Com a introdução dos logaritmos pelo matemático e físico escocês John Napier em 1614, um grande estudo a respeito das suas propriedades surgiram, principalmente sobre logaritmos aplicados em pontos negativos. Essa pesquisa foi alavancada no século XVIII pelo matemático suíço Leonhard Euler e seu mentor Johann Bernoulli . Bernoulli acreditava que
log
(
−
x
)
=
log
(
x
)
{\displaystyle \log(-x)=\log(x)}
e, apesar do receio de Euler frente à essa relação, em uma das suas cartas, Euler constatou que: se
log
(
x
x
)
=
z
∴
1
2
z
=
log
(
x
x
)
{\displaystyle \log(xx)=z\therefore {\frac {1}{2}}z=\log({\sqrt {xx}})}
⟹
1
2
z
=
log
(
±
x
)
{\displaystyle \Longrightarrow {\frac {1}{2}}z=\log(\pm x)}
.[ 3]
No entanto, em 1746, em uma troca de cartas à Jean d’Alembert , Euler se mostra contrário à afirmação que
log
(
−
x
)
=
log
(
x
)
{\displaystyle \log(-x)=\log(x)}
e apresenta uma nova proposta a ser futuramente publicada e que daria origem à equação de Euler .
log
(
cos
θ
+
sen
θ
−
1
)
k
=
(
k
θ
±
2
m
k
π
±
n
π
)
−
1
{\displaystyle \log(\cos \theta +\operatorname {sen} \theta {\sqrt {-1}})^{k}=(k\theta \pm 2mk\pi \pm n\pi ){\sqrt {-1}}}
, em que
k
∈
R
{\displaystyle k\in \mathbb {R} }
e
m
,
n
∈
N
{\displaystyle m,n\in \mathbb {N} }
. [ 3]
Com essa equação, utilizando os valores de 1 para k e 0 para m e n, encontra-se a equação descrita por Roger Cotes em 1714,
log
(
cos
θ
+
sen
θ
−
1
)
=
θ
−
1
{\displaystyle \log(\cos \theta +\operatorname {sen} \theta {\sqrt {-1}})=\theta {\sqrt {-1}}}
e, portanto,
e
θ
−
1
=
cos
θ
+
sen
θ
−
1
{\displaystyle e^{\theta {\sqrt {-1}}}=\cos \theta +\operatorname {sen} \theta {\sqrt {-1}}}
No entanto, essas relações somente seriam oficialmente descritas por Euler em um artigo publicado em 1748 utilizando expansões de série exponenciais e expressões trigonométricas.
Prova utilizando cálculo
editar
O ponto negro representa um número complexo . Seu valor absoluto é "r", a distãncia da origem. Seu argumento é φ, seu ângulo em radianos
A função exponencial
e
i
π
{\displaystyle e^{i\pi }}
pode ser definida como o limite de uma sequência
(
1
+
i
π
n
)
n
{\displaystyle \left(1+{\frac {i\pi }{n}}\right)^{n}}
, quando n tende ao infinito . Nesta animação, "n" assume valores crescentes entre 1 e 100. À medida que n cresce,
(
1
+
i
π
n
)
n
{\displaystyle \left(1+{\frac {i\pi }{n}}\right)^{n}}
se aproxima de -1.
Ver artigo principal:
seno
Uma propriedade conhecida das funções exponenciais é que elas são iguais às suas derivadas:
d
d
x
e
x
=
e
x
{\displaystyle {\frac {\text{d}}{{\text{d}}x}}e^{x}=e^{x}}
, onde "x" é um número real .
As funções exponenciais com números complexos também satisfazem esta mesma propriedade[ 4] :
d
d
z
e
z
=
e
z
{\displaystyle {\frac {\text{d}}{{\text{d}}z}}e^{z}=e^{z}}
, onde "z" é um número complexo .
Portanto, pela regra da cadeia :
d
d
x
e
i
x
=
i
e
i
x
.
