Personas: Trilogia
()
Sobre este e-book
Personas vem com uma peça inédita, A Livraria do Amor, que narra a história de Eurípedes e Perséfone, dois ex-colegas de faculdade que amam os livros e se amam, mas não assumem esse sentimento. A Força da Arte: o Heptameron é uma trama em que três casais da elite emergente refugiam-se numa mansão na Serra, para fugir da Covid-19. Os momentos de luxúria são interrompidos pela chegada do amigo de um deles, que fala sobre a obra A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói. Gabinete de Curiosidades conta a história de Oneirópolos e Disoíonos, dois velhos atores, que haviam brilhado nos palcos do passado, mas que foram simplesmente abandonados em um asilo.
Leia mais títulos de Gilberto Schwartsmann
A amante de Proust Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Sol Brilhou na Currúpnia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNausícaa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGabinete de Curiosidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA força da arte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDibuk Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Personas
Ebooks relacionados
Meu Coração Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPierrot & Columbina (Livro 1 Da Serie Amor De Pierrot) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLívia e Uma vagabunda: Dois contos de Lima Barreto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Primeiro Instante: Cenas da Vida Académica, #5 Nota: 0 de 5 estrelas0 notas10 peças de Shakespeare Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFernando Pessoa, o cavaleiro de nada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTarô Aos Pés Do Poema Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Senhor Dos Animais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMargot Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIsadora: minha vida, meu palco Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMysticos & Prophanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmor de Salvação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNobel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Poesia De Ineifran Varão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUniverso de palavras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm coração singelo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Chinela Turca Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTRÊS TRAGÉDIAS - Racine Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCartas de amor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLimeriques, anfiguris, haikais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLivro do desassossego Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO gabinete do Doutor Blanc: Sobre jazz, literatura e outros improvisos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Céus Manifestam A Glória De Deus! Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Convite P'ra Tomar Chá Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClepsydra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesias, Poemas, Sonetos E Canções De Um Pseudopoeta Louco Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Fada: Contos da Mamãe Gansa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasArsène Lupin: o ladrão de casaca Nota: 4 de 5 estrelas4/5Flirts Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônicas em papel de pão Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Antiguidades e Colecionáveis para você
O céu reina: Tenha coragem. Descanse. Nosso Deus está no controle Nota: 0 de 5 estrelas0 notas101 maneiras de encontrar tudo o que você Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Tarot Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA literatura no Brasil - Relações e Perspectivas - Conclusão: Volume VI Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA literatura no Brasil - Era Barroca e Era Neoclássica: Volume II Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLúcifer - A Origem Da Luz Nota: 1 de 5 estrelas1/5Vivendo uma Vida de Qualidade | Aluno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Cor que caiu do céu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComo ganhar uma eleição: Uma manual político da Antiguidade Clássica para os dias de hoje Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos de vinho: Histórias e curiosidades por trás dos rótulos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Grotowski e a estrutura-espontaneidade do ator-criador: Encontros e travessias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO manual da mulher: Um passo a passo para você construir o seu legado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA História Secreta Do Mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConfiabilidade estrutural de pórticos metálicos planos Nota: 0 de 5 estrelas0 notas50 Dicas De Alimentação E Treino Para Emagrecimento Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTratado De Medicina Oculta E Magia Pratica Ilustrado Nota: 5 de 5 estrelas5/5Exus Guardiões E Ancestrais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFiódor Dostoiévski - Volume 4 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasValentia Nota: 0 de 5 estrelas0 notas120 objetos que contam a história do Brasil na Segunda Guerra Mundial Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Pequeno Livro da Riqueza - 2ª Edição: Ensaios Essenciais de Benjamin Franklin - Edição revista e aumentada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Constituições De Anderson Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA literatura no Brasil - Era Modernista: Volume V Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFiódor Dostoiévski - Volume 2 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinhas Adoráveis Heroínas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÉpocas na vida de Paulo: Clássicos da Teologia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistoricidade Da Bíblia Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Personas
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Personas - Gilberto Schwartsmann
GILBERTO SCHWARTSMANN
PERSONAS
TRILOGIA
A LIVRARIA DO AMOR
A FORÇA DA ARTE – O HEPTAMERON
GABINETE DE CURIOSIDADES
Sumário
A livraria do amor
A força da arte – O heptameron
Gabinete de curiosidades
A LIVRARIA
DO AMOR
Contexto
A história se passa numa livraria. Há dois personagens: Eurípedes e Perséfone. Eurípedes é o proprietário da livraria, um homem nos seus 40 anos de idade, muito reservado e inseguro, mas sensível, culto e educado. Ele ama profundamente os livros. Já leu os grandes clássicos e tudo o que há de bom na literatura.
