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Musicaria Brasil
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E-book743 páginas5 horas

Musicaria Brasil

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Sobre este e-book

Com o lema é “A música brasileira por em seus mais variados estilos e tendências”, o blog Musicaria Brasil vem encorpando-se a cada ano abordando e trazendo ao conhecimento do seu público os mais distintos temas e pautas como as que tenho escrito desde 2010, e que agora chegam, em parte, reunidas aqui através da abordagem de novos e velhos talentos, assim como também entrevistas exclusivas concedidas a mim entre 2010 e 2015. Devido a quantidade de matérias escritas essa coletânea acabou dividida em dois volumes, onde o primeiro abrange as pautas publicadas entre setembro de 2010 até fevereiro de 2013, enquanto o segundo volume relembra as assinadas por mim entre março de 2013 a setembro de 2015.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de dez. de 2015
Musicaria Brasil

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    Pré-visualização do livro

    Musicaria Brasil - Bruno Negromonte

    C:\Users\User\Desktop\10-cover_mpb.jpg

    Musicaria Brasil

    A contemporaneidade e o paralelismo dentro da Música Popular Brasileira

    - Volume 01 -

    Bruno Negromonte

    À Maria Luíza Negromonte, pela força que hoje você representa em mim e para mim.

    "Minha crença na arte em geral é que ela deve enriquecer a alma; deve ensinar espiritualmente, mostrando à pessoa uma parte dela mesma que ela não conhece: uma parte que ela não sabia que existia."

    (Bill Evans)

    Sumário

    Agradecimentos

    Prefácio

    Apresentação

    Daniela Alcarpe - O canto doce de um novo talento da MPB

    Todo artista tem que ir aonde o povo está

    Rodrigo Vellozo, mais que um talento herdado

    Eu acredito em anjos

    Excelente CD! Banda Pequi, Leila Pinheiro e Nelson Faria

    Maestro Jarbas Cavendish - Entrevista Exclusiva

    Fernanda Cunha, o talento brasileiro que vem conquistando o mundo

    Um grande achado cultural: Raul Boeira

    Raul Boeira - Entrevista Exclusiva

    A odisseia musical de Ricardo Machado

    Ricardo Machado - Entrevista Exclusiva

    Patricia Talem vem com olhos que enxergam muito além do convencional

    Patricia Talem - Entrevista Exclusiva

    O mosaico contemporâneo e musical de Beatrice Mason

    Beatrice Mason - Entrevista Exclusiva

    Beatrice Mason - Entrevista Exclusiva

    Toninho Geraes e os preceitos do samba

    Quando o galo cantô, deu samba!

    Adriana Godoy comemora quinze anos de carreira e nos apresenta Marco, um álbum que traz por excelência o requinte e o bom gosto

    Adriana Godoy - Entrevista Exclusiva

    Sem descanso, André Mastro mostra toda homogeneidade da música popular em seu álbum de estreia

    André Mastro - Entrevista Exclusiva

    Túlio Borges chega para mostrar, além de talento, um novo prumo para a MPB Contemporânea

    Quem não gosta de samba bom sujeito não é...

    Ana Paula da Silva – Entrevista Exclusiva

    Roney Giah e Perseptom Banda Vocal vem com Co'as goela e tudo!

    Roney Giah - Entrevista Exclusiva

    De família musical e empunhando de forma segura seu violão, Antonia Adnet chega discretamente

    De maneira conceitual Wander Peixoto desdobra amor em versos e melodias

    Sem lero-lero, Luísa Maita mostra para o que vem

    Os ciclos da vida a partir do suave canto de Clarissa Mombelli

    Clarissa Mombelli - Entrevista Exclusiva

    Em um álbum de preciosidades, Gonzaga Leal se faz ourives de canções

    Entrevista Exclusiva – Gonzaga Leal

    Rita Gullo, simples assim...

