Antes que a maré volte a subir
()
Sobre este e-book
Relacionado a Antes que a maré volte a subir
Ebooks relacionados
Escafandro De Água Rasa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Cidade dos Segredos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistórias de fantasmas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs poemas dos Blythes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTrinta e três de agosto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Espera Nota: 5 de 5 estrelas5/5Velas Escarlates: conto feérico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLágrimas de Carne Nota: 5 de 5 estrelas5/5Essas Mulheres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOnde estavam os Anjos ? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasToda forma de amor - Vol. 2 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCaixa de Pandora: 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA vida de Mat Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDetetive à deriva Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Paixão dos Tweedie Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs parceiras Nota: 3 de 5 estrelas3/5Os Radicaes Livres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCantoras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNem A Poesia Salva Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFluviais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCamaleão Incolor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConfissões De Mulheres Apaixonadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPintor De Letras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Lucíola Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTraços e Iluminuras: Edição Anotada Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDom Segundo Sombra Nota: 4 de 5 estrelas4/5Dereck Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoemas tardios Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dois corações e um destino Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Memória das Recordações Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Contos para você
Só você pode curar seu coração quebrado Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Espera Nota: 5 de 5 estrelas5/5Procurando por sexo? romance erótico: Histórias de sexo sem censura português erotismo Nota: 3 de 5 estrelas3/5Quando você for sua: talvez não queira ser de mais ninguém Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Melhores Contos de Isaac Asimov Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNovos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Melhores Contos de Franz Kafka Nota: 5 de 5 estrelas5/5O meu melhor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Melhores Contos Guimarães Rosa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Rua sem Saída Nota: 4 de 5 estrelas4/5Felicidade em copo d'Água: Como encontrar alegria até nas piores tempestades Nota: 5 de 5 estrelas5/5O homem que sabia javanês e outros contos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Contos pervertidos: Box 5 em 1 Nota: 4 de 5 estrelas4/5Homens pretos (não) choram Nota: 5 de 5 estrelas5/5A bela perdida e a fera devassa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Acredite na sua capacidade de superar Nota: 5 de 5 estrelas5/5O cupcake da discórdia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos de Edgar Allan Poe Nota: 5 de 5 estrelas5/5Para não desistir do amor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dono do tempo Nota: 5 de 5 estrelas5/5O espelho e outros contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA dama de vermelho e o vagabundo de olhos azuis Nota: 5 de 5 estrelas5/5MACHADO DE ASSIS: Os melhores contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTCHEKHOV: Melhores Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDeixa a criança ser tímida Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Categorias relacionadas
Avaliações de Antes que a maré volte a subir
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Antes que a maré volte a subir - Rejane Oliveira
Para o Juva, os meus netos
e a minha mãe
Eu guardo em mim
Dois corações
Um que é do mar
Um das paixões
Um canto doce
Um cheiro de temporal
Eu guardo em mim
Um deus, um louco, um santo
Um bem e um mal
Danilo Caymmi
Prefácio
Antes que a maré volte a subir, livro de estreia solo de Rejane Oliveira, nos defronta com a contundência que uma literatura econômica — uma coletânea de contos breves — pode despejar sobre o leitor. É como a corren-teza, sob a espuma, que puxa para o fundo. Histórias que ora flutuam para os domínios do inconcebível, ora para o do desespero apaixonado. A entrega é rasgada, vingativa, impiedosa, cobrando o preço de tanto amor-próprio espatifado. Ou brutal, como a pancada do estouroda onda.
O mar é traiçoeiro, dizem. Aqui, vira um espelho para o leitor se mirar e ver seus segredos expostos sem pudor nas linhas que se encrespam aos seus olhos.
É de sentimentos e dos arroubos que nos impõem (e que nos amedrontam) que ela escreve. Há certo efeito teleguiado que os contos imprimem nas vísceras de quem os lê.
Por outro lado, não há heróis, nem figuras grandiosas. Como a insinuar que ninguém é miúdo demais para se esconder da dor (ou da paixão), seus personagens são quase corriqueiros. A não ser pelo que os move. Tão estranhos, alguns, que são quase nós mesmos, o que tememos nos tornar. Entretanto, é deixar-se sangrar um pouco para absorver. Há, sim, esse lado hemorrágico nas tramas, nos fluxos e nos refluxos da maré. Em algumas delas, o esvaimento não será estancado. Os personagens nos arrastam até a crista e, a seguir, despencamos. Vão a extremos, ao clímax. Nada se poupa, ninguém é poupado.
