250 1269 1 PB
250 1269 1 PB
250 1269 1 PB
SO FRANCISCO
Reitor
PROF. DR. JULIANELI TOLENTINO DE LIMA
Vice-Reitor
PROF. DR. PROF. DR. TLIO NOBRE LEITE
Pr-Reitora de Extenso
PROF. DRA. LUCIA MARISY SOUZA RIBEIRO DE OLIVEIRA
Pr-Reitor de Pesquisa, Ps-Graduao e Inovao
PROF. DR. HELINANDO PEQUENO DE OLIVEIRA
Pr-Reitor de Ensino
PROF. DR. LEONARDO RODRIGUES SAMPAIO
Pr-Reitora de Assistncia Estudantil
ASSISTENTE SOCIAL ISABEL CRISTINA SAMPAIO ANGELIM
Pr-Reitor de Oramento e Gesto
PROF. DR. ANTNIO PIRES CRISSTOMO
Pr-Reitor de Planejamento e
Desenvolvimento Institucional
PROF. ME. JOS RAIMUNDO CORDEIRO NETO
PR-REITORIA DE EXTENSO
Pr-Reitora de Extenso
PROF. DRA. LUCIA MARISY SOUZA RIBEIRO DE OLIVEIRA
Diretor de Extenso
PROF. DR. WAGNER PEREIRA FLIX
Diretor de Arte, Cultura e Ao Comunitria
PROF. ME. EURICLSIO BARRETO SODR
Diretor do Espao Cincia e Cultura
PROF. DR. MILITO FIGUEREDO
Tcnico do Espao Cincia e Cultura
ROGER FAZOLLO - BILOGO
Assistente em Administrao Gabinete da Pr-Reitoria
EDILCIA BARROS DA SILVA
Assessora da Pr-Reitoria
JACKELINE FERREIRA GOMES
Assistente de Apoio s Atividades de Estgio
MARIANA FILGUEIRAS VIEIRA
Assistente de Apoio s Atividades de Extenso
RUTH MORAIS NUNES DE AMORIM
Auxiliar Administrativo
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Estagirios Coordenao de Estgio
EDUARDO NEVES ROCHA DE BRITO
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Estagirios Diretoria de Extenso
BRUNA SANTOS SIQUEIRA Cursos de Idiomas
GRAZIELE QUILA DE SOUZA BRANDO Ligas Acadmicas
ROMULLO ABIZAIR AMNCIO DOS SANTOS
Estagirios Diretoria de Arte
BRUCE WAGNER AMORIM PEREIRA
CAROLINE MOREIRA BACURAU
DRIO PEIXOTO WANDERLEY JNIOR
RODRIGO GOMES WANDERLEY
COMISSO EDITORIAL
Editor Responsvel
PROF. DR. FULVIO TORRES FLORES
Editor de Layout
PROF. ESP. CECILIO RICARDO DE CARVALHO BASTOS
CONSELHO EDITORIAL
PROFA. DRA. DARIZY FLVIA VASCONCELOS
UFBA - Universidade Federal da Bahia
PROF. DR. FRANCISCO ROBERTO CAPORAL
UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco
PROFA. DRA. GHISLAINE DUQUE
UNIVASF - Universidade Federal do Vale do So Francisco
PROFA. DRA. GISELE GIANDONI WOLKOFF
UTFPR - Universidade Tecnolgica Federal do Paran
PROF. DR. DR. H.C. HANS-JOACHIM APPELL CORIOLANO
DSHS - Deutsche Sporthochschule Kln
PROF. DR. HELINANDO PEQUENO DE OLIVEIRA
UNIVASF - Universidade Federal do Vale do So Francisco
PROFA. DRA. HOSANA DOS SANTOS SILVA
UNIFESP - Universidade Federal do Estado de So Paulo
PROFA. DRA. JOSEFA SALETE BARBOSA CAVALCANTE
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
PROF. DRA. LCIA MARISY SOUZA RIBEIRO DE OLIVEIRA
UNIVASF - Universidade Federal do Vale do So Francisco
PROFA. DRA. MARCIA BENTO MOREIRA
UNIVASF - Universidade Federal do Vale do So Francisco
PROFA. DRA. SIMONE MALAGUTI
LMU - Ludwig-Maximilians-Universitt Mnchen
PARECERISTAS AD HOC
v. 1, n. 1, jan./jul. 2013
PROFA. DRA. ALINE RODRIGUES BARBOSA (UFSC)
PROFA. DRA. ALVANY MARIA DOS SANTOS SANTIAGO (UNIVASF)
PROFA. DRA. ANA KARENINA DE MELO ARRAES AMORIM (UFRN)
PROF. DR. ANTONIO FERNANDO PEREIRA FALCO (UFBA)
PROF. ME. ANTONIO PEREIRA FILHO (UNIVASF)
PROF. DR. CLAUDIO ROBERTO DOS SANTOS DE ALMEIDA (UNIVASF)
PROF. DR. DANIEL SALGADO PIFANO (UNIVASF)
PROFA. DRA. DARIZY FLVIA S. AMORIM DE VASCONCELOS (UFBA)
PROFA. DRA. ELIZABETH FERREIRA MARTINEZ (SLMANDIC)
PROFA. DRA. ELZA FTIMA ROSA VELOSO (FMU-SP)
PROF. ME. FBIO HENRIQUE DE CARVALHO (UNIVASF)
PROFA. DRA. FAN HUI WEN (Instituto Butantan)
PROFA. DRA. FLVIA HELENA M. DE A. FREIRE (UnP)
PROF. DR. FULVIO TORRES FLORES (UNIVASF)
PROFA. DRA. GHISLAINE DUQUE (UNIVASF)
PROFA. DRA. GISELE GIANDONI WOLKOFF (UTFPR)
PROFA. DRA. GRAZIELA MARIA LISBOA PINHEIRO (ONG-Sapuca)
PROF. DR. HELDER RIBEIRO FREITAS (UNIVASF)
PROF. DR. HELINANDO PEQUENO DE OLIVEIRA (UNIVASF)
PROFA. DRA. HOSANA DOS SANTOS DA SILVA (UNIFESP)
PROFA. DRA. IVANA CRISTINA LOVO (UFMG)
PROFA. DRA. IVANISE MARINA MORETTI REBECCHI (UFRN)
PROFA. DRA. JANAINA CARLA DOS SANTOS (UNIVASF)
PROCURADORA JOANILE GUIMARES VERDUGO (PGE-PE)
PROF. DR. JOO ALVES DO NASCIMENTO JNIOR (UNIVASF)
PROF. DR. JORGE LUIS CAVALCANTI RAMOS (UNIVASF)
PROF. DR. JOS SILVEIRA FILHO (Pref. Mun. Fortaleza/UFC)
PROFA. DRA. KARLA PATRICIA DE OLIVEIRA LUNA (UEPB)
PROFA. DRA. LARA ELENA GOMES (UNIVASF)
PROFA. MA. LUCIANA PAULA FERNANDES DUTRA (UNIVASF)
PROFA. DRA. LUZANIA BARRETO RODRIGUES (UNIVASF)
PROF. DR. MARCELO DE MAIO NASCIMENTO (UNIVASF)
PROF. DR. MARCELO SILVA DE SOUZA RIBEIRO (UNIVASF)
PROFA. DRA. MARCIA BENTO MOREIRA (UNIVASF)
PROF. ME. MARCUS VINCIUS MIDENA RAMOS (UNIVASF)
PROFA. MA. MARIA DAS GRAAS CLEOPHAS PORTO (UNIVASF)
PROFA. DRA. MICHELY CORREIA DINIZ (UNIVASF)
PROF. DR. PEDRO CARLOS GAMA DA SILVA (EMBRAPA)
PROFA. DRA. REGINA MAGNA BONIFCIO DE ARAJO (UFOP)
PROF. DR. RUBIO JOS FERREIRA (IFPE)
PROF. ME. SRGIO PAES DE BARROS (UTFPR)
PROFA. DRA. SIMONE MALAGUTI (Ludwig-Maximilians University)
PROF. DRA. SNIA MARIA KOHLER DIAS (UNIVALI)
PROF. ME. VENNCIO DE SANTANA TAVARES (UNIVASF)
PROF. ME. VICTOR ANGELO M. MONTALLI (So Leopoldo Mandic)
DEFENSOR WAGNER ARAJO NETO (DPU)
REVISTA DE EXTENSO DA UNIVASF
Av. Jos de S Manioba, s/n.
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Petrolina PE
CEP 56304-205
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www.extramuros.univasf.edu.br
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Universidade Federal do Vale do So Francisco
Pr-Reitoria de Extenso
EXTRAMUROS Revista de Extenso da UNIVASF.
Petrolina-PE.
Pr-Reitoria de Extenso
Vol. 1, n. 1 (jan./jul.-2013).
189 p.
Semestral
ISSN 2318-3640
1. Extenso. 2. Universidade. 3. Revista.
I. Ttulo
________________________________________________________________________________
Todos os textos e suas imagens,
assim como a reviso, so de
responsabilidade dos autores.
permitida a reproduo parcial
das informaes publicadas, desde
que seja citada a fonte.
SUMRIO
_______________________________________________________________
APRESENTAO
Profa. Dra. Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira
EDITORIAL
Prof. Dr. Fulvio Torres Flores
RELATOS
Assistncia odontolgica a pacientes transplantados de clulas-tronco hematopoiticas do Hospital
das Clnicas da Universidade Federal de Minas Gerais
Maria Elisa Souza e Silva, Renata Gonalves Resende, Bruna Mara Ruas,
Ricardo Santiago Gomez, Ricardo Rodrigues Vaz, Ulisses Eliezer Salomo,
Humberto Corra de Almeida e Mauro Henrique Nogueira Guimares Abreu
Avaliao do desenvolvimento de crianas hospitalizadas e orientao de cuidadores para a
estimulao
Rosana A. Salvador Rossit, Camila Gomes Corra,
Karina Godoy Brando de Frana e Renata Savino Rodrigues
Universidade cidad: descobrindo campees
Antonio Aritan de Oliveira Ventura e Mara da Rocha Melo Souza
Morfofarma: feira de morfologia para promoo da sade e consolidao de conhecimentos
Braz Jos do Nascimento Jnior, Mariana Rodrigues Xavier e
Christiano Carvalho G. Pinheiro
O letramento na sala de aula e a formao do professor
Kaline Jurema Jambeiro Rocha e Maria Tarciana de Almeida Barros
ARTIGOS
Aprendendo matemtica no projeto Visitas da UFMG: uma experincia de sucesso
Jorge Sabatucci e Aniura Milan
Preveno das intoxicaes por agrotxico no Submdio do Vale do So Francisco junto a
trabalhadores rurais
Jenifen Miranda Vilas Boas e Cheila Nataly Galingo Bedor
De como o serto do Submdio So Francisco ganhou um ncleo de mobilizao antimanicomial: da
histria aos desafos atuais
Barbara E. B. Cabral, Michele L. de S. Costa, Grcia R. N. de Lima,
Jessica R. S. Melo e Geizeane R. dos Santos
7
13
19
33
41
47
59
70
81
9
Ensinando odontologia em cenrios extramuros: uma parceria entre a Faculdade de Odontologia da
UFMG, Associao Mineira de Reabilitao e uma escola para portadores de defcincias neuromotoras
Lia Silva de Castilho, Vera Lcia Silva Resende, Maria Elisa Souza e Silva,
Amanda Pacheco, Natlia Frias e Elizabeth Moreira
Envelhecendo equilibradamente: consideraes de um programa de atividade fsica para idosos
fundamentado no mtodo Pilates
Marcelo de Maio Nascimento e Ruthe Kcia Rodrigues de Lima
Ginstica artstica: uma proposta de aplicabilidade
Rosangela Marques Busto, Abdallah Achour Junior e Rosana Sohaila Teixeira Moreira
A ampliao das fronteiras do acesso justia: em foco o Projeto Direito Perto de Casa
Paula Daniella Almeida Castro
Integrao e formao em Letras Portugus e Ingls
Didi Ana Ceni Denardi e Amanda Jacobsen de Oliveira
Horta escolar agroecolgica como instrumento de educao ambiental e alimentar
na Creche Municipal Dr. Washington Barros Petrolina/PE
Helder Ribeiro Freitas, Rita de Cssia Rodrigues Gonalves-Gervsio,
Cristiane Moraes Marinho, Alex Sandro Silva Fonseca,
Anny Karoline Rocha Quirino, Kerly Mariana Marques dos Santos Xavier e
Paulo Vitor Pereira do Nascimento
Educao ambiental em uma comunidade acometida pela fuorose grave:
uma abordagem interdisciplinar entre a geologia e odontologia
Lcia Maria Fantinel, Leila Nunes Menegase Velsquez, Dora Atman Costa,
Efgnia Ferreira e Ferreira e Lia Silva de Castilho
CHAMADA DE TEXTOS PARA V. 1, N. 2
ILUSTRAES DA REVISTA
DADOS TCNICOS
97
124
108
144
155
170
134
184
188
189
7
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
APRESENTAO
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira
A universidade brasileira, local de saber, durante anos veiculou a sua marca
apenas ao ensino superior por ter sido essa a sua funo de origem. A Constituio de
1988 avanou ao defnir a universidade pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extenso no seu Art. 207, e a LDB que entrou em vigor em 1996 trouxe como fnalidade
da educao superior a promoo da extenso aberta participao da populao,
visando difuso das conquistas e benefcios da criao cultural e da pesquisa
cientfca e tecnolgica geradas na instituio. Lamentavelmente, a despeito desse
suporte legal, a desarticulao deste trip de sustentao universitria permanece em
muitas IES desencadeando uma srie de problemas porque, centrando suas atividades
apenas no ensino, a universidade no cumpre o seu papel de instituio formadora,
desvinculando-se de seu compromisso com a produo do saber cientfco e se tornando
alheia s questes da sociedade onde est inserida. Pelo contrrio, quando a sociedade
se torna objeto das suas pesquisas, surgem solues e alternativas para problemas
diagnosticados neste processo e a universidade, a sim, passa a cumprir com excelncia
o seu papel.
As atividades de extenso, portanto, quando realizadas com a devida seriedade
e qualidade associadas ao ensino e pesquisa, so uma ferramenta importante para
o desenvolvimento de comunidades fragilizadas pela desinformao e pela pobreza.
Como afrma Silvio Paulo Botom em sua obra Pesquisa alienada e ensino alienante: o
equvoco da extenso universitria (Ed. Vozes, 1996), o signifcado de extenso envolve a
questo do acesso da populao ao conhecimento que a universidade produz e domina
atravs do ensino e da pesquisa, sendo sua razo de ser a efetiva contribuio para
melhorar as relaes das pessoas com sua realidade, as situaes com que se defrontam,
elevando suas qualidades de vida. ela, portanto, que viabiliza a interao entre a
universidade e a sociedade, constituindo-se em elemento capaz de operacionalizar a
relao teoria/prtica e promovendo a troca entre os saberes acadmico e popular.
A PROEX Pr-Reitoria de Extenso da UNIVASF, entendendo que a vida
e a sociedade no so realidades diferentes por estarem inseridas no mesmo contexto,
vem desde 2012 defnindo e executando polticas de aproximao da universidade com
as populaes, especialmente aquelas em estado de vulnerabilidade social, cultural e
econmica, de forma a trocar com elas informaes capazes de potencializar as suas
vantagens, onde o capital humano infuencia o capital social, ampliando a participao
e transformao com respeito ao meio ambiente e promovendo o desenvolvimento
sustentvel, mas sempre com a compreenso de que so as prprias comunidades que
encontraro os caminhos para suprir as suas necessidades. Nesse processo no qual
todos ensinam e todos aprendem h enormes ganhos.
Pr-Reitora de
Extenso da
UNIVASF
lucia.oliveira@
univasf.edu.br
8
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
Tanto para a universidade, que a partir dos saberes populares assimilados
por docentes, discentes e tcnicos pode reelaborar as suas teorias e readequar os
currculos dos seus cursos, quanto para as populaes que tm a oportunidade de
resgatarem a sua histria de vital importncia identifcar problemas, estabelecer
prioridades e planejar aes para alcanar objetivos compatveis com os interesses,
necessidades e possibilidades dos resultados e do potencial de replicabilidade das
solues encontradas para situaes semelhantes em diferentes ambientes. Alm de
estarem debatendo temas como democracia, direitos, polticas pblicas, funes do
estado, desenvolvimento comunitrio e sistemas de produo que podem melhorar a
sua insero no mercado.
Trata-se, como na viso de Paulo Freire em Extenso ou Comunicao? (Ed.
Paz e Terra, 2002), de uma educao para a libertao, na qual jovens, homens
e mulheres aprendem a ser sujeitos de si mesmos e da sua histria. A revista de
extenso EXTRAMUROS mais uma conquista da PROEX colocada disposio
dos interessados em socializar as suas experincias com a sociedade a quem, enquanto
servidores pblicos, nos compete SERVIR.
9
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
EDITORIAL
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Fulvio Torres Flores
Realizada a inmeras mos, hora de agradecer, na ocasio do lanamento do
primeiro nmero, a todos aqueles que contriburam para que a EXTRAMUROS exista.
Em primeiro lugar, Profa. Dra. Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira, Pr-
Reitora de Extenso, que me convidou para editar a revista, confando-me o trabalho.
Profa. Dra. Luzania Barreto Rodrigues, que sugeriu o nome Extramuros para a
revista, o qual foi aceito com entusiasmo em reunio da Cmara de Extenso pelo seu
signifcado to propcio para esta revista. Ao Prof. Me. Ricardo Guimares Cardoso,
pela criao do logotipo da EXTRAMUROS.
Ao Prof. Me. Marcus Vinicius Midena Ramos, editor da REVASF - Revista de
Educao do Vale do So Francisco, pelas informaes diversas e orientaes sobre o
Open Journal System. Assistente Editorial Prola Ramira Ciccone, a quem recorri
quando a revista tinha apenas um nome, por todo o conhecimento compartilhado
advindo de sua valorosa experincia com a Revista de Cultura e Extenso da USP.
Tambm ao Bibliotecrio Andr do Nascimento Serradas, da Seo de Apoio ao
Credenciamento de Revistas USP, pelos esclarecimentos que gentilmente prestou.
Aos membros do Conselho Editorial, que acreditaram na revista e aceitaram
participar prontamente. Aos Pareceristas, que se dispuseram a cumprir prazos nem
sempre generosos. Em especial, agradeo Profa. Dra. Gisele Giandoni Wolkoff
(UTFPR) e ao Prof. Dr. Marcelo de Maio Nascimento (UNIVASF) pela colaborao
na formao do Conselho Editorial e na indicao de pareceristas de diversas reas e
universidades.
Ao Prof. Esp. Cecilio Ricardo de Carvalho Bastos, que aceitou cuidar do layout
da revista e o fez com a competncia e a qualidade caractersticas de seu trabalho.
Finalizando, agradeo ao Artista A. C. Colho de Assis (Coelho), pela permisso de
publicar as imagens de suas obras na capa e nas divises de sees da revista, o que nos
alegrou imensamente.
Os 15 relatos e artigos constantes desta primeira edio so o resultado de
uma seleo de quase 50 textos recebidos ao longo de quatro meses. Ainda h uma
relativamente sria confuso com o que prtica extensionista universitria, o que
fcou patente pelo grande nmero de textos que tratavam exclusivamente de assuntos
ligados pesquisa, sem envolver de forma dialogada a sociedade. Embora esse tenha
sido um fato notado, o que mais surpreendeu foi a qualidade e a variedade de aes
extensionistas desenvolvidas no Brasil em diversas reas do saber.
Ao longo do processo, com as indicaes dos pareceristas e editores, esses textos
foram divididos em duas sees principais: Relatos e Artigos. A seo Relatos apresenta
relatos de experincia mais breves e fuidos, sem dispensar um arcabouo terico para
a apresentao e articulao das ideias. Por sua vez, a seo Artigos apresenta textos
com maior extenso e aprofundamento terico.
Editor
Responsvel
fulvio.fores@
univasf.edu.br
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
O texto que abre a seo Relatos da revista Assistncia odontolgica a pacientes
transplantados de clulas-tronco hematopoiticas do Hospital das Clnicas da Universidade
Federal de Minas Gerais, de Maria Eliza Souza e Silva et al., uma refexo sobre um
projeto desenvolvido desde 2001 no qual prestado atendimento odontolgico e
tambm procedimentos educativos qualifcados a pacientes pr e ps-transplante de
clulas-tronco hematopoiticas.
Em Avaliao do desenvolvimento de crianas hospitalizadas e orientao de
cuidadores para a estimulao aprendemos com Rosana A. Salvador Rossit et al.
sobre um projeto desenvolvido na UNIFESP, no qual se identifcou que h crianas
hospitalizadas que apresentam atrasos em seu desenvolvimento e que possvel
aproveitar esse momento a fm de intervir orientando e aconselhando as mes e
cuidadoras dos bebs.
Universidade cidad: descobrindo campees, de autoria de Antonio Aritan
de Oliveira Ventura e Mara da Rocha Melo Souza, descreve uma ao da UFPRE
envolvendo crianas e adolescentes de 9 a 17 anos cujo objetivo era promover a incluso
social e a cidadania, assim como a diminuio de desigualdades sociais, a partir da
prtica de algumas modalidades esportivas.
A discusso trazida por Braz Jos do Nascimento Jnior, Mariana Rodrigues
Xavier e Christiano Carvalho G. Pinheiro em Morfofarma: feira de morfologia para
promoo da sade e consolidao de conhecimentos refere-se experincia de uma feira
de morfologia na qual universitrios da UNIVASF apresentaram trabalhos para alunos
de escolas do municpio de Petrolina-PE, o que requereu pesquisa e planejamento
dos universitrios e propiciou aos alunos a aproximao com questes cientfcas de
relevncia.
Encerrando a seo Relatos, O letramento na sala de aula e a formao do professor,
de Kaline Jurema Jambeiro Rocha e Maria Tarciana de Almeida Barros, refete sobre
um projeto da UNIVASF que procurou atuar complementando a formao de futuros
professores do ensino fundamental por meio da realizao de 15 encontros sobre
alfabetizao e letramento, preenchendo lacunas advindas das grades curriculares da
graduao e criando tcnicas para alfabetizar letrando.
Abrindo a seo Artigos, em Aprendendo matemtica no projeto Visitas da
UFMG: uma experincia de sucesso, Jorge Sabatucci e Aniura Milans mostram como
possvel, por meio de ofcinas para professores da educao bsica, assim como palestras
e minicursos para interessados, ensinar matemtica por meio de atividades desafantes
sem deixar de serem prazerosas e criativas.
Preveno das intoxicaes por agrotxico no Submdio do Vale do So Francisco
junto a trabalhadores rurais, de Jenifen Miranda Vilas Boas e Cheila Nataly Galingo
Bedor, discute a importncia de um projeto da UNIVASF que contou com 21 ofcinas
sobre agrotxicos realizadas em sete escolas pblicas de Petrolina para alunos e
trabalhadores, a fm de alertar a respeito da gravidade do uso de substncias agrotxicas,
tendo sido verifcado que tal ao gerou uma maior compreenso dos participantes e
ajudou a fortalecer a preveno de intoxicao por agrotxicos na cidade.
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
Barbara E. B. Cabral et al., em De como o serto do Submdio So Francisco
ganhou um ncleo de mobilizao antimanicomial: da histria aos desafos atuais,
discorrem sobre a parceria entre a UNIVASF e redes de ateno sade mental na
formulao e prtica de aes que estimulam o debate sobre a reforma psiquitrica e
seus desdobramentos.
Em Ensinando odontologia em cenrios extramuros: uma parceria entre a
Faculdade de Odontologia da UFMG, Associao Mineira de Reabilitao e uma escola
para portadores de defcincias neuromotoras, Elizabeth Moreira et al. descrevem e
discutem aes de promoo de sade bucal por meio de um trabalho multidisciplinar
que busca a integrao social do defciente neuromotor.
Marcelo de Maio Nascimento e Ruthe Kcia Rodrigues de Lima, autores de
Envelhecendo equilibradamente: consideraes de um programa de atividade fsica para
idosos fundamentado no mtodo Pilates, examinam um trabalho desenvolvido na
UNIVASF no qual 70 idosos de 60 a 80 anos foram estimulados prtica de educao
fsica como forma de retardar o processo de envelhecimento.
Em Ginstica artstica: uma proposta de aplicabilidade, Rosangela Marques
Busto, Abdallah Achour Junior e Rosana Sohaila Teixeira Moreira apresentam
os resultados de uma ao desenvolvida na UEL na qual professores e discentes
universitrios promoveram aes pedaggicas de iniciao em ginstica artstica para
700 meninas de 10 a 12 anos de classes sociais diferentes.
A ampliao das fronteiras do acesso justia: em foco o Projeto Direito Perto de
Casa, de autoria de Paula Daniella Almeida Castro, evidencia a importncia de um
projeto de extenso da UNEB na rea do direito na cidade de Juazeiro-BA a fm de
promover o acesso qualitativo justia.
Didi Ana Ceni Dernardi e Amanda Jacobsen de Oliveira, em Integrao
e formao em Letras Portugus e Ingls, apresentam contribuies de um projeto
da UTFPR para a formao docente inicial e continuada de professores de lngua
portuguesa e inglesa, e tambm para o processo de ensino-aprendizagem dessas lnguas
na educao bsica do sudoeste do Paran.
Horta escolar agroecolgica como instrumento de educao ambiental e alimentar
na Creche Municipal Dr. Washington Barros Petrolina/PE, de Helder Ribeiro Freitas
et al., discute a realizao de um projeto da UNIVASF com atividades educativas por
meio das quais as crianas entraram em contato com alimentos em seu ambiente de
produo, assim como aprenderam sobre recursos ambientais, contribuindo para a
sensibilizao dessas crianas para uma alimentao saudvel e para estimular que
professores incluam o trabalho com hortas em seu cotidiano pedaggico.
Encerrando a seo Artigos, Lcia Maria Fantinel et al. discutem, em
Educao ambiental em uma comunidade acometida pela fuorose grave: uma abordagem
interdisciplinar entre a geologia e odontologia, aes de educao em sade promovidas
pela UFMG, entre as quais um teatro de fantoches e uma exposio interativa, que
possibilitaram abordar temas relativos aos problemas trazidos pela ingesto de altos
teores de fuoretos, e as consequncias que os membros da comunidade acometidos por
leses fuorticas sofrem em seu cotidiano.
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- Revista de Extenso da Univasf
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A
s
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.
.
Assistncia odontolgica a pacientes transplantados de
clulas-tronco hematopoiticas do Hospital das Clnicas da
Universidade Federal de Minas Gerais
______________________________________________
Maria Elisa Souza e Silva
1
Renata Gonalves Resende
Bruna Mara Ruas
3
Ricardo Santiago Gomez
4
Ricardo Rodrigues Vaz
5
Ulisses Eliezer Salomo
6
Humberto Corra de Almeida
7
Mauro Henrique N. Guimares Abreu
8
RESUMO
O projeto de extenso Assistncia Odontolgica a Pacientes Transplantados de Clulas-
Tronco Hematopoiticas do Hospital das Clnicas da UFMG presta atendimento aos
pacientes pr e ps-transplante de clulas-tronco hematopoiticas (TCTH) e funciona
na Faculdade de Odontologia (FO) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
desde maro de 2001. O TCTH empregado com efetividade para tratamento de
vrias neoplasias hematolgicas ou de outros tecidos. No entanto, a ausncia de
cuidados com a cavidade bucal ou o tratamento odontolgico inadequado pode levar
a srios problemas sistmicos no perodo de mielosupresso. Os pacientes do projeto
recebem atendimento odontolgico qualifcado durante todas as fases do TCTH, onde
so realizados procedimentos educativos, restauradores, cirrgicos, periodontais,
endodnticos, e protticos, dentre outros. Por agregar voluntariamente professores,
profssionais especializados, alunos de graduao e de ps-graduao, esse projeto
de extenso estimula e propicia o desenvolvimento de atividades interdisciplinares,
gerando conhecimento e pesquisas, com vistas a compreender e melhorar o TCTH.
O objetivo deste trabalho o de apresentar as diversas atividades do projeto de
extenso Assistncia Odontolgica a Pacientes Transplantados de Clulas-Tronco
Hematopoiticas do Hospital das Clnicas da UFMG, que j uma referncia no
cenrio de ensino, pesquisa e extenso da FO-UFMG no que se refere ao TCTH.
Palavras-chave: Transplante de clulas-tronco hematopoiticas; Servios de sade
bucal.
Dental treatment to patients subjected to hematopoietic stem-cell transplantation at
the University Hospital of Universidade Federal de Minas Gerais
ABSTRACT
The extension project Dental Care to Patients Transplanted with Hematopoietic
Stem-Cell at the University Hospital of UFMG cares for patients undergoing and those
who have done the hematopoietic stem-cells transplant, and it works in the Faculty of
Dentistry (FO) of Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) since March 2001.
Transplantation of hematopoietic stem-cell transplantation (HSCT) is increasingly
1
Docente da
Faculdade de
Odontologia da
Universidade
Federal de Minas
Gerais (FAO -
UFMG).
mariaelisa1956@
gmail.com.br
2
Doutoranda em
Medicina Molecu-
lar da UFMG.
renatagresende@
yahoo.com.br
4
Docente da
UFMG.
rsgomez@ufmg.
br
5
Docente da
UFMG.
ricardovazufmg@
yahoo.com.br
7
Docente da
UFMG.
humbertodeal@
uol.com
6
Docente da
UFMG.
ulissessalomao@
hotmail.com
8
Docente da
UFMG.
maurohenriquea-
breu@ig.com.br
3
Discente da FAO
- UFMG.
brunamara@
gmail.com
14
__________________________________________________________________________________
- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
used with effectiveness in treating various hematologic malignancies or other tissues.
However, the lack of care for the oral cavity or inappropriate dental treatment can
lead to serious systemic problems during myelosuppression. Patients receive qualifed
dental care during the pre-and post-transplant, which hosts educational procedures,
restorative, surgical, periodontal, endodontic, and prosthetic devices, among others.
By aggregating voluntarily teachers, professionals, graduate and postgraduate,
this extension project encourages and enables the development of interdisciplinary
activities, generating knowledge and research, in order to understand and improve
HSCT. The objective of this work is to present the various activities of the extension
project, which is already a reference in teaching, research and extension of FO-UFMG
related to HSCT.
Keywords: Hematopoietic stem-cell transplantation; Dental treatment.
INTRODUO
O transplante de clula-tronco hematopoiticas (TCTH) um procedimento
que envolve a eliminao das clulas malignas com uma alta dose de quimioterapia,
com ou sem a irradiao corprea total, seguida pela infuso de clulas normais
mieloproliferativas (BORTIN, 1970; DEEG et al., 1996; DONATO et al., 1998;
LISHNER et al., 1990; STORB ; THOMAS, 1983; THOMAS et al., 1975) e o tratamento
de escolha para diversas doenas hematolgicas ou de outros tecidos, insufcincias
medulares ou outros distrbios congnitos da hematopoese (DAHLLF; BAGESUND;
RINGDEN, 1997; FEEDMAN, 1998; FONSECA, 2000; LOGUE; SAVIANI, 2013).
A preveno ou reduo do risco de complicaes sistmicas em pacientes
que recebem o transplante requer a estabilizao ou eliminao de infeces bucais
antes do incio do transplante ou da terapia mielossupressora, pois a condio de
imunossupresso do paciente favorece a agutizao de problemas bucais prvios, no
transcorrer do TCTH (SCHUBERT; PETERSON; LOID, 1999; SCULLY, 2010).
Estudos tm identifcado que a cavidade bucal uma importante porta de entrada
para infeces sistmicas em pacientes submetidos ao transplante de clulas-tronco
hematopoiticas (BISHAI, 1997). As complicaes em decorrncia de infeces bucais
podem ocorrer em qualquer fase do transplante e podem causar problemas signifcativos,
como complicaes sistmicas, aumentando no apenas o custo do tratamento como a
taxa de mortalidade (SCHUBERT; PETERSON; LOID, 1999; SANTOS et al., 2011).
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a experincia do projeto
de extenso Assistncia Odontolgica a Pacientes Transplantados de Clulas-Tron-
co Hematopoiticas do Hospital das Clnicas da UFMG (HC-UFMG) da Faculda-
de de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FO-UFMG) - TMO.
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RELATO DAS ATIVIDADES
O projeto de extenso de Assistncia Odontolgica a Pacientes Transplantados
de Clulas-Tronco Hematopoiticas do Hospital das Clnicas da UFMG (HC-UFMG)
foi criado na Faculdade de Odontologia da UFMG em maro de 2001 para atendimen-
to odontolgico qualifcado aos pacientes que seriam submetidos ao transplante de
clulas-tronco hematopoiticas ou que j foram submetidos a esse procedimento. Alm
disso, oferece ateno odontolgica queles pacientes que apenas esto em tratamento
hematolgico. Todos os pacientes so originrios do Hospital das Clnicas da UFMG.
Devido ao comprometimento dos docentes, voluntrios e alunos com
o projeto e tambm em funo de sua importncia para a preservao da sa-
de dos pacientes, ele pode ser considerado como um projeto de carter perene.
Os pacientes so encaminhados FO-UFMG pelo mdico assistente do setor de
Transplante de Medula ssea do HC-UFMG para avaliao pr, trans ou ps-TCTH.
A fase pr-TCTH compreende a preparao para a realizao do transplante,
a fase trans-TCTH compreende os trs primeiros meses aps o procedimento
e a fase ps-TCTH se estende alm do dia +100, trs meses aps o TCTH
(SCHUBERT; SULLIVAN; TRUELOVE, 1986). Os pacientes que apresentam
afeces hematolgicas, mas sem necessidade de realizao do TCTH, tambm so
acompanhados pelo projeto de extenso, quando solicitado pelo mdico responsvel.
Os atendimentos clnicos so realizados semanalmente, nas noites de quartas-
feiras por estudantes de graduao em Odontologia, que cursam entre os sexto
e nono perodos. Os alunos atuam sob a superviso de alunos de ps-graduao,
de voluntrios e de professores da FO-UFMG, das diversas reas da odontologia:
dentstica, endodontia, periodontia, patologia bucal, cirurgia buco-maxilo-facial,
prtese e sade coletiva. O processo seletivo para a incluso de novos alunos realizado
semestralmente e leva em conta seu desempenho acadmico, mas tambm o grau de
maturidade para a abordagem de pacientes com este tipo de perfl. comum que o
aluno selecionado permanea no projeto at a concluso do seu curso de graduao.
So realizados procedimentos diversifcados de acordo com a demanda de
cada usurio do servio, tendo em vista o planejamento do tratamento, que feito
individualmente. Os pacientes pr-TCTH so submetidos avaliao clnica e radiogrfca
e, de acordo com a necessidade, so realizados procedimentos preventivos, restauradores,
cirrgicos, endodnticos alm de educao para a sade. Os atendimentos dos pacientes
so realizados com o objetivo de torn-los aptos realizao do transplante, sem o risco
de problemas de origem odontolgica. Existe uma clara inteno de otimizao do
tempo e dos procedimentos, com vistas liberao do paciente, enquanto ele est na fase
pr-transplante. No caso da necessidade de cirurgias feita uma discusso sobre cada
caso e apenas quando necessrio prescrita proflaxia antibitica (LODI et al., 2012).
Procedimentos que podem ser postergados, como confeco de coroas defnitivas
e de prteses, so indicados para serem realizados na fase ps-transplante. Durante o
trans-TCTH, comumente so feitas avaliaes quanto mucosite, doena do enxerto
contra o hospedeiro (DECH) aguda, xerostomia, infeco (viral, bacteriana e fngica),
sangramento e interferncias com a alimentao. Esse atendimento feito pelo servio
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odontolgico do Hospital das Clnicas da UFMG, tendo em vista que normalmente os
pacientes com estes tipos de problemas esto internados. Por fm, na fase ps-TCTH o
paciente submetido aos diversos procedimentos odontolgicos, de acordo com a sua
necessidade clnica. Alm disso, os pacientes realizam a biopsia de lbio do dia +100,
procedimento preconizado pelo setor de Transplante de Medula ssea do HC-UFMG
para estadiar a DECH crnica bucal (RESENDE et al., 2011).
Depois de sua alta clnica, enquanto se mantiver aderido ao servio de controle
de pacientes transplantados do HC, ele passa a ser acompanhado em consultas
de retorno programadas, semestralmente ou anualmente, de acordo com o grau de
controle da sade bucal.
Alm de sua misso principal de prestar assistncia odontolgica especiali-
zada aos pacientes, o projeto de extenso contribui ainda de forma signifcativa na
formao dos discentes na medida em que proporciona um campo de aprendiza-
do diferenciado ao graduando. Isso ocorre porque o aluno se aperfeioa e coloca em
prtica o conhecimento j adquirido de forma a abordar diferenciadamente o pa-
ciente sistemicamente comprometido. Alm disso, o estudante desenvolve a habili-
dade interdisciplinar, to fundamental para sua formao profssional e, diferente-
mente de sua formao acadmica convencional, o aluno passa a se preocupar em
abordar os problemas de sade bucal de forma otimizada e gil, tendo em vista, es-
pecialmente, a necessidade do paciente de ser liberado para os procedimentos mdi-
cos. Ao longo dos ltimos 10 anos cerca de 600 pacientes de TCTH foram atendidos.
Outra caracterstica muito importante deste projeto de extenso a realizao
sistemtica, durante o semestre letivo, de atividades tericas quinzenais abordando
temas que se referem ao universo do atendimento odontolgico aos pacientes TCTH e
Hepticos e outros, que sejam detectados como de interesse formao acadmica dos
estudantes. Temas como interpretao de exames complementares, tcnicas restaura-
doras, cirrgicas, terapia periodontal, discusso de protocolos de atendimento para fa-
cilitar o fuxo da ateno so alguns dos temas que, recorrentemente, so trabalhados.
Com a aprovao das instncias devidas na UFMG, a participao dos alunos no pro-
jeto de TMO geradora de crditos que so utilizados para integralizao curricular.
Outro fato que merece ser destacado a produo de conhecimen-
to. Vrias pesquisas envolvendo o universo do TCTH foram e so desen-
volvidos com a efetiva participao dos alunos de graduao e ps-gra-
duao, sob orientao dos professores, com o intuito de aprimorar o
entendimento das diversas patologias que podem acometer os pacientes do TCTH e do
Transplante Heptico e contribuir para melhorias no tratamento de uma forma geral.
A partir do ano de 2010, em funo do volume de pacientes j atendidos,
foi criado outro projeto que, embora seja independente do TMO enquanto
projeto de extenso, desenvolve a coleta de dados dos pronturios odontolgicos
e mdicos dos pacientes do TMO para um banco de dados especialmente
criado para este fm, isto , fornecer material para produo de conhecimento
cientfco. Alm disso, os bolsistas trabalham levantando dados sobre a percepo
do impacto da assistncia odontolgica na qualidade de vida dos pacientes.
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CONSIDERAES FINAIS
O projeto de extenso Assistncia Odontolgica a Pacientes Transplantados
de Clulas-Tronco Hematopoiticas do Hospital das Clnicas da UFMG tem um papel
fundamental para o sucesso do transplante de medula ssea e propicia uma me-
lhor qualidade de vida dos pacientes atendidos; contribui signifcativamen-
te para a formao dos futuros profssionais da odontologia e fornece um valio-
so campo de estudo para o melhor entendimento do universo do TCTH. Sendo
assim, o projeto de extenso Assistncia Odontolgica a Pacientes Transplan-
tados de Clulas-Tronco Hematopoiticas do Hospital das Clnicas da UFMG
mostra signifcativa importncia no cenrio de ensino, pesquisa e extenso.
REFERNCIAS
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COMO CITAR ESTE RELATO:
SILVA, Maria Elisa Souza e; RESENDE, Renata Gonalves; RUAS, Bruna
Mara; GOMEZ, Ricardo Santiago; VAZ, Ricardo Rodrigues; SALOMO,
Ulisses Eliezer; ALMEIDA, Humberto Corra de; ABREU, Mauro Henrique
Nogueira Guimares. Assistncia odontolgica a pacientes transplantados de
clulas-tronco hematopoiticas do Hospital das Clnicas da Universidade
Federal de Minas Gerais. Extramuros, Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 13-18,
jan./jul. 2013. Disponvel em: <informar endereo da pgina eletrnica
consultada>. Acesso em: informar a data do acesso.
Recebido em: 25 mar. 2013.
Aceito em: 27 jun. 2013.
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Avaliao do desenvolvimento de crianas hospitalizadas e orientao de
cuidadores para a estimulao
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Rosana A. Salvador Rossit
1
Camila Gomes Corra
Karina Godoy Brando de Frana
Renata Savino Rodrigues
4
RESUMO
Trata-se de um relato de experincia do projeto Avaliao e orientao para a
estimulao do desenvolvimento de crianas internadas em Unidade de Pediatria da
Santa Casa de Santos. O projeto de extenso tem como objetivo avaliar e estimular o
desenvolvimento de bebs de zero a 12 meses e orientar as mes/cuidadores. As aes
so desenvolvidas por uma equipe (uma docente e oito estudantes de trs diferentes
profsses da sade) da Universidade Federal de So Paulo - Baixada Santista no contexto
hospitalar. O protocolo Denver I foi utilizado para a avaliao do desenvolvimento e
para subsidiar a estimulao e as orientaes. Os comportamentos observados foram
apresentados em porcentagens e descritos brevemente. Um folheto educativo foi
preparado para orientar as mes/cuidadores quanto aos procedimentos de estimulao
do desenvolvimento. A experincia mostrou que algumas crianas hospitalizadas
apresentavam alguns atrasos no desenvolvimento, e que este pode ser um momento
propcio para a realizao da interveno com orientao e aconselhamento das mes/
cuidadores.
Palavras-chave: Ensino; Relaes Interprofssionais; Desenvolvimento Infantil; Inter-
veno Precoce (Educao).
Evaluation of the development of hospitalized children and caregivers guidance for
stimulation
ABSTRACT
This is an experience report of the project Evaluation and guidance for the stimulation
of the development of children hospitalized in Pediatric Unit of Santa Casa de Santos.
The extension project aims to evaluate and stimulate the development of 0-12 months
old babies and guide mothers / caregivers. Actions are developed by a team (one teacher
and eight students from three different health professions) of Federal University of So
Paulo - Santos in the hospital. The protocol Denver I was used to assess the development
and support and orientations and stimulation. The observed behaviors were presented
in percentages and briefy described. An educational brochure was prepared to guide
the mothers / caregivers in how to stimulate the development. Experience has shown
that some children hospitalized had some developmental delays, and that this may be
a propitious moment for the realization of guidance and counseling intervention with
mothers / caregivers.
Keywords: Teaching; Interprofessional relations; Child development; Early intervention
(Education).
1
Docente do
curso de Terapia
Ocupacional da
Universidade
Federal de So
Paulo
(UNIFESP).
rorossit@hot-
mail.com
2
Discente do
curso de Terapia
Ocupacional da
UNIFESP.
cami_email@
hotmail.com
3
Discente do
curso de Terapia
Ocupacional da
UNIFESP.
brandao.karina@
hotmail.com
4
Discente do
curso de Terapia
Ocupacional da
UNIFESP.
resavino@gmail.
com
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RELATO
O campus Baixada Santista da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP)
implantou em 2006 cinco cursos de graduao (Educao Fsica - modalidade sade,
Fisioterapia, Nutrio, Psicologia e Terapia Ocupacional) com um Projeto Pedaggico
voltado formao de um profssional da rea da sade apto para o trabalho em
equipe, com nfase na educao interprofssional e na integralidade do cuidado;
numa formao tcnico-cientfca e humana de excelncia em uma rea especfca
de atuao profssional de sade e uma formao cientfca, entendendo a pesquisa
e a relao com a comunidade como propulsoras do ensino e da aprendizagem.
Adicionalmente, em 2009 foi implantado o curso de Servio Social, numa
perspectiva de ampliar os olhares e a ateno ao campo da sade (UNIFESP, 2012).
Tendo como panorama os propsitos do Projeto Pedaggico deste campus,
este texto apresenta uma experincia educacional que articula os princpios da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso na perspectiva de integrar aes
desenvolvidas para a formao profssional do estudante e pela produo e difuso de
conhecimentos provenientes da experincia vivenciada, de modo a possibilitar espaos
e oportunidades de conhecimento e aprendizagens que ultrapassam os limites fsicos
da estrutura acadmica universitria. Alm da formao profssional dos estudantes,
atenta-se para o desenvolvimento de competncias pessoais que permitam identifcar
demandas de sade e intervir por meio de aes de educao em sade.
As polticas nacionais da Sade e da Educao, por meio dos princpios norte-
adores do Sistema nico de Sade (SUS) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para
os cursos de graduao na rea da Sade, demandam a formao de profssionais que
estejam preparados para atender s necessidades de sade da populao. A integra-
lidade no cuidado, a humanizao da ateno e dos servios de sade, assim como os
cuidados com a sade da criana, so indutores de aes na perspectiva da qualidade
dos servios e da ateno sade.
Visando atingir esses objetivos, o Projeto de Extenso em ambiente hospitalar
Avaliao e Orientao para a estimulao do desenvolvimento infantil baseia suas
aes nos princpios da integralidade no cuidado ao paciente, no trabalho em equi-
pe e na integrao dos processos de ensino, pesquisa e extenso, para a avaliao do
desenvolvimento de crianas hospitalizadas, entendendo que esse momento possa ser
propcio para a realizao de intervenes no sentido de orientar as mes/cuidadores a
estimular o desenvolvimento infantil no primeiro ano de vida.
O trabalho em equipe interprofssional um dos princpios norteadores do
Projeto Pedaggico do campus Baixada Santista da UNIFESP, sendo entendida como
a inverso da lgica tradicional da formao em sade - cada prtica profssional
pensada e discutida em si - abrindo espaos para a discusso do interprofssionalismo.
Refere, tambm, que esta uma proposta na qual profsses aprendem juntas sobre o
trabalho conjunto e sobre as especifcidades de cada uma, na melhoria da qualidade no
cuidado ao paciente (BARR, 1998).
A Santa Casa de Santos como instituio parceira e conveniada UNIFESP, ao
longo da sua histria tem se mostrado preocupada com as questes de humanizao,
desenvolvendo iniciativas em vrias reas, agregando valores em diferentes cenrios de
...a humaniza-
o supe troca
de saberes,
incluindo os
dos usurios e
sua rede social,
dilogo entre
os profssionais
e modos de
trabalhar em
equipe.
(Poltica Hu-
maniza SUS,
Brasil, 2005)
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relaes interpessoais e profssionais, valorizando os atores e sujeitos sociais nesses pro-
cessos, e primando pela construo de uma instituio fortalecida e reconhecida por
suas aes inovadoras e empreendedoras na gesto e ateno sade da regio.
A situao de adoecimento e hospitalizao da criana e do cuidador provocam
tristeza e sofrimento em relao ao afastamento temporrio da vida familiar e cotidiana,
decorrentes dos tratamentos e experincias, nem sempre prazerosas, vivenciadas no
ambiente hospitalar. Situao essa que agravada pelas condies disponveis em
servios pblicos de sade: grande demanda, quartos e leitos em condies precrias,
esperas prolongadas para realizao de exames e atendimentos especializados.
O SUS tem um papel ativo na reorientao das estratgias e modos de cuidar,
tratar e acompanhar a sade individual e coletiva, e tem sido capaz de provocar impor-
tantes repercusses nas estratgias e modos de ensinar e aprender. As polticas de sade
vigentes investem no discurso da promoo da sade e preveno de agravos como
medidas efcazes para a minimizao de problemas secundrios nos campos da sade,
educao e social da criana.
Os conceitos e dispositivos da Poltica Nacional de Humanizao (PNH
BRASIL, 2004) visam organizao dos processos de trabalho em sade, propondo
transformaes nas relaes sociais que envolvem colaboradores e gestores, assim como
transformaes nas maneiras de produzir e prestar servios populao. Sendo assim,
as instituies que envolvem o trinmio assistncia-sade-ensino devem abordar a
humanizao no processo de formao e capacitao em sade, valorizando as relaes
interpessoais e desenvolvendo habilidades para a escuta e o dilogo.
A UNIFESP e a Santa Casa de Santos, atentas a esses pressupostos, tm
protagonizado prticas signifcativas e harmoniosas voltadas para a melhoria da
qualidade de vida e sade de seus colaboradores e usurios.
A Organizao Mundial de Sade (OMS/OPAS, 2003) reconhece que a sade do
indivduo pode ser afetada por sua incapacidade de desempenhar atividades e parti-
cipar em situaes de vida, para alm dos problemas que existem com as estruturas e
funes do seu corpo imposto pela doena e pela defcincia. Em um olhar ampliado, a
sade est relacionada capacidade das pessoas de se envolverem em ocupaes e em
atividades que permitam uma participao desejada ou necessria em casa, na escola,
no brincar, no lazer, no trabalho, na comunidade.
O adoecer um dos fatores que alteram os sentimentos e os comportamentos dos
sujeitos e a hospitalizao restringe ainda mais esse aspecto devido rotina hospitalar.
Normalmente o sujeito quem decide sobre sua vida, mas ao deparar-se com uma
doena v-se obrigado a transferir sua individualidade aos cuidados do profssional de
sade. A hospitalizao afeta violentamente a vida da criana, podendo ser irremedivel
e deixar marcas que a acompanharo para o resto da vida (GORAYEB, 2002).
As experincias vividas ao longo dos primeiros anos de vida de uma criana so
fatores determinantes no processo de formao do indivduo. A carncia ou ausncia
da estimulao nessa fase se torna um importante fator de risco ao desenvolvimento,
podendo ocasionar atrasos irreversveis (ROSSIT; FVERE, 2011).
22
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Neste contexto, a aproximao do estudante a ambientes que demandam a
atuao em equipe potencializa a aprendizagem ao mesmo tempo em que contribui
para a melhoria da qualidade dos servios de ateno s necessidades da populao
e a prestao de servios comunidade. A percepo e a anlise da multicausalidade
dos processos de adoecimento e dos fatores que infuenciam o desenvolvimento infantil
tornam-se alvo das aes da experincia aqui apresentada.
MILLING; WALKER, 1984 apud BRASIL, 2002), e orientar os cuidadores para a
estimulao do desenvolvimento das crianas.
CENRIO DE INTERVENO
Participantes
Participam das aes de interveno os bebs com idade de zero a 12 meses e
os respectivos cuidadores (pais, tios, avs), internados por motivos diversos, e a equipe
interprofssional composta por uma docente coordenadora do projeto e oito estudantes
de trs diferentes cursos de graduao da UNIFESP (fsioterapia, psicologia e terapia
ocupacional).
Local
A interveno ocorre uma vez por semana
na Enfermaria Peditrica da Irmandade da San-
ta Casa da Misericrdia de Santos com a presen-
a de uma dade cuidador-beb e da equipe exe-
cutora do projeto, para a realizao da avaliao
do beb e orientao do cuidador para o posicio-
namento no leito e a estimulao do desenvolvi-
mento, os quais constituem procedimentos im-
portantes para favorecerem o desenvolvimento
da criana hospitalizada, a fm de minimizar os impactos causados por condies
adversas ao nascimento e s condies de sadedoena. A Pediatria da Santa Casa
de Santos possui 12 quartos, onde so acomodadas de trs a cinco crianas em cada
um deles. O espao para a realizao das atividades o prprio quarto, que um
espao restrito e a interveno realizada no prprio bero. No quarto, geralmente,
h a presena de outras crianas e cuidadores. As Figuras 1a e 1b ilustram o ambiente
onde os procedimentos de avaliao e orientao para a estimulao foram realizados.
O projeto de Avaliao e Orientao
para a estimulao do Desenvolvimento
Infantil est em desenvolvimento desde
2008 e a interveno ocorre na Enfermaria
Peditrica/SUS da Irmandade da Santa Casa
da Misericrdia de Santos com o objetivo de
criar e manter um espao permanente para
avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor,
utilizando a Ficha de Acompanhamento
do Desenvolvimento Denver I (BONNER;
Figura 1b:
Ambiente de
realizao dos
procedimentos
de avaliao e
estimulao.
