Hadley e Grace
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Hadley e Grace - Suzanne Redfearn
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
Elaborado por Lucio Feitosa - CRB-8/8803
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura americana 823
2. Literatura americana 821.111(73)
Versão digital publicada em 2024
www.cirandacultural.com.br
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Esta obra reproduz costumes e comportamentos da época em que foi escrita.
Para Skipper Carrillo: o Sr. Beisebol original
Hadley
O relógio marca 12h52, o que significa que restam oito minutos para pegar os cupcakes. Bastante tempo. Ainda assim, Hadley sente seu pulso disparar. Ela olha para as duas mulheres na frente dela, ansiando para que a fila ande mais rápido. Hadley não gosta de se atrasar.
A mulher em frente ao balcão está com dificuldades para se decidir.
– Humm, o especial de hoje é de cheesecake de morango, então? – ela pergunta pela terceira vez. É uma mulher mais velha, de cabelos grisalhos e postura curvada.
A atendente, uma garota de no máximo dezesseis anos, dá um sorriso paciente:
– Isso, mas, se sua neta quiser apenas de morango, temos dele também.
– Ela me disse morango – a senhora responde com a voz insegura, agarrando com mais força sua bolsa preta e puída, possivelmente tão antiga quanto Hadley.
A impaciência da outra mulher, que está logo em frente a Hadley, fica evidente. Na casa dos quarenta e vestida como uma executiva, ela cruza os braços e segura uma carteira Prada, batendo nela com a unha do dedo indicador, pintada de tom nude.
O telefone de Hadley vibra, e ela olha para baixo. Mensagem de Frank:
Tudo certo com a caminhonete? O Mercedes vai ser entregue hoje à tarde. Como estão as coisas por aí?
– Estou em dúvida. Realmente o de cheesecake é muito bonito – a vovó diz. – Ela tem seis anos. Eu disse a você que hoje é aniversário dela?
A senhora Prada revira os olhos. Sim, a vovó já havia dito que era o aniversário da neta. Também contou que ela está fazendo seis anos e que a família vai comemorar com um piquenique no parque ao lado do apartamento da filha. A filha levará pizza; ela, o cupcake da Sprinkles de sobremesa.
Hadley queria dizer à mulher para comprar o tradicional de morango mesmo, não o especial. Se é isso o que a neta pediu, então é isso que ela estará esperando, e qualquer coisa diferente de morango será decepcionante.
Morango sempre foi o favorito de Mattie também.
"Molango", ela costumava balbuciar ao responder sobre seu sabor preferido, não importasse se para cupcake, sorvete ou gelatina. E Mattie ficaria decepcionadíssima se ganhasse o cupcake de cheesecake de morango, principalmente se isso acontecesse justo no aniversário dela.
– O de cheesecake é muito bom mesmo – a atendente diz, tentando ser prestativa. Ela o exibe. A cobertura cor-de-rosa é decorada com granulado vermelho e coroada com uma bala no formato de morango. Ao lado dele, o cupcake simples de morango literalmente empalidece: cobertura creme, sem granulado, sem bala no topo, nada.
Hadley volta a atenção para o celular e envia uma resposta para o marido.
Tá tudo bem com a caminhonete, e eu tô ok, desde que eu não fique pensando muito nisso.
Hadley sente a mentira no peito ao apertar o botão de enviar mensagem. A resposta de Frank é imediata:
Aguenta firme. Amo vc.
A senhora Prada deixa escapar um suspiro alto, e a vovó vira o rosto, encontrando o olhar fulminante lançado contra ela. Voltando-se para a atendente, gagueja:
– Está b… Está bom. Vou ficar com o especial.
Ela segue para a caixa arrastando os pés, enquanto a senhora Prada balança a cabeça e para em frente ao balcão. Sucinta e num tom um tanto alto, ela recita de uma só vez o que vai levar, como se demonstrasse como um pedido de cupcakes realmente deve ser feito.
O telefone de Hadley vibra:
Amo vc!!!