O mar nos fascina, leitores. Maré alta, maré cheia. Maré viva. Entremos!
Luiz Antonio Aguiar
Maré baixa
Hoje a maré só vaza às quatro. Não teremos muito tempo na ilha-cemitério — uma hora, no máximo duas. Anoitece cedo nesta época; e o escuro, como se sabe,
é amigo das almas do outro mundo.
A Matilde está na porta, impaciente.
— Calma, Tide, já termino de arrumar as flores.
Só uns minutinhos mais, o papai vai entender.
— A maré não aceita atrasos, Cotinha.
Desde que papai morreu do coração, já tem uns cinco anos, todo domingo é a mesma coisa. Quase na hora de sair, preparo o arranjo com as margaridas dormidas em água gelada, para durar mais tempo. Corto os caules do mesmo tamanho — mais ou menos dois palmos — e amarro tudo em um grande laço com uma fita de cetim. Meus buquês são os mais bonitos do cemitério.
Gostaria de fazer o mesmo por mamãe, mas vovó teimou em enterrar o corpo dela na capital, bem longe de nós. Vovó sempre consegue o que quer.
— Onde já se viu abandonar a filha num pedaço de terra perdido no meio do mar?
— Ela não vai ficar sozinha, dona Clô. A prima Dedé e a Maria Alzira estão enterradas lá. E nós três, eu e as meninas, vamos visitá-la toda vez que a maré permitir.
Os argumentos do papai não adiantaram.
Fomos à capital aquela única vez, para o enterro de mamãe, vestindo luto fechado. Vovó preparou tudo com muito luxo. Papai disse que ela aproveitava a morte da filha para compensar o desprezo com que a tratara em vida. Um monte de gente desconhecida aplaudiu o discurso bonito do padre, mas não reconheci minha mãe naquela mulher de quem ele falou. Bonita mesmo foi a revoada de pombos brancos no momento em que a terra descia sobre o caixão.
Quando o papai morreu, eu e a Matilde não tivemos dúvidas de enterrá-lo em Cabuya, a pouco mar de nossa casa. Ali poderíamos visitá-lo a cada maré baixa, quando as águas rasas descobrem o caminho de pedra até a ilha dos mortos, formando o que chamamos de Ponte do Além.
Dizem que o cemitério existe desde o tempo dos primeiros indígenas. O túmulo mais famoso é o da virgem decapitada pelo marido na noite de núpcias. Noivas de toda a Costa Rica vão à ilha em maio rezar pela mártir. Nunca se soube o motivo do crime. Antes de se enforcar, o assassino deixou apenas um bilhete com a palavra perdão
.
Apesar de histórias como essa, a ilha não é assombrada. Nos fins de semana, as famílias atravessam a ponte e reúnem-se aos parentes mortos. Estendem suas mantas coloridas em volta dos túmulos, cantando e dançando em longos piqueniques sobre as areias caribenhas. Antes que o mar volte a subir, recolhem o que levaram e voltam para casa em paz. À noite, e sobre isso não há discussão, o espaço pertence aos espíritos desencarnados.
As visitas ao cemitério marcam a lenta passagem do tempo para as duas irmãs. Até que certo dia, um
Domingo de Ramos, Matilde acorda ardendo em febre. Cotinha medica a outra com chás e simpatias, e desiste de ir a Cabuya. Muda de ideia na última hora, por insistência da irmã. Prepara o buquê de flores e, sozinha pela primeira vez, sai pela porta usando uma echarpe fina sobre seu vestido rosa de verão.
Encontra a ilha mais animada que o habitual. Seja pela data religiosa, seja pela temperatura amena, todos os mortos recebem visitas. A exceção de sempre é o
jovem soldado morto em combate e enterrado como desconhecido numa vala comum. Lá, longe dos canteiros bem-cuidados, o mato cresce arisco.
Naquela tarde, longe da vigilância cautelosa de Matilde, Cotinha divide as margaridas do pai em dois
maços. Com um deles, enfeita o túmulo do soldado.
Estende o xale no chão e se deita sobre a relva, oferecendo a pele à languidez do sol da tarde. Acorda uma hora depois para descobrir, apavorada, que a ilha está deserta. A Ponte do Além já fora encoberta pelo mar.
Grita por ajuda, mas só o silêncio responde. Naquele momento, o pôr do sol ainda alonga as sombras das lápides pelo