Feminismo em disputa: Um estudo sobre o imaginário político das mulheres brasileiras
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Sobre este e-book
Nesta obra, as pesquisadoras Beatriz Della Costa, Camila Rocha e Esther Solano apresentam uma minuciosa pesquisa feita com mulheres de vários espectros sociais e ideológicos para entender consensos e dissensos no que diz respeito ao feminismo e aos direitos das mulheres hoje. Uma pesquisa quantitativa realizada pelo instituto Big Data complementa a obra, que traz uma espécie de guia de ação política para conversas com mulheres que se denominam conservadoras, com o propósito de encontrar valores básicos que unam mulheres de campos políticos diferentes e assim construir uma agenda em comum para todas as brasileiras.
"A despeito de suas muitas diferenças, praticamente todas aquelas com quem conversamos almejavam ser mulheres empoderadas. Todas afirmavam que o machismo as prejudicava em seu cotidiano e desejavam ser autônomas, independentes dos homens tanto material como emocionalmente, e livres para alcançar seus objetivos de vida. A grande diferença que separa as mulheres que se identificam como conservadoras das demais é a importância que as primeiras conferem ao papel desempenhado pela mulher dentro da família e à harmonia do lar; é fato, porém, que todas ressaltam a importância de políticas públicas que permitam que as mulheres conciliem o trabalho fora de casa e o cuidado com a família."
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Feminismo em disputa - Esther Solano
Sobre Feminismo em disputa
Aline Midlej
Como alcançar cada vez mais mulheres – e mulheres cada vez mais diversas?
Sentimos pela outra, nos comovemos com a outra, nos enxergamos na outra. Somos capazes de nos mobilizar juntas, sim, apesar das diferentes formas de ver. No sentir, podemos enxergar mais do que há em comum. A afetividade e a capacidade de acolher – tão particulares do feminino – são aliadas para a urgente agenda feminista.
É a conclusão a que chego depois de ler este livro, contribuição tão oportuna a estes tempos. Tempos de retrocessos, sim, mas também de abertura de fendas de reflexão sobre o que tem atravancado o avanço de conquistas.
Sonhamos sonhos diferentes, mas todas queremos poder sonhar. Também queremos acreditar nesses sonhos, ter mais valorização diante de nós mesmas e da sociedade. Um espírito feminista nos permeia e transpõe classe, gênero, cor, raça – o desejo por existir plenamente como ser pensante. Mas há um evidente subaproveitamento dos consensos, estimulado pela polarização política; com isso, deixamos de perceber que somos potenciais aliadas.
As novas estratégias passam pela disposição ao diálogo e pela vigilância quanto a nossos preconceitos. Existe sempre uma história vivida, uma educação que abraça ou, por vezes, sufoca a mulher sem que ela consiga respirar suas consciências e seus desejos. O feminismo brasileiro segue em disputa, mas o desejo por libertação e autonomia precisa ser maior que as diferenças.
A palavra é consciência
. Há um campo fértil, ainda inexplorado, para trabalharmos consciências femininas e feministas. A associação do termo feminismo
a radicalismos e elitismos insiste em nos afastar dos pontos em que já concordamos. O feminismo está em constante aprimoramento – da conceituação, da amplitude, do desafio do chamamento –, e não podemos diluir o tamanho da força coletiva. Precisamos nos ouvir, como fizeram as pesquisadoras que embasam as análises contidas neste livro, Camila Rocha e Esther Solano, que conversaram com mulheres de vários espectros sociais e ideológicos.
Grandes conquistas se deram no contexto da Constituinte em 1988, com o famoso "lobby do batom". As mulheres chegaram às arenas da política tradicional fortalecidas e organizadas a partir de encontros que começaram dentro de casa, no bar, na praça. E hoje temos ainda uma aliada importante, a tecnologia, que nos permite olhar pela lupa da outra com mais facilidade. O feminismo tem seus tempos, em cada tempo avança, e um ideal maior e comum de liberdade precisa continuar a nos mover e nos unir.
Sobre Feminismo em disputa
Quais são as agendas em comum entre mulheres que se identificam como conservadoras e mulheres feministas? Como construir políticas públicas que beneficiem a todas? De que forma comunicar a importância de haver mais representação feminina na política? E como evitar que esse campo em disputa seja sequestrado pelo movimento antimulheres?
As brasileiras são diversas, e, para começar a entender tamanha multiplicidade, Camila Rocha e Esther Solano conversaram com eleitoras de Bolsonaro decepcionadas e com mulheres jovens que ainda não haviam decidido em quem votar nas eleições de 2022.
Este estudo busca iluminar caminhos para frear retrocessos – como, por exemplo, os números drásticos de feminicídio – e seguir com as conquistas feministas em nosso país.