    Rita Gullo - Entrevista Exclusiva

    A Escolha certa de Amanda Garruth

    Amanda Garruth - Entrevista Exclusiva

    Minha terra tem palmeiras onde canta um suingado Sabiá

    João Sabiá - Entrevista Exclusiva

    Contemporaneidade e tradição fundem-se em "", álbum de estreia de Letícia Scarpa

    Letícia Scarpa - Entrevista Exclusiva

    O talento e a sensibilidade que se destacam no caudaloso universo instrumental brasileiro

    Júlia Tygel - Entrevista Exclusiva

    Quarteto Primo estreia em disco de maneira vigorosa sob a égide de um Obá de Xangô

    Quarteto Primo – Entrevista Exclusiva

    Flávio Assis apresenta uma feira imbuída de ritmos e brasilidade

    Flávio Assis - Entrevista Exclusiva

    O tempo certo de Julia Bosco

    Julia Bosco - Entrevista Exclusiva

    Fernanda Cunha perpetua em disco matizes do seleto cartão-postal musical que apresenta mundo a fora

    A catarse musical de Pedro Moraes

    Pedro Moraes - Entrevista Exclusiva

    Quando os sentimentos se liquefazem em um mar de tênues melodias

    Miriam Bezerra - Entrevista Exclusiva

    De modo arguto, Daniel Lopes apresenta o seu segundo álbum solo: Bonito

    Deixando aflorar o lado compositora, Patrícia Talem flerta com a sonoridade pop sem perder a elegância

    A esmerada agressividade musical de Rhana Abreu

    Rhana Abreu - Entrevista Exclusiva

    A profícua e simplória sonoridade da Dinda

    Banda Dinda - Entrevista Exclusiva

    A crônica, a música e a poesia cosmopolita de Samuel Carnero

    Samuel Carnero - Entrevista Exclusiva

    Toni Costa apresenta as cores de sua textura sonora

    Toni Costa - Entrevista Exclusiva

    Agradecimentos

    Gratidão. Primeiramente aos artistas e suas respectivas assessorias. Todos aqui presente corrobororaram inconscientemente para que esta ideia se concretizasse. Consequência: desses entrevistados, muitos fugiram da mera formalidade inicial e hoje posso chamá-los de amigos. Sem vocês este projeto não existiria.

    Não poderia também deixar de agradecer também o modo carinhoso com que o amigo Joaquim Macêdo Júnior escreveu o prefácio deste material. Sem palavras para agradecer, e caso viesse a ter não teria a capacidade de um agradecimento de tamanha eloquência.

    Um agradecimento especial também ao amigo, confidente (e companheiro de viagens) Wheslley Mathias, por ter me estimulado a dar o pontapé inicial para que tudo chegasse ao que vocês poderão conferir nas páginas seguintes. Sem contar que coube totalmente a ele a cara deste projeto desempenhando com maestria, dentre muitas habilidades, o seu ofício de design gráfico.

    Por fim agradeço aos amigos cultos, incultos e ocultos que diariamente vão ao Musicaria Brasil. Coube a muitos a presença de alguns nomes que constituem este material aqui através dos contatos e sugestões de pautas.

    Prefácio

    Joaquim Macêdo Júnior¹

    Mesmo antes de conhecer Bruno Negromonte, era leitor do Musicaria Brasil. Não tenho nenhum receio de dizer que, no caso em tela, a criatura tornou-se mais importante do que o criador. E sei que, ao dizer isto, não estou tirando qualquer valor de seu mentor, mas colocando o portal de musica em seu devido lugar – um dos melhores e mais completos sítios especializados de todo o país. O que, penso, era o que o idealizador queria.

    E como conhecer o Musicaria, sem qualquer indicação prévia, orientação de um ou outro amigo ou mesmo a sorte de fazer parte do circuito de amizade do Bruninho. Foi relativamente fácil. Como pesquisador e redator de artigos e crônicas para o Jornal da Besta Fubana (desde março de 2012), notadamente sobre assuntos musicais, minhas buscas via google e outros apetrechos da internet me levavam na maioria dos casos a um tal de Musicaria Brasil.

    De pronto, fiquei encantado com o nome. De onde viria, qual a origem, quem inventou? Na hora me veio algo como danceteria nacional ou petiscaria do Pina. Depois, fiquei sabendo pelo próprio Bruno que advinha de uma expressão solta dita por Gilberto Gil, que levava a crer que os que faziam música eram musiqueiros. Ele pinçara a expressão para compor seu Musicaria Brasil. Na minha maneira de ver, o nome releva algo metafórico como petiscos de nossa música, com entrada e prato principal.

