou que Elias descesse, ao contrário subiu até a sua presença e em atitude de reverência colocou-se de joelhos diante dele e lhe rogou por misericórdia tanto para com ele, quanto para com aqueles que se encontravam debaixo do seu comando (v. 13, 14), e o que fez o profeta?
Ordenou que viesse fogo do céu sobre eles assim mesmo?
Não, ao contrário, ele se mostrou favorável a eles porque o anjo do Senhor disse a Elias que descesse com aquele capitão até a presença do rei Acazias, sem nada temer (v. 15).
Aqui nós aprendemos uma segunda lição sobre o caráter de Deus, porque ele não é somente o Deus que julga o pecador, como também é misericordioso para com aqueles que se humilham, e lhes mostra o favor da Sua graça.
Ao chegar à presença do rei, Elias proferiu as mesmas palavras que o anjo do Senhor lhe havia dado, para serem ditas aos mensageiros de Acazias, que ele havia enviado a Ecrom, e que acabaram retornando a ele sem cumprirem a ordem que lhes havia dado, em face do juízo de Deus, que havia sido pronunciado contra ele.
Como Deus havia revelado ao profeta, Acazias veio de fato a morrer daquela enfermidade, pouco tempo depois, porque reinou apenas dois anos, e sequer chegou a gerar filhos que pudessem herdar o seu trono, de modo que este passou para o seu irmão, também filho de Acabe, chamado Jorão.
Este, foi um dos últimos, senão o último serviço prestado por Elias ao Senhor, como Seu profeta para protestar contra o pecado de Israel, porque no capítulo seguinte nós encontramos a narrativa relativa à sua sucessão por Eliseu, e o seu arrebatamento ao céu.
"1 Depois da morte de Acabe, Moabe se rebelou contra Israel.
2 Ora, Acazias caiu pela grade do seu quarto alto em Samaria, e adoeceu; e enviou mensageiros, dizendo-lhes: Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta doença.
3 O anjo do Senhor, porém, disse a Elias, o tisbita: Levanta-te, sobe para te encontrares com os mensageiros do rei de Samaria, e dize-lhes: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom?
4 Agora, pois, assim diz o Senhor: Da cama a que subiste não descerás, mas certamente morrerás. E Elias se foi.
5 Os mensageiros voltaram para Acazias, que lhes perguntou: Que há, que voltastes?
6 Responderam-lhe eles: Um homem subiu ao nosso encontro, e nos disse: Ide, voltai para o rei que vos mandou, e dizei-lhe: Assim diz o Senhor: Porventura não há Deus em Israel, para que mandes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Portanto, da cama a que subiste não descerás, mas certamente morrerás.
7 Pelo que ele lhes indagou: Qual era a aparência do homem que subiu ao vosso encontro e vos falou estas palavras?
8 Responderam-lhe eles: Era um homem vestido de pelos, e com os lombos cingidos dum cinto de couro. Então disse ele: É Elias, o tisbita.
9 Então o rei lhe enviou um chefe de cinquenta, com os seus cinquenta. Este subiu a ter com Elias que estava sentado no cume do monte, e disse-lhe: Ó homem de Deus, o rei diz: Desce.
10 Mas Elias respondeu ao chefe de cinquenta, dizendo-lhe: Se eu, pois, sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e aos teus cinquenta. Então desceu fogo do céu, e consumiu a ele e aos seus cinquenta.
11 Tornou o rei a enviar-lhe outro chefe de cinquenta com os seus cinquenta. Este lhe falou, dizendo: Ó homem de Deus, assim diz o rei: Desce depressa.
12 Também a este respondeu Elias: Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e aos teus cinquenta. Então o fogo de Deus desceu do céu, e consumiu a ele e aos seus cinquenta.
13 Ainda tornou o rei a enviar terceira vez um chefe de cinquenta com os seus cinquenta. E o terceiro chefe de cinquenta, subindo, veio e pôs-se de joelhos diante de Elias e suplicou-lhe, dizendo: ó homem de Deus, peço-te que seja preciosa aos teus olhos a minha vida, e a vida destes cinquenta teus servos.