Figura 1a:
Ambiente de
realizao dos
procedimentos
de avaliao e
estimulao.
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Materiais e instrumentos
A Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento Denver I (BONNER;
MILLING; WALKER, 1984 apud BRASIL, 2002) foi utilizada durante o perodo de
agosto a novembro de 2011 e os dados sero apresentados neste texto. A equipe de
estudantes fez um estudo do instrumento e recebeu treinamento antes da coleta de
dados para observao do comportamento de bebs e registro dos dados. Para maior
confabilidade dos dados cada dade cuidador-beb foi observada simultaneamente por
uma dupla de estudantes de profsses diferentes, que observava e registrava os dados
na Ficha. As dvidas que surgiam no decorrer da avaliao eram esclarecidas, com a
docente, imediatamente aps a interveno com a dade, para permitir adequao do
registro e proteo aos participantes quanto aos aspectos ticos.
Um folheto educativo foi preparado contendo imagens dos marcos do desen-
volvimento nos quatro trimestres do primeiro ano de vida, com indicao de possveis
materiais e atividades a serem utilizados para estimular as reas do desenvolvimento
(perceptiva, sensorial, motora, social, linguagem, cognitiva). Esse folheto entregue ao
cuidador ao fm da interveno.
Por se tratar de um ambiente que requer cuidados especiais e da criana e cui-
dador j estarem em uma situao de vulnerabilidade, os estudantes receberam treina-
mento prvio quanto s noes bsicas de assepsia e seleo de materiais permitidos no
ambiente hospitalar. Os materiais (brinquedos, itens luminosos e coloridos) so cuida-
dosamente selecionados e analisados, com intuito de evitar a contaminao e/ou riscos
de acidentes.
Procedimentos
Inicialmente a equipe foi treinada para a utilizao da Ficha de Acompanhamento
do Desenvolvimento de Denver I, adotada desde 1984 pelo Ministrio da Sade foi
revista e ampliada (BRASIL, 2002). A Ficha serve como roteiro de observao e
identifcao de crianas com provveis problemas de desenvolvimento, incluindo alguns
aspectos psquicos. O instrumento contempla quatro indicadores: (1) maturativo; (2)
psicomotor; (3) social; e (4) psquico.
Sempre que possvel, o profssional deve tentar utilizar a mesma forma de
padronizao, o que facilitar o exame e dar maior confabilidade aos achados clnicos.
O profssional deve anotar a sua observao no espao correspondente idade da
criana e ao marco do desenvolvimento esperado, de acordo com a seguinte codifcao:
(P) Presente; (A) Ausente; e (NV) No Verifcado. Ao se aplicar a Ficha, algumas das
seguintes situaes podem ocorrer: a) presena das respostas esperadas para a idade
desenvolvimento normal; b) falha em alcanar algum marco do desenvolvimento para
a idade atraso no desenvolvimento; e c) ausncia do marco do desenvolvimento com
persistncia do atraso sendo um indicativo de alterao no desenvolvimento a ser
melhor investigado - inspira cuidados (ou no ltimo quadro sombreado).
No momento da interveno, a equipe percorre os quartos identifcando os be-
bs na faixa etria especfca, apresenta-se a cada dade cuidador-beb separadamente,
expe o objetivo do projeto e consultam o cuidador quanto ao interesse em participar
do projeto, com a avaliao e estimulao do beb.
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Quando aceito, autorizado verbalmente e na presena do cuidador, a docente
avalia as potencialidades da criana, alm de testar os refexos tpicos do desenvol-
vimento e os sentidos (viso, audio e tato), explicando passo-a-passo ao cuidador
como e porque so realizados os procedimentos.
Para ocorrer a interveno, o beb permanece no leito para que a docente possa
executar as manobras de avaliao e os estudantes possam acompanhar passo-a-passo
o manuseio e o registro das observaes no protocolo especfco (Ficha de Acompanha-
mento do Desenvolvimento). A durao da interveno para cada dade cuidador-beb
de aproximadamente 30 minutos. Em geral, atende-se de cinco a seis dades a cada
dia de interveno.
Durante a avaliao, caso o beb apresente alguma alterao observvel ou
atraso quanto aos marcos do desenvolvimento, o cuidador orientado a procurar um
servio de estimulao na comunidade e treinado em procedimentos bsicos que
podero contribuir para estimular o desenvolvimento do beb durante a permanncia
no hospital e ao retorno para a casa; sugerem-se materiais e objetos do cotidiano que
possam ser utilizados para estimulao visual, tctil, auditiva, proprioceptiva, como
escovinha de cabelo, tecido felpudo e macio, brinquedos sonoros, coloridos e luminosos.
Caso seja identifcada a presena de alterao signifcativa nos padres de postura e
movimentos do beb, o cuidador orientado a conversar com o mdico para obter
encaminhamento para especialista.
Aspectos ticos
O projeto foi submetido ao Comit de tica em Pesquisa da Irmandade da
Santa Casa de Santos, Parecer n. 04/2011 aprovado em 11/05/2011 e ao Comit de
tica em Pesquisa da UNIFESP, Parecer n. 0720/2011 aprovado em 10/06/2011.
Mediante concordncia verbal dos cuidadores, a equipe realizou as avaliaes e orientou
a estimulao do desenvolvimento da criana, utilizando um folheto educativo como
direcionador das instrues.
Resultados e Discusso
Os resultados apresentados a seguir referem-se ao perodo de agosto a novembro
de 2011, mas o projeto acontece semanalmente de forma contnua.
No referido perodo foram realizadas 12 sesses de interveno com 65 dades
cuidador-beb atendidas, entretanto o nmero total de cuidadores foi 77, pois
frequentemente havia mais de um acompanhante (pais, avs, tias) com o beb. A
Tabela 1 apresenta os dados de atendimento no perodo de agosto a novembro de 2011.
Tabela 1. Quan-
tidade total de
atendimento.
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No meses de agosto e novembro houve menor nmero de interveno devido
aos momentos de planejamento e ocorrncia de feriados. No ms de dezembro, as
intervenes tiveram carter comemorativo em todo o setor devido s proximidades
das festas de fnal de ano e em decorrncia das inmeras atividades de avaliao das
aes desenvolvidas e fnalizao do semestre letivo para os estudantes.
Em cada interveno, na presena do cuidador e do beb, a docente conversava
com a dade interagindo de forma ldica, evitando qualquer situao de desconforto
para o beb. O beb era posicionado no leito e diversas atividades foram propostas. As
respostas observadas do comportamento do beb perante os estmulos foram registra-
das na Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento de Denver I.
A aplicao da Ficha permite observar o desenvolvimento neuropsicomotor dos
bebs, possibilitando a comparao entre bebs da mesma faixa etria ou nveis de
agravamento. Os dados obtidos por meio da sua aplicao indicam se a criana est
dentro do padro esperado para a faixa etria e se est avanando no desenvolvimento
conforme o esperado para sua idade cronolgica e maturidade. Os itens do protocolo
oferecem subsdios para as orientaes e o ensinamento do cuidador quanto atividade
de estimulao a ser realizada com o beb.
O acompanhamento do desenvolvimento deve fazer parte do exame geral da
criana. Para isso, no necessrio criar espaos, momento especfco ou instrumen-
tal especializado, embora alguns pequenos brinquedos e/ou objetos possam ser usados
para desencadear alguma resposta refexa ou marco do desenvolvimento.
O profssional deve prestar ateno forma como o cuidador lida com o beb,
se conversa com ele, se est atento s suas manifestaes. Muitas vezes, principalmen-
te com o primeiro flho, a me fca muito tensa, sendo comum a presena de angstia,
preocupao e desconforto com a condio de adoecimento do beb e a permanncia no
ambiente hospitalar (BRASIL, 2002).
Com relao ao beb, a sequncia do desenvolvimento pode ser identifcada em
termos gerais atravs dos marcos tradicionais. Essas referncias constituem uma abor-
dagem sistemtica para a observao dos comportamentos presentes. A aquisio de
determinada habilidade baseia-se nas adquiridas previamente e raramente pulam-se
etapas. Estes marcos constituem-se a base dos instrumentos de avaliao.
fundamental escutar os pais e levar em considerao a histria clnica e o
exame fsico do beb, assim como a rotina familiar e as caractersticas do ambiente
domiciliar.
Para efeito desse manuscrito apresentam-se os resultados da avaliao do de-
senvolvimento de 38 bebs e seus respectivos cuidadores. Foram avaliadas 38 bebs,
cujos dados apresenta-se a seguir.
A avaliao nesse contexto entendida como a oportunidade de analisar o
desempenho do beb, obter subsdios para as orientaes da estimulao, tendo em
vista a continuidade do desenvolvimento. um momento mpar, em que o cuidador
tem a voz para descrever como o seu flho em casa, onde e como ele permanece
durante o dia, o que permitido que ele faa no dia-a-dia, os espaos existentes
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na moradia para que a docente possa realizar as orientaes em conformidade com a
realidade de vida da dade cuidador-beb.
A Figura 2 apresenta as porcentagens de itens presentes em cada beb em fun-
o da idade cronolgica.
Dos 38 bebs avaliados, oito apresentaram de 91% a 100% dos itens indicados
para a idade; nove apresentaram de 81% a 90%; 10 apresentaram de 71% a 80%
dos marcos do desenvolvimento indicados para a respectiva idade cronolgica; sete
bebs apresentaram de 61% a 70%; dois bebs apresentaram de 41% a 50%; e dois
apresentaram de 31% a 40%.
Cabe ressaltar que os quatro bebs que apresentaram porcentagens menor ou
igual a 50% tinham diagnstico de Sndrome de Down ou Paralisia Cerebral e estavam
internados por causas diversas. A maioria das internaes na Enfermaria Peditrica/
SUS da Santa Casa decorrente de alteraes gastrointestinais, infeco urinria,
pneumonia, desidratao, acidentes domsticos, otite, entre outras tpicas para a faixa
etria de zero a 12 meses.
Quanto aos itens avaliados, somente oito bebs (21%) apresentaram desempenho
compatvel com o desenvolvimento normal, quando a criana executa atividades da rea
sombreada da Ficha, realizada por mais de 90% das crianas na mesma faixa etria.
19 bebs (50%) apresentam atrasos, quando a criana no executa atividade que j
feita por 75 a 90% das crianas de sua idade; 11 bebs (29%) inspiram cuidados,
pois apresentaram menos de 70% dos itens correspondente sua faixa etria.
Apesar da maioria das crianas (79%) apresentarem alterao no desenvolvimento
(atrasos ou cuidados), deve-se ressaltar que o fator ambiente hospitalar e a presena
de pessoas no familiares para a criana estarem se aproximando e manuseando-a,
assim como o estado de sade alterado, podem ter interferido nos dados de desempenho.
Diante dos resultados da avaliao, os bebs eram estimulados com o uso de brinquedos,
msica, mbiles coloridos, manuseio corporais, posicionamentos no leito; o cuidador
era orientado quanto a alguns procedimentos de estimulao e o folheto educativo era
disponibilizado para os cuidadores com explicaes a respeito das fguras, da sequncia
do desenvolvimento e das possveis atividades a serem desenvolvidas com o beb.
Figura 2. de itens
presentes confor-
me idade cronol-
gica (meses).
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Concomitantemente ao manuseio e avaliao do desenvolvimento, orientaes
e esclarecimentos so fornecidos ao cuidador, com a demonstrao passo-a-passo dos
procedimentos para as mudanas de decbito do beb; posies estimuladoras durante
a troca de vestimentas e fralda; posicionamento facilitador do desenvolvimento com
a acomodao do beb no ninho, feito como um rolo utilizando um lenol, tendo
a fnalidade de delimitar o espao do beb no leito, assemelhando-se ao ambiente
vivenciado no tero materno. Isso favorece o contato do corpo do beb com limites,
obstculos causando uma estimulao proprioceptiva e uma resposta motora de
extenso dos membros e cabea, o que favorece o aumento do tnus muscular.
Dependendo da idade da criana e das condies de sade (no utilizao de
acesso venoso), o beb era colocado em posio de pronao (barriga para baixo), o que
frequentemente desencadeava respostas de elevao da cabea e sustentao cervical,
impulsos corporais provocando deslocamentos para frente ou para trs. Esse era um
momento mgico, pois o cuidador expressava reaes de surpresa ao ver o beb
tomando atitudes at ento pouco presenciadas no ambiente hospitalar e, conforme
relato do cuidador, tambm pouco observadas em casa. As condies de moradia da
maioria das dades cuidador-bebs hospitalizados (espaos muito apertados, palaftas,
morro) impedem que a criana seja deixada com liberdade no cho para explorar os
deslocamentos. Os cuidadores relatam que os bebs fcam a maior parte do tempo no
colo ou no carrinho, esse posicionamento pode provocar atrasos no desenvolvimento
motor e cognitivo, dadas as escassas oportunidades de estimulao.
A estimulao precoce inclui todo o tipo de atividades, oportunidades e
procedimentos destinados a proporcionar criana, nos seus primeiros anos de vida,
experincias signifcativas para alcanar pleno desenvolvimento no seu processo
evolutivo (DUNST; BRUDER, 2002).
Proporcionar criana oportunidades para que tenha um desenvolvimento
adequado talvez o que de mais importante que se pode oferecer espcie humana.
Um desenvolvimento infantil satisfatrio, principalmente nos primeiros anos de vida,
contribui para a formao de um sujeito com suas potencialidades desenvolvidas,
com maior possibilidade de tornar-se um cidado mais resolvido, apto a enfrentar as
adversidades que a vida oferece, reduzindo-se assim as disparidades sociais e econmicas
da nossa sociedade (OPAS, 2005).
importante que os pais estejam preparados para entender as necessidades do
beb, assim como as capacidades que o mesmo traz consigo ao nascer, sendo capaz de
interagir e, consequentemente, estimul-lo. preciso um estmulo adequado, interpre-
tando o comportamento do beb e ajustando-se a seu ritmo. A existncia desse projeto
justifca uma proposta de educao em sade, como apoio aos cuidadores e subsdio
estimulao do desenvolvimento infantil.
De acordo com Taques e Rodrigues (2006) as aes preventivas tm como obje-
tivo oportunizar o desenvolvimento adequado de crianas. Um dos meios para atingir
a estimulao adequada o fornecimento de orientao aos pais, de modo a ensin-los
a estimular seu beb em casa de acordo com sua realidade e as necessidades do flho,
respeitando o ritmo de aprendizagem e a fase de desenvolvimento do mesmo. Para isso,
fundamental que as pessoas que esto em contato com o beb conheam as principais
etapas de seu desenvolvimento para poderem estimular, de maneira efetiva, todo o po-
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tencial do qual dotado. A orientao feita aos cuidadores dos bebs quanto aos dife-
rentes modos de aplicar a estimulao, no hospital, em casa e com diferentes objetos
que esto disposio, faz com que haja maior anseio dos pais para realizar as tarefas
aconselhadas pela docente. Assim, a estimulao comea no hospital e tem continuida-
de nas casas das famlias.
Para Gesell (2002), cada fase do desenvolvimento tem suas especifcidades e
expressa uma caracterstica diferente do crescimento, mas que demonstra a organizao
dos estmulos, as reaes posturais, o tipo de preenso manual dos objetos, a comunicao
e as reaes individuais aos estmulos advindos do meio ambiente. Est implcita uma
observao em que o aspecto quantitativo e o qualitativo sejam considerados, alm da
deteco de como a criana manifesta a sua maturao do desenvolvimento em relao
com o ambiente. Compreender o desenvolvimento da criana fundamental para
possibilitar o planejamento e a escolha dos procedimentos adequados de orientao e
estimulao.
Assim, o funcionamento do grupo familiar, a interao dos membros da famlia
e a cultura infuenciam no desenvolvimento da criana.
O desenvolvimento um processo contnuo que ocorre em uma sequncia mais
ou menos ordenada. A avaliao da etapa de maturidade funcional em que o beb
se encontra contribui com informaes sobre os vrios aspectos do desenvolvimento
neuropsicomotor e proporciona uma viso especfca sobre a criana, auxiliando na
elaborao do diagnstico e no respectivo tratamento (GESELL, 2002).
O folheto educativo foi preparado a partir da experincia profssional da do-
cente e de imagens extradas de Gesell (2002), organizado em faixas etrias: primeiro
trimestre (0-3 meses), segundo trimestre (4-6 meses), terceiro trimestre (7-9 meses),
quarto trimestre (10-12 meses). A Figura 3 apresenta o contedo do folheto educativo.
Figura 3. Folheto
educativo utili-
zado com apoio
para a orientao
dos cuidadores
(Imagens extra-
das de Gesell,
2002).
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A preveno deve ser a primeira medida a ser adotada, pois no s a mais
efciente, podendo contribuir para uma melhoria das condies biopsicossociais da
criana, como tambm reduz os custos no futuro, que tm uma tendncia em aumentar
acentuadamente com o crescimento da criana e suas necessidades, caso a interveno
necessria no ocorra em tempo hbil. Assim, acredita-se que a educao em sade,
atravs da identifcao precoce de alteraes no desenvolvimento e da interveno com
os cuidadores, possa servir como ferramenta para provocar mudanas na qualidade dos
servios de sade oferecidos (ROSSIT; FVERE, 2011).
A avaliao e orientao de cuidadores para a estimulao do desenvolvimento
constituem-se em procedimentos efcazes para a deteco precoce de possveis alteraes
no desenvolvimento e a interveno no sentido de minimizar complicaes secundrias.
A avaliao do desenvolvimento deveria ser uma rotina peridica e sistematizada nos
hospitais, centros de sade, creches, adotando-se a observao das crianas nas idades
crticas, em que deveriam exibir os comportamentos tpicos para a faixa etria em
questo, ou seja, os marcos do desenvolvimento (ROSSIT; FVERE, 2011).
O principal objetivo da estimulao o de impulsionar o desenvolvimento das
habilidades bsicas das crianas normais, de alto risco ou daquelas com atrasos no de-
senvolvimento, em seus primeiros anos de vida, a fm de prevenir ou minorar os dfcits
presentes ou que podero apresentar, possibilitando-lhes um processo evolutivo to
equilibrado quanto possvel.
De acordo com as Diretrizes Educacionais sobre Estimulao Precoce (BRASIL,
1995), o programa de estimulao consiste em uma prtica internacionalmente adotada,
destinada a crianas que apresentam: distrbios ou atraso no desenvolvimento;
susceptibilidade de virem a apresentar defcincias (crianas consideradas de alto risco,
ou seja, que recebem infuncia dos fatores somticos e/ou ambientais, de ocorrncia
principalmente nos perodos pr-natal, peri e ps-natal. Esses fatores so denominados
de alto risco e deixam a criana vulnervel ao aparecimento de defcincias ou atraso
no desenvolvimento); e desenvolvimento dentro dos padres de normalidade.
CONSIDERAES FINAIS
Para os bebs, o afastamento temporrio da vida familiar e cotidiana provocam
sentimentos diversos. Com uma proposta de interveno no ambiente hospitalar,
com momentos de descontrao e de estimulao com atividades ldicas, manuseio e
adequao postural no leito, espera-se ter oferecido o apoio necessrio para retornarem
s condies de sade e de vida cotidiana com um menor prejuzo fsico e emocional.
Para os cuidadores, o afastamento do trabalho profssional, domstico e dos
cuidados atribudos famlia, agravados pela condio de adoecimento e hospitaliza-
o do beb, so fatores que interferem nos aspectos emocionais e na rotina de suas vi-
das. Permanecer no hospital, presenciando momentos de dor, desconforto e submisso
do flho a procedimentos invasivos, acrescido da falta de acomodao adequada para o
descanso e o sono, torna a situao ainda mais delicada. Assim, com o desenvolvimento
do presente projeto espera-se ter contribudo de alguma forma para minimizar esses
fatores, durante algumas horas do perodo de internao.
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Para os profssionais da Santa Casa, a presena da equipe interprofssional
constituiu-se em oportunidade para fortalecer as prticas de integrao ensino-servio
dos cursos/profssionais da sade que j apresentam insero no espao hospitalar, ex-
perienciar as prticas do trabalho em equipe e da integralidade no cuidado pela ao
interprofssional e interdisciplinar, com vistas ao treinamento em servio. A utilizao
da Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento (BRASIL, 2002) pela equipe exe-
cutora do projeto poder ser incorporada prtica do setor, constituindo-se como uma
poltica institucional de ateno sade, preveno de agravos no desenvolvimento
e de promoo da sade da criana.
Para os estudantes, a oportunidade de desenvolver aes de promoo da sade
e preveno de agravos no mbito da Sade, Educao e Social, assim como vivenciar
os princpios do Projeto Pedaggico do campus Baixada Santista, de se aproximarem
da prtica profssional interprofssional para o desenvolvimento de competncias
comuns s profsses da sade (colaborao, escuta qualifcada, comunicao, tomada
de deciso, integralidade na acuidade, trabalho em equipe), constitui-se em momentos
mpares que agregam valores e destacam-se como um diferencial na formao em nvel
de graduao. A possibilidade de participar em projetos dessa natureza auxilia na
aproximao ao futuro ambiente de trabalho ao qual estaro inseridos e fornece uma
viso real da rea de sade contempornea, tendo assim a oportunidade de vivenciar a
prtica colaborativa em uma equipe interprofssional atuando em ambiente hospitalar.
A proposta desse projeto est pautada nas diretrizes do Sistema nico de Sa-
de com relao proposio de aes e reorientao das estratgias e modos de cuidar,
tratando e acompanhando a sade individual e coletiva. A presente proposta traz be-
nefcios s crianas, aos cuidadores e instituio parceira, na medida em que investe
na deteco de variveis que podem interferir no desenvolvimento infantil, na promo-
o da sade da criana, cuidadores e profssionais, na preveno de consequncias
secundrias ao processo de adoecimento, na reinsero destas pessoas no cotidiano e
na melhoria das condies de ateno criana hospitalizada e em processo de adoeci-
mento.
A possibilidade da atuao conjunta de diferentes profsses fsioterapia, psi-
cologia e terapia ocupacional permitem ampliar o olhar sobre a sade e o desenvolvi-
mento da criana, assim como, constituir-se em um campo emergente para a efetivao
da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extenso na abordagem da educa-
o interprofssional.
A UNIFESP, em parceria com a Santa Casa de Santos, contribui com os pro-
cessos de formao dos novos profssionais da sade, pautando-se nos referenciais cur-
riculares nacionais e criando oportunidades reais de prtica colaborativa e de efetiva
integrao ensino-servio-comunidade, tendo como parmetros os conceitos e disposi-
tivos da Poltica Nacional de Humanizao.
A principal difculdade encontrada durante a realizao do projeto foi a falta de
tempo, dos estudantes e docente, para dedicar ateno por maior perodo de tempo
criana e ao caso especfco, confgurando as aes em momentos de triagem e interveno
de curta durao aos bebs hospitalizados. Dada a inviabilidade de acompanhar o
desenvolvimento dos bebs, tornam-se recursos paliativos a orientao aos cuidadores
e o encaminhamento a servios especializados de estimulao. A possibilidade de
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consultar o folheto educativo, acompanhando os marcos do desenvolvimento, auxiliam
os cuidadores durante o primeiro ano de vida.
A experincia mostrou que algumas crianas hospitalizadas apresentaram al-
guns atrasos no desenvolvimento, e que este pode ser um momento propcio para a
realizao da interveno com orientao e aconselhamento das mes/cuidadores.
Os resultados obtidos demonstram o quanto importante a insero dos estu-
dantes no ambiente hospitalar e na ateno sade da criana, criando oportunidades
de se apropriar dos contedos sobre o desenvolvimento infantil, a promoo da sade e
preveno de agravos, possibilitando a identifcao precoce de possveis alterao nos
bebs, tornando possvel otimizao o tempo, os momentos de estimulao e apren-
dizagem durante o perodo de hospitalizao, o que poder provocar efeitos positivos
para todos os envolvidos no processo de adoecimento (bebs, cuidadores, profssionais
do servio, estudantes, docentes).
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UNIFESP. Projeto poltico pedaggico do campus Baixada Santista, 2012.
COMO CITAR ESTE RELATO:
ROSSIT, Rosana A. Salvador; CORRA, Camila Gomes; FRANA,
Karina Godoy Brando de; RODRIGUES, Renata Savino. Avaliao do
desenvolvimento de crianas hospitalizadas e orientao de cuidadores para
a estimulao. Extramuros, Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 19-32, jan./jul. 2013.
Disponvel em: <informar endereo da pgina eletrnica consultada>.
Acesso em: informar a data do acesso.
Recebido em: 10 abr. 2013.
Aceito em: 30 jun. 2013.
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Universidade cidad: descobrindo campees
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Antonio Aritan de Oliveira Ventura
1
Mara da Rocha Melo Souza
RESUMO
Universidade Cidad: Descobrindo Campees - UCDC foi um projeto de extenso
universitria criado em 2009, com o objetivo de desenvolver a conscincia cidad e a
melhoria da qualidade de vida de crianas e adolescentes com difculdade de relacio-
namento e vulnerabilidade social. Foram atendidos 60 crianas e adolescentes com
idades entre 9 e 17 anos, selecionados a partir dos critrios pr-estabelecidos juntos aos
lderes comunitrios e diretores de escolas pblicas das comunidades de Stio dos Pin-
tos, Stio So Braz e Crrego da Fortuna, localizadas nas imediaes da Universidade
Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. Esse projeto procurou estabelecer, durante
seis meses, uma relao entre o poder pblico e a sociedade civil promovendo a incluso
social, cidadania e consequentemente a diminuio das desigualdades sociais por meio
de esportes como o Taekwon-do, a ginstica, palestras, passeios e aulas de artesanato
promovendo dessa forma o bem estar da comunidade local atravs de aes afrmativas
que minimizassem ou solucionassem os diversos estgios de misria e vulnerabilidade
social que alguns grupos enfrentavam.
Palavras-chave: Extenso universitria; Vulnerabilidade social; Incluso social.
Citizenly university: discovering champions
ABSTRACT
Citizenly University: Discovering Champions - CDCU was a university extension
project created in 2009, aiming to develop citizen awareness and improving the quality
of life of children and adolescents with relationship diffculties and social vulnerability.
There were treated 60 children and adolescents aged 9 to 17 years, selected from the
pre-established criteria decided with community leaders and public school principals
of the communities Site Pintos, Sitio Sao Braz and Stream Fortuna, located in the
vicinity of Federal Rural University of Pernambuco-UFRPE. This project sought
to establish, for six months, a relationship between the government and civil society
to promote social inclusion, citizenship and consequently the reduction of social
inequalities through sports such as Taekwon-do, gymnastics, lectures, tours and classes
crafts thereby promoting the welfare of the local community through affrmative
action that minimized or solved the various stages of poverty and social vulnerability
that some groups faced.
Keywords: University extension; Social vulnerability; Social inclusion.
1
Coordenador do
projeto. Tcnico
administrativo,
chefe do Apoio
Didtico - DEIN-
FO - Universida-
de Federal Rural
de Pernambuco
(UFRPE).
aritanventura7@
yahoo.com.br
2
Professora da
Universidade de
Pernambuco,
Escola Superior
de Educao
Fsica (ESEF-U-
PE). Professora
da Faculdade dos
Guararapes (FG).
mdarochamelo@
yahoo.com.br
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INTRODUO
No mundo globalizado e capitalista em que vivemos hoje, um dos fatores mar-
cantes desse contexto poltico a desigualdade social enfrentada e sentida mais incisi-
vamente pelas classes sociais menos favorecidas.
Trazendo para o contexto nacional, Mercadante (2003) afrma que o Brasil
um pas profundamente desigual e estruturalmente injusto, sendo considerado um dos
pases mais desiguais do planeta, onde esta desigualdade tem sido uma caracterstica
permanente da sua estrutura econmica e social. Na verdade, isso ocorre desde a colo-
nizao, onde o planejamento no era voltado para os interesses de melhoria das condi-
es de vida dos habitantes, pois de acordo com Prado Jnior (2004) naquele momento
ningum tinha a ideia de povoar, era o comrcio que interessava, da o desprezo pelo
territrio primitivo e vazio.
Para Pochmann (2003),
O Brasil tem sido cada vez mais identifcado como um pas de referncia internacional no
campo da desigualdade, marcada por enorme contradio nacional. Apesar de encontrar-
se entre as 10 maiores economias mundiais, permanece entre as quatro naes com pior
distribuio de renda. Situa-se entre os seis pases com maior exportao de alimentos,
mas mantm uma parcela signifcativa de sua populao passando fome, utilizando cerca
de 1/3 do total de terras agricultveis.
Diante dessas constataes, percebe-se que responsabilidade do poder pblico
promover polticas e aes que promovam efetivamente uma mudana no quadro
social diminuindo a vulnerabilidade desses grupos, que muitas vezes promovida pela
negligncia do prprio poder pblico; ou seja, a vulnerabilidade pode existir, tambm,
pela ausncia do Estado em garantir os direitos fundamentais e sociais do cidado
como est garantido na Constituio Federal em seus artigos 5. e 6.:
Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida,
liberdade, igualdade, segurana e a Propriedade [...]
[...] So direitos sociais a educao, a sade, a alimentao, o trabalho, a moradia, o lazer,
a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos
desamparados, na forma desta Constituio.
(BRASIL, Constituio Federal, 1988)
Nessa perspectiva, se faz imperativo que programas e projetos de extenso
das universidades pblicas brasileiras tenham um foco cada vez maior em polticas
pblicas e nas aes que trabalhem a incluso e a transformao social de grupos
em vulnerabilidade. Colaborando com essa viso, a Poltica Nacional de Extenso
Universitria afrma em suas diretrizes
[...] a Extenso Universitria como o mecanismo por meio do qual se estabelece a inter-
relao da Universidade com os outros setores da sociedade, com vistas a uma atuao
transformadora, voltada para os interesses e necessidades da maioria da populao e
propiciadora do desenvolvimento social e regional, assim como para o aprimoramento das
polticas pblicas (PNEU, 2012).
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Por outro lado, o que no se pode permitir que as aes extensionistas se
utilizem de grupos em vulnerabilidade social apenas para explorar didaticamente os
alunos universitrios com a fnalidade de desenvolver teses e dissertaes servindo
como base de dados estatsticos para seus anais e promoo (ascenso) pessoal de uma
minoria. Faz-se necessrio compreender que toda ao de extenso, que vise atingir
projetos sociais e grupos vulnerveis, tem por dever moral contribuir efetivamente
com a mudana do quadro social apresentado, pois dessa maneira o carter social das
extenses universitrias estar cumprindo seu papel e plantando razes profundas de
cidadania na sociedade:
[...] Qual o papel do extensionistas nestas comunidades: est levando o aluno para olhar
a pobreza para que, sensibilizado, construa-se um cidado? Mas at que ponto estamos
transformando a pobreza em objeto, descolando dela os sujeitos ali implicados em seu
processo dirio de luta pela sobrevivncia? No basta levar o aluno por um tempo a olhar
a pobreza, h que se ter aes continuadas, de carter efetivo, que realmente cumpram
com o papel da Universidade perante a sociedade e perante seu aluno (OLIVEIRA, 2004).
No se trata de querer transformar as extenses universitrias em muletas
governamentais no que se refere a polticas pblicas de assistencialismo social, pois se
assim o fosse estaramos colocando as universidades pblicas brasileiras em iminente
perigo de sucumbirem ao assistencialismo, ao clientelismo, benevolncia e s
concesses, passando a ser alvo de polticos e ONGs oportunistas, como cita Cardoso
(2004):
Assistencialismo um estilo, um modo de fazer, que tem como conseqncia criar uma
relao de submisso e no oferecer os instrumentos para superao das carncias que
esto sendo minoradas. Quando associadas ao clientelismo, as formas de assistncia se
transformam em instrumentos de poder. bom lembrar que, se os governos podem ser os
espaos privilegiados para o clientelismo, no so os nicos, pois possvel encontrar estes
mesmos usos em entidades privadas.
No que se refere famlia, esta compreendida como a primeira unidade social
da qual o indivduo faz parte, e que o homem comea a sua socializao atravs da
famlia, por esse motivo faz-se necessrio ponderarmos o papel dessa unidade social
enquanto promotora de educao, proteo e dignidade. Passamos a analisar o seu
comportamento frente a esse projeto social a partir de situaes vivenciadas durante
as atividades propostas; constatamos uma ausncia marcante do acompanhamento
familiar durante todo projeto, torna-se pertinente analisar esse contexto, pois um dos
fatores que atenuam a vulnerabilidade a ausncia de uma unidade familiar.
como se as famlias ligadas a esses grupos sociais transferissem o dever de
educao para o Estado e os projetos sociais, quando ao analisarmos a constituio do
Brasil esclarece que cabe unidade familiar o dever de amparar e educar, e ao Estado
restando o dever de proteger e promover recursos sufcientes a essa base primria da
sociedade:
Artigo 226. A famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado.
7 - Fundado nos princpios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsvel,
o planejamento familiar livre deciso do casal, competindo ao Estado propiciar
recursos educacionais e cientfcos para o exerccio desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituies ofciais ou privadas. [...]
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Artigo 229. Os pais tm o dever de assistir, criar e educar os flhos menores. (BRASIL -
Constituio Federal, 1988)
Mas como repassar esse entendimento do direito quando a famlia carente
de conhecimentos e cultura cidad? Ser que o Estado e a sociedade no contribuem
para o aprofundamento dessa segregao familiar a partir do momento que deixa de
assegurar os direitos fundamentais a esses grupos?
Art. 4. dever da famlia, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Pblico
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivao dos direitos referentes vida, sade,
alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profssionalizao, cultura, dignidade,
ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria (BRASIL. ECA, 1990).
Quando se fala em sociedade necessariamente relacionamos esse termo aos
conceitos de cidadania, pois para que esta exista pressupe-se uma vida em sociedade.
A cidadania tem sua relao direta com grupos sociais vulnerveis em um contexto
civil, poltico e social; ou seja, cidadania no coaduna com a ideia de individualidade
e interesses pessoais frente aos problemas do Estado: sade, educao, segurana,
saneamento tudo isso diz respeito ao cidado.
Nesse contexto, o projeto Universidade Cidad: Descobrindo Campees UCDC
teve o intuito de estabelecer uma relao que viesse contribuir com o desenvolvimento
socioeducacional de crianas e adolescentes em situao de vulnerabilidade social bem
como criar um link entre a Universidade pblica e as comunidades locais no intuito de
promover cidadania, incluso social e a diminuio das desigualdades atravs de aes
afrmativas que minimizassem os diversos estgios de misria enfrentados por alguns
grupos sociais.
METODOLOGIA
Este estudo consiste em um relato de experincia vivenciado pelo servidor
tcnico administrativo da Universidade Federal Rural de Pernambuco, lotado no
Departamento de Estatstica e Informtica, graduando em Educao Fsica pela
Faculdade dos Guararapes-PE, coordenador e executor desse projeto no perodo de 14
de julho a 26 de novembro de 2009, com um total de 104 horas. A sistematizao desse
projeto teve como marco inicial reunies realizadas junto aos lderes comunitrios e
diretores de algumas escolas da rede pblica das comunidades de Stio dos Pintos, Stio
So Braz e Crrego da Fortuna, todas adjacentes ao Campus da UFRPE. Esses encontros
foram realizados com o objetivo de traar o perfl das crianas que apresentavam maior
vulnerabilidade social e difculdade de relacionamento na escola e na comunidade onde
residiam, pois esse era o critrio principal de seleo para participao no projeto.
A partir disso foram selecionadas 200 crianas e adolescentes com idades entre
9 e 17 anos de ambos os sexos. Entretanto, apenas 60 participaram efetivamente de
todas as aes do projeto durante os seis meses. Aps a etapa de seleo dos partici-
pantes, o projeto se desenvolveu ao longo de seis meses com aulas de Taekwon-do (20
h/a), jogos educativos (20 h/a), futebol de campo e de salo (16 h/a), passeio ao espao
cincia na cidade de Olinda-PE (8 h/a), palestras (16 h/a), trabalhos educativos (16 h/a)
e ofcinas de artesanato (18 h/a).
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s crianas e aos adolescentes era permitida a participao em todas as
atividades oferecidas, tanto nas habituais quanto nas pontuais. As atividades tinham
em mdia 2 horas de durao por sesso, acontecendo nas teras e quintas, das 7 s 9
da manh. importante ressaltar que na realizao das atividades se deu prioridade
em trabalhar o fator coletividade, igualdade, respeito e incluso entre os gneros. Tal
tomada de deciso se deu devido aos comportamentos discriminatrios entre meninos
e meninas detectados no transcorrer do projeto.
No que se refere ao acompanhamento da famlia ao longo do desenvolvimento
do projeto, foi avaliado atravs da observao e das listas de presena o perodo
de acompanhamento dos flhos nas atividades e a frequncia nas palestras que eram
oferecidas para as famlias como um todo.
Ao fnal do projeto todos os alunos foram homenageados com uma pequena
confraternizao devido aos poucos recursos fnanceiros: todos receberam brindes
e houve o sorteio de uma bicicleta doada por uma professora do Departamento de
Estatstica e Informtica.
Os participantes que tiveram uma frequncia de no mnimo 70% da carga
horria total receberam um certifcado de participao com reconhecimento do
Coordenador de Educao Continuada-PRAE-UFRPE e do Pr-Reitor e Atividades
de Extenso-UFRPE.
Quanto aos profssionais envolvidos, houve a participao direta e indireta
de 10 (dez) servidores da UFRPE, dos quais 4 (quatro) professores e 1 (um) Tcnico
administrativo do Departamento de Estatstica e Informtica, 1 (um) Tcnico
Administrativo do setor de Segurana Patrimonial, 1 (um) Tcnico Administrativo
do Departamento de Educao, 1 (um) Tcnico Administrativo da Pr-Reitoria de
Atividades de Extenso, e 1 (um) Tcnico Administrativo do Departamento de
Matemtica. Uma vez que para execuo do projeto no houve nus para a UFRPE,
conseguiu-se um apoio fnanceiro da Fundao Apolnio Salles de Desenvolvimento
Educacional-FADURPE, para aquisio de fardamento, bolas, luvas de foco, cones,
pratos de demarcao, entre outros.
RESULTADOS E DISCUSSES
Foi identifcado que durante a realizao do projeto UCDC ocorreu uma ausncia
marcante do acompanhamento familiar como suporte social, tornando-se pertinente
analisar esse contexto, pois um dos fatores que atenuam a vulnerabilidade a ausncia
de uma unidade familiar. Dentre as defnies do que vem a ser suporte social, Miller e
Jeff-Darlington (2002 apud MOMBELLI et al., 2011), afrmam que
[...] o suporte social deve ser analisado de forma ampla a fm de que se considerem todas
as relaes signifcativas. O papel dos amigos e da comunidade deve ser considerado como
importante provedor de suporte ao indivduo, contudo a famlia assume um papel de
destaque no adequado suporte oferecido.
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Ao analisarmos a Carta Magna do Brasil, notamos que ela esclarece que cabe
unidade familiar [...] o dever de amparar e educar, onde os pais tm o dever de assistir,
criar e educar os flhos menores, [...] restando ao Estado o dever de proteger e promover
recursos sufcientes a essa base primria da sociedade (BRASIL, Constituio Federal,
art. 229, 1988).
Observamos que para haver uma mudana comportamental signifcativa
de crianas e adolescentes em situao de vulnerabilidade social se faz necessria a
participao de todo ncleo familiar em programas e projetos dessa natureza, pois
constatamos que o tempo ofertado aos menores torna-se insignifcante em relao ao
tempo que os mesmos passam com seus familiares. De acordo com Sarti (1995 apud
PALUDO; KOLLER, 2008), a defnio de famlia para os pobres no se vincula a um
grupo genealgico ou ao parentesco, mas est associada queles em que podem confar.
Essa anlise importante aps recebermos relatos dos prprios participantes
que por muitas vezes sofrem constantes abusos e violaes fsicas e psicolgicas dos
seus familiares dentro das suas casas, o fator famlia como ncleo formador do primei-
ro carter da criana deve ser levado em considerao uma vez que nessa unidade
social onde comea a ser moldada a personalidade do indivduo.
Durante o transcorrer do projeto UCDC foram realizadas vrias atividades com
o objetivo de promover, provocar e explorar o grau de conhecimento das crianas e
adolescentes sobre o signifcado da palavra cidadania ou como eles a praticavam nas
suas atividades dirias: escola, famlia, comunidade, etc.
Mesmo levando em considerao a pouca idade e a situao social dos menores,
o resultado foi um grande abismo intelectual sobre esse tema, parecia uma palavra que
acabara de ser criada pela norma culta. Aferiu-se dessa experincia alguns questiona-
mentos:
Como crianas e adolescentes que vivem em sociedade em pleno sculo XXI
desconhecem um termo que faz parte do pilar de um Estado democrtico de direito?
Como passar a ideia de respeito, dignidade e justia social?
Ser que a base cultural sobre esse tema foi trabalhada?
3
Qual a parcela de responsabilidade do Estado nesse processo?
Como equalizar as obrigaes do Estado em promover educao, sade e
segurana pblica em uma sociedade que apresenta demandas sociais cada vez mais
crescentes?
Qual deve ser o efetivo papel do ncleo familiar nesse processo?
Diante disso, foi possvel verifcar que apesar de ter um tempo determinado para
realizao, o projeto conseguiu atender questo extensionista. O mesmo identifcou
as demandas da comunidade e ofereceu atividades aos atores envolvidos, de forma
que estes pudessem modifcar os hbitos individuais bem como os das suas respectivas
famlias.
3
Subentende-
se, devido ao
desconhecimento
do tema, que
as crianas no
tiveram - antes
de participarem
do projeto - a
oportunidade de
vivenciarem uma
didtica sobre
cidadania.
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Alm disso, houve um trabalho dirio de conscientizao de todos os profssionais
envolvidos, chamando a ateno para o fato de que trabalhos dessa natureza so
extremamente importantes para as comunidades. Uma vez realizado de forma exitosa,
o projeto de extenso pode servir de base para o desenvolvimento, a mdio prazo,
de um programa de extenso, que por natureza tm um carter duradouro fazendo
com que um maior nmero de indivduos internos e externos universidade sejam
benefciados na tica acadmica, cientfca e social atravs das vrias possibilidades de
projetos.
Vale ressaltar que importante primar pela autonomia universitria, promo-
vendo dessa forma uma maior visibilidade, procurando atender efetivamente as de-
mandas e problemas sociais detectados nas comunidades no entorno da Universidade
Federal Rural de Pernambuco.
CONSIDERAES FINAIS
As instituies pblicas de ensino superior com suas polticas pblicas de ex-
tenso universitria devem promover aes de extenso que se caracterizem como
ferramentas efcazes no contexto socioeconmico, cultural, educacional e de polticas
pblicas capazes de promover o desenvolvimento e a qualifcao dos trs segmentos
institucionais: docentes, discentes e tcnicos administrativos em prol da sociedade.
Nesse contexto, devem-se priorizar as prticas que atendam as necessidades
sociais de maneira efcaz e contribuam efetivamente para solucionar e/ou minimizar as
desigualdades locais.
REFERNCIAS
BRASIL. Constituio Federal. Braslia: Ministrio da Justia, 1988.
BRASIL. Estatuto da Criana e do Adolescente ECA. Braslia: Ministrio da Justi-
a, 1990.
CARDOSO, R. Sustentabilidade, o desafo das polticas sociais no sculo 21. So Pau-
lo em Perspectiva, So Paulo v. 18, n. 2, p. 42-44, abr./jun. 2004.
MERCADANTE, J. Construindo estratgias para combater a desigualdade social:
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MOMBELLI, M. A.; COSTA, J. B.; MARCON, S. S.; MOURA, C. B. Estrutura
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OLIVEIRA, C. H. Qual o papel da extenso universitria? Algumas refexes
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PRADO JUNIOR, C. Formao do Brasil contemporneo. So Paulo: Brasiliense,
2004.
COMO CITAR ESTE RELATO:
VENTURA, Antonio Aritan de Oliveira; SOUZA, Mara da Rocha Melo.
Universidade cidad: descobrindo campees. Extramuros, Petrolina-PE, v. 1,
n. 1, p. 33-40, jan./jul. 2013. Disponvel em: <informar endereo da pgina
eletrnica consultada>. Acesso em: informar a data do acesso.
Recebido em: 7 maio 2013.
Aceito em: 3 jul. 2013.
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MORFOFARMA: feira de morfologia para promoo da sade e
consolidao de conhecimentos
______________________________________________
Braz Jos do Nascimento Jnior
1
Mariana Rodrigues Xavier
Christiano Carvalho G. Pinheiro
3
RESUMO
A MORFOFARMA foi uma feira de morfologia realizada em 2012. Buscou-se integrar
os discentes dos cursos de Cincias Farmacuticas com estudantes de escolas de ensino
mdio de Petrolina - PE. Teve como objetivo promover sade e consolidar conhecimentos
da disciplina. Foi realizada uma feira expositiva com peas anatmicas, modelos,
mdias e bneres sobre morfologia. A exposio foi encerrada com uma conferncia
sobre a aplicabilidade da morfologia nas profsses da sade. O pblico-alvo foram
alunos de duas escolas do municpio (123) e graduandos em sade da UNIVASF (52).
Os resultados demonstram que houve estmulo autonomia e corresponsabilidade
dos participantes, como tambm os discentes demonstraram conhecimento na matria
atravs do bom nvel dos trabalhos apresentados. Conclui-se que esse instrumento foi
importante no aprendizado, pois levou os graduandos a uma postura ativa, buscando,
pesquisando, planejando, e executando suas apresentaes apenas com a superviso do
professor, com isso criando um ambiente interativo, criativo e ldico.
Palavras-chave: Feira de sade; Promoo da sade; Educao em sade; Morfologia.
Morfofarma: morphology fair for health promotion and consolidation of knowledge
ABSTRACT
MORFOFARMA was a morphology fair held in 2012. It sought to integrate students
of Pharmaceutical Sciences courses with students from high schools in Petrolina City
(state of Pernambuco, Brazil). It aimed to promote health and consolidate knowledge
of the discipline. It was performed a trade exhibition with anatomical parts, models,
media and banners on morphology. The exhibition ended with a conference on the
applicability of the morphology in the health professions. The target audience were
students from two local schools (123) and students in health at UNIVASF (52).
The results show that there was a stimulus autonomy and co-responsibility of the
participants, as well as the students demonstrated knowledge in the feld through the
good level of the papers presented. We conclude that this instrument was important
in learning because it took undergraduates to active seeking, researching, planning,
and executing their presentations only with the supervision of the professor, creating
interactive, creative, and playful activities.
Keywords: Health fair; Health promotion; Health education; Morphology.
1
Mestre em
Bioqumica e
Fisiologia pela
Universidade
Federal de
Pernambuco
(UFPE).
Professor
Assistente de
Morfologia e
Fisiologia da
Universidade
Federal do Vale
do So Francisco
(UNIVASF).
braz.jose@uni-
vasf.edu.br
2
Monitora da
disciplina de
Morfologia e
discente do
curso de Cincias
Farmacuticas da
UNIVASF
mari_rxavier@
hotmail.com
3
Monitor da
disciplina de
Morfologia e
discente do curso
de Medicina da
UNIVASF.
kicocarvalho@
hotmail.com
42
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INTRODUO
A MORFOFARMA foi uma feira de Morfologia e Sade realizada em 2012 nos
laboratrios de Anatomia Humana da UNIVASF e trouxe estudantes de ensino mdio
de duas escolas de Petrolina-PE estimulando-se, com isso, as atividades de inter-rela-
o com a comunidade.
As Feiras de Sade buscam informar e sensibilizar a comunidade quanto
melhoria da qualidade de vida a partir da preveno, orientando para a mudana
de hbitos de vida e diagnosticando precocemente as doenas a fm de trat-las e
cur-las (FERREIRA et al., 2010). Atravs das feiras de sade os conhecimentos
saudveis podem ser propagados, podendo contribuir na melhoria da qualidade de
vida dos participantes. Segundo Marriott et al. (2012) so pouco exploradas como uma
ferramenta para desenvolvimento de parcerias com comunidade. Podem aumentar a
conscientizao sobre os problemas de sade e ser usadas para decises polticas na
inteno de melhorar a sade pblica na comunidade.
Com isso, a extenso universitria pode criar possibilidades para popularizar o
conhecimento cientfco, dando sentido ao universitria. Essa extenso universitria
eixo chave do ensino universitrio comprometido com os problemas da sociedade,
sendo considerado um campo especializado de interveno para a construo do saber.
Essa extenso universitria o processo educativo que articula o ensino e a pesquisa
de forma indissocivel e viabiliza a relao transformadora entre universidade e a
sociedade. A extenso uma via de mo dupla com trnsito assegurado comunidade
acadmica, que encontrar na sociedade a oportunidade da elaborao da prxis de
um conhecimento acadmico. No retorno universidade, docentes e discentes tero um
aprendizado que submetido refexo terica, seria acrescido quele conhecimento.
Este fuxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados acadmico e popular, ter
como consequncia, a mudana de conhecimento acadmico e a participao efetiva da
comunidade na ateno da universidade (FRUM, 1999).
Vallinoto et al. (2004) mostraram a importncia da qualifcao de recursos
humanos na rea de anatomia atravs de metodologia extensionista. Eles capacitaram
pedagogicamente 21 estudantes para desenvolver atividades de extenso. O curso se
deu atravs da utilizao de mtodos tradicionais como exposio, explicao, modelos
de materiais sintticos e de post mortem e, tambm, mtodos no tradicionais como
vdeos e de programas computadorizados especiais. Os mesmos autores falam que a
utilizao dessa metodologia e a qualifcao dos recursos humanos tm contribudo
para uma educao com qualidade, possibilitando aos benefciados a insero no
mercado de trabalho e na sociedade.
Diante disso, os objetivos da MORFOFARMA foram promover sade e conso-
lidar conhecimentos da disciplina.
METODOLOGIA
Utilizou-se a modalidade didtica Projeto para o desenvolvimento dos traba-
lhos com os graduandos, na qual as atividades so executadas por um grupo que
instigado para resolver um problema e que resulta num produto fnal concreto. Seus
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objetivos educacionais so o desenvolvimento da iniciativa, da capacidade de decidir
e a persistncia na realizao de uma tarefa com as seguintes fases (KRASILCHIK,
1996):
1) Seleo dos problemas a serem investigados: Apresentou-se o projeto MOR-
FOFARMA em sala de aula dois meses antes de sua realizao. O coordenador e os gra-
duandos escolheram quatro problemas dando enfoque morfolgico e em sade: Atua-
o Profssional; Sistema Reprodutor; Sistema Respiratrio e Sistema Cardiovascular.
2) Elaborao de um plano de trabalho: Levantou-se uma discusso com os
discentes sobre a capacidade do grupo em produzir os contedos necessrios para
o desenvolvimento da feira de Morfologia e Sade. Procedeu-se em seguida um
levantamento bibliogrfco em bases de dados da internet (Bireme e Pubmed) e em
livros da biblioteca da Universidade. Em seguida, eles fzeram uma diviso de tarefas e
criaram comisses, segundo a aptido de cada um do grupo.
3) Execuo elaborada do plano de trabalho: Aps as pesquisas bibliogrfcas,
a realizao dos estudos e a elaborao dos resumos, os alunos comearam a se reunir.
As duas primeiras reunies foram com inteno de concluir a parte escrita do projeto.
Eles ensaiaram algumas vezes antes da realizao do evento.
4) Obteno do produto fnal: Tudo que os alunos produziram nas reunies de
discusso, nos estudos individuais e nos ensaios foram organizados em relatrios e en-
viados em cpias escrita e digital ao coordenador e a comisso de avaliao. O dese-
nho metodolgico foi produzido por mapas de conceitos realizado no Microsoft Offce
PowerPoint e convertido para jpg (Figura 1).
5) Avaliao: Os trabalhos produzidos pelos alunos foram avaliados por trs
professores da UNIVASF que preencheram um questionrio avaliativo com conceitos
que variavam de zero a dez. Durante a avaliao procuraram valorizar a persistncia,
disciplina e o cumprimento das responsabilidades individuais. Os alunos preencheram
questionrio com perguntas referentes a aspectos organizacionais e cientfcos da feira
e prepararo um relatrio tcnico do evento.