Eurípedes está muito nervoso por duas razões igualmente importantes. A primeira delas diz respeito à Perséfone, sua amada. Ela é uma mulher também nos seus 40 anos de idade, mas é extrovertida, simpática, sensível, romântica e igualmente culta e educada. Como Eurípedes, já leu os grandes clássicos e o que há de bom na literatura.
Os dois se amam desde os tempos em que se conheceram na biblioteca da faculdade. Eles mantêm uma relação de amizade quase platônica, comunicando-se através de cartas, telefonemas, mas raramente em pessoa. Eles nunca namoraram, nem se beijaram ou trocaram sequer uma carícia.
Uma das razões era a presença constante de um colega de faculdade que també m a amava, mas que era um tipo ardiloso e desprezível, de nome Lerno Tifão, o qual vivia a galanteá-la e a presenteá-la com caixas de bombons de chocolate e licor, aparecendo sempre entre os dois, nos momentos em que Eurípedes sentia-se com coragem de declarar o seu amor.
Ainda que perdidamente apaixonados, Eurípedes e Perséfone jamais tiveram a coragem de revelar o seu amor um pelo outro. O que os une e mantém a sua contínua correspondência é a devoção pela literatura. Ele adora livros, ela também. Em resumo, Eurípedes e Perséfone se amam, cada qual guardando a sete chaves o seu sentimento.
Ocorre que Perséfone enviou uma carta a Eurípedes, na qual ela disse estar muito confusa. Um lorde inglês, Sir Oliver, que ela conheceu num teatro na cidade do Rio de Janeiro, quando desfrutava de suas férias, pediu a sua mão em casamento. Ela está na dúvida se aceita ou não a proposta. Seu impulso é aceitar, mas no fundo gostaria que Eurípedes a impedisse e que fosse ele o seu futuro esposo.
Como disse, esta é a primeira razão do enorme nervosismo de Eurípedes. A segunda é que as vendas na sua livraria vão de mal a pior. Os clientes compram apenas livros de autoajuda e sobre temas supérfluos – jamais a boa literatura. E isso o entristece profundamente. A livraria foi fundada por seu falecido avô Demóstenes, que a transferiu para os cuidados de seu pai, Aristóteles, ambos amantes dos clássicos da literatura.
Agora, a livraria está nas mãos de Eurípedes e a falência está muito próxima. Para piorar, surge a notícia de que Perséfone recebeu a tal proposta de casamento de Sir Oliver. Perséfone diz a Eurípedes que irá visitá-lo, para aconselhar-se com ele. Logo com ele, que a ama profundamente. E para completar a desgraça de Eurípedes, ela saberá que a livraria está prestes a fechar as suas portas.
Personagens
Eurípedes
Eurípedes é o dono da livraria, um homem de cerca de 40 anos, tímido e apaixonado – em segredo – por Perséfone, sua antiga colega de faculdade. Adora literatura.
Perséfone
Perséfone é uma mulher de cerca de 40 anos, que ama – em segredo – Eurípedes, seu antigo colega de faculdade. Também adora literatura.
ATO 1
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia, solitário, ao final do dia, em sua livraria, já com as portas fechadas.)
Perséfone, minha deusa das flores, dos frutos, dos perfumes e das quatro estações! E isso é carta que tu me envies num momento como esse? Perséfone, eu te imploro, meu amor! Não aceites o pedido de casamento do tal lorde inglês, o desgraçado, o infeliz do Sir Oliver... Tu mal o conheceste na saída de um teatro, no Rio de Janeiro!
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Ah, Eurípedes! Meu doce Hamlet! Com as tuas dúvidas existenciais! Eu sempre mantive em segredo o meu amor por ti, meu queijinho de Minas! Mas tu não colaboras, Eurípedes, nunca tiveste a coragem de dizer que me amas! Sempre dizes que sou a tua melhor amiga e confidente...
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
Quando tu me escreveste dizendo que irias relaxar por uns dias na Cidade Maravilhosa, eu logo vi que coisa boa não seria... aquela cidade cheia de tentações! Mas daí a tu conheceres um lorde inglês e por ele te encantares, no início da viagem... Pê, isso é demais para o meu pobre coração!
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Lerno Tifão era apaixonado por mim e não largava do meu pé! Eurípedes ficava doido de ciúmes... Por isso, eu tenho certeza de que no fundo ele também me ama. Lembro-me de uma tarde, numa praça, bem próximo da faculdade, Eurípedes fez menção de pegar na minha mão, mas Lerno Tifão chegou bem na hora, com uma caixa de bombons de chocolate e licor...
