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Viver é tomar partido: memórias
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Viver é tomar partido: memórias
E-book647 páginas7 horas

Viver é tomar partido: memórias

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Sobre este e-book

Em Viver é tomar partido: memórias, Anita Leocadia Prestes narra sua extraordinária trajetória de vida, militância e pensamento. Autora de mais de uma dezena de livros sobre a história do comunismo no Brasil e no mundo, passando pela vida de seus pais – objeto de suas publicações mais recentes, Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro (Boitempo, 2015) e Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo (Boitempo, 2017) –, a historiadora lança agora esse relato memorialístico em que momentos importantes da história mundial são mesclados à narrativa de suas vivências pessoais.Nessa obra, Anita registra as impressões dos episódios que marcaram sua vida, explorando acontecimentos pouco divulgados pelos meios de comunicação, na expectativa de que sejam experiências úteis para as novas gerações. Os onze capítulos que compõem o livro acompanham o percurso da filha de presos políticos nascida num campo de concentração da Alemanha nazista, sua libertação, a infância junto da avó, costurado sobre o pano de fundo da história do século XX. A ascensão e a queda do governo Vargas, os diversos fechamentos do PCB, a prisão de seus pais, a execução de sua mãe pelo governo Hitler, golpes e anistias são feitos tecido de uma vida de militância, que nunca hesitou em declarar seu caráter partidário, comunista. O texto articula com rigor e delicadeza objetividade histórica e estratégias subjetivas de sobrevivência e luta, representando ao mesmo tempo preciosa fonte historiográfica e de inspiração militante. No anexo, cartas inéditas, poemas e trechos de jornais contextualizam o relato em meio a fatos. O título Viver é tomar partido, frase do poeta e dramaturgo alemão Christian Friedrich Hebbel retomada pelo intelectual italiano Antonio Gramsci, resume o modo peculiar como a autora encara sua vida, totalmente imbricada em seu ativismo político.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de dez. de 2019
ISBN9788575597439
Viver é tomar partido: memórias

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    Pré-visualização do livro

    Viver é tomar partido - Anita Leocadia Prestes

    I

    Os primeiros tempos

    A extradição de Olga e meu nascimento

    Com apenas 16 anos de idade, Olga, nascida em 1908 numa família abastada de Munique, na Alemanha, saiu de casa para, junto com o jovem professor Otto Braun, seu namorado e dirigente do Partido Comunista da Alemanha (KPD), e sob a influência do ambiente revolucionário então existente em seu país, participar das lutas da juventude trabalhadora no distrito vermelho de Neukölln, em Berlim. Membro da Juventude Comunista, Olga, devido à sua destacada atuação política, foi logo aceita nas fileiras do Partido Comunista da Alemanha. Em 1928, tornou-se conhecida pela decidida participação na libertação de Otto Braun, detido na prisão de Moabit por alta traição à pátria. Ambos tiveram suas cabeças postas a prêmio pelas autoridades policiais, sendo forçados a abandonar a pátria e fugir para Moscou.

    A partir desse momento, Olga se tornaria dirigente da Internacional Comunista da Juventude, com intensa atuação política em diversos países europeus, como Inglaterra e França, nos quais chegou a ser detida por curtos períodos. Ao mesmo tempo, submeteu-se em Moscou à formação militar e procurou aprofundar seus conhecimentos de teoria marxista-leninista. Era uma comunista convicta, disposta a fazer qualquer sacrifício na luta pela revolução mundial. Do ponto de vista afetivo, terminou seu relacionamento com Otto Braun em 1931[1].

    Militante provada na luta revolucionária e na atividade clandestina do movimento comunista, no final de 1934 Olga foi convidada por Dimitri Manuilski, dirigente da Internacional Comunista (IC), a cuidar da segurança de Luiz Carlos Prestes em seu regresso ao Brasil para participar da luta antifascista. Recém-aceito no PCB, o famoso Cavaleiro da Esperança teria que atuar na clandestinidade, pois fora acusado de desertor do Exército e seria preso se chegasse legalmente ao seu país. Olga aceitou sem vacilações e com entusiasmo a nova tarefa, pois ouvira falar nos feitos da Marcha da Coluna Prestes e do seu comandante, que já admirava antes de conhecer pessoalmente.

    Apresentados por Manuilski às vésperas da viagem, Prestes e Olga partiram clandestinamente de Moscou no dia 29 de dezembro de 1934. Deixaram a União Soviética como Pedro Fernandez, espanhol, e Olga Sinek, estudante russa, disfarçados de casal endinheirado em lua de mel. Após uma viagem de mais de três meses, plena de peripécias, chegaram ao Rio de Janeiro em abril de 1935, onde fixaram residência. Durante o percurso, uma profunda compreensão mútua os deixou apaixonados, e, assim, tornaram-se marido e mulher de verdade[2].

    Prestes fora aclamado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL)[3] e, clandestino, mantinha contato com antigos companheiros da Coluna, com o secretário-geral do PCB e com os membros do Bureau Sul-Americano da Internacional Comunista, então transferido para o Rio de Janeiro[4]. A função de Olga era zelar pela segurança de Prestes, viabilizando esses contatos de maneira a evitar sua localização pelos agentes policiais. Olga comparecia junto com Prestes a reuniões políticas, mas não interferia nem nas discussões nem nas decisões tomadas, pois essa atribuição não lhe cabia.

