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Contos E Lendas Arturianas
Contos E Lendas Arturianas
Contos E Lendas Arturianas
E-book632 páginas6 horas

Contos E Lendas Arturianas

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Sobre este e-book

Os Contos e Lendas Arturianas, narrativas que orbitam em torno da figura do Rei Arthur, constituem-se não só no arcabouço máximo da mitologia da Grã-Bretanha, como, seguramente, da própria cultura ocidental. Na saga do Rei Arthur a história e a lenda coexistem harmoniosamente num mesmo relato, criando dessa forma as condições para que o personagem mítico viesse a sobrepujar inteiramente o histórico. Isto resulta em algo positivo, pois na medida em que seu mito se tornou mais importante do que a sua história, a figura de Arthur, ao longo dos séculos, universalizou-se; deixando de ser algo restrito, circunscrito à tradição britânica. O fato histórico em si é, por sua natureza documental, apenas evidencia e relata, não oferecendo nenhum alívio ou esperança. Já o mito, cuja força está em suprir um estímulo real, um ensinamento, propicia uma clareza, não na verdade literal e histórica, mas na verdade poética e imaginativa, tendo como resultado um impacto mais abrangente e libertador. Os Contos e Lendas Arturianas representam, portanto, a busca por uma existência ideal, justa e harmoniosa para todo ser humano. Em essência, elas exercem um impacto psicológico que fortalece e informa nossos corações e mentes. Afinal, elas não foram criadas apenas para nosso deleite, mas como um instrumento de aprendizado, incitando-nos, através da reflexão e análise, a nos transformarmos; a pautarmos nossa vida, apesar das adversidades da jornada, pelo amor, honradez, coragem e justiça, e pela magia que nos conecta com a Luz Maior.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de mai. de 2023
Contos E Lendas Arturianas

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    Contos E Lendas Arturianas - Geraldo Spacassassi

    Introdução

    Os Contos e Lendas Arturianas, narrativas que orbitam em torno da figura do Rei Arthur, constituem-se não só no arcabouço máximo da mitologia da Grã-Bretanha, como, seguramente, da própria cultura ocidental. 

    Afinal, todos nós, seja através da leitura ou da mídia, já tivemos algum contato com as estórias e feitos do Rei Arthur e seus intrépidos Cavaleiros. Estórias estas impregnadas de idealismo, bravura, magia e romantismo!

    Logicamente, toda vez que nos aventuramos a mergulhar e pesquisar épocas tão remotas faz-se obrigatória a consulta de duas fontes de conhecimento: a histórica e a mitológica. A primeira pautada em fatos documentados e objetivos; a segunda, igualmente real, é fruto da tradição oral e ampliada pela imaginação ao longo do tempo.

    Com base nesse pressuposto, constatamos que na saga do Rei Arthur a história e a lenda coexistem harmoniosamente num mesmo relato, criando dessa forma as condições para que o personagem mítico viesse a sobrepujar inteiramente o histórico. Isto resulta em algo positivo, pois na medida em que seu mito se tornou mais importante do que a sua história, a figura de Arthur, ao longo dos séculos, universalizou-se; deixando de ser algo restrito, circunscrito à tradição britânica.

    O fato histórico em si é, por sua natureza documental, preciso e frio, apenas aponta e relata, não oferecendo nenhum alívio ou esperança. Já o mito, cuja força está em suprir um estímulo real, um ensinamento, propicia uma clareza, não na verdade literal e histórica, mas na verdade poética e imaginativa, tendo como resultado um impacto mais abrangente e libertador.

    Os Contos e Lendas Arturianas representam, portanto, a busca por uma existência ideal, justa e harmoniosa para todo ser humano. Em essência, elas exercem um impacto psicológico que fortalece e informa nossos corações e mentes.

    Afinal, elas não foram criadas apenas para nosso deleite, mas como um instrumento de aprendizado, incitando-nos, através da reflexão e análise, a nos transformarmos; a pautarmos nossa vida, apesar das adversidades da jornada, pelo amor, honradez, coragem e justiça, e pela magia que nos conecta com a Luz Maior.

    Propositalmente, este trabalho foi desenvolvido numa linguagem simples, didática, evitando citações das fontes clássicas, notas etc.

    Na preparação desta pesquisa, utilizei e consultei excelentes obras, devidamente creditadas na bibliografia apresentada no final desta pesquisa.

    A maioria delas adquiridas na Grã-Bretanha. Esses conceituados autores, por sua vez, valeram-se das fontes clássicas, das quais merecem destaque:

    Obras onde a figura de Arthur não é mencionada nos relatos:

    Obras onde a figura de Arthur passa a fazer parte dos relatos:

    Relato Pessoal

    A gratidão e o apreço são chaves poderosas. Quando avaliamos nossa trajetória, é importante nos conscientizarmos das dádivas recebidas e das conquistas realizadas. Quanto mais somos gratos por algo, maior é o nosso potencial de nos sentirmos alegres, plenos e realizados.