– Como posso te ajudar? – a atendente pergunta.
Hadley sente que a senhora Prada está de olho nela, julgando suas habilidades em pedidos de cupcakes.
Ela enfia o telefone no bolso e diz rapidamente:
– Duas dúzias de marshmallows de chocolate, duas dúzias de morango, uma dúzia de red velvet e uma dúzia de baunilha.
E se segura para não olhar para a senhora Prada em busca de aprovação.
A vovó tira moeda por moeda da bolsa, e a moça da caixa sorri pacientemente. Hadley chega à conclusão de que gentileza deve ser o pré-requisito número um para quem se candidata a uma vaga de emprego naquele tipo de estabelecimento e quer elogiar o gerente pelas contratações. Este seria um belo primeiro emprego para a Mattie, ela pensa, no mesmo instante em que se dá conta de que não. Se Deus quiser, as duas vão estar bem longe dali quando Mattie tiver idade para trabalhar.
Hadley sussurra para a garota no balcão:
– Você pode pegar mais dois de morango, por favor? E colocar cada um em uma embalagem separada?
O telefone dela vibra de novo, mas Hadley o ignora. Ela não quer empacar a fila por não estar pronta para pagar quando sua vez chegar. Hadley consegue até imaginar Frank olhando para a tela do celular, segurando-o entre as mãos apertadas, polegares posicionados e sobrancelhas franzidas, esperando pela resposta.
A senhora Prada sai com seus cupcakes, nariz empinado, e Hadley sente uma pontada de prazer ao ver a mancha de batom no colarinho dela, sabendo que batons, especialmente os vermelhos, são muito difíceis de tirar.
Hadley faz o pagamento, olha para o relógio e sai correndo da loja. Ela está dois minutos atrasada, mas pode compensar se cortar caminho pela galeria de lojas, em vez de esperar no semáforo.
Passando os olhos por todo o estacionamento, ela finalmente avista a vovó, que acabou de entrar em seu carro.
– Com licença – Hadley diz, caminhando apressadamente na direção dela.
A senhora olha para cima, e Hadley se surpreende com os resquícios de beleza naquele velho rosto. Os vívidos olhos azuis da mulher são emoldurados por magníficas bochechas que ainda conservam seu rubor, e, por um instante, Hadley se lembra da própria mãe.
– A garota da loja pediu para eu entregar à senhora – Hadley diz, segurando um dos cupcakes de morango. – Ela queria ter certeza de que a sua netinha ganharia o cupcake que queria e se sentiu mal por a senhora precisar escolher.
Os belos olhos da vovó se alargam:
– Ela fez isso?
Hadley confirma. Ela sempre foi uma excelente mentirosa.
O alívio inunda o rosto da senhora, a ponto de seus olhos marejarem.
– Espero que sua netinha goste.
Depois disso, Hadley sai às pressas, com o coração repleto daquela maravilhosa sensação que se tem ao fazer uma boa ação.
O telefone vibra mais uma vez. Hadley o tira do bolso enquanto corre para a caminhonete de Frank, e as sacolas de cupcake batem em suas pernas.
AMO VC????
Mas que merda, onde você tá? Eu disse AMO VC.
AMO VC. AMO VC. AMO VC!!!
Hadley responde:
Amo vc também. É que tava pagando os cupcakes.
Frank responde com dois emojis, uma carinha feliz e um coração, e ela fecha os olhos, solta um suspiro profundo, depois entra na caminhonete rumo à escola de Skipper. É a festa de despedida dele.
Grace
Isso. Isso, isso, isso!
Homem de palavra, Jerry prometeu que o contrato chegaria antes do fim do dia, e há três minutos, precisamente às 13h28, o fax despertou e começou a liberar suas preciosas páginas.
Grace beija o contrato, rodopia e o beija mais uma vez. Depois olha para a foto em sua mesa – um retrato de Jimmy, Miles e ela em frente ao Estádio dos Angels – e dá um joinha.