{\displaystyle {\frac {\text{d}}{{\text{d}}x}}e^{{\text{i}}x}={\text{i}}\,e^{{\text{i}}x}\ .}
Então definimos uma nova função , que chamaremos de "f":
f
(
x
)
=
(
cos
x
−
i
sen
x
)
⋅
e
i
x
.
{\displaystyle f(x)=(\cos x-{\text{i}}\operatorname {sen} x)\cdot e^{{\text{i}}x}\ .}
Pela regra do produto , que vale também para funções que tenham como imagem números complexos , a derivada de f(x) será::
d
d
x
f
(
x
)
=
(
cos
x
−
i
sen
x
)
⋅
d
d
x
e
i
x
+
d
d
x
(
cos
x
−
i
sen
x
)
⋅
e
i
x
=
(
cos
x
−
i
sen
x
)
(
i
e
i
x
)
+
(
−
sen
x
−
i
cos
x
)
⋅
e
i
x
=
(
i
cos
x
+
sen
x
−
sen
x
−
i
cos
x
)
⋅
e
i
x
=
0
.
{\displaystyle {\begin{aligned}{\frac {\text{d}}{{\text{d}}x}}f(x)&=(\cos x-{\text{i}}\operatorname {sen} x)\cdot {\frac {\text{d}}{{\text{d}}x}}e^{{\text{i}}x}+{\frac {\text{d}}{{\text{d}}x}}(\cos x-{\text{i}}\operatorname {sen} x)\cdot e^{{\text{i}}x}\\&=(\cos x-{\text{i}}\operatorname {sen} x)({\text{i}}e^{{\text{i}}x})+(-\operatorname {sen} x-{\text{i}}\cos x)\cdot e^{{\text{i}}x}\\&=({\text{i}}\cos x+\operatorname {sen} x-\operatorname {sen} x-{\text{i}}\cos x)\cdot e^{{\text{i}}x}\\&=0\ .\end{aligned}}}
Portanto, f(x) deve ser uma função constante em x. Já que f(0)=1 (o que pode ser facilmente descoberto substituindo-se x por 0 na função ),
1
=
(
cos
x
−
i
sen
x
)
⋅
e
i
x
.
{\displaystyle 1=(\cos x-{\text{i}}\operatorname {sen} x)\cdot e^{{\text{i}}x}\ .}
Multiplicando os dois lados por cos x + i senx , obtemos
cos
x
+
i
sen
x
=
(
cos
x
+
i
sen
x
)
(
cos
x
−
i
sen
x
)
⋅
e
i
x
=
(
cos
2
x
−
(
i
sen
x
)
2
)
⋅
e
i
x
=
(
cos
2
x
+
sen
2
x
)
⋅
e
i
x
=
e
i
x
.
{\displaystyle {\begin{aligned}\cos x+{\text{i}}\operatorname {sen} x&=(\cos x+{\text{i}}\operatorname {sen} x)(\cos x-{\text{i}}\operatorname {sen} x)\cdot e^{{\text{i}}x}\\&=(\cos ^{2}x-({\text{i}}\operatorname {sen} x)^{2})\cdot e^{{\text{i}}x}\\&=(\cos ^{2}x+\operatorname {sen} ^{2}x)\cdot e^{{\text{i}}x}\\&=e^{{\text{i}}x}\ .\end{aligned}}}
Prova utilizando série de Taylor
editar
Para o estudo da fórmula de Euler necessitamos do conhecimento de expansão em séries de potência. Introduziremos uma grande ferramenta, sem uma análise profunda, que é o seguinte conceito:
A expansão em série de Taylor de uma função analítica
f
(
x
)
{\displaystyle f(x)}
centrada em
a
{\displaystyle a}
é representada como:
f
(
x
)
=
∑
n
=
o
∞
C
n
(
x
−
a
)
n
{\displaystyle f(x)=\sum _{n=o}^{\infty }{C_{n}}{(x-a)^{n}}}
com
|
x
−
a
|
<
R
{\displaystyle |x-a|<R}
, onde
C
n
=
f
n
(
a
)
n
!