Figura 1: Mapa
de Conceitos
Metodolgicos
utilizados na
MORFOFARMA.
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6) Divulgao do evento: O evento foi pioneiro dentro da instituio. Houve di-
vulgao entre os discentes do curso de Cincias Farmacuticas. Duas escolas de ensino
mdio foram convidadas formalmente atravs de ofcio aos diretores, coordenadores,
professores e alunos. A feira de Morfologia e sade tambm ganhou divulgao no site
da Universidade Federal do Vale do So Francisco (UNIVASF) dois dias antes da rea-
lizao do evento.
7) O Evento: Foi realizada uma feira com peas anatmicas, modelos e psteres
sobre morfologia, abrangendo as disciplinas de Biologia Celular, Histologia, Embriolo-
gia, Anatomia e a atuao profssional.
Os graduandos utilizaram uma linguagem acessvel aos alunos do ensino mdio,
entretanto, levou-se em considerao a criatividade, a clareza na exposio dos conte-
dos e a correlao com patologias relacionadas aos sistemas orgnicos abordados no se-
mestre letivo. Eles montaram estandes temticos, nos quais se abordava a morfologia
de forma bem criativa com modelos de rgos, desenhos e fguras, cadver e recursos
multimdia. As exposies dos trabalhos pelos alunos de graduao foram considera-
das como pr-requisito na quarta avaliao parcial da disciplina de Morfologia.
A feira aconteceu das 14 s 16 horas do dia 8 de Junho de 2012 nos laboratrios
de Anatomia da UNIVASF. Logo aps a feira, aconteceu uma conferncia com durao
de duas horas sobre o tema A Aplicabilidade da Morfologia nas Profsses da Sade,
proferida pela Prof. Dr. Leilyane Conceio de Souza Coelho (Farmacutica e docente
da Universidade de Pernambuco UPE). Essa palestra teve como pblico-alvo, os
discentes dos cursos de sade, os alunos do ensino mdio e demais alunos de outros
cursos de graduao da UNIVASF. A comisso acadmica foi responsvel pelo apoio
ao evento: na impresso de documentos, na monitoria dos discentes, na organizao e
operao dos recursos audiovisuais para palestrante convidada.
RESULTADOS E DISCUSSES
Os resultados obtidos foram baseados em relatos dos participantes. O evento
teve a participao de 123 alunos das duas escolas de ensino mdio da cidade de
Petrolina-PE. Os estudantes do terceiro ano de ensino mdio relataram como principal
ponto positivo o fato de conhecerem melhor o curso de Cincias Farmacuticas.
Os 52 alunos de graduao elogiaram bastante a feira. Disseram que foi uma
experincia vlida e marcante, uma oportunidade para aplicarem os conhecimentos
cientfcos aprendidos na academia em benefcio da comunidade. Pensando de forma
semelhante, Somera et al. (2009) publicaram um artigo intitulado A arte de orientar
a aprendizagem: uma experincia no ensino de anatomia humana. Neste trabalho,
os autores discorrem sobre a didtica educacional atravs dos conceitos, princpios e
mtodos de ensino-aprendizagem. Esses recursos didticos so o museu de anatomia,
feira de anatomia, laboratrio de ensino por demonstrao, estudos independentes
realizados em bibliotecas, consultas internet, preparao e apresentao de
seminrios, grupos de debates aps as aulas, estudo de casos clnicos, confeco de
material instrucional, confeco de mapa conceitual (desenhos, fguras demonstrativas,
esquemas), gincanas, etc. Todas essas tcnicas tm a fnalidade de desenvolver na
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universidade o princpio do aprender a aprender para ensinar.
Os trs professores da UNIVASF que participaram da comisso cientfca
avaliaram o evento como forma positiva, buscando uma adequao pedaggica s
necessidades da atualidade, semelhante s obsevaes de Fornaziero et al. (2010) quando
afrmam que o primeiro passo para que o profssional da sade inicie seu caminhar na
rea educacional compreender a pedagogia de hoje, sendo necessria uma releitura
refexiva do ensino com o intuito de despertar a conscincia sobre o que o planejamento
pedaggico abrange, j que este no se restringe imposio de ideias embasadas em
conhecimento prprio, mas abrange um posicionamento de autoavaliao por parte do
educador em relao ao exerccio docente. O ensino da Morfologia, por sua vez, precisa
ser repensado a fm de corresponder s expectativas deste novo contexto educacional.
A feira favoreceu a assimilao dos contedos da disciplina de Morfologia pela
oportunidade da aplicao terico-prtica e a correlao dos contedos com as compe-
tncias da vida profssional. Abriram-se os espaos na sociedade para o debate, para a
educao popular e para a promoo da sade, de forma a contribuir na qualidade de
vida dos atores envolvidos. Isso contribuiu para aproximar a comunidade da acade-
mia.
CONSIDERAES FINAIS
Conclui-se que essa feira cumpriu os seus objetivos, sendo importante para
consolidao de conhecimentos da disciplina, pois levou os graduandos a uma postura
ativa, buscando, pesquisando, planejando, e executando suas apresentaes apenas
com a superviso do professor, com isso, criando um ambiente propcio ao aprendizado
de forma autnoma, interativa e criativa.
REFERNCIAS
FERREIRA, M. L. S. et al. Feira de sade do curso de medicina da UFRR: uma
aproximao com a comunidade. Revista Brasileira de Educao Mdica, v. 34, n. 2, p.
310-314, 2010.
FORNAZIERO, C. C.; GORDAN, P. A.; CARVALHO, M. A. V.; ARAJO, J. C.;
AQUINO, J. C. B. O ensino da anatomia: integrao do corpo humano e meio am-
biente. Revista Brasileira de Educao Mdica, v. 34, n. 2, p. 290297, 2010.
FRUM DE PR-REITORES DE EXTENSO DAS UNIVERSIDADES P-
BLICAS BRASILEIRAS. Plano Nacional de Extenso (1999-2001). Braslia: SESU/
MEC, 1999. Disponvel em: <http://www.unifalmg.edu.br/extensao/fles/fle/colecao_
extensao_univeristaria/colecao_extensao_universitaria_3_avaliacao.pdf>. Acesso em:
21 mar. 2013.
KRASILCHIK, M. Prtica de ensino de biologia. 3. ed. So Paulo: Harbra, 1996. p.
146-149.
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MARRIOTT, L. K. et al. Lets get healthy! Health awareness through public partici-
pation in an education and research exhibit. Prog. Community Health Partnersh, v. 6,
n. 3, p. 331-337, 2012.
SOMERA, E. A. S.; BATIGLIA, F.; SOMERA JNIOR, R. A arte de orientar a
aprendizagem: uma experincia no ensino de anatomia humana. Revista Avesso do
Avesso, Araatuba, v. 7, n. 7, p. 8-12, 2009.
VALLINOTO, I. M. V. C.; NUNES, M. B. G.; MACHADO, A. S.; CAMPOS, E. D. F.;
LIMA, R. M. Qualifcando recursos humanos na rea de anatomia atravs de me-
todologia extensionista. Anais do II Congresso Brasileiro de Extenso Universitria.
Belo Horizonte, 2004. Disponvel em: <http://www.ufmg.br/congrext/Educa/edu-
ca163.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2013.
COMO CITAR ESTE RELATO:
NASCIMENTO JNIOR, Braz Jos do; XAVIER, Mariana Rodrigues;
PINHEIRO, Christiano Carvalho G. Morfofarma: feira de morfologia para
promoo da sade e consolidao de conhecimentos. Extramuros,
Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 41-46, jan./jul. 2013. Disponvel em: <informar
endereo da pgina eletrnica consultada>. Acesso em: informar a data
do acesso.
Recebido em: 22 mar. 2013.
Aceito em: 8 jul. 2013.
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O letramento na sala de aula e a formao do professor
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Kaline Jurema Jambeiro Rocha
1
Maria Tarciana de Almeida Barros
Agradecemos UNIVASF por ter fnanciado o projeto de extenso.
RESUMO
Para um real engajamento em prticas sociais letradas, preciso um nvel mais ref-
nado de compreenso e produo textual, o uso de habilidades cognitivas (incluindo
metacognitivas) e uma mnima fexibilidade de uso da leitura e escrita. Entendendo o
papel fundamental da escola como agncia de Letramento, este artigo expe a expe-
rincia de um projeto de extenso que se props a atuar como mecanismo de forma-
o complementar de futuros professores de Ensino Fundamental, contribuindo para
construo de novas estratgias de ensino-aprendizagem da linguagem escrita na sala
de aula que privilegiem o alfabetizar letrando. Foram realizados 15 encontros que gi-
raram em torno de temas centrais sobre a alfabetizao e o letramento, abarcando sua
teoria e prtica. Entre eles, destacaram-se: Defnio dos processos de alfabetizao e
letramento, A escola como agncia de letramento, Desenvolvimento da linguagem es-
crita, Difculdade de aprendizagem na leitura e escrita e o papel do professor, Gneros
textuais e Conscincia metalingustica. Como resultados, foi possvel preencher lacu-
nas nas grades curriculares dos cursos de graduao, criar tcnicas para o alfabetizar
letrando (enfatizando a relao entre teoria e prtica), bem como estimular o olhar in-
terdisciplinar acerca do fenmeno. Acreditamos que tal experincia fornece caminhos
multiplicadores em outros cursos de formao de professores.
Palavras-chave: Letramento; Alfabetizao; Formao de professores; Ensino-
aprendizagem.
ABSTRACT
Literacy in classroom and teacher training
For a real engagement in literate social practices, it is necessary a more refned level
of understanding and textual production, the use of cognitive skills (including
metacognitive) and a minimal fexibility of use of reading and writing. Understanding
the role of the school as an agency of literacy, this paper presents an experience of an
extension project that proposed to act as a mechanism for further training of future
teachers of elementary school, contributing to the construction of new teaching
strategies and learning of written language in the classroom that favor the literacy.
Fifteen meetings were conducted around the central themes of literacy processes and
literacy, covering their theory and practice. Among these themes were: Defnition
of processes literacy and literacy, The school as an agency of literacy, Development
of written language, Learning diffculties in reading and writing and teachers role,
Genres and Metalinguistic awareness. As a result, it was possible to fll gaps in the
curriculum of undergraduate courses, creating techniques for literacy (emphasizing
1
Mestranda em
Psicologia Cogni-
tiva pela Univer-
sidade Federal
de Pernambuco
(UFPE). Forma-
o em Psicologia
pela Universidade
Federal do Vale
do So Francisco
(UNIVASF).
rocha.kaline@
yahoo.com
2
Mestre em Psi-
cologia Cognitiva
pela UFPE. Pro-
fessora Assistente
da UNIVASF.
tarcianaalmei-
da2@gmail.com
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the relationship between theory and practice), as well as stimulating the interdisciplinary
about the phenomenon. We believe that this experience can provide multiplying paths
in other training courses for teachers.
Keywords: Literacy; Beginning literacy; Teachers training; Learning-Teaching.
APRESENTAO
Sero apresentados resultados de um projeto de extenso envolvendo
educadores, psiclogos e linguistas que se encontraram por estarem interessados no
estudo da teoria e prtica do letramento. Nos encontros, houve uma atualizao de
conhecimentos sobre a alfabetizao, o letramento e o ensino-aprendizagem da escrita
em diversas agncias de letramento, entre elas a escola. Foi realizado neste projeto
um curso intitulado Alfabetizar letrando, que aconteceu em encontros semanais,
somando 15 encontros com durao de 4 horas cada, totalizando, ao longo de 4 meses,
60 horas.
Letramento um conceito novo e fuido que envolve um conjunto de prticas
sociais nas quais um indivduo ou um grupo de indivduos se engaja, sendo a escrita,
enquanto construo sociocultural, parte integrante de tais prticas. A natureza das
prticas sociais que fazem uso da linguagem escrita tem grandes caractersticas emba-
sadas na maneira como a leitura e a escrita assumem determinados contextos cultu-
rais.
Discorrer sobre um conjunto de prticas sociais de uso da linguagem escrita de
uma dada sociedade, assim como de grupos sociais que nela existam, levanta questes
que dizem respeito ao modo e s condies de usufruir e participar de situaes que so
mediadas pela escrita. Tal preocupao constante foi mola propulsora da realizao
deste projeto de extenso com um grupo especfco: professores em formao nos cursos
de Pedagogia e Letras de faculdades da regio.
Recentemente, com a nova Lei de Diretrizes e Bases - LDB (1996), o tema da
formao de professores tem tido maior destaque, haja vista a deliberao de governos
municipais, estaduais e federais de extinguir a formao do nvel mdio e a necessidade
do nvel superior para docncia. Pinto, Gomes e Silva (2005) destacam o impacto dessa
deciso na rea de formao de professores, e dizem que h uma maior preocupao
com questes que se desdobram por tais deliberaes polticas, por exemplo: como
dar conta dessa enorme demanda? De que modo trabalhar com todo o contingente
atingido por essas novas deliberaes, mantendo um padro de qualidade na formao
docente?
Os temas trabalhados no presente trabalho funcionaram como mecanismos
auxiliares nesse processo de mudana, podendo servir de modelo para futuras
experincias, levando em considerao a realidade do aluno, dos educadores e do
contexto em que se encontram inseridos, trazendo discusses tericas e prticas que
esto de acordo com as novas diretrizes curriculares elaboradas no fnal da dcada de
1990 em que destacam a escola como uma das agncias voltada para a vida, o trabalho
e o exerccio de cidadania de seus alunos (BRASIL, 1998).
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Foi assumida uma enorme preocupao que, para Pinto, Gomes e Silva (2005),
de extrema relevncia: a de posicionamentos e falas no exteriores s prticas que
venham a ser vividas pelos estudantes da formao de professores. Nesse movimento, em
que as experincias vividas por tais estudantes devem ser contextualizadas, mediante
projeto de extenso, houve oportunidade dos participantes do curso reavaliarem os
seus percursos de leitura, e com isso refetirem sobre o processo de compreenso, muitas
vezes no refetidos e repassados de modo desvalorizado.
Existiu, deste modo, uma contribuio efetiva, signifcativa e inovadora para a
educao, atingindo de maneira direta 104 futuros professores estudantes do Curso de
Pedagogia ou Letras, bem como de modo indireto 23 escolas, entre elas pblicas (esta-
duais e municipais) e privadas do municpio de Juazeiro e Petrolina, atravs dos profes-
sores em atuao destas escolas e os alunos que estiveram presentes junto s atividades
prticas desenvolvidas pelos estudantes do curso de extenso em sua fnalizao.
CONSTRUINDO O CONHECIMENTO
Com o presente projeto, foi possvel conhecer a realidade em que perpassam os
cursos de formao de professores (UNEB e FFPP-UPE) das cidades de Petrolina e
Juazeiro. Por meio da escuta, percebeu-se que uma grande demanda existia concernen-
te Alfabetizao e Letramento. A seguir, sero descritas as atividades realizadas ao
longo do curso.
1. Encontro Apresentao do curso e integrao do grupo
Nesse encontro, foi apresentado o programa do curso a ser iniciado, com discus-
ses sobre as possibilidades de incluses de pontos/assuntos ligados ao tema, mas que
no apareciam no programa. Na ocasio, foram inseridos os temas da dislexia e medi-
calizao escolar, que no estavam no programa, mas por sua importncia na atualida-
de e por tocar a temtica da alfabetizao foram trabalhados ao longo dos encontros.
Ainda nesse momento, foi possvel especular um pouco sobre o que os partici-
pantes conheciam a respeito da alfabetizao/letramento. Logo aps, discutiu-se sobre
o tema, com base em autoras renomadas que levantam a relao entre os dois fenme-
nos (SOARES, 2001; TFOUNI, 1995; KLEIMAN, 1995).
Tambm foram sondadas as expectativas, bem como foi realizado o contrato
grupal.
2. e 3. Encontro Desenvolvimento da linguagem escrita
O tema trabalhado foi o desenvolvimento da linguagem escrita e sua impor-
tncia no contexto educacional do Vale do So Francisco. Para tanto, foi utilizado de
material audiovisual, com discusso de situaes reais vivenciadas pelos participantes
diante desta temtica, em que cada pessoa trouxe uma situao particular e esta pde
ser debatida em relao ao desenvolvimento da linguagem escrita com base em Ferrei-
ro (1993) e Rego (1994).
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4. e 5. Encontros Letramento
O foco do tema trabalhado em ambos os encontros foi o letramento, levando em
considerao suas mltiplas agncias, em especial a escola. Para a discusso e explanao
das ideias, a turma foi dividida em grupos e foi utilizado material escrito para colocar
pontos que auxiliassem no levantamento de argumento e contra-argumento quanto
s diversas agncias de letramento. O material escrito teve como base principal Soares
(2001; 2003) e Kleiman (1995).
6. Encontro Alfabetizao e letramento
Aps apresentao e discusses individuais quanto ao letramento e
alfabetizao, este encontro recaiu sobre ambos os fenmenos de modo complementar
e sua relao com a formao de professores, levando os participantes a refetirem
quanto ao envolvimento na educao, de modo prtico, do alfabetizar letrando. O
material escrito teve como base principal Soares (2008), Kleiman (1995) e Tfouni
(1995).
7. Encontro Fechamento do mdulo I
Neste encontro, foi realizada uma palestra de modo participativo, em que os
estudantes puderam se colocar quanto s dvidas, contedo e relaes entre teoria e
prtica. A palestra versou sobre o diagnstico a respeito da difculdade de aprendizagem,
a medicalizao escolar e a prtica docente, sendo proferida por uma professora da
UNIVASF com renomado conhecimento sobre o tema. Ao fnal da atividade aconteceu
a avaliao do Mdulo I do curso. Esta foi realizada oralmente entre os presentes,
sendo possvel concluir que o mesmo foi satisfatrio e atingiu seu objetivo, ponto este
colocado por uma das participantes do curso: Estou muito feliz de ter continuado este
curso, porque aprendi aqui o que no vi na Universidade e nem no dia a dia da escola...
espero ansiosa pela continuao da segunda parte do curso, para colocar em prtica o
que aprendi! (sic).
8. e 9. Encontros Gneros textuais
Para o estudo do letramento e alfabetizao so necessrias discusses no
que se refere aos gneros textuais. Nestes dois encontros, foi possvel considerar o
conhecimento dos participantes acerca dos gneros textuais que circulam nas mais
diversas agncias de letramento, bem como aqueles que so e que podem ser utilizados
na escola no processo de alfabetizao e letramento. Estes encontros foram relevantes
para as atividades prticas que aconteceram mais frente, visto ser preciso conhecer
alguns gneros textuais que seriam trabalhados nas ofcinas, bem como no trabalho
prtico realizado ao fnal do curso pelos estudantes. O material escrito teve como base
principal Marchuschi (2003).
10. e 11. Encontros Conscincia metalingustica
Estes encontros tiveram, entre seus objetivos, discutir qual a relao entre a
conscincia metalingustica, em especial a fonolgica e a metatextual, e a alfabetizao
e letramento na escola; apresentar novas ideias e novos conhecimentos sobre o
letramento e alfabetizao, diante dos mtodos de ensino fnico e global; e levantar
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questionamentos sobre a realidade do Vale do So Francisco e a presente temtica.
Foram destacados pontos a serem debatidos quanto ao mtodo fnico e global,
o erro e os usos e funes dos textos no processo de ensino-aprendizagem na instituio
escolar. Para tanto, a turma foi dividida em grupos, sendo disponibilizados materiais que
possibilitassem refexes sobre o que fazer diante da dicotomia retratada entre os dois
mtodos. Por exemplo, uma histria infantil, com o objetivo de levar os participantes
a levantarem hipteses de como trabalhar com esse gnero textual no contexto escolar,
de modo que ajude os estudantes a desenvolverem a habilidade metalingustica. O
material escrito teve como base principal Capovilla e Capovilla (2009).
12. Encontro Ofcina I
A partir deste encontro at o fnal do curso, deu-se seguimento s atividades
prticas, a saber: quatro ofcinas e um trabalho extrassala.
Este primeiro encontro foi dividido em duas partes: na primeira parte, acon-
teceu uma palestra com o objetivo de conhecer e esclarecer sobre as difculdades de
aprendizagem, de modo particular a dislexia, o papel do professor e as possveis aes
diante do cenrio do Vale do So Francisco. A mesma foi proferida por uma professora
da UNIVASF com renomado conhecimento sobre o tema.
Na segunda parte do encontro, foi desenvolvida a ofcina sobre lbum de fo-
tografas, em formato de linha do tempo, enquanto portador de texto, levantando as
suas caractersticas, usos e funes pelos participantes, levando generalizao do co-
nhecimento. Com esta ofcina, foi possvel demonstrar como promover o trabalho a res-
peito do conhecimento de si mesmo diante da sociedade, a gramtica, a interpretao
e a histria de vida de cada um dos alunos. Diante da construo realizada, os alunos
levantaram fatos marcantes em fotos ou desenhos criados, fazendo uma importante
distino entre o gnero lbum de fotografas e outros gneros textuais.
13. Encontro Ofcina II
Este encontro teve como objetivo conhecer e construir um gnero textual, con-
siderando no apenas o que se quer retirar dele em termos estruturais e gramaticais,
mas fazendo com que os alunos refitam sobre os diferentes gneros e suas caracte-
rsticas, seus usos e funes em meio social. Na Tabela 1, possvel verifcar um guia
quanto ao passo a passo das atividades desenvolvidas nesta ofcina.
Atividades:
Momento 1:
Foi solicitada aos alunos a escrita de um conto humorstico infantil, de acordo com o
que eles conheciam ser tal gnero, logo aps foi realizada a leitura e anlise das pro-
dues. Em seguida, houve discusses quanto aos principais elementos (caractersti-
cas) do conto humorstico infantil, levando a uma distino entre conto humorstico
infantil e piada.
Tabela 1 Ofci-
na II: Construo
e conhecimento
do conto humo-
rstico infantil.
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Atividades:
Momento 2:
Buscou-se exemplifcar o conto humorstico para que a partir dele fossem trabalhados
os seus elementos. A turma foi dividida em quatro equipes e cada uma recebeu um
conto para que identifcassem (por escrito e por desenhos) os seguintes elementos e
suas caractersticas: tempo, espao, personagens e narrador.
Foi solicitado s equipes que indicassem qual a sequncia narrativa do texto, me-
diante perguntas como: Qual era a situao inicial da histria? Onde e quando ela se
passa? Quem eram os personagens? Qual o acontecimento que modifcou a situao
inicial? O que aconteceu a partir desse momento? Como foi resolvida a situao?
Quais as consequncias das aes narradas? Assim como foram requeridas informa-
es quanto ao autor(a) do conto e, por fm, a reescrita da cena principal como se
fosse contada pelos outros personagens do texto.
Em seguida, foi solicitada a troca dos portadores do gnero por outros contos de hu-
mor, para levantar questes do tipo: qual a diferena entre o fnal desse texto e o do
texto anterior?
14. Encontro Ofcina III
Este encontro buscou a continuao e fnalizao da atividade anterior, levando
os participantes a realizarem uma autoanlise e discutirem sobre as possibilidades que
existem no trabalho com gneros textuais em sala de aula no que tange ao processo de
alfabetizao e letramento. No fnal do encontro, foi apresentada a atividade prtica
extrassala e entregue modelo de relatrio da mesma, o qual foi entregue ao fnal do
curso. Na tabela 2, encontra-se a ofcina 3, contendo tambm o passo a passo quanto
avaliao das atividades propostas nas ofcinas 2 e 3, bem como os pontos que foram
discutidos quanto produo da atividade prtica a ser desenvolvida pelos alunos.
Atividades:
Momento 1:
Em duplas, foi solicitado que os alunos produzissem um conto humorstico em for-
mato do portador de texto livro, respondendo s questes abaixo para auxiliar. Ao
fnal, este foi comparado com a produo inicial e gerou discusses quanto ao gnero.
Quem ser o personagem principal? Quais as suas caractersticas (elas podem
ser bem engraadas)?
Porque seu conto ser engraado? Haver uma situao engraada j no meio
do conto ou no fnal ser engraado e inesperado?
Onde ocorrero os acontecimentos que envolvero o personagem principal
acima criado e os outros que voc inventar? E quando elas acontecero?
Qual o acontecimento que modifcar a situao inicial?
Tabela 1 (Cont.)
Ofcina II:
Construo e
conhecimento
do conto
humorstico
infantil.
Tabela 2: Ofcina
III Produo
de novo conto
humorstico.
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Atividades:
O que acontecer a partir da? Como o personagem principal e os outros rea-
giro?
Como ser resolvida a situao?
Como terminar o conto? O que aconteceu no fnal?
O ttulo ser... (engraado)?
Momento 2: Autoavaliao
Foi solicitado que os alunos respondessem a um questionrio com pontos quanto aos
aspectos supramencionados referentes produo solicitada acima para ser debatido
em sala. Tais pontos foram os seguintes: Dei um ttulo criativo ao meu texto?; Criei
um texto engraado, utilizando os recursos que trabalhamos para atingir o humor?;
Meu texto fcou engraado sem ofender as pessoas? (humor sem preconceito); Criei
personagens em um determinado local e em um determinado tempo? Desenvolvi uma
histria observando as cinco partes importantes?; Ao criar essas partes, centrei-me
na resoluo de um problema ou criei vrios outros?; Todos os elementos que escrevi
so importantes para o meu conto ou inseri detalhes que no interessavam muito
para a histria?; Observei a pontuao no texto, considerando o uso dos sinais tra-
balhados em sala de aula?; Organizei os pargrafos adequadamente?; Repeti muitas
palavras?; Observei a ortografa?
Momento 3: Apresentao da atividade prtica
Este foi o momento de explicitar o trabalho prtico extrassala e tirar dvidas. Pontos
importantes como: informaes sobre as datas de recebimento dos relatrios das
atividades prticas, entrega e discusses do modelo de relatrio que ser desenvolvido
pelos alunos guiaram este momento.
15. Encontro Ofcina IV e fnalizao
Neste encontro, deu-se a fnalizao das ofcinas e de todas as atividades do projeto. As
atividades realizadas neste encontro esto relatadas na Tabela 3.
Atividades:
Momento 1:
Foi entregue um envelope a cada um dos alunos e uma folha de papel, sendo solici-
tada a escrita de uma carta para os facilitadores do grupo na qual fossem levanta-
dos os pontos positivos e negativos de toda a experincia do curso pela perspectiva
do participante. Por meio deste gnero textual, aconteceram as avaliaes do curso
ministrado. Em seguida, foram recebidos os relatrios das atividades prticas reali-
zadas pelos alunos e discutidos oralmente e em grupo os pontos positivos e negativos
relevantes quanto ao curso.
Tabela 3: Ofcina
IV Produo de
carta de avalia-
o do curso.
Tabela 2: Ofcina
III (Cont.)
Produo de
novo conto
humorstico.
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MULTIPLICANDO O CONHECIMENTO
As atividades realizadas em conjunto com os futuros professores ao longo do curso
foram multiplicadas pelos participantes durante a realizao da prtica extrassala, na
qual contaram com 20h e puderam escolher um contexto no qual intervieram replicando
as atividades desenvolvidas nos encontros ou mesmo criando novas atividades baseadas
nos temas estudados pelo grupo. A multiplicao dos conhecimentos adquiridos se fez
valer em diferentes contextos em que os estudantes universitrios esto inseridos, como
dentro da prpria universidade, projetos de pesquisas diversos, bem como monografas
dos prprios participantes envolvendo 23 instituies.
Ao fnal do curso, houve um rico momento de compartilhamento das experin-
cias de cada participante enquanto multiplicador do conhecimento adquirido, no qual
se pode tambm avaliar a experincia do curso de extenso como um todo.
AVALIANDO A EXPERINCIA DE FORMAO DO PROFESSOR
No ltimo encontro do curso, foi pedido aos estudantes que redigissem uma
carta para a facilitadora do grupo, na qual avaliassem os encontros em seus aspectos
positivos, bem como negativos. Tais cartas foram analisadas e observou-se, em quase
todas as produes, que foram alcanados resultados positivos. Outro instrumento de
avaliao consistiu no relatrio fnal realizado pelos alunos a respeito da atividade pr-
tica, no qual os mesmos tambm avaliavam o curso como um todo. Para melhor ana-
lisar os resultados obtidos, estes estaro divididos nas categorias a seguir, sendo estas
acompanhadas por exemplos de falas dos prprios participantes do curso.
Lacunas nas grades curriculares dos cursos de graduao
Observa-se na fala dos participantes que houve uma contribuio quanto
grande lacuna existente, em especial, no curso de graduao (o que se refete no con-
texto escolar) no que diz respeito compreenso da alfabetizao. Na maioria das
vezes, a mesma ainda tratada apenas como tecnologia da escrita. Um grande avano
observado se deveu ao fato de se considerar os processos de alfabetizao e letramento
agora como complementares.
O curso trouxe conhecimentos que eu no tinha adquirido ainda na Universidade.
O curso Alfabetizao e Letramento trouxe o conhecimento concreto ao que antes na
Universidade era apenas algo que s ouvamos falar.
Criao de tcnicas para alfabetizar letrando: relao entre teoria e prtica
Outro ponto relevante deveu-se s tcnicas de ensino que foram compartilhadas
entre o grupo, merecendo comentrios positivos sobre os conhecimentos adquiridos
no curso. A experimentao dessas tcnicas, bem como a criao de outras novas (as
quais tiveram como base o incremento do suporte terico dos alunos) surgiu como algo
de extrema importncia. Como o trabalho foi baseado sempre em grandes nomes da
educao, alfabetizao e letramento, foi possvel a apropriao de conhecimento te-
rico-prtico e interdisciplinar na rea.
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A partir dos conhecimentos tericos aqui adquirido, o encontro na escola, as experin-
cias evidenciadas foram marcantes para minha vida profssional(sic).
Foi de profunda relevncia pra mim, trazendo-me ricos conhecimentos que com
certeza produzir frutos adocicados na minha prtica de ensino em sala de aula, j que
tivemos aulas tericas e ofcinas (sic).
Criao de equipe interdisciplinar de referncia na temtica
Outra grande necessidade atendida pelo projeto foi quanto formao de equipe
de referncia interdisciplinar e interinstitucional sobre a prtica em alfabetizar letrando.
Os formadores e participantes presentes no curso puderam trabalhar em equipe com
os seus vrios olhares voltados alfabetizao e ao letramento, favorecendo o contato
e a permuta de conhecimentos entre as diversas universidades, bem como os diversos
cursos (Psicologia, Letras, Pedagogia, Histria e Geografa) e alunos envolvidos na
formao de professores.
Hoje sei que o trabalho feito por profssionais de diferentes cursos (reas) me deixa
mais segura para ir sala de aula e trabalhar com meus alunos, respeitando o conheci-
mento de todos os profssionais e somando o conhecimento de cada aluno.
Foi um trabalho proveitoso, decente e bastante necessrio para os professores no s
de linguagem portuguesa como das demais disciplinas.
CONCLUSES
Por meio deste projeto de extenso, foi possvel refetir sobre questes que
se encontram emaranhadas no contexto escolar/educacional, no que se refere
alfabetizao e ao letramento, assim como sobre o papel dos educadores frente a tal
situao. Diante da realizao do curso Alfabetizar letrando, foi possvel observar que,
mesmo mediante as facilidades no acesso ao conhecimento do tema, do contedo terico,
do planejamento das atividades a serem realizadas e da motivao demonstrada pela
equipe, alguns entraves ainda pairam sobre o cenrio da educao a respeito de tal
temtica.
O principal deles a falta de conhecimento sobre o assunto que surpreenden-
temente ainda persiste se analisarmos a graduao do professor, o que constitui uma
grande difculdade, visto que o processo de ensino-aprendizagem efetivo da linguagem
escrita ao aluno depende inegavelmente da formao terico-prtica do professor.
Porm, os objetivos e metas traados pelo projeto foram amplamente atendidos,
pois foi possvel, de maneira satisfatria, atuar: 1) como mecanismo de formao
complementar de futuros professores na temtica do letramento na sala de aula; 2)
como contexto para criao de novas estratgias de ensino da linguagem escrita, sob o
enfoque da alfabetizao e do letramento durante a execuo deste projeto de extenso,
sendo tais inovaes to urgentes na educao. preciso, contudo, destacar que um
curso de extenso funciona apenas como mecanismo de formao complementar e
pontual, sendo necessrio implementar defnitivamente a formao permanente do
professor como estratgia de desenvolvimento da educao brasileira.
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Acreditamos que o modelo de interveno compartilhado nessa experincia
possa apenas ajudar nesse grande desafo, principalmente no que se refere aos pontos
positivos apontados pelos prprios futuros professores.
REFERNCIAS
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COMO CITAR ESTE RELATO:
ROCHA, Kaline Jurema Jambeiro; BARROS, Maria Tarciana de Almeida.
O letramento na sala de aula e a formao do professor. Extramuros,
Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 47-57, jan./jul. 2013. Disponvel em: <informar
endereo da pgina eletrnica consultada>. Acesso em: informar a data
do acesso.
Recebido em: 21 maio 2013.
Aceito em: 15 jul. 2013.
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Aprendendo matemtica no Projeto Visitas da UFMG:
uma experincia de sucesso
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Jorge Sabatucci
1
Aniura Milans
Agradecemos Pr-reitoria de Extenso da UFMG por ter fnanciado o
projeto de extenso de que trata este artigo.
Dedicamos o artigo aos monitores do Projeto Visitas, sem os quais nada
do que escrevemos aqui teria sido possvel.
RESUMO
Neste trabalho fazemos um relato das atividades desenvolvidas pelo Projeto Visitas,
sediado no Departamento de Matemtica da UFMG. O seu objetivo principal mostrar
como ensinar Matemtica atravs de atividades criativas, prazerosas e desafantes. A
equipe do projeto atende visitas de alunos de Ensino Fundamental e Mdio. O projeto
tambm promove e organiza ofcinas para professores da Escola Bsica e palestras e
minicursos para um pblico mais geral.
Palavras-chave: Jogos matemticos; Educao bsica; Jogos educativos; Formao
continuada de professores.
Learning mathematics in the project Visits of UFMG: description of a sucessful
experience
ABSTRACT
In this paper we describe the activities developed by the Project Visits, based at
the Department of Mathematics at UFMG. Its main goal is to show how to teach
Mathematics through creative, enjoyable and challenging activities. The project team
receives visits of students from elementary and high school. The project also promotes
and organizes workshops for teachers of Primary School and lectures and short courses
for a more general audience.
Keywords: Mathematical games; Basic education; Educational games; Continuing
education courses.
1
Mestre em
Matemtica pela
Universidade
Federal de Minas
Gerais (UFMG).
Professor da
UFMG.
jorge@mat.ufmg.
br
2
Doutora em
Matemtica
pelo Instituto
de Matemtica
Pura e Aplicada
(IMPA).
Professora da
UFMG.
aniura@mat.
ufmg.br
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APRESENTAO DO PROJETO
A Matemtica apresentada com frequncia como algo difcil e inacessvel
maioria das pessoas. Na escola, essa concepo tem grande infuncia sobre os alunos e
alunas que, muitas vezes, se julgam incapazes de aprend-la. De fato, a percepo que
os estudantes tm da matemtica muito infuenciada pela forma em que esta lhes
apresentada.
O grande matemtico hngaro G. Plya, no seu livro A arte de resolver problemas,
discute estratgias de ensino da matemtica atravs da descoberta na resoluo
de problemas, da Heurstica. No prefcio do livro (PLYA, 1986, p. VI), ele faz as
seguintes refexes:
O espao dedicado pelos jornais e revistas populares a palavras cruzadas e a outros enig-
mas parece revelar que as pessoas passam algum tempo resolvendo problemas sem apli-
cao prtica.
[...] A matemtica, apresentada da maneira euclidiana, revela-se uma cincia dedutiva, sis-
temtica, mas a Matemtica em desenvolvimento apresenta-se como uma cincia indutiva,
experimental. Ambos os aspectos so to antigos quanto a prpria cincia. Mas o segundo
aspecto novo sob um certo ponto de vista: a Matemtica in statu nascendi, no processo
de ser inventada, jamais foi apresentada exatamente desta maneira aos estudantes, aos
professores ou ao grande pblico.
A utilizao de jogos, enigmas matemticos e materiais concretos no en-
sino uma tentativa de introduzir a Matemtica explorando o que ela tem de ci-
ncia indutiva e experimental, na medida em que uma forma dinmica de
abordagem de tpicos da Matemtica que agradam e entusiasmam os participan-
tes.
Na realizao das atividades, fundamental incentivar os alunos na discusso
das estratgias empregadas, observao de regularidades, formulao de conjecturas
e a socializao de cada uma das etapas vivenciadas. Isto propicia a generalizao de
propriedades que eles experimentaram em alguns casos particulares. Outro aspecto
importante na utilizao de jogos no ensino de matemtica so as habilidades que eles
desenvolvem, como por exemplo: a concentrao, ateno, organizao e o raciocnio
dedutivo, sendo estas indispensveis para o aprendizado em Matemtica. A utilizao
de materiais concretos permite abordar tpicos de Matemtica em diferentes nveis,
possibilitando, assim, defnir o momento adequado para possveis aprofundamentos e
aplicaes.
No fnal de 1997, ainda de forma experimental, foram organizadas atividades
para turmas de alunos do ensino mdio, no Departamento de Matemtica, com o intui-
to de divulgar as atividades do Departamento de Matemtica da UFMG. Esse projeto
passou a ser ofertado regularmente sob o ttulo Visitas Programadas de Alunos e Pro-
fessores de Matemtica do Ensino Mdio ao Departamento de Matemtica a partir de
1998, em virtude da sua grande aceitao. Tambm a partir desse momento, o projeto
comeou a receber fnanciamento da Pr-Reitoria de Extenso da UFMG pela con-
cesso de bolsas a monitores, alunos da graduao em Matemtica. A oferta regular
do projeto tem gerado uma demanda sempre crescente e diversifcada, o que estimula
a ampliao do pblico alvo. Diversas atividades tm sido incorporadas s Visitas,
dentre as quais a principal a utilizao de jogos e materiais concretos que envolvem
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conceitos matemticos. Tais materiais so produzidos pelos alunos do curso de Mate-
mtica sob a orientao de professores do Departamento de Matemtica, e as ativida-
des so executadas pelos monitores sob a orientao da coordenao. Essas atividades
visam despertar o interesse dos visitantes pela Matemtica, que apresentada de for-
ma alternativa quela geralmente utilizada em sala de aula. Alm disso, os professores
acompanhantes das turmas de alunos so estimulados a reproduzir os jogos e os mate-
riais utilizados nas Visitas e a incorpor-los sua prtica pedaggica.
Neste artigo, apresentamos um relato sobre o contedo do projeto. Comea-
remos fazendo uma reviso da literatura sobre jogos matemticos e sobre jogos no
ensino da matemtica. Discutiremos, a seguir, as atividades desenvolvidas durante o
ano 2012, e fnalmente apresentaremos alguns dos planos que temos para um futuro
prximo.
OS JOGOS NO ENSINO DE MATEMTICA
No h dvidas de que possvel aprender com jogos. De fato, a efetividade de
se aprender por meio da diverso provida pelos jogos o tema central de muitas pesqui-
sas. Os jogos estimulam comportamentos em seus jogadores que so favorveis para o
aprendizado, como por exemplo a persistncia, a ateno aos detalhes e a capacidade
para resoluo de problemas.
Vrios autores da rea da educao matemtica como Albuquerque (1958),
Grando (1995) e Yuste; Salln (1988), por exemplo, apontam os jogos matemticos
como meios para atingir diferentes objetivos do ensino. Alguns deles so:
introduzir os alunos nos procedimentos utilizados em Matemtica;
aprender e aplicar formas heursticas de raciocnio, teis na resoluo de proble-
mas;
desenvolver a memria e a estimativa de clculo mental;
auxiliar na elaborao e compreenso da linguagem matemtica e de sua estru-
tura lgica;
proporcionar um nvel de instruo equivalente a todos os alunos, ou seja, de
modo que todos os alunos participem ativamente do jogo enquanto jogadores, sem que
se produza uma situao de desigualdade.
Grando (1995) tambm observa que muitos destes objetivos no necessitam do
elemento jogo para serem processados; entretanto, a insero deles no contexto escolar
faz com que tais objetivos sejam atingidos de uma forma ldica, desafadora e mais
motivante para os alunos.
O objetivo do Projeto Visitas precisamente mostrar essa possibilidade a alu-
nos e professores da Escola Bsica, aplicando diferentes tipos de jogos relacionados
com diversos contedos.
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Na elaborao e adaptao de atividades e jogos matemticos para o uso nas
visitas do projeto, tm sido e so utilizadas vrias fontes. A maioria delas so livros de
atividades matemticas como Bolt (1991), ou de matemtica recreacional, como, por
exemplo Kordemsky (1992) e Gardner (1991).
Uma outra fonte no menos importante a prpria internet. De fato, h vrios
stios web dedicados divulgao da matemtica que trazem atividades e jogos. Talvez
a mais completa dessas referncias seja Bogomolny (2013). Essa pgina web tem
recebido inmeros prmios de diversas instituies relacionadas com a educao e a
divulgao da matemtica e com o uso da tecnologia para atingir esses objetivos.
AS VISITAS
A principal atividade do projeto , sem dvida, o atendimento s turmas de
alunos cujo nvel de escolaridade varia do quarto ano do ensino fundamental at o
ltimo ano do ensino mdio. Recebem-se, tambm, no horrio noturno, visitas de alu-
nos da EJA - Educao de Jovens e Adultos. Os monitores do projeto organizam os
agendamentos das visitas, que so feitos por via telefnica por um professor respons-
vel pela turma. As visitas acontecem na sala 3057 no prdio do Instituto de Cincias
Exatas (ICEx), atualmente a sala da Videoteca do Departamento de Matemtica da
UFMG.
Durante o ano de 2012, foram atendidos, nesse projeto, 4092 alunos da escola
bsica, provenientes de 266 escolas, sendo 70% delas escolas pblicas.
Os alunos fazem as visitas acompanhados por um ou mais professores
responsveis. Essas visitas tm durao entre duas horas e duas horas e meia, e nelas os
monitores do projeto trabalham com os alunos diferentes jogos e atividades. O objetivo
estimular o raciocnio matemtico, de forma que, depois de cada atividade, procura-
se tambm descobrir sua fundamentao matemtica, explorar e socializar diferentes
estratgias ou solues caso existam.
Figura 1: Alguns
materiais usados
nos jogos.
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As atividades e jogos que so utilizados nas visitas e ofcinas tm origens diver-
sas. Alguns tm sido elaborados por professores coordenadores do projeto, seja como
criao prpria ou adaptando atividades de livros de problemas matemticos ou de
divulgao. Outras tm sido confeccionadas por monitores, sob a orientao de um
professor.
Os trs jogos aplicados com mais frequncia no ano de 2012 foram, por ordem,
o jogo das faces, o jogo dos palitos e o jogo da corrente, descritos a seguir.
Jogo das faces
Para o jogo dispe-se de cinco discos iguais com as duas faces de cores diferentes,
por exemplo, amarelo e vermelho. Jogam pelo menos duas pessoas, e uma delas deve
responder a adivinhao. Nas visitas, quem adivinha um monitor, enquanto um
grupo de alunos observa.
De posse dos cinco discos, o monitor (que vai adivinhar) pede aos alunos que os
disponham sobre a mesa, deixando tantas faces amarelas e vermelhas voltadas para
cima quantas desejarem. Nesse momento, o monitor d a volta de costas para a mesa e,
sem ver o que est ocorrendo, pede que algum dos alunos vire qualquer um dos discos.
Isso se repete por mais quatro vezes, at que tenham sido virados cinco discos.
A seguir, o monitor pede a um dos alunos que esconda um dos discos e que me-
morize a cor da face superior deste. Finalmente, observando as cores das faces superio-
res dos discos restantes, o monitor acerta a cor da face escondida.
Os alunos fcam muito entusiasmados nesse jogo, pois a primeira impresso
que se tem que o monitor acertou a face sem informao nenhuma sobre sua cor. No
entanto, o que ocorre bastante simples. A paridade da quantidade de discos de cada
cor muda depois das cinco viradas. Por exemplo, se inicialmente havia trs discos ama-
relos, depois de serem virados cinco discos, poder haver ou nenhum ou dois ou quatro
discos amarelos, ou seja, uma quantidade par. Quando o aluno escolhe um disco, o que
o monitor faz verifcar se a quantidade de discos amarelos sobre a mesa par ou m-
par. Se for par, o disco que falta vermelho; caso contrrio, ser amarelo.
Esse jogo foi adaptado por membros da equipe a partir de um outro propos-
to pelo afamado autor de livros de divulgao e jogos matemticos Martin Gardner
(1991). Uma cartilha que descreve e analisa esse jogo encontra-se disponvel na biblio-
teca do Laboratrio de Ensino da Matemtica, mantido pelo Departamento de Mate-
mtica da UFMG.
Jogo dos palitos
Jogos com palitos de forma geral, so enigmas matemticos nos quais certo
nmero de palitos iguais so dispostos na forma de quadrados, retngulos, tringulos
ou outras fguras geomtricas. Tipicamente formulam-se questes do seguinte tipo:
mova (ou retire) certo nmero n de palitos at obter m quadrados (ou tringulos,
ou retngulos por exemplo). No jogo dos palitos aplicado nas visitas, distribuem-se
primeiro 12 palitos de madeira para cada grupo.
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Com os palitos, os alunos devem formar a seguinte fgura inicial.
Depois disso, a pessoa que est aplicando a ativida-
de d as seguintes instrues:
1. tirar 1 palito para formar 3 quadrados;
2. tirar 2 palitos para formar 2 quadrados;
3. mover 4 palitos para formar 3 quadrados;
4. mover 3 palitos para formar 3 quadrados;
5. mover 2 palitos para formar 7 quadrados.
Os alunos costumam assumir esses desafos com
bastante entusiasmo. Nessa atividade, apropriada a
todos os nveis de ensino, possvel exercitar a agili-
dade metal e visualizao geomtrica no plano.
Jogo da corrente
Nesse jogo h vinte casas, que seriam os elos da corrente. Dois jogadores que
possuem fchas de cores diferentes, por exemplo, azuis e vermelhas, devem disp-las no
lugar dos elos. As fchas devem ser colocadas consecutivamente, ou seja, no podem
fcar elos vazios, e os jogadores alternam a vez de jogar. De cada vez o jogador pode
colocar uma ou duas fchas, e ganha quem puser uma fcha no ltimo elo da corrente.
Os visitantes gostam bastante do jogo, porque ele tem regras simples e d a im-
presso de que no to difcil ganhar. De fato, quem joga primeiro sempre ganhar,
desde que utilize a estratgia correta. Se esse jogador comear colocando duas fchas,
sobraro 18 casas para serem completadas. Ele, ento, deve continuar jogando de for-
ma a colocar fchas que somem 3 com as fchas que o outro jogador colocou, ou seja,
se o segundo jogador colocar uma fcha, o primeiro jogador coloca duas, e vice-versa.
Figura 2: Palitos
Figura 3: Jogo da
Corrente
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Dessa forma garantido que a ltima jogada do segundo jogador ocorrer quando exa-
tamente 17 elos estiverem ocupados e, ento, o primeiro jogador com certeza ganhar.
Este um jogo bastante verstil, pois pode ser utilizado com alunos de qual-
quer nvel de ensino. Para investigar a estratgia para ganhar o jogo, possvel abordar
assuntos como divisibilidade de nmeros e progresses aritmticas.
AS OFICINAS
O projeto tambm oferece ofcinas de jogos matemticos. No ano de 2012, foram
oferecidas gratuitamente quatro dessas ofcinas, tendo sido as inscries realizadas pela
internet. Acreditamos que as ofcinas esto contribuindo para cobrir uma demanda dos
professores do ensino bsico por recursos e ferramentas atrativas que possam enriquecer
as aulas de matemtica. Em todas elas, mais de 70%dos inscritos foram professores e
deles, mais de 70% atuantes em escolas pblicas. A tabela abaixo mostra as datas e os
contedos das ofcinas que aconteceram em 2012.
Nas ofcinas procura-se sempre que os participantes realizem e compreendam
bem todas as atividades e jogos para que possam aplic-los em suas salas de aula.
Tabela 1: Ofcinas
realizadas em
2012.
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Alm dessas ofcinas para o pblico geral, tm sido oferecidas ofcinas mais es-
pecfcas. Em 2012, foi realizada uma Ofcina de Jogos Matemticos em parceria com
as escolas do Projeto Jovens de Futuro, do Instituto Unibanco. Em 2013 foi oferecida
uma ofcina de materiais geomtricos para professores participantes de um curso de
formao continuada do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Minas
Gerais - Campus Congonhas.
OUTRAS ATIVIDADES
Alm das visitas e as ofcinas, o projeto organiza ciclos de palestras, confern-
cias e minicursos para tratar temas de interesse para alunos do curso de Matemtica e
tambm de outros cursos da rea de cincias exatas. As palestras realizadas em 2012
so brevemente relatadas a seguir na ordem cronolgica.
Palestra Redefnindo o jogo das faces
Nesta palestra, foi apresentada uma generalizao do jogo das faces descrito
acima, para o caso em que, no lugar de discos de duas cores, se tem corpos geomtricos
iguais com faces coloridas. Ela foi ministrada por Lucas Henrique Rocha de Souza,
aluno do curso de Matemtica que, aps refetir sobre o jogo original, conseguiu dese-
nhar uma estratgia que lhe permitisse estend-lo ao caso de mais faces.
Minicurso de Geogebra
O Geogebra um software gratuito de geometria dinmica que teve um de-
senvolvimento muito rpido e uma grande aceitao desde seu lanamento em 2001.
Ele direcionado tanto para alunos quanto para professores, que podem utiliz-lo na
elaborao de atividades para auxili-los na visualizao de resultados importantes de
geometria plana durante as aulas.
O Geogebra conta com uma grande comunidade de usurios de diferentes pases
e colaboradores que podem disponibilizar apresentaes, jogos e atividades feitos com
o software, numa pgina web que constitui seu repositrio ofcial: o GeoGebraTube.
Existem verses disponveis em mais de 50 lnguas.
O professor Paulo Antnio Fonseca Machado, do Departamento de Matemtica
da UFMG, tem bastante experincia no trabalho com Geogebra e, em setembro do
ano passado, ministrou um minicurso de dois dias, no qual apresentou o programa e
explicou as suas principais ferramentas e possibilidades.
Minicurso sobre Uso de recursos online: Geogebratube e Google Docs
Neste minicurso, o aluno Brian Diniz Amorim, da Licenciatura em Matemti-
ca, fez uma introduo aos recursos de compartilhamento do Geogebra, atravs do Ge-
ogebratube, e aos recursos de edio, compartilhamento, incorporao e formulrios
do Google Drive, uma conhecida ferramenta da Google muito til para trabalhar na
edio coletiva de documentos.
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Minicurso sobre LaTeX
LaTeX um conjunto de macros para o processador de textos TeX, utilizado
amplamente para a produo de textos matemticos e cientfcos devido sua alta
qualidade tipogrfca. Esse editor permite produzir textos de aparncia realmente
profssional e de fato, hoje em dia, todos os livros, dissertaes, teses e demais trabalhos
cientfcos sobre temas matemticos so escritos com seu uso. Ele , portanto, uma
ferramenta muito til para graduandos e graduados do curso de Matemtica.
Em novembro de 2012, Fabio Brochero, professor do Departamento de Ma-
temtica, ofereceu um minicurso de trs dias sobre LaTeX no qual explicou desde a
instalao do processador at temas mais complexos, como a criao de grfcos com o
pacote TikZ.
importante salientar que todas essas palestras foram gravadas e atualmente
fazem parte do acervo digital da Videoteca do projeto.