    A carência faz parte da condição humana. Essa falta, que jamais será suprida, gera o desejo. Tal desejo é único, e por esta razão, a maneira como cada pessoa conduzirá sua existência, também o será. A busca incessante por satisfação é a pulsão que nos coloca na vida; instigando-nos a lutar, a concretizar nossos sonhos. Consequentemente, partindo deste pressuposto, surgirão neste plano tanto as mais extraordinárias como as mais terríveis criações humanas.

    A motivação para mergulhar neste novo trabalho de pesquisa nasceu dessa reflexão. Minha infância não foi fácil, marcada pelas crises do pós-guerra. Mas o mundo da fantasia, dos contos de fadas, foi nessa fase de grande ajuda. O contato com esse universo mágico muito contribuiu na minha formação. Logicamente, algo totalmente inconsciente, que só agora na idade madura tenho condição de constatar. A psicologia, aliás, avaliza este fato informando-nos de que a paixão pela fantasia começa muito cedo e que não existe infância sem ela. A fantasia por sua vez se alimenta da ficção; e, consequentemente, não existe infância sem ficção.

    Tinha onze anos, quando meu cunhado me presenteou com uma edição especial em quadrinhos da Lenda do Rei Arthur. Foi uma paixão à primeira vista!

    Em verdade, essa lenda marcou para mim o fechamento do ciclo mágico da infância, onde predominavam as famosas estórias da lâmpada mágica, de gigantes, princesas, bruxas e fadas..., inaugurando outro, o da adolescência quando as obras literárias se tornaram o foco de minha atenção e interesse.

    Li e reli a saga do Rei Arthur incontáveis vezes. De alguma maneira essa lenda, repleta de lutas e desafios, prenunciava uma nova fase em minha vida, resultante de uma ruptura familiar que três anos depois se instalou, impelindo o meu ingresso no mundo do trabalho e sua dura realidade. 

    Com o passar do tempo, essa paixão pelo universo arturiano se consolidou em algo mais profundo e duradouro, inconscientemente, é claro. Sempre que um filme ou texto sobre esse tema vinha à baila, a velha chama despertava. Meu interesse por tudo que se relacionava à Grã-Bretanha e o estudo da língua inglesa muito provavelmente se originaram desse fato.

    A vida seguiu seu curso... Como parte da jornada, as mudanças se sucederam; e mesmo as mais desestruturantes foram sempre para melhor!

    Finalmente, após algumas décadas, o grande sonho se concretizou. Em 1986 fiz minha primeira viagem ao exterior: trinta dias em férias visitando cinco capitais europeias. Como era de se esperar, criei certa confusão com as companhias de turismo, pleiteando uma estadia maior na Inglaterra, o que logicamente não se enquadrava nos roteiros oferecidos. Mas, como nada é impossível, uma empresa de turismo espanhola, iniciando suas operações no Brasil, atendeu minha solicitação. Consegui permanecer na Inglaterra por uma semana, ao invés dos dois dias previstos no pacote oficial. Já estava havia alguns dias em Londres quando descobri, para meu desapontamento, que havia uma excursão, "The Glorious South", que percorria os caminhos do Rei Arthur..., Mas eu não disponha do tempo necessário. Terminada a visita à Inglaterra, seguiram-se as breves passagens pela França, Itália, Espanha e Portugal.

    As férias maravilhosas terminaram... Poucas horas antes de embarcar para o Brasil, perambulando pelo Shopping Amoreiras, em Lisboa, entrei numa livraria... Minha atenção foi atraída para uma pilha de livros – "The Mists of Avalon" de Marion Bradley – o best-seller do momento, numa edição em pocket-book. No Brasil, pude completar sua leitura e, para minha surpresa, descobri não estar só; esse livro era o assunto do momento entre minhas amigas. Essa releitura da lenda é realmente fascinante, mas afasta-se das fontes tradicionais, que, a propósito, optei por utilizar neste trabalho de compilação e pesquisa.

    O fato de não ter podido fazer a referida excursão e o impacto dessa obra geraram em mim um processo obsessivo. Eu tinha de retornar à Inglaterra! Após muito planejamento, em maio de 1987 retornei à Grã-Bretanha, onde aproveitei trinta e cinco dias de férias inesquecíveis: parte na Inglaterra, parte na Escócia.

    Numa fria manhã de primavera, lá estava eu, em Londres, feliz e ansioso, aguardando, juntamente com outras pessoas, a partida da excursão que nos conduziria pelos Caminhos do Rei Arthur.

    David, nosso guia, um professor de História e Literatura aposentado, forneceu as instruções básicas da excursão e, ao mesmo tempo, descreveu os locais históricos e lendários que visitaríamos.