{\displaystyle C_{n}={\frac {{f^{n}}(a)}{n!}}}
Usando esse conceito de expansão e tomando
f
(
x
)
=
e
x
{\displaystyle f(x)=e^{x}}
em torno de
a
=
0
{\displaystyle a=0}
, teremos:
e
x
=
∑
n
=
0
∞
f
n
(
0
)
x
n
n
!
=
∑
n
=
0
∞
x
n
n
!
=
1
+
x
1
!
+
x
2
2
!
+
x
3
3
!
+
.
.
.
+
x
n
n
!
{\displaystyle e^{x}=\sum _{n=0}^{\infty }{\frac {{{f^{n}}(0)}{x^{n}}}{n!}}=\sum _{n=0}^{\infty }{\frac {x^{n}}{n!}}=1+{\frac {x}{1!}}+{\frac {x^{2}}{2!}}+{\frac {x^{3}}{3!}}+{...}+{\frac {x^{n}}{n!}}}
para todo
x
{\displaystyle x}
com intervalo de convergência de
(
−
∞
,
∞
)
{\displaystyle (-\infty ,\infty )}
.
Em
x
=
1
{\displaystyle x=1}
, na equação acima, obtém-se a expressão para o número
e
{\displaystyle e}
, como uma soma de uma série infinita:
e
=
∑
n
=
0
∞
1
n
!
=
1
+
1
1
!
+
1
2
!
+
1
3
!
+
.
.
.
{\displaystyle e=\sum _{n=0}^{\infty }{\frac {1}{n!}}=1+{\frac {1}{1!}}+{\frac {1}{2!}}+{\frac {1}{3!}}+{...}}
Se admitirmos a validade de substituirmos
x
{\displaystyle x}
por
i
x
{\displaystyle ix}
na equação obteremos:
e
i
x
=
∑
n
=
0
∞
(
i
x
)
n
n
!
=
∑
n
=
0
∞
(
−
1
)
n
⋅
x
2
n
(
2
n
)
!
+
i
∑
n
=
1
∞
(
−
1
)
n
−
1
⋅
x
2
n
−
1
(
2
n
−
1
)
!
{\displaystyle e^{{\text{i}}x}=\sum _{n=0}^{\infty }{\frac {({\text{i}}\,x)^{n}}{n!}}={\sum _{n=0}^{\infty }{\frac {{(-1)^{n}}\cdot {x^{2n}}}{(2n)!}}}+{\text{i}}\,{\sum _{n=1}^{\infty }{\frac {{(-1)^{n-1}}\cdot {x^{2n-1}}}{(2n-1)!}}}}
A primeira parte da soma da equação anterior (
e
i
x
{\displaystyle e^{ix}}
) é a expansão do
c
o
s
(
x
)
{\displaystyle cos(x)}
e a segunda é a expansão do
s
e
n
(
x
)
{\displaystyle sen(x)}
em série de Maclaurin . Assim teremos a equação que ficou conhecida como fórmula de Euler
e
i
x
=
cos
(
x
)
+
i
sen
(
x
)
{\displaystyle e^{{\text{i}}x}=\cos \left(x\right)+{\text{i}}\operatorname {sen} \left(x\right)}
que de forma mais generalizada pode ser escrita como:
e
i
u
x
=
cos
(
u
x
)
+
i
sen
(
u
x
)
{\displaystyle e^{{\text{i}}ux}=\cos \left(ux\right)+{\text{i}}\operatorname {sen} \left(ux\right)}
.
Prova usando integrais e trigonometria
editar
Todas as provas exigem uma definição para a função exponencial sobre números complexos. Nesta seção, admite-se que seja válida a seguinte generalização das integrais de números reais:
∫
d
x
x
−
k
=
ln
(
x
−
k
)
+
c
,
∀
k
∈
C
{\displaystyle \int {\frac {dx}{x-k}}=\ln(x-k)+c,\forall k\in \mathbb {C} }
Onde "c" é uma constante complexa. Essa integral define implicitamente o logaritmo de números complexos, logo, também define a função exponencial (ao menos, a propriedade da subtração de expoentes).