    "Dize-me o que és que te darei o que poderás fazer" é a paráfrase que uso para dizer que Bruno Negromonte tem a cara, o jeito e a bagagem de quem faria um portal com semelhante importância.

    Formado em pedagogia, BN possui pós-gradução em gestão educacional, tendo iniciado comunicação social, sem, no entanto, concluir o curso. Antes de tudo, porém, tem berço musical. Já na mais distante idade, aos 8 anos, ele era atraído pela música via televisão, comercial de tv, em que o MPB4 cantava "A Lua, Quando Ela Roda, É Nova!..."

    Que maneira inusitada de ser abduzido pelos deuses musicais. Nada menos que o MPB-4 em uma de sua canções mais singelas e para diferençar, não buarquiana. Depois foi a descoberta de "Amigo é Pra Essas Coisas", de Aldir Blanc e do sempre citado, mas nunca afamado Silvio Silva. Era mais uma não buarquiana canção do conjunto de vozes mais brilhante deste país, e que se tornaria o coro de pano de fundo das composições de Chico Buarque de Hollanda.

    Depois, o pré-adolescente mergulhou de cabeça em Caetano Veloso e Djavan, via "Linha do Equador". Dali em diante, o jovem passou a exigir, até da mãe, que presentes, se lhe fossem dados em forma de música, que tivessem o selo musical de um Djavan, de um Caetano, de um Chico Buarque.

    Cresceu ouvindo rádio AM e todo o universo sonoro que o rodeava. Figuras como Samir Abou Hana, Paulo Marques e os forrozeiros Ivan Ferraz e Elias Lourenço o apresentaram a nomes como Ari Lobo, Marinês e sua gente e uma série de nomes que a intelectualidade então considerava brega.

    Cantores como Nelson Gonçalves, Roberto Carlos, Silvinho, Núbia Lafayette e Noite Ilustrada eram presença constante na radiola de sua casa.

    Foi percorrendo uma rota que só aos mais antenados era dado perseguir: o tudo que há e o que havia de bom na chamada MPB, essa tradução urbana de todas as tradições musicais brasileiras, transpondo o samba-canção para a bossa-nova, o bolero para o soul, o balanço temperado com o swing.

    Vieram para o acervo Geraldo Azevedo, Alceu Valença, João Bosco, Tim Maia. No primeiro momento, ele, como tantos outros amantes, mergulha no zoom de besouro e se deixa ficar à deriva na música cativante e avassaladora do autor de ‘Seduzir’. Quem não conjugou o verbo djavanear não aprendeu a namorar direito, nem a entender letras alegóricas e difusas, postas a serviço da melodia. Quem não djavaneou? Eu continuo a fazê-lo!

    Neste meio tempo, enquanto alimentava a alma e o sentimento com as canções de então, Bruno, o ser pensante, crítico, curioso e proativo começou a ver na música mais do que aquela parte das artes universais que nos ilumina a mente e faz bem à saúde, meramente por hedonismo.

    Bruno quis ir mais além. E foi. Viu que antes destes seus primeiros ídolos dos anos primários, havia um Brasil de musicalidade e ele bravamente se pôs a conhecer. Vêm daí o ecletismo, a isenção, a distância cautelosa de julgamentos e a repulsa a qualquer preconceito.

    Já leitor cativo do portal, tive a satisfação de conhecer o Bruno pessoalmente por uma deliciosa coincidência – é amigo pessoal de meu primo Silvio Macedo. Por um bom tempo, fiquei tomando notícias e esperando um contato com ele. Eu ia a Recife e as agendas não batiam. Finalmente, pude abraçá-lo num aniversário da casa de meu tio, Jorge Macedo.

    A expectativa foi superada substantivamente no que havia projetado em relação ao Bruninho, como costumo chamá-lo. Rapaz simpático, de contato fácil e imediato, dono de uma fleugma e uma lhaneza indeléveis e sujeito de muito boa conversa, bate-papo, mesmo que o assunto não seja o seu predileto, a música. Hoje, tenho orgulho de ser amigo do Bruno, também colega colaborador de nosso querido Jornal da Besta Fubana.