    Realmente, foram sete dias mágicos, os da excursão, apesar das oscilações climáticas típicas da região. Tivemos oportunidade de visitar lugares incríveis, tais como Canterbury, Brighton, Salisbury, Stonehenge, St. Ives, Lands End, Tintagel, Clovelly, Glastonbury e Bath, em território inglês, além de Cardiff, capital do País de Gales. Mas descrevê-los seria demasiado demorado, fugindo ao escopo deste trabalho. Ressaltarei apenas minhas impressões sobre alguns lugares efetivamente relacionados às lendas arturianas. 

    Stonehenge: quando vislumbrei no horizonte a silhueta grandiosa e misteriosa desse grande círculo de pedras, meu coração disparou. Mas devo confessar que essa visão mágica do círculo de pedras ascendendo no horizonte foi a melhor parte da visita.  Infelizmente, ao chegar efetivamente no local, parte da magia desapareceu, devido ao grande número de visitantes. Uma verdadeira babel!

    Foto em preto e branco de homem ao lado de pedra Descrição gerada automaticamente com confiança média

    Consequentemente, visando coibir atos de vandalismo, o monumento encontra-se protegido por um cordão de isolamento. A vigilância do local é ostensiva, feita pelo exército. Todo visitante só pode admirá-lo e fotografá-lo a uma distância ideal. Isto para mim foi frustrante. Somente em junho, por ocasião da realização da festa do Solstício de Verão (o ingresso do Sol em Câncer), os integrantes da Ordem Secular dos Druidas têm livre acesso ao círculo de pedras. Nessa ocasião eles oficiam um ritual que culmina com o toque do shofar (berrante de chifre de carneiro). Sem sombra de dúvidas, Stonehenge é uma das mais impressionantes construções realizadas pelo ser humano.

    Tintagel: fizemos uma parada próximo aos penhascos da orla marítima, para admirar as ruínas do famoso castelo, local onde o Rei Arthur teria nascido. O dia amanhecera péssimo: chuva, vento forte e uma espessa neblina. A grande maioria dos turistas não quis desembarcar. Apenas eu e dois outros resolvemos enfrentar o desafio. Avançamos pelo terreno difícil e escorregadio até onde os guias locais permitiram. Uma lembrança marcante: a visão fantasmagórica das ruínas envoltas em brumas, o barulho do mar revolto batendo contra os rochedos! Apreciei muito essa experiência. O ônibus seguiu viagem em direção ao vilarejo normando de Tintagel, propriamente dito. Lá todas as atividades e o comércio local giram em torno das lendas arturianas. Apesar do frio e da chuva, perambulei alegremente por suas vielas, visitando inúmeras lojas de souvenir repletas de quinquilharias: reproduções excêntricas e divertidas que, sem sombra de dúvida, são uma manifestação artística e cultural popular da região.

    Glastonbury, em Somerset

    Nossa visita a essa região foi o ponto alto da peregrinação. O dia estava claro e ensolarado, o que muito contribuiu para esse sucesso. Na cidade tivemos a chance de visitar vários locais importantes e fascinantes, tais como:

    Colina do Tor: da estrada divisamos essa mágica colina, em cujo topo se erguem as ruínas da Igreja de São Miguel (Saint Michael’s Church). Durante uma breve parada junto à porteira que franqueia o acesso a seu topo – já que o grupo optou por não a escalar – David nos brindou com uma descrição do local. Segundo pesquisas, acredita-se que há três mil anos o mar banhava a base dessa colina, mas gradualmente ele baixou, tornando-se apenas um vasto lago, que também desapareceu. Apesar de ser uma península, a colina do Tor era vista como uma ilha, cujo nome em celta era Ynys-witrin, a Ilha de Vidro. A mítica ilha de Avalon, cujo nome deriva do deus celta Avallach, governante do Submundo, frequentemente é identificada com Glastonbury. Em particular, a colina do Tor seria a casa de Gwyn ap Nudd, o Senhor do Submundo, o lugar onde vivia o Povo das Fadas (Fairy People) e, como tal, o ponto pelo qual as almas dos mortos passavam para ingressar num outro plano de existência. Quanto à Igreja de São Miguel, ela teria sido construída muito tempo depois do reinado de Arthur. De acordo com as crenças e tradições cristãs, sempre que um templo fosse erigido no topo de uma colina ou montanha, deveria ser dedicado a São Miguel, o Arcanjo. Com toda certeza, esse templo, como tantas outras propriedades da Igreja, caiu em ruína depois do Ato de Dissolução dos Mosteiros, promulgado pelo Rei Henrique VIII em 1534, durante a Reforma Religiosa. Quando nos preparávamos para retornar ao ônibus, surgiram três mulheres de porte altivo, vestindo longas túnicas negras e com cabelos longos e soltos, caminhando a passos lentos e seguros em direção ao topo da colina. Eram jovens: a loura carregava um buquê de flores, enquanto a ruiva tocava uma flauta e a morena, um tambor. A loura e a morena cantavam uma canção, melodiosa, que ecoava por toda região. Simplesmente, um momento de encantamento e magia.