Sabe-se que a seguinte expressão é válida para todo
x
∈
R
{\displaystyle x\in \mathbb {R} }
:
1
x
−
i
−
1
x
+
i
=
2
i
x
2
+
1
{\displaystyle {\frac {1}{x-{\text{i}}}}-{\frac {1}{x+{\text{i}}}}={\frac {2{\text{i}}}{x^{2}+1}}}
Ao integrar a expressão acima em ambos os lados, obtém-se:
ln
(
x
−
i
x
+
i
)
=
2
i
arctan
(
x
)
+
c
{\displaystyle \ln \left({\frac {x-{\text{i}}}{x+{\text{i}}}}\right)=2{\text{i}}\arctan(x)+c}
Para alguma constante
c
∈
C
{\displaystyle c\in \mathbb {C} }
. Fazendo a substituição:
x
=
tan
(
y
2
)
{\displaystyle x=\tan \left({\frac {y}{2}}\right)}
, obtém-se:
ln
(
sen
(
y
2
)
−
i
cos
(
y
2
)
sen
(
y
2
)
+
i
cos
(
y
2
)
)
=
i
y
+
c
{\displaystyle \ln \left({\frac {\operatorname {sen}({\frac {y}{2}})-{\text{i}}\cos({\frac {y}{2}})}{\operatorname {sen}({\frac {y}{2}})+{\text{i}}\cos({\frac {y}{2}})}}\right)={\text{i}}y+c}
Ou seja:
e
i
y
⋅
e
c
=
sen
(
y
2
)
−
i
cos
(
y
2
)
sen
(
y
2
)
+
i
cos
(
y
2
)
=
[
sen
(
y
2
)
−
i
cos
(
y
2
)
]
2
sen
2
(
y
2
)
+
cos
2
(
y
2
)
=
[
sen
(
y
2
)
−
i
cos
(
y
2
)
]
2
=
sen
2
(
y
2
)
−
cos
2
(
y
2
)
−
2
i
sen
(
y
2
)
cos
(
y
2
)
=
−
cos
(
y
)
−
i
sen
(
y
)
{\displaystyle e^{{\text{i}}y}\cdot e^{c}={\frac {\operatorname {sen}({\frac {y}{2}})-{\text{i}}\cos({\frac {y}{2}})}{\operatorname {sen}({\frac {y}{2}})+{\text{i}}\cos({\frac {y}{2}})}}={\frac {\left[\operatorname {sen}({\frac {y}{2}})-{\text{i}}\cos({\frac {y}{2}})\right]^{2}}{\operatorname {sen} ^{2}({\frac {y}{2}})+\cos ^{2}({\frac {y}{2}})}}=\left[\operatorname {sen} \left({\frac {y}{2}}\right)-{\text{i}}\cos \left({\frac {y}{2}}\right)\right]^{2}=\operatorname {sen} ^{2}\left({\frac {y}{2}}\right)-\cos ^{2}\left({\frac {y}{2}}\right)-2{\text{i}}\operatorname {sen} \left({\frac {y}{2}}\right)\cos \left({\frac {y}{2}}\right)=-\cos(y)-{\text{i}}\operatorname {sen}(y)}
Agora apliquemos
y
=
0
{\displaystyle y=0}
:
e
0
⋅
e
c
=
−
1
⟺
e
c
=
−
1
∴
e
i
y
=
cos
(
y
)
+
i
sen
(
y
)
,
∀
y
∈
R
{\displaystyle e^{0}\cdot e^{c}=-1\iff e^{c}=-1\therefore e^{{\text{i}}y}=\cos(y)+{\text{i}}\operatorname {sen}(y),\forall y\in \mathbb {R} }
Referências
↑ a b SIMON, Carl P., e BLUME, Lawrence. Matemática para Economistas . Porto Alegre: Bookman, 2005. Reimpressão 2008. ISBN 978-85-363-0307-9 . Seção A3.4, páginas 871 e 872.
↑ John Stillwell (2002). Mathematics and Its History. Springer.
↑ a b Klyve, Dominic (2018). «The Logarithm of -1» . Digital commons Ursinus University. Consultado em 3 de dezembro de 2019
↑ Daniels, Doug. «Complex Differentiation» . Consultado em 15 de maio de 2011