    Com o lema A Música Brasileira em seus mais variados estilos e tendências, Bruno Negromonte criou, em 1º de janeiro de 2008, o Musicaria Brasil pelo qual expressa o amor que tem pela música brasileira, afirmando, em tom de chiste, que não carrega o menor talento como instrumentista, cantor e nem compositor. Sua musicalidade, digo eu, se expressa principalmente quando acompanha com a batida na caixa de fósforos os sambas do ‘príncipe’ Paulinho da Viola e então ele torna-se um músico universal como qualquer um de nós, sem uma nota na cabeça, mas com toda a voracidade de conhecer e apresentar a musica nacional.

    Adepto das tradições gonzaguianas, admirador do frevo e torcedor do Sport, nasceu no Recife em 1981, vivendo em Olinda desde a infância, Bruno é daqueles pernambucanos que superaram nossa dicotomia relacionada com o domínio holandês, a restauração pernambucana e a assimetria histórica que compõe a trajetória das duas cidades-irmãs mais próximas e distantes entre si, talvez de todo o país.

    Sua geração pulou, saltou, dançou e brincou ouvindo Carlos Fernando, a geração mangue-beat, Silvério Pessoa, Mestre Ambrósio, Isaar, DJ Dolores, Lirinha e o Cordel do Fogo Encantado.

    Caminhemos. Apenas para ter a ilustração na mão, acabei de navegar por 10 minutinhos pelo Musicaria Brasil e olhe, não gosto de exagero, mas vou dizer: ôh bichinho tecnológico bem feito que dá gosto.

    Você entra e ele já toca uma musiquinha agradável. Sempre agradável. Se quiser pausar (?) para concentrar-se mais numa matéria, vai lá embaixo e desliga o pitoco. A configuração é bonita demais: o cartunista responsável pelo desenho, vinhetas, estética, cores e apresentação é craque. Faz aquela charge certeira, em que o sambista se debruça na janela, esperando o sambar aparecer.

    É de bom tom (ops) que se diga. Lá no alto da página não tem para ninguém! É Cartola e Pixinguinha no panteão, que ali é lugar de fundador.

    O mais característico e atraente do ‘Musicaria’ é que você nunca ficará na mão em sua opção musical. Ele vai de Nelson Gonçalves e cantoras do Rádio, até Novos Baianos, Walter Franco e Jards Macalé, bifurcando em Ritchie, Rita Lee, Os Mutantes, Spock, Duda e Orlando Silva.

    É música de todo gênero, com discreta prerrogativa: que seja de boa qualidade. Recheado de perfis, biografias, pautas diferenciadas, informações de serviço e muito acervo, o Musicaria já está encorpado e amadurecido. Entrevistas com Roberto Menescal, Paulinho Pedra Azul, entre outros. Hoje, conta com 15 mil visualizações/mês.

    Sem patrocínio, vive da resiliência de seu criador. Se a ausência de patrocínio pode, de um lado, significar a independência plena de sua linha editorial, de outro, é de se reconhecer que não é fácil levar no dia-a-dia, na labuta e quase sozinho, um veículo de tamanha importância para a nossa cultura.

    Para fechar esse primeiro ciclo de 8 anos bem vividos, Bruno Negromonte e seu Musicaria Brasil devem entrar na nona jornada anual com alguns presentes a seus leitores e admiradores.

    Em 2016, o Musicaria pretende trazer muitas novidades, entre as quais a publicação regular de um colunista distinto a cada dia da semana. Às terças já conta com o paraibano Leonardo Davino, que vem assinando a coluna desde o início do ano e às quintas quem assina Luciano Hortêncio, dono de um relicário no youtube e que sempre traz vídeos para o deleite dos leitores.

    Em frente, Bruno, vamos todos nos juntar para fazer de 2016 um ano de grandes novidades e de constante aprofundamento da qualidade do nosso já excelente Musicaria Brasil. Evoé!

    Apresentação

    Acho que deste que me entendo por gente que sou apaixonado por música, em especial pela bela e rica música popular brasileira.