É até difícil acreditar que aquela foto foi tirada havia apenas dois meses. Miles era tão pequenininho que praticamente cabia na palma da larga mão de Jimmy, que veste sua farda do exército e sorri orgulhoso. Era o fim de semana do feriado do Dia dos Presidentes, e todas as famílias de militares ganharam ingressos para o jogo dos Angels. Jimmy estava em casa para o funeral da mãe, um evento tanto triste quanto confortador. A mãe de Jimmy estava sofrendo havia tempo demais e já não conseguia se lembrar nem dele nem de seu irmão, Brad.
Enquanto dança com o contrato em mãos rumo à sala de Frank, a sola do sapato de Grace, que se soltou havia uma semana, fica agarrada no carpete. Ela chegou a remendá-la com supercola, mas naquela manhã, mais uma vez, a sola descolou. Talvez à noite, depois de pegar Miles, ela pare no Walmart e compre um par novo de sapatos para comemorar. Talvez até se dê um mimo, comendo fora – quem sabe uma pizza ou tacos de peixe? Sua boca saliva só de pensar. A última coisa que Grace comeu foi o muffin inglês que enfiou na boca às pressas ao sair de casa pela manhã. Ela não queria arriscar deixar o escritório para almoçar e não estar lá quando o contrato chegasse.
A batida na porta faz Frank levantar a cabeça.
– Negócio fechado – Grace diz, ao entrar na sala e colocar o contrato sobre a mesa dele.
– O que é isso?
– O contrato de sublocação do estacionamento de Jerry Koch no centro – ela diz, esforçando-se para não deixar transparecer a alegria que sente. – Foi preciso um pouco de persuasão… quer dizer, muita persuasão, na verdade… Mas aqui está, assinado, selado, entregue.
Ela quase chega a parodiar o último verso do hit de Stevie Wonder, mas se segura para não acrescentar "It’s yours".
Três meses. É esse o tempo que ela vem negociando, persuadindo e flertando com Jerry Koch, dono de um centro empresarial no centro de Laguna Beach.
A sublocação do estacionamento dele durante as noites e os fins de semana renderá de dois a três mil dólares semanais para a Aztec Parking, e dez por cento disso será de Grace – pelo menos mil por mês, doze mil por ano… a resposta às suas preces.
Frank pisca freneticamente diante da surpresa.
– Uau. Aquele velho filho da mãe finalmente foi convencido.
– Sim, o estacionamento todo. Aliás, noites, fins de semana e feriados.
Grace sente que seu coração está prestes a explodir. Quando ela propôs a ideia de sublocar o estacionamento de Jerry, Frank argumentou que seria perda de tempo. Ele mesmo já havia tentado, e o cara não demonstrara interesse. Grace disse que Frank provavelmente tinha razão quando afirmava ser perda de tempo, mas perguntou se, mesmo assim, poderia tentar. Frank disse para ela ficar à vontade e concordou com uma comissão de 10% se Grace conseguisse fechar o contrato.
E agora, aqui está ela, três meses depois, contrato em mãos. Um monte de ideias fervilha na cabeça de Grace com o que aquele dinheiro significará para ela e Jimmy: primeiro de tudo, pagar as dívidas de jogo de Jimmy para, finalmente, deixar de ter medo dos cobradores; segundo, comprar pneus novos para o carro dela; terceiro, tirar Miles daquela creche péssima em que ele está. E aí, talvez, em alguns meses, quando todas essas coisas tiverem sido resolvidas, eles possam pensar em um apartamento mais legal, um com uma banheira. Assim, Miles vai poder tomar banho nela, agora que já está com quatro meses e começando a se sentar.
Frank para na última página do contrato, e, ao observar os olhos dele subirem e descerem, toda a empolgação de Grace começa a ganhar contornos de nervosismo. Frank é o que a avó dela teria chamado de um moralista ardiloso – um duas caras sedutor que prega o evangelho, mas cuja própria palavra pode ir para uma direção ou outra. A avó dela não teria gostado muito de Frank Torelli, e menos ainda da ideia de Grace trabalhar para ele. Na verdade, ela não teria gostado muito de como a vida de Grace no geral se desenrolou depois de sua morte.