As visitas, ofcinas e eventos organizados pelo projeto so divulgadas por
diferentes vias, conforme se explica a seguir:
Foi criada uma lista de divulgao com os endereos eletrnicos de professo-
res que trouxeram turmas para o projeto nos anos de 2009, 2010, 2011 e ao longo de
2012/2013; secretarias de educao na regio metropolitana de Belo Horizonte (su-
bordinadas s Prefeituras e ao Estado); alunos do curso de Matemtica; professores
participantes do PAPMEM/IMPA-UFMG
3
em 2011 e 2012 e participantes dos eventos
anteriores.
Todos os eventos do projeto tinham um cartaz de divulgao que era enviado
para estes e-mails cadastrados. Tambm era informado o incio dos agendamentos.
Foi feito um resumo do projeto, que foi divulgado em sua pgina web e nos
materiais enviados para os participantes de eventos do projeto.
Foram produzidos cartazes de divulgao dos eventos do projeto, tendo sido
afxados no ICEx e na Faculdade de Educao (FaE), na UFMG.
Os eventos do projeto foram, todos, divulgados na pgina do ICEx e, eventual-
mente, na pgina principal da UFMG.
Dois monitores participaram no programa de rdio Universo Fantstico, da
rdio Inconfdncia, para divulgar as aes do Projeto.
Os monitores do projeto participaram da Semana de Extenso, organizada pela
Pr-reitoria de Extenso da UFMG, no perodo de 15 a 19 de outubro de 2012.
3
Programa de
Aperfeioamento
para Professores
de Matemtica
do Ensino Mdio.
Esse programa
oferecido pelo
Departamento
de Matemtica
da UFMG em
parceria com o
Instituto de Ma-
temtica Pura e
Aplicada (IMPA)
e visa oferecer
uma capacitao
gratuita para
professores de
Matemtica do
Ensino Mdio do
Estado de Minas
Gerais.
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CONCLUSES
Acreditamos muito no trabalho que estamos fazendo. Pensamos que uma ma-
neira de incentivar os alunos a aprenderem matemtica, a pensar de outra maneira
sobre o que a matemtica e tambm de apoiar o trabalho dos professores na escola
bsica.
Sabemos, no entanto, que sempre h coisas que no saem como esperado e
pontos que devem ser melhorados. Por isso, pedimos a alunos, professores e monitores
que avaliem diferentes aspectos depois de cada visita pelo preenchimento de formulrios
onde fcam registradas estas observaes. Os participantes das ofcinas e demais
atividades tambm tm a oportunidade de avaliar nosso trabalho.
Temos recebido muitos comentrios favorveis ao trabalho no projeto e tam-
bm muitas sugestes sobre contedos a serem trabalhados que pretendemos levar em
conta no futuro. Tambm tm sido feitas algumas crticas e sugestes sobre alguns
aspectos, alguns dos quais discutimos a seguir.
Uma apostila para professores com jogos
Achamos que seria muito til para os professores ter disponvel bastante mate-
rial escrito e, de fato, pretendemos reorganizar e publicar o material que utilizado nas
visitas e ofcinas de forma que este possa ser utilizado por mais professores e alunos.
Contudo, esse trabalho deve ser feito com muito cuidado e rigor, e ainda deve demorar
um pouco.
Ampliar a divulgao
A divulgao, com certeza, deve ser melhorada, e achamos que isso deve acon-
tecer assim que concluirmos a reformulao que estamos fazendo da nossa pgina na
internet. Entretanto, temos que tomar cuidado para no fcar muito sobrecarregados,
pois temos algumas limitaes de espao e de tempo disponvel para trabalhar.
Aumentar o espao fsico do Laboratrio
Atualmente as visitas acontecem numa sala que acaba sendo s vezes muito
pequena para satisfazer a muitas turmas. Esperamos que, no futuro, possamos contar
com uma sala maior, mas isso vai depender de mudanas estruturais que devero ocor-
rer no prdio do ICEx.
Alm das observaes acima, temos algumas ideias que acreditamos que daro
um aporte signifcativo ao projeto.
Pretendemos implementar alguns jogos digitais, o que, por um lado, vai au-
mentar a quantidade de pessoas que tm acesso s atividades e por outro pode ampliar
as possibilidades das mesmas. Isto tambm contribuiria para o crescimento da visibili-
dade do projeto, pois muitas das atividades fcariam ao alcance de todos os usurios da
internet.
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COMO CITAR ESTE ARTIGO:
SABATUCCI, Jorge; MILANS, Aniura. Aprendendo matemtica no
projeto Visitas da UFMG: uma experincia de sucesso. Extramuros,
Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 59-69, jan./jul. 2013. Disponvel em: <informar
endereo da pgina eletrnica consultada>. Acesso em: informar a data
do acesso.
Insistiremos, tambm, em buscar fontes de fnanciamento que nos permitam
implementar visitas itinerantes nas escolas, alm de repor o nosso material de consumo
e comprar novos livros.
Para fnalizar, vale destacar que o projeto permanentemente renovado pela
constante procura e elaborao de atividades e jogos, assim como o aprimoramento dos
que fazem parte do nosso acervo atual, o que uma tarefa vital compartilhada pelos
professores e monitores.
REFERNCIAS
ALBUQUERQUE, I. de. Jogos e recreaes matemticas. Rio de Janeiro: Conquista,
1958.
BOGOMOLNY, A. Interactive Mathematics miscellany and puzzles. Disponvel em:
<http://www.cut-the-knot.org/>. Acesso em: 11 June 2013.
BOLT, B. Actividades matemticas. Lisboa: Gradiva Publicaes, 1991. (Coleo O
prazer da matemtica, v. 7.).
GARDNER, M. Matemtica: magia e mistrio. Lisboa: Gradiva Publicaes, 1991.
GRANDO, R. C. O jogo e suas possibilidades metodolgicas no processo ensino-
aprendizagem da matemtica. 1995. Dissertao (Mestrado em Educao) - Faculda-
de de Educao, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1995.
KORDEMSKY, B. The Moscow puzzle: 359 mathematical recreations. New York:
Dover, 1992.
PLYA, G. A arte de resolver problemas. Rio de Janeiro: Intercincia, 1986.
YUSTE, F. C.; SALLN, J. M. G. Juegos en clase de matemticas. Cuadernos de Pe-
dagoga, Barcelona, n. 160, p. 50-51, 1988.
Recebido em: 4 maio 2013.
Aceito em: 5 jun. 2013.
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Preveno das intoxicaes por agrotxico no Submdio do Vale do So
Francisco junto a trabalhadores rurais
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Jenifen Miranda Vilas Boas
1
Cheila Nataly Galingo Bedor
RESUMO
A utilizao de agrotxicos uma realidade local na fruticultura irrigada de Petrolina-
PE. Em vista disto, a populao, principalmente a rural, est exposta a esses produtos, o
que a coloca em constante situao de risco para sade. Desse modo, para preveno de
acidentes com esses compostos, so necessrias varias medidas, entre elas informao.
O objetivo desse trabalho foi realizar ofcinas, abordando a temtica dos agrotxicos,
em escolas pblicas no Permetro de Irrigao, no intuito de alertar sobre a gravidade
do uso de tais substncias e orientar os trabalhadores rurais quanto s medidas de
preveno. Sendo assim, foram realizadas 21 ofcinas em 7 escolas, atingindo um pblico
de 790 alunos no perodo de agosto de 2007 a julho de 2008. As ofcinas abordaram
temas como: histria, conceito e tipos de agrotxicos; ciclo de contaminao ambiental
e vias de contaminao humana; sinais e sintomas associados ao uso desses compostos;
equipamentos de proteo individual, destinao das embalagens vazias, trplice
lavagem e lavagem da vestimenta contaminada. A avaliao das aes foi realizada
atravs da aplicao de perguntas, pr e ps-ofcinas. Os resultados mostraram uma
maior compreenso por parte do pblico alvo da maioria dos temas abordados, o que
fortalece a preveno de intoxicao por agrotxicos nessa regio.
Palavras-chave: Agrotxicos; Intoxicao; Sade da populao rural; Promoo da
sade.
Prevention of pesticide poisoning for rural workers in the Submdio do Vale do So
Francisco
ABSTRACT
The use of pesticides is a local reality in irrigated horticulture in Petrolina-PE. Due to
that, particularly the rural population is exposed to these products at health risk. To
the prevention of accidents involving these compounds, various measures are needed,
including information. The purpose of this study was to conduct workshops, realized in
public schools in the Irrigation Perimeter, in order to alert the gravity of using pesticides
and guide rural workers on the measures of prevention of intoxication by these substances.
Thus, 21 workshops were carried out in 7 schools, reaching a public of 790 students,
from August 2007 to July 2008. The workshops discussed issues such as: history, concept
and types of pesticides; cycle of environmental contamination, human contamination;
signs and symptoms associated with intoxication; Personal Protective Equipment
(PPE) and the washing and disposal of empty containers. The evaluations of actions
were carried out through the application of questions, before and after the workshops.
The results showed a greater understanding by the target public in the majority of the
themes which emphasizes the prevention of pesticide poisoning in this region.
Keywords: Pesticides; Poisoning; Rural health; Health promotion.
1
Especialista em
Gesto em Sade
Pblica pela
Universidade do
Estado da Bahia
(UNEB) e Sade
da Famlia com
nfase em linhas
de cuidado pela
Escola de Sade
Pblica da Bahia
(ESSP). Enfer-
meira Coordena-
dora da vigilncia
epidemiolgica
do municpio de
Mirangaba-BA.
Coordenadora de
Estratgia em
sade da famlia
em Umburanas-
-BA.
jenifer.vilasbo-
as@gmail.com
2
Doutora em
Sade Pblica
pelo Centro de
Pesquisa Aggeu
Magalhes
FIOCRUZ. Pro-
fessora Adjunta
da Universidade
Federal do Vale
do So Francisco
(UNIVASF).
cheila.bedor@
univasf.edu.br
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INTRODUO
Durante o passar dos anos profundas transformaes foram observadas no tra-
balho rural brasileiro, tanto pela incorporao de novas tecnologias e processos pro-
dutivos, quanto pela crescente subordinao do homem do campo economia de mer-
cado. Este processo determinou uma srie de agravos sade e qualidade de vida do
trabalhador rural (ALESSI; NAVARRO, 1997).
O processo de modernizao tecnolgica iniciado nos anos 1950 com a chamada
Revoluo Verde modifcou profundamente as prticas agrcolas, gerou mudanas
ambientais e nas cargas de trabalho, assim como seus efeitos sobre a sade, deixando
os trabalhadores rurais expostos a diversos riscos. A modernizao do trabalho rural
foi acompanhada por um incremento da pesquisa agronmica, sociolgica, econmica
e tecnolgica no Brasil e em vrias partes do mundo (GOODMAN et al., 1990; SOUZA
FILHO, 1994).
O Plano Nacional de Desenvolvimento, implementado em 1975, proporcionou
ao Brasil o comrcio de produtos agrotxicos no momento em que instituiu na
solicitao de fnanciamento rural, uma cota defnida e obrigatria de aquisio
desses produtos. O marketing proposto pelos fabricantes, aliado obrigatoriedade da
compra, determinou um enorme incremento dessas substncias agricultura brasileira
propiciando a sua disseminao no pas. Atualmente o Brasil considerado o principal
consumidor mundial de agrotxicos; esta classifcao repercute em diversos problemas
de sade na populao, especialmente as do meio rural (DOMINGUES, 2010).
Conforme a lei brasileira (Lei n 7.802, de 11/07/1989), os agrotxicos so classi-
fcados como produtos e componentes de processos fsicos, qumicos ou biolgicos des-
tinados ao uso nos setores de produo, armazenamento e benefciamento de produtos
agrcolas.
Estima-se que milhes de agricultores so intoxicados anualmente no mundo
e mais de 20 mil morrem em consequncia da exposio a agrotxicos, a maioria em
pases em desenvolvimento. Segundo o Ministrio da Sade, no Brasil, anualmente,
existem mais de 500 mil pessoas contaminadas por agrotxicos, com cerca de 4 mil
mortes por ano (PIRES; CALDAS; RECENA, 2005).
No obstante as intoxicaes de trabalhadores atravs do contato direto
ou indireto com esses produtos, este agravo deve ser considerado ainda quando da
contaminao dos alimentos, j que sabido ofertarem riscos aos consumidores.
A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), atravs da criao, no ano
2001, do Programa de Anlise de Resduos de Agrotxicos em Alimentos (PARA),
monitorou a presena de resduos de agrotxicos nos principais alimentos consumidos
pelos brasileiros. O resultado mostrou que das 3.130 amostras analisadas, 29,0%
foram consideradas insatisfatrias. As principais irregularidades encontradas
nas amostras foram: presena de agrotxicos em nveis acima do Limite Mximo
de Resduos, utilizao de agrotxicos no autorizados para a cultura. Somente
3,0% das amostras no tiveram qualquer rastreabilidade de problemas no uso
destes produtos (AGNCIA NACIONAL DE VIGILNCIA SANITRIA, 2009).
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Em Faria et al. (2007) a estimativa de pelo menos 7 milhes/ano de doenas
agudas e crnicas no fatais, devido aos agrotxicos. Entre os grupos profssionais
que tm contato relevante com os agrotxicos, destacam-se os trabalhadores da
agroindstria, visto que manipulam, diluem, preparam as caldas, aplicam os
agrotxicos e entram nas lavouras aps a aplicao.
Outro grupo sob risco o dos pilotos agrcolas e seus auxiliares (BRASIL,
1996). Merecem destaque tambm as famlias dos agricultores que, alm de transitarem
ou residirem prximo ao local onde os agrotxicos so aplicados, levam as roupas
contaminadas do campo s residncias para sua lavagem (BRITO et al., 2005).
Na agricultura, a ausncia de informao acerca dessa problemtica repercute
na exposio no somente do trabalhador, como tambm de toda populao
consumidora dos alimentos que receberam o produto. O fator agravante desta questo
o analfabetismo da maioria dos agricultores, que difculta e at mesmo impede a leitura
e interpretao das informaes dispostas nos rtulos dos produtos. Complementando
este quadro segue a viso capitalista identifcada na maioria dos vendedores que, para
melhorar suas comisses, insistem nas aplicaes excessivas, indicando agrotxicos
para culturas as quais estes produtos no esto licenciados (ALMEIDA et al., 1985;
BEDOR et al., 2007).
Como afrmam Bedor et al. (2007), signifcante a quantidade (mais de 40%) de
agrotxicos de alta periculosidade e altamente txicos usados no Submdio do Vale do
So Francisco, especifcamente no Projeto de Irrigao Senador Nilo Coelho, uma das
principais reas da fruticultura irrigada dessa regio, onde descrito que numa amostra
de 283 trabalhadores rurais, 7% desses, j apresentaram intoxicao por agrotxico
(BEDOR, 2008). Vale ressaltar que, no Brasil, para cada caso de intoxicao por
agrotxicos constatado em hospitais e ambulatrios, deve haver cerca de 250 vtimas
no registradas (ARAJO; NOGUEIRA; AUGUSTO, 2000).
A introduo de polticas pblicas, principalmente entre a populao rural, vol-
tadas para a educao e capacitao dos agricultores quanto ao manejo de agrotxicos
imprescindvel para a preveno dos danos oriundos da utilizao desses compostos
qumicos. A fscalizao por parte dos rgos responsveis quanto comercializao e
utilizao dessas substncias tambm fator primordial para reduo dos casos de in-
toxicao, refetindo assim na tentativa de minimizar um problema tanto de questes
agropecurias, quanto de sade pblica.
Assim, o projeto de extenso aqui relatado foi intitulado: Intoxicao por
agrotxico no Submdio do Vale do So Francisco: Preveno junto a profssionais de
sade e trabalhadores rurais, aprovado no edital interno do Programa Institucional
de Bolsas de Integrao (PIBIN) da Pr-Reitoria de Extenso da Universidade Federal
do Vale do So Francisco. O projeto foi executado de agosto de 2007 a julho de 2008 e
teve como objetivo principal sensibilizar profssionais de sade e trabalhadores rurais
sobre intoxicao por uso de agrotxico.
Nesse artigo relatamos as aes realizadas nas comunidades rurais do Projeto
de Irrigao Nilo Coelho, localizado na margem esquerda do Rio So Francisco, e que
se estende desde a Barragem de Sobradinho, no municpio de Casa Nova, BA, at o
municpio de Petrolina, PE. Esse distrito dividido em 11 ncleos, possuindo cerca de
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Volume 1, nmero 1
1.457 lotes para rea de colonizao, que respondem por 60% da rea irrigvel, e 132
lotes para a rea empresarial (SOUZA et al., 2001).
DESENVOLVIMENTO
Considerando que o pblico alvo do projeto foram agricultores e seus familia-
res, o seu desenvolvimento se deu em ambiente rural. O trabalho abarcou moradores
das comunidades dos ncleos: C-02; C-03; N-04; N-05; N-06; N-07 e N-08, localizadas
no Projeto de Irrigao Senador Nilo Coelho na cidade de Petrolina-PE.
Para melhor sistematizao da metodologia a ser empregada, o grupo acadmico
concluiu que o meio para atingir um nmero considervel de pessoas seria a realizao
do trabalho em parceria com as escolas dessas comunidades. A escolha justifca-se no
fato dessas estarem localizadas na zona rural, e tambm que, segundo representantes
administrativos das escolas, todos os estudantes exercem atividades direta ou
indiretamente relacionadas com agricultura, e quando no, tm algum membro na
famlia que o faz.
DEFINIES DOS TEMAS A SEREM TRABALHADOS NAS OFICINAS NAS
COMUNIDADES
O conhecimento acerca da temtica dos agrotxicos constituiu o ponto funda-
mental para a realizao das atividades. Tendo em vista que se trata de um assunto
bastante complexo e considerando que existem ainda muitas incgnitas sobre o real
efeito desses produtos, tornou-se imprescindvel a realizao, por parte dos acadmicos
e docentes envolvidos no projeto, de uma pesquisa em banco de dados cientfcos que
embasassem as discusses tericas enquadradas nos objetivos do trabalho, ao passo
que se buscavam referenciais que refetissem a situao da problemtica na regio. A
busca de dados pertinentes ao tema a ser abordado, precedente realizao das ofci-
nas, proporcionou crculos de discusses e formao de opinies visando o aperfeioa-
mento do trabalho a ser desenvolvido.
A reviso literria teve como bases de dados os sites: Bireme, Scielo e do
Ministrio da Sade; na busca de artigos cientfcos que abordassem a temtica. Os
descritores catalogavam textos que abordassem a implicao da utilizao de produtos
agrotxicos para o meio ambiente, a sade humana e ainda questes legislativas, de
vigilncia sanitria, dentre outros.
A defnio dos temas a serem trabalhados foi baseada nas necessidades dos
agricultores da regio, apontadas nos resultados da pesquisa realizada por Ramos et
al. (2006), a qual mostrou que a maioria dos trabalhadores encontra-se despreparada
para o manuseio de agrotxicos devido: baixa escolaridade, o que difculta a leitura
dos rtulos das embalagens; falta de apoio tcnico necessrio; utilizao de mtodos
caseiros de preveno que favorecem a assimilao do veneno pelo organismo; ao
desconhecimento dos males que essas substncias podem causar ao corpo e utilizao
dos equipamentos de proteo individual (EPI) de forma incorreta e o desconhecimento
de seu benefcio na reduo do risco de intoxicao.
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O quadro 1 mostra as temticas que foram trabalhadas de forma criativa,
acessvel e que possibilitaram a participao dos sujeitos. Foram realizadas dinmicas
de grupo, apresentao de slides contendo imagens, apresentao de flmes, psicodrama
e rodas de debates. Alm das informaes acerca dos agrotxicos, dados da atualidade
mundial tambm foram inseridos nas ofcinas.
PROCEDIMENTOS DE SELEO DAS ESCOLAS ALVOS
A seleo das escolas a serem trabalhadas se deu aps uma visita Secretaria
Municipal de Educao de Petrolina, onde foi disponibilizada, para o projeto, uma
listagem de todas as escolas da regio referida, contendo informaes como: endereo,
nmero de alunos e grau de ensino. Esta lista possibilitou a delimitao das escolas a
serem visitadas para apresentao dos objetivos e metodologia do projeto a ser desen-
volvido.
As visitas s escolas foram pr-agendadas e aquelas que tinham nvel mdio no
horrio noturno foram includas no Projeto. Foram realizadas cerca de trs ofcinas em
cada escola dos Ncleos C-02; C-03; N-04; N-05; N-06; N-07 e N-08, do Distrito Nilo
Coelho.
AS OFICINAS
A metodologia utilizada para o desenvolvimento das ofcinas sofreu variao de
acordo com a escola e com os materiais disponveis, no entanto as mesmas seguiram
o padro de abordagem dos subtemas, pr-determinados. Algumas atividades com
a utilizao de dinmicas de grupo, flmes, slides, imagens e rodas de debates foram
utilizadas em momentos diferentes das ofcinas, conforme a necessidade de cada escola.
Quadro 1 Te-
mas abordados
nas ofcinas com
os estudantes do
Projeto de Irriga-
o Senador Nilo
Coelho.
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OFICINA 1: Histria dos agrotxicos / Conceito e tipos de agrotxicos: Essa
ofcina teve como objetivo abordar a histria dos agrotxicos, ciclo de contaminao,
intoxicaes por agrotxicos e sinais e sintomas associados ao uso dos agrotxicos.
Tambm foi realizada no incio da ofcina a apresentao do projeto assim como
dinmicas de quebra-gelo para maior interao com os Estudantes.
OFICINA 2: Ciclo de contaminao ambiental / Vias de contaminao humana
/Sinais e sintomas associados ao uso dos agrotxicos: Na abordagem destes temas nas
ofcinas, buscou-se mostrar as vias de contaminao humana e sua inter-relao com os
sinais e sintomas, alm da realizao dos cuidados para proteo destas vias. Este tema
foi apresentado atravs de slides com fguras representativas, as quais traziam todas as
vias e o meio de contato do produto com os organismos vivos. Apresentou-se tambm
o ciclo de contaminao do ambiente, ilustrando desde a aplicao at a contaminao
do ar, da gua, do solo e dos organismos vivos como animais e homens.
OFICINA 3: Equipamentos de proteo individual (EPI) / Destinao das
embalagens de agrotxicos / Trplice lavagem e lavagem da roupa contaminada: Na
discusso sobre a utilizao correta do EPI, buscou-se mostrar as vias de contaminao
humana e sua inter-relao com os sinais e sintomas, alm da realizao dos cuidados
especfcos que devem ser tomados para garantia de proteo destas vias. Para tanto,
foram apresentados slides contendo fguras representativas ilustrando todas as vias e
os possveis meios de contato do produto com o indivduo.
Essa ltima ofcina ainda abordou os seguintes tpicos: devoluo das
embalagens vazias; trplice lavagem; prazos mximos de devoluo e as competncias
de cada nvel envolvido na produo, comercializao e utilizao dos produtos
agrotxicos. No intuito de uma abordagem mais dinmica e didtica, o psicodrama foi
o mtodo mais vivel para o desenvolvimento destes subtemas.
Para tanto, contou-se com a participao efetiva dos envolvidos atravs de uma
simulao dos processos envolvidos na trplice lavagem e a apresentao de dois flmes
que expuseram passo a passo os processos de trplice lavagem manual e por presso.
Tambm nessa ofcina buscou-se mostrar aos participantes a importncia da leitura e
interpretao das informaes contidas nos rtulos e bulas dos agrotxicos.
AVALIAO DAS AES REALIZADAS
Sendo imprescindvel a avaliao do nvel de informao por parte dos sujeitos
acerca da problemtica dos agrotxicos, foi aplicado ao pblico-alvo um formulrio
precedente introduo das ofcinas, composto por questes abertas e fechadas que
abordavam a temtica a ser discutida.
Este mtodo de coleta de dados possibilitou a anlise do nvel de absoro
das informaes fornecidas durante a realizao das ofcinas, visto que para fm
comparativo foi posteriormente reaplicado ao fnal da ltima ofcina.
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RESULTADOS
Foram contabilizados ao fnal das ofcinas cerca de 790 trabalhadores rurais e/
ou pessoas indiretamente envolvidas com agricultura. Os resultados apresentados na
anlise dos formulrios pr e ps ofcinas refetem que a maioria dos temas abordados
foi bem absorvido pelo pblico-alvo, como mostrado a seguir.
Tambm vlido destacar que houve difculdades com a adeso de algumas
escolas principalmente de duas, em particular, por esse motivo a pretenso da realizao
de trs ofcinas, em trs momentos distintos em cada escola, foi prejudicada. Portanto
em algumas ocasies unimos subtemas para que nenhuma das escolas fcasse sem ter
visto nenhum dos assuntos abordados. Em uma das escolas, por exemplo, foi realizada
apenas uma ofcina, abordando todos os temas, por motivos de recusa da direo da
escola em realizarmos as atividades.
EVOLUO DO APRENDIZADO DOS SUJEITOS ANTES E APS AS
OFICINAS MINISTRADAS
Reconhecer a sintomatologia apresentada em um caso de intoxicao por
agrotxico de extrema importncia para qualquer indivduo que esteja exposto
a estas substncias, visto que a identifcao precoce e a atribuio do nexo causal
possibilitam e do segurana na busca dos servios de sade para diagnstico imediato
e tratamento adequado. A instruo dos agricultores acerca dos sinais e sintomas
ameniza os riscos de complicaes apresentados na forma de doenas crnicas devido
ao diagnstico tardio e tratamento inadequado.
A avaliao do reconhecimento dos sinais e sintomas de intoxicao por parte
dos sujeitos refete que, ao trmino do trabalho, 88% identifcavam corretamente e
citavam pelo menos trs destes sintomas.
No aspecto de proteo sade do trabalhador, para Machado e Gomez (1995
apud GOMEZ; COSTA, 1997), na prtica, as medidas que deveriam assegur-la em seu
sentido mais amplo restringem-se a intervenes apenas sobre os riscos mais evidentes,
normatizados pela distribuio de Equipamentos de Proteo Individual (EPI) ao
invs da adoo de medidas que garantam a proteo coletiva.
Sem entrar na discusso da efccia dos EPIs, os mesmos, em algumas situaes,
so utilizados com a fnalidade de proteo contra as intoxicaes. Porm de acordo
com um estudo realizado por Veiga et al. (2007), para analisar a efcincia e adequao
dos EPIs utilizados na manipulao e na aplicao de agrotxicos nas agriculturas
brasileira e francesa, na cultura de tomate e em uma vitivincula, respectivamente, os
resultados encontrados evidenciaram que a utilizao de EPI, em ambos os casos, alm
de no protegerem integralmente o trabalhador contra o agrotxico, ainda agravaram
os riscos e perigos, pois se tornaram fontes de contaminao. Portanto, o grupo, ao
trabalhar este tema procurou mostrar tanto a importncia do uso do EPI quanto
tambm suas limitaes.
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Realizadas as ofcinas, um total de 58% dos participantes reconheceram que
uso do EPI no evita intoxicaes por agrotxicos. Os 42% restantes entendem que
os EPIs, quando utilizados corretamente, protegem contra as intoxicaes. Para Veiga
et al. (2007), as medidas de preveno devem ser aquelas que eliminam ou reduzem
os riscos e perigos, atuando diretamente na sua fonte. Prevenir deve vir antes de
proteger contra os riscos e perigos de intoxicao. O autor ainda afrma: na maioria
das situaes, proteger parece ser mais econmico do que prevenir.
Quanto realizao de prticas preventivas s intoxicaes, o uso do leite foi um
dos principais tpicos abordados, j que segundo Ramos e colaboradores (2006), esta
bebida bastante utilizada na regio como meio de proteo contra as intoxicaes e
ainda para minimizao dos efeitos quando por alguma circunstncia o indivduo foi
contaminado. Bedor (2008) afrma que o leite tem propriedades lipossolveis, o que
pode acelerar o processo de intoxicaes por agrotxicos.
Na populao-alvo desse estudo, relevante o percentual (40%), de pessoas que
acreditam no poder protetor do leite nas intoxicaes. Em vista deste elevado nmero,
as ofcinas apresentaram estudos cientfcos que comprovassem a real atuao do leite
em um organismo exposto e intoxicado por agrotxicos. Assim, buscou-se embasar as
informaes repassadas a fm de combater essa prtica cultural to vigente no cotidia-
no dos agricultores. Como resultado dessa conduta obteve-se um percentual satisfat-
rio (80%) de participantes com resposta correta em relao a no utilizao do leite nos
casos de intoxicaes, quando avaliado o questionrio ps-teste.
Para o descarte das embalagens vazias dos agrotxicos, sabido que estas de-
vem ser devolvidas s lojas onde foram compradas, no prazo de at um ano contando
da data de sua compra. Tal procedimento complexo e requer participao efetiva tan-
tos dos fabricantes, quanto dos vendedores e consumidores. Na compilao dos dados
do formulrio aplicado anteriormente ao desenvolvimento das ofcinas, observou-se
que apenas 20% dos avaliados compreendiam a destinao correta das embalagens,
ao passo que a maioria destes referia o descarte por enterro ou incinerao. Isso refete
que esta uma prtica frequentemente realizada na regio.
A interpretao dessas informaes direcionou o foco da abordagem deste tema,
fazendo com que o grupo frisasse a importncia da devoluo, assim como os riscos que
os agricultores e seus familiares sofrem quando da realizao de prticas inadequadas
de descarte, correlacionando ainda com os danos causados ao meio ambiente. Os resul-
tados obtidos com essa ofcina foram favorveis, visto que, ao fnal do trabalho, 88%
dos participantes referiram corretamente a destinao das embalagens vazias.
A trplice lavagem das embalagens vazias obrigatria e regulamentada
pela lei dos agrotxicos. A falta de fscalizao contnua por parte dos rgos
responsveis, aliada displicncia dos agricultores so fatores que justifcam a
realizao de atividades de conscientizao e capacitao dos trabalhadores quanto
aos procedimentos corretos e necessrios para desprezar as embalagens vazias. Antes
das ofcinas, 5,66% dos participantes compreendiam a trplice lavagem. Depois das
ofcinas o percentual aumentou para 88%. A compreenso desse tema fundamental,
tanto para a reduo dos riscos da populao, quanto para o meio ambiente.
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Os hbitos rotineiros desenvolvidos pelos trabalhadores para o preparo das
caldas a serem aplicadas revelam que realizao da leitura dos rtulos das embalagens
por parte destes atividade no realizada com a frequncia devida. A diferenciao dos
produtos, por reconhecimento das embalagens, na realizao da mistura foi o mtodo
exposto pela maioria deles. Segundo relatos, a alta frequncia do uso dos produtos
torna-se uma ao mecnica na rea de plantio fazendo com que a rotina dispense a
leitura dos rtulos.
A leitura das embalagens pode fornecer informaes sobre as precaues que
devem ser tomadas em relao ao uso e tambm na ocorrncia de intoxicao. Obteve-
se como resultado que 88% dos participantes passaram a realizar leitura das bulas.
Em relao utilizao de agrotxicos prevalece a viso de que existe uma
necessidade real e economicamente dependente da utilizao destes produtos mesmo
reconhecendo os perigos e danos causados por estas substncias.
Sobre a utilizao dos produtos agrotxicos, 26% dos participantes concordam
que estes devem ser banidos e jamais utilizados. Em contrapartida, 68% afrmam que
devem ser aplicados com moderao, apesar de conscientes quanto aos males causados a
sade e ao meio ambiente. Esta questo necessita ser constantemente trabalhada, uma
vez que o modelo capitalista brasileiro e a dependncia socioeconmica historicamente
foram fomentados pelo uso de agroqumicos, o que interfere na avaliao mais precisa
desta problemtica.
CONSIDERAES FINAIS
Diante do contexto do consumo exacerbado de produtos agrotxicos identifcado
no loco regional do Submdio do Vale do So Francisco, foi perceptvel a necessidade
da realizao de uma educao permanente e continuada com a comunidade rural
alertando-a sobre os males causados por esses produtos.
Os dados epidemiolgicos j existentes aliados ao nmero signifcativo de
subnotifcaes devem servir como alerta para implementao e desenvolvimento de
polticas pblicas voltadas a essa temtica. A proteo e a preveno da sade, assim
como a garantia ao tratamento e a recuperao dos indivduos expostos e em riscos de
intoxicao dever do Estado, devendo estar presente em todos os nveis de ateno
sade (primrio, secundrio e tercirio), assim como nos nveis de gesto municipal,
estadual e federal.
Em vista disso, o Projeto teve como objetivo a conscientizao dos males que
o uso de agrotxicos traz principalmente Populao Rural. O pblico atingido foi de
790 pessoas, entre as quais produtores rurais e outras indiretamente envolvidas com
agricultura. Foi visvel que a maior parte destas pessoas demonstrou ter absorvido as
informaes fornecidas nas ofcinas. O entusiasmo, a curiosidade e a participao dos
sujeitos foram intensos durante o trabalho realizado. Vale destacar ainda a participa-
o dos docentes das escolas, que engajados nesta luta, se comprometeram a prosseguir
com educao continuada para esses alunos, realizando trabalhos de pesquisa do tema
como mtodo de indicador para avaliao do desempenho estudantil.
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A realizao das ofcinas proporcionou um aumento dos conhecimentos acer-
ca desta temtica, tanto para os acadmicos pesquisadores, quanto para a populao
trabalhada. Com o contato prolongado com estas pessoas percebeu-se que no s os
fatores educacionais interferem nesta questo, a problemtica se estende ainda para
fatores socioculturais e, principalmente, de dependncia econmica.
A falta de meios alternativos produo implica a utilizao irracional de
produtos agrotxicos. A exposio e intoxicaes por essas substncias devem ser
consideradas um desfo a ser enfrentado na regio, pois so reais e cada vez mais
incidentes. Cabe aos rgos competentes interferirem diretamente nesta problemtica,
visto que pouco se enfatiza a questo dos meios de informao.
REFERNCIAS
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COMO CITAR ESTE ARTIGO:
BOAS, Jenifen Miranda Vilas; BEDOR, Cheila Nataly Galingo.
Preveno das intoxicaes por agrotxico no Submdio do Vale do So
Francisco junto a trabalhadores rurais. Extramuros, Petrolina-PE, v. 1,
n. 1, p. 70-80, jan./jul. 2013. Disponvel em: <informar endereo da
pgina eletrnica consultada>. Acesso em: informar a data do acesso.
FARIA, N. M. X.; FASSA, A. C. G.; FACCHINI, L. A. Intoxicao por agrotxicos
no Brasil: os sistemas ofciais de informao e desafos para realizao de estudos
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GOMEZ C. M.; COSTA, S. M. F. T. A construo do campo da sade do trabalhador:
percurso e dilemas. Caderno de Sade Pblica, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 2, p. 21-32,
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GOODMAN, D.; SORJ, B.; WILKINSON, J. Das lavouras s biotecnologias. Rio de
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p. 57-68, 2007.
Recebido em: 17 mar. 2013.
Aceito em: 10 jun. 2013.
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De como o Serto do Submdio So Francisco ganhou um ncleo de
mobilizao antimanicomial: da histria aos desafos atuais
______________________________________________
Barbara E. B. Cabral
1
Michele L. de S. Costa
Grcia R. N. de Lima
3
Jessica R. S. Melo
4
Geizeane R. dos Santos
5
Dedicamos este escrito aos tenazes atores/autores da Luta Antimanicomial no Brasil,
em especial aos usurios e seus familiares, e aos que acreditam, como ns, que possvel
reconstruir permanentemente novos sentidos sociais para a loucura.
RESUMO
A Luta Antimanicomial no Serto do Submdio So Francisco tem se constitudo de
forma gradual, a partir de uma parceria entre atores/autores da Univasf e das redes
locais de ateno sade mental, sobretudo das cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-
PE, por meio de aes extensionistas. Este artigo objetiva apresentar os passos que
levaram constituio do Ncleo de Mobilizao Antimanicomial do Serto Numans
na regio, com destaque a aes que tm estimulado o debate em torno da consolidao
da reforma psiquitrica e dos seus desdobramentos nas esferas da gesto, do cuidado
e da formao do profssional de sade. Pretende-se que o ncleo ganhe cada vez mais
fora, como movimento social e assumido por lideranas da comunidade, contribuindo
para a efetivao de uma rede de cuidados integrais em sade mental no Vale do So
Francisco.
Palavras-chave: Movimento social; Sade mental; Reforma psiquitrica.
How the Backlands of Medium San Francisco got an anti-asylum mobilization
group: from history to present challenges
ABSTRACT
The fght against Asylum logic in the Backlands of San Francisco River has gradually
emerged from a partnership between actors/authors of Univasf and of the local
networks of mental health care, particularly in the cities of Juazeiro (in Bahia State)
and Petrolina (in Pernambuco State), through extension activities. This article presents
the steps that led to the creation of the Backlands Antimanicomial Mobilization
Group (Numans) in the region, highlighting actions which have stimulated the
debate on the consolidation of psychiatric reform and its implications in the areas of
management, care and formation of health professionals. It is intended that Numans
gets increasingly stronger, as a social movement, being undertaken by community
leaders, and contributing to the realization of an integral mental health care network
in the So Francisco Valley.
Keywords: Social movement; Mental health; Psychiatric reform.
1
Professora
Adjunta do
Colegiado de
Psicologia da
Universidade
Federal do Vale
do So Francisco
(UNIVASF).
barbaraebca-
bral@gmail.com
2
Graduanda
em Psicologia
UNIVASF.
michele.lorena@
hotmail.com
3
Graduanda
em Psicologia
UNIVASF.
grecianonato@
yahoo.com.br
4
Graduanda
em Psicologia
UNIVASF.
jrichelle_17@
hotmail.com
5
Graduanda
em Psicologia
UNIVASF.
geizeanerodri-
gues@hotmail.
com
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SITUANDO O TEXTO: DA FUNDAMENTAO DA PROPOSTA
O presente artigo tem por objetivo apresentar os passos que levaram cons-
tituio do Ncleo de Mobilizao Antimanicomial do Serto Numans, na regio do
Submdio So Francisco, cuja potncia em ato vem fortalecendo o debate em tor-
no da consolidao da Reforma Psiquitrica e dos seus desdobramentos nas esferas
da gesto, do cuidado e da formao do profssional de sade. Consideramos que esse
registro revela vias possveis para que a universidade atualize seu compromisso social
com o desenvolvimento regional, destacando-se a importncia da extenso, compreen-
dida em sua imbricao com a pesquisa e o ensino.
Para tanto, importa resgatar, primeiramente, alguns aspectos histricos da
prpria construo social em torno do fenmeno loucura ao longo dos sculos. Desta-
ca-se que a humanidade construiu diversos sentidos, compreenses e percepes sociais
sobre essa experincia, culminando em um processo de patologizao progressiva, cujo
pice ocorreu na Modernidade, com a confgurao do status de doena mental e da
chamada medicina mental (MACHADO, 2006). Acreditava-se que a alienao mental
vocbulo inicialmente usado para designar a loucura naquele perodo privava a
pessoa de sua liberdade, em funo do comprometimento de sua capacidade racional.
Destarte, (re)afrmou-se, na aurora do sculo XIX, um lugar social para a loucura
marcado pela marginalizao e excluso, vinculando-se esta experincia s noes de
periculosidade social e incapacidade produtiva, at hoje predominante nas concepes
e representaes sociais acerca desse fenmeno.
Nesse processo, reduziu-se paulatinamente a multiplicidade de sentidos que po-
dem se atrelar experincia de loucura originariamente to diversa, plural e multifa-
cetada , que a situaria muito alm do carter patolgico, como indicado por Foucault
(2005), em seu importante estudo A Histria da Loucura na poca Clssica, publicado
em 1961. Este texto acabou desvelando as condies histricas que possibilitaram o
surgimento da Psiquiatria como campo de saber a respeito da loucura, reduzida do-
ena mental, identifcando determinaes de carter tico e moral muito mais que
mdico na circunscrio do lugar social dos chamados loucos (FOUCAULT apud
MACHADO, 2006).
De acordo com Amarante (1998), a cincia psiquitrica, poca do seu sur-
gimento denominada alienismo, delineou uma teraputica baseada no princpio do
isolamento teraputico, classifcao nosogrfca e tratamento moral, com o objetivo
maior de restituir a razo ao louco, na perspectiva de possibilitar seu retorno ao con-
vvio social, tendo em Pinel um dos seus maiores expoentes. J naquele perodo, havia
muitas discusses e divergncias em relao qual seria a natureza da loucura, ento
capturada como doena mental, sendo defendidos inmeros e divergentes pontos de
vista em relao a sua etiologia, desde sua caracterizao como fundamentalmente
uma desordem das paixes como defendia Pinel at a crena em uma determinao
hegemonicamente orgnica como professava Cabanis e, um pouco depois, Morel e sua
teoria da degenerescncia (CAPONI, 2012).
Ao serem consideradas como ameaa ordem social, ao mesmo tempo em que
deveriam ser protegidas de sua prpria loucura, postulava-se que as pessoas loucas
fossem mantidas em espaos de confnamento, nos quais poderiam ser rigorosamente
observadas e submetidas a uma pedagogia da ressocializao era o nascimento do
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hospital psiquitrico propriamente dito. Como indica Amarante (2008), o hospital so-
freu um processo de medicalizao ao longo da histria, tendo nascido com um intento
caritativo na Idade Mdia, assumindo a funo de controle social na poca Clssica
por ocasio do fenmeno da Grande Internao, discutido por Foucault e, fnalmen-
te, adquirindo o mandato social de tratamento, em fns do sculo XVIII.
Muitas crticas tm sido direcionadas aos saberes, discursos e prticas que cons-
tituem o paradigma clssico da psiquiatria, cujo lcus primordial de tratamento era o
hospital psiquitrico, fundado sobre o pilar da recluso/excluso social. Este modelo
foi (e segue sendo) posto em questo, principalmente, pelo insucesso na conquista dos
objetivos teraputicos propostos quando de sua criao. Constatou-se que milhares
de sujeitos, a partir do internamento nessas instituies, foram privados do convvio
comunitrio, sendo submetidos a atos violentos e encerrando ali sua existncia.
Particularmente no cenrio posterior II Guerra Mundial, houve diversas
experincias de reforma psiquitrica no mundo, com diferentes gradientes de
questionamento do aparato psiquitrico, que geraram transformaes nos modos de
cuidado. Dois desses movimentos , a Antipsiquiatria e a Psiquiatria Democrtica
Italiana puseram em xeque a funo social da psiquiatria e suas formas tradicionais
de tratamento, disparando intensos processos de transformao social e propondo
outras teraputicas.
Segundo Amarante (1998, p. 87), inicia-se no Brasil, no fnal da dcada 1970, o
movimento pela reforma psiquitrica, compreendido como [...] um processo histrico
de formulao crtica e prtica, que tem como objetivos e estratgias o questionamento
e elaborao de propostas de transformao do modelo clssico e do paradigma da
psiquiatria. Atravs do Movimento dos Trabalhadores de Sade Mental (MTSM),
aconteceram as primeiras reivindicaes na rea, com a fnalidade de se constituir modos
dignos de cuidado s pessoas que apresentam transtornos psquicos. Em consonncia
com o Movimento pela Reforma Sanitria, ocorreram diversas manifestaes voltadas
ao questionamento do modelo privatista e precrio de ateno sade mental, s
prticas repressoras recorrentes nas instituies psiquitricas e situao precria dos
profssionais que trabalhavam na rea.
Um marco importante no contexto do Movimento de Reforma Psiquitrica no
Brasil foi o II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Sade Mental, realizado em
Bauru-SP, em 1987, quanto se ratifcou a necessidade de dar andamento ao processo de
transformao dos modos de ateno sade mental no pas, inspirando-se fortemente
na experincia italiana. Esta tinha como um dos aspectos axiais a inteno de colocar
a doena entre parnteses, como destacava Basaglia (2005), valorizando-se prioritaria-
mente a relao com as pessoas e incluindo-as na produo do cuidado. No Congresso
de Bauru, defniu-se o lema Por uma Sociedade sem Manicmios, instituindo-se a data
18 de maio como o Dia Nacional de Luta Antimanicomial. O movimento de trabalhado-
res, incorporando usurios dos servios de sade mental, transforma-se em Movimento
Nacional da Luta Antimanicomial (AMARANTE, 1998).
O conceito de desinstitucionalizao, repaginado e fortalecido na propos-
ta italiana de reconstruo dos modos de cuidado em sade mental, diz respei-
to a uma reinveno permanente de saberes, discursos e prticas neste campo,
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constituindo-se como um trabalho prtico de transformao (ROTELLI; DE
LEONARDIS; MAURI, 2001, p. 29). Desse modo, o objeto de cuidado, em vez de ser
a doena, passa a ser a existncia sofrimento, ganhando contornos reais a partir da vida
das pessoas de que se pretende cuidar.
Amarante (2008) indica que um processo de reforma psiquitrica, em respeito
complexidade que o constitui, precisa atingir, minimamente, quatro dimenses: a
tcnico-assistencial, a terico-conceitual, a poltico-jurdica e a sociocultural. Enfatiza
que, possivelmente, o mais desafante seja impactar a ltima, considerada, portanto,
estratgica. Tratar-se-ia de construir outro lugar social para a loucura, como indica Bir-
man (1992), no sentido de faz-la caber na cidade e na cultura. Isso pode ocorrer a par-
tir de aes provocativas s pessoas, a todos ns, no sentido de remexer com o imagin-
rio social, que costuma reduzir loucura doena mental e relacion-la periculosidade
e incapacidade produtiva, tal como postulado pela Psiquiatria, em seus primrdios.
Apesar de haver no pas uma poltica de sade mental claramente defnida,
voltada criao de uma rede de cuidados diversifcada, comunitria e substitutiva
lgica manicomial, necessrio avanar na direo de sua ampliao e aprimoramento,
especialmente no cenrio local, acreditando-se que a universidade deve assumir um
papel fundamental neste contexto. Tendo em vista a perspectiva de implantao da
Rede de Ateno Psicossocial (RAPS) no Brasil, defagrada por meio da Portaria GM
n. 3.088, de 2011, apostamos que se revela imprescindvel fortalecer movimentos
sociais que respaldem e participem desse processo.
O lugar de acolhimento da loucura na cidade, no territrio, como to bem de-
lineado na tradio basagliana de transformao dos modos de cuidado em sade men-
tal. No se trata de tolerar a loucura, mas, como indica o prprio Basaglia (2005, p.
255), de
[...] aprender a suportar um confronto com o outro que s permanece real e sig-
nifcativo quando o sofrimento no isolado em lugares e ideologias que se en-
carreguem dele; aprendizagem que permite ao mesmo tempo a no-expulso da
diversidade e o reconhecimento da mesma, muitas vezes escondida nas regras
de uma normalidade que desvirtua as necessidades tanto quanto a loucura.
Assim, iniciativas que possibilitem modifcar as relaes da sociedade com o que
diverso, escapando s normatizaes pelo vis da imposio de padres de norma-
lidade , ganham uma importncia capital para a construo de modos mais fuidos/
abertos/respeitosos de sociabilidade. Consideramos ser vital contagiar, com essa lgica
inclusiva, no apenas os servios e a organizao do sistema de sade, mas, sobretudo,
a sociedade como um todo, medida que o territrio tomado como o lcus de cuidado
privilegiado.
Como indicam Silveira et al. (2011, p. 101), tem-se evoludo muito em termos
de estrutura do sistema, mas ainda de maneira incipiente no campo das concepes
e representaes que refetem no cuidado por parte da famlia e das redes sociais.
A ruptura com a lgica asilar e manicomial, fundamentada em preconceitos e
padronizaes do humano, implica construo de outras prticas de sade, constituindo
ainda um grande desafo social.
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Situando-se no eixo de sade/sade mental, com nfase na organizao socio-
poltica, principalmente de usurios e familiares das redes de sade mental, a ideia
de criar e fortalecer o movimento social em favor da Reforma Psiquitrica na regio
respalda-se no pensamento de Benevides (2005, p. 24), quando destaca que os eixos
da universalidade, equidade e integralidade, constitutivos do SUS s se efetivam quan-
do conseguimos inventar modos de fazer acontecer tais eixos. A autora indica que o
investimento em propostas que aumentem o grau de democracia e participao social
bem como a construo de redes, de grupalidades, de dispositivos de cogesto so vias
pertinentes a esse fm.
O princpio doutrinrio da integralidade, sobretudo, tomado como basal, por
considerarmos que se confgura como um diapaso importante no processo de tessitu-
ra das redes de sade, redes sociais e das prticas de cuidado. De acordo com Cabral
(2011), importa construir a integralidade no cotidiano das prticas, ultrapassando seu
aspecto normativo que no garante uma concreta efetivao por meio da valoriza-
o e entrelaamento dos mltiplos saberes, fazeres e dizeres: a perspectiva seria a de
construo de caminhos possveis para um alargamento da sade como capacidade
de lidar com a vida conforme os variados pontos de vista existentes, proporcionais
aos seres sempre singulares envolvidos nos processos. Depreende-se, ento, que in-
tegralidade no se trata de algo meramente aplicvel.
Sintoniza-se, portanto, com o sentido apontado por Pinheiro e Guizardi (2008,
p. 23), ao qualifcarem a integralidade como [...] um dispositivo poltico, de crtica
de saberes e poderes institudos, por prticas cotidianas que habilitam os sujeitos
nos espaos pblicos a engendrar novos arranjos sociais e institucionais em sade.
Articulando a perspectiva de integralidade, assim compreendida, e a noo de cuidado
como uma ateno baseada no vnculo, no acolhimento e na responsabilidade
(SILVEIRA et al., 2011), aposta-se que qualquer prtica de sade precisa assumir a
centralidade do usurio como fundante.
A proposta de centralidade do usurio vai alm da inteno de tom-lo como
referncia na elaborao das polticas e realizao das prticas de cuidado o que seria
uma viso centrada no usurio. Tratar-se-ia de, alm de tom-lo como foco de ateno,
criar estratgias para sua insero como sujeito ativo no processo, reconhecendo seus
modos singulares de buscar cuidado no sistema. No seria um mero destinatrio das
aes, mas um partcipe de sua construo.
Bonet et al. (2011), valorizando essa noo de centralidade do usurio, discu-
tem sua funo como mediador, posto que est imerso nos contextos relacionais em
que se produzem os atos de sade. Assim, os autores apresentam um ngulo ainda mais
preciso e ousado para essa compreenso da participao do usurio, propondo a noo
de situao-centrada: os usurios falando de dentro, situados no mundo de forma
singular, assim como os profssionais de sade, gestores, entre outros.
Vasconcelos (2008), em estudo sobre dispositivos associativos e de luta no cam-
po da sade mental, aponta como fundamental potencializar outros atores sociais
como os usurios e familiares , em processos organizativos que no sejam dependentes
de governos, tampouco atrelados apenas aos servios e a organizaes de categorias
profssionais, com vistas a maiores conquistas no processo de reforma psiquitrica no
pas. Tendo sido perflado este cenrio, cabe agora narrar a histria do Numans.
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REVISITANDO OS FIOS DA HISTRIA: UMA IDEIA E UMA PROVOCAO
SE TRANSFORMANDO EM ATO
Em maio de 2009 aconteceu, em Petrolina-PE, cidade do serto pernambu-
cano, uma vibrante e colorida caminhada em comemorao ao Dia Nacional de Luta
Antimanicomial (18 de maio), seguida do I Frum de Mobilizao Antimanicomial
(FMA): Loucura em Movimento, que aconteceu no Centro de Convenes de Petroli-
na-PE. No era a primeira vez que se marcava to importante data na regio, mas tal
evento tinha um carter particular: constitua uma iniciativa efetiva de reunir atores/
autores diversos das duas cidades vizinhas Juazeiro-BA e Petrolina-PE interessa-
dos na temtica: usurios de servios, familiares, profssionais da rede de sade, estu-
dantes, professores e comunidade em geral.
A proposta surgiu a partir de um grupo de estudantes da Disciplina Sade
Mental I, do curso de graduao em Psicologia da Univasf, em sua oferta de 2009.1.
Mobilizados com as discusses em sala de aula, os graduandos propuseram professora
organizar um evento diferenciado para marcar o 18 de maio. Aceito o desafo e
mergulhando-se em intenso trabalho de preparao, em um prazo curtssimo, foi
tomando forma o I FMA, que brotou de ao integrada da Univasf e Secretarias
Municipais dos dois municpios.