    A mais remota lembrança que trago de minha relação com a MPB vem de quando eu tinha por volta dos oito anos. Como toda criança, comigo não era diferente. Adorava televisão e passava horas assistindo aos programas exibidos, e entre um intervalo e outro me deparei com a propaganda de um LP. Foi o primeiro disco ao qual gostaria de ter tudo por conta de uma música que abordava as fases da lua: "Quando ela roda, É Nova!... Crescente ou Meia... A Lua!... É Cheia!. Esses versos permearam a minha cabeça até o dia em que finalmente eu estava com o LP do grupo MPB-4 nas mãos. O disco tratava-se do álbum Amigo é pra essas coisas – Ao vivo" e foi o meu primeiro disco fora do universo infantil ao qual estava habituado.

    Depois vieram mais alguns até que o dia em que "Linha do Equador", de autoria do Caetano Veloso e do Djavan me arrebatou de vez. Foi a partir desta canção que minhas predileções musicais ganharam a ganhar forma e consistência. A curiosidade aguçada através de algumas poucas rádios que tocavam MPB me fizeram mergulhar de cabeça na obra do Djavan e, por conseguinte, pedir à minha mãe o seu mais recente LP.

    Por coincidência era o disco que continha a canção "Linha do Equador" (também tema de uma das novelas exibidas na época).

    A arrebatadora paixão já existente aguçou-se ainda mais ao tomar conhecimento de canções como "Se..., A rota do indivíduo, Violeiros" e todas as outras existentes naquele décimo disco da carreira do cantor e compositor alagoano. Precisava urgentemente recuperar o tempo perdido e tomar conhecimento de toda aquela sonoridade que até então eu desconhecia... (detalhe: eu só tinha onze anos).

    Foi a partir daí que comecei a comprar LP’s dos artistas da chamada MPB e chegou aos meus ouvidos as obras de nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Azevedo, João Bosco, Tim Maia e tantos outros que a partir de então seriam capazes de me acompanhar nos mais distintos momentos de minha vida. Parando bem para pensar já se foram mais de duas décadas desse primeiro momento para cá. Nestes vinte anos de perdas e ganhos perdemos nomes como Tom Jobim, Johnny Alf, Tim Maia, Chico Science; mas em compensação ganhamos talentos todos os dias neste nosso país de dimensões continentais como venho atestando desde 2008 quando resolvi criar o Musicaria Brasil, um blog que nasceu da minha necessidade de expressar o amor que tenho pela música brasileira de algum modo, uma vez que não tenho o menor talento como instrumentista, cantor nem compositor.

    Com o lema é "A música brasileira por em seus mais variados estilos e tendências", o blog Musicaria Brasil vem encorpando-se a cada ano abordando e trazendo ao conhecimento do seu público os mais distintos temas e pautas como as que tenho escrito desde 2010, e que agora chegam, em parte, reunidas aqui através da abordagem de novos e velhos talentos, assim como também entrevistas exclusivas concedidas a mim entre 2010 e 2015. Devido a quantidade de matérias escritas essa coletânea acabou dividida em dois volumes, onde o primeiro abrange as pautas publicadas entre setembro de 2010 até fevereiro de 2013, enquanto o segundo volume relembra as assinadas por mim entre março de 2013 a setembro de 2015.

    Não termino estas linhas com a sensação de dever cumprido, mas acredito que o primeiro passo já tenha sido dado lá atrás quando com a criação do Musicaria Brasil comecei de modo ínfimo a contribuir não apenas a defesa da música de qualidade, mas principalmente por ter a oportunidade de trazer ao conhecimento de muitos artistas que não chegam ao conhecimento do grande público devido a todo um contexto desfavorável para a nossa cultura de maneira geral. Hoje, com a publicação deste apanhado de escritos, apenas reitero esse voto de defesa à música que tanto amo.

    Bruno Negromonte

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    Daniela Alcarpe - O canto doce de um novo talento da MPB

    Na primeira audição, o que chama a atenção no trabalho da Daniella Alcarpe são as características tão peculiares das diversas regiões existentes em nosso país. O seu trabalho perpassa pelos ritmos das mais variadas regiões de nosso Brasil, e esse regionalismo acaba por fazê-la universal. Com seu canto suave, Alcarpe envolve-nos de corpo e alma em seu trabalho de estreia.