Frank abaixa o contrato e levanta a cabeça, encarando-a. Os olhos dele foram as primeiras coisas que Grace notou: de um castanho-escuro profundo, penetrantes e levemente desalinhados, como se estivesse olhando para você, só que não. Ele volta a colocar as costas no encosto da cadeira e cruza os dedos em frente ao rosto.
– Ótimo trabalho aqui, Grace. Mary disse mesmo que você era esperta.
Grace fica tensa com a menção à antiga chefe dela. Quando as dívidas de Jimmy os encurralaram e eles precisaram sair de Los Angeles às pressas, foi Mary quem ligou para Frank e perguntou se ele poderia contratar Grace depois que Miles nascesse. Aquela foi uma atitude extremamente generosa da parte dela, em especial por Grace precisar deixá-la assim tão de repente.
– Eu diria que as coisas se resolveram muito bem, não é? – Frank continua. – Bebê saudável. Marido indo bem.
Grace não diz nada, mas seu nervosismo só aumenta.
– O passado ficou para trás, e os tubarões não sabem nada sobre o paradeiro de vocês três agora.
Ela tenta não esboçar nenhuma reação, mas sabe que falhou pelo sorriso de Frank e pela ameaça não tão velada assim na declaração dele. O pessoal para quem Jimmy deve dinheiro é perigoso, e misturar-se com esses caras foi o maior erro da vida dele.
Frank arranca a última página do contrato, o acordo de comissão que promete a ela os dez por cento. Depois de dobrá-la precisamente ao meio, ele a desliza na direção de Grace.
– Fico feliz que as coisas estejam indo tão bem para você e sua família.
Grace não se move. Encará-lo é o único desafio que ela oferece, mas mesmo esse pequeno gesto é o suficiente para fazer o semblante de Frank fechar. Com os olhos também fixos nela, ele pega a folha e a amassa, atirando a bola de papel no cesto de lixo ao lado da mesa. Quando ele se vira, Grace baixa os olhos. Ela já foi ferrada vezes demais na vida e reconhece exatamente quando isso acontece.
Hadley
O alarme da caminhonete faz Hadley se dar conta de que a porta está entreaberta, com a chave ainda na ignição. Ela a tira, e o barulho para.
Hadley olha para os prédios baixos de tijolos à frente. É difícil acreditar que aquele é o último dia que ela virá dirigindo para cá, que parará neste estacionamento, que pegará uma de suas crianças depois da aula.
– Está vindo?
Ela se vira e vê Melissa Jenkins sorrindo da calçada e segurando uma bandeja de cookies com carinhas sorridentes.
Hadley pisca uma vez, depois várias vezes mais.
– Aham, claro – ela responde, sorrindo amarelo enquanto desce da caminhonete.
Melissa e Hadley se conhecem desde que Katie, a filha de Melissa, e Skipper eram bebês, e é a melhor amiga de Hadley.
Anos atrás, quando as duas se conheceram, tudo o que Hadley conseguiu ver foram as tatuagens de rosas nos braços de Melissa, suas unhas compridas e seus cabelos pretos góticos. Hoje, tudo o que Hadley vê ao olhar para a amiga é a mulher mais batalhadora e com o maior coração do mundo.
Melissa é uma viúva abastada, que herdou três concessionárias Harley-Davidson do marido. Ela comanda os negócios com punho de ferro e tem uma fraqueza por ex-detentos. Também cria três filhos adotivos, além da filha e do filho biológicos.
Melissa envolve os ombros de Hadley com o braço e dá um aperto encorajador na amiga.
– Aguenta firme, garota. O hoje não é para sempre. É apenas hoje.
Hadley esboça um sorriso. Mesmo tendo tido um mês para se acostumar com a ideia de Skipper ir embora, ela não está mais pronta para aceitar o fato hoje do que quando sua irmã ligou com a notícia de que se casaria e, portanto, estaria pronta para assumir a responsabilidade pela maternidade dele.