    A convivência entre meus pais durou pouco mais de um ano, pois em março de 1936, após a derrota dos levantes antifascistas de novembro de 1935, foram presos e separados para nunca mais se verem[5]. Com grandes interrupções se corresponderam até o assassinato de Olga numa câmara de gás do campo de concentração de Bernburg (Alemanha), em abril de 1942[6]. Ao comentar essa correspondência, Robert Cohen, seu editor na Alemanha, escreveu:

    Desde seu primeiro encontro em Moscou [de Prestes e Olga] até sua prisão no Rio se passaram exatos um ano, três meses e vinte e dois dias. Pouco tempo, se diria. Mas qual seria o tempo ideal para o amor? A importância de uma relação não se mede por sua duração. Se quisermos saber alguma coisa sobre o amor entre duas pessoas, não devemos indagar o que as pessoas fazem do amor, mas sim o que o amor faz das pessoas. O que o amor fez de Olga Benario e Carlos Prestes descobrimos em suas cartas.[7]

    Olga, que havia salvado a vida de Prestes no momento da prisão se interpondo entre ele e os policiais, que tinham ordem para matá-lo, poucos dias depois, já na cela da Casa de Detenção da capital da República, descobre que estava grávida[8]. Pelas leis então em vigor no Brasil, tinha direito a permanecer no país, pois daria à luz um filho brasileiro. Sua extradição para a Alemanha nazista foi a maneira encontrada por Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, junto com Filinto Müller, seu chefe de polícia, para torturar Luiz Carlos Prestes, cujo prestígio internacional desaconselhava que lhe fossem inflingidas torturas físicas, como aconteceu com grande parte dos prisioneiros políticos da época. O advogado Heitor Lima impetrou habeas corpus em favor de Olga, recusado pelos juízes de Supremo Tribunal Federal[9].

    Tanto Olga quanto Prestes se negaram a fornecer quaisquer informações aos delegados de polícia que os interrogaram. Minha mãe se recusou a declinar seu verdadeiro nome e sua nacionalidade, declarando chamar-se Maria Prestes, mas Filinto Müller, através do Itamaraty, logo conseguiu que a Gestapo, a polícia da Alemanha nazista, identificasse Olga Benario, fichada desde os anos 1920 por suas atividades subversivas. Olga negou-se, inclusive, a assinar o passaporte que lhe foi concedido pelo consulado alemão no Rio de Janeiro, segundo os trâmites burocráticos então vigentes para sua extradição[10].

    No sétimo mês de gravidez, a 23 de setembro de 1936, minha mãe foi embarcada à força rumo a Hamburgo (Alemanha) no navio cargueiro alemão La Coruña, cujo capitão recebera ordens expressas das autoridades policiais para não parar em nenhum outro porto europeu, pois havia precedentes dos estivadores e portuários da Espanha e da França resgatarem prisioneiros políticos de embarcações que aportaram nesses países. Junto com Olga era extraditada Elise Ewert, esposa do dirigente comunista alemão Arthur Ewert, ambos presos e barbaramente torturados após os levantes antifascistas de novembro de 1935[11].

    Após quase um mês de viagem, em condições extremamente penosas e em total isolamento até mesmo dos demais passageiros do navio, no dia 18 de outubro, Olga e Elise foram desembarcadas em Hamburgo, com intensa vigilância policial. Na ocasião havia um aparato policial de tais proporções que o advogado francês enviado a Hamburgo pelo Comitê Prestes, com sede em Paris, que coordenava a campanha mundial pela libertação dos presos políticos no Brasil e também de Olga e Elise, sequer conseguiu aproximar-se do local ou obter alguma informação a respeito das duas prisioneiras[12]. No mesmo dia, as duas foram conduzidas sob escolta para Berlim. Olga ficou na prisão feminina de Barnimstrasse e Elise, na detenção feminina do presídio da polícia[13].

    Na prisão, incomunicável, sem poder se corresponder com a família, Olga sempre recusou-se a prestar qualquer declaração que pudesse incriminar os companheiros tanto na Alemanha quanto no Brasil[14]. O regime de extremado rigor a que estava submetida era justificado pela Gestapo não tanto por Olga ser judia, mas principalmente por ser considerada uma comunista perigosa, mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes, e que, por isso, jamais deveria ser posta em liberdade[15].

    A 27 de novembro 1936, na enfermaria da prisão de Barnimstrasse deu-se o meu nascimento. A coragem e o extraordinário controle emocional de Olga permitiram que eu nascesse forte e saudável. Minha mãe, entretanto, sofreu complicações, que a forçaram a permanecer internada nessa enfermaria durante um mês[16]. Meu nome, Anita Leocadia, foi escolhido por ela em homenagem a duas mulheres fortes – Anita Garibaldi e Leocadia Prestes[17]. Olga solicitou às autoridades carcerárias o envio de telegrama por ela redigido a meu pai, preso no Brasil, e depois escreveu uma carta em que lhe comunicava meu nascimento, mas as duas mensagens não foram expedidas pela Gestapo[18]. Meu nascimento permaneceu desconhecido da família e do público durante vários meses, embora Olga tivesse tentado meu registro como brasileira na embaixada do Brasil em Berlim, solicitação recusada tanto pela Gestapo quanto pelo Itamaraty.

    Desde que se soube da extradição de Olga e Elise, as autoridades do Terceiro Reich, inclusive o próprio Adolf Hitler, passaram a ser bombardeados com telegramas, cartas e mensagens advindas de personalidades e organizações humanitárias de países europeus e dos Estados Unidos, cobrando informações sobre as duas prisioneiras, denunciando sua incomunicabilidade e exigindo sua libertação. Muitos desses pronunciamentos foram publicados na imprensa da França, da Inglaterra e de outros países[19].

