MA: Eu. Mulher. Trans.
De Marcela Bosa
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Sobre este e-book
É com um toque de irreverência, lógica e carisma que ela nos narra sua história, nos convida a conhecê-la, a conhecer sua família, alguns amigos que apareceram ao longo do percurso e a descobrir o quanto fugir das amarras sociais é difícil, mas compensador. Nascida no Sul como menino de uma família tradicional e bem conservadora, sendo a filha do meio de três irmãs, Marcela, neste livro, nos narra suas dúvidas, suas ânsias, seu cotidiano, nos presenteando com pequenas pílulas de boa convivência com pessoas trans. Podemos acompanhar seu amadurecimento a cada capítulo, da graduação em Física ao ingresso em um banco de prestígio via concurso, do casamento ao divórcio e finalmente das terapias até a afirmação de gênero. Das delícias da liberdade até as pancadas de preconceito, da transfobia e o quanto isso é capaz de prejudicar os sonhos, a carreira, quando não finaliza a vida.
Com bom humor, Marcela nos narra as reuniões de família, seus únicos furtos em vida (os docinhos que a mãe fazia), suas cirurgias na perna e, com esse mesmo tom, nos conta sobre o quanto é solitário aceitar ser quem somos e o quão duro é perder a família ainda em vida, apenas pelo preconceito cego e irracional.
A autora nos deixa acompanhá-la até a Tailândia e conta como foi a sua cirurgia de redesignação no outro lado do mundo. Podemos sentir na pele o quanto ser bancária, branca e pós-graduada é irrelevante quando se é uma mulher trans, mesmo sendo gerente geral de uma agência de um dos maiores bancos do país, e o quanto isso causa estranheza à maioria, como se aquele não pudesse ser o seu lugar.
Marcela nos narra suas lutas, suas hesitações, suas falhas e suas vitórias como quem se apresenta a um futuro grande amigo, a um possível confidente, e se mostra de forma simples e verdadeira. Como ela mesma diz, quando terminado o livro, passamos a conhecê-la tão bem quanto ela mesma.
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MA - Marcela Bosa
Sumário
CAPA
PARTE 01
MINHAS ORIGENS
DIAS DE SOL
TOCA DA MARLI
CASOS DE FAMÍLIA
NO MUNDO DA LUA
MINHA COMIDA FAVORITA É RISOTO!
UM ANEL PARA A SOCIEDADE AGRADAR
QUEM EU ERA?
PARTE 02
PRIMEIROS GRANDES PASSOS
O GRANDE DIA
VIDA NOVA, MESMO MUNDO
DO OUTRO LADO DO MUNDO
MAIS DO QUE UM PAPEL
NÃO SOU APENAS UM PEDAÇO DE CARNE
AMIZADES
ANJO 1
ANJO 2
ANJO 3
ANJO 4
CHOQUE DE REALIDADE
PONTO FINAL COM INÍCIO DE NOVO CAPÍTULO
UM CANTINHO APENAS PARA AS BEST
A QUEM UM DIA EU FUI
SOBRE A AUTORA
CONTRACAPA
ma
Eu. Mulher. trans.
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Marcela Bosa
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eu. mulher. trans.
Às mulheres antes de mim, que engatinharam para que eu pudesse andar.
Hoje, eu ando para que as que virão depois possam voar.
Você nunca tem completamente seus direitos, individualmente, até que todos tenham direitos.
MARSHA P. JOHNSON
PREFÁCIO
Em primeira pessoa
Nós, mulheres trans e travestis, somos provavelmente o grupo social sobre quem mais recaem os maiores preconceitos da nossa sociedade. Aos olhos do outro, somos sempre inferiores, desumanizadas, estamos em determinados lugares sociais que nos colocam e apenas isso. Por isso, é fundamental sermos autoras de nossas vidas e contarmos a nossa verdadeira história. Como Marcela faz neste livro.