    Poço do Cálice (Chalice Well): ele se situa aos pés do Tor e é o lugar onde, segundo a tradição, José de Arimatéia, teria escondido o Santo Graal, o cálice que o Mestre Jesus teria usado na última ceia com seus apóstolos.

    O poço é uma esplêndida fonte de águas vermelhas, tingidas, segundo a tradição, pelo sangue do próprio Cristo. Acredita-se, até nos dias de hoje, que essas águas operam milagres e curas e, por essa razão, o local tornou-se um centro de peregrinação.

    Em 1919, o arquiteto e arqueólogo Frederick Bligh Bond instalou nesse poço uma belíssima tampa, representando a interseção dos mundos interior e exterior por meio de dois círculos entrelaçados: o símbolo conhecido como Vesica Piscis. No design dessa tampa foi ainda incluída uma espada, cortando estes dois círculos, como uma possível referência a Excalibur; bem como folhagens representando o Espinheiro Sagrado (Holy Thorn) de Glastonbury. Análises químicas da água do poço indicam que o alto teor de ferro nela contido justifica não só sua coloração avermelhada, como seu efeito medicinal, auxiliando na cura de algumas enfermidades. Um fato curioso: os períodos de seca, que assolam essa região de tempos em tempos, não afetam esta fonte. Ela, miraculosamente, permanece imune à ocorrência de seca. Após termos bebido dessa água, prosseguimos nossa viagem em direção à cidade de Glastonbury, onde, após o almoço, visitamos as ruínas da antiga abadia.

    Abadia de Glastonbury: ela foi o símbolo do poder e da riqueza da Igreja Católica Romana. Infelizmente, pouco restou desse imenso complexo; apenas alguns pilares e paredes em ruínas. O Rei Henrique VIII, tendo rompido relações com o Vaticano, ordenou a dissolução e o confisco de bens de todos os monastérios da Inglaterra. Assim, Glastonbury, apesar de forte resistência, foi totalmente demolida e transformada numa pedreira. A origem da Abadia de Glastonbury está envolta numa aura de lendas e mitos.  Uma dessas lendas relata que ela teria sido fundada por São Patrício (Saint Patrick); outra, que São Jorge (Saint George) teria travado sua famosa luta contra o dragão nessa região; e a mais popular de todas, que nos fala de José de Arimatéia, que nesse local fundou um monastério. Ao chegarmos a esse local, o afluxo de turistas e visitantes era enorme. De posse de um pequeno mapa, recebido na entrada do local, afastei-me do grupo a passo acelerado, em direção aos meus objetivos.

    Espinheiro Sagrado (Holy Thorn): para minha alegria, o local estava totalmente deserto.

    Uma imagem contendo ao ar livre, árvore, céu, foto Descrição gerada com muito alta confiança

    Bem ao lado do Thorn existe uma minúscula capela, com um altar coberto por uma toalha, sobre a qual havia um crucifixo e uma vela acesa. Ajoelhado, fiz minhas orações. Não sei precisar quanto tempo ali permaneci; fui chamado à realidade pelo burburinho de um grupo que se aproximava.

    Túmulo de Arthur e Guinevere: segundo consta, em 1191, os restos mortais de um casal foram encontrados no lado sul da Lady Chapel e, junto com essa ossada, uma cruz de metal com a seguinte inscrição em Latim:

    Hic iacet sepultus inclitus Rex Arturius in insula Avalonia (Aqui jaz enterrado o célebre Rei Arthur na ilha de Avalon). Os monges transferiram esses restos mortais para um túmulo no interior da Norman Church. Posteriormente, em 19 de abril de 1278, o túmulo foi aberto na presença do Rei Edward I e da Rainha Eleanor, e uma breve e singela cerimônia teve lugar.

    Os restos mortais das duas pessoas foram envoltos em tecidos de seda raríssimos e depositados em uma nova sepultura de mármore negro, em frente ao altar-mor da referida igreja. Esta sepultura sobreviveu até a dissolução da abadia. Nos dias de hoje, restam apenas alguns vestígios das paredes da igreja em meio a um imenso gramado extremamente bem cuidado e, nele, uma placa de metal demarca o local da sepultura. Permaneci ali, por algum tempo, em silêncio.

    Inteligentemente, durante toda essa peregrinação, David nos brindou com excelentes aulas de História, deixando bem claro que a figura de Arthur e suas sagas permanecem ainda envoltas em mistério.