    A Campanha Prestes e minha libertação

    Estava em curso a Campanha Prestes, liderada por Leocadia Prestes, minha avó paterna[20]. Logo após a prisão dos meus pais, em março de 1936, Leocadia, acompanhada por Lygia, sua filha mais moça, deslocou-se de Moscou, onde desde 1931 vivia a família, para Paris, que passou a ser a sede do Comitê Prestes. Quando se soube da extradição de Olga e Elise, imediatamente a campanha pela libertação dos presos políticos se estendeu às duas prisioneiras. Para Leocadia e Lygia surgia, então, a preocupação de estabelecer contato com Olga e prestar-lhe toda assistência possível, a ela e à criança que estava para nascer. Minha avó foi três vezes a Berlim, acompanhada pela filha e por delegações de mulheres de países como a Bélgica e a Inglaterra, sem jamais conseguir permissão para falar com minha mãe ou vê-la[21].

    A Cruz Vermelha Internacional, sediada em Genebra, foi visitada por Leocadia e Lygia e, com a ajuda da entidade, tornou-se possível saber do meu nascimento – quando já tinha três meses de idade –, obter permissão para corresponder-se com Olga[22] e enviar-lhe dinheiro, alimentos e roupas. A cada duas semanas, minha avó e minha tia lhe remetiam via correio postal um pacote de vinte quilogramas, contendo alimentos e outros artigos de que necessitava, o que permitiu à minha mãe continuar a amamentar a filha. Com isso foi possível assegurar minha sobrevivência e, por fim, minha libertação. Com meu nascimento, a campanha alcançou maior repercussão; tratava-se agora de salvar a vida de uma criança, pois a Gestapo havia comunicado a Olga que, assim que eu fosse desmamada, seria dela separada e entregue a um orfanato nazista, onde as crianças perdiam o nome e lhes era atribuído um número. O esforço de Leocadia e Lygia foi decisivo para o sucesso dessa batalha[23].

    Tiveram grande importância as gestões empreendidas pelo afamado jurista francês François Drujon, que, sensibilizado pela causa da libertação de mãe e filha, viajou à Alemanha para sondar a Gestapo. Contando com a colaboração do advogado alemão Heinrich Reinefeld, social-democrata e antifascista[24], recebeu autorização para ver a criança no pátio da prisão na hora do banho de sol[25]. Drujon obteve a promessa das autoridades alemãs de me entregar à avó paterna desde que lhes fosse apresentado um documento oficial de paternidade de Prestes, pois, na ausência de certidão de casamento dos meus pais, a Gestapo não reconhecia a Leocadia o direito de reivindicar a guarda da neta[26]. Quanto a Olga, não foi dada ao advogado qualquer esperança de possível libertação, pois havia a determinação expressa das autoridades alemãs de jamais consenti-lo[27].

    Empenhada em meu resgate, minha avó escreveu ao dr. Heráclito Fontoura Sobral Pinto, defensor ex officio de Prestes, solicitando sua ajuda para que as autoridades policiais brasileiras permitissem que este assinasse na prisão declaração de paternidade da filha. O esforço de Sobral Pinto foi decisivo para vencer enormes resistências do Itamaraty e do governo brasileiro e, uma vez alcançado o registro em cartório da declaração do meu pai, realizar o seu reconhecimento, a tradução juramentada para o alemão e o envio para a Gestapo. Com razão o dr. Sobral, carinhosamente, se considerava meu segundo pai, pois com esse documento tornou-se possível reconhecer legalmente o direito de Leocadia à guarda da neta[28].

    Finalmente, no dia 21 de janeiro de 1938, com catorze meses de idade, fui entregue pela Gestapo à minha avó Leocadia e à tia Lygia, que me buscaram na prisão acompanhadas dos advogados Drujon e Reinefeld. Não obtiveram, no entanto, permissão para que Olga as visse ou fosse ao menos informada do destino da filha. Em carta ao meu pai, ela escreveu que o período de 5 de março de 1936 (dia da prisão de ambos) a 21 de janeiro de 1938 foi o mais terrível da sua vida[29], pois ficara vários dias sem saber do destino da filha adorada, descrita com extremado amor em suas cartas ao marido[30].

    Leocadia e Lygia, acompanhadas pelo advogado francês, viveram horas de grande tensão antes de partirem de trem, no mesmo dia, para Paris. Seguidas e observadas o tempo todo por agentes policiais disfarçados[31], temiam que a criança lhes fosse tomada de volta, pois do documento que lhes fora fornecido constava apenas o nome de Anita Benario, inexistindo, portanto, qualquer prova de que me encontrava sob a guarda da avó[32]. Em depoimento marcado por intensa emoção, Lygia narrou os momentos que se seguiram à minha retirada da prisão:

    [Seguimos]... até o hotel, apavoradas, com medo de que fosse uma cilada, que de repente nos tirassem a criança. Tivemos que esperar várias horas no hotel, porque o trem para Paris só saía à noite. Então, nós ficamos até as sete, oito horas da noite naquela angústia. Cada vez que batiam na porta do quarto do hotel, a gente pensava que era a Gestapo que vinha buscar a Anita. Fomos para a estação – a mesma situação, porque os secretas da Gestapo circulavam em torno de nós na estação. E a gente com um medo terrível que nos arrancassem a criança. Tomamos o trem com a Anita no colo. Eu me lembro que subi com a Anita no colo. Sentamos na cabine, e cada vez que batiam na porta da cabine era aquela angústia, medo que fosse a polícia, a Gestapo. Só fomos respirar um pouco depois que passamos a fronteira. Minha mãe sentada na cama com a Anita, abraçada com a Anita. E eu em pé ao lado dela. Depois que passou a fronteira, a situação acalmou um pouco. Chegamos a Paris, os amigos nos esperavam na estação. Mas aqueles momentos, aquelas horas que mediaram a entrega da Anita e a nossa passagem da fronteira, eu jamais esquecerei.[33]

    Minha libertação das garras do nazismo resultou indiscutivelmente da in­fluência e da repercussão mundial da Campanha Prestes[34]. Uma grande vitória da solidariedade internacional, razão por que me considero filha da solidariedade internacional.

    O assassinato de Olga

    Logo após minha retirada da prisão, Olga foi transferida, em fevereiro de 1938[35], para o campo de concentração de Lichtenburg, na localidade de Prettin[36]. O campo fora instalado em um castelo renascentista que na época da invasão de Napoleão havia servido para abrigar suas tropas, tendo sido utilizado para o mesmo fim pelo Exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Para minha mãe, as condições de vida tornaram-se muito piores do que tinham sido em Barnimstrasse: frio, fome, castigos corporais e dificuldades maiores para comunicar-se com a família[37].

    Em maio de 1939, com a inauguração do campo de concentração de Ravensbrück, destinado exclusivamente a mulheres, Olga foi transportada com uma leva de outras prisioneiras para esse novo local, situado oitenta quilômetros ao norte de Berlim[38]. Os horrores vividos por milhares de mulheres de diversos países que passaram por esse campo estão descritos em livro publicado pela jornalista inglesa Sarah Helm[39].

    Olga manteve-se firme, corajosa e solidária com suas companheiras, segundo os testemunhos existentes. Por mais de uma vez foi conduzida à sede da ­Gestapo em Berlim para novos interrogatórios, durante os quais jamais se prestou a delatar quem quer que fosse[40]. Em diversas ocasiões, devido às suas atitudes de rebeldia e defesa de companheiras mais fracas, foi severamente punida, mantida na escuridão de um calabouço no próprio campo de Ravensbrück, com privação da escassa ração destinada às prisioneiras, ou submetida a espancamentos e castigos corporais[41]. Durante vários meses, nos períodos em que se encontrava no isolamento, sua correspondência com a família ficou interrompida[42].

    Até setembro de 1939, quando teve início a Segunda Guerra, existiram esperanças de Leocadia e Lygia, assim como de Olga, de obter sua libertação, pois algumas prisioneiras o haviam conseguido. As gestões empreendidas por Leocadia e Lygia junto ao governo do México, onde, desde outubro de 1938 minha avó, minha tia e eu estávamos exiladas[43], levaram a que fosse concedido asilo político nesse país à minha mãe, condição exigida pela Gestapo para uma possível libertação. Entretanto, a guerra interrompeu as comunicações postais com a Europa e a documentação remetida para a Alemanha voltou ao México[44]. A partir de então, qualquer perspectiva de libertação ficou excluída. Hoje sabemos que a Gestapo vetara todas as possibilidades de libertação para Olga tendo em vista sua recusa de prestar as informações que lhe eram exigidas sobre suas atividades junto à Internacional Comunista. Olga declarava: Se outros se tornaram traidores, eu não o serei![45].

    Tempos ainda mais sombrios haviam chegado para minha mãe. Em Ravensbrück, junto com as demais prisioneiras, ela era submetida a todo tipo de privações, assim como à prática de trabalho escravo exaustivo, em condições extremamente penosas. Considerada uma comunista perigosa, carregava também a pecha de judia, destinada, portanto, a ser contemplada pelos planos nazistas da solução final. Em abril de 1942, foi incluída numa leva de prisioneiras escolhidas para serem assassinadas na câmara de gás do campo de concentração de Bernburg. A última carta da minha mãe está datada de novembro de 1941[46], mas só tivemos confirmação da sua morte após o término da guerra, em julho de 1945.

    O trágico fim da minha mãe abalou profundamente toda a nossa família. Para meu pai, foi uma perda irreparável, que marcou o restante da sua vida. Muitos anos depois, sempre que falava em Olga, ele revelava grande emoção. Até seus últimos dias de vida manteve a foto dela sobre sua mesa. Por ocasião dos meus aniversários, que muitas vezes passamos longe um do outro, meu pai me escrevia recordando o martírio de Olga e o nosso compromisso de sermos dignos da sua memória. Meu pai e eu sempre entendemos que Olga foi uma vítima do fascismo entre milhares de outras e que seu martírio deve servir de exemplo para que não permitamos que tais horrores se repitam.