Para uma travesti, contar a sua própria história significa conseguir organizar sua trajetória, que geralmente é marcada por uma série de desafios e violências, narrando fatos sobre si mesma e se dignificando, se reaproximando de um lugar humano na sociedade e podendo reconstruir a sua vida. Poder contar a sua história em primeira pessoa tem um significado muito potente e transformador. É olhar para trás e ver tudo o que nós passamos para nos consolidar enquanto sujeitas humanas na nossa identidade travesti, mas também enquanto sujeitas de direito — inclusive o direito de dizer que se é.
Quantas de nós não morreram silenciadas — no país que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo há mais de uma década — sem ter tido a oportunidade de revelar sua trajetória e sequer tendo seu nome e sua identidade respeitados no sepultamento? A partir do momento que estamos contando nossas histórias, quer dizer que alcançamos um lugar de dignidade para assim o poder fazer, conquistamos esse lugar de poder contar a nossa história.
Assim, estamos diante de um ato revolucionário, um ato de empoderamento, de reconstrução de narrativas tortuosas sobre nós, nos colocando em primeira pessoa, como donas da nossa narrativa para contar ao mundo.
Não é fácil ser quem se é. Como diz Marcela: O mais importante você já fez, se encontrou enquanto tantos outros e outras permanecem perdidos
. No entanto, sempre temos um preço a pagar por isso. A história de travestis e transexuais é muito parecida e se esbarra em vários pontos. Quando uma travesti conta a sua história, ela conta a história de muitas outras. As nossas histórias se repetem exatamente pela forma como a sociedade lida com o nosso corpo. Então, quando uma travesti conta sua história, ela não está contando apenas um relato de si, mas um relato muito comum na sua comunidade, entre as suas, e que milhares de nós nos identificamos ao ouvir.
Eu ainda não escrevi um livro (eu disse AINDA, hahaha), mas costumo contar a minha história repetidas vezes na tentativa de transformar a sociedade. Ao contarmos e repetirmos nossas histórias, estamos nos curando das feridas que trazemos, mas também estamos tentando mudar a ordem das coisas para que elas não se repitam mais. Assim como Marcela sempre foi Marcela, eu também sempre fui Erika. Durante a minha infância, tive muita liberdade para ser quem eu era. Apesar disso, chegando à adolescência, o fundamentalismo religioso contaminou minha família e fez com que eu passasse a ser rejeitada e expulsa de casa aos 14 anos. Sofri todos os horrores da rua, do abandono, da prostituição, da miséria, da pobreza, mas nunca cansei de acreditar nas transformações sociais que eram e são importantes, e sigo batalhando, apesar de todos os desafios. Minha mãe costuma dizer uma coisa sobre esse período que eu acho muito bonita. Ela diz que, se ela pudesse, ela me colocaria de volta no útero dela para que eu não tivesse que passar por nada daquilo que passei. Depois de alguns anos e muita reflexão, fui acolhida de volta por ela e, graças às oportunidades que tive, ao amparo da família e à base da minha infância, pude me reconstruir e me colocar como uma liderança dentro do movimento LGBTQIA+ para formular políticas com muita vontade de transformar o mundo em que vivemos.
Eu vivi a história genérica das travestis. Sabemos que há um processo geral e genérico, mas também sabemos que há suas particularidades. Quando contamos nossas histórias, nós transcendemos esse lugar, porque estamos falando de uma identidade que é tratada pela sociedade e com a qual ela lida de uma forma estereotipada e repetitiva. A trajetória de Marcela foi um pouco diferente e possibilitou que ela alcançasse outros espaços de representatividade e liderança, que orgulha a todas nós. E é importantíssimo também que tenhamos essas narrativas fora da curva, que não apenas reforçam os estigmas de exclusão, dor e sofrimento. Mesmo com as diferenças, consigo perceber que sempre temos em comum em nossos caminhos o fantasma da rejeição e do abandono e a luta para afirmar a nossa identidade e ser quem somos.
Esta autobiografia inspira a todas nós a revivermos nossas trajetórias, contarmos nossas histórias e nos reafirmarmos como mulheres e como sujeitas de direito. Desejo que um dia todas nós tenhamos a oportunidade de elaborar as nossas vivências e transformá-las em memórias de pessoas plenas, em pleno exercício da liberdade.