    Quanto à verdadeira identidade de Arthur, alguns defendem, como Kemp Malone, ter sido ele apenas um líder militar romano chamado Lucius Artorius Castus. Já o historiador britânico Alan Wilson sugere que Arthur tenha sido o rei galês Athrwys, que viveu no século VII. Outros historiadores apontam para o Rei Áedán Mac Gabráin, que governou Dál Riata (região na costa oeste da Escócia) no século VI; ou o seu filho, Artuir Mac Áedáin, que viveu em uma fortaleza chamada Camelon, mas nunca lutou contra os saxões. Com base no exposto, Arthur pode ter sido qualquer pessoa. Mas foi, sem dúvida, Geoffrey de Monmouth o responsável pelo sucesso e popularidade de Arthur, através de sua obra Historia Regum Brittanniae. Nessa obra é enfocado o período histórico da Grã-Bretanha que se inicia com a chegada de Brutus, o Troiano, e termina logo após o reinado de Arthur, cujos feitos ocupam o cerne da narrativa, classificada por muitos especialistas como fantasiosa. A linha de raciocínio atual afirma que a figura de Arthur resultou de uma mistura de figuras mitológicas ou históricas, ou admite ainda a hipótese de ser ele meramente um produto da imaginação. Mas, independentemente da real existência de Arthur ou não, essas lendas continuarão inspirando os artistas, escritores e diretores de cinema.

    Este fato incita-nos a examinar o conceito de releitura, sempre tão presente na produção artística em geral.  A releitura consiste na criação de uma nova obra, realizada a partir de outra, acrescentando nessa nova produção uma maneira de ver e sentir peculiar, de acordo com a vivência, crenças e formação desse autor. A mitologia e as obras literárias têm fornecido uma enorme quantidade de material para a elaboração de filmes, peças teatrais, novelas e romances. Em geral, essas adaptações são recebidas com reservas por aqueles que já tenham lido a obra original, ressaltando que elas não passam de interpretações parciais, repletas de omissões, simplificações, tanto da trama, como dos personagens, da fonte original.  Dois magníficos romances, que se transformaram em tremendos best-sellers, merecem destaque:

    As Brumas de Avalon (The Mists of Avalon) de Marion Bradley (1983), uma abordagem feminista da saga, recontando a lenda de Arthur através da perspectiva de suas heroínas. Um romance que encantou milhões de leitores.

    As Crônicas de Arthur (The Warlord Chronicles) de Bernard Cornwell (1995/97), uma abordagem machista da saga, recontando a saga de Arthur com base numa pesquisa de fontes histórica, com descrições cruas e fidedignas da época. A realidade medieval é retratada como de fato era: feia, grotesca e por vezes bizarras. Seus cavaleiros não entram no campo de batalha com armaduras limpas e prateadas; ao contrário, são guerreiros sujos, suados, bêbados e malcheirosos. Nessa trilogia de Cornwell, ainda que exista certa diplomacia, no final tudo se decide mesmo é na bordoada! Essa releitura é realmente envolvente, mas se afasta drasticamente das fontes míticas tradicionais.Terminada essa excursão, sempre que visitava uma livraria, em Londres e posteriormente em Edimburgo, eu procurava adquirir livros que abordassem essa lenda, valendo-me das indicações valiosas do atendente. 

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    Parte 1

    Grã-Bretanha: Origens Históricas e Místicas

    Geralmente, referimo-nos a essa região do globo por uma de suas denominações – Inglaterra, Reino Unido, Grã-Bretanha – indiscriminadamente, sem atentarmos para o significado específico de cada nome em termos geográficos e políticos, o que certamente gera certa confusão. Considero oportuno elucidar este aspecto em termos atuais, para depois enfocarmos a classificação usada na antiguidade, quando a saga arturiana teve lugar.

    Divisão Geográfica do Arquipélago Britânico

    As Ilhas Britânicas compõem um arquipélago ao largo da costa noroeste da Europa Continental. Dentre elas, duas se destacam pela extensão do território: a Ilha da Grã-Bretanha e a Ilha da Irlanda, seguidas das demais, adjacentes a elas.

    Divisão Política do Arquipélago Britânico

    A Grã-Bretanha (Great Britain), a maior das Ilhas Britânicas, abrange a maior parte do país conhecido como Reino Unido (United Kingdom). Nessa ilha estão três das quatro nações britânicas:

    (1) Escócia (Scotland), ao norte; sua capital é Edimburgo (Edinburgh);

    (2) Inglaterra (England), ao sul; sua capital é Londres (London);

    (3) Gales (Wales), a oeste; sua capital é Cardife (Cardiff).

    (4) A quarta nação, a Irlanda do Norte (Northen Ireland), cuja capital é Belfast, situa-se ao norte da Ilha da Irlanda, como seu nome sugere.

    Uma imagem contendo texto Descrição gerada com muito alta confiança

    A Escócia Ocidental é orlada pela grande cadeia de ilhas conhecida como as Hébridas (Hebrides) e para nordeste da Escócia estão as Ilhas Órcades (Orkney) e Shetland. Todas, juntamente com as Ilhas de Wight, Anglesey e Scilly têm laços administrativos com Reino Unido.

    Não pertencem ao Reino Unido a parte maior da Ilha da Irlanda, que se constitui na República da Irlanda (capital Dublin), bem como a Ilha de Man, no Mar da Irlanda, e as Ilhas do Canal, entre a Grã-Bretanha e a França.