Elas são recebidas no pátio da escola com uma faixa pintada à mão onde se lê Boa sorte, Skipper!!! Vamos sentir sua falta!
.
Há um monte de mãozinhas de várias cores em volta dos dizeres, além da assinatura de quem deixou ali sua marca.
Hadley e Melissa ajeitam os doces na mesa que a escola disponibilizou para a festinha, e, logo depois, o sinal toca. As crianças saem aos montes e em disparada das salas do terceiro e quarto anos, e Hadley passa os olhos pelas cabeças delas, procurando por Skipper.
Ele é o último a sair da sala da senhora Baxter, caminhando devagar atrás dos outros, daquele jeitinho distraído e lento tão típico dele. O coração de Hadley se enche de alegria ao avistá-lo, como sempre acontece quando vê uma de suas crianças depois de um tempo longe delas.
– Ei, Blue – Skipper cumprimenta Hadley enquanto caminha na direção dela, com seus franzinos braços abertos, abraçando-lhe a cintura.
– Ei, Campeão – ela responde, beijando a cabeça dele. Ele cheira como sempre: a açúcar mascavo e suor, resultado de quando se come Cream of Wheat com açúcar de bordo no café da manhã e se é um garotinho de oito anos.
Por um tempo maior do que o de costume, ele continua abraçando Hadley, talvez por perceber a preciosidade daquele momento – ou talvez não. É difícil saber quanto das coisas Skipper entende. Embora o QI dele seja de apenas setenta e cinco, Hadley muitas vezes o acha a pessoa mais sábia que ela conhece, um ser abençoado, com uma visão e uma intuição muito além do seu quociente de inteligência.
Soltando-se dela, ele vai à mesa, pega um cupcake de marshmallow com chocolate, seu favorito, e vai se sentar em um banquinho ao lado do playground. Hoje ele está vestido com o uniforme do Dodgers – sempre com o número quarenta e quatro, independentemente do time, um tributo ao grande Hank Aaron, seu herói.
Enquanto come, sentado ali, ele repara nas crianças brincando. Um playground comum com crianças comuns, mas a forma como Skipper as olha é como se aquele fosse o lugar mais extraordinário do mundo. E, assim como ocorre com frequência quando o observa, Hadley o inveja, desejando ela mesma poder ver o mundo através daqueles olhos.
A calça do uniforme já está curta para ele, e Hadley faz uma nota mental para comprar uma nova. Então repensa. Vanessa precisará comprar uma nova. Sua garganta aperta, e as emoções afloram mais uma vez.
Assobiando e batendo palmas três vezes, a senhora Baxter reúne as crianças. Ela as conduz enquanto cantam Ele é um bom companheiro
em homenagem a Skipper, depois as enfileira para que cada uma possa dar um abraço de despedida nele.
Skipper é imensamente amado. Algumas das garotas choram. Uma delas lhe beija a face, dá um sorrisinho e sai correndo. Já Katie lhe dá um soquinho enquanto rouba seu boné, colocando-o de volta logo depois, com a aba virada para trás. Ele sorri. Ela faz a mesma coisa desde que os dois frequentavam a pré-escola. Como Skipper vai sentir falta dela! Katie é a melhor amiga de todas
, como ele costuma dizer.
Grace
O Honda resmunga, mas felizmente dá a partida, e Grace sai do estacionamento rumo à rodovia Laguna Canyon. Sua dor de cabeça só aumenta quando ela se vê em meio a um engarrafamento.
Negocie com o diabo, e você vai se queimar. Ela até imagina a avó balançando a cabeça enquanto diz essas palavras. Você sabia quem era esse homem. O que mais estava esperando?
Ela ri sarcasticamente olhando para o céu nublado, desejando que a avó a deixasse em paz e ficasse fora disso. Mas é claro que ela sabia quem o Frank era. Ela apenas esperava que talvez, só dessa vez, as coisas fossem diferentes.