Inaugurava-se uma articulao indita entre as gestes municipais e instituio
formadora, marcada pela ousadia de um grupo de estudantes, professores e profssionais
da rede, sobretudo os ligados aos Centros de Ateno Psicossocial os CAPs.
Buscamos parcerias e, dentre as conquistas, tivemos o apoio do Ncleo Estadual de
Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades, situado em Recife-PE, e do Conselho
Regional de Psicologia (CRP-02).
De fato, o que se vislumbrava, desde as reunies preparatrias, era dar o pri-
meiro passo para a criao de um movimento social em favor da consolidao da refor-
ma psiquitrica no Vale do So Francisco. A aposta se confrmou e congregou muitos
adeptos, de modo que no frum foram produzidos debates intensos, frmando-se um
compromisso: criar um ncleo permanente de discusso sobre a luta antimanicomial e
reforma psiquitrica fundamentado na realidade local.
Plantava-se, assim, a semente para a constituio do Numans. Tendo a primei-
ra roda de conversa ocorrido em outubro de 2009, o ncleo foi sendo gestado a cada
encontro, tendo herdado a marca da ousadia. No havia uma sede fxa, utilizando-se
espaos da universidade e/ou das redes de sade das duas cidades. Entretanto, a iden-
tidade almejada era clara (ainda que em trnsito contnuo, como toda identidade...):
ser movimento social, escapando-se a determinaes institucionais e burocrticas, por
vezes perversas ou acachapantes.
O dispositivo foi agregando pessoas interessadas na temtica, reali-
zando-se encontros peridicos e buscando-se afrmar. Ao longo de sua existn-
cia, o Numans contou com representantes da Univasf, da Universidade do Es-
tado da Bahia (UNEB), do Conselho Regional de Psicologia-02 (e sua Subsede
do Serto do So Francisco), trabalhadores dos Centros de Ateno Psicossocial
(CAPS) e da rede de sade, usurios dos servios de sade mental e, sobretudo,
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estudantes dos cursos de sade (especialmente Psicologia) e da Residncia Multiprofs-
sional em Sade da Famlia (Univasf/SESAB/Secretaria Municiapal de Sade de Jua-
zeiro-BA).
Sentia-se a necessidade de estudos e buscas de outras experincias semelhantes,
criando-se uma aproximao com o Libertando Subjetividades (PE) e a Associao
Metamorfose Ambulante AMEA (BA), que foram parceiros fundamentais desde o incio.
Esses so fliados Rede Nacional Interncleos da Luta Antimanicomial (RENILA),
que sempre constituiu uma referncia fundamental para o Numans, mantendo-se um
lao expressivo, mesmo que, at o momento, no tenha havido uma fliao formal.
O Numans precisava seguir seu caminho no sentido de circunscrever seus contornos,
considerando-se a signifcativa difculdade de sustentao da participao de usurios
e familiares dos servios de sade mental nos encontros.
No ano de 2010, o Numans promoveu a/o I Conferncia Interestadual de Sade
Mental do Submdio So Francisco / II Frum de Mobilizao Antimanicomial, nos dias
09 e 10 de abril, no Complexo Multieventos da Univasf Campus de Juazeiro-BA.
Foram convocados 16 municpios circunvizinhos da Bahia e de Pernambuco, de forma
que o evento correspondeu a uma etapa regional da I Conferncia Nacional de Sade
Mental Intersetorial (IV CNSM-i). A possibilidade de agregar e assumir a realizao
de uma etapa regional da IV CNSM-i foi tomada a princpio como um grande delrio;
contudo, era um daqueles delrios que potencializam quem somos e, percebendo que o
grupo estava disposto a bancar esse desafo, partimos para as articulaes necessrias,
nas instncias Federal, Estaduais e Municipais.
O flego para levar adiante essa proposta se fortaleceu pela percepo de que
talvez muitos municpios da regio no conseguissem realizar suas conferncias locais,
uma vez que os prazos estavam muito reduzidos. A IV CNSM-i foi convocada por de-
creto presidencial, em abril de 2010, em consequncia de intensa mobilizao e presso
social pela necessidade de abrir amplos debates acerca dos avanos e retrocessos na po-
ltica de sade mental nacional. Tratava-se de uma oportunidade nica para promover
refexes acerca da situao loco-regional da ateno sade mental, reconhecendo
avanos e desafos na implantao da rede de cuidados especfcos. Pisamos no acele-
rador e fomos adiante, sem saber ao certo o que e como construiramos esse momento.
Como no I FMA, mergulhou-se na preparao do evento sem fundos de reserva fnan-
ceira, apostando-se nas parcerias possveis. Mais uma vez, funcionou!
Tivemos 489 participantes, que se envolveram na construo de 129 propostas
para melhoria da ateno sade mental na regio, conseguindo garantir delegaes
para as conferncias estaduais da Bahia e de Pernambuco e, da, para a IV CNSM-i,
cujo tema foi Sade Mental direito e compromisso de todos: consolidar avanos e
enfrentar desafos, tendo acontecido em Braslia, entre os dias 27 de junho a 01 de
julho de 2010.
Ressaltamos que tal feito s foi possvel mediante a conjugao de esfor-
os dos participantes e uma impressionante capacidade de articulao do gru-
po, pela parceria entre atores da Universidade, instituies locais e gestores/
trabalhadores/usurios da rede de sade mental da regio, alm do apoio im-
prescindvel das gestes municipais, especialmente de Juazeiro-BA e Petroli-
na-PE, das Secretarias Estaduais de Sade (SESAB e SES-PE) e do CRP-02.
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Fundamental, outrossim, foi a legitimao do nosso processo pela rea Tcnica de
Sade Mental, lcool e outras Drogas do Ministrio da Sade (ATSM/MS).
Aps esse intenso movimento, o Numans manteve reunies espordicas, perce-
bendo-se certa difculdade para o seu fortalecimento. Um dos fatores identifcados foi a
rotatividade dos participantes em sua maioria estudantes de Psicologia e residentes,
que fnalizavam seus cursos e seguiam seus trajetos alm da impossibilidade de cons-
tituir, nesse perodo, participao sistemtica e liderana de usurios e familiares dos
servios de sade mental.
Ainda assim, com um grupo menor, foram realizadas algumas aes em 2011,
para marcar datas especiais da luta pela sade mental, entre elas o 18 de maio e o Dia
Mundial da Sade Mental (10 de outubro), em parceria da Univasf com os CAPs de
Juazeiro e Petrolina. Dentre estes, cabe aqui destacar o evento T pintando loucura
na Ilha do Fogo, realizado no dia 02 de outubro, na Ilha do Fogo, situada na divisa
Juazeiro-BA e Petrolina-PE, tendo como objetivo promover um dia artstico-cultural-
potico, com pinturas de painis coletivos, tematizando sade mental e loucura, na
perspectiva de contribuir para a construo de outros lugares sociais para a loucura,
que no os de excluso e preconceito. Esse encontro tornou-se mais um marco dessa
histria da celebrao da vida e dos modos singulares de existir, constituindo um espao
de frteis refexes, mediadas pela arte, entre os participantes.
Em 2012, o Numans retomou suas reunies ainda de forma no sistemtica
motivado pela comemorao do 18 de maio, que resultou na articulao e organizao
do I Ciclo da Luta Antimanicomial no Serto, realizado de 11 a 18 de maio. Houve
diversas atividades, como rodas de debates, ofcinas e exibio de flmes, sendo tambm
fnalizada com a caminhada festiva pelas ruas de Petrolina-PE. Isso favoreceu uma
sensibilizao importncia da luta, uma vez que, ao convidar usurios, familiares
e profssionais em geral a ocupar o espao da universidade, proporcionou uma rica
troca de experincias e saberes. Esse movimento acabou inserindo novos integrantes
s discusses, sobretudo estudantes, na proporo que despertava refexes sobre a
necessidade e importncia do agir poltico (ARENDT, 2009) bem como um sentido de
pertencimento luta.
Em um dos momentos, na concentrao para a sada da caminhada festiva,
vrios participantes uniram-se numa grande roda, numa mistura alegre e colorida,
entre as cores das fantasias e os baques de instrumentos de percusso, que soavam de
maneira improvisada. Ficou claro ali que no importava de qual lugar se falava, sendo
valorizado o sentido comum que integrava as pessoas naquele instante. Em meio eu-
foria e ensaios de grito de guerra para sair s ruas, o microfone esteve disponvel para
todos, a fm de maximizar o que ecoava naquela concentrao: era necessrio fazer caber
na sociedade modos singulares de existncia, pois isso marca da vida! Poder brincar em
pblico, no coletivo, com os sentidos de loucura, relativizando o peso que foi atribudo
a essa experincia a partir de sua reduo doena mental, ao mesmo tempo em que
se pleiteava uma rede de ateno integral a quem necessita de cuidados nesse mbito,
surgiu como uma possibilidade de abertura e ampliao de viso, produzindo outras
sensibilidades.
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No grupo estavam integrantes fantasiados da Unidade de Palhaada Intensi-
va (UPI), outro projeto de extenso da Universidade que faz intervenes de carter
ldico/teraputico em hospitais. Enquanto os clowns da UPI mexiam com nossas lem-
branas infantis, provocando facilmente o riso, usurios, gestores, estudantes e diver-
sas pessoas que por ali passavam formaram um coro alegre na rua. Deixar o espao
protegido da Universidade e desflar pelas principais ruas da cidade, entoando frases
prenhes de desejos de democratizao, de partilha, de reconhecimento funcionou, mais
uma vez, como exerccio tico-poltico.
Pretendia-se levar os transeuntes loucura ou levar um pouco de loucura a
todos? provocando o imaginrio produo de outros sentidos para esta experincia,
estimulando-se atitude de abertura e respeito. Com todos misturados como costu-
mam ser os encontros na vida fcava difcil categorizar, conforme os padres enrije-
cidos de normatizao da vida e do humano, quem era louco ou no. E o que loucura,
afnal? Que se mantivesse, diante dessa pergunta, uma atitude de cautela, desconfan-
a e reconhecimento de singularidade e pluralidade do humano, tal era o intuito.
Reconhecida a importncia do fortalecimento do Numans na regio, foi pro-
posto e aprovado, no fnal de 2012, um projeto de extenso por meio do Edital 01/2012,
da Pr-reitoria de Extenso da Univasf (PROEX/PIBEX 2013/2014), tendo o tra-
balho com o grupo, que batizamos de MANS, iniciado j em dezembro desse mesmo
ano. O projeto conta com parcerias no prprio Colegiado de Psicologia bem como de
profssionais dos servios da rede de sade mental de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, do
Tribunal de Justia-PE e de residentes de Sade da Famlia.
Desde ento, a direo perseguida tem sido a de construo de uma atuao
com maior grau de autonomia, com identifcao de lideranas que estejam conectadas
s suas bases, alm do estmulo criao de mecanismos de sustentabilidade poltica
e fnanceira para o movimento. So valorizados e tomados, como fundamentos das
prticas a serem desenvolvidas, princpios como: integralidade, justia, direito sa-
de, centralidade do usurio, reconhecimento da alteridade, ativao de redes sociais e
outros que se sintonizem com esse iderio. Temos assumido o desafo dado no haver
receiturio de que tais princpios se construam e operacionalizem como aes concre-
tas em cada passo e/ou etapa do projeto.
Introduziu-se, com esse projeto de extenso, um diferencial na histria do Nu-
mans, possibilitando-se a retomada de reunies sistemticas mensais desde janeiro de
2013. O Projeto MANS objetiva mobilizar usurios da rede de sade mental, profs-
sionais de sade, a comunidade universitria e comunidade em geral das cidades de
Juazeiro-BA e Petrolina-PE e outros municpios da regio a discutir e refetir sobre
as propostas do Movimento de Reforma Psiquitrica, da Luta Antimanicomial e das
polticas pblicas no campo da ateno sade mental, tendo como foco prioritrio,
nesse momento, as dimenses sociocultural e poltico-jurdica.
Pretende-se, assim, provocar refexes sobre o lugar social da loucura, estimu-
lando a construo de relaes mais positivas da sociedade com as pessoas que vivem
essa experincia e uma convivncia mais respeitosa com a diversidade prpria do hu-
mano; viabilizar espaos formativos, sobretudo para usurios, seus familiares e profs-
sionais dos CAPSs, voltados construo ou ampliao da responsabilizao poltica
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pelo fortalecimento das redes de cuidado e constituir espaos de discusso sobre os
avanos e difculdades enfrentadas na implantao da reforma psiquitrica na regio.
Acreditamos que, desse modo, possvel apoiar o fortalecimento desse ncleo
como frum permanente de discusso em torno do aprimoramento da Rede de Aten-
o Psicossocial no Serto do Submdio So Francisco, focalizando a participao de
usurios e familiares, construindo um sentido de implicao tico-poltica, que poder
seguir trazendo impulso para mudana no cenrio local neste campo.
No contexto do projeto MANS, os encontros semanais entre coordenadora
e estudantes proporcionam um maior embasamento terico-prtico em torno das
temticas pertinentes a sua execuo, aprofundando-se a compreenso de sade mental,
de movimento social, de ao poltica, destacando-se o planejamento das atividades
estratgicas, como as reunies mensais do Numans. Trata-se, indubitavelmente, de um
expressivo espao de formao, de um grupo que se articulou inspirado na histria do
Numans e que se comprometeu com o seu fortalecimento, movidos pelas discusses
em sala, principalmente nas aulas de Sade Mental I (no semestre letivo de 2012.1).
O projeto vem viabilizando, ainda, uma aproximao com o dia-a-dia dos servios da
rede de sade mental, cabendo aqui destacar as visitas realizadas para divulgao e
informao do Numans, visando-se futura realizao de atividades itinerantes.
Nessa atmosfera, desde o incio de 2013 defniu-se pela realizao do III Frum
de Mobilizao Antimanicomial: Ativando as Redes de Ateno Sade Mental e o Direito
ao Cuidado, que de fato aconteceu nos dias 25 e 26 de abril, tambm no Complexo
Multieventos. Durante as articulaes para sua concretizao, conquistamos o apoio
da ATSM/MS, que garantiu a vinda de alguns convidados bem como a sua prpria
representao no evento, o que nos deu um alento e estmulo.
Mais uma vez, a fora de um coletivo e as parcerias garantiram o acontecimento
do III FMA: alm da Univasf, por meio da PROEX, as Secretarias Municipais de
Juazeiro-BA e Petrolina-PE, assim como a SES-PE e a SESAB, foram fundamentais.
Pelas parcerias, inclusive do CRP-03 (Bahia), conseguimos garantir a participao de
representantes da AMEA, que mobilizaram de forma magistral os participantes, em
especial os usurios dos CAPs da regio. Os municpios que compem a 15. Diretoria
de Sade da Bahia (DIRES) e a 8. Gerncia Regional de Sade de Pernambuco
(GERES) foram novamente convidados e convocados a apoiar esse movimento.
Assim, o III FMA cumpriu seu objetivo de rearticular numa perspectiva
interestadual e intersetorial os municpios do serto do Submdio So Francisco acerca
do debate e implantao/fortalecimento das RAPSs. Ao longo da organizao, surgiu
a proposta de articular ao evento o I Seminrio de Articulao Intersetorial da RAPS
no Vale do So Francisco, aventada pela supervisora clnico-institucional dos CAPs de
Petrolina-PE. Foram cerca de 400 pessoas circulando no Complexo Multieventos, que
se transformou numa grande gora, debatendo-se em praa pblica a exemplo do que
ocorria na democracia grega temas cruciais e rumos possveis para a poltica de sade
mental na regio.
O evento mobilizou membros de vrias instituies, enfatizando-se a partici-
pao de atores/autores centrais nessa luta, que so os usurios e familiares. Para a
alegria de todos, houve uma circulao expressiva desse pblico, embora se reconhea
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a importncia de repensar estratgias relativas aos horrios das atividades para pro-
mover uma maior participao. Nesse contexto, buscou-se garantir o mximo aco-
lhimento a todos os participantes, com destaque aos usurios, estimulando-os a se
apropriar das discusses, da dimenso poltica relativa aos direitos garantidos mas
no efetivados e a reconhecer naquele espao a liberdade e possiblidade de expresso
de sua singularidade. O objetivo era que todos se percebessem ativos e mediadores na
construo das redes de ateno. A convivncia como modos diversos de ser foi um
exerccio naqueles dois instigantes dias, contribuindo para a uma desconstruo de
vrios preconceitos ainda resistentes em nossa sociedade.
A partir disso, destaca-se a oportunidade que o III FMA/I Seminrios da
RAPS trouxe em relao articulao de vrios saberes e instituies, pela participa-
o de representantes de diversos ncleos profssionais do campo da sade (estudantes
e profssionais), policiais militares, Ministrio Pblico, Tribunal de Justia, professores
universitrios, usurios dos servios, gestores de diversas instncias e outros. Ali se
forjou um precioso espao formativo, de modo que se torna inevitvel ressaltar que po-
deria/deveria ter havido um maior estmulo participao de profssionais da prpria
rea de sade no lotados em servios especfcos da sade mental; por exemplo, ressal-
tou-se a pouca participao de profssionais da Estratgia Sade da Famlia, compo-
nente tambm estratgico na RAPS.
Caracterizando-se como um evento poltico no sentido nobre e originrio do
termo , o III FMA/I Seminrios da RAPS pretendeu e logrou ser um espao
de debates e articulaes para fazer avanar na regio o processo de implantao de
redes integrais de sade. A sua dinmica se confgurou nas goras momentos de con-
centrao de todos os participantes em um grande auditrio, que tiveram o intento
de estimular discusses a partir de temticas especfcas pertinentes ao contexto da
sade mental e nas rodas narrativas momentos de concentrao de grupos menores,
assumindo efetivamente um carter narrativo, em que os participantes puderam par-
tilhar suas experincias nas redes de ateno psicossocial na regio, a partir de alguma
temtica especfca. Em ambos os dispositivos, a proposta era, sobretudo, promover a
circulao da palavra.
No segundo dia do III FMA/I Seminrio da RAPS, cabe destacar o lanamento
teatralizado do Guia de Direitos Humanos do Projeto Loucura Cidad de Usurios
de Sade Mental, coordenado pela AMEA. Quem estava presente, testemunhou ali
o fruto de uma organizao e mobilizao que aconteceram da noite para o dia,
como uma expresso singular, espontnea e libertria de usurios dos CAPs locais,
que se permitiram a alcunha de loucos do Serto e subiram ao palco, mostrando-
se como quiseram e afrmando-se em sua alteridade. Possivelmente experimentou-se
ali um processo de empoderamento, tal como indicado por Vasconcelos (2008), numa
condio de uma mobilizao compartilhada e contextual, baseando-se na apropriao
da prpria experincia e participao poltica.
Na Exposio de Artes dos CAPs, que aconteceu durante todo o evento, os
usurios puderam divulgar os trabalhos que confeccionam como parte de seus projetos
teraputicos. O Coral se apresentou e encantou! Uma senhora, usuria do CAPs II
Joo Martins de Souza, que adora cantar, pleiteou seu espao no grande palco, fcando
intranquila at que esse momento acontecesse: terminou sua cantoria sob aplausos...
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Os estudantes artistas, que se dispuseram a contribuir com o evento, arrasaram
nos momentos musicais do lanche interativo... Sobrou comida uma das grandes
preocupaes da Comisso Organizadora , que se multiplicou a partir do apoio
imprescindvel dos CAPs e patrocinadores... As necessidades foram sendo mediadas
medida que emergiam e o evento foi ganhando um carter de leveza! Aos que partilharam
aqueles momentos, fcou a referncia de bons encontros, na frequncia indicada por
Espinosa (2009): as afetaes brotadas dos encontros dos corpos ali presentes geraram
alegria, que suplantou o cansao, inclusive dos que estavam frente da organizao...
Durante os preparativos para o III FMA/I Seminrio da RAPS, as visitas
dos estudantes do projeto MANS aos CAPs se destacaram como prolas do processo
formativo, no contexto do projeto de extenso. Dentre estas, uma em especial
proporcionou uma intensifcao do carter de implicao com o projeto. Consideramos
importante narrar tal fato, brevemente. A ida instituio teve um sentido
diferenciado, pois no foi apenas um momento para divulgar o evento e combinar com
os usurios uma possvel exposio de produtos artsticos, confgurando-se como uma
grande oportunidade para refetir sobre a prtica da profsso de psiclogo escolhida,
enquanto estvamos na sala de espera.
Dentre os que buscavam informaes no CAPs naquele dia, um chamou ateno
por estar com um encaminhamento de outra pessoa, parecendo procurar se situar no
servio. Trazia em seu rosto um misto de angstia, medo, talvez vergonha por tudo
o que representa, para uma famlia, a experincia de ter algum com transtorno
psquico em nossa sociedade. Apesar de aparentemente calma, essa pessoa revelava um
aspecto de insegurana, perplexidade, estranheza ou algo que no nos cabe denominar
ou rotular, posto que fosse sentido por outra pessoa e apenas nos foi parcialmente
revelado mediante suas expresses naquele dado momento.
Na sala ao lado, a psicloga atendia uma pessoa, uma senhora, aparentemente
com mais de 65 anos. Ela saiu da sala em lgrimas, tentando cont-las e ns, que
estvamos ali, sentimos um pouquinho do peso dessas lgrimas. Naquele instante,
surgiu a refexo relacionada dor do outro, ao sentido de nossa profsso, atitude
de disponibilidade ao outro, escuta e sua potncia. Isto nos mobilizou a pensar algo
assim: Nada como perceber a importncia de assumirmos o nossa funo social, o
nosso compromisso com a causa que tanto defendemos!. Ao mesmo tempo, brotou
um sentimento de inutilidade, de estarmos de mos atadas frente a alguns
acontecimentos que realmente fogem ao controle. Exerccio difcil o de cuidar, que
implica no assumir o lugar do outro, mas sintonizar com a perspectiva de sua
experincia...
Ento, fomos apresentados pela psicloga aos usurios, que estavam em
roda. A partir disso, foi possvel apresentar o Numans, falar sobre a importncia da
participao deles e dos familiares, sobre o evento, perguntamos sobre suas produes
artsticas, se poderiam expor ou programar a apresentao do coral.
Experincias como essas nos remeteram a uma direo indicada na msica Caminhos
do Corao, de Gonzaguinha, que privilegia a condio de ser entre humanos:
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E aprendi que se depende sempre / de tanta, muita, diferente gente / Toda pessoa sempre
as marcas / Das lies dirias de outras tantas pessoas / E to bonito quando a gente
entende / Que a gente tanta gente onde quer que a gente v / E to bonito quando
a gente sente / Que nunca est sozinho por mais que pense estar / to bonito quando
a gente pisa frme / Nessas linhas que esto nas palmas de nossas mos / to bonito
quando a gente vai vida / Nos caminhos onde bate bem mais forte o corao...
Ao longo do tempo, a participao no Numans e seus desdobramentos vm
proporcionando uma ampla apropriao do carter diverso da experincia de loucura,
desenvolvendo-se uma atitude crtica a quaisquer capturas dessa diversidade pelas per-
cepes e padronizaes sociais. Paulatinamente vai se relacionando o conhecimento
e as compreenses produzidas sobre sade mental a possibilidades interventivas, dado
que se vai alargando uma habilidade ou melhor, uma atitude de cuidado ao humano.
DOS DESAFIOS PARA SEGUIR: CONSIDERAES FINAIS
A realizao do III FMA/I Seminrio da RAPS aconteceu num momento
bastante crtico para a Poltica Nacional de Sade Mental, que se agrava em regies
menos favorecidas socioeconomicamente e distantes dos grandes centros, como a
nossa, tendo sido esse aspecto bastante debatido. Anteriormente ao evento, nas
reunies abertas do Numans e em algumas visitas aos CAPs da regio, foram relatadas
e testemunhadas as condies precrias em que as atividades teraputicas vm se
desenvolvendo, revelando uma falta de investimento poltico na rede, tanto no que se
refere infraestrutura e garantia de insumos bsicos como composio e valorizao
das equipes de trabalho.
Sabe-se que h foras reacionrias em ascenso no pas, que respaldam, por
exemplo, a instituio e popularizao de medidas como a internao compulsria a
pessoas que fazem uso de lcool e outras drogas (especialmente o crack) que se tra-
duz como uma caa s bruxas, tal como ocorreu na Idade Mdia, ou a repetio do
fenmeno da Grande Internao do sculo XVII, descrito por Foucault, que retirava do
convvio social toda a sorte de marginalizados do sistema vigente, numa perspectiva de
limpeza urbana.
H muito o que discutir e fazer acontecer no campo da sade mental, pois
embora a Lei Constitucional garanta o direito sade, a sua efetivao, com respeito
dignidade da condio humana, demanda um processo permanente de vigilncia e
resistncia.
A Lei Nacional de Reforma Psiquitrica (Lei 10.216/2001), conhecida como
Lei Paulo Delgado, indica caminhos cruciais, porm sua efetivao cotidiana remete ao
ponto discutido previamente. O aparato legislativo, no obstante sua importncia, no
garante as mudanas. De fato, nada est garantido do ponto de vista da efetivao de
direitos no cenrio poltico-social, sendo necessria uma militncia permanente.
Aproximando-se mais um 18 de maio, aps a realizao do III FMA, o de-
safo continuou sendo o de conquistar espaos expressivos de mobilizao so-
cial, impactando a dimenso sociocultural do processo de reforma psiquitrica.
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Como estratgia poltica, foi elaborada em conjunto com usurios, familiares,
profssionais e estudantes, uma carta-manifesto, direcionada e entregue aos gestores
dos municpios da regio, alertando sobre a necessidade de maior investimento nas
redes de sade/sade mental.
O Numans seguir apoiando o movimento antimanicomial na regio, articulan-
do-se aos servios e rediscutindo os prprios pilares desse processo. Cientes da magni-
tude dos objetivos propostos, a motivao e ousadia desse ncleo que vai se reinven-
tando a cada ano residem na indignao diante do descaso e retrocesso a que as redes
de sade/sade mental locais vm sendo submetidas nos ltimos anos em nossa regio.
Como movimento social, assume-se tambm a responsabilidade pela construo de no-
vos fatos e condies, como algo processual, como o prprio sentido da vida.
Aberto e democrtico, por condio e princpio, o Numans reconhece o
carter complexo e a condio enigmtica do que se chama loucura, questionando e
extrapolando sua reduo a categorias diagnsticas ou a qualquer defnio que tolha
a multiplicidade do humano. Sem que isso represente contradio mas to somente
um instigante paradoxo , busca tambm contribuir para a consolidao e expanso da
rede de cuidados s pessoas que manifestam intenso sofrimento psquico nesta regio
do serto nordestino.
Recorremos a uma frase provocativa de um dos clssicos personagens
machadianos, o alienista Simo Bacamarte, para apimentar essa discusso: A loucura
- objeto de meus estudos - era at agora uma ilha perdida no oceano da razo; comeo
a suspeitar que um continente. Destaca-se que, dessa obra, tambm tiramos a
inspirao para o ttulo deste artigo.
Um aspecto desafador para a continuidade do Numans a ateno em no
alimentar sua dependncia em relao Universidade ou qualquer instituio, bus-
cando-se identifcar lideranas locais que possam assumi-lo. Isso no implica eximir
a universidade de sua responsabilidade, que dever seguir sendo parceira, mediando
processos de ensino-aprendizagem nas redes locais. Entretanto, imprescindvel que se
busquem vias de sustentabilidade com vistas a sua crescente autonomia, que pode se
relacionar a uma pluralidade de vinculaes.
O norte que o Numans, mesmo tendo nascido da mobilizao de um grupo
ligado universidade, que encontrou apoio, parceria e disponibilidade em profssionais
das redes locais, fortalea seus passos e siga ocupando os devidos espaos de um
movimento social.
Sua fnalidade ser sempre a de provocar a comunidade em geral destacando
usurios da rede de sade, familiares, profssionais, gestores, professores e alunos
a refetir e contribuir para a consolidao do processo de Reforma Psiquitrica na
regio. Assim, importante que o Numans seja assumido pela comunidade, pois onde
pertence.
Assim, o convite ao debate permanece posto. Que outros caminhos sero des-
bravados nessa direo a ser seguida frmemente, estamos ainda por descobrir e, segu-
ramente, inventar. Isso depender da composio das foras, desejos, disponibilida-
des, capacidades de articulao dos que se envolveram e se envolverem nesse processo.
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O certo, nessas trilhas tortuosas, que a determinao em fazer acontecer uma
mobilizao em prol da construo de modos respeitosos de ateno em sade mental na
regio tem produzido milagres, no sentido arendtiano da expresso: humanos so capazes
de produzir milagres, pelo simples fato de serem capazes de agir ou seja, disparar processos,
iniciar... Saindo da inrcia, algo se produz! Que disso no nos esqueamos ou cansemos...
REFERNCIAS
AMARANTE, Paulo (Coord.). Loucos pela vida: a trajetria da Reforma Psiquitrica
no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1998.
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BONET, Octavio; TAVARES, Ftima; CAMPOS, Estela M. S.; TEIXEIRA, Maria
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COMO CITAR ESTE ARTIGO:
CABRAL, Barbara E. B.; COSTA, Michele L. de S.; LIMA, Grcia R. N.
de; MELO, Jessica R. S.; SANTOS, Geizeane R. dos. De como o Serto do
Submdio So Francisco ganhou um ncleo de mobilizao antimanico-
mial: da histria aos desafos atuais. Extramuros, Petrolina-PE, v. 1,
n. 1, p. 81-96, jan./jul. 2013. Disponvel em: <informar endereo da
pgina eletrnica consultada>. Acesso em: informar a data do acesso.
PINHEIRO, Roseni; GUIZARDI, Francini L. Cuidado e integralidade: por uma
genealogia de saberes e prticas no cotidiano. In: PINHEIRO, Roseni; MATTOS,
Ruben Araujo de (Org.). Cuidado: as fronteiras da integralidade. 4. ed.
Rio de Janeiro: IMS/UERJ-CEPESC-ABRASCO, 2008. p. 23-38.
SILVEIRA, Rodrigo; REBOUAS, Mrcia; MESSIAS, Ana Cristina; CATALAN,
Ximena; ALVES, Caroline. Desinstitucionalizao e modelos assistenciais em
sade mental: avaliao na perspectiva da integralidade. In: PINHEIRO, Roseni;
MARTINS, Paulo (Org.). Avaliao em sade na perspectiva do usurio: abordagem
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UFPE; So Paulo: ABRASCO, 2011. p. 95-102.
SPINOZA, Benedictus de. tica. Belo Horizonte: Autntica, 2009.
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Rothschild, 2008. p. 26-55.
Recebido em: 5 maio 2013.
Aceito em: 18 jun. 2013.
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Ensinando odontologia em cenrios extramuros: uma parceria entre a
Faculdade de Odontologia da UFMG, Associao Mineira de Reabilitao
e uma escola para portadores de defcincias neuromotoras
______________________________________________
Lia Silva de Castilho
1
Vera Lcia Silva Resende
2
Maria Elisa Souza e Silva
3
Amanda Pacheco
4
Natlia Frias
5
Elizabeth Moreira
6
RESUMO
Esta a experincia intersetorial entre a Faculdade de Odontologia da UFMG, a
Associao Mineira de Reabilitao (AMR), uma organizao no governamental,
e uma escola pblica para portadores de defcincias neuromotoras. As aes de
promoo de sade bucal so realizadas nas dependncias da AMR e so parte de um
programa denominado Servio Integrado de Reabilitao SIR. Este servio envolve
outras reas do conhecimento e busca a integrao social do defciente neuromotor.
Alm da vivncia do trabalho multidisciplinar, o estudante de odontologia participa
do planejamento, executa aes individuais e coletivas de promoo da sade bucal e
avalia os resultados conseguidos. Este projeto extramuros bem avaliado por todos os
atores sociais envolvidos, duradouro e possui uma produo bibliogrfca signifcativa.
Palavras-chave: Organizaes no governamentais; Defcincias neuromotoras;
Promoo da sade; Instituies de ensino superior; Odontologia.
Teaching dentistry in extramural scenarios: a partnership between the Dental School
of UFMG, Associao Mineira de Reabilitao (AMR) and a school for people with
neuromotor disabilities
ABSTRACT
This is the intersectoral experience between the Dental School of UFMG, the
Associao Mineira de Reabilitao (AMR), a non-governmental organization, and
a public school for people with neuromotor disabilities. The service of oral health
promotion is performed with the fnancial help of AMR and is part of a program
called integrated rehabilitation service (Servio Integrado de Reabilitao-SIR). This
service involves other areas of the knowledge and search the social integration of the
individual with neuromotor disabilities. Beyond the experience of multidisciplinary
working, the dental students participate in the planning of individual and collective
actions of the dental health promotion, perform the dental treatment and evaluate the
results. This extramural project is well evaluated by all the social actors involved, it is
sustainable and have a signifcative bibliographic production.
Keywords: Non-governmental organizations; Neuromotor disabilities; Health
promotion; Higher education institutions; Dentistry.
6
Administradora
na Associao
Mineira de
Reabilitao.
elizabeth@amr.
org.br
5
Graduanda
na Faculdade
de Odontologia
UFMG.
frisanat@yahoo.
com.br
4
Graduanda na
Faculdade de
Odontologia da
UFMG.
nandaoliwer@
yahoo.com.br
3
Professora
Adjunta do
Departamento
de Odontologia.
Restauradora
da Faculdade de
Odontologia da
UFMG.
mariaelisa1956@
gmail.com
2
Professora
Adjunta do
Departamento
de Odontologia.
Restauradora
da Faculdade de
Odontologia da
UFMG.
silres@gmail.com
1
Professora
Adjunta do
Departamento
de Odontologia.
Restauradora
da Faculdade de
Odontologia da
UFMG.
liacastilho@
ig.com.br
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INTRODUO
Desde 1998, a Faculdade de Odontologia da UFMG (FO-UFMG), a Associao
Mineira de Reabilitao (AMR), uma entidade sem fns lucrativos, e a Escola Estadual
Joo Moreira Salles realizam um programa de assistncia odontolgica a crianas e
adultos carentes portadores de defcincias neuromotoras. A promoo de sade bucal
uma das etapas a serem galgadas na busca da integrao social destes indivduos.
Para que esta integrao social acontea, fsioterapeutas, fonoaudilogos, psiclogos,
ortopedistas, neurologistas, professores de educao fsica, dentistas, terapeutas
ocupacionais, musicoterapeutas e assistentes sociais trabalham em conjunto no mesmo
espao fsico (dependncias da AMR). Estes profssionais integram o Servio Integrado
de Reabilitao (SIR) (CASTILHO et al., 2012). Alm da ateno profssional, a AMR
possui uma ofcina de rteses e equipamentos teraputicos para distribuio gratuita
de aparelhos aos atendidos. Alunos de outras universidades privadas tambm possuem
atividades extramurais de extenso, ensino e pesquisa nesta entidade.
A abordagem odontolgica envolve procedimentos de preveno da crie den-
tria e da doena periodontal, procedimentos prprios da ateno primria, em aten-
dimento ambulatorial programado e racionalizao das indicaes de tratamento sob
anestesia geral.
O pblico alvo composto de crianas de 0 a 12 anos de idade, oriundas do setor
de reabilitao da AMR, adolescentes de 12 a 18 anos do setor de esporteterapia, tam-
bm da AMR, e de jovens e adultos, alunos da Escola Estadual Joo Moreira Salles,
num total de 810 indivduos aproximadamente.
O objetivo deste trabalho descrever os resultados principais produzidos aps
14 anos de uma ao intersetorial entre uma instituio universitria pblica (UFMG),
uma instituio de ensino fundamental pblico (Escola Joo Moreira Salles) e uma
organizao no governamental sem fns lucrativos (AMR). Para tanto, pretende-se
extrapolar a simples descrio das metas odontolgicas alcanadas, para concaten-
las ao desenvolvimento da cidadania tanto do paciente quanto do graduando em
odontologia.
REVISO DA LITERATURA
Atividades Extramuros no Ensino Superior
A sala de aula no deve ser o nico espao de veiculao do conhecimento na
Universidade. A formao do graduando pode ser alavancada pela experincia do
aprendizado em diversos cenrios fora dos limites fsicos da instituio de ensino. A
vivncia dos problemas em locais diversos proporciona ao aluno vislumbrar diferentes
formas de insero profssional e o exerccio da cidadania promovendo a formao de
um indivduo mais solidrio. Relato anterior, sobre atividades extramuros, revela que
a troca de informaes entre instituies, professores, graduandos e usurios so positi-
vas, motivadoras e capazes de gerar uma postura crtica perante a realidade (GALAS-
SI et al., 2006).
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Objetivamente, a educao odontolgica extramural viabiliza o conhecimento
das dimenses dos servios pblicos de sade, a compreenso das polticas de sade
bucal, a participao ativa no atendimento populao e o entendimento da funo do
cirurgio-dentista dentro do contexto social no qual ele ser inserido. Essas atividades,
por sua enorme contribuio na formao do graduando em odontologia, no podem
ser encaradas como aes isoladas das aes propostas pelas instituies de ensino su-
perior. Ao serem assumidas pela totalidade da instituio, resgatam o conceito de que
as aes de educao, promoo de sade, preveno e tratamento so indissociveis.
Alm disso, essas atividades extramurais recuperam a ideia de integralidade da exten-
so universitria contrria compartimentalizao do conhecimento e da fragmenta-
o de aes do ensino, pesquisa e extenso (MOIMAZ et al., 2004).
A fundamental experincia de educao extramuros na rea da sade aquela
resultante de parcerias com o servio pblico (primeiro setor) que faz parte inclusive
das diretrizes curriculares dos cursos de odontologia (MOIMAZ et al., 2004; GALASSI
et al., 2006). Existem descries de parcerias com o segundo setor (iniciativa privada)
(LEMOS et al., 2010) na formao do cirurgio-dentista. Para que seja possvel deli-
mitar o escopo de ao deste projeto de extenso, ser necessrio conceituar o termo
terceiro setor.
O terceiro setor
As caractersticas do chamado terceiro setor envolvem perspectivas que o
classifcam como no governamental, com ausncia do objetivo de lucro em suas
atividades e com uma organizao em torno de objetivos coletivos ou do interesse
pblico (MADEIRA; BIANCARDI, 2003). Para que exista um terceiro setor
pressupe-se a existncia de um primeiro setor que se refere esfera do poder pblico
e um segundo setor correspondente s atividades de iniciativa privada visando a
obteno de lucro (SILVA, 2010).
Em uma anlise histrica das instituies sem fns lucrativos, observa-se que a
solidariedade e a caridade ainda so tnicas preponderantes em suas aes. Entretan-
to, o cumprimento de metas cada vez mais elaboradas, com vistas obteno de maior
efetividade e resolutividade dos problemas impe a adoo de novas prticas a estas
organizaes e da gesto orientada no desempenho (SILVA, 2010).
Os esforos conjuntos caracterizados pelas parcerias institucionais se articulam
atravs de negociaes, de decises, e da gesto dos projetos que interligam as organi-
zaes sociais com o desenvolvimento local. Na base desta construo, encontra-se a
articulao dos valores sociais buscados pelos participantes do projeto com os resulta-
dos pretendidos pela comunidade, pelo mercado e pelo Estado (CABRAL, 2011).
Em relao participao do segundo setor (Responsabilidade Social
Empresarial) na promoo social, a literatura no unnime em consider-la como
fundamental para o desenvolvimento de polticas de promoo social. Menezes (2010)
critica a postura de muitos autores que consideram que as parcerias com empresas privadas
trariam da racionalidade do mercado conceitos de efccia e efcincia que, juntamente
com o investimento fnanceiro privado, viabilizariam uma resposta aos problemas
enfrentados pela sociedade. Para a autora, so intencionais e possuem um ntido carter
de classe as aes dos tericos que se manifestaram a favor da flantropia empresarial
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como agente que possibilite uma mudana social. A autora ainda pondera que o aten-
dimento das demandas sociais a partir das aes resultantes da Responsabilidade So-
cial Empresarial se d no campo do no direito, da flantropia ou das benesses e que
seu reconhecimento pela sociedade e pelo Estado s contribui para o esvaziamento
da concepo dos direitos sociais existentes que podem ser acionados por via judicial
(inclusive) quando no cumpridos pelas instituies publicas. Finalmente, conclui que
no existe garantia de atendimento populao atravs da atuao empresarial na
promoo social, pois o pblico-alvo escolhido de acordo com a imagem que a empre-
sa pretende passar para o seu pblico e suas aes so paliativas e superfciais, devido
necessidade de obteno imediata de resultados positivos para garantia de lucros e
manuteno da visibilidade desejada.
O terceiro setor vem apresentando um destaque crescente na rea acadmica e
no contexto poltico sobre o papel da sociedade civil. O debate sobre a sociedade civil
abarca conceitos novos e precisas especifcaes. Esta nova percepo sobre a sociedade
civil engloba a emergncia de novos atores sociais, com qualifcaes especfcas e que so
fundamentais para a implementao de um desenvolvimento sustentvel (MADEIRA;
BIANCARDI, 2003).
Atualmente no Brasil, tais organizaes agem com mais autonomia, atuam de
forma menos politizada do que nas dcadas de 1970 e 1980 e de uma maneira mais
empresarial, objetivando defender as suas pautas sociais com vistas sua legitimizao
no espao pblico. Suas fontes de recursos so o autofnanciamento ou o estabelecimento
de parcerias com o poder pblico e/ou iniciativa privada (ASSUMPO; CAMPOS,
2011). Este fnanciamento oriundo de vrias fontes de recursos sociais e concatenam
as aes dos diferentes grupos sociais com os interesses dos seus pblicos constituintes.
As diferentes fontes fnanciadoras e os diversos atores sociais que se renem em uma
organizao sem fns lucrativos indicam a capacidade de interpenetrao social por
meio da qual a sua misso se concretiza e se expande (CABRAL, 2011).
As organizaes que compem o terceiro setor buscam, atravs de valores
sociais fundamentais associados a resultados, impactar positivamente a vida das
pessoas. Portanto, a avaliao de projetos sociais deve levar em considerao os
valores e os resultados para a mensurao dos seus impactos (CABRAL, 2011). A
partir de um cenrio no qual as mudanas nas regras de fnanciamento de cooperao
internacional se tornaram frequentes graas instabilidade econmica, essas
organizaes passaram a buscar meios para autossustentao, principalmente a partir
de produo e comercializao de produtos e servios. Com isso observa-se uma maior
profssionalizao e a busca e sistematizao de processos de gesto (SILVA, 2010).
A avaliao de projetos sociais conduzidos por organizaes sem fns lucrativos
um importante balizador para a continuidade do fnanciamento das atividades do
projeto, tendo em vista a efetividade dos resultados alcanados ou a efcincia da sua
relao custo-benefcio. Estes projetos, algumas vezes, compartilham com o setor
pblico formas de fnanciamento, representaes de valores, parcerias com outras
instituies, equipamentos, objetivos, entre outros. Apesar de sua importncia, as
prticas de avaliao no se encontram sufcientemente sistematizadas, difundidas e
carecem de profssionalizao. Para isso, pesa a ausncia de metodologias adequadas
que comportem o contedo de valores prprios das aes sociais alm da importao
de tcnicas de avaliao tanto do setor pblico quanto privado sem a necessria
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reelaborao de conceitos que abarquem as especifcidades prprias do chamado
terceiro setor (CABRAL, 2011). Assumpo e Campos (2011) tambm reafrmam
a complexidade de se avaliar as aes produzidas pelo chamado terceiro setor. Para
estes autores clara a difculdade de sistematizar e classifcar o tipo de avaliao
que contemple similaridades entre a organizao, os fns a que se prope, a ao
empreendida, a natureza da ao e sua amplitude.
Como poderia um projeto de extenso de uma Faculdade de Odontologia
colaborar em um programa de reabilitao neuromotora cujo valor social a insero
social do portador de defcincias neuromotoras? Como os resultados atingidos em 14
anos de trabalho poderiam impactar positivamente esta meta? Estas so as questes
que este trabalho busca responder atravs da anlise dos produtos gerados e sua
contribuio na formao do cirurgio-dentista e promoo da sade bucal como um
dos benefcios alcanados para a insero social dos pacientes da AMR e estudantes da
Escola Estadual Joo Moreira Salles.
METODOLOGIA
Analisou-se a produo do projeto de extenso Atendimento Odontolgico a
Portadores de Necessidades Especiais no perodo de 1998 a 2011 em termos de aes
individuais e coletivas voltadas para o pblico-alvo. Foram tambm levantados os
trabalhos produzidos por estudantes de graduao e ps-graduao durante o perodo.
A partir da produo levantada, buscou-se correlacionar o quanto este projeto contribui
para a formao do estudante em odontologia e quanto ele impacta o benefcio fnal, que
a insero social do portador de defcincia neuromotora. Para tanto, foi construdo
o Mapa de Bens e Valores proposto por Cabral (2011).
RESULTADOS E DISCUSSO
No perodo proposto para o estudo, 750 pacientes foram atendidos pelo referido
projeto de extenso. Atualmente, 462 encontram-se em tratamento e/ou manuteno.
Por ano, uma mdia de 67 novos pacientes incorporada, aproximadamente 472 aten-
dimentos so realizados, 317 altas so dadas e uma mdia de 1311/ano procedimentos
curativos e/ou preventivos so realizados. Estes atendimentos so realizados entre os
meses de fevereiro a julho (primeira quinzena) e de agosto a dezembro (primeira quin-
zena). Em levantamento publicado em 2007, 65% dos pacientes encontravam-se livres
de crie (RESENDE et al., 2007).
Em termos de produo cientfca, o projeto de extenso j gerou uma dissertao
de Mestrado, uma monografa de Especializao e outra de iniciao cientfca. So, ao
todo, 15 artigos completos em veculos cientfcos e outros 29 resumos apresentados em
congressos e publicados em Anais (VITTORINO et al., 2011).
Para a AMR, a parceria com a Faculdade de Odontologia da UFMG, pos-
sibilita a troca de experincias de profssionais especializados com o desenvol-
vimento do conhecimento tcnico/cientfco, gerado pelo trabalho dos alunos e
professores da universidade; permite que a instituio esteja na vanguarda da
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promoo de sade e mantenha o aprimoramento contnuo de suas atividades; contribui
para que o programa esteja alinhado s polticas pblicas para o cumprimento dos
projetos sociais; e enriquece a formao de alianas e parcerias atravs de redes
intersetoriais.
Para a Faculdade de Odontologia, a parceira com a AMR proporciona um novo
cenrio de prticas no qual o estudante tem a possibilidade de trabalhar em equipe
com profssionais da rea da sade, educao e assistncia social buscando alcanar um
valor social que extrapola a promoo de sade bucal. Este um conceito-chave que
perpassa todo o presente projeto. O aluno de odontologia, ao participar de um progra-
ma com tais dimenses, passa a encarar o portador de defcincias neuromotoras como
um cidado e no apenas como um usurio de servios de sade que nem sempre esto
concatenados. Alm disso, o graduando em odontologia vislumbra uma oportunidade
de trabalho diversa tanto do consultrio particular, quanto das clnicas privadas de
atendimento odontolgico, alm, claro da participao no Sistema nico de Sade.
Esta experincia s possvel porque o projeto realizado fora dos limites da Facul-
dade de Odontologia da UFMG. Com isso, o profssional formado pode se posicionar
dentro do amplo planejamento de promoo de sade geral do portador de defcincias
neuromotoras. Ao se perguntar sobre quais so as verdadeiras necessidades do pacien-
te, quais so as respostas que a odontologia pode proporcionar a este cidado e quais
seriam os limites de sua atuao, o futuro profssional passa a perceber com maior cla-
reza qual o seu papel dentro de um contexto de abordagem integral do paciente.
O presente projeto, ao integrar o SIR, proporciona ao graduando em
odontologia, a experincia de vivenciar uma abordagem multidisciplinar do portador
de defcincias neuromotoras, em cenrio extramuros, incluindo a convivncia com
graduandos de outras instituies de ensino. Est assim garantida a diretriz da
interdisciplinaridade (CASTILHO et al., 2012). O aluno tambm tem a oportunidade
de conhecer a realidade operacional de uma organizao sem fns lucrativos (terceiro
setor), vivenciar uma parceria Universidade/Organizao autnoma voltada para o
interesse coletivo e participar de um projeto intersetorial em resposta a uma demanda
social especfca. Neste processo, o aluno compreende a importncia de considerar o
paciente como sujeito e no como objeto de interveno que participa ativamente da
identifcao dos seus problemas e para eles busca solues.
Como o aluno inicia o seu trabalho no projeto como voluntrio e no como bol-
sista da Pr-Reitoria de Extenso (PROEX), ele tem a oportunidade de incorporar
sua experincia formativa o trabalho voluntrio, valorizando-o. O aluno coloca o seu
tempo e a sua experincia a servio do interesse coletivo.
O graduando recebe um ou mais pacientes que fcam sob sua responsabilidade,
tanto em relao ao tratamento odontolgico quanto em relao sua manuteno.
Para a abordagem do paciente, o estudante deve planejar suas aes em congruncia
com as aes desenvolvidas pelo restante da equipe multidisciplinar. Da mesma
forma, o aluno tem a oportunidade de conhecer o planejamento organizacional
proposto anualmente, considerando metas de atendimento, planejamento de
consumo de material odontolgico, de escritrio, possibilidades de expanso, novos
projetos assumidos, entre outros quesitos que a FO-UFMG em conjunto com a
AMR, E. E. Joo Moreira Salles e demais parceiros se propuserem a participar.
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Finalmente, o graduando avalia o seu desempenho, o desempenho do projeto em com-
parao com as metas estabelecidas no incio do ano e compara seus dados com os
dados alcanados pela organizao como um todo.
O usurio e seus pais e responsveis tambm tm a oportunidade de se posicionar
em relao ao tratamento odontolgico recebido e quais so as alternativas que podem
ser consideradas. Como resultado, a lgica da poltica social, normalmente proposta
para este grupo, modifcada de uma viso de carncia e soluo de necessidades,
para aquela de direito aos cidados a uma vida digna e de qualidade. O processo
de planejamento no por si a ao intersetorial. Ele deve abranger a avaliao e o
monitoramento das aes, visando resultados que efetivamente melhorem a qualidade
de vida do cidado. Sem monitoramento e avaliao de resultados no se trabalha em
uma perspectiva de processo. Neste contexto a criatividade e a compreenso por parte
de todos os atores sociais envolvidos so mais importantes do que a certeza e a predio
(JUNQUEIRA, 2004).
Em termos de indissocialidade ensino-pesquisa-transformao e relao
dialgica com a sociedade, o graduando da FO-UFMG tambm desenvolve projetos
de pesquisa e os divulga nos ambientes acadmicos (VITTORINO et al., 2011). Os
trabalhos resultantes so apresentados em inmeros congressos, merecendo destaque
os trabalhos desenvolvidos a partir de pesquisas realizadas por alunos da ps-graduao
(ABREU et al., 2002; SCARPELLI et al., 2008; SCARPELLI et al., 2011) e por
alunos da graduao (RESENDE et al., 2007; TELLES et al., 2009; ROBERTO et
al., 2012). Alm disso, a experincia desta parceria, to duradoura, difundida atravs
de tecnologias inovadoras de ensino seja atravs de videoconferncias realizadas para
os profssionais da rede pblica municipal de Belo Horizonte (em 2007 e em 2011), ou
profssionais de cidades do interior do estado atravs das teleconferncias organizadas
pelo Ncleo de Educao em Sade Coletiva (NESCON) da Faculdade de Medicina em
2008, no informativo da PROEX/UFMG de 31/03/2009 (<http://www.ufmg.br/proex/
mostraNoticias.php?codigo=299>.) e no programa Conexes da Rdio 104,5 Educativa
UFMG no ano do 2008. Como resultado indireto, a metodologia de abordagem
odontolgica do portador de defcincias neuromotoras apresentada aproveitada em
programas direcionados para este e outros pblicos em todo o Brasil. Portanto, de
fundamental importncia que cada organizao pblica ou privada desenvolva o seu
saber e o coloque a servio do interesse pblico.