    Luiz Carlos Prestes, meu pai: prisioneiro do governo Vargas

    Meu pai, Luiz Carlos Prestes, fora a liderança mais destacada do episódio culminante do tenentismo – a Coluna Invicta (1924-1927), à qual emprestara seu nome, e no final dos anos 1920 seu enorme prestígio o transformou no Cavaleiro da Esperança. Por ter recusado em 1930 o comando do movimento militar que conduziu Getúlio Vargas ao poder, ficou isolado e foi repudiado pelas elites oligárquicas e pela opinião pública nacional. Mas o desencanto com o governo varguista, ainda no início dos anos 1930, fez renascer o prestígio de Prestes, que se tornaria a grande liderança do nascente movimento antifascista, e, em 1935, foi aclamado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora[47]. Com o fracasso dos levantes de novembro de 1935, as prisões ficaram lotadas de democratas e antifascistas, e meu pai, encarcerado a partir de março de 1936, respondeu a três processos, sendo, no total, condenado a 46 anos e 8 meses de prisão[48]. A vitória da União Soviética e das forças democráticas mundiais na Segunda Guerra permitiu, entretanto, que no Brasil se conquistasse a libertação dos presos políticos em abril de 1945.

    Prestes permaneceu encarcerado no Rio de Janeiro durante nove anos, a maior parte do tempo incomunicável. A partir de sua transferência para a Casa de Correção, em julho de 1937, meu pai, que antes estivera preso no Quartel da Polícia Especial, pôde dispor de papel e lápis e receber livros, revistas e jornais. Tratou, então, de organizar seu tempo da melhor maneira possível, embora as condições carcerárias fossem pouco propícias para tal – isolamento total, calor exasperante no verão e frio intenso no inverno. Adotou uma disciplina rigorosa em relação a horários: levantava-se cedo, fazia ginástica, tomava banho e vestia-se adequadamente; tinha horários estabelecidos para leitura de jornais, para estudo de diferentes assuntos, para leituras variadas e para a escrita de cartas à família. Dessa forma, durante os longos anos de prisão, pôde aprofundar seus estudos de filosofia, história, sociologia e, em particular, da realidade brasileira. Aproveitou para conhecer melhor a literatura nacional, latino-americana e mundial[49].

    Sua vida na prisão pode ser acompanhada pela correspondência mantida com a família, que minha tia Lygia conseguiu preservar[50]. Até mesmo a troca de cartas com minha mãe foi feita, na maior parte das vezes, através de Leocadia e Lygia, seja na França, seja no México, onde estivemos exiladas. Como a ­Gestapo exigia que as cartas fossem escritas em alemão, Leocadia e Lygia contaram sempre, nesses dois países, com a ajuda de amigos que traduziam tanto as cartas do meu pai quanto as da minha mãe antes de encaminhá-las aos destinatários via correio postal. Diante de tais dificuldades, Prestes conseguiu adquirir um dicionário alemão-português e os livros necessários para o estudo do alemão, o que lhe permitiu corresponder-se nesse idioma diretamente com Olga a partir do início de 1939[51].

    Na Apresentação que eu e Lygia escrevemos para os três volumes da obra Anos tormentosos, contendo a correspondência da prisão do meu pai, destacamos alguns aspectos característicos de sua personalidade:

    Destas páginas emerge não só a figura do revolucionário comunista, do homem que renunciou a tudo para dedicar-se de corpo e alma à luta pela causa do socialismo no Brasil e no mundo, como principalmente o personagem humano que sofre e se angustia, que se rebela contra seus algozes, mas vê-se obrigado a cultivar um certo estoicismo como forma de sobreviver, que, apesar do natural pessimismo de quem tem pela frente uma condenação a quase cinquenta anos de prisão, esforça-se para ser otimista e alimenta a esperança em dias melhores, procurando infundir coragem à mãe, aos parentes, aos amigos. O mundo interior de Luiz Carlos Prestes, seus sentimentos elevados, seu moral de revolucionário, mas também de filho, irmão, esposo, pai e amigo surgem de maneira cristalina da leitura destas cartas, reveladoras do que foram os seus nove anos de prisão – nove anos de martírio –, abrangendo o período de 1936 a 1945.[52]

    Hoje, ao consultar a correspondência entre meus pais durante os anos de prisão, não posso deixar de me emocionar ao verificar, mais uma vez, o quanto fui amada por eles, o quanto fui fruto de um grande amor que a mim se estendeu e me envolveu de maneira indelével. Continua a me comover a preocupação revelada por ambos com meu cotidiano de criança, seja na França, seja no México, com minha educação e com meu futuro. Fico profundamente sensibilizada ao reler as palavras do meu pai, que, ao tomar conhecimento do meu nascimento, me incluiu na sua constelação de afetos femininos, que, segundo ele, foi

    enriquecida com mais uma estrela, ainda pequenina e insignificante, mas, que estou certo, virá a ser pela identidade no sentir, no pensar e no agir com as outras seis [a mãe, as quatro irmãs e Olga], como elas (e para elas também), uma afeição de primeira grandeza.[53]

    Leocadia Prestes, minha avó

    Minha avó Leocadia foi uma mulher corajosa e determinada que, em 1936, com mais de 60 anos, com a saúde alquebrada, encontrou forças para pela primeira vez na vida separar-se das três filhas mais velhas e, acompanhada por Lygia, a caçula, que então contava 22 anos de idade, empreender uma longa jornada por toda a Europa à frente da Campanha Prestes pela libertação dos presos políticos no Brasil. Abalada pela prisão do filho, de quem nos primeiros tempos sequer se tinha notícias, não vacilou em liderar uma campanha política, enfrentando todo tipo de adversidades. Tratava-se de uma atividade da qual antes jamais participara, embora sempre acompanhasse e desse apoio à atuação revolucionária do filho e dos seus camaradas[54].