    Denominações nas Antigas Lendas Arturianas

    Por razões didáticas, optamos por fornecer, além do mapa, uma listagem das antigas denominações e sua equivalência em termos atuais, das regiões e/ou localidades que serão mencionadas ao longo das narrativas.

    Britânia (Britain) = Grã-Bretanha (Great Britain).

    Lothian = Escócia (Scotland).

    Logres (England) = designa o território do reino de Arthur, excluindo o Ducado de Cornwall, que na época gozava de certa autonomia.

    Gales (Wales) = o atual País de Gales.

    Uma imagem contendo texto, mapa Descrição gerada com muito alta confiança

    Regiões situadas na Europa Continental:

    Uma imagem contendo texto, mapa Descrição gerada com muito alta confiança

    Gália (Gaul) = equivale à França atual.

    Bretanha (Brittany), em francês Bretagne = região noroeste da França, com larga costa litorânea entre o Canal da Mancha e o Oceano Atlântico.

    Normandia (Normandy), em francês Normandie = região norte da França, costeira ao Canal da Mancha.

    História & Arqueologia – Aspectos Importantes

    Através dos indícios arqueológicos podemos inferir que a área hoje conhecida como o sul da Inglaterra foi povoada bem antes do restante das Ilhas Britânicas, graças ao clima ameno entre e durante as diversas idades do gelo. Os habitantes pré-romanos da Britânia não deixaram documentos escritos; sua trajetória e cultura são estudadas por meio de achados arqueológicos. Restam atualmente poucos indícios da civilização dos primeiros habitantes da ilha. O mais significativo deles, sem dúvida, é o monumento megalítico de Stonehenge, que data da Idade do Bronze (até 2300 a.C.).

    Domínio Celta – de 750 a.C. até o ano 43.

    Celtas é a designação dada a um conjunto de povos, organizados em múltiplas tribos e pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir de 1200 a.C. Estima-se que eles desembarcaram e se estabeleceram na Britânia somente por volta do ano 750 a.C.

    As origens desses povos, que integraram uma das mais ricas civilizações do mundo antigo, remontam à Idade do Ferro. Eles teriam sido os responsáveis pela introdução do manuseio do ferro e da metalurgia no continente europeu. A maior parte da população da Europa ocidental pertencia às etnias celtas até a conquista daqueles territórios pelo Império Romano.

    De fato, o reconhecimento do povo celta pode se definir tanto pela partilha de uma cultura específica, quanto pelo uso da língua celta. Entretanto, eles não compunham uma civilização coesa; subdividiram-se em diferentes povos, entre os quais podemos destacar os belgas, gauleses, bretões, escotos, batavos, eburões, gálatas, caledônios e trinovantes. A sociedade celta era organizada através de clãs, em que várias famílias compartilhavam as terras férteis, mas preservavam a propriedade das cabeças de gado. A hierarquia mais ampla da sociedade celta era composta pela nobreza e a casta sacerdotal dos druidas, seguida das classes dos homens livres, servos, artesãos e escravos.

    O historiador romano Tácito registrou que a língua falada na Britânia não era muito diferente da empregada na Gália setentrional e notou que as várias tribos britânicas possuíam características físicas semelhantes às dos seus vizinhos continentais.

    Domínio Romano – de 43 a 410

    Em duas ocasiões, em 55 e 54 a.C., Júlio César invadiu a Britânia, mas não logrou conquistar território, limitando-se a estabelecer Estados-clientes. Muitos anos depois, no ano 43, o imperador romano Claudius conquistou a ilha com sucesso, dando início à província romana da Britânia. Os britânicos defenderam sua terra, mas os romanos, militarmente superiores, conseguiram dominar a ilha, iniciando uma forte opressão contra o Druidismo, religião local dominante na época.

    Durante o reinado de Nero (anos 54 a 58), ocorreu na Britânia uma rebelião de tribos locais, chefiada por uma mulher, que merece destaque.

    Rainha Boadicea e sua Luta contra Roma

    Na época das invasões romanas ao sul da Britânia, a Rainha Boadicea (ou Boudicca) governava a tribo dos Iceni ao lado de seu marido, o Rei Prasutagus.

    Boadicea era uma mulher de aparência exuberante: esbelta, muito alta, com longos cabelos ruivos pendendo até o quadril, olhar penetrante e feroz, voz dura e possante.

    Tudo começou quando o Rei Prasutagus, esperando angariar simpatia e proteção dos romanos, tornou o Imperador Nero coerdeiro, juntamente com suas filhas, de seu reino, propriedades e bens. Através desse estratagema, ele esperava manter seu reino e família livres de qualquer ataque.