Como percebido pela reviso da literatura apresentada, altamente desejvel
e profcuo que se consiga coadunar os resultados mensurveis alcanados com a
proposio de valor que se almeja, a partir das aes dos projetos frutos de parcerias
com o terceiro setor (ASSUMPO; CAMPOS, 2011; CABRAL, 2011). Para uma maior
clareza do que foi estabelecido como metas e valores nos anos de atuao do presente
projeto, elaborou-se um Mapa de Bens Pblicos, tal como proposto por Cabral (2011)
(Quadro 1).
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Para a construo deste mapa foi preciso analisar de forma valorativa o arranjo
social dos bens disponibilizados pela iniciativa de trabalho em conjunto da Faculdade
de Odontologia da UFMG, AMR e E. E. Joo Moreira Salles, porque desta forma fca
vivel que as instituies envolvidas possam cumprir seus objetivos na confuncia dos
diversos atores na gesto social. Desta maneira, o impacto social pretendido extrapo-
la a explicitao de um resultado alcanado que benefcia um nmero de indivduos
passando a representar a pesquisa por um estado de possibilidades ao qual o pblico
benefcirio do projeto mostra-se mais ou menos capaz de ascender (CABRAL, 2011).
Apesar do reconhecimento de que muitas das crticas apresentadas por Menezes
(2010) so pertinentes, preciso que se ressalte que os valores que norteiam os objetivos
do presente projeto esto em consonncia com os valores da AMR e da E. E. Joo
Moreira Salles.
fato que o debate internacional sobre o tema, que infuencia sobremaneira
a agenda nacional, sublinha a importncia da corresponsabilidade social e da
complementaridade entre as estratgias coordenadas pelos diversos atores e setores
que atuam no campo social. quase unnime a percepo de que a interseco de
aes e agentes na implantao de polticas pblicas cria um ambiente favorvel
troca de saberes sobre experincias das mais diversas, proporcionando maior
racionalidade, criatividade, qualidade e efccia s aes desenvolvidas em todas as
instncias envolvidas, evitando a superposio de recursos e competncias. Portanto,
as diferenas entre as lgicas governamentais, do setor privado e da sociedade civil
so percebidas como complementares e imprescindveis nas tarefas de elaborao e
viabilizao de aes que proporcionem o desenvolvimento sustentvel (MADEIRA;
BIANCARDI, 2003).
No se pretende, com base apenas em uma experincia, propor um modelo
de avaliao de projetos de promoo de sade. Entretanto, o modelo apresentado
por Cabral (2011) permite uma clareza de interligao de ideias que convergem
na direo do benefcio. Como proposio fnal, a equipe odontolgica decidiu
pela elaborao de projeto de pesquisa de cunho qualitativo para a abordagem
Quadro 1 - Mapa
de Bens pblicos,
Faculdade de
Odontologia,
AMR e E. E.
Joo Moreira
Salles- Fatos e
valores (adaptado
de CABRAL,
2011: 1930).
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do alcance ou no do benefcio almejado no Mapa de Bens Pblicos apresentado.
Este ser um assunto para refexes futuras registradas em publicaes cientfcas.
Pois a avaliao bem fundamentada imprescindvel para que as aes resultantes
das parcerias entre o setor pblico e o terceiro setor sejam transparentes (MADEIRA;
BIANCARDI, 2003).
A intersetorialidade pressupe uma nova forma de planejar, executar e contro-
lar a prestao de servios, garantindo um acesso igual queles considerados desiguais.
Trabalhar com cidados de maneira integral e integrada envolve mudanas de valores
e mudanas culturais que so evidenciadas nas normas e regras que regem a ao dos
grupos e organizaes sociais. A construo dessas mudanas no deve ocorrer apenas
no interior das organizaes, nem somente nos relacionamentos interpessoais, mas pelo
funcionamento do grupo ou grupos exteriores s organizaes e das lideranas emer-
gentes neste processo (JUNQUEIRA, 2004).
CONSIDERAES FINAIS
Este um projeto de carter extensionista com reconhecido sucesso. O fato de
ser realizado fora dos limites da Faculdade de Odontologia da UFMG permite que o
estudante tenha contato com novas realidades, novas formas de resoluo de problemas,
novos saberes e novos atores sociais. A parceria pblico-privada entre Faculdade de
Odontologia da UFMG, E. E. de Ensino Especial Joo Moreira Salles e AMR gerou
vrios resultados positivos atestados nos 14 anos de sua existncia, tanto do ponto
de vista de formao do aluno de odontologia quanto da perspectiva de promoo de
sade bucal entre os seus pacientes.
A utilizao do Mapa de Bens Pblicos permitiu visualizar com clareza as ideias
que se conectam visando o benefcio que a contribuio para promover a incluso
social desta parcela da populao. O percentual atingido de indivduos livres de crie
pelo projeto o seu resultado mais concreto, a expressiva publicao cientfca gerada a
sua contribuio mais ampla e as perspectivas da produo de novos saberes e formao
de recurso humano engajado e responsvel, o maior estmulo sua continuidade.
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COMO CITAR ESTE ARTIGO:
CASTILHO, Lia Silva de; RESENDE, Vera Lcia Silva; SILVA, Maria
Elisa Souza e; PACHECO, Amanda; FRIAS, Natlia; MOREIRA,
Elizabeth. Ensinando odontologia em cenrios extramuros: uma parceria
entre a Faculdade de Odontologia da UFMG, Associao Mineira de
Reabilitao e uma escola para portadores de defcincias neuromotoras.
Extramuros, Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 97-107, jan./jul. 2013.
Disponvel em: <informar endereo da pgina eletrnica consultada>.
Acesso em: informar a data do acesso.
TELES, C. G.; ALMEIDA, C. E. F.; CASTILHO, L. S.; RESENDE, V. L. S.
Sndrome de Rubinstein-Taybi: reviso da literatura e descrio de conduta odontol
gica. Revista do CROMG, Belo Horizonte, v. 10, p. 16-21, 2009.
VITTORINO, G. G.; SOUZA, G. L. N.; SILVA, H. M. M.; MARQUES, E. E. M.;
RESENDE, V. L. S.; CASTILHO, L. S. Atendimento odontolgico a pacientes com
necessidades especiais: treze anos. Arquivos em Odontologia (UFMG),
Belo Horizonte, v. 47, p. 12-15, 2011.
Recebido em: 15 abr. 2013.
Aceito em: 23 jun. 2013.
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Envelhecendo equilibradamente: consideraes de um programa de
atividade fsica para idosos fundamentado no mtodo Pilates
______________________________________________
Marcelo de Maio Nascimento
1
Ruthe Kcia Rodrigues de Lima
Agradecemos e dedicamos este trabalho a todos os alunos deste projeto, os quais nos tm
ensinado a viver o presente, despreocupados com o amanh. Pois acreditando na alegria e
na tranquilidade de bem estarem no agora, investem na sade do futuro.
RESUMO
O envelhecimento se afgura como uma das poucas certezas da vida. Este inevitvel
processo de vida apresenta transformaes morfolgicas, bioqumicas, psicolgicas e
funcionais responsveis pelo detrimento da capacidade humana em se adequar cada
vez mais ao meio em que vive. Uma possvel forma para retardar este processo consis-
te na prtica da atividade fsica. O presente trabalho tem por fm, apresentar as aes
do primeiro ano, 2012-2013, do Projeto de Extenso Pilates e o Idoso: Contribuies
para o equilbrio corporal, uma iniciativa do Colegiado de Educao Fsica da Univer-
sidade Federal do Vale do So Francisco-UNIVASF. O Projeto contou com a participa-
o de 70 moradores da cidade Petrolina-PE, em idade entre 60-80 anos.
Palavras-chave: Idoso; Pilates; Qualidade de vida; Extenso universitria.
Balanced aging: considerations of a physical activity program for the elderly
based on the Pilates method
ABSTRACT
Aging appears as one of the few certainties of life. This inevitable process of life presents
morphological, biochemical, psychological and functional transformations responsible
for the impairment of human suit increasingly the environment in which they live.
One possible way to slow this process consists in the practice of physical activity. This
paper aims to present the actions of the frst year, 2012-2013, the Extension Project
Pilates and Elderly: Contributions to the body balance, an initiative of the College
of Physical Education, of the Federal University of Vale do So Francisco-UNIVASF.
The project involved the participation of 70 city residents of Petrolina (in the state of
Pernambuco), aged between 60-80 years.
Keywords: Elderly; Pilates; Quality of life; University extension.
1
Professor Ad-
junto do Colegia-
do de Educao
Fsica (CEFIS)
da Universidade
Federal do Vale
do So Francis-
co (UNIVASF).
marcelo.nasci-
mento@univasf.
edu.br
2
Discente do
curso de Ba-
charelado em
Educao Fsica
da UNIVASF.
Bolsista do Pro-
jeto de Extenso
Pilates e o Ido-
so: Contribuies
para o equilbrio
corporal.
ruthebj.@hot-
mail.com
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INTRODUO
A universidade pblica brasileira, em sentido s representaes que lhe so
conferidas, assume papis diferenciados na sociedade. Um caminho efetivao de
suas atribuies se afana por meio de Projetos de Extenso, os quais se tornaram
obrigatrios no ensino superior pela Lei 5.540 de 1968 (ROSAS; NUNES, 2008).
Atividades extensionistas operam com o ensino e a pesquisa na busca de solues
que viabilizem a reduo de diferenas (sociais, polticas, econmicas, culturais, entre
outras). Suas aes so regulamentadas pelo Plano Nacional de Extenso, sendo
pautadas segundo as reas do conhecimento do CNPq. De tal forma, tais aes buscam
intensifcar as pertinncias da universidade, aproximando seus representantes alunos,
tcnicos e professores , alm dos conhecimentos gerados no interior de seus muros s
demandas da comunidade.
O presente artigo tem por fm apresentar as aes do Projeto de Extenso
Pilates e o Idoso: Contribuies para o equilbrio corporal, em sua primeira edio
2012-2013. O mesmo esteve vinculado Pr-Reitoria de Extenso (PROEX) da
UNIVASF- Universidade Federal do Vale do So Francisco (Programa Institucional
de Bolsas de Extenso PIBEX). Seu principal objetivo consistiu em oferecer um
programa de atividade fsica fundamentado no Mtodo Pilates populao idosa (60-
80 anos) da cidade de Petrolina-PE. Prontamente, as atividades estiveram direcionadas
ampliao dos nveis de sade e qualidade de vida da comunidade local.
As principais motivaes que conduziram realizao deste projeto foram: a) a
carncia de ofertas na regio de atividades que valorizassem a relao corpo-movimen-
to-sade, especfcas, para este pblico; b) a defcincia quantitativa de profssionais
especializados para planejar e executar atividades desta ordem, visto que h mercado
de trabalho na rea do idoso nesta cidade e na regio do Mdio So Francisco, entre-
tanto, ele ainda pouco explorado; c) aliado a isto, existe o compromisso da prpria
universidade por meio da formao em Educao Fsica em qualifcar profssionais que
preencham essas lacunas; ou seja, a universidade deve cumprir com o pacto poltico e
social assumido por ela de estender suas aes e conhecimentos alm-muros.
O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
Nas ltimas dcadas, a estrutura etria da populao mundial vem passando
por mudanas signifcativas. Segundo especialistas este processo um refexo da
reduo das taxas de fecundidade e mortalidade, este ltimo tambm est relacionado
evoluo da cincia reas da sade elevando assim os ndices da expectativa mdia
de vida (SANTOS et al., 2013). De tal forma, observa-se um crescimento representativo
da populao idosa, principalmente, acima de 65 anos (IBGE, 2010). Em 1960 o
nmero de idosos no pas era de trs milhes, subindo para sete milhes em 1975,
duplicando em 2006 para 17 milhes, atingindo a casa dos 20 milhes em 2008 (IBGE,
2011). Segundo VERAS (2009), isto signifca um aumento de aproximadamente 700%
da populao idosa no perodo de cinco dcadas. As previses para o Brasil so de que
em 2025 o nmero de indivduos com idade igual ou superior a 60 anos atinja a casa dos
32 milhes (LIMA, 2012).
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O envelhecimento consiste em um processo dinmico e progressivo seguido por
um conjunto de modifcaes em carter morfolgico, funcional, bioqumico e psicol-
gico que ocasionaro o detrimento da capacidade humana de se adequar ao meio am-
biente. Tais alteraes tambm podem deixar o sujeito mais vulnervel, aumentando
a incidncia de patologias que podero resultar em seu bito (CARVALHO, 1994). Se
considerarmos a populao como sujeito coletivo, tambm h de se ponderar que assim
como os sujeitos, ela envelhecer a partir de um dado momento.
O envelhecimento humano no e nem pode ser reconhecido como um processo
patolgico (ROWE; KAHN, 1987). VERAS (2009) qualifca o prolongamento da
vida como uma aspirao de qualquer sociedade, porm, isto s pode ser considerado
como uma conquista real caso se adicione qualidade aos anos de vida. Com o passar
do tempo a capacidade ativa do homem diminui, no entanto, uma das formas para
retardar ou mesmo estender os anos de vida, em situao considervel, consiste na
prtica da atividade fsica. Indicativos sobre os benefcios da atividade fsica em idade
avanada, bem como as desvantagens decorrentes do sedentarismo so relatados na
literatura especializada (LIMA, 2012; VILELA JNIOR et al., 2010; MECHLING;
NETZ, 2009; SPIRDUSO, 2005).
Distintos so os benefcios atribudos atividade fsica em relao ao orga-
nismo humano. Nesta perspectiva, podemos citar o aumento da fora muscular, do
fuxo sanguneo, a reduo do percentual de gordura e dos nveis da presso arterial, a
manuteno ou melhora da densidade corporal ssea, desenvolvimento da conscincia
corporal em sentido a postura, o aprimoramento da fexibilidade, alm dos benefcios
para o equilbrio corporal esttico e dinmico.
A reduo da capacidade humana em manter o equilbrio tambm est associada
ao envelhecimento. A capacidade do equilbrio est relacionada ao funcionamento dos
analisadores ticos, cenestsico, tteis e a capacidade funcional muscular (ILLING et
al., 2005; ORR, 2010). Em pessoas idosas, a instabilidade corporal aumenta o risco da
incidncia de quedas (MELZER et al., 2004) que devido baixa densidade da fbra
ssea em indivduos idosos ir gerar fraturas, podendo resultar at mesmo em bito
(FREIBERGER; VREEDE, 2011). Assim sendo, para o idoso uma simples queda
pode implicar em decrscimo da qualidade de vida.
Por meio de exerccios fsicos especfcos possvel manter ou mesmo desen-
volver consideravelmente, em pessoas idosas, os nveis de fora muscular e equilbrio
corporal (CORIOLANO-APPELL; PEREZ; NASCIMENTO; APPELL-CORIOLA-
NO, 2012). O mtodo Pilates de exerccios corporais consiste em atividade que busca
a reestruturao alinhamento do corpo e desenvolvimento da fora do centro de
equilbrio (powerhouse). Isto implica no fortalecimento dos msculos mais internos
locados na regio abdominal e responsveis pela estabilizao do tronco (APARCIO;
PREZ, 2005; MUSCOLINO; CIPRIANI, 2004).
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O MTODO PILATES
O mtodo foi desenvolvido pelo alemo Joseph Hubertus Pilates (1880-1967),
com o objetivo principal de elevar qualitativamente a relao corpo-movimento e, as-
sim, ampliar os nveis de sade e longevidade de seus praticantes. Apesar de ter publi-
cado dois livros (PILATES, 1998; PILATES; MILLER, 1948) Pilates no apresentou
grandes interesses investigativos sobre a efccia de seu mtodo. A inspirao para a
criao do trabalho surgiu na movimentao corporal de animais e em fguras que
retratavam as lutas de soldados gregos e romanos. Ao passar dos anos Pilates foi de-
senvolvendo um conjunto de exerccios que buscavam melhor integrar o corpo humano
s tarefas do cotidiano (princpio da ginstica funcional). Nesta metodologia o corpo
visto como uma unidade, assim sendo, os exerccios buscam a correo de dfcits pos-
turais por meio do realinhamento dos msculos, contribuindo para a estabilizao da
estrutura muscular e articular, principalmente, na regio abdominal (MUSCOLINO;
CIPRIATI, 2004).
Segundo COMUNELLO (2011) o diferencial do Pilates em relao s demais
formas de se exercitar o corpo consiste em sua capacidade de integrar exerccios de
baixo impacto, no unicamente s necessidades do corpo, mas, simultaneamente,
mente. Sua prtica regular permite que pessoas, de todas as idades, possam conhecer
ou mesmo re-descobrir o corpo e suas capacidades de movimentao com mais
aprofundamento. E isso implica na ampliao dos nveis de qualidade de vida motivado
em mudanas dos hbitos corporais dirios. No caso de pessoas idosas, a tentativa de
transformao de atitudes corporais pode suscitar resistncias, pois na maioria das
vezes, costumes e/ou estilos comportamentais j se apresentam enraizados no cotidiano
(PIRES et al., 2013).
O Pilates tambm defnido como arte de controle consciente da movimentao
corporal, fundamentado pela contrologia (COMUNELLO, 2011). Seu princpio
consiste em treinar o domnio do centro de fora corporal, tambm chamado por
powerhouse (APARCIO; PREZ, 2005). Conforme o prprio Pilates, esta expresso
se refere casa de fora circunferncia da cintura plvica, a qual funciona como
estrutura que suporta e refora a coluna vertebral (MUSCOLINO; CIPRIANI, 2004).
O mtodo fundamentado em consideraes anatmicas, fsiolgicas e cinesiolgicas, a
elaborao e execuo de exerccios partem de seis princpios: concentrao, controle,
centralizao, fuidez, respirao e preciso (LATEY, 2001).
Quanto prtica o mtodo pode ser executado tanto na posio deitada, como
em p. Os exerccios tanto podem ser executados com o emprego do prprio peso cor-
poral ou em aparelhos fundamentados no princpio de molas. Entre eles h o reformer,
cadilac ou trapzio, barris e as unidades de parede. Os aparelhos possibilitam a diver-
sifcao da movimentao corporal, alm de garantirem a qualidade do treinamento
(preciso). A metodologia favorece que os msculos estabilizadores da coluna vertebral
sejam contrados livres de tenses desnecessrias (MCMILLAN et al., 1998). interes-
sante salientar que o mtodo foi criado com a inteno de recuperar o corpo de dan-
arinos lesionados, contribuindo para o desempenho fsico em suas futuras prticas.
Entretanto, nos ltimos anos, o Pilates vem se tornando, cada vez mais, popular na
orientao de correes posturais, assim como na rea da reabilitao de patologias orto-
pdicas, reumatolgicas e respiratrias (ALVES et al., 2013; BERTOLLA et al., 2007).
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METODOLOGIA
A primeira edio deste projeto aconteceu entre maro de 2012 e fevereiro de
2013. Suas aes foram divididas em cinco fases, cada uma com objetivos determinados:
inicialmente tivemos o recrutamento da aluna bolsista e de dois voluntrios (graduandos
em Educao Fsica); reviso bibliogrfca para a fundamentao do grupo docente;
defnio das metas a curto, mdio e longo prazo; escolha das estratgias para a
divulgao do projeto junto comunidade; defnio do nmero de participantes;
escolha dos critrios para a seleo excluso dos alunos; aspectos relativos organizao
das turmas, horrios, alm da disposio das funes dos alunos envolvidos no projeto
de acordo com o cronograma de trabalho (Figura 1, p. 114).
Quanto divulgao, optou-se pela divulgao no Facebook, seguida por
cartazes e panfetos distribudos nos bairros da cidade de Petrolina e na prpria
universidade. O processo de seleo dos candidatos teve a princpio uma entrevista
(anamnese), seguido do preenchimento de um questionrio de prontido atividade
fsica (Par-Q). Este instrumento permite que se faa uma triagem preliminar mais
segura dos candidatos, possibilitando avaliar suas capacidades funcionais e, assim
estabelecer parmetros para futuras prescries (THOMAS et al., 1992). Em nosso caso,
as informaes do ParQ possibilitaram que restries ou limitaes dos candidatos
fossem identifcadas, determinando ou no a necessidade de um exame mais apurado
do aluno pelo mdico especialista. Em certos casos o questionrio serviu, tambm,
como critrio excluso do candidato, visto que o programa trabalha essencialmente
com idosos fsicamente independentes.
A segunda fase consistiu na avaliao postural, testes de fora, fexibilidade
e equilbrio (14 itens) com fundamentao no trabalho de Coriolano-Appell, Perez
, Nascimento et al. (2012): The Pilates method to improve body balance in the elderly.
Tanto os testes, como as atividades prticas foram realizados na sala de ginstica do
prdio do Colegiado de Educao Fsica da UNIVASF-Petrolina.
A diviso dos alunos em grupos se deu segundo a categorizao de faixas etria
estabelecida pela Organizao Mundial da Sade. A OMS considera como idosos
os indivduos com idade igual ou superior a 60 anos. No caso do Brasil, o Instituto
de Pesquisa Econmica Aplicada-IPEA (2008), classifca como idosos jovens os
indivduos entre 60 e 69 anos. J aqueles com idade igual 70 at 79 anos so denominados
como medianamente idosos. Os demais, com idade igual ou superior a 80 anos so
considerados como longevos. Assim sendo, as turmas foram divididas em grupo A
alunos com idade entre 60-69 anos e grupo B composto por todos aqueles com idade
igual ou superior a 70 anos.
Inicialmente, o projeto teve a procura de 132 pessoas. No entanto, tendo em vis-
ta a qualidade e segurana do trabalho apenas 40 pessoas foram admitidas. Aps trs
meses de atividades, ampliou-se o nmero de vagas para mais 30 pessoas. Questes refe-
rentes segurana do trabalho so extremamente importantes no caso de alunos idosos,
visto que esses carecem de maior ateno principalmente durante a atividade fsica,
pois em certos casos, devido ao aumento da instabilidade postural, h o risco de quedas.
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Idosos tambm necessitam de mais tempo para a compreenso dos exerccios
que exigem uma correo apurada. De tal forma, muitas vezes, foi necessrio disponi-
bilizar uma pessoa do grupo docente para o acompanhamento de um idoso.
Dentre os 70 alunos, 62 eram do sexo feminino, perfazendo um total de 88,57%
do contingente. 26% dos participantes tinham idade entre 70-82 anos e 74% entre 60-
69 anos. Quanto evaso, esta foi mais acentuada nos primeiros trs meses, perfazendo
um total de 15%. Entretanto, a partir do ms de julho/2012 houve um aumento de
22% na procura do projeto, considerando que sempre existiu uma lista de espera com
aproximadamente 40 pessoas. Assim sendo, o nmero de alunos ativos permaneceu
estvel at o fnal do primeiro ano do projeto (fevereiro/2013). Outro fator a salientar,
consiste no contingente de interessados do sexo feminino, fenmeno natural para
atividades de ginstica, com exceo da musculao.
As atividades prticas foram divididas em trs etapas distintas. Deste modo,
pode-se controlar melhor a execuo das atividades e o aproveitamento dos alunos
quanto a capacidades fsicas como equilbrio, fexibilidade, alongamento, fora muscu-
lar e conscincia corporal. A frequncia dos encontros foi de dois dias por semana, no
perodo da tarde, com durao de 60 minutos por aula.
O programa de treinamento, propriamente dito, teve inicio na fase III do pro-
jeto e estendeu-se at a Fase V (Figura 01). Para tanto, foram eleitos 15 exerccios de
fcil execuo oriundos do modelo original do mtodo Pilates. O principal critrio para
a elegibilidade dos exerccios consistiu na individualidade biolgica dos participan-
tes, faixa etria, seguido pela efccia dos exerccios em sentido ao fortalecimento dos
msculos estabilizadores do tronco e quadril deste grupo etrio. Vale salientar que os
exerccios eleitos para o grupo B (70-80 anos) consistiram em formas adaptadas dos
exerccios trabalhados com o grupo A (60-69 anos). As atividades do grupo B apre-
sentaram, tambm, uma particularidade: exerccios fundamentados na imaginao do
movimento; alm de atividades recreativas, massagens e relaxamentos.
Ao fnal das Fases III, IV e V, avaliaes funcionais foram realizadas, com
o desgnio de verifcar os nveis de aproveitamento dos alunos neste perodo. Os
instrumentos escolhidos para tanto foram observaes, conversas com os prprios
alunos (perguntas sobre sua percepo corporal), alm de testes fsicos simplifcados.
Aps essas aes, o grupo docente se unia e traava os objetivos para a fase seguinte.
Ao fnal de cada seo de treinamento, eram realizadas reunies entre os docentes e
o coordenador, buscando o feedback do dia de trabalho. Por intermdio dos dilogos
graduandos em Educao Fsica puderam trocar suas subjetividades, associar os
conhecimentos tericos prtica e, acima de tudo, construir uma metodologia de
trabalho prpria para o projeto.
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Por meio da Figura 1 possvel visualizar o cronograma de atividades e
protocolo de aes segundo os grupos durante os 12 meses:
DINMICAS DAS AULAS (FASE III-V)
Antes do incio das aulas, buscou-se criar um espao para o dilogo entre os
integrantes do projeto e o grupo docente. Assim sendo, designou-se um ambiente ideal
para isto: amplo, climatizado e com a possibilidade de assentos. Durante este tempo,
estrias de vida eram relatadas, novas amizades frmadas; progressivamente o projeto
Pilates e o Idoso ia se materializando. Paralelamente, a presso arterial (PA) dos
alunos era verifcada. O controle da PA consiste em ao de suma importncia para
indivduos desta faixa etria, pois quando no tratada ela se afrma como risco de vida.
E no foram poucas as vezes em que os nveis da PA dos participantes se apresentaram
acima dos nveis de tolerncia. Outro procedimento consistiu na confgurao de uma
caderneta pessoal, onde a mdia da PA mensal era fxada e, posteriormente, no incio
do ms seguinte, entregue aos participantes. Neste sentido, foi possvel traar, ao longo
de 12 meses, um mapa individualizado desta varivel.
Figura 1:
Cronograma
e protocolo de
atividades.
Figura 2:
Verifcao da
presso arterial.
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GRUPO A (IDOSOS JOVENS)
As prticas adotadas tiveram a preocupao em respeitar as capacidades moto-
ras prprias de cada faixa etria. De tal forma, o programa de treinamento exibiu dife-
renciao entre os grupos. Alunos do grupo A (60-69 anos) praticavam atividades de
fora, agilidade, equilbrio e coordenao mais intensamente do que o grupo B. Tais
exerccios evoluram gradualmente segundo os nveis de intensidade e complexidade
motora, fato que tambm exigiu da capacidade cognitiva coordenao dos alunos.
Os exerccios eram realizados tanto na posio em p, como deitada no solo, tambm
com o auxlio do treinamento por meio da instabilidade em bolas suas.
GRUPO B (MEDIANAMENTE IDOSOS E LONGEVOS)
As atividades realizadas pelos alunos do grupo B, 70-80 anos de idade,
consistiram em exerccios adaptados do mtodo original Pilates, muitos dos quais
serviram para o desenvolvimento de uma metodologia prpria para pessoas idosas
na posio sentada. O fato incidiu na busca de solues s restries funcionais
apresentadas pelos alunos. Logo, distintamente do grupo A, aderiu-se execuo de
exerccios utilizando-se de cadeiras.
Vale ressaltar que, inicialmente, isto consistiu em um problema para o planeja-
mento das atividades, entretanto, foi a partir do dado problema que o grupo docente
aprendeu a estudar e construir dinmicas especfcas para cada situao. Junto aos
procedimentos, tambm, foram includos materiais como cordas e pequenas bolas.
Figura 3: Grupo
A (60-69 anos),
exerccios no solo.
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Outra tcnica trabalhada com o grupo de 70-80 anos de idade consistiu no
estudo da imagem do movimento. A tcnica consiste em exercitar a representao de
aes corporais do cotidiano mentalmente: A imaginao pode ser considerada um
complemento da prtica motora, sendo que a combinao entre ambas pode ampliar os
ganhos em programas voltados ao restabelecimento e/ou manuteno do equilbrio
corporal (TASSA; STEFANELLO, 2012).
Ora, partindo do principio de que este projeto de Extenso visa ampliao
dos nveis de sade, qualidade de vida e bem-estar e, sendo que, comprovadamente, ao
passar dos anos o corpo humano perde sua funcionalidade (PEDRINELI et al., 2009;
DUARTE; APPELL, 2005; CARVALHO, 1994), ento, capacidades e habilidades
motoras devem ser treinadas. No entanto, em idade avanada no basta unicamente
treinar msculos e articulaes de forma ativa, mais do que isso, h a necessidade de
se realizar uma (re)educao do movimento. Ou seja, o sujeito deve adaptar seu corpo
s situaes dirias, porm, reconhecendo sem vaidade as limitaes impostas pela
idade ao aparelho esqueltico e muscular. Neste contexto, o trabalho mental se afgura
como um excelente mecanismo conscientizao da imagem do eu-movimento,
principalmente, em relao aos aspectos do equilbrio corporal (MALOUIN et al.,
2007; MULDER et al., 2007. Os resultados desta tcnica tambm esto relacionados
neurocincia (COSENZA; GUERRA, 2011; LUNDY-ECKMAN, 2008).
PRINCIPAIS RESULTADOS
Considerando, que apenas 20% dos alunos do grupo A, praticavam
regularmente atividades fsicas antes de ingressarem no projeto e 100% dos integrantes
do grupo B eram sedentrios, podemos afrmar que a inteno inicial, que consistiu
em oferecer um programa de atividade fsica e mant-lo por 12 meses, foi atingida. Da
mesma forma, constatou-se que em curto espao de tempo tanto a postura corporal,
como os nveis de fora, fexibilidade, alongamento, assim como o equilbrio esttico
Figura 4: Grupo
B (70-82 anos),
exerccios nas
cadeiras.
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e dinmico foram desenvolvidos. Outro aspecto consistiu na diminuio ou perda total
da tenso de grupos musculares, os quais eram antes reconhecidos pelos alunos
como zonas de desconforto ou dor. Assim sendo, devido incorporao de novos h-
bitos posturais, powerhouse, houve melhoras signifcativas nos hbitos posturais e de
locomoo.
Por fm, considera-se que a convivncia em grupo na idade idosa tende a moti-
var sujeitos a praticar exerccios fsicos. Muitos participantes do projeto baixaram seus
percentuais de gordura corporal (IMC), aumentando os coefcientes de massa corporal
magra. Por meio do mapa da PA foi possvel que alunos, que outrora no considera-
vam a hipertenso como uma doena de risco, aps esta medida, passassem a respeitar
o caso, seguindo as indicaes mdicas de controle.
EVENTOS REALIZADOS
Os eventos promovidos durante os 12 meses do projeto podem ser divididos
em dois tipos: a) instrucionais aqueles com carter de informar e instrumentalizar
o pblico-alvo sobre aspectos da rea da sade; b) sociais, aqueles com objetivo de
integrar e socializar o grupo.
INSTRUCIONAIS:
Um evento de mdio porte com a participao de 70 pessoas, entre alunos do
projeto, amigos e familiares, foi realizado. O simples fato de que os prprios alunos se
responsabilizaram pela divulgao do evento, demonstrou o grau de engajamento do
grupo com a ao extensionista. O evento teve trs horas de durao e foi executado
em parceria com o PET-Educao Fsica/UNIVASF. As atividades foram ministra-
das pelos alunos bolsistas do PET. As atividades realizadas consistiram na aferio da
presso arterial e nvel de glicose sangunea, teste de IMC-ndice de Massa Corporal,
alm de palestras sobre hipertenso, obesidade, diabetes, alongamento, fexibilidade,
artrose e qualidade de vida.
SOCIAIS:
Os resultados de aes nesta esfera foram surpreendentes. Observou-se uma
extrema disponibilidade dos integrantes sem excees de organizao e, principal-
mente, de participao (comemoraes de aniversrios, festejos de Carnaval, Pscoa,
So Joo e Natal).
As aes eram acompanhadas de uma gastronomia farta prontamente or-
ganizada pelos alunos. De tal forma, nesses dias o prdio do Colegiado de Educao
Fsica se transformava por algumas horas em um espao de confraternizao entre os
alunos, seus familiares (netos, flhos, vizinhos, companheiros) e a prpria universida-
de por meio de funcionrios terceirizados, graduandos, tcnicos e professores. Neste
sentido, pde-se, realmente, ver e sentir uma universidade aberta e integrada com a
comunidade, ou seja, um exemplo do frmamento entre ensino, pesquisa e extenso
materializado pela relao corpo-movimento.
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PARTICIPAO DO GRUPO DOCENTE EM EVENTOS CIENTFICOS
E PRODUO DE ARTIGOS
Ao longo de 12 meses o grupo participou de trs eventos cientfcos, com
apresentao de trabalhos no XIV Congresso de Cincia do Desporto e Educao
Fsica dos Pases de Lngua Portuguesa (Belo Horizonte), III Seminrio de Educao
Fsica do Vale do So Francisco (Petrolina-PE) e na V-SCIENTEX Feira de Cincias
Universitria e VII-Mostra de Extenso (Juazeiro-BA). Tambm houve a publicao
do artigo intitulado The Pilates method to improve body balance in the elderly, uma
produo internacional conjunta com pesquisadores da Universidade de Esportes da
cidade de Colnia/Alemanha (Instituto de Anatomia e Fisiologia).
CONSIDERAES FINAIS
As atividades do projeto Pilates e o Idoso: Contribuies para o equilbrio
corporal conduziram seus participantes a se conscientizarem e perceberem seus cor-
pos em sentido funcional ativo. 70 alunos de 60-80 anos apresentaram, ao longo de 12
meses, melhorias de capacidades como equilbrio, fexibilidade, alongamento, fora,
alm de baixarem os nveis de stress devido a dinmicas de conscincia e relaxamento
muscular. De tal modo, confrmou-se, mais uma vez, que a prtica do Pilates possibi-
lita o incremento de aptides motoras, alm de ser responsvel por transformaes a
nvel morfolgico e psicolgico na terceira idade.
Por meio de depoimentos dos prprios alunos foi constatado que o tema
qualidade de vida era um conceito, at ento, vivenciado unicamente nos meios de
comunicao, que se tornou conhecido, algo percebido no prprio corpo.
Figura 5:
Atividade social
(Carnaval, 2013).
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Para a grande maioria o projeto se apresentou como um divisor de guas,
contribuindo para que os idosos passassem a se enxergar como cidados ativos,
produtivos, reconhecidos e integrados socialmente. Ora, partindo-se do ponto de
vista fenomenolgico-existencialista em sentido conscincia de um eu-sade e de
um eu-idoso, podemos dizer que as vivncias proporcionadas por esta iniciativa de
extenso contriburam para o desenvolvimento do sentido de pertencimento social
desses cidados idosos.
Por outro lado, deve-se considerar que o projeto concebeu perspectivas qua-
lifcao de um grupo de graduandos em Educao Fsica, auxiliando no desenvol-
vimento de metodologias especfcas relativas ao envelhecimento ativo na cidade de
Petrolina-PE.
REFERNCIAS
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Volume 1, nmero 1
WINSOR, M.; LASKA, M. The Pilates Powerhouse. Cambridge: Perseus Books,
2009.
Recebido em: 2 maio 2013.
Aceito em: 28 jun. 2013.
COMO CITAR ESTE ARTIGO:
NASCIMENTO, Marcelo de Maio; LIMA, Ruthe Kcia Rodrigues de.
Envelhecendo equilibradamente: consideraes de um programa de
atividade fsica para idosos fundamentado no mtodo Pilates.
Extramuros, Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 108-123, jan./jul. 2013.
Disponvel em: <informar endereo da pgina eletrnica consultada>.
Acesso em: informar a data do acesso.
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Ginstica artstica: uma proposta de aplicabilidade
______________________________________________
Rosangela Marques Busto
1
Abdallah Achour Junior
Rosana Sohaila Teixeira Moreira
3
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados do projeto de extenso
universitria Ginstica Artstica para todos desenvolvido no Centro de Educao
Fsica e Esporte da Universidade Estadual de Londrina-PR de 2009 a 2011.
Participaram do projeto 28 professores da rede estadual de educao, cinco docentes
da Universidade Estadual de Londrina que orientaram e supervisionaram 184
acadmicos dos cursos de Licenciatura em Educao Fsica e Bacharel em Cincia do
Esporte, e 28 escolas estaduais de Londrina e da Regio Metropolitana. Durante as
aes pedaggicas de iniciao em ginstica artstica, aplicaram os contedos tericos
e prticos da disciplina dos cursos. Participaram 700 meninas na faixa etria de dez a
12 anos de diferentes classes socioeconmicas. Os acadmicos concluram o estgio com
a apresentao das crianas na Copa UEL de Ginstica Artstica, no Torneio Escolar
Londrinense (TORNESCOLON) e Festivais Recreativos de Ginstica Artstica.
Palavras-chave: Ensino superior; Educao fsica; Extenso universitria; Esporte.
Artistic gymnastics: a proposal of application
ABSTRACT
This article aims to present the results of the extension project Artistic Gymnastics
for all developed at the Center for Physical Education and Sport, State University
of Londrina (in the state of Paran) from 2009 to 2011. Twenty-eight teachers of
public state schools participated in the projetc along with fve professors from the
State University of Londrina-PR, who guided and supervised 184 undergrate students
of Physical Education and Bachelor of Science in Sport, and 28 state schools in
Londrina and the Metropolitan Region. During the pedagogical practices of initiation
into artistic gymnastics, they applied the theoretical and practical courses of the
discipline. 700 girls aged 10-12 years and of different socioeconomic classes participated
in the project. The undergraduate students concluded their educational experience
with the childrens UEL Cup of Gymnastics in the Londrinense School Tournament
(TORNESCOLON), Festivals and Recreational Artistic Gymnastics.
Keywords: Higher education; Physical education; University project for the community;
Sport.
1
Docente do Cur-
so de Esporte e
Educao Fsica
da Universida-
de Estadual de
Londrina (UEL).
Doutora em Edu-
cao.
busto@uel.br
2
Docente do Cur-
so de Esporte e
Educao Fsica
da UEL. Doutor
em Educao
Fsica.
achour-junior@
hotmail.com
3
Docente do Cur-
so de Esporte e
Educao Fsica
da UEL. Mestre
em Educao
Fsica.
rosana.st.morei-
ra@gmail.com
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
INTRODUO
A Ginstica Artstica uma das modalidades esportivas mais antigas e
populares do programa olmpico, e teve seu incio no Brasil com a colonizao alem,
no Rio Grande do Sul, no ano de 1824 como forma de lazer (PUBLIO, 1998). Em 1996,
foi includa nos Parmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,1996).
A cidade de Londrina e a Universidade Estadual de Londrina esto envolvidas
com a Ginstica Artstica desde 1980 quando iniciaram uma parceria com a ento
Secretaria de Cultura e Esporte do Estado do Paran com a implantao do projeto
Polos Esportivos (BUSTO, 2008).
Os cursos de Bacharel em Esporte e Licenciatura em Educao Fsica desen-
volvidos no Centro de Educao Fsica e Esporte da Universidade Estadual de Lon-
drina tm entre seus objetivos formar profssionais que devero atuar nas dimenses
(educacionais, de rendimento, de sade e de lazer) do Esporte. No curso de Esportes,
as caractersticas extensionistas, de natureza educativa, cultural, cientfca ou tcnica,
so executadas sob a forma de projetos voltados a questes relevantes da sociedade.
A ginstica artstica uma modalidade em que o ginasta se expressa com o pr-
prio corpo e se distingue pela grande variedade de movimentos dinmicos ou estticos
de coordenao complexa (VIEIRA; FREITAS, 2007). Nessa modalidade, os objetivos
das prticas variam conforme sua classifcao e contexto. A atividade ginstica arts-
tica tem carter formativo com fnalidade de desenvolver as habilidades motoras e tem
carter competitivo cuja fnalidade desenvolver as habilidades especfcas com alta
preciso tcnica e que atenda ao grau de exigncia do cdigo de pontuao, ou seja, as
regras da modalidade (NUNOMURA; CARRARA; CARBINATTO, 2010).
Para o ensino da ginstica artstica, independente do contexto, utiliza-se ini-
cialmente, da familiarizao e iniciao. A familiarizao constitui todo o trabalho de
aproximao, contato, ambientao e experimentao dos aparelhos ofciais ou alter-
nativos. Nessa fase de familiarizao, no se exige a perfeio dos exerccios, solicita-se
a movimentao para que se tenha conhecimento do corpo no espao, bem como, suas
posies nos mais variados movimentos. Aps esse conhecimento, iniciamos a apren-
dizagem das posies bsicas, manipulao e repeties dos exerccios para que haja
melhoria das sensaes, fxao e automatizao dos movimentos bsicos (ARAJO,
2003; NUNOMURA; TSUKAMOTO, 2006).
Neste sentido, compreende-se que a ginstica artstica pode proporcionar aos
alunos a possibilidade de escolha de movimentos de acordo com as suas capacidades,
podendo obter um maior rendimento pessoal.
Essa modalidade esportiva, por sua caracterstica e riqueza de movimentos,
ensina a enfrentar progressivamente, a partir de situaes seguras, situaes mais
perigosas, a lutar para vencer as difculdades dos problemas propostos, a superar e a
sentir o prazer de superao, contribuir ainda com o desenvolvimento das capacidades
fsicas e motoras, com a coragem e a participao em grupos, pois embora seja um
esporte individual, as crianas necessitam de ajuda mtua para a aprendizagem dos
movimentos (TEIXEIRA, 2005, LOPES; NUNOMURA, 2007).
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Destarte e visando atender os objetivos do Projeto Poltico Pedaggico dos Cur-
sos oferecidos pela instituio e privilegiando a participao dos alunos em projetos
de extenso e monitorias para contribuir na formao acadmica que foi proposto o
projeto de extenso Ginstica Artstica Para Todos, vinculado ao Departamento de
Cincias do Esporte do Centro de Educao Fsica e Esporte da Universidade Estadual
de Londrina, cujos resultados sero apresentados.
ENCAMINHAMENTO METODOLGICO
O projeto de extenso foi concebido tendo como objetivos principais: estimular
o desenvolvimento da prtica de Ginstica Artstica em Londrina e regio; proporcio-
nar aos acadmicos uma experincia no campo prtico em ginstica artstica, contri-
buindo para a sua formao profssional; desenvolver no acadmico o interesse para a
pesquisa cientfca, utilizando o projeto como trabalho de concluso de curso; contri-
buir na integrao social das meninas de escolas e instituies; oportunizar a partici-
pao de meninas em atividades que propiciam o desenvolvimento fsico, psquico e so-
cial; encaminhar as meninas talentosas ao centro de treinamento da ALGA
4
; realizar
eventos, campeonatos e festivais de Ginstica Artstica.
Aps as defnies dos objetivos e procedimentos do projeto de extenso entre
os docentes envolvidos, houve encaminhamento para a aprovao interna. O projeto
de extenso foi aprovado por todas as instncias da Universidade Estadual de Londri-
na, com a organizao apresentada abaixo:
Plano de Trabalho Individual do Coordenador
Seleo de estagirios;
Reunies com colaboradores e estagirios;
Planejamento das aes;
Aplicao de testes morfofuncionais;
Elaborao do material de disseminao e divulgao;
Acompanhamento de trabalhos e pesquisas realizadas no projeto;
Elaborao de artigos e relatrios parciais;
Elaborao de relatrio fnal.
Plano de Trabalho Individual do Colaborador
Auxiliar na seleo de estagirios;
Participar do planejamento das aes;
Participar das reunies com estagirios;
Auxiliar na aplicao de testes morfofuncionais;
Auxiliar na elaborao do material de disseminao e divulgao;
Auxiliar na elaborao de trabalhos e pesquisas realizadas no projeto;
Colaborar na elaborao de artigos e relatrios parciais;
Colaborar na elaborao de relatrio fnal.
4
Associao
Londrinense de
Ginstica Arts-
tica.
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Volume 1, nmero 1
Avaliao do Projeto
Anlise das avaliaes morfofuncionais realizadas nas atletas;
Publicaes nos meios de comunicao.
Resultados e Contribuies esperadas
Aprimoramento motor e cognitivo das crianas envolvidas;
Campo de Estgio aos acadmicos do curso de Licenciatura e Bacharel em Es-
porte;
Desenvolvimento de pesquisas;
Apresentao de trabalho em eventos e congressos.
Disseminao dos Resultados
Apresentao de publicaes em eventos;
Recortes de jornais referentes ao projeto;
Realizao de eventos.
Aps receber a aprovao formal do projeto, foi realizada uma reunio com o
coordenador de Educao Fsica do Ncleo Regional de Educao, o qual convidou os
professores de Educao Fsica. A partir disso, manifestaram interesse em participar
25 professores da rede estadual de educao da cidade de Londrina e trs professores de
cidades da regio (Camb, Rolndia e Arapongas).
Concomitante s defnies junto ao Ncleo Regional, foram convidados os
discentes matriculados nas disciplinas de Ginstica Artstica, dos Cursos de Bacharel
em Cincias do Esporte e de Licenciatura em Educao Fsica, para participar. Os
interessados preencheram a fcha de atividade acadmica complementar, exigncia da
PROGRAD
5
para a contagem da carga horria desenvolvida em projetos.
A distribuio dos acadmicos pelas escolas cadastradas foi de acordo com seu
interesse e facilidade de acesso. Os mesmos dirigiram-se s escolas onde foram abertas
as inscries sendo preenchida uma fcha de cadastro das meninas por estabelecimento
de ensino.
RESULTADOS
Os acadmicos, durante o primeiro semestre de cada ano letivo, participaram
de aulas prticas e realizaram o planejamento das atividades a ser aplicadas junto s
crianas das escolas participantes.
No segundo semestre de cada ano, ocorreu a interveno com durao de duas
horas semanais, preparando as crianas para participarem dos eventos de ginstica aos
quais foram realizados no Ginsio Municipal de Londrina/Moringo e nas dependn-
cias do Centro de Educao Fsica e Esportes.
5
Pr-Reitoria de
Graduao.
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Durante o desenvolvimento do projeto, para preparao das meninas foram
realizadas inmeras adaptaes para aplicao das atividades considerando as
particularidades das escolas, que nos permitem a indicao de propostas mostrando
as possibilidades de prticas em ambientes variados, externos (Quadro 1) e ambientes
internos alternativos (Quadro 2).
O cenrio encontrado condizia com o relatado na pesquisa de Luguetti, Dantas,
Nunomura e Bohme (2013), nas quais indicam que os professores/tcnico das escolas
pblicas relataram condies inadequadas das instalaes e dos materiais.
Quadro 1: Algu-
mas atividades
desenvolvidas
em ambiente
externo.
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Quadro 2: Algu-
mas atividades
desenvolvidas em
ambientes inter-
nos alternativos.
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Os professores supervisores se deslocavam at as escolas para orientar as aulas
que estavam sendo realizadas (Quadro 3).
No primeiro ano do projeto, os acadmicos prepararam as equipes com dez
meninas para participarem da Copa UEL de Ginstica Artstica e do TORNESCOLON
no Ginsio de Esportes Moringo (Figura 1 do Quadro 4).
Nos anos subsequentes, os discentes treinaram as crianas para participarem
da Copa UEL de Ginstica Artstica e do Festival Recreativo de Ginstica Artstica
(Figuras 2 e 3 do Quadro 4), eventos realizados nas dependncias do Centro de Edu-
cao Fsica e Esportes. Os eventos foram promovidos pela Universidade Estadual
de Londrina com o apoio da Fundao de Esportes, Ncleo Regional de Educao e
Associao Londrinense de Ginstica Artstica.
Quadro 3: Orien-
tao dos profes-
sores supervisores
nas atividades
propostas.
131
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Volume 1, nmero 1
Os eventos supracitados consistiram na competio por meio de sries de solo
compostas de coreografa e elementos obrigatrios organizados de acordo com a com-
petncia individual (Figuras 4 e 5 do Quadro 5).
Quadro 4: Even-
tos realizados en-
volvendo acad-
micos e crianas
do projeto.
Quadro 5: Srie
de solo e premia-
o.
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Todos os participantes da Copa UEL de Ginstica Artstica, do TORNESCO-
LON e do Festival Recreativo receberam premiao pela sua participao no evento,
pois os eventos tiveram como objetivo principal a formao educacional das meninas
(Figura 6 do Quadro 5).
Durante os trs anos de funcionamento do projeto, houve o envolvimento de
28 professores da rede estadual de ensino, cinco docentes da UEL, 28 escolas da cidade
de Londrina e Regio Metropolitana, 184 acadmicos dos cursos de Licenciatura em
Educao Fsica e Bacharel em Cincia do Esporte (atualmente, curso de Esporte) e
700 crianas envolvidas (Grfco 1).
CONSIDERAES FINAIS
A ginstica artstica, por sua caracterstica e riqueza de movimentos, ensina
a criana/aluno/atleta a enfrentar as difculdades, a superar e a sentir o prazer de
superao, contribuindo com o desenvolvimento das capacidades motoras, com a
coragem e a participao em grupos, pois mesmo sendo um esporte individual, as
crianas necessitam de ajuda mtua para a aprendizagem dos movimentos. Assim,
os professores e/ou treinadores devem programar e estabelecer condies de prtica
que proporcionem maior probabilidade de desempenho bem-sucedido em situaes que
requerem as habilidades que esto sendo aprendidas.
A partir das experincias apresentadas, conclui-se que o projeto desenvolvido
junto aos acadmicos de Educao Fsica e Esporte do Centro de Educao Fsica e
Esporte da Universidade Estadual de Londrina atingiu seus objetivos, pois colocou os
acadmicos para inter-relacionar o programa da disciplina do curso com a realidade do
ambiente escolar e melhorar a condio das crianas com um objetivo (apresentar os
contedos aprendidos/ensinados nos eventos realizados durante o processo).
Visto que o ensino das habilidades da ginstica artstica deve estar voltado
para um determinado fm, seja este uma competio ou mesmo uma apresentao, as
habilidades devem ser treinadas com a fnalidade de melhorar a capacidade da criana
de desempenh-las em situaes futuras.
Grfco 1:
Nmero de
pessoas e
instituies
envolvidas
no projeto de
extenso.
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<informar endereo da pgina eletrnica consultada>. Acesso em: informar
a data do acesso.
Recebido em: 5 abr. 2013.
Aceito em: 1 jul. 2013.
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A ampliao das fronteiras do acesso Justia: em foco o Projeto Direito
Perto de Casa
1
______________________________________________
Paula Daniella Almeida Castro
2
RESUMO
O presente artigo apresenta uma anlise das atuais fronteiras do acesso justia na
cidade de Juazeiro-BA, a partir de um estudo monogrfco de campo que teve como
locus o Projeto de Extenso Acadmica Direito Perto de Casa. A pesquisa seguiu o se-
guinte problema: em que medida o Projeto Direito Perto de Casa amplia as fronteiras
do acesso qualitativo justia na cidade de Juazeiro-BA? E teve como objetivo geral
verifcar quais as difculdades e possibilidades enfrentadas pelo Projeto. O referencial
terico circundou os estudos de: Baumann (2003), Foucault (2005), Cappelletti e Barth
(1988), na rea da Sociologia, alm de Silva (2008) e Lenza (2009), toricos do Direito
Constitucional. O estudo constituiu-se em uma pesquisa descritiva, com enfoque quali-
quantitativo. Como resultados verifcou-se que o Projeto amplia o acesso qualitativo
justia, por outro lado apresenta as seguintes difculdades: a carncia de recursos
materiais, a falta de capacitao tcnica dos estagirios e a no execuo da Assessoria
Jurdica.
Palavras-chave: Acesso justia; Igualdade; Legitimidade popular.