    Ao saber da extradição da minha mãe e do meu nascimento, Leocadia, sempre acompanhada por Lygia, não poupou esforços para ajudar Olga e tentar livrar a nora e a neta das garras do nazismo. Dirigiu-se diretamente a autoridades do Brasil e da Alemanha, exigindo justiça e medidas concretas visando a salvar a vida de Olga e da neta. Foi à Alemanha e viajou à Suíça em busca da intermediação da Cruz Vermelha Internacional, denunciou na imprensa internacional as arbitrariedades cometidas tanto no Brasil quanto na Alemanha e contatou as mais variadas personalidades mundiais à procura de apoio à sua luta[55].

    Desde muito jovem, Leocadia foi uma mulher avançada que, ainda no século XIX, numa cidade provinciana como Porto Alegre (RS) à época, escandalizou a família ao revelar o desejo de ser professora e trabalhar fora, o que naqueles tempos era impensável para uma moça de seu elevado nível social. Desde cedo, minha avó manifestou pendor pelas artes, pela literatura e também pela política, interesse que, mais tarde, transmitiu aos filhos. Em 1896, casou-se com o jovem tenente Antônio Pereira Prestes. Juntos enfrentaram as vicissitudes da vida modesta de um oficial do Exército, no início da República, primeiro em Porto Alegre, onde o meu avô foi professor na Escola Militar do Rio Pardo, depois no Rio de Janeiro, em seguida no interior do Rio Grande do Sul, em Ijuí e Alegrete, e, então, mais uma vez em Porto Alegre[56].

    Em 1904, Leocadia mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, capital da República, em busca de tratamento médico para o marido, afetado por grave enfermidade. Foram anos difíceis, nos quais, apesar da grande dedicação de ­Leo­cadia, meu avô veio a falecer, em janeiro de 1908. Luiz Carlos, o primogênito, completara 10 anos de idade. Ao ficar viúva com filhos pequenos[57] para criar, contando apenas com a pensão de capitão do Exército, insuficiente para o sustento da família, Leocadia não hesitou em buscar trabalho. Começou a dar aulas de idiomas e de música, trabalhou como modista, foi balconista e costurou para o Arsenal de Marinha. Finalmente, em 1915, foi nomeada professora de escola pública, como coadjuvante do ensino primário, cargo que exerceu até 1930, quando viajou para o exterior. Trabalhou à noite dando aula nos subúrbios, em cursos noturnos frequentados por comerciárias, operárias e domésticas.

    Leocadia enviuvou muito jovem, aos 33 anos de idade. Foi uma mulher à frente do seu tempo: teve a coragem de enfrentar os preconceitos da época e, apaixonada por um homem casado, assumir uma relação da qual nasceram suas duas filhas mais moças, Lúcia e Lygia, criadas por ela e pelos três irmãos mais velhos em iguais condições, sem nenhum tipo de discriminação, cercadas de todo o carinho da família. Quando ficou sabendo que o pai de suas duas filhas, diferentemente do que lhe havia prometido, continuava casado com a esposa grávida, Leocadia não teve dúvidas de romper aquele relacionamento e arcar sozinha com as consequências.

    Coragem e dignidade foram traços marcantes da personalidade da minha avó Leocadia na luta cotidiana pela sobrevivência e pela educação dos cinco filhos. A influência da mãe foi decisiva na formação do caráter de Luiz Carlos Prestes, assim como das suas irmãs, o que sempre foi reconhecido por toda a família. Apesar das grandes dificuldades, Leocadia não descuidava da educação dos filhos; orientava-os nas leituras, ensinava-lhes música e idiomas estrangeiros, discutia com eles os acontecimentos políticos em curso no Brasil e no mundo. Em sua casa nunca faltaram jornais e revistas, lidos e comentados por todos. Procurava participar da vida política nacional – assim, na campanha civilista às eleições presidenciais de 1910, acompanhada pelo filho Luiz Carlos, compareceu ao comício do candidato Rui Barbosa. Sob a influência da mãe, meu pai e minhas tias adquiriram o hábito de tomar partido nos embates políticos – fosse no âmbito nacional, fosse no cenário mundial –, de jamais permanecer indiferentes.

    Diferentemente de outras mães dos jovens militares rebelados durante a década de 1920, que desejavam afastar os filhos da luta, Leocadia considerava a causa justa e apoiava a decisão do filho de participar dos levantes tenentistas, assim como da Marcha da Coluna. Entretanto, seu sofrimento foi grande, pois quase não se recebiam notícias fidedignas dos rebeldes, enquanto o Governo procurava criar uma expectativa de iminente derrota do movimento e de liquidação física das suas lideranças. Leocadia manteve-se firme procurando encorajar as demais mães dos revolucionários, embora também enfrentasse severas dificuldades, pois cessara a ajuda financeira que o filho sempre lhe proporcionara desde que se tornara oficial do Exército.

    Alguns anos depois, vivendo na Argentina, Prestes convidou a mãe e as irmãs a compartilharem com ele o exílio. Leocadia, acompanhada das filhas, não vacilou em liquidar a casa em que moravam no Rio de Janeiro e abandonar o emprego de professora, viajando para Buenos Aires em setembro de 1930. A família teve logo que enfrentar novas dificuldades, pois meu pai perdera o emprego de engenheiro, uma vez que seu patrão era um brasileiro ligado a Getúlio Vargas e Prestes recusara apoiar o movimento de 1930. Ao mesmo tempo, foi obrigado a mudar-se para Montevidéu, expulso da Argentina devido a um golpe militar de direita ocorrido nesse país. Em plena crise do capitalismo mundial, a mãe e as irmãs ficaram desamparadas, tentando encontrar meios de sobreviver, mas era quase impossível conseguir um emprego[58].