Detalhe em preto e branco do grafismo presente na capa do livro.Feminismo em disputa
um estudo sobre o imaginário político das mulheres brasileiras
Organização
Beatriz Della Costa
Camila Rocha
Esther Solano
Logo da Boitempo© Boitempo e Instituto Update, 2022
© Beatriz Della Costa, Camila Rocha e Esther Solano, 2022
Boitempo
Direção-geral
Ivana Jinkings
Edição
Thais Rimkus
Coordenação de produção
Livia Campos
Assistência editorial
João Cândido Maia
Equipe de apoio
Camila Nakazone, Elaine Ramos, Erica Imolene, Frank de Oliveira, Frederico Indiani, Higor Alves, Isabella Meucci, Ivam Oliveira, Kim Doria, Lígia Colares, Luciana Capelli, Marcos Duarte, Marina Valeriano, Marissol Robles, Maurício Barbosa, Pedro Davoglio, Raí Alves, Tulio Candiotto, Uva Costriuba
Instituto Update
Carolina Althaller, Carol Pires, João Veiga, Larissa Dionisio, Tulio Malaspina
Colaboradores da edição
Preparação
Denise Pessoa Ribas
Revisão
Sílvia Balderama Nara
Capa
Giulia Fagundes
Diagramação
Antonio Kehl
Versão eletrônica
Produção
Camila Nakazone
Diagramação
Schäffer Editorial
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
F375
Feminismo em disputa [recurso eletrônico] : um estudo sobre o imaginário político das mulheres brasileiras / organizadoras Beatriz Della Costa Pedreira, Camila Rocha, Esther Solano ; prefácio Anielle Franco. - 1. ed. - São Paulo : Boitempo : Instituto Update, 2022.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital edition
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
prefácio e introdução
ISBN 978-65-5717-174-5 (recurso eletrônico)
1. Feminismo - Brasil. 2. Mulheres na política - Brasil. 3. Identidade de gênero - Aspectos políticos - Brasil. 4. Livros eletrônicos. I. Pedreira, Beatriz Della Costa. II. Rocha, Camila. III. Solano, Esther. IV. Franco, Anielle. V. Instituto Update.
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
É vedada a reprodução de qualquer parte deste livro sem a expressa autorização da editora.
1ª edição: agosto de 2022
BOITEMPO
Jinkings Editores Associados Ltda.
Rua Pereira Leite, 373
05442-000 São Paulo SP
Tel.: (11) 3875-7250 / 3875-7285
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Sumário
Prefácio – Conservadorismo, gênero e feminismo
Anielle Franco
Introdução – Mulheres em diálogo
Beatriz Della Costa
Feminismo em disputa
Camila Rocha e Esther Solano
Oportunidades na busca por maior equidade política de gênero na opinião pública brasileira
Maurício Moura e Natália Tosi
Apêndice
Bibliografia
Sobre as organizadoras
Prefácio
Conservadorismo, gênero e feminismo
Anielle Franco
Quando fui convidada a prefaciar este livro sobre o curioso encontro entre o conservadorismo e o feminismo, muitas lembranças tomaram meus pensamentos.
Em minhas palestras e nos debates de que participo, costumo contar a história da vez em que eu e Marielle saímos escondidas para ir a um baile funk na favela da Maré, onde morávamos.
Nascemos e crescemos numa família matriarcal, negra, favelada, católica e nordestina, no meio de uma sociedade conservadora, patriarcal e racista. Difícil resumir o que tudo isso significou, mas consigo nomear dois sentimentos contrastantes que costuraram a nossa criação: o sonho e o medo. Como linhas de um bordado – que livres dão cor ao desenho e voltam precavidas para se firmar no tecido –, sonho e medo guiavam minha mãe, minhas tias e minha avó, mulheres fortes e arretadas, no desafio de nos criar.
Elas nos ensinaram que o sonho era combustível para a vida e que nós mulheres podemos tudo, inclusive acreditar que podemos tudo. Eram feministas sem nunca terem sido apresentadas às teorias feministas. Eram ativistas por existirem e resistirem coletivamente às violências machistas e racistas cotidianas. Elas nos ensinaram a sonhar em entrar na universidade, ter um bom emprego, construir uma casa própria, alimentar nossa família e ainda proporcionar momentos de descanso e diversão.
Todos os sábados, minha mãe e Marielle iam à feira vender roupas a fim de juntar dinheiro para minha viagem de estudos para os Estados Unidos. E assim elas me ensinaram a correr atrás dos sonhos, mas também a sonhar um mundo melhor, onde todas as pessoas tenham oportunidades iguais.
Criadas em uma sociedade que insiste em dizer que não podemos, minha mãe, minha avó e minhas tias tinham medo de nos soltarem a ponto de nos perderem. Medo de que tentassem abusar de nós na rua, de que sofrêssemos alguma violência ou de que algo interrompesse nossos sonhos. E esse medo muitas vezes fez que elas assumissem posturas conservadoras, como nesse dia, tentando nos impedir de ir ao baile funk.
O medo é um sentimento legítimo de quem se preocupa com e cuida de alguém que ama, mas, em uma sociedade governada há séculos por homens brancos, o medo se torna uma ferramenta de manutenção do sistema para reforçar que só podemos ser o que eles – machistas, misóginos, conservadores e cidadãos de bem – acham que devemos ser.
Foram nossas ancestrais que nos ensinaram que ser forte era requisito para sobreviver neste mundão e que, para alcançar o sonho de um mundo justo, precisaríamos criar coragem para enfrentar nossos medos. E conto isso porque este livro mostra que a maioria das mulheres do Brasil não se identifica como feminista, apesar de a maioria esmagadora defender boa parte dos direitos das mulheres. Para ampliarmos nosso alcance, precisaremos dialogar com os sonhos que alimentam cada uma de nós e com os medos que nos impuseram.
Lembro que, quando éramos jovens, frequentando a igreja, o debate do feminismo não era nem ventilado, ainda que Mari desde pequena já liderasse movimentos na catequese e que tenha sido