Erika Hilton
É a primeira Deputada Federal negra e trans eleita na história do Brasil. Em SP, teve 256.903 votos, sendo a 9ª mais votada do estado.
Por dois anos foi a presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo, na condição de primeira vereadora transvestigênere a ser eleita para o legislativo municipal paulistano. Em 2020, ela foi a mulher mais bem votada ao legislativo, em todo Brasil.
Ativista pelas causas LGBTQIA+, antirracista e feminista, em 2021, entrou para a lista das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo, sendo a única política brasileira na lista deste ano. Foi eleita como uma das 20 líderes da nova geração pela revista TIME e uma das cinco ativistas globais premiadas pela luta na defesa da comunidade LGBTQIA+ pelo MTV European Music Awards.
APRESENTAÇÃO
A vantagem de escrever a sua autobiografia é que você pode usar o processo para se rever, se redescobrir e também de dizer às pessoas quem você realmente é. Somos analisados e pré-julgados diariamente. Às vezes, o julgamento leva apenas um olhar e estamos aprovados ou jogados na zona de reprovação, eu quero mais, quero poder dizer a quem me olha e a quem me conhece superficialmente quem realmente é Marcela Bosa, ou simplesmente Ma para os Paulistas, e como foi a minha construção como pessoa e mulher.
Pensei muito antes de começar este livro, já achava que ele era necessário pra mim, como palestrante, e seria mais uma forma de me apresentar e dar solidez ao que apresento e represento, mas a vida é corrida e esse projeto foi sendo deixado na gaveta. Até uma certa noite em que estava bebendo com uma amiga e comentamos sobre a participação da cantora e compositora Linn da Quebrada no BBB, fizemos uma análise sobre a falta de tato no uso do pronome e isso trouxe tantas outras coisas a se analisar e discutir, das perguntas mais impróprias que se fazem às pessoas trans, da falta de sensação de segurança até a dificuldade que as pessoas têm em nos ver como algo além de apenas um fetiche.
Nessa conversa, me lembrei das dúvidas, ansiedades e da total confusão antes da autodescoberta e do início de minha jornada enquanto Marcela. Na minha época não existia muita informação sobre o tema, a internet não era tão acessível, a história mais próxima que eu me lembro era a da Roberta Close que aparecia em programas de televisão e revistas e, muitas vezes, era descrita erroneamente como sendo hermafrodita
, talvez por isso lá atrás, na cabeça de muita gente, fosse desculpável se chamar uma mulher trans de ele
. Hoje não é mais, e se mesmo com tanta informação disponível, com tantos artistas e tantas pessoas dando a cara a tapa para que se tenha cada vez mais respeito pela pessoa trans, ainda vemos cenas tristes como a que se passou com a Linn, então ainda é um assunto que precisa estar em pauta, mas como?
Cheguei a pensar em criar um pequeno guia com o que não dizer e o que não fazer para colegas, amigos e familiares de pessoas trans, mas, além de parecer meio soberbo, me fez perceber que talvez contar a minha história possa fazer alguém se encontrar, se entender e se no meio do caminho eu conseguir dar pequenos toques para os mal informados, vai ser um baita bônus, decidi, por fim, contar a minha história de forma transparente.
Não que eu queira conduzir ou ensinar ninguém, mas talvez alguém perdido possa encontrar na minha história um pequeno guia para se encontrar também. E não tem nada mais libertador do que se encontrar e se sentir à vontade com você mesma. Nada é mais precioso do que se olhar no espelho e se reconhecer naqueles olhos, naquela boca, naquele cabelo e naquele corpo.
Apesar de o processo poder ser solitário e doloroso, é como se depois de passar anos precisando de máscara de oxigênio para respirar, com pulmões que não funcionam bem, eu finalmente pudesse respirar fundo, sem auxílio, sem desespero, não lhe garanto que seja sem medo, porque, hoje, meus medos são outros. Medo da violência gratuita, do abandono familiar, dos empecilhos profissionais, da dificuldade de ter um relacionamento amoroso para constituir uma família e tantos outros pequenos medos que se agigantam com a liberdade recém-descoberta, com o bem-estar e amor-próprio que antes eu mesma me negava, sem