    Desde o exílio da Coluna Prestes na Bolívia, meu pai entrara em contato com alguns textos dos clássicos do marxismo. Com a mudança para a Argentina, em abril de 1928, dera prosseguimento às leituras marxistas, chegando à conclusão de que a teoria marxista e a luta pela revolução socialista eram o único caminho para solucionar os graves problemas do nosso povo, que tanto o haviam impressionado durante a Marcha da Coluna. Estabelecera também contato com o movimento comunista latino-americano e o bureau da Internacional Comunista com sede em Buenos Aires. Dessa forma, em maio de 1930, lançou Manifesto apoiando o programa da revolução agrária e anti-imperialista então proposto pelo PCB[59].

    Em 1931, convidado para trabalhar como engenheiro na União Soviética, Prestes consultou a mãe, assim como as irmãs, se aceitavam acompanhá-lo. Leocadia tinha total confiança no filho e, mesmo desaconselhada por amigos a viajar para a Rússia soviética com filhas jovens e solteiras, concordou com a ideia, ainda mais que as filhas estavam entusiasmadas com as possibilidades que se abriam para elas de poder trabalhar e estudar[60].

    Os primeiros tempos em Moscou, dados os problemas então enfrentados na construção do socialismo na União Soviética, não foram fáceis para a família, principalmente para Leocadia, que no início tinha dificuldade de entender a gravidade da situação econômica do país[61]. Entretanto, em pouco tempo, ficaria impressionada com o entusiasmo do povo soviético, disposto aos maiores sacrifícios na construção da nova sociedade livre de explorados e de exploradores. Isso era observado por ela até mesmo na obra vizinha do edifício em que moravam em Moscou: os jovens operários trabalhavam cantando, alimentados apenas com um pedaço de pão preto e um copo de chá devido ao racionamento existente, e após a jornada de oito horas iam estudar nos cursos noturnos criados para os trabalhadores vindos do campo.

    Foi nessa época que, buscando uma forma de participar da luta, Leocadia tornou-se comunista e resolveu aprender datilografia a fim de ajudar na cópia e na tradução de documentos[62]. Da mesma maneira, suas filhas aderiram aos ideais socialistas e, durante o ataque da Alemanha nazista à União Soviética, Clotilde, Eloiza e Lúcia, que haviam permanecido em Moscou, colaboraram com a defesa antiaérea da capital soviética, assim como na resistência organizada na retaguarda, nos montes Urais, para onde foram transferidos os estrangeiros residentes na capital, e também numerosos técnicos e engenheiros soviéticos, deslocados para trabalhar nas indústrias levadas para regiões distantes do país com o objetivo de assegurar as necessidades impostas pela guerra.


    [1] Para conhecer a vida de Olga, ver Fernando Morais, Olga (São Paulo, Alfa-Ômega,1985); e Anita Leocadia Prestes, Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo (São Paulo, Boitempo, 2017).

    [2] Para acompanhar os detalhes dessa viagem, ver Fernando Morais, Olga, cit., p. 63-5; e Anita Leocadia Prestes, Luiz Carlos Prestes, cit., p. 159-62.

    [3] Ampla frente democrática criada no Brasil no início de 1935 com o objetivo de lutar contra o fascismo, o integralismo, o imperialismo e o latifúndio. Ver Anita Leocadia Prestes, Luiz Carlos Prestes e a Aliança Nacional Libertadora: os caminhos da luta antifascista no Brasil (1934-1935) (Petrópolis, Vozes, 1997).

    [4] Anita Leocadia Prestes, Luiz Carlos Prestes, cit., cap. VI e VII.

    [5] Ibidem, cap. VII.

    [6] Para a correspondência entre Prestes e Olga, ver Anita Leocadia Prestes e Lygia Prestes (orgs.), Anos tormentosos – Luiz Carlos Prestes: correspondência da prisão (1936-1945), v. 3 (Rio de Janeiro/São Paulo, Aperj/Paz e Terra, 2002); e Anita Leocadia Prestes, Olga Benario Prestes, cit.

    [7] Robert Cohen (org.), Olga Benario, Luiz Carlos Prestes – Die Unbeugsamen – Briefwechsel aus Gefängnis und KZ (Göttingen, Wallstein, 2013), p. 18; tradução de Victor Hugo Klagsbrunn.

    [8] Ver Anexo I, p. 276-9 deste volume.

    [9] CORTE SUPREMA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL – n. 26155 D.F. – PETIÇÃO DE HABEAS CORPUS do advogado Heitor Lima a favor de MARIA PRESTES, Rio de ­Janeiro, 3 de junho de 1936 (cópia do documento original, 12 p.) e documentos complementares (arquivo particular da autora); ver também Heitor Lima, Carta à exma. sra. Darcy Vargas, Rio de Janeiro, 18 jun. 1936 (2 p.; Arquivo Getúlio Vargas/CPDOC/FGV); Fernando Morais, Olga, cit., p. 197-9.

    [10] Ver Arquivo da Gestapo (doravante, AG), disponível em: , Collection of documents of German secret services 1912-1945. Russian State Archive of Socio-Political History (RGASPI, Fond 458, Series 9), pasta 164, doc. 31-36.

    [11] Ver Fernando Morais, Olga, cit.; Anita Leocadia Prestes, Luiz Carlos Prestes, cit., cap. VII.; e Anita Leocadia Prestes, Olga Benario Prestes, cit.