Grace olha para o marcador de combustível, depois para a fila de carros à frente, e seu estresse aumenta. A creche espera quinze minutos depois do horário antes de começar a cobrar taxas de atraso exorbitantes de dez em dez minutos. Ela ainda está dentro do período de carência, mas o ponteiro do marcador anda mais rápido que o trânsito.
Sem escolha, Grace vai para o acostamento e passa pelos carros para parar no posto da esquina. A bomba da esquerda está em manutenção, e a seguinte só aceita pagamento em dinheiro. Resta disponível, então, apenas a bomba de trás.
Grace manobra para voltar e está a apenas poucos metros da bomba quando uma moto acelera na frente dela e chega primeiro. Ela buzina, e o motociclista se vira ao descer, dando de ombros e sorrindo de um jeito que enfurece Grace, como se dissesse não estou nem aí
. Ela está prestes a buzinar de novo quando mais três motos estacionam ao lado dele.
O primeiro motociclista começa a abastecer enquanto o último vai para a loja de conveniência. Grace solta fogo pelas ventas, controlando-se para não pisar no acelerador e passar por cima dos três ali mesmo, junto das quatro Harleys.
Grace descansa a testa nas mãos, que seguram o volante, e seus olhos se enchem de lágrimas de frustração e raiva. Chorar não ajuda em nada. Ela levanta os olhos mais uma vez para o céu.
Na frente dela, os motociclistas fazem gracinhas, jogando lixo uns nos outros e fumando. Embora pareçam ter mais ou menos a mesma idade que ela, ao contrário de Grace, não parecem se importar com nada ao redor. Vestem roupas de couro e estão com as motos carregadas com alforjes e sacos de dormir. Provavelmente estão em uma viagem. Grace odeia admitir, mas a verdade é que eles lembram um pouco Jimmy.
Se Jimmy não a tivesse conhecido e logo depois se alistado no exército, essa poderia perfeitamente ter sido a vida dele, curtindo com os amigos sem grandes preocupações. Ele sempre foi mais feliz na estrada, vagando sem rumo pelo país. A lua de mel dos dois foi uma viagem de um mês a bordo da Harley dele pelo litoral, depois passando por Utah e Las Vegas, possivelmente a mesma rota que esses caras aqui estão fazendo. A lembrança diminui a ira de Grace por eles.
A bomba apita, mas eles não estão prestando atenção, então Grace dá uma leve buzinada, de um jeito amigável, só para avisá-los de que é hora de deixar de brincadeira para que, enfim, ela consiga abastecer antes que vá à falência com as taxas da creche que se acumulam a cada precioso minuto desperdiçado.
O primeiro motociclista olha para cima, aperta os olhos para vê-la melhor através do para-brisa e então chacoalha o quadril e faz um movimento de língua digno da Miley Cyrus. A raiva de Grace cresce, e ela chega à conclusão de que esses idiotas não têm nada a ver com Jimmy. Grace afunda a mão na buzina, apertando-a por tanto tempo, e com tanta força, que é arriscado que a bateria do carro descarregue.
O atendente a encara, assim como as pessoas na calçada. Já o motoqueiro ri da cara dela, e os amigos se juntam a ele, todos se divertindo demais com o quanto ela está irada.
O homem que havia saído para ir à loja de conveniência volta, trazendo um energético e donuts de chocolate. Ele tira a bomba de uma das motos, colocando-a na dele, e é provável que tenha sentido a raiva de Grace de longe, pois levanta os olhos e então inclina a cabeça ao ver o olhar fulminante dela. Achando tudo uma grande diversão, ele sorri e pisca. Aquele pequeno gesto é quase o suficiente para fazer Grace perder a cabeça. O pé dela pula para o acelerador, enquanto a mão ameaça ligar o carro, em um desejo quase incontrolável de jogá-lo no chão.
E então, um instante apenas antes de Grace dar a partida, sua mão e seu pé param, com a pequena voz da razão que ela quase sempre lamenta não ter ouvido gritando para ela que atropelar quatro motociclistas e suas motos provavelmente não é a melhor atitude na atual conjuntura da vida. Com um suspiro profundo e um estremecimento pelo corpo, ela tira a mão da chave e volta o pé para o tapete do carro.