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
Diga, Perséfone, pelo amor de Deus, que isso é apenas um pesadelo, que não existe Sir Oliver nenhum, que é tudo fruto de uma insolação que tu pegaste na praia de Copacabana...
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Eu era tão imatura... atirei-me em direção àquela caixa de bombons de chocolate e licor, engoli todos de uma só vez e quase fiquei de porre... Eurípedes ficou sem jeito... e nunca mais tentou pegar na minha mão...
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
Mas que chatice é essa de amiga e confidente, meu amor? Eu daria tudo para que tu pegasses na minha mão, beijasses os meus lábios... Ah! Perséfone! Eu te amo secretamente desde os nossos tempos de faculdade... E agora o que faço eu da vida, com esse pedido de casamento do Sir Oliver!
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Lerno Tifão vinha sempre com as suas caixas de bombons de chocolate e licor da loja mais cara da cidade!
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
Isso parece um pesadelo! Basta o que eu já passei nos tempos de faculdade, tendo de disputar a atenção de Perséfone com aquele crápula do Lerno Tifão...
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
No passado, havia o fantasma do Lerno, aquele chato a me perturbar com os seus galanteios e as suas caixas de bombons de chocolate e licor... Agora, surge Sir Oliver em minha vida, com esta proposta de casamento... To be or not to be!
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
E como a desgraça nunca vem sozinha, minha livraria está em estado quase falimentar, com os melhores títulos mofando nas estantes. Ninguém mais lê os clássicos! Shakespeare, Dante, Homero, Cervantes, Kafka, Proust, Joyce... ninguém mais dá bola para um bom livro.
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Meu coração está dividido entre o meu amor secreto por Eurípedes e a proposta de casamento feita por Sir Oliver...
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
Quando os clientes entram na livraria, é para comprar livros de autoajuda! Ou aquelas bobagens do Pedro Lebre... O que dizer dos idiotas, incultos, que perguntam se vendemos clips, borrachinhas de dinheiro ou carregadores para os seus iPhones!
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Sir Oliver quer morar em Stratford-upon-Avon, a terra de Shakespeare... e que mulher e amante dos clássicos da literatura desprezaria uma oportunidade como essa? Viver na terra de Shakespeare... sentir-se como Anne Hathaway...
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
O que eu farei da minha vida, Perséfone? Eu agora entendo por que certos escritores se suicidam!
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Logo estarei com Eurípedes, eu prometi que o visitaria na sua livraria, um lugar que eu adoro! E meu amor secreto por Eurípedes? E o pedido de casamento do Sir Oliver? To be or not to be...
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
Devo me suicidar? Ernest Hemingway, um dos maiores escritores de todos os tempos, os senhores e senhoras sabem... que escreveu Por quem os sinos dobram, estourou os miolos com uma espingarda calibre doze de dois canos...
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Quem sabe o melhor seja eu me suicidar... a escritora Virginia Woolf se matou de tristeza... simplesmente entrou num rio, vestida num casaco, com os bolsos cheios de pedras... Ah, Eurípedes, lembras quando lemos juntos Mrs. Dalloway, de Virginia?... Clarissa Dalloway vagando o dia inteiro pelas ruas na Londres...
Eurípedes: (Para a plateia.)
Dentro de alguns dias, eu terei de fechar as portas da minha livraria, porque as pessoas só querem comprar bobagens! E tu precisavas inventar de se casar com Sir Oliver e ir morar na terra de Shakespeare... logo agora?
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
O trauma de juventude de Eurípedes foi quando Lerno Tifão, no dia de nossa formatura, anunciou que iria para Londres, para abrir uma rede de livrarias, com o dinheiro do seu pai... Eurípedes ficou tão enciumado...
(Toca a campainha da livraria e entra um cliente – Eurípedes vai ao seu encontro.)
Eurípedes:
Está chegando um cliente na livraria... Muito bem-vindo, cavalheiro! Procura algum livro em especial? Eu posso lhe recomendar uma obra excelente de Thomas Mann... já leu A Montanha Mágica? É uma história fascinante sobre as mortes pela tuberculose num sanatório na Suíça. Ah! Eu adoro o jovem Castorp!
O quê? Não deseja comprar livro nenhum? Apenas um apontador de lápis, daqueles bem baratinhos... não, nós não temos apontadores, meu senhor. Perfeitamente... mas volte sempre...
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Eu mal posso esperar por meu reencontro com Eurípedes! Eu lembro quando nós dois lemos juntos os contos de Jorge Luis Borges? A Biblioteca de Babel...
Eurípedes: (Dirigindo-se à plateia.)
Lembro de Perséfone e eu a brincar de fazer metáforas... Os olhos e as estrelas! O tempo e o rio! A mulher e a flor! A morte e a eternidade! Eu custo a entender como as pessoas não conseguem sentir o prazer imenso que emana de uma boa leitura...