    Infelizmente, o governador romano da Britânia, Suetonius Paulinus, nomeado por Nero, não compartilhava desse ideal. Logo após o falecimento de Prasutagus, o governador Suetonius não só confiscou todas as suas propriedades e bens, como escravizou todos os membros de sua família e de outros importantes chefes das tribos Iceni e Trinobantes. Não contente, o tirano ainda consentiu que a viúva Boadicea e suas filhas fossem açoitadas e estupradas publicamente por escravos romanos.

    Como era de se esperar, o impacto de tal ultraje despertou a ira e sede de vingança dos britânicos, resultando numa coligação dos Iceni, Trinobantes e outras tribos dispersas. A rebelião contra os romanos invasores eclodiu violenta e irrefreável.

    Os rebeldes, comandados pela Rainha Boadicea, obtiveram muitas vitórias. Inicialmente, eles capturaram o odiado assentamento romano de Camulodunum (atual Colchester, Essex), obrigando a legião romana ali sediada a fugir para Gália. Sem tréguas, Boadicea e seus aliados invadiram Londinium (Londres) e Verulamium (St. Albans), saqueando, incendiando e até profanando tudo que encontrassem em seu caminho, em especial os túmulos romanos, com as estátuas e lápides tão sagradas para eles.

    Finalmente, Suetonius, consciente da gravidade da situação, optou por uma retirada tática com suas tropas, refugiando-se num acampamento militar romano relativamente seguro, onde pode se reorganizar e planejar uma ofensiva para conter a fúria dos rebeldes encabeçados por Boadicea. Ele reuniu um exército de 10.000 soldados e auxiliares, a maior parte deles integrantes da Legião XIV.

    Segundo registros históricos, o terrível embate – romanos versus rebeldes – ocorreu no ano 61, possivelmente em Mancetter, próximo a Nuneaton.

    A superioridade do exército romano, extremamente bem equipado, era irrefutável. Boadicea tinha plena consciência desse fato, mas não se deixou abater. Acompanhada de suas filhas, Boadicea assumiu as rédeas de sua biga e dirigiu-a circundando seu diminuto exército, exortando os homens a serem corajosos. Gritando, ela enfatizou que não renegava sua ascendência de homens poderosos, porém, nesse momento, estava lutando como uma pessoa comum, para conquistar sua liberdade perdida, mesmo com um corpo machucado e filhas ultrajadas. Talvez como provocação para os homens sob seu comando, ela sugeriu-lhes ganhar a batalha ou perecer: isso é o que eu, como mulher, vou fazer. Já vocês, homens, poderão viver em escravidão, se isso for de seu agrado.

    A batalha – ou, melhor dizendo, o massacre – começou... O contingente rebelde não teve a menor chance ante a força dos romanos: cerca de 80.000 britânicos, entre homens, mulheres e crianças, foram mortos, enquanto as perdas romanas foram de apenas 400 mortos, com um número ligeiramente maior de feridos.

    Ao constatar a derrota de seus seguidores, Boadicea sorveu um poderoso veneno, negando aos romanos o prazer de aprisioná-la viva.

    A resistência e a luta de Boadicea garantiram-lhe, sem sombra de dúvidas, um lugar especial na História: a rainha guerreira que ousou lutar contra o poderio de Roma.

    Em 1902, uma estátua em bronze, criada por Thomas Thorneycroft, foi instalada perto das Casas do Parlamento, homenageando-a. Nessa magnífica obra, Boadicea é retratada em toda a sua grandiosidade, conduzindo sua biga.

    Retomando nossa narrativa, considero oportuno ressaltar a importância romana no desenvolvimento urbano da ilha. Os romanos fundaram cidades, como Londres, e fortalezas, utilizando engenharia e arquitetura nunca vistas na Britânia. Muralhas também foram erguidas, como a famosa Muralha de Adriano (ano 122), que cruzava a Britânia de leste a oeste e cujo propósito era impedir incursões militares das tribos de Lothian, ao norte (atual Escócia), contra o território da província romana.

    A propagação e influência do Cristianismo Romano tiveram forte impacto na cultura religiosa britânica. A cultura romana acabou impregnando toda a tradição local celta; paulatinamente, a própria história dos deuses celtas foi desaparecendo e o Cristianismo introduzido na ilha foi conquistando cada vez mais espaço. Vale mencionar que as próprias disputas internas dos vários grupos locais contribuíram para aumentar a influência do Cristianismo, fazendo o Druidismo desaparecer gradativamente e sem deixar muitos registros históricos. Os druidas recusavam-se a escrever sobre seus dogmas e rituais, e no povo britânico, até mesmo entre os nobres, era raríssima a prática da escrita. Consequentemente, quando as forças romanas se retiraram no século V, o Cristianismo já tinha força considerável na Britânia. As legiões romanas deixaram a ilha provavelmente na mesma época da invasão saxônica.