    [12] Ver Anita Leocadia Prestes, Luiz Carlos Prestes, cit., p. 199.

    [13] Ver AG, pasta 164, doc. 24-8, 78-9.

    [14] Ver AG, pasta 164, doc. 169, 170, 171, 172, 173, 174, Berlim, 21 nov. 1936.

    [15] Idem. Ver também, por exemplo, pasta 164, doc. 294-7, 404-5.

    [16] As condições carcerárias nessa prisão não podem ser comparadas ao horror dos campos de concentração para onde Olga foi transferida mais tarde.

    [17] Arquivo do STM, TSN, processo n. 1, apelação 4.899 – série A, v. 4, p. 143, Carta de Leocadia Prestes a Luiz Carlos Prestes, Paris, 6 mar. 1937; AG, pasta 167, doc. 13-4, Berlim, 17 dez. 1936, Carta de Olga para Prestes, Berlim, 17 dez. 1936.

    [18] Ver AG, Telegrama de Olga para Prestes (em francês), 28 nov. 1936, pasta 167, doc. 8; e Carta de Olga para Prestes (em francês), 17 dez. 1936, pasta 167, doc. 13-4; ver Anexo II, p. 280-2 deste volume.

    [19] Ver AG, pasta 164, doc. 14, 17, 38, 49, 52, 83, 97-98, 126, 131, 132-33, 161, 196, 200, 206, 251, 300, 380.

    [20] Ver Anita Leocadia Prestes, Campanha Prestes pela libertação dos presos políticos no Brasil (1936-1945): uma emocionante história de solidariedade internacional (São Paulo, Expressão Popular, 2015).

    [21] Idem.

    [22] A primeira carta de Olga recebida por Leocadia e enviada a meu pai foi de março de 1937, ocasião em que ele também pôde iniciar a correspondência com a família, após um ano na prisão. Ver Anita Leocadia Prestes e Lygia Prestes (orgs.), Anos tormentosos, v. 3, cit., p. 287.

    [23] Ver Anita Leocadia Prestes, Campanha Prestes pela libertação dos presos políticos no Brasil (1936-1945), cit.

    [24] Robert Cohen, Der Vorgang Benario: die Gestapo-akte, 1936-1942 (Berlim, Berolina, 2016), p. 27, tradução de Claudia Abeling e Tércio Redondo; AG, pasta 165, doc. 55, Berlim, 20 jan. 1938; doc. 58, Berlim, 18 jan. 1938; doc. 59-62, Berlim, 24 jan. 1938.

    [25] AG, pasta 165, doc. 27, Berlim, 5 out. 1937; doc. 39-41, Berlim, 6 dez. 1937; pasta 163, doc. 155, Berlim, 11 out. 1937.

    [26] A avó materna, Eugenie Gutmann Benario, que sempre repudiara a opção da filha pela luta revolucionária, consultada pela Gestapo, recusou-se a assumir a guarda da neta; também se recusara a receber Leocadia quando esta, junto com uma delegação de senhoras belgas, foi lhe pedir ajuda para melhorar a situação de Olga. Ver AG, pasta 165, doc. 40, 94.

    [27] Ver AG, pasta 165, doc. 55, Berlim, 20 jan. 1938; doc. 58, Berlim, 18 jan. 1938; doc. 59-62, Berlim, 24 jan. 1938.

    [28] Ver John W. F. Dulles, Sobral Pinto: a consciência do Brasil (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001), p. 108-11; relato de Lygia Prestes à autora.

    [29] Ver Carta de Olga a Prestes, 12 fev. 1938, em Anita Leocadia Prestes e Lygia Prestes (orgs.), Anos tormentosos, v. 3, cit., p. 425.

    [30] Ibidem, p. 385-424.

    [31] Ver AG, pasta 165, doc. 59, 60, 61, 62, 76, 77, 78; e relato de Lygia Prestes à autora.

    [32] AG, pasta 165, doc. 59-62, Berlim, 26 jan. 1938; doc. 71, Berlim, 25 jan. 1938; doc. 73-4; relato de Lygia Prestes à autora; passaporte de Anita Benario, Berlim, jan. 1938 (arquivo particular da autora). Ver Anexo III, p. 283 deste volume.

    [33] Depoimento de Lygia Prestes em Entrevista de Anita Leocadia Prestes à TV Câmara, 2001.

    [34] Ver Anita Leocadia Prestes, Campanha Prestes pela libertação dos presos políticos no Brasil (1936-1945), cit.

    [35] AG, pasta 166, doc. 18; Anita Leocadia Prestes e Lygia Prestes (orgs.), Anos tormentosos, v. 3, cit., p. 428.

    [36] AG, pasta 166, doc. 18, Prettin, 21 fev. 1938; doc. 12, Berlim, 3 mar. 1938; Anita Leocadia Prestes e Lygia Prestes (orgs.), Anos tormentosos, v. 3, cit., p. 427-8.

    [37] Ver Sarah Helm, Se isto é uma mulher. Dentro de Ravensbrück: o campo de concentração de Hitler para mulheres (Lisboa, Presença, 2015), p. 38-40; Anita Leocadia Prestes e Lygia Prestes (orgs.), Anos tormentosos, v. 3, cit., cartas de Olga para Prestes.

    [38] Sarah Helm, Se isto é uma mulher, cit., p. 23, 38 e 45.

    [39] Sarah Helm, Se isto é uma mulher, cit.

    [40] AG, pasta 163, doc. 124 a 139,

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