14 Eis que desceu fogo do céu, e consumiu aqueles dois primeiros chefes de cinquenta, com os seus cinquenta; agora, porém, seja preciosa aos teus olhos a minha vida.
15 Então o anjo do Senhor disse a Elias: Desce com este; não tenhas medo dele. Levantou-se, pois, e desceu com ele ao rei.
16 E disse-lhe: Assim diz o Senhor: Por que enviaste mensageiros a consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Porventura é porque não há Deus em Israel, para consultares a sua palavra? Portanto, desta cama a que subiste não descerás, mas certamente morrerás.
17 Assim, pois, morreu conforme a palavra do Senhor que Elias falara. E Jorão começou a reinar em seu lugar no ano segundo de Jeorão, filho de Josafá, rei de Judá; porquanto Acazias não tinha filho.
18 Ora, o restante dos feitos de Acazias, porventura não está escrito no livro das crônicas dos reis de Israel?" (II Rs 1.1-18).
II Reis 2
O Arrebatamento do Profeta Elias
Sabendo que o Senhor tem um propósito em tudo o que Ele faz, podemos então refletir sobre os ensinamentos que Ele intentou deixar para nós com o arrebatamento de Elias, relatado no 2º capítulo de II Reis.
Por que somente depois de tanto tempo, desde Enoque (que era da sétima geração depois de Adão – Hb 11.5), que foi o primeiro homem a ser arrebatado sem ter passado pela morte, Deus o faria de novo com Elias?
Por que foi dada a Elias esta honra e não a nenhum outro grande homem de Deus que viveu antes dele, desde Enoque?
O primeiro grande ensinamento do arrebatamento é que Deus é poderoso para intervir na condição de mortalidade a que ficou sujeita a humanidade, com o pecado original, dando e mantendo a vida, de quem Ele quiser, segundo o conselho da Sua própria vontade soberana.
Tendo feito a promessa de vida eterna àqueles que se arrependessem dos seus pecados convertendo-se a Ele de coração, os tais podem ter no exemplo do arrebatamento de Elias a garantia de que ainda que morram, não morrerão no entanto, eternamente, e terão os seus corpos ressuscitados para experimentarem o mesmo tipo de arrebatamento do profeta, quando Cristo vier buscar a Sua Igreja.
Então este não foi um privilégio exclusivo de Elias e Enoque, mas foi antecipado a eles para ser o prenúncio de que será o mesmo privilégio de muitíssimos cristãos que estiverem vivendo sobre a terra por ocasião da volta do Senhor, porque terão os seus corpos transformados, instantaneamente, sem passarem pela morte física, de modo que possam se encontrar com Ele entre nuvens, juntamente com aqueles que haviam morrido e que serão ressuscitados, no dia do arrebatamento da Igreja.
Entretanto, a grande lição que aprendemos com o arrebatamento destes dois homens é a de que ambos tinham grande comunhão com o Senhor, em razão da santidade em que viviam, e assim há um recado silencioso no seu arrebatamento, de que aqueles que forem considerados dignos desta honra o serão também em razão da evidência de santidade que for achada em suas vidas.
Por isso, a santificação não deve ser negligenciada, porque o Senhor exigirá evidência de santidade nas vidas de todos aqueles que forem arrebatados.
Os cristãos que estiverem vivendo na carnalidade, permitindo-se apostatar da vontade de Deus, por falta do interesse em se santificarem, correrão o grande risco que é ensinado especialmente na parábola das dez virgens, por ocasião da volta do Senhor.
A evidência desta santificação é atestada pelo testemunho do Espírito Santo, com o nosso espírito, de que tudo vai bem em nossa comunhão com Deus, de modo que tranquilizemos o nosso coração, não somente quanto à certeza da nossa salvação, que é segura para todo genuíno cristão, como