    Sua voz nos guia a outras vertentes culturais e, no caso dos aspectos literários, faz-nos ter a plena convicção que nem Graciliano Ramos nem muito menos Guimarães Rosa (logo eles, autores tão representativos do regionalismo em nossa literatura) se vivos não seriam capazes de mensurar em suas respectivas obras o talento incontestável de Alcarpe em seu primeiro trabalho. Talvez por se tratar de algo tão simplório, mas paradoxalmente de um requinte irrepreensível.

    Alcarpe iniciou seus estudos musicais ainda criança e, desde então, sempre procurou aperfeiçoasse ao longo dos anos. Formada em Música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado (FMU/FAAM), a artista passou por diversos conservatórios paulistas, dentre eles o Conservatório Musical Souza Lima (renomado centro de estudos relacionado a música no estado de São Paulo). Ainda hoje, estuda técnica vocal com o cantor lírico Jeller Filipe (o brasileiro que mais cantou a obra de Mozart), tendo por propósito o aprimoramento de seu canto voltado à música popular.

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    Vale ressaltar que esse seu primeiro álbum trata-se de um projeto que vem sendo lapidado há algum tempo, uma vez que Daniella vem no mercado musical alternativo galgando o seu espaço a partir de diversos projetos, dentre os quais o Trio Dellaz. Soma-se também a sua biografia uma breve temporada na Europa (Itália e Holanda), onde a artista procurou levar a estes países muito daquilo que há de melhor em nosso cancioneiro ao longo desse período.

    A partir da receptividade do público Europeu, Daniella voltou ao Brasil mais disposta do que nunca em divulgar aquilo que tanto a enchia de orgulho em pairagens distantes.

    Em sua terra, a artista procurou trazer para o seu trabalho o que de melhor ela tem a oferecer. E o resultado dessa oferta visceral traduz-se em "Qué que cê qué?. Quem tiver a oportunidade de conhecer este trabalho, poderá observar que a cantora vive em uma constante busca pela primazia da beleza e qualidade, seja no repertório, seja na sonoridade presente naquilo que costuma fazer. Por falar em repertório, o seu é composto por versões de antigos clássicos da MPB e também de canções inéditas, tudo isso sendo amparada por compositores contemporâneos que ainda são desconhecidos do grande público, no entanto Qué que cê qué?" buscou prezar pelo ineditismo.

    A verdade é que há um fundamento convincente na afirmação existente no início deste texto: o regionalismo presente no trabalho da Daniella Alcarpe a faz universal, e talvez por esta condição ela tem conseguido cada vez mais firmar-se no cenário musical brasileiro, com um repertório requintado e diversificado.

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    Neste primeiro álbum Daniella já é capaz de mostrar a partir de sua autenticidade para o que veio e o que tem a contribuir para a nossa música popular brasileira de agora em diante. Esta sua estreia no mercado fonográfico, que veio de forma independente, já pode ser considerada um marco na carreira da cantora, pois poucos são os artistas que conseguem prender a atenção daquele que escuta um álbum do começo ao fim como é o caso de "Qué que cê qué?", da Daniella.

    Esse álbum é daqueles poucos discos existentes que procuram ir nas entranhas da mais tradicional musicalidade brasileira, revelando para o ouvinte uma cantora de canto marcante a partir de interpretações tão próprias. Como dito, as composições são inéditas e tem como características essa grande diversidade musical tão nossa; por tal razão o repertório passa por uma gama de ritmos, que vão desde os choros, sambas, cocos, toadas e maracatus até cirandas.

    Em síntese, "Qué que cê qué?" é um trabalho bem elaborado e lindíssimo, que evidencia de modo primordial e bem adornado a questão do regionalismo, sem deixar de lado todas as influências musicais contemporâneas e cosmopolitas que permeiam o canto e o trabalho da Daniella. A escolha do repertório foi a dedo, talvez tendo como critério não apenas a qualidade poética das letras, mas também a riqueza melódica de cada uma das faixas escolhidas e, é claro, a sua identificação pessoal. Talvez seja por isso que cada peça esteja eternizada no álbum a partir de uma interpretação plena de zelo e talento.