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Estou louca para chegar na livraria e contar ao Eurípedes que reli O Livro da Selva, de Kippling! Ah! O Livro da Selva! E as histórias de Mogli, o jovenzinho indiano criado pelos lobos! Imagino que os clientes de Eurípedes sejam todos tão letrados!
Eurípedes: (Toca a campainha e entra outra cliente na livraria.)
Por gentileza, pode entrar, senhorita! Seja muito bem-vinda! Temos livros para os melhores gostos! De Os Miseráveis, de Victor Hugo, a Cidades Invisíveis, de Italo Calvino!
(Fica desapontado.)
Ah, sim... claro... entendi perfeitamente. A senhorita deseja um livro que facilite a sua aprovação no exame para secretária executiva de uma empresa de navegação? Não, não temos...
Pensando melhor, quem sabe uma edição de Moby Dick, de Herman Melville? A obra se passa no mar... Não? E que tal O Velho e o Mar, do Hemingway... é um clássico marítimo... peixe é o que não falta...
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Mal posso esperar por minha visita à livraria do Eurípedes! Deve estar repleta de clientes, escolhendo romances, adquirindo livros de aventuras, disputando os melhores livros de contos e de poesias...
Eu posso antever a presença de uma jovem, cheia de curiosidade sobre a vida, a solicitar a Eurípedes uma obra de Faulkner!
(Censurando a plateia.)
O quê? Nenhum de vocês leu Faulkner? Nem desconfiam quem seja ele? Nem ao menos O som e a fúria?
Eurípedes: (Toca a campainha e entra outra cliente.)
Passe, pois não, senhorita! Bem-vinda à nossa livraria... uma caixa de clips? Não temos, não...
Imagino que a senhorita adorará ler uma obra de D.H. Lawrence... Já leu O amante de Lady Chatterley?
Não? É uma história sobre uma jovem quase da sua idade, cheia de sonhos, Connie era o seu nome. O marido era um aristocrata e logo após o casamento ele é convocado para a guerra...
Não está interessada? Nem deseja saber que o marido de Connie volta da guerra paralítico? E que ela encontra o amor nos braços do guarda-caças da propriedade – Oliver Mellors?
(Para a plateia.)
Ah! Oliver! Oliver! Esse nome me persegue! O tal lorde inglês pretendente de Perséfone se chama Sir Oliver. Eu não resistirei... pena eu não ter comigo a espingarda de dois canos do Hemingway...
Perséfone: (Para a plateia.)
Oliver! Sir Oliver! O que eu faço com o pedido de casamento do Sir Oliver? Se ao menos ele fosse Oliver Mellors, o guarda-caças por quem Lady Chatterley se apaixonou na obra de D.H. Lawrence!
Uma vez casados, Sir Oliver e eu viveremos em Stratford-upon-Avon, a terra de Shakespeare! Sir Oliver e eu... que susto! Devo ou não me casar com ele, se o meu coração pertence a outra pessoa...?
Eurípedes: (Triste, para a cliente.)
O quê? A senhorita nunca ouviu falar de D.H. Lawrence, nem de sua obra O amante de Lady Chatterley? Tampouco de Herman Melville, autor de Moby Dick?
Nunca ouviu falar do capitão Ahab, com uma perna artificial feita de marfim, o mesmo marfim que é retirado das baleias? Como aquela que lhe arrancou a perna, a tal Moby Dick?
Perséfone: (Dirigindo-se à plateia.)
Terá Sir Oliver a mesma determinação do capitão Ahab, de Moby Dick? O capitão dizia a todos no navio que ele iria procurar e enfrentar a enorme baleia branca... que havia arrancado a sua perna!
Eurípedes: (Desapontado com o desinteresse da cliente.)
A senhorita nem quer saber se o capitão Ahab encontra ou não a baleia Moby Dick e os dois lutam por três dias?
Perséfone: (Para a plateia.)
Moby Dick afunda o bote de Ahab, mas ele sobrevive. A baleia quebra a sua perna de marfim!
Eurípedes: (Para a plateia.)
No terceiro dia, Ahab finalmente acerta Moby Dick com o seu arpão, mas a baleia novamente vira o seu bote. E o barco começa a afundar...
Perséfone: (Para a plateia.)
Teria Sir Oliver a mesma valentia e obstinação do capitão Ahab ao enfrentar a baleia Moby Dick?
Eurípedes: (Para a plateia.)
Num ato aparentemente suicida, o capitão lança o seu arpão em direção ao corpo da baleia e os dois ficam enroscados na linha de pescar e submergem juntos, morrendo –