Depois do que pareceu uma eternidade, a outra moto finalmente termina de abastecer. Seu dono então coloca a bomba de volta no lugar, e os quatro montam em suas motos e vão embora.
Grace puxa o carro para a frente, coloca o cartão na máquina e digita a senha.
CARTÃO RECUSADO.
Ela pisca. Encara a máquina. E pisca mais uma vez quando uma sensação de pavor a domina.
Grace volta a colocar o cartão na máquina, só que mais devagar desta vez, irracionalmente pensando ou rezando para que uma abordagem mais gentil tenha o poder de mudar as coisas. Com o queixo tremendo e a decepção superando todas as outras emoções do dia, ela sabe, mesmo antes de a máquina a rejeitar mais uma vez, que Jimmy a deixou… os deixou… deixou ele mesmo… na mão. De novo.
CARTÃO RECUSADO.
– Vai começar a abastecer ou não? – pergunta um impaciente homem de meia-idade da janela de seu BMW.
Grace engole em seco, pega sua bolsa e a vasculha, conseguindo juntar quatro dólares em moedas. Ela sai para entregá-las ao caixa e, ao voltar para o carro, pensa em como será que Jimmy perdeu o dinheiro deles: pôquer, dados, aposta de boxe?
Não que isso importe agora. O que já foi, já foi.
Hadley
Hadley pica cebolas e tenta não pensar no dia de amanhã e em todas as consequências que ele trará. Príncipe Charles está deitado junto dela, um cobertor em forma de cachorro pesado e quente que envolve seus pés.
Frank lhe deu esse nome para fazer piada. Ele adorava a ideia de dar ordens a um membro da realeza. Pega, Príncipe Charles
, Senta, Príncipe Charles
. Para de soltar pum, Príncipe Charles
, Skipper adora dizer quando o cachorro libera seus gases, e isso nunca perde a graça.
Até Mattie entra na onda. Príncipe Charles fez xixi na caixa de correio do vizinho
, ela declara, depois de levá-lo para passear. Pega muito mal para o futuro rei.
Hadley mexe os dedos dos pés para acariciar a barriga do velho cão. Desculpa, amigão. Queria tanto poder te levar com a gente. Ela para de cortar, põe a faca de lado e esfrega o nó dos dedos no peito, massageando-o.
Olha para o cupcake de morango no balcão, que ainda está em sua bela caixa marrom com um adesivo colorido da Sprinkles, e sua determinação se fortalece. Não há outro jeito. Quinze anos esperando por isso… rezando por essa chance, e, agora, aqui está ela.
– É isso, Príncipe – ela diz.
Ele olha para cima.
– É agora ou nunca, e nunca não é uma opção.
Ela dá um suspiro profundo e separa as cebolas. Quando pega a massa da pizza na gaveta aquecida do fogão, a porta da frente se abre.
– Oi, meu amor – Hadley cumprimenta Mattie.
Silêncio. Só se ouvem os passos subindo as escadas. Príncipe Charles se esforça para levantar seu velho corpo e vai atrás de Mattie.
– Trouxe cupcake para você. De morango, o seu preferido.
A voz de Mattie é tão baixa que Hadley quase não a ouve, mas a audição dela sempre foi excepcional quando se trata de suas crianças.
– Não gosto mais do de morango desde quando eu tinha doze anos. Ela devia saber disso.
Hadley olha para o cupcake. Ela sabe disso, ou, pelo menos, costumava saber. Doce demais. O paladar da filha mudou depois de ela entrar para o ensino médio e tomar gosto pelo sabor do café: chai latte e café cubano agora são os únicos sabores de que ela gosta.
Depois de colocar o cupcake na geladeira, Hadley volta a preparar as pizzas, abrindo as massas e pondo a cobertura em cada uma: molho vermelho picante, calabresa e pepperoni para Frank; pimenta, cebola,