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    As canções são assinadas pelo paulista Carlos Careqa (autor de "Qué Que Cê Qué?, Meu Querido Santo Antônio), Dimitri Bentok (Cantiga antiga), João Marcondese e Joca Freire (Outros tempos), Lucy Casas (Canção do colo) e o compositor maranhense Zé de Riba, que assina Vestidim, Não Tenho Culpa Se Você Não Sabe Sambar, Mais Um Conselho e Caradum Cara do Outro. Como arranjador e produtor musical quem está a frente é João Marcondes (que tem um trabalho paralelo intitulado oferendar, onde Daniella também participa cantando em uma das faixas presentes no álbum, a canção Passe bem").

    Ressaltando, a estética musical do CD busca uma sonoridade original, trazendo novos elementos musicais aos já consagrados ritmos brasileiros, em arranjos que utilizam violão de 7 cordas, violão de corda de aço, violão de corda de nylon, guitarra fretless, guitarra semiacústica, bandolim, cavaquinho, percussões, flauta transversal, trombone, saxofone, teclado e baixo. É um disco basicamente acústico.

    Sem muito me estender, porém já me estendendo, recomendo anotar este nome: Daniella Alcarpe! A dona de um doce canto que emociona e encanta pelo talento e simplicidade. A cantora que vem mostrando um dos mais bonitos trabalhos fonográficos de 2010.

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    Todo artista tem que ir aonde o povo está

    Como havíamos dito ao longo do mês anterior, durante o presente mês estaríamos entrevistando a cantora paulista Daniella Alcarpe. A apresentação desta artista ao público do Musicaria Brasil se deu ao longo do último mês de setembro através da matéria "Daniela Alcarpe - O Canto Doce De Um Novo Talento Da MPB". Hoje, Daniella volta ao nosso espaço para esta entrevista exclusiva, onde podemos atestar o quanto o Musicaria Brasil estava certo ao perceber o imensurável talento da Daniella, sem contar toda a simpatia e carisma. Gostaria de agradecer a produção da Daniella através da pessoa do Daniel Cukier pelo material disponibilizado para elaboração das pautas e a atenção dada a mim, desde o início, quando cogitei trazer ao público do deste espaço o trabalho da Alcarpe. Vamos deixar de lero-lero e vamos ao que de fato interessa! Segue aqui então a entrevista concedida pela Daniela:

    Primeiramente gostaríamos de agradecer imensamente pela atenção dispensada ao Musicaria Brasil e começar essa entrevista com o seguinte questionamento: "O Qué que cê qué?" O que é que você almeja trazer para a MPB com esse trabalho de estreia?

    Daniela Alcarpe - Olá Bruno, eu é quem agradeço imensamente por ser tão bem recebida no Musicaria Brasil. Parabéns pelo seu trabalho! O que eu quero é cantar, gravar e divulgar a boa música brasileira. Em casa a gente sempre privilegiou a música brasileira, os compositores e intérpretes de verdadeiro valor artístico. Tanto no que diz respeito a poesia, como a melodia. Tivemos tantas maravilhas criadas nos anos 60, 70, 80 e até mesmo nos anos 90. Impossível não se deixar influenciar pela beleza, pelo lirismo e pela responsabilidade de músicos como Chico, Caetano, Joao Bosco, Gil, a turma do Clube da Esquina, Luis Melodia, Paulinho da Viola, enfim, é impossível listar, são tantos! A riqueza e capacidade de criação do músico brasileiro me encanta sem parar.

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    Muitas vezes, os artistas em seu primeiro trabalho procuram no mínimo colocar alguma canção conhecida ou até mesmo mais de uma, até para poder levar como carro-chefe do disco na hora da divulgação. O seu caso foi totalmente atípico, você procurou destacar artistas sem grande notoriedade e um repertório basicamente inédito. Como se deu a escolha desses compositores e do repertório justamente em seu trabalho de estreia?

