Au Revoir, Carolina
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Au Revoir, Carolina - Warley Matias De Souza
CAPÍTULO I
Tio Joaquim
Tio Joaquim era o esquisitão mais esquisito que já conheci. Magro, alto, óculos grossos, até o dia em que pôde substituí-los por potentes lentes de contato. Calado, introspectivo, o seu pensamento não parava. Conversar amenidades com tio Joaquim era querer ser ignorado. Sua mente era muito superior à dos outros mortais.
E um detalhe importante, ele odiava crianças; assim, fui o único monstro
que conseguiu aproximar-se dele. Fato é que, quando eu ainda engatinhava, entrei no laboratório que ele mantinha nos fundos da casa da minha avó, e aquele lugar virou o meu segundo lar.
No início, o tio ficou um pouco chateado por aquele monstro
ter invadido seu santuário científico; mas como, apesar das tentativas da família de me conter, eu insistia em ir até lá, o tio começou a me ver de um jeito diferente e abriu as portas de seu reduto para mim, um privilégio que só pude entender bem mais tarde.
Ninguém, além de mim e ele, entrava naquele mundo de tubos, espirais e bolhas. Isso significava que tio Joaquim confiava em mim, coisa rara para um nerd sorumbático e desconfiado.
Assim que comecei a estudar, era para lá que eu ia ao sair da escola, onde fazia meus deveres, enquanto o tio parecia ignorar-me, a mente imersa em suas experiências. Porém, sempre havia espaço para minhas dúvidas, e o tio, diante de minha curiosidade, deixava transparecer um brilho no olhar que me fazia querer ser o seu orgulho. Por isso, eu perguntava mais e mais.
Tio Joaquim tinha especializações em Química, Filosofia, Literatura, Física Quântica e uma pá de outras áreas do conhecimento. Sabia de tudo, mas sempre citava Sócrates: Só sei que nada sei
.
— Tio Joaquim — disse-lhe eu, por volta do meu décimo aniversário — hoje eu falava de Platão com um colega meu na escola. Ele riu de mim e disse que essa tal de filosofia
não serve para nada. Então, tio, para que serve então a filosofia?
Ele desviou seus olhos das anotações que fazia em sua agenda, onde registrava os resultados de suas experiências, e olhou-me por cima de óculos invisíveis, um costume do tempo em que usava óculos e do qual jamais se livrou.
— Escobar, o que não serve para nada é a arte, já a filosofia acaba sendo funcional. Ainda se discute se a filosofia é ou não é uma ciência. Contudo, não quero entrar no mérito da questão. Mas, com certeza, ela não é uma arte. Portanto, seu caráter de funcionalidade é pertinente.
Ele falava meio difícil mesmo; mas se esforçava ao máximo para que eu entendesse suas ideias.
— Explique, tio, por favor, pois não entendi.
Ele respirou fundo, num gesto de cansaço mais do que de impaciência, com o qual eu já tinha me acostumado.
— Qual foi o último livro que você leu?
— O pequeno príncipe.
— E para que serve O pequeno príncipe?
Olhei para os meus pés, enquanto pensava, depois caminhei pelo laboratório e, por fim, sentei-me em um tamborete perto da janela. Olhando para um imenso céu azul, respondi:
— Para refletir.
— Não, Escobar, não serve para nada. Se tivesse a utilidade que você defende, o texto diria para você refletir sobre esse ou qualquer outro assunto. Mas não, o narrador apenas narra a história. É você, como leitor, que reflete ou não sobre os fatos, que se posiciona ou não diante dos mesmos. Prova disso é que outras pessoas não farão reflexões; muito pelo contrário, rejeitarão a obra.
— E para que fazer algo que não serve para nada?
— Para mostrar que a vida é mais do que funções a serem executadas.
— Tem a ver com aquilo que você me disse? Que a arte afasta as pessoas da animalidade?
— A relação é pertinente.
Aquelas ideias embaralhavam-se na minha cabeça, deixavam-na pesada. Mas quando eu conseguia compreendê-las, o peso diminuía, e a leveza do conhecimento tomava conta de mim.
Porque fiquei em silêncio, ele provocou-me:
— Perdeu o fio da meada?
— Quê? — falei, em meio à minha lerdeza costumeira.
— Você queria saber sobre filosofia.
— É mesmo, sobre filosofia.
— Filosofia não é uma arte, por isso ela pode ter uma função. Não quero ser reducionista, mas basicamente ela poderia ter a função de levar o ser humano a refletir sobre a realidade, entendê-la o máximo possível e, principalmente, criticá-la; quiçá, transformá-la.
Reducionista.
Aprendi essa palavra quando eu tinha cinco anos. E usava-a para tudo. Gostava dela, de seu som. Na verdade, ainda gosto.
Lembro-me de uma vez em que minha mãe ficou muito brava porque eu tinha brigado com um colega na escola. E, enquanto chamava a minha atenção, não me deixava explicar a complexidade de tudo aquilo, pois ninguém duvida que a vida de um menino de cinco anos é extremamente complexa. Então, entre lágrimas magoadas, eu disse-lhe, dono da razão:
— Você está sendo muito reducionista, mãe!
Ela franziu a testa e, logo em seguida, começou a rir, o que me deixou ainda mais magoado. Saí da sala, enquanto batia o pé, malcriado, e gritava:
— Malditos reducionistas!
Segundo tio Joaquim, tudo é relativo, inclusive o tempo. Mas sobre a relatividade do tempo, meu tio baseava-se em Einstein. Porém, suas reflexões iam além de uma teoria da física, sua relatividade era filosófica.
— Uma hora é sempre uma hora em qualquer lugar, Escobar?
— Não entendi, tio.
— Vamos lá. Quantos minutos temos em uma hora?
— Sessenta minutos.
— Muito bem. Os sessenta minutos têm a mesma duração em qualquer lugar aqui do planeta?
— Imagino que sim.
— Eu lhe digo que o tempo é relativo, não só em relação ao espaço. Isso porque o tempo é, acima de tudo, subjetivo.
— Explique, tio.
— Quando você estava na feira de ciências no Canadá, o tempo passou rápido ou lento?
— Muito rápido.
— E quando você foi vítima daquela enxaqueca e ficou de cama?
— Ai, muito lentamente.
— Concluímos então que, quando sentimos prazer, o tempo passa rápido e, quando sentimos desprazer, o tempo é lento, correto?
— É isso mesmo!
— No entanto, não houve alteração no tempo físico.
— Entendi, tio.
CAPÍTULO II
O viajante
Pensar que o tempo é relativo, que tudo na vida, não só o tempo, é relativo, pode dar um nó na nossa cabeça. Mas eu gostava de nós, e gostava também de desatá-los. No entanto, tinha consciência de que há nós que não se desatam de maneira alguma, que permanecem nós até o fim. Mas o tio diria que qualquer nó pode ser desatado, só depende de tempo e conhecimento.
Às vezes, eu me sentava naquele tamborete do laboratório, em silêncio, e ficava apenas observando o tio Joaquim. Ele, vestido em seu jaleco branco, conduzia os experimentos com total atenção. Misturava substâncias, fazia anotações e, principalmente, ele refletia, ficava muito tempo parado, de braços cruzados, o olhar fixo em um ponto qualquer. E isso me fascinava. Eu sabia que ele estava refletindo sobre coisas importantes, não se entregava aos pensamentos inúteis que enchem nossas cabeças, mas a pensamentos produtivos, capazes de mudar a própria forma do pensar.
Desde