    Domínio dos Anglo-Saxões – de 410 a 511

    Na esteira do colapso do governo romano, cerca do ano 410, a Britânia passou a ser progressivamente ocupada por povos germânicos. Conhecidos coletivamente como os anglo-saxões, estes grupos incluíam os jutos da Jutlândia (Dinamarca), um maior número de saxões, provenientes do noroeste da Alemanha, e anglos, provenientes do atual estado alemão de Schleswig-Holstein. Inicialmente, eles invadiram a Britânia em meados do século V, continuando suas incursões por várias décadas, a saber:

    Os jutos se estabeleceram em Kent, Ilha de Wight e partes da costa de Hampshire;

    Os saxões predominaram em todas as outras áreas ao sul do Tâmisa, em Essex e Middlesex;

    Os anglos ocuparam Norfolk, Suffolk, Midlands e terras ao norte.

    Próximo ao ano de 511, na Batalha de Mount Badon, os britânicos infligiram uma severa derrota a um exército invasor anglo-saxão, que interrompeu esse avanço para oeste por algumas décadas.

    Arte da Guerra – Táticas & Manobras

    Nessa época, as contendas e guerras na Britânia eram desencadeadas por dois motivos: fruto das disputas internas envolvendo reis ou nobres de uma dada região; ou a resultante das invasões dos anglo-saxões, que por motivos diversos buscavam conquistar e estabelecer-se na ilha, ampliando seus domínios. Em qualquer um dos casos, como os recursos econômicos eram escassos, as campanhas de longa duração e alcance tornaram-se inviáveis. Consequentemente, as táticas de guerra breves, tais como a destruição dos campos, pilhagem, roubo, incêndio e cativeiro, eram as mais praticadas. Essas incursões devastadoras tinham como princípio estratégico algo bem definido: destruir para debilitar; liquidar com as bases materiais, visando o empobrecimento e o enfraquecimento dos inimigos antes de enfrentá-los diretamente. Se esse proposito fosse atingido, a fase seguinte envolveria o empenho da conquista de castelos, fortalezas e cidades.

    Primeiramente, porque um castelo bem protegido era símbolo de poder para aquele que o possuísse, e, além disso, poderia servir como centro de operações de um exército. Já no aspecto político, um rei ou nobre que não fosse capaz de proteger sua fortaleza era malvisto entre os seus pares, o que dificultava a formação de alianças.  Todos os que quisessem aumentar seus territórios ou se defender deveriam manter os chamados pontos fortes. Essas fortificações era o núcleo catalisador das atividades militares, por isso desempenhavam um papel fundamental nas estratégias de combate. Serviam como lugares de defesa e proteção, pois poderiam proteger as pessoas de um eventual ataque, evitando ainda que seus exércitos realizassem um confronto em campo aberto. As fortificações poderiam proteger os exércitos com um número limitado de homens, até que o período de guerra passasse, pois, essas disputas geralmente se iniciavam no auge da primavera e terminava com a chegada do inverno. Além do mais, as pessoas alojadas no interior dos pontos fortes, poderiam armazenar alimentos e esperar que seus inimigos do lado de fora morressem de fome e sede, já que, tinham que trazer seus suprimentos de muito longe. Isto sem falar das doenças que assolavam os grandes exércitos, forçando-os frequentemente a abandonar o cerco.

    Considerando que a tomada de fortalezas era uma das principais estratégias da guerra, cabe-nos analisar como tais assédios eram realizados. Podemos enumerar três tipos de ação na conquista de uma fortaleza: o ataque surpresa, o assalto à força e o bloqueio.

    O objetivo era obter a rendição, negociada ou imposta. Entretanto, mesmo com a utilização destas técnicas de assédio, o controle de castelos era um empreendimento que demandava tempo e que impunha muitas perdas de homens e animais. A qualidade técnica e a precisão dos armamentos ainda não eram eficazes o bastante para romper as defesas das fortificações.

    Ao contrário dos cercos às fortalezas, as batalhas campais eram algo excepcional; ela acontecia quando outras formas de ataque haviam se esgotado. As batalhas campais se realizavam em casos da necessidade de proteger uma fortaleza sitiada, ou em caso de ambos os lados acreditarem na vitória. Ainda que fossem poucas as batalhas campais e o confronto direto, a guerra nesse período foi marcada pelo desenvolvimento da cavalaria pesada. Em especial na Britânia o seu desenvolvimento ganhou força com as invasões bárbaras. A chegada dos saxões acelerou a evolução dos armamentos, obrigando ainda a implantação de um treinamento rígido dos cavaleiros, fazendo com que adquirissem mais firmeza na cavalgada, possibilitando um ataque mais rápido e eficiente. Em suma, o desenvolvimento de uma cavalaria simplesmente revolucionou a arte da guerra nesse período.

    A cavalaria agia em conjunto com os arqueiros e a infantaria. A primeira categoria, os cavaleiros, era considerada como sendo a força principal e a mais bem treinada. A segunda categoria, os arqueiros, era de suma importante para com a proteção dos cavaleiros e abertura de caminho em uma investida.

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