    DA - Pois é. O fato é que também existem muitas intérpretes de qualidade no Brasil. E muitas fazem isso: selecionam um repertório conhecido, para apresentar sua voz e interpretação. É uma maneira de trabalhar. A escolha das músicas do meu CD buscou, além de me apresentar, mostrar que tem muita gente boa fazendo música bonita, põe aí um B maiúsculo! Ao longo dos meus anos de trabalho, eu tive a sorte de me deparar com compositores incríveis que pouca gente conhece. É muito bom dividir este encantamento com as pessoas. E fico feliz quando percebo no meu show o público cantando junto comigo algumas canções do CD. E só pra finalizar: tanto o Zé de Riba como o Carlos Careqa são compositores de longa estrada, com um público bastante fiel.

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    Quem chega a ler o seu resumo biográfico percebe que a sua história se dá nos grandes centros urbanos, destacando aí São Paulo, a Itália e a Holanda. A partir desse prisma podemos dizer que você é uma pessoa essencialmente cosmopolita. O que fez você paradoxalmente selecionar e interpretar ritmos como baião, frevo e choro já que estes, apesar de suas respectivas notoriedades, se destacam hoje em dia lugares cada vez mais recônditos?

    DA - Talvez esteja na hora de devolver ao Brasil o que é do Brasil, não é mesmo? Beleza e talento a gente encontra em qualquer endereço! Ainda bem!

    Durante o mês anterior destacamos sua carreira solo e o lançamento do álbum "Qué que cê qué?", porém há outros projetos que você desenvolve paralelamente a sua carreira de cantora como o Trio Dellaz, os duos de piano e voz, as aulas junto ao conservatório e a sua carreira de atriz. Como se dá os cuidados de sua voz para poder dar conta de todas essas obrigações profissionais?

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    DA - Eu estudo técnica vocal desde os 14 anos! A gente aprende a cuidar da voz... tomo muita água, levo uma vida saudável, ainda faço aulas de canto, porque é muito importante ter alguém que ouça a gente e tenho o apoio de uma fonoaudióloga. Mas o mais importante são os exercícios vocais, que eu faço diariamente.

    A cerca de dois meses atrás estive com o João Bosco e falávamos sobre a questão da venda de disco no Brasil. Ele fez uma colocação bastante pertinente sobre a situação atual desse nicho de mercado, que na visão dele está mais que saturado, sendo necessário a criação de uma nova maneira de se negociar música. Ele vem de uma época que teve que se adequar ao contexto atual, você vem com o primeiro álbum já nesse contexto. Gostaria de saber qual a sua concepção sobre mercado fonográfico e as tendências que a música (comercialmente falando) irão tomar ao seu ver?

    DA - Eu acho que cada vez mais existem tribos, né? É muita gente no mundo, muitas tendências diferentes, coisas novas surgindo a todo o momento... uma unanimidade nacional já não é mais possível, a sociedade está dividida em muitos segmentos culturais, econômicos... acho que a saída do artista é se divulgar através de shows. Divulgar os shows pela internet, criar redes de relacionamento online, se não tiver acesso à mídia impressa. E vender seus CDs em shows e via internet. Que oferece também a possibilidade de vender apenas uma ou duas música, não é necessário mais comprar o CD inteiro. Estamos neste processo. Em países como a Europa e Estados Unidos, onde a compra de um computador é acessível à grande maioria, isso está cada vez mais assimilado. Para você ter uma ideia, eu tenho mais fãs fora do Brasil do que aqui, só por conta da divulgação das minhas músicas no site Jango (http://www.jango.com/music/Daniella+Alcarpe). Essas ferramentas permitem que eu, além de divulgar meu trabalho, interaja com os fãs, mandando e recebendo mensagens, críticas, elogios. Esse contato próximo com o público é muito saudável, eu aprendo muito!

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    Nossa cultura, apesar de riquíssima, vem ao longo dos anos sempre destacando coisas muito mais de valor comercial do que necessariamente de valor cultural e você vem remando contra a maré trazendo um trabalho simplório, lindíssimo e essencialmente não comercial. Quais tem sido as suas dificuldades na propagação do álbum em um país de

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