Expansion of the access to Justice frontiers: focus on the Project Direito Perto de Casa
ABSTRACT
This paper presents an analysis of the current access to justice boundaries in Juazeiro
(in the state of Bahia), from a monographic feld study that had as locus the Extension
Academic Project Law Near Home. The research followed the following problem: how
the Project Law Near Home expands the boundaries of qualitative access to justice
in Juazeiro City? It aimed to verify what the diffculties and opportunities faced by
the project are. The theoretical studies circled Baumann (2003), Foucault (2005),
Cappelletti and Barth (1988), in the feld of Sociology, in addition to Silva (2008) and
Lenza (2009), Constitutional Law theorists. The study was based on a descriptive study
with qualitative and quantitative approach. The results showed that the qualitative
project expands access to justice, on the other hand has the following problems: the
lack of material resources, lack of technical skills of trainees and non-execution of the
Legal Advice.
Keywords: Access to justice; Equality; Popular legitimacy.
1
Texto produzido
a partir do estudo
monogrfco
realizado como
Trabalho de Con-
cluso de Curso
(TCC) no curso de
Direito realizado
na Universidade
do Estado da
Bahia (UNEB).
2
Bacharela em
Direito pela
UNEB; Analista
Tcnica da De-
fensoria Pblica
do Estado da
Bahia, lotada na
cidade de Salva-
dor.
pauladaniella.
ac@gmail.com
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3
Disponvel em:
http://www.ibge.
gov.br/cidadesat/
painel/painel.
codmun=291840.
Acesso em: maio
2013.
INTRODUO
O presente artigo apresenta o resultado da pesquisa monogrfca que analisou
as atuais fronteiras da busca pela democratizao do acesso justia na cidade de
Juazeiro-Bahia. A pesquisa revelou-se sob a forma de estudo de campo e teve como
locus o espao no qual executado o Projeto de Extenso Acadmica intitulado Direito
Perto de Casa, em execuo desde julho de 2011, com atividade permanente na sede
dos Centros de Referncia e Assistncia Social (CRAS) dos bairros: Kid, Malhada da
Areia, Tabuleiro, Itaberaba e Joo Paulo II.
O Projeto Direito Perto de Casa foi idealizado por alunos do curso de Direito
da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus III, que na poca cursavam o
terceiro semestre, e ampliado pelo professor coordenador do Ncleo de Prtica Jurdica
(NPJ) desse Departamento, atual coordenador da atividade.
Situada no estado da Bahia, no semirido baiano da regio Nordeste, a cidade
de Juazeiro conta com uma populao de 197.965 habitantes
3
, sendo estes distribudos
no centro da cidade, em bairros perifricos e na zona rural. O municpio conta com
algumas iniciativas voltadas democratizao do acesso justia, sendo as principais:
a Defensoria Pblica Estadual, assistentes jurdicos municipais e o Ncleo de Prtica
Jurdica (NPJ) da UNEB Campus III, nica Universidade a oferecer o curso de
Direito.
Entretanto, em que pese cidade dotar-se de todos esses aparatos jurdicos,
percebeu-se a necessidade de que referidas aes se adequassem realidade social da
populao mais carente, a qual habita bairros distantes do centro da cidade, aspec-
to que difcultava o acesso justia e representava verdadeiro bice construo da
cidadania. Nesse sentido, entendeu-se a importncia do trabalho desenvolvido pelos
ncleos de atendimento do Projeto Direito Perto de Casa, consistente em aproximar as
prticas jurdicas das pessoas com menor poder aquisitivo.
A anlise perseguiu a seguinte problemtica: em que medida o Projeto Direito
Perto de Casa amplia as fronteiras do acesso qualitativo justia na cidade de Juazei-
ro-BA? Diante do problema materializado, o estudo perseguiu o objetivo geral de ve-
rifcar as difculdades e possibilidades enfrentadas por estagirios, coordenador e cida-
dos atendidos pelo Projeto. Entre os objetivos especfcos, foram elencados: identifcar
quais as principais possibilidades e barreiras encontradas pelo Projeto, considerando
os seguintes aspectos: divulgao, legitimidade popular e efccia; investigar o impacto
do Projeto junto comunidade; reconhecer os pontos de aproximao entre a base te-
rica e a vivncia dos estagirios no locus de atuao.
O tema pesquisado demonstrou ntima relao com o Direito Constitucional
e com a Sociologia Jurdica, razo pela qual todo o arsenal terico tomou como base
clssicos dessas duas disciplinas, a exemplo dos estudos realizados por Jos Afonso
da Silva (2008) e Pedro Lenza (2009), expoentes constitucionalistas, e dos socilogos:
Baumann (2003), Bourdieu (1989), Foucault (2005), Boaventura Santos (1999), Max
Weber (2001), alm de Cappelletti e Garth (1988).
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O PROJETO DIREITO PERTO DE CASA: FERRAMENTA DE
DEMOCRATIZAO DO ACESSO JUSTIA
A Constituio Federal de 1988 elevou o acesso justia categoria de direito
fundamental. No referido texto, encontram-se a base principiolgica, representada pelo
principio da igualdade - reconhecido pelo caput do art. 5. - e o fundamento normativo
do acesso justia, constante do inc. LXXIV do mesmo artigo, in verbis: O Estado
prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insufcincia de
recursos, na forma do art. 5., inc. LXXIV. Esse fundamento normativo apresenta
direta relao com a atuao das Defensorias Pblicas dos Estados e da Unio.
Isso porque, referida instituio se confgura no pas como o principal instrumento
garantidor do acesso gratuito e inafastvel ao judicirio. A ela compete, por excelncia,
orientar e defender em todos os graus, as partes que aleguem insufcincia de recursos.
Entretanto, a realidade da Defensoria Pblica brasileira muito se distancia
do ideal constitucional. Dada referida defcincia, outras instncias incumbem-se da
responsabilidade de garantir o acesso justia aos mais necessitados, embora enfrentem
semelhantes problemas, a exemplo dos servios jurdicos vinculados ao Poder Pblico
Municipal, dos ncleos de assistncia jurdica mantidos por Universidades e Faculdades
em todo o pas, e de projetos sociais voltados prestao de assistncia aos cidados
desprovidos de recursos.
Ocorre que apesar da atuao de outras instituies na busca pela democratizao
do acesso justia, uma srie de obstculos continuam a distanciar o cidado mais
carente dos ambientes de prestao jurdica. Para Santos (1999, p. 170-171), a
distncia dos cidados em relao administrao da justia tanto maior quanto
mais baixo o extrato a que pertencem. Dentre esses obstculos, merecem destaque:
terminologia; localizao; preconceito; baixa autoestima; fronteiras invisveis, como
fruns e tribunais, territrios onde se desenvolve um jogo de foras simblicas.
Com efeito, no h dvidas de que o Direito a forma por excelncia do discurso
dominante, razo pela qual representa a expresso pura do poder simblico que cria
realidades, grupos, efeitos. Da mesma forma, o exerccio das prticas e dos discursos
jurdicos envolvidos na prestao do acesso justia no se trata de construo aleatria,
mas de produto de relaes de fora especfcas e da lgica interna do universo jurdico.
Conforme leciona Bourdieu, a ao jurdica encontra-se inserida em um universo
composto por um conjunto de relaes objetivas e de poder, espao no qual prevalecem
relaes sociais complexas abalizadas pelos interesses dos agentes dominantes:
O campo judicial o espao social organizado no qual e pelo qual se opera a transmutao
de um confito direto entre partes diretamente interessadas no debate juridicamente
regulado entre profssionais que atuam por procurao e que tem de comum o conhecer
e o reconhecer da regra do jogo jurdico [...] Entrar no jogo, conformar-se com o Direito
para resolver o confito, aceitar tacitamente a adoo de um modo de expresso e
de discusso que implica a renncia violncia e s formas elementares da violncia
simblica (BOURDIEU, 1989, p. 229).
A pesquisa revelou que, desse contexto de obstculos ao acesso justia, surge
a importncia do Projeto de Extenso Acadmica Direito Perto de Casa, cuja ativi-
dade tem como objetivo central proporcionar a democratizao desse acesso aos mais
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necessitados, como estratgia para amenizar o dfcit social provocado pela m estru-
turao das Defensorias e de outras instituies que, a rigor, deveriam prestar ditos
servios com qualidade. Importante destacar aqui que o sentido de acesso justia vi-
sualizado pelo Projeto tem em vista a promoo do direito igualdade de informao
e de atendimento jurdico.
Atualmente, o Projeto Direito Perto de Casa conta com 15 estagirios,
divididos em cinco grupos, cada um com trs componentes, entre os quais um o
lder. Os acadmicos desempenham suas atividades na sede dos Centros de Referncia
e Assistncia Social (CRAS) dos cinco bairros atendidos, a saber: Kid, Malhada da
Areia, Tabuleiro, Itaberaba e Joo Paulo II, escolhidos como espao para a execuo
pelo fato de apresentarem expressiva parcela da populao com baixos ndices de
desenvolvimento social.
OS ASPECTOS METODOLGICOS DO ESTUDO
A pesquisa percorreu as seguintes etapas: fchamento dos marcos tericos que
tratam da democratizao e do acesso justia; entrada no campo, para a coleta e anlise
de protocolos de atendimentos; entrevistas a estagirios, usurios e ao coordenador do
Projeto; anlise e tabulao dos dados; consideraes fnais e reviso do texto. Em face
disso, deu-se preferncia anlise de dados e relatos concretos, obtidos no prprio locus
onde se desenvolve o Projeto que constitui o foco da anlise. Para tanto, as entrevistas
foram realizadas pessoalmente pela pesquisadora, durante o ms de janeiro de 2012,
nos locais onde os entrevistados prestavam/recebiam atendimento.
Foram sujeitos focais do estudo: 9 (nove) estagirios, 9 (nove) cidados
moradores dos bairros onde os servios so prestados, e 1 (um) professor na condio de
coordenador do projeto de extenso. Os estagirios entrevistados cursavam o 4., 6.,
8. e 10. perodos do curso de Direito. No trabalho preferiu-se identifcar os estagirios
como E1, E2, E3, E4 e E5, e o coordenador como C, para respeitar a identidade dos
sujeitos. Importante ressaltar que os cidados assistidos pertenciam, em sua maioria,
classe C.
A anlise dos dados e das entrevistas revestiu-se de carter qualitativo, sem,
porm, desprezar os dados qunticos por entender que a linguagem numrica tambm
traduz carga signifcativa.
A anlise documental lanou o olhar sobre os protocolos de registro de
atendimento, os quais evidenciaram que as questes cveis, em especial a ao de
alimentos, so as principais demandas atendidas pelos estagirios, fato determinado
pelas condies socioeconmicas da populao-alvo da iniciativa, com alto ndice de
gravidez precoce e no planejada.
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RESULTADOS E DISCUSSES
OS AVANOS E ENTRAVES DO PROJETO SOB
A TICA DOS ESTAGIRIOS
Os estagirios foram unssonos ao considerar como de grande a importncia a
realizao do Projeto para a populao atendida. Perguntados sobre a importncia dos
servios desempenhados nos ncleos de atendimento, os acadmicos assim comenta-
vam:
Eu acho que se no tivesse esse servio aqui, muita gente no teria o acesso que tem hoje.
Porque so pessoas que no tem a mnima condio mesmo. No tem nem condio nem
instruo de ir buscar. (E1)
A insero de ncleos de atendimento do Projeto nos bairros mais pobres da
cidade partiu da premissa de que a justia um bem comum, ao qual todos devem ter
acesso. A condio econmica dos usurios do Projeto e o fato de residirem em bairros
afastados do centro da cidade - onde se localiza boa parte dos rgos jurdicos - impede
que esses cidados se desloquem na busca de atendimento especializado. Em verdade,
os indivduos chegam aos centros de atendimentos aprisionados pelo temor e pela
sensao de inferioridade. Alm da indisponibilidade de recursos para a conduo at o
centro da cidade, percebeu-se o desconhecimento em relao existncia e localizao
dos rgos jurdicos. No raro, chegavam sem saber onde requerer uma certido de
nascimento ou divrcio. Nessa ordem, o Projeto ganha importncia na medida em que
se insere na comunidade onde vive o assistido, o que diminui sobremaneira a barreira
fsica que separa esse cidado do mundo jurdico.
Os relatos dos estagirios apontaram ainda que a atuao no Projeto Direito
Perto de Casa contribui para o fortalecimento da conscincia social e da sensibilidade
neles prprios, futuros operadores do Direito. Evidenciaram tambm o aprimoramen-
to tcnico dos acadmicos, os quais desempenham ali funes tpicas da profsso de
advogado, como peticionar, participar de audincias e prestar orientaes especfcas,
sempre orientados por bacharis em Direito.
Por outro lado, o Projeto enfrenta entraves. As respostas dos entrevistados per-
mitiram traar o seguinte grfco quantitativo:
Como se percebe, a estrutura desponta como principal difculdade, na viso dos
estagirios, seguida da logstica e da divulgao e, por ltimo, dos limites de conheci-
mento.
Grfco 1 prin-
cipais difculda-
des enfrentadas
para a execuo
do projeto Direi-
to Perto de Casa.
Dados obtidos
em entrevistas
aos estagirios
entre os meses de
janeiro e fevereiro
de 2012.
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A pesquisa lanou ainda o olhar para as ferramentas materiais e humanas
envolvidas nas atividades dos ncleos de atendimento. Relativamente s ferramentas
essenciais para o atendimento, percebeu-se de pronto a falta de computadores, embora
solicitados s instncias administrativas da Universidade desde a apresentao primeira
do Projeto. O oramento previa a compra de 5 (cinco) notebooks e de 5 (cinco) pen drives,
a serem distribudos entre os grupos. Traduzindo-se em valores atuais de mercado, a
compra desses produtos representaria hoje um gasto mdio de R$ 6.000,00 (seis mil
reais), quantia possvel aos cofres da instituio, dada a importncia do Projeto. Faltam
tambm: papel, modem de acesso internet, impressoras. As atividades tm sido
prestadas independentemente de uma estrutura material adequada, o que repercute
em prejuzo qualidade do servio, sobretudo em razo da demora para a consulta de
processos, e impresso de peas processuais. Os relatos dos estagirios confrmam que
essa situao ameaa a confana e a legitimidade atribuda pela populao ao Projeto.
Tambm foi ntida a carncia de recurso humano especializado, a saber:
advogados para supervisionarem a atuao dos estagirios. Quando da visita a
campo havia apenas um advogado supervisor responsvel pela atuao do Projeto
4
. O
desempenho desse profssional foi alvo das principais criticas por parte dos estagirios
entrevistados. o que se depreende do relato a seguir:
A gente precisava de um apoio maior do ncleo para corrigir nossas peties, para tirar as
dvidas e, de certa forma, at para levar um pouquinho mais a srio a faculdade. [...] Ter
um advogado que comparea, que no deixe a gente na mo. (E5)
Como se v, a atuao do advogado supervisor ponto que merece melhor ava-
liao da coordenao, haja vista o prejuzo causado ao desempenho das atividades.
Felizmente, os acadmicos recebem o apoio de discentes da Universidade vinculados
ao Ncleo de Prtica Jurdica (NPJ), os quais prestam orientaes tcnicas e corrigem
peties, quando solicitados. Segundo informaram alguns estagirios, o contato com
esses profssionais extremamente til e esclarecedor, contudo, ocorre apenas algumas
vezes por ms, razo pela qual no torna prescindvel a assistncia do advogado super-
visor, que deveria ser diria.
Nesse sentido, a contratao de profssional de advocacia pela Universidade
mais uma entre as previses constantes do Projeto original que no foram atendidas
pela Instituio. poca das visitas a campo, o Projeto no contava com advogado
contratado especifcamente para supervision-lo, mas com servidor dos quadros do
Ncleo de Prtica Jurdica (NPJ) que prestava assistncia ao Projeto, dada a identidade
de atribuies. Nesse especial, no restam dvidas de que admitir a prestao desse
servio de forma inassdua como tem sido, colocar em risco a efccia trabalho
desenvolvido pelo Projeto.
No que se refere divulgao do Projeto, o coordenador tambm informa
que iniciativas nesse sentido foram levadas a cabo pelos prprios estagirios,
atravs de cartazes distribudos nos bairros atendidos, e pelos profssionais do
CRAS, os quais informaram pessoalmente aos cidados atendidos acerca do
atendimento jurdico ali prestado. Assim diz o coordenador: foram distribudos
cartazes, panfetos, porque a gente no podia ir nem para a TV nem para o Rdio,
porque no temos o convnio com a Prefeitura. Em todos os postos h avisos.
4
Segundo
informao
de estagiria
atualmente
vinculada ao
Projeto, at
hoje h apenas
um advogado
responsvel pelas
atividades dos
cinco polos de
atendimento.
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Nota-se, assim, que de todo modo, a divulgao efcaz do Projeto atitude impres-
cindvel para que a iniciativa logre alcanar seu objetivo maior, a saber: fortalecer a
cidadania das comunidades carentes de Juazeiro-BA.
No que tange logstica de atuao do Projeto, importante apoio do
Departamento de Tecnologia de Cincias Sociais (DTCS) do campus universitrio,
o qual disponibiliza um micro-nibus para conduzir os estagirios at as sedes dos
CRAS. O veculo, guiado por motoristas da instituio, toma os estagirios em pontos
estratgicos da cidade no incio da manh, leva-os at os cinco bairros atendidos e os
conduz de volta aos mesmos pontos ao fnal do expediente.
Importante esclarecer que a iniciativa da Universidade em disponibilizar o
nibus para o Projeto decorre de mera liberalidade da diretoria do Campus - j que
os estagirios recebem auxlio-transporte. De qualquer forma, mostra-se louvvel, na
medida em que garante a segurana dos estagirios, levados para bairros com altos
ndices de violncia. A crtica dos estagirios recai sobre a falta de escala organizada entre
os motoristas que conduzem o veculo, e de fscalizao em relao ao cumprimento dos
horrios marcados, o que repercute em rotineiros atrasos na partida para os bairros:
No um problema, uma soluo. Se no fosse o nibus da UNEB, era difcil. Eu nunca
viria para o Joo Paulo de nibus, nunca na minha vida! Muitas vezes a gente vem com
computador, eu no teria coragem de trazer meu computador, nunca. (E2)
Outra coisa tambm, que acontece no setor de transporte : sabe-se da quantidade de
estagirios [...], mas tavam indo buscar a gente num carro pequeno, numa ranger, para dar
oito ou nove pessoas. (E1)
Conforme se verifcou, em que pese as difculdades enfrentadas no transporte, a
relao entre motoristas e estagirios amigvel e facilitadora.
Questionados se enfrentam difculdades em razo da falta de domnio de
contedos abordados nos atendimentos, a maioria dos estagirios, acadmicos cursando
entre o 4. e o 10. perodo de Direito, no consideraram a falta de conhecimento como
difculdade relevante para a execuo do Projeto. o que se percebe do relato a seguir:
A falta de conhecimento no problema, porque a gente s trabalha com direito de
famlia [...] Os casos que a gente pega aqui so simples. (E1)
Ocorre que apesar de ser fcil a familiarizao com os conhecimentos ali
tratados, a inexistncia de capacitao adequada constituiu grande equvoco da
implementao do Projeto, pela razo lgica de que qualquer trabalho a ser iniciado
depende da preparao de seus executores.
Por ltimo, valioso acrescentar que a verso original do Projeto Direito Perto
de Casa previa, em paralelo prestao da Assistncia Jurdica, vertente que rece-
beu maior apreciao neste trabalho, a execuo de atividades voltadas Assessoria
Jurdica, descrita como: palestras informativas; divulgao do Projeto com materiais
expositivos direcionados a pblicos de diferentes faixas etrias; apresentaes ldicas
para o pblico infantil e debates provocantes para os adolescentes, no intuito de des-
pertar-lhes para seus deveres e direitos enquanto atores sociais.
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Com efeito, oferecer informao e, eventualmente, ajuizar aes a partir do
apelo dos usurios atendidos so atividades de extrema importncia, mas insufcientes
para o fortalecimento da cidadania, inclusive entre aqueles que no se dirigem aos po-
los de atendimento, mas que residem na comunidade atendida. Os cidados precisam
entender, inclusive, quais foram as circunstncias sociais e histricas determinantes
para que eles buscassem informao ou assistncia nesses centros e no em escritrios
de advocacia. Outra grande vantagem da assessoria jurdica seria corroborar com o
enfraquecimento da cultura do litgio, que condiciona o pensamento dos cidados para
a necessidade do ajuizamento de aes para a resoluo de lides que, muitas vezes, po-
deriam ser solucionadas atravs de simples conciliaes ou acordos amigveis.
A VISO DA POPULAO BENEFICIADA
Como resultado do questionrio aplicado a nove moradores das comunidades
atendidas pelo Projeto, obteve-se os seguintes dados:
Como visto, foi unnime entre os cidados atendidos pelo Projeto a opinio
de que sentiram segurana nas informaes prestadas e que fcaram satisfeitos com
a orientao ou com o xito da ao ajuizada. Assim, tomado um universo de seis ci-
dados entrevistados, dos quais trs buscaram atendimento no Projeto e trs outros
foram atendidos nos demais centros de atendimento, obteve-se a seguinte tabulao de
dados demonstrativa do nvel de satisfao desses dois grupos:
Tabela 1: respos-
tas dos cidados
ao questionrio
aplicado. Respos-
tas do universo de
nove cidados en-
trevistados pela
pesquisadora nos
bairros atendidos
pelo Projeto.
Grfco 2 com-
parativo da
satisfao do
cidado atendido.
Dados obtidos
pela pesquisadora
em entrevista a
seis cidados nos
bairros atendidos
pelo Projeto.
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Na via oposta, entre os trs cidados que j haviam buscado atendimento em
outro lugar, a exemplo da Defensoria Pblica, Servio de Atendimento Judicirio
(SAJ), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), apenas um mostrou-se satisfeito,
sendo que dois consideraram o servio ali prestado mediano ou ruim, fato que demons-
tra o alto ndice de reprovao dos demais rgos locais voltados assistncia jurdica.
Importante observar tambm que dos quatro cidados que disseram saber da existn-
cia do projeto, trs buscaram o atendimento dos estagirios, o que signifca que a ca-
rncia / necessidade de assistncia jurdica gratuita e prxima expressiva. Destarte,
pode-se afrmar que, de uma forma geral, o projeto conquistou legitimidade popular.
CONSIDERAES FINAIS
Relevante ressaltar que no contato com o locus o que mais assustou no foi
a situao de misria da populao, mas a carncia de informao e de noes de
cidadania por parte daquele povo. Carncia esta, alis, muito maior do que imaginaram
os acadmicos, quando da elaborao do Projeto. Foi inspirador perceber o afnco com
que desempenham suas atribuies os estagirios, jovens que iniciam suas carreiras
carregando com eles to importante compromisso social: o de incitar a busca por
direitos em cidados que esto e que se percebem margem do ordenamento ptrio.
A produo dos dados coletados apontou as principais possibilidades e barreiras
encontradas para execuo do Projeto. Dentre as barreiras detectadas, a carncia de
recursos materiais - como computadores, impressora e internet mvel - so os maiores
entraves s atividades, seguido pela falta de adequada assistncia tcnica por advogado.
A pesquisa revelou que a postura da UNEB em relao dotao de recursos
materiais para a iniciativa extensionista demonstra descaso, situao que repercute na
qualidade da prestao do servio. No obstante, possvel afrmar que o Projeto se
demonstra efcaz no atual cumprimento de suas atividades, em especial, no que se refere
prestao de orientao jurdica de qualidade, no que se reconhece o compromisso
e o empenho dos acadmicos, verdadeiros promotores da cidadania nos bairros, e ao
mesmo tempo, grandes benefciados pelo aprendizado e amadurecimento pessoal. A
legitimidade popular inquestionvel tomando-se por base os relatos dos cidados
entrevistados e, principalmente, as expresses de confana notadas pela pesquisadora
no olhar de cada um deles, quando da visita aos polos de atendimento.
Por fm, a pesquisa realizada permite afrmar que o Projeto Direito Perto de
Casa cumpre com seu dever de ampliar de forma qualitativa o acesso justia entre as
populaes atendidas. Ele constitui instrumento de mudana, de igualizao; simbo-
liza a aplicao prtica do ideal de isonomia, na medida em que prope uma quebra
da tendncia geral segundo a qual ser hipossufciente sinnimo de no ter direitos.
Representa, sobretudo, sinal de esperana para uma parcela da populao que se acha
s margens da justia, encorajando-a a buscar direitos, a esclarecer dvidas, a se infor-
mar, enfm, a exercer a cidadania.
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
COMO CITAR ESTE ARTIGO:
CASTRO, Paula Daniella Almeida. A ampliao das fronteiras do
acesso justia: em foco o Projeto Direito Perto de Casa. Extramuros,
Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 134-143, jan./jul. 2013. Disponvel em:
<informar endereo da pgina eletrnica consultada>. Acesso em:
informar a data do acesso.
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Jurdica. 2. ed. So Paulo: Pioneira, 2001. p. 22-24.
Recebido em: 20 maio 2013.
Aceito em: 5 jul. 2013.
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Integrao e Formao em Letras Portugus e Ingls
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Didi Ana Ceni Denardi
1
Amanda Jacobsen de Oliveira
Agradecemos aos Professores de Lnguas Portuguesa e Inglesa do Curso de Licenciatura
em Letras Portugus-Ingls da Universidade Tecnolgica do Paran que colaboram com o
Programa de Extenso de que trata este artigo.
Dedicamos o artigo aos Professores de Lnguas Portuguesa e Inglesa em formao
inicial e continuada do Sudoeste do Paran.
RESUMO
Este artigo tem por objetivo apresentar o Programa de Extenso Integrao e Forma-
o em Letras Portugus e Ingls do Curso de Licenciatura em Letras Portugus-Ingls
da Universidade Tecnolgica Federal do Paran (UTFPR), Cmpus Pato Branco, cuja
fnalidade contribuir para a formao docente inicial e continuada de professores
de Lnguas Portuguesa e Inglesa, bem como para o processo de ensino-aprendizagem
de Lnguas na Educao Bsica da regio sudoeste do Paran. Especifcamente, bus-
ca-se descrever a trajetria do Programa, com incio em maro de 2012, suas aes e
possveis contribuies at o presente momento, bem como instigar a refexo sobre a
formao de professores de Lnguas Portuguesa e Inglesa.
Palavras-chave: Programa de extenso; Parceria universidade-escola; Curso de Letras/
UTFPR Cmpus Pato Branco; Formao de professores; Ensino-aprendizagem de
Lnguas Portuguesa e Inglesa.
Extension program: Integration and Education in Portuguese and
English Language Teaching
ABSTRACT
The aim of this text is to present the Extension Program Integration and Education
in Portuguese and English Language Teaching of the Letters Course at the Federal
University of Technology of Paran on Pato Branco Campus, which the main
objective is to contribute to the Portuguese and English teacher education, as
well as to the teaching and learning process improvement on Basic Education
in the Southwest region of Parana. Specifcally, the text tries to describe the
trajectory of the Program, which started in 2012, developed actions and activities
and to discuss its possible contributions until the present moment, as well as to
provoke some pieces of refection on Portuguese and English Teacher Education.
Keywords: Extension program. University-school partnership; Letters Course/
UTFPR Pato Branco Campus; Teacher education; Portuguese and English teaching
and learning process.
1
Doutora em
Letras-Ingls
pela Universidade
Federal de Santa
Catarina (UFSC).
Professora da
Universidade
Tecnolgica
Federal
do Paran
(UTFPR),
Cmpus
Pato Branco.
Coordenadora
do Programa de
Extenso.
didiedenardi@
gmail.com
2
Acadmica
do Curso de
Licenciatura
em Letras
Portugus-Ingls
da UTFPR,
Cmpus Pato
Branco. Bolsista
do Programa de
Extenso.
amandajacob-
sen.o@gmail.com
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CONSIDERAES INICIAIS
No Programa de Extenso a ser aqui apresentado encontra-se o esforo de pro-
fessores universitrios em reconhecer a extenso como parte do fazer acadmico, ou
seja, como um processo educativo, cultural e cientfco que articula o ensino e a pes-
quisa de forma indissocivel e viabiliza a relao transformadora entre a Universidade
e a Sociedade (BRASIL, 1987).
Nesse sentido, ancorados no quadro terico-metodolgico do Interacionismo
Sociodiscursivo (BRONCKART, 2003, 2008; CRISTOVO, 2007; CRISTOVO;
STUTZ, 2011; DENARDI, 2009, 2011; MACHADO, 2004), no Sociointeracioniosmo
(BAKHTIN, 2010; VYGOTSKY, 1978, 1986) e nos pressupostos do materialismo
histrico e dialtico (MARX, 2008), propomo-nos, neste trabalho, apresentar o
Programa de Extenso Parceria Universidade-Escola: Integrao e Formao de
Professores em Letras Portugus e Ingls
3
, em desenvolvimento, no Curso de Licenciatura
em Letras Portugus-Ingls da Universidade Tecnolgica Federal do Paran, Cmpus
Pato Branco. Especifcamente, busca-se descrever a trajetria do Programa, com incio
em maro de 2012, suas aes e possveis contribuies at o presente momento, bem
como instigar a refexo sobre a formao de professores de Lnguas Portuguesa e
Inglesa.
PROGRAMA DE EXTENSO: INTEGRAO E FORMAO DOCENTE
EM LETRAS PORTUGUS E INGLS
importante iniciar esta seo trazendo algumas informaes sobre o Curso de
Licenciatura em Letras Portugus-Ingls da UTFPR, Cmpus Pato Branco, e o cor-
respondente Estgio - embora de forma bastante generalizada devido ao espao deste
texto - bem como seu objetivo, uma vez que a prtica extensionista do Curso de Letras
surge e est vinculada ao Estgio Curricular Supervisionado do referido Curso.
O Curso de Licenciatura em Letras Portugus-Ingls da UTFPR, em vigor a
partir do segundo semestre de 2008, constitui-se de 8 semestres, com entrada semestral
de 44 alunos. No momento, o Curso j tem formado duas turmas de professores de
Lnguas Portuguesa e Inglesa. De acordo com o Regulamento do Curso, este tem como
objetivo
[...] formar profssionais para atuarem como docentes em Portugus e Ingls na Educao
Bsica com a possibilidade de optarem por outras reas profssionais ligadas tanto ao
ensino das lnguas portugus e ingls quanto ao trabalho como pesquisadores, crticos
literrios, tradutores, intrpretes, revisores de textos, roteiristas e assessores culturais
(Projeto Pedaggico do Curso de Licenciatura em Letras Portugus-Ingls da UTFPR,
Cmpus Pato Branco
4
).
3
O Programa de
Extenso Parce-
ria Universidade-
-Escola: Integra-
o e Formao
de Professores em
Letras Portugus
e Ingls encontra-
se registrado sob
o nmero 47/2012
no Departamento
de Extenso da
UTFPR, Cmpus
Pato Branco.
4
O Projeto
Pedaggico do
referido Curso
encontra-se
disponvel em:
<http://www.
utfpr.edu.br/
patobranco/
estrutura
universitaria/
diretorias/
dirgrad/
cursos/colet/
documentos/
normativas/
projeto-
pedagogico-
do-curso-de-
licenciatura-em-
letras-portugues-
ingles-da-utfpr
>. Acesso em: 18
jun. 2013.
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Em relao ao Estgio Curricular Supervisionado do referido Curso, constitu-
do por diferentes nveis, inicia-se a preparao para o Estgio no 5. Semestre, ou seja,
5. Perodo, conforme Regulamento de Estgio Curricular Supervisionado
5
e estrutu-
ra-se em uma carga horria de 400 horas-aula, sendo essas distribudas em 230 horas-
-aula para Lngua Portuguesa, com 50 horas-aula presenciais; e 170 horas-aula para
Lngua Inglesa, com 30 horas aula presenciais. As horas-aulas presenciais so usadas
para a observao de espao escolar e regncia de classe nos Ensinos Fundamental e
Mdio, enquanto que as horas-aulas no presenciais servem para estudo, planejamento
de aulas, confeco de relatrios parciais e fnal, preparao e socializao de estgios,
entre outras atividades afns.
Tendo, assim, uma noo geral do Curso em questo e de como seu Estgio se
organiza, passamos a apresentar o Programa de Extenso do Curso de Licenciatura
em Letras Portugus e Ingls da Universidade Tecnolgica Federal do Paran
(UTFPR), Cmpus Pato Branco, nomeadamente Programa de Extenso Universitria:
Integrao e formao docente em Letras Portugus e Ingls - cujo objetivo :
Promover a formao acadmica e docente inicial e continuada como meio de interveno
crtica sobre a realidade, bem como potencializar os resultados do processo de ensino-
-aprendizagem de lnguas portuguesa e inglesa, atravs da integrao do conhecimento
terico da esfera acadmica e do conhecimento prtico-pedaggico do mbito da atuao
na educao bsica, engajando-se em um durvel e dialtico processo de ao-pesquisa-a-
o (Programa de Extenso 47/2012- UTFPR, Cmpus Pato Branco).
Objetivando, assim, desenvolver aes conjuntas para a melhoria do processo
de ensino e aprendizagem das Lnguas Portuguesa e Inglesa, este Programa conta com
o apoio do Ncleo Regional de Educao (NRE) de Pato Branco-PR. Nessa parceria,
a UTFPR, Cmpus Pato Branco, atravs do Curso de Licenciatura em Letras Portu-
gus-Ingls, oferta seminrios formativos para professores das disciplinas de Lnguas
Portuguesa e Inglesa e para alunos estagirios do prprio curso, enquanto que o NRE
Pato Branco abre espao em suas escolas para o desenvolvimento de estgios curricu-
lares em Lnguas Portuguesa e Inglesa nos Ensinos Fundamental e Mdio
6
.
Em outras palavras, o Programa, que teve incio em maro de 2012, procura
estabelecer uma relao mais estreita e consolidada entre universidade e escola. Tal
demanda surgiu quando os primeiros estagirios do Curso de Letras iniciaram suas
atividades de Estgio Curricular Supervisionado de Observao do contexto escolar
e de aulas de Lnguas Portuguesa e Inglesa no segundo semestre de 2010 nas escolas
pblicas na regio sudoeste do Paran. Na ocasio, os alunos estagirios enfrentaram
(e ainda hoje enfrentam) difculdades para se inserirem nas escolas. Alguns dos
principais problemas relatados pelos estagirios nos seus relatrios de estgio referiam-
se ao/: a) receio manifestado por professores supervisores em relao avaliao de
suas aulas; b) baixo interesse das escolas e/ou professores em aceitar os acadmicos-
estagirios; c) difculdade de adaptao do Estgio ao calendrio e currculo escolar dos
estabelecimentos de ensino de Educao Bsica, dentre outros aspectos.
O quadro apresentado pelos alunos-estagirios revela que o estgio, em si, pa-
dece de certo descaso por parte de alguns professores-supervisores e de escolas conce-
dentes de estgio, embora o Estgio Curricular Supervisionado dos Cursos de Licen-
ciatura deva se constituir pelo desenvolvimento de atividades na escola resultantes
5
Em abril de
2012 houve a
aprovao da
reestruturao
do Estgio, na
qual houve uma
reduo de carga
horria de 700
horas para 400
horas sem deixar
de atender
legislao
vigente, isto , a
Resoluo CNE/
CP no. 2 de 19 de
fevereiro de 2002.
O Regulamento
de Estgio
Curricular
Supervisionado
encontra-se
disponvel em:
<http://www.
utfpr.edu.br/
patobranco/
estrutura-
universitaria/
diretorias/
dirgrad/
cursos/colet/
documentos/
normativas/
regulamento-
de-estagio-
curricular-
letras>. Acesso
em: 10 jan. 2013.
6
O termo
escola usado
neste artigo
com a acepo
instituio
escolar,
independente da
referncia escola
para ensino
Fundamental
e colgio para
Ensino Mdio.
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da aproximao dos estagirios com essa realidade, bem como pela interao e inter-
relao que se d nas esferas acadmica e escolar constituindo-as coparticipantes na
formao do futuro professor.
Nesse sentido, aes comuns e comprometidas desenvolvidas em parceria escola-
universidade so necessrias para a melhoria da formao docente, assim como para
a melhoria do ensino-aprendizagem de Lnguas Portuguesa e Inglesa na Educao
Bsica.
A TRAJETRIA, AES E CONTRIBUIES
A partir do fnal do ano de 2010, diferentes aes/atividades foram desenvol-
vidas na tentativa de amenizar as difculdades apresentadas pelos alunos no cumpri-
mento das tarefas de estgio, resultando assim na implantao e desenvolvimento do
programa. Entre essas atividades, podemos citar:
visitas formais s escolas pertencentes ao NRE Pato Branco pelas professoras
do Curso de Letras responsveis pelo Estgio no primeiro semestre de 2011. O objetivo
das visitas foi apresentar a estrutura do Estgio de Letras e os estagirios interessados
naquela escola, bem como argumentar sobre os papis da escola e da universidade
na formao de futuros profssionais da educao. Com essa iniciativa, foi possvel
estabelecer uma relao mais estreita entre as duas instncias de ensino e percebeu-se
uma melhor recepo aos acadmicos-estagirios nas escolas;
promoo de seminrios de socializao das experincias de ensino, por
professoras experientes de Lnguas Portuguesa e Inglesa das escolas parceiras, nas aulas
das disciplinas Metodologia e Prticas de Ensino de Lnguas Portuguesa e Inglesa -
alocadas nos 4 ltimos Perodos do Curso, no primeiro semestre de 2011. As professoras,
oriundas de diferentes escolas da regio sudoeste do Paran, expuseram projetos
signifcativos de leitura e escrita, desenvolvidos com alunos de Ensinos Fundamental
e Mdio, bem como expuseram suas difculdades e expectativas com relao ao ensino
de Lnguas. Os alunos de Letras, por sua vez, fzeram questionamentos e comentrios
sobre os projetos. Segundo alguns alunos, a troca foi de extrema importncia, uma vez
que propiciou-lhes entendimento de como se d realmente o ensino de lnguas na escola
pblica;
palestras ministradas pelas professoras responsveis pelas disciplinas de Ln-
guas Materna e Estrangeiras do Ncleo Regional de Ensino (NRE) de Pato Branco
sobre Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de Lnguas Portuguesa e Es-
trangeiras (PARAN, 2008), no primeiro semestre de 2011. Segundo depoimentos es-
pontneos dos acadmicos, foi possvel perceber a coerncia entre os contedos tericos
discutidos na universidade e os pressupostos tericos estabalecidos nos documentos
ofciais de ensino (PARAN, 2008);
evento cientfco e palestra: O papel do estgio como componente da formao
docente, em agosto de 2011. Participaram do evento os professores e alguns alunos do
Curso de Letras, bem como professores e diretores de escolas pblicas do NRE de Pato
Branco. Em um primeiro momento, a Professora Dr. Vera Lcia Lopes Cristovo, da
Universidade Estadual de Londrina/Paran (UEL), palestrou e conduziu a discusso
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sobre o tema do evento. Em um segundo momento, os professores e alunos-estagirios
presentes, relataram suas prticas, difculdades, preocupaes, anseios e expectativas
sobre o ensinoaprendizagem de Lnguas na Educao Bsica. Pode-se dizer que
Professores de Portugus e de Ingls, preocupam-se com: a) o interesse (ou falta de)
dos alunos para a aprendizagem de lnguas; b) a forma de agir dos estudantes em sala
de aula; c) os fatores e infuncias externas (positivas/negativas) na aprendizagem de
lnguas dos estudantes, entre outros aspectos. Especifcamente, os professores de Ingls
mostraram um grande anseio por se desenvolverem na funcia de Lngua Inglesa. Ao
fnal das discusses, chegou-se ao consenso sobre a necessidade de se buscar estreitar
relaes de trabalho entre a universidade e a escola, no sentido de se desenvolver aes/
atividades em prol de melhorias para a ao docente. Para efetivar essa relao, as
professoras coordenadoras do evento, apresentaram ao grupo a proposta de constituir
o Estgio Curricular Supervisionado do Curso de Letras em estgio como pesquisa,
conforme Pimenta e Lima (2011, p. 51) recomendam. Para tal, o Estgio precisaria
estar vinculado a um projeto maior, ou seja, a um Projeto de Extenso Parceria
Universidade-Escola, a ser elaborado na sequncia. A proposta foi prontamente
aprovada pelos presentes;
reunies entre o grupo, de professoras do Curso, diretores de escolas e equipe do
NRE de Pato Branco, estabelecimento de contrato de parceria universidade-escola de
agosto a dezembro de 2011, apresentao da proposta e cronograma de atividades para
o 1. semestre de 2012 aos professores de Lnguas Portuguesa e Inglesa da rede pblica
e aos acadmicos de Letras;
registro do projeto no Departamento de Extenso da UTFPR Cmpus Pato
Branco, que aps anlise, entendeu-se tratar-se no de Projeto e sim de um Programa
de Extenso, uma vez que este se constitui de diferentes projetos integrando teoria e
prtica e aes de extenso (como cursos, grupo de estudos, eventos), e, sendo assim,
alia pesquisa e ensino na formao inicial e continuada de professores de Letras Portu-
gus-Ingls, com um objetivo em comum: Educao Bsica de qualidade;
parceria universidade-escola: especifcamente, com relao parceria
estabelecida entre a UTFPR e o NRE, as Escolas responsabilizam-se pela oferta de
estgios curriculares em Lnguas Portuguesa e Inglesa nos Ensinos Fundamental e
Mdio, enquanto que ao Curso de Letras/UTFPR cabe responsabilizar-se pela oferta de
seminrios formativos para professores supervisores de estgio, de Lnguas Portuguesa
e Inglesa, das diferentes escolas de Educao Bsica do NRE Pato Branco, bem como
para alunos estagirios do Curso de Letras. Nesse sentido, cerca de 100 pessoas, dentre as
quais professores de escolas pblicas da regio sudoeste do Paran e alunos-professores
de Letras Portugus-Ingls da referida universidade tm participado do Programa.
Ainda o Programa conta com dez professores colaboradores e de diferentes subreas de
Letras Portugus e Ingls (por exemplo: Professores de Literaturas de Lngua Inglesa
e de Literaturas Portuguesa e Brasileira, Lngustica Aplicada ao Portugus e ao Ingls
e Formao de Profesores de Lnguas), uma aluna bolsista e uma aluna voluntria
(Edital PIBEXT-2012
7
).
oferta de seminrios formativos em fuxo contnuo (ver Anexo 1) para
grupo de Professores de Portugus e de Ingls, a partir de maro de 2012. O
Programa oferta seminrios formativos em duas modalidades: grupo de estudos e
ofcinas de Lngua Portuguesa e grupo de estudos e ofcinas de Lngua Inglesa,
7
A pgina da
Capes pode ser
acessada em:
<http://www.
capes.gov.br/>.
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cada qual com carga horria semestral de 100 horas-aula, tendo por fnalidade discutir
textos referentes relao teoria e prtica pedaggica e socializao das atividades dos
estgios e cuja avaliao corresponde a 75% de presena e entrega de trabalhos.
projetos de pesquisa: professores e acadmicos iniciaram projetos de pesquisas
cientfcas tendo como foco principal o ensino e aprendizagem de Lnguas Portuguesa
e Inglesa. A partir das pesquisas desenvolvidas, oito trabalhos na modalidade pster e
dois trabalhos na modalidade comunicao oral foram apresentados no II Seminrio de
Extenso e Inovao da UTFPR realizado em setembro de 2012 na UTFPR Cmpus
Curitiba;
mostra de Estgios do Curso de Letras a ser implementado a partir do segundo
semestre de 2013. O objetivo maior desse evento ser integrar e congregar professores
da comunidade local e regional, alunos-estagirios, alunos-formandos e professores
educadores num evento cientfco-acadmico, aberto comunidade, no qual os alunos-
estagirios formandos do semestre, bem como alunos egressos de Letras, juntamente
com os professores supervisores das escolas tero a oportunidade de mostrar os
trabalhos de estgio. Ainda, todos os participantes do Programa, bem como outros
professores de Lnguas podero discutir questes relacionadas ao ensino-aprendizagem
de Lnguas Portuguesa e Inglesa na Educao Bsica e tero espao para apresentar
resultados de suas pesquisas.
Em sntese, as aes e atividades, aqui relatadas, buscaram e buscam contri-
buir para o aperfeioamento tanto do conhecimento tcnico-cientfco nas diferentes
especifcidades das disciplinas de Portugus e Ingls, quanto do conhecimento prtico
docente (ELBAZ, 1981) atravs de estudos, pesquisas e refexes e, desta forma, pro-
mover o desenvolvimento do professor de Lnguas Portuguesa e Inglesa, comprome-
tendo-se com a construo permanente da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extenso.
A FORMAO DE PROFESSORES DE LNGUAS PORTUGUESA
E INGLESA: QUESTIONAMENTOS E REFLEXES
Este Programa tem sua importncia nas contribuies que oferece formao
inicial e continuada de professores e no processo ensino-aprendizagem das Lnguas
Portuguesa e Inglesa na escola vinculados ao Estgio Curricular Supervisionado,
uma vez que no Estgio que se d a aproximao dos estagirios realidade da
escola para que, a partir do arcabouo terico construdo na graduao, possam
refetir criticamente sobre a realidade de ensino, interferir na escola teorizando a
prtica docente a partir de atividades ali desenvolvidas, e, enfm, tornar o estgio uma
atividade instrumentalizadora da prxis docente, entendida como transformadora da
realidade (PIMENTA; LIMA, 2011, p. 45). Portanto, segundo Pimenta e Lima (2011,
p. 45), o estgio curricular atividade terica de conhecimento, fundamentao,
dilogo e interveno na realidade que, por sua vez, se torna possvel atravs da
interao e inter-relao que se d nas esferas acadmica e escolar constituindo-as
coparticipantes na formao do futuro professor.
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Por outro lado, sabe-se que muitos desafos devem ser enfrentados na conti-
nuidade de um programa como este, atravs de diferentes aes e atividades, na qual
o dilogo aberto entre as instncias universitria e escolar deve prevalecer em prol da
melhoria da qualidade da Educao Bsica.
Dessa forma, o Programa orienta-se numa perspectiva de formao do profes-
sor de Lnguas crtico-refexivo e professor pesquisador (PIMENTA; LIMA, 2011,
p. 51), no sentido de provocar os professores supervisores das escolas concedentes de
Estgio a buscar respostas s questes referentes Educao Bsica, dentre as quais
destacamos: Como quebrar paradigmas e passar de uma perspectiva lingustica para
uma perspectiva social-interacionista na aquisio/letramento de Lnguas Portugue-
sa e Inglesa? Que fatores internos/externos infuenciam a prtica pedaggica? Como
identifcar e buscar solues para os problemas concernentes s difculdades de apren-
dizagem e motivao para a aprendizagem de Lnguas Portuguesa e Inglesa? Como os
professores podem contribuir/ provocar aes para a melhoria da Educao Bsica?
J aos professores educadores do Programa, outras questes, igualmente de-
safadoras, devem permear seu agir no Programa, entre elas: Como motivar os profes-
sores a continuarem no Programa? Somente a capacitao de professores sufciente
para que tenhamos Educao Bsica de qualidade? O professor de Lnguas Portuguesa
e Inglesa de hoje tem sufciente preparo para atuar com os alunos na contemporanei-
dade? Que professores e alunos de lnguas queremos formar? Qual o papel social do
professor educador?
Em suma, entendemos que essas e outras questes podem contribuir para a
refexo concernente formao de professores de Lnguas Portuguesa e Inglesa
no sudoeste do Paran no sentido amplo do termo, ou seja, entendendo a refexo
colaborativa segundo pressupostos do movimento de professores-refexivos
(ZEICHNER; LISTON, 1996 apud PESSOA, 2003; PESSOA, 2003; GIMENEZ, 1999,
2004) como ao transformadora da realidade e promotora da igualdade social.
CONSIDERAES FINAIS
Retomando o objetivo deste artigo, procuramos aqui apresentar o Programa de
Extenso Integrao e Formao em Letras Portugus-Ingls do Curso de Licenciatura
em Letras Portugus- Ingls - da UTFPR, Cmpus Pato Branco, em parceria com o
NRE de Pato Branco, descrevendo sua trajetria, aes e possveis contribuies at o
presente momento.
importante ressaltar que quando se trata de educao em geral, e, em espec-
fco, de formao de professores, os resultados de aes, como as descritas neste artigo,
no so imediatos ou diretos, por isso, devemos ser persistentes e corajosos no enfrenta-
mento dos desafos assumidos, uma vez que acreditamos que a extenso universitria
pode contribuir para a melhoria da formao de professores e para a sociedade brasileira.
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- Revista de Extenso da Univasf
Volume 1, nmero 1
REFERNCIAS
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COMO CITAR ESTE ARTIGO:
DENARDI, Didi Ana Ceni; OLIVEIRA, Amanda Jacobsen de.
Integrao e formao em Letras Portugus e Ingls. Extramuros,
Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 144-152, jan./jul. 2013. Disponvel em:
<informar endereo da pgina eletrnica consultada>. Acesso em:
informar a data do acesso.
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UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN. Pr-reitoria de
Relaes Empresariais e Comunitrias. Regulamento de Programas e Projetos de Ex-
tenso da Universidade Tecnolgica Federal do Paran. 16 p. Disponvel em: <http://
www.utfpr.edu.br/estrutura-universitaria/pro-reitorias/prorec/diretoria-de-extensao/
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______. Language and thought. Cambridge-MA: The MIT Press, 1986. 283 p.
Recebido em: 6 maio 2013.
Aceito em: 8 jul. 2013.
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Volume 1, nmero 1
ANEXO 1
Atividades
do Programa
de Extenso:
Parceria
Universidade/
Escola Letras
UTFPR/NRE
Pato Branco
2012-1/2013.
Data/ Carga
Horria
rea Modalidade/Ttulo
Contedo Programtico
Ministrante
2012 - 1 50 h/a Ingls
Grupo de Estudos:
(Re)pensando a prtica
pedaggica 1
Reflexes sobre a prtica pedaggica.
Construo da identidade do professor de Lngua
Estrangeira.
O papel do professor de Lngua Estrangeira na escola
pblica.
Prof Dr Didi A.
Ceni Denardi
2012 - 1 50 h/a Ingls
Oficina:
Lngua Inglesa Atravs
do Texto Literrio
Compreenso de textos literrios e autores
angloffonos.
Atividades inovadoras e comunicativas com textos
literrios de Lngua Inglesa.
Prof. Dr. Gisele
G. Wolkoff
2012 - 1 50 h/a Portugus
Grupo de Estudos:
(Re)pensando a prtica
pedaggica - 1
Reflexes sobre a prtica pedaggica.
O papel do professor de Lngua Portuguesa na escola
pblica.
Construo da identidade do professor de Lngua
Portuguesa.
Prof. Dr. Mrcia
Andrea Santos
2012 - 1 50 h/a Portugus
Oficina:
Correo de Produo de
Texto
Correo Textual
Prof. Dr. Maria
Ieda A. Muniz
2012 - 2 50 h/a Portugus
Grupo de Estudos:
(Re)pensando a prtica
pedaggica 2
Continuidade temas trabalhados no Grupo de Estudos
-2012 (1)
Prof. Dr. Mrcia
Andrea Santos
2012 - 2 50 h/a Ingls
Grupo de Estudos:
(Re)pensando a prtica
pedaggica 2
Continuidade temas trabalhados no Grupo de Estudos
-2012 (1)
Prof Dr Didi A.
Ceni Denardi
2012 - 2 20h/a Portugus
Oficina:
Trabalho docente:
compreendendo seu agir
Trabalho docente
A sade e qualidade de vida do professor
Prof Dr
Siderlene Muniz
Oliveira
2012 - 2 10h/a Ingls
Oficina:
Compreenso de leitura
em uma perspectiva
sociocultural
Estratgias de leitura
Prof Esp. Maria
Lcia Villaa
2012 - 2 10h/a Portugus
Oficina:
Pressupostos do
materialismo histrico-
dialtico na formao do
profissional da educao
Bases do materialismo histrico-dialtico
Implicaes na formao do professor
Prof Dr Maria de
Lourdes Bernartt
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Data/ Carga
Horria
rea Modalidade/Ttulo
Contedo Programtico
Ministrante
2013-1
30 h/a
Portugus
e
Ingls
Ciclo de Palestras
Programa de Extenso do Curso de Licenciatura em
Letras da UTFPR Cmpus Pato Branco: trajetria e
expectativas
Prof. Dr. Didi
A. C. Denardi
(UTFPR)
O Estatuto da Criana e do Adolescente e o cotidiano
escolar na relao entre o instrumento jurdico em
foco e a atividade educacional
Professor Esp.
Jlio Csar
Lucchesi (Colgio
SESI Pato
Branco/PR)
Acuidade visual e aprendizagem na escola
Acadmico Dalton
Longhi
Os Pilares da Educao
Acadmico Paulo
S. Biesek
A obra literria no ensino de lngua portuguesa
Acadmicas
Priscila Chuarts e
Sabrina dos Santos
A construo do sobrevivente em Vida e poca de
Michael K.
Acadmica Thiana
N. Cella
2013-1 30 h/a Ingls
Oficina:
Escrita e identidade do
professor de Ingls
Conceitos de escrita; reflexo; de identidade; Relao
entre escrita, reflexo e identidade
Prof. Dr. Didi
A. C. Denardi
2013-1 20 h/a Ingls
Oficina:
Ensinando Lngua Inglesa
com Literaturas
Os gneros literrios narrativa de vida, romance,
conto e poesia
Prof. Dr. Gisele
G. Wolkoff
2013-1 20 h/a Portugus
Oficina:
O negro na literatura
discurso e representao
Importncia e contextualizao dos estudos Africano
e Afro-Descendente na Educao Contempornea,
sob as novas perspectivas do Ministrio da Educao.
O ensino da histria e cultura africanas e a questo
racial no Brasil.
A literatura negra africana e afro-brasileira, atravs
do romance, do conto, da poesia, entre outros.
Prof. Ma.
Rosngela
Marquezi
2013-1 20 h/a
Portugus
e Ingls
Oficina:
Elaborao de modelo
didtico de gneros
textuais para o ensino-
aprendizagem
Conceitos de transposio didtica; de Modelo
didtico de gnero textual e de sequncia didtica;
Elaborao de Modelo didtico de gnero textual.
Prof.
Dr.Siderlene
Muniz Oliveira
Atividades
do Programa
de Extenso:
Parceria
Universidade/
Escola Letras
UTFPR/NRE
Pato Branco
2012-1/2013.
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Horta escolar agroecolgica como instrumento de educao ambiental e
alimentar na Creche Municipal Dr. Washington Barros - Petrolina/PE
______________________________________________
Helder Ribeiro Freitas
1
Rita de Cssia Rodrigues Gonalves-Gervsio
2
Cristiane Moraes Marinho
3
Alex Sandro Silva Fonseca
4
Anny Karoline Rocha Quirino
5
Kerly Mariana Marques dos Santos Xavier
6
Paulo Vitor Pereira do Nascimento
7
RESUMO
A implantao de horta escolar agroecolgica permite a refexo da comunidade escolar
sobre questes ambientais, qualidade nutricional e qualidade de vida. As hortas podem
ser utilizadas como espaos de aprendizado, tornando o ambiente escolar mais agrad-
vel com a implantao de reas verdes produtivas. A implantao e manuteno dessas
reas no ambiente escolar, entretanto, exige o enfrentamento de alguns desafos para
sua consolidao. O trabalho realizado na Creche Municipal Dr. Washington Barros
teve como objetivo discutir o processo de implantao, gesto produtiva e pedaggica
de uma horta escolar agroecolgica. Nesse sentido, foi realizado um diagnstico junto
creche e voluntrios que j mantinham uma horta com fns comerciais no terreno da
escola. Aps reestruturao da horta, de modo a atender as necessidades de ambas as
partes, foram realizadas diversas atividades educativas com os alunos, as quais varia-
ram em funo da faixa etria das crianas envolvidas. As atividades possibilitaram o
conhecimento e contato das crianas com os alimentos no seu ambiente de produo e
consumo, bem como os fatores e recursos ambientais envolvidos na produo vegetal.
Tais atividades contriburam com a sensibilizao das crianas quanto alimentao
saudvel e despertaram nos professores o interesse no trabalho pedaggico com hortas
escolares agroecolgicas.
Palavras-chave: Agricultura urbana; Horta escolar; Educao ambiental; Segurana
alimentar.
Agroecological school vegetable garden as a tool for environmental and food education
in Municipal Nursery Dr. Washington Barros - Petrolina/PE
ABSTRACT
The implementation of agroecological school vegetable gardens allow refection
of the school community on environmental issues, nutritional quality and life
quality. The vegetable gardens can be used as learning area, making the school
environment more enjoyable with the deployment of productive green areas.
However, the implementation and maintenance of these areas in the school
environment requires some challenges for its consolidation. The work conducted
in the Municipal Nursery Dr. Washington Barros had the objective to discuss the
implementation process, productive and pedagogic management of an agroecological
school garden. In this sense, a diagnostic was made by the nursery and volunteers
who already had a vegetable garden for commercial purposes on school area.
1
Doutor em Solos
e Nutrio de
Plantas, Colegia-
do de Engenharia
Agronmica da
Universidade
Federal do Vale
do So Francisco
(UNIVASF).
helder.freitas@
univasf.edu.br
2
Doutora em
Entomologia,
Colegiado de
Engenharia
Agronmica
(UNIVASF).
rita.gervasio@
univasf.edu.br
3
Mestre em
Extenso Rural,
Colegiado de
Pedagogia
Universidade
de Pernambuco
(UPE) Campus
Petrolina.
crimarinho@
yahoo.com.br
4
Discente de
Engenharia
Agronmica
(UNIVASF).
agro.assfonseca@
hotmail.com
5
Discente de
Engenharia
Agronmica
(UNIVASF).
karoline_rocha-
quirino@hotmail.
com
6
Discente de
Engenharia
Agronmica
(UNIVASF).
kerlyxavier@
hotmail.com
7
Discente de
Engenharia
Agronmica
(UNIVASF).
ppereiranasci-
mento@bol.com.
br
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Volume 1, nmero 1
After restructuring the vegetable garden, so as to attend the needs of both parties, there
were several educational activities with students, which varied depending on the age
of the children involved. Activities facilitated the contact and knowledge of children
with food in its production environment and consumption, as well as environmental
factors and resources involved in vegetable production. These activities contributed to
the awareness of children about healthy eating and aroused interest among teachers
in the pedagogical work with agroecological school gardens.
Keywords: Urban agriculture; School vegetable gardens; Environment education;
Food safety.
INTRODUO
A agricultura urbana tem sido praticada por meio de cultivo de hortas, poma-
res, plantas medicinais, aromticas e ornamentais em quintais, terrenos sem edifca-
es e mesmo pequenas propriedades rurais incorporadas aos espaos urbanos devido
ao rpido crescimento das cidades. Dados da Organizao das Naes Unidas para
Alimentao e Agricultura (FAO) indicam que em 1999, aproximadamente 800 mi-
lhes de pessoas estavam envolvidas com a produo de alimentos nas cidades e no
seu entorno e eram responsveis por cerca de 15% da produo alimentar mundial.
A implantao de hortas comunitrias, principalmente em ambientes escolares um
bom exemplo de aproveitamento de reas urbanas e periurbanas para a produo de
alimentos de qualidade (FARFAN, 2008; MENDONA; 2012).
Uma importante questo a ser considerada a capacidade dos governos em
administrar o crescimento urbano de modo a encontrar meios de fornecer alimentos,
moradia e servios bsicos populao buscando garantir a qualidade de vida. A
segurana alimentar nos grandes centros depende de fatores como disponibilidade,
acesso e qualidade dos alimentos oriundos das reas urbana e rural (DRESCHER
et al., 2001; LOPES; LOPES, 2012). A segurana alimentar e nutricional tem sido
compreendida como a garantia do direito de todos ao acesso regular e permanente a
alimentos de qualidade, em quantidade sufciente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base prticas alimentares promotoras de sade,
que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econmica e ambientalmente
sustentveis (CONSEA, 2004). No caso especfco das hortas implantadas no contexto
escolar, possvel destacar que essas podem contribuir sistematicamente com a
segurana alimentar no contexto da educao alimentar e ambiental. Assim, as hortas
se constituem espaos de aprendizado dos alunos, tornando o ambiente escolar mais
agradvel com a transformao de reas no ocupadas ou mal planejadas em espaos
verdes.
A implantao e conduo comunitria das hortas escolares permite a refexo
da comunidade escolar sobre questes ambientais, qualidade nutricional, sade,
qualidade de vida e contato das crianas com as relaes ecolgicas no meio natural
da prpria escola. Dessa forma, as hortas se constituem num instrumento pedaggico
que possibilita o aumento do consumo de frutas e hortalias, a construo de hbitos
alimentares saudveis, o resgate dos hbitos regionais e locais e a reduo dos custos
referentes merenda escolar (MUNIZ; CARVALHO, 2007).
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Tais potencialidades tambm suscitam questionamento quanto s formas de
se fazer agricultura, especifcamente nos aspectos relacionados s prticas agrcolas
adotadas nos sistemas de cultivo tradicionais com destaque para a contaminao
dos alimentos, dos agricultores e consumidores, bem como para a poluio do meio
ambiente e sustentabilidade destas prticas. Nesse sentido, as experincias apontam
para perspectiva da agricultura agroecolgica como sendo o caminho mais adequado
a ser percorrido pela agricultura urbana, considerando-se a melhoria da qualidade
de vida das comunidades por meio da produo de alimentos saudveis, aumento da
biodiversidade nos ambientes urbanos, bem como ampliao de reas verdes nas cidades
(ALTIERE, 2000; CAPORAL; COSTABEBER, 2004). Alguns autores apontam para
a importncia das hortas escolares agroecolgicas, enquanto possibilidade para o
enriquecimento da merenda escolar com a incluso de produtos naturais, favorecimento
da suplementao das necessidades vitamnicas e minerais, alm de promoverem
mudanas de hbitos alimentares de alunos e da comunidade escolar (GALLO et al.,
2004; MORGADO; SANTOS, 2008).
Os fundamentos pedaggicos desse trabalho constituem a Ecopedagogia e a
Educao Contextualizada. Contrape-se a perspectiva da ao educativa como a
simples transmisso de conhecimentos que nada, ou muito pouco, relacionam com a
realidade social concreta vivenciada pelos sujeitos.
Nesse contexto, a Ecopedagogia tem sua defnio relacionada sustentabilidade
socioambiental e a prticas educativas que buscam construir uma conscincia
planetria para alm de qualquer gnero, espcie ou reino (GADOTTI, 2001). Aliada
a essa perspectiva, a Educao Contextualizada supe, fomenta e instrumentaliza
a participao direta dos sujeitos no processo de construo e disseminao do
conhecimento tendo como ponto de partida e como ponto de chegada sua realidade
social concreta, suas vivncias e prticas (ROCHA e MACHADO, 2007).
Em outras palavras, contextualizar construir signifcados e signifcados no
so neutros, incorporam valores porque explicitam o cotidiano, constroem compreenso
de problemas do entorno social e cultural, ou facilitam viver o processo da descoberta
(WARTHA; FALJONI-ALRIO, 2005, p. 43).
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo relatar e refetir so-
bre a experincia vivenciada na Creche Municipal Dr. Washington Barros no municpio
de Petrolina-PE, onde o planejamento, implantao e conduo de uma horta escolar
agroecolgica possibilitou a realizao de diversas atividades pedaggicas direciona-
das para temas como educao ambiental e segurana alimentar. Essa experincia se
insere no mbito do projeto Integrao Universidade-Escola no Desenvolvimento da
Agricultura Urbana: o papel das hortas escolares na promoo da segurana alimentar
e nutricional em Petrolina PE, referente ao Programa de Extenso Universitria/
Ministrio da Educao.
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Volume 1, nmero 1
METODOLOGIA
Inicialmente foram realizadas visitas a quatro escolas pblicas do municpio de
Petrolina-PE sugeridas por profssionais da Secretaria Municipal de Educao, as quais
possuam horta funcionando no terreno da escola. A Creche Municipal Dr. Washington
Barros foi selecionada para o desenvolvimento do projeto em funo do interesse que os
gestores demonstraram em associar o trabalho na horta com as atividades pedaggicas
desenvolvidas junto s crianas, bem como por j contar com uma pequena horta j
conduzida por um casal que vive no bairro em que a escola est inserida. O trabalho
teve incio no ms de maro de 2012 se estendendo at dezembro do mesmo ano. A
creche atende aproximadamente 188 crianas na faixa etria de 0 a 6 anos, atuando
tanto nas atividades de creche como tambm do ensino fundamental.
Na primeira visita creche em conversas com o casal responsvel pela conduo
da horta, verifcou-se um grande interesse em um trabalho conjunto entre o casal, a
escola, a universidade e a comunidade. Isso possibilitou a transformao da horta j
existente na escola em espao de aprendizado e troca de saberes. Num segundo momento,
foram realizadas reunies com os gestores, professores da creche e responsveis pela
horta para exposio da proposta do projeto de extenso e apresentao da equipe
da Universidade Federal do Vale do So Francisco (UNIVASF). Aps a proposta ter
sido acolhida pela comunidade escolar, teve incio a coleta de informaes, bem como
sugesto de aes na perspectiva do planejamento pedaggico da creche. Para isso,
foram consideradas as particularidades, o contexto socioeconmico e quotidiano da
instituio de ensino.
Aps as atividades de diagnstico iniciais, foi proposta uma readequao
da horta existente de forma a viabilizar as atividades pedaggicas sugeridas pela
equipe e pelos professores bem como estabelecer cultivos diversifcados e prticas de
manejo sustentveis inerentes perspectiva da agroecologia. Dessa forma, algumas
plantas doentes e improdutivas foram retiradas e os canteiros foram reorganizados e
distribudos de forma a facilitar o trnsito das crianas durante as atividades. Assim
foram selecionados 12 (doze) canteiros para as atividades com as crianas, sendo
que em 6 (seis) deles foi realizado o plantio de algumas espcies vegetais para fns de
adubao verde e observao da biodiversidade associada. A adubao verde tinha
por fm melhorar as caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas do solo, alm de
contribuir com o manejo de ervas espontneas frequentemente encontradas na horta.
Todas as alteraes realizadas na confgurao e manejo da horta foram feitas a partir
de discusso e estabelecimento de consenso entre membros do projeto, a famlia que
iria conduzir a horta e a comunidade escolar. Nesse sentido, cabe destacar o constante
dilogo entre os membros do projeto e o casal de agricultores urbanos que trabalham
na horta no sentido de identifcar problemas, apontar potencialidades e construir um
planejamento que atendesse ao objetivo produtivo almejado pelo casal de agricultores,
bem como tambm possibilitasse um conjunto de atividades de educao junto s
crianas.
Com base no planejamento e aps a reestruturao da horta alm dos canteiros
conduzidos para fns didticos, tambm havia os canteiros implantados pelo casal de
agricultores que os conduzia para fns de comercializao das hortalias. Os canteiros
conduzidos para produo comercial tambm eram conduzidos seguindo os princpios
agroecolgicos e tambm se constituram em espaos destinados s atividades pedaggicas.
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Deste modo, iniciaram-se as atividades pedaggicas de educao ambiental e alimen-
tar com as crianas, levando-se em considerao as especifcidades de cada faixa etria.
Atividades desenvolvidas com crianas de 1 a 2 anos
Nessa faixa etria foi realizada uma atividade de degustao de frutas, buscan-
do relacionar as cores com as preferncias pelas frutas apresentadas. As frutas utili-
zadas na atividade foram escolhidas de acordo com os seguintes critrios: produo e
disponibilidade na regio, diferente colorao externa e interna (partes comestveis),
bem como facilidade de mastigao, uma vez que nem todas as crianas apresenta-
vam a primeira dentio completamente desenvolvida. Nesse momento, a equipe da
UNIVASF avaliou que as frutas que mais se adequaram a essas caractersticas seriam
banana, mamo, melancia, laranja e manga.
A degustao ocorreu no horrio rotineiramente estipulado pela escola para
o lanche das crianas, possibilitando o incentivo da insero de frutas durante esta
refeio. As frutas foram oferecidas em pequenos pedaos, os quais foram dispostos
separadamente em recipientes distribudos de forma aleatria sobre uma mesa de al-
tura adequada para o livre acesso das crianas. Ao lado de cada recipiente foi exposta
a fruta inteira ou um corte longitudinal desta, de forma que os alunos pudessem ver a
forma da fruta e em alguns casos o contraste entre a cor da casca, a polpa da fruta e as
sementes (Figura 1).
Essa atividade contou com a
participao de 19 crianas, as quais
foram identifcadas numericamente de
1 a 19, tendo sido chamadas individu-
almente para escolher e provar as frutas
expostas sem restrio de quantidade.
Os resultados foram anotados em uma
tabela, procurando registrar a expresso
facial de cada criana no momento da
degustao considerando-se os seguin-
tes parmetros quantitativos; frutas
escolhidas, cara feia, cara feliz, satisfao, insatisfao e no esboou reao. Ao fnal
das escolhas, cada criana recebeu uma poro de salada de frutas para estimular o
consumo de vrias frutas juntas em uma nica poro. (Figura 2)
Figura 1. Dispo-
sio das frutas
para atividade de
degustao com
crianas de 1 a 2
anos de idade.
Figura 2. Proce-
dimento de livre
escolha de frutas
por parte das
crianas.
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Atividades desenvolvidas com crianas de 2 a 3 anos
Com a fnalidade de demonstrar
o aproveitamento do espao disponvel
para implantao de uma horta, foi
confeccionada com as crianas de 2 a 3
anos (maternal I) uma horta vertical
utilizando garrafas pet e barbante,
como mostrado na Figura 3.
Nessa atividade, alm de hortalias, uti-
lizaram-se espcies ornamentais e medi-
cinais que pudessem despertar os senti-
dos como viso, olfato, gustao e tato.
As espcies selecionadas foram manjerico (Ocimum basilicum), menta (Mentha
spicata), alface (Lactuca sativa), coentro (Coriandrum sativum) e planta ornamental
(Zinia sp).
Atividades desenvolvidas com crianas de 3 a 6 anos
Essa atividade envolveu crianas das turmas do maternal II, pr I e pr
II e permitiu que as mesmas tivessem o contato direto com as sementes, o solo,
miniferramentas e gua para irrigao dos canteiros aps o plantio. O Quadro 1 mostra
um resumo das atividades realizadas e os conceitos trabalhados em cada uma delas.
Primeiramente, foi realizado o
plantio de espcies de desenvolvimento
rpido com as quais as crianas tinham
maior afnidade como feijo, coentro,
erva doce e melancia (Figura 4).
Data Atividade Conceitos trabalhados
Junho/2012 Plantio Como nasce uma planta.
Julho/2012 Acompanhamento do
desenvolvimento das
plantas
Germinao e desenvolvimento da
planta;
Plantas espontneas.
Agosto/2012 Acompanhamento do
desenvolvimento das
plantas
Florao e frutificao;
Biodiversidade;
Insetos associados s plantas
Outubro/2012 Colheita Produo de alimentos
Dezembro/2012 Almoo Alimentos provenientes da horta;
Importncia de uma alimentao
saudvel.
Figura 3. Garrafa
pet utilizada na
horta vertical.
Quadro 1. Ativi-
dades realizadas
com crianas de 3
a 6 anos de idade.
Figura 4 A e B.
Atividade de
plantio realizada
com crianas de 3
a 6 anos de idade.
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Paralelamente s atividades na horta, nas
salas de aula foram distribudos entre as crianas
jogos temticos (jogo da memria e quebra-cabea)
relacionados atividade de plantio, ao ciclo de vida
dos vegetais, bem como diversidade de organis-
mos que podem ser encontrados no agroecossistema
da horta (Figura 5).
Depois de aproxima-
damente 30 dias do plantio, as
crianas voltaram horta para
acompanhar o desenvolvimen-
to das plantas. Nessa atividade,
utilizaram-se cartazes e painis
vivos para demonstrao das fases de germinao, utilizando como exemplo o feijoei-
ro (Figura 6). Na oportunidade foi trabalhado o conceito de plantas espontneas e a
importncia das mesmas no agroecossistema e produo de alimentos. Alm da visita
horta, foi realizada atividade em sala de aula, na
qual as crianas foram incentivadas a registrar em
forma de desenho as diferentes fases de desenvolvi-
mento das plantas.
Durante as fases de forescimento frutifca-
o do feijo, as crianas foram novamente horta
para verifcar a formao das fores e frutos (Figura 7).
Nessa mesma visita, elas tiveram a oportunidade
de observar alguns insetos que podem ser encontrados na horta (Figura 8).
A diversidade de insetos foi verif-
cada por meio de coletas realizadas
nos prprios canteiros com a par-
ticipao das crianas, bem como
por meio da apresentao de uma
coleo entomolgica didtica.
Nesse momento tambm foi feita
uma caminhada orientada por toda
a rea da horta apresentando para
as crianas as demais plantas culti-
vadas nesse espao (hortalias, fru-
tferas, medicinais e ornamentais).
Figura 5 A e B.
Atividade em sala
de aula realizada
com crianas de 3
a 6 anos de idade.
Figura 6. Painel
para demonstra-
o das fases de
desenvolvimento
do feijoeiro.
Figura 7. Acom-
panhamento do
desenvolvimento
das plantas: fora-
o e frutifcao.
Figura 8. Obser-
vao de insetos
que podem ser
encontrados na
horta.
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Aps acompanhamento de todo
o desenvolvimento da planta, as crian-
as voltaram horta para realizarem
a colheita do feijo. Nessa atividade,
as crianas tiveram a oportunidade de
observar a produo das plantas que
elas prprias cultivaram (Figura 9).
Para concluir os trabalhos rea-
lizados ao longo do ano, foi pre-
parado um almoo com vrios
ingredientes que podem ser obtidos em
uma horta escolar. Alm de salada ver-
de e legumes, as crianas tiveram aces-
so a sucos e frutas como melancia, ma-
mo, caju, goiaba e manga (Figura 10).
RESULTADOS E DISCUSSO
Atividade desenvolvida com crianas de 1 a 2 anos
A atividade transcorreu de modo que as crianas fzessem suas escolhas duran-
te a degustao das frutas. Cabe destacar que, contrariando uma impresso inicial de
algumas professoras, de que as crianas no consumiam e no se interessariam pelo
consumo das frutas nas poucas ocasies em que essas foram oferecidas nas refeies
da creche, a grande maioria experimentou as frutas. No universo de 19 crianas que
participaram da atividade apenas 1 (uma) se recusou a experimentar as frutas. Outra
observao importante deve-se ao fato de que mesmo tendo sido esclarecido e orienta-
do s crianas que poderiam repetir e experimentar mais de uma fruta, somente duas
o fzeram, sendo que uma delas experimentou melancia, mamo e laranja e a outra
laranja e manga.
As frutas mais escolhidas no processo de degustao foram (em ordem decres-
cente de nmero de escolhas: melancia (7) > mamo (6) > laranja (4) > manga (3) >
banana (1). Assim, constatou-se que a fruta com maior nmero de opes apresenta
cor vermelha (melancia). Entretanto, a cor laranja se destaca ao somarmos o quanti-
tativo das opes feitas pelas frutas com esta colorao (mamo + laranja + manga).
A cor que apresentou menor nmero de escolhas foi a branca (banana). O estmulo
visual da cor certamente exerceu infuncia nas escolhas, entretanto outros estmulos
no avaliados certamente infuenciaram no resultado, com destaque para o cheiro das
frutas frescas que agiu sobre o sentido do olfativo das crianas.
As impresses coletadas numa abordagem qualitativa da reao das crianas
ao provar as frutas apresentaram um quadro geral da satisfao ao consumir as frutas.
Num total de 28 (vinte e oito) observaes, houve 19 (dezenove) manifestaes positi-
vas em relao s frutas experimentadas (9 cara feliz + 10 satisfao) em detrimento de
6 (seis) crianas que no esboaram reao e 2 (duas) que demonstraram insatisfao.
Figura 9. Colheita
Figura 10. Al-
moo de encerra-
mento do projeto.
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Nesse sentido, pode-se concluir que as crianas, em sua maioria, gostaram das frutas
que experimentaram. O grande nmero de observaes de cara feliz e satisfao po-
dem ser explicados devido provvel escolha das crianas de frutas que j conheciam
e gostavam.
Uma provvel razo para que a maioria das crianas experimentasse somente
uma fruta pode estar relacionada ao fato da excepcionalidade da atividade e da
idade das crianas (de 1 a 2 anos), levando-as, em sua maioria, a manifestar um
comportamento de constrangimento e vergonha diante dos monitores do projeto
que estavam conduzindo a atividade, mesmo sob a superviso da professora da
turma. No entanto, isso tambm pode estar relacionado ao baixo acesso e consumo
corriqueiro destas frutas pelas crianas no mbito das condies socioeconmicas e
culturais familiares, como demonstrado por Farias Jnior e Osrio (2005). Os referidos
autores relataram que a alimentao das crianas menores de cinco anos no Estado de
Pernambuco montona e pouco diversifcada, tendo como base uma dieta lctea, com
consumo elevado de acar e de gordura, e reduzido consumo de frutas e verduras.
Outro aspecto importante a mencionar o fato de Petrolina ser um destaque
nacional na produo de frutas tanto para o mercado interno quanto para exportao
(MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL, 2010). Assim, os aspectos ligados
diversidade de oferta de frutas e economicidade na aquisio destas revelam uma
contradio com refexo na baixa diversifcao da alimentao oferecida s crianas.
Atividades desenvolvidas com crianas de 2 a 3 anos
Essa atividade no alcanou os resultados esperados, uma vez que nenhuma das
espcies plantadas apresentou desenvolvimento satisfatrio. Esse fato est diretamente
ligado falta de cuidados essenciais durante o manejo da horta suspensa. Por se tratar
de uma atividade pedaggica, seria necessrio um maior envolvimento por parte da
comunidade escolar no processo de cultivo. Entretanto isso no ocorreu, o que levou
a morte da maioria das plantas, principalmente pela falta de irrigao frequente. O
insucesso nessa experincia pode ser atribudo sobrecarga de trabalho dos professores
e escassez de recursos humanos na creche de modo a favorecer o desenvolvimento
de projetos pedaggicos que saiam um pouco da rotina j adotada pela instituio.
Tambm se pode atribuir o andamento insatisfatrio dessa ao a possveis falhas de
comunicao da equipe do projeto de extenso com a comunidade escolar no que tange
ao entendimento da proposta ou mesmo distribuio de responsabilidades para que a
referida atividade alcanasse xito.
Atividades desenvolvidas com crianas de 3 a 6 anos
O feijo cultivado na horta da escola permitiu o acompanhamento de todas as
fases de desenvolvimento das plantas desde o plantio, germinao, desenvolvimento
vegetativo, forescimento, frutifcao e morte da planta.
A atividade de plantio se destacou por ser o primeiro contato das crianas com
a horta da escola. Algumas crianas relataram que os pais ou avs possuem plantas
ornamentais, pequenas hortas, frutferas e plantas medicinais em suas casas. Alm
disso, algumas delas ressaltaram que ajudam no cuidado com as plantas (irrigao ou
rega), bem como identifcaram que a maioria das sementes que estavam plantando
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tambm so alimentos consumidos por elas como o caso do feijo (na forma de
semente), o coentro (folhas) e melancia (fruto). Esse momento tambm possibilitou a
observao da forma de preparo dos canteiros, plantio das sementes e necessidade de
gua para que as sementes germinem e iniciem seu desenvolvimento.
Foram feitas visitas das crianas na horta no momento em que a planta estava em
pleno desenvolvimento vegetativo, podendo estas observarem o bom desenvolvimento
da planta e a presena de insetos, germinao e crescimento de outras plantas no
canteiro (plantas espontneas ou mato), bem como a necessidade de cuidados para
que o feijo tivesse um bom desenvolvimento. As crianas ajudaram na retirada de
plantas espontneas e na irrigao do canteiro utilizando-se de regadores coloridos de
brinquedo. Tais atividades foram repetidas no perodo de forao do feijo, bem como
tambm se destacou a importncia de molhar as plantas e controlar o mato para que
a planta pudesse produzir os feijozinhos.
Na visita para observar a forao e frutifcao do feijo tambm foi apresen-
tada uma coleo de insetos com inmeras espcies. Nesse momento destacaram-se as
expresses das crianas com a observao das caractersticas dos diferentes tipos de
insetos. Alguns insetos, eles disseram j conhecer (terem visto), tanto em casa (bara-
ta), quanto na horta (formiga e besouros). Ao fnal desta atividade fez-se uma cami-
nhada em que foram apresentadas as demais plantas cultivadas no espao da horta
com destaque para as frutferas (mamo, maracuj, acerola, melancia, videira e caju),
hortalias (couve, pimenta, alface, cenoura e beterraba), medicinais (erva-doce, ca-
pim cidreira, babosa e hortel) e vrias plantas ornamentais. Esse momento foi muito
importante, pois algumas crianas revelaram conhecer muitas das plantas ou terem
contato com as mesmas em espaos como nas propriedades rurais, nos quintais e vasos
em suas residncias, feiras livres ou mesmo nas ruas e praas.
Ao longo de todo trabalho com as crianas foi possvel registrar expresses
como: Minha me coloca gua para as plantinhas l de casa; Quando fquei doente
minha v me fez um ch; Eu gosto de comer feijo; L em casa tem p de manga
e goiaba; Tem formiga aqui no feijo; Tira as plantinhas no meio do feijo; Tem
um bicho aqui; Olha uma formiga aqui; dentre inmeras outras expresses colhidas
no decorrer das atividades de visita horta. Tais expresses apontam para a cons-
truo de relao, pelas crianas, entre as atividades desenvolvidas pelo projeto e as
vivncias quotidianas das crianas na relao com a terra, as plantas, o meio ambiente
e a biodiversidade.
Durante o desenvolvimento dessa atividade, foi possvel trabalhar concei-
tos ligados a diferentes temas como: desenvolvimento vegetal, diversidade de plan-
tas e animais nos ecossistemas, uso racional da gua, importncia das hortalias na
alimentao saudvel, dentre outros. No pe-
rodo de acompanhamento do desenvolvi-
mento das plantas, os alunos registraram em
forma de desenhos as experincias vivencia-
das. A qualidade dos trabalhos apresentados
demonstrou que os conceitos ligados a meio
ambiente, ecologia, desenvolvimento das plantas e pro-
duo de alimentos saudveis e trabalhados durante as
atividades na horta foram satisfatoriamente incorporados pelas crianas. (Figura 11)
Figura 11 A, B e
C. Ilustraes fei-
tas pelas crianas
aps a experin-
cia de plantio e
observao do
desenvolvimento
das plantas na
horta.
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O comportamento das crianas durante o almoo realizado para concluir as ati-
vidades tambm evidenciou o resultado positivo de aes dessa natureza em ambiente
escolar (Figura 12). Foi possvel verifcar o interesse das crianas em experimentar os
alimentos oferecidos. Uma das constataes dessa experincia de que o contato com
a produo e diversidade de alimentos ao longo do projeto possibilitou uma maior
sensibilizao das crianas no processo de experimentao/degustao de alimentos
saudveis que podem ser produzidos no prprio ambiente escolar.
DISCUSSO GERAL
Durante o trabalho constatou-se que possvel viabilizar a implantao e
utilizao de hortas escolares como estratgia de estmulo ao consumo de alimentos
saudveis e modifcao da dieta das crianas conforme tambm verifcado por
Magalhes (2003). O conhecimento e a ao participativa na produo e no consumo
principalmente de hortalias (fonte de vitaminas, sais minerais e fbras) despertam nos
alunos mudanas em seu comportamento alimentar, tendo sido tambm observado
que as crianas interligam as experincias vivenciadas no mbito do projeto da horta
escolar agroecolgica com a sua realidade familiar, corroborando as observaes de
Turano (1990). De acordo com Morgado e Santos (2008), esse contato direto com os
alimentos tambm contribui para que o comportamento alimentar das crianas se
volte para o consumo de produtos naturais e saudveis, oferecendo um contraponto
ostensiva propaganda de produtos industrializados e do tipo fast-food. Assim, contata-
se que um dos principais papis da implantao de hortas escolares a promoo da
segurana alimentar e nutricional das crianas e da comunidade envolvida no contexto
do direito humano alimentao adequada (CONSEA, 2004), podendo tambm
contribuir com a gerao de renda para os agentes da comunidade envolvidos enquanto
voluntrios nas hortas agroecolgicas.
Outro aspecto relevante da implantao de hortas no ambiente escolar
se insere no contexto da agricultura urbana (MENDONA, 2012) ao possibili-
tar o debate de questes inerentes ao meio ambiente, sustentabilidade e gerao
de renda de populaes em condies de risco social e econmico. Esse tipo de ex-
perincia possibilita trabalhos de formao da comunidade escolar (professo-
res, voluntrios e alunos) na rea de meio ambiente perpassando pelas temti-
cas da qualidade e uso racional da gua, reciclagem e compostagem de resduos
Figura 12 A e B.
Crianas durante
o almoo que en-
cerrou as ativida-
des do projeto.
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orgnicos, ecologia e formas de agricultura ecolgica, cidades sustentveis, intoxicao
por agrotxicos, contaminao do meio ambiente e seus riscos vida humana.
A refexo sobre experincias de implantao de hortas escolares agroecolgicas
se constitui numa importante ao ao possibilitar estudos, pesquisas, debates e
atividades sobre as questes ambiental, alimentar e nutricional, alm de estimular
o trabalho pedaggico dinmico, participativo, prazeroso, inter e transdisciplinar,
proporcionando descobertas e gerando aprendizagens mltiplas (BARBOSA, 2008).
A construo de uma poltica de educao ambiental contextualizada passa, em
primeira instncia, pela diversifcao ambiental e enriquecimento biolgico dos
ambientes urbanos (parque, jardins, hortos forestais e hortas agroecolgicas). A
agricultura urbana de base ecolgica se constitui num dos principais espaos para o
desenvolvimento de atividades de educao ambiental e alimentar. A implantao
de hortas agroecolgicas conduzidas por funcionrios da escola ou da comunidade na
qual tal escola esteja inserida proporciona o uso dessas hortas em atividades ldicas
pensadas no mbito do projeto pedaggico da escola.
A implantao de hortas escolares atravs da agricultura urbana no garante
que tais espaos sejam utilizados enquanto ambiente de educao ambiental e alimentar.
Em estudo realizado no polo Petrolina-PE/Juazeiro-BA, Farfan (2008) identifcou uma
forte relao entre hortas urbanas e o ambiente escolar, de modo que a grande maioria
das hortas urbanas destas cidades, em especial Petrolina, esto localizadas no espao
escolar. No referido trabalho o autor aponta para uma relao de reciprocidade entre
escola e horticultores destacando o apoio da escola no que tange cesso do terreno,
gua tratada e segurana por se tratar de um terreno murado; bem como o apoio
dos horticultores escola com a possibilidade de oferecimento de hortalias para a
merenda escolar, para a vizinhana da escola, espao para uso em aulas prticas, alm
da inibio da ao de vndalos pela presena diria de agricultores no ambiente da
escola.
A dimenso pedaggica de uma horta escolar agroecolgica extrapola o instru-
mento do livro didtico, estabelece novas relaes entre os sujeitos, alunos, professores
e comunidade escolar que assumem papis ativos e cooperativos no processo de cons-
truo e disseminao de conhecimentos j existentes e de novos oriundos da prxis
pedaggica dialgica.
Fundados na Ecopedagogia e na Educao Contextualizada essa prxis peda-
ggica tende a instrumentalizar os sujeitos a estabelecerem relaes socioambientais
sustentveis, uma vez que, a construo de uma horta escolar agroecolgica supe a
construo de uma srie de novos conhecimentos, de valores, habilidades e atitudes que
vo desde o trabalho colaborativo em grupos, a capacidade de ouvir o outro, de tomar
decises, de compreender o ecossistema, suas inter-relaes, e o pertencimento de cada
um neste, at a gesto de recursos materiais e humanos necessrios.
No entanto, o uso de hortas em escolas enquanto um instrumento pedag-
gico tem se mostrado uma tarefa no muito fcil quando se parte do envolvimento
somente de professores, estudantes e gesto escolar, conforme constatado na expe-
rincia deste projeto de extenso e observaes em outras escolas visitadas duran-
te a execuo das atividades. Isso se deve intensa dinmica de trabalho no cuida-
do com as crianas por parte dos profssionais da creche com a qual trabalhamos.
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De acordo com Andrade (2000), fatores como o tamanho da escola, predisposio
dos professores em passar por um processo de treinamento e vontade da diretoria em
implementar um projeto ambiental com possvel alterao da rotina escolar podem
servir como obstculos implementao de aes dessa natureza.
Desse modo, a intensidade de trabalho e responsabilidade no lidar com as
crianas implica pouca disponibilidade de tempo para assumir compromissos e
envolvimento na conduo de atividades no inerentes rotina das escolas, como
as propostas no mbito do presente projeto de implantao de hortas escolares
agroecolgicas. Tais atividades fogem da rotina de ensino e cuidados necessrios com
as crianas, podendo sobrecarregar ainda mais os profssionais da educao infantil
com os quais se trabalhou nesse projeto. Isso, no entanto, no pode ser visto como uma
barreira para o desenvolvimento de atividades desta natureza, ou mesmo outras aes
diferenciadas no menos importantes para o desenvolvimento e educao infantil.
CONSIDERAES FINAIS
Diante dos resultados alcanados com esse projeto, possvel concluir que a
existncia de uma horta agroecolgica no ambiente escolar se constitui num impor-
tante instrumento de aprendizagem e de construo de uma cultura socioambiental
sustentvel. Assim, alm de possibilitar uma srie de opes pedaggicas para traba-
lhar contedos abordados em sala de aula, a horta permite que as crianas despertem
o interesse por hbitos mais saudveis e o contato com o meio ambiente. O fato de
produzirem seu prprio alimento estimula o consumo e desmistifca o conceito de que
crianas no gostam de frutas e verduras.
Alm disso, possvel trabalhar questes relacionadas alimentao saudvel
e educao ambiental de forma contextualizada, ldica e prazerosa, o que proporciona
um maior aproveitamento dos contedos curriculares, a incorporao e vivncia de
novos valores, habilidades e atitudes nas relaes socioambientais estabelecidas pelos
sujeitos dentro e fora da escola.
A insero da comunidade no quotidiano escolar, vivenciado nesse projeto de
extenso, por meio do trabalho de voluntrios na horta da escola, pode viabilizar aes
educativas diferenciadas, superando-se assim as restries de recursos humanos e f-
nanceiros demandados por atividades dessa natureza.
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COMO CITAR ESTE ARTIGO:
FREITAS, Helder Ribeiro; GONALVES-GERVSIO, Rita de Cssia
Rodrigues; MARINHO, Cristiane Moraes; FONSECA, Alex Sandro
Silva; QUIRINO, Anny Karoline Rocha; XAVIER, Kerly Mariana
Marques dos Santos; NASCIMENTO, Paulo Vitor Pereira do. Horta
escolar agroecolgica como instrumento de educao ambiental e
alimentar na Creche Municipal Dr. Washington Barros Petrolina/PE.
Extramuros, Petrolina-PE, v. 1, n. 1, p. 155-169, jan./jul. 2013. Disponvel
em: <informar endereo da pgina eletrnica consultada>. Acesso em:
informar a data do acesso.
MUNIZ, V. M.; CARVALHO, A. T. de. O Programa Nacional de Alimentao Escolar
em municpio do estado da Paraba: um estudo sob o olhar dos benefcirios do Pro-
grama. Revista de Nutrio, Campinas-SP, v. 20, n. 3, p. 285-296, 2007.
ROCHA, E. N.; MACHADO, J. C. P. Formao de educadores rurais: construindo
uma poltica de educao contextualizada. In. KUSTER, A.; MATTOS, B. Educa-
o no contexto do semirido brasileiro. Juazeiro-BA: RESAB, 2007.
TURANO, W. A didtica na educao nutricional. In: GOUVEIA, E. Nutrio, sade
e comunidade. So Paulo: Revinter, 1990. 246 p.
WARTHA, E. J.; FALJONI-ALRIO, A. A contextualizao no ensino de qumi-
ca atravs do livro didtico. Revista Qumica Nova na Escola, So Paulo, n. 21, nov.
2005.
Recebido em: 25 maio 2013.
Aceito em: 12 jul. 2013.
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Educao Ambiental em uma comunidade acometida pela fuorose grave:
uma abordagem interdisciplinar entre a geologia e odontologia
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Lcia Maria Fantinel
1
Leila Nunes Menegase Velsquez
2
Dora Atman Costa
3
Efgnia Ferreira e Ferreira
4
Lia Silva de Castilho
5
RESUMO
A fuorose dentria endmica foi diagnosticada no municpio de So Francisco, estado de
Minas Gerais, Brasil, nos anos 1980. Desde ento vrios estudos foram realizados para
diagnosticar e mapear a doena e suas fontes de contaminao. Outros estudos foram
conduzidos para tentar remediar o problema tanto no nvel individual (restauraes
das leses dentrias) quanto no nvel coletivo (qualidade da gua de abastecimento).
Este o relato das aes de educao em sade promovidas pelo Departamento de
Geologia e pela Faculdade de Odontologia da UFMG nas comunidades atingidas. A
metodologia ativa de ensino empregada foi caracterizada pela sua intensa troca de
experincias com a comunidade. Empregou-se um teatro de fantoches e uma exposio
interativa para abordar os temas relacionados s consequncias da ingesto de altos
teores de fuoretos e das consequncias no cotidiano do indivduo que possui as graves
leses fuorticas em seus dentes.
Palavras-chave: Relaes comunidade-instituio; Educao em sade; Educao am-
biental.
Health education in a population affected by endemic fuorosis: geology and dentistry
in an interdisciplinary approach
ABSTRACT
The endemic fuorosis was diagnosed in the city of So Francisco, Minas Gerais State,
Brazil, in the 1980s. Since then, several studies have been conducted to diagnose and
map the disease and its source of contamination. Other studies were performed to try
to remedy the problem at the individual level (dental restorations of the lesions) as
the collective level (drinking water quality). This is the report of the health education
actions promoted by the Department of Geology and Dentistry School of UFMG
in affected communities. The methodology employed was characterized by intense
exchange of experiences with the community. It was used a puppet theater and an
interactive exhibition to address issues related to the consequences of ingesting high
levels of fuoride and consequences in daily individual who has the serious fuorotics
injuries in their teeth.
Keywords: Community-institutional relations; Health education; Environmental edu-
cation.
1
Docente do
Departamento
de Geologia do
Instituto de
Geocincias (IGC)
da Universidade
Federal de Minas
Gerais (UFMG).
luciafantinel@
gmail.com
2
Docente do
Departamento de
Geologia do IGC/
UFMG.
menegase@
yahoo.com.br
3
Discente do
Programa de
Mestrado do
IGC/UFMG.
doraabh@gmail.
com
4
Docente da
Faculdade de
Odontologia
da UFMG.
efgenia@gmail.
com
5
Docente da
Faculdade de
Odontologia
da UFMG.
licastilho@
ig.com.br
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INTRODUO
Em quatro distritos rurais do municpio de So Francisco a fuorose dentria
grave e moderada confgura-se no apenas como um problema de agravo s estruturas
dentrias dos portadores. A fuorose afeta, tambm, crianas e jovens de Brejo dos
Angicos, foco desta pesquisa que faz parte de um relatrio tcnico para o CNPq.
Alm do problema esttico e funcional da dentio na populao acometida, as leses
geram problema de ordem social que atinge crianas e jovens portadores e difculta a
plena insero no mundo escolar, do trabalho e das relaes sociais dessa populao
(CASTILHO et al., 2009).
Quando consumido em pequenas doses, o fuoreto contribui para a reduo da
incidncia da crie dentria. A ingesto de nveis elevados de for tem provocado srios
problemas de fuorose dentria e ssea em populaes de diversas partes do mundo. A
fuorose dentria uma doena que se relaciona ao desenvolvimento dos dentes. Est
ligada a deformaes do esmalte e ocorre em consequncia da ingesto prolongada
de for na faixa etria em que o esmalte est em fase de formao (WHO, 2008).
Caracteriza-se pelo aumento da porosidade do esmalte, fazendo com que este adquira
aspecto opaco e manchado, com colorao que varia desde o branco at vrios tons de
marrom, ou mesmo preto. Clinicamente, as caractersticas bilaterais vo desde fnas
linhas brancas cruzando o dente em forma de trao a vrias formas de eroso. Nos
casos graves, a perda da substncia do esmalte pode levar a deformidades anatmicas
dos dentes, chegando, em alguns casos, perda dos mesmos (FEJERSKOV, 1994). Em
levantamento epidemiolgico prvio, neste distrito, a fuorose leve a moderada (ndice
Thylstrup & Fejerskov TF- de 1 a 4) atinge 53,8% das crianas e jovens. Alm disso,
23,1% apresentam fuorose grave (> 5 a 9). Ali, a gua de abastecimento apresenta
um teor de fuoretos de 2,6 mg/L (FERREIRA et al., 2010). Em 2009, iniciou-se um
trabalho odontolgico de restaurao das leses de fuorose grave e moderada em todos
os distritos afetados pela fuorose endmica (ABREU et al., 2009) que foi agraciado
com o Prmio Abril de 2012.
Os jovens acometidos, ao se expressarem sobre o assunto, deixam transparecer
que conviver com a desfgurao dentria resultante do consumo excessivo de for
durante a formao do dente uma luta diria. Os jovens relatam serem alvos de de-
boche, discriminao e acusaes sobre falta de higiene, principalmente no ambiente
escolar (CASTILHO et al. 2009).
O desconhecimento das causas do problema generalizado na populao local,
mas o mais preocupante que o mesmo ocorre entre os professores, responsveis
pela instruo formal daquelas crianas e jovens. De maneira geral, tais profssionais
mostram-se confusos quanto ao papel do for na causalidade da anomalia, indicando
que o conhecimento cientfco sobre a doena ainda no se tornou acessvel, mesmo
aos educadores. Na ausncia desse conhecimento, so estabelecidas relaes causais
intuitivas reforando, no senso comum, noes muitas vezes improcedentes, tais como:
atribuio de semelhanas entre os processos que envolvem o aparecimento da fuorose
e o processo de fltrao da gua ingerida pelos rins no organismo humano; difuso
da ideia de que o subsolo, de onde provm a gua dos poos tubulares profundos que
abastece a populao doente; identifcao do calcrio (e no do fuoreto contido
nas guas subterrneas) como o causador da fuorose dentria na regio. Dessa forma,
a gua captada de outras fontes (como nas comunidades de Mocambo e Alto So Joo),
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quando se apresenta com turbidez e/ou gosto salgado, vista com cepticismo pela
populao (CASTILHO et al., 2010), provavelmente pela associao, ainda que de forma
intuitiva, com algumas daquelas noes da fuorose descaladas de bases cientfcas.
Considera-se, portanto, que qualquer proposta tcnica de preveno ou reme-
diao da endemia de fuorose dentria na regio pressupe, para a necessria adeso
por parte da populao, de um processo de divulgao do conhecimento de base cien-
tfca na comunidade afetada e no meio escolar, especialmente de esclarecimento aos
professores e lideranas locais sobre as relaes causais da doena para que os mesmos
atuem como difusores desse conhecimento.
As aes educativas desenvolvidas neste artigo integraram os esforos
para estabelecer uma relao dialgica entre a realidade local (com seus elementos
do ambiente fsico e scio-histrico-cultural), o conhecimento cientfco sobre os
condicionantes geolgico-hidrogeolgicos dos teores elevados de for na gua
subterrnea e o desenvolvimento de uma nova tcnica de desfuoretao da gua que,
em outro projeto, foi submetida a testes de bancada e de campo na comunidade de
Brejo dos Angicos. Este novo sistema se baseia no uso de esferas absorventes ocas, de
compsito alumina-carvo ativado, desenvolvidas pelo Laboratrio de Microesferas
Gel, no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear da UFMG. Unidades desse
sistema foram instaladas em trs domiclios em Brejo dos Angicos e utilizadas por
16 indivduos: quatro crianas, cinco adolescentes e sete adultos (DRUMOND et al.,
2011).
A principal meta da educao comunitria o esclarecimento da populao
portadora, dos educadores e dos gestores da sade sobre as relaes causais entre fu-
orose e contaminao natural da gua subterrnea por fuoreto. As aes de educao
em sade aqui apresentadas tm como objetivo proporcionar ao indivduo a conscien-
tizao de que a doena (no caso a fuorose dentria grave e moderada) um evento
passvel de ser prevenido. Para tanto, preciso se levar em considerao o conjunto de
representaes sociais que o indivduo e sua comunidade tm sobre o problema.
Dessa forma, as atividades buscaram, tambm, delinear trajetrias coletivas
com professores, alunos e moradores de Brejo dos Angicos para a realizao de ofcinas
e de materiais instrucionais sobre o ambiente local e sade, em especial sobre:
- origem da fuorose,
- mecanismos de contaminao das guas,
- formas de controle e mitigao;
- importncia da participao da comunidade na defnio de estratgias para a resolu-
o dos problemas de abastecimento e de controle da qualidade da gua.
Dentre os objetivos pretendidos e alcanados, destacam-se:
Realizar reunies com gestores de sade sobre o quadro da fuorose no municpio
e em Brejo dos Angicos, e o treinamento de cirurgies dentistas da rede pblica
municipal no diagnstico da fuorose dentria;
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Averiguar a percepo de educadores e agentes sociais locais acerca das relaes
Ambiente-Sade-Sociedade;
Estabelecer o dilogo entre conhecimento cientfco e conhecimento da comuni-
dade sobre a relao rocha-solo-gua-sade;
Esclarecer a comunidade sobre as causas da contaminao da gua subterrnea
por fuoreto e sobre as formas de preveno e remediao da fuorose;
Realizar atividades formativas com profssionais e comunidade local e estimu-
lar a participao da comunidade na vigilncia da qualidade da gua e da sade bucal.
REVISO BIBLIOGRFICA
A promoo de sade engloba a construo de polticas pblicas saudveis,
com fortalecimento da ao comunitria, desenvolvimento de habilidades e reorientao
de servios (SHEIHAM; MOYSS, 2000). A preveno de doenas corresponde a
aes preventivas que se caracterizam por intervenes dirigidas populao para se
evitar o surgimento de doenas e reduzir sua prevalncia (CZERESNIA, 2003). Em
ambos os casos, a educao comunitria etapa construtiva importante.
A educao em sade objetiva proporcionar aos cidados a capacidade de fazer
suas escolhas mais saudveis, ao passo que a promoo de sade tenta tornar mais fcil
o acesso a essas escolhas salutares (MILLIO 1993).
As atividades de educao formal e informal estruturam-se em bases ou de
transmisso ou de construo do conhecimento. Na chamada pedagogia de transmisso,
o indivduo apenas recebe as informaes, as ideias e os conhecimentos como uma
folha em branco. No existe uma sntese dos contedos e, mesmo com a realizao
de provas, no h garantias de que esse aprendizado tenha sido signifcativo para o
aluno. Os seus mtodos concentram-se em exposio oral do professor. Essa forma de
ensino est presente tambm em situaes de educao informal e nem sempre est
acompanhada do esforo para desenvolver as habilidades intelectuais de observao,
anlise, extrapolao e compreenso. De uma maneira geral, essa tendncia no leva em
considerao o contexto social e enfatiza a repetio para a garantia de memorizao
dos contedos (KRUSCHEWSK et al., 2008).
Ultrapassar o paradigma comportamentalista fundamental. Este paradigma
est enraizado na concepo higienista e individual da preveno de doenas. Em
outras palavras, a responsabilidade de no ter fuorose dentria grave cabe ao prprio
indivduo. A educao em sade, por outro lado, deve substituir a atitude normativa
e modeladora de comportamento pela atitude emancipatria atravs de estratgias
dialgicas e construtivistas. Desta forma, so valorizadas, no grupo, a interao
e a refexo, levando o indivduo a reconhecer e assumir o seu papel de ator social
(PAULETO et al., 2004).
Os programas voltados para a preveno de agravos sade e para
as prticas educativas de promoo de sade buscam o que Gazzinelli et
al. (2005) classifcam como o processo de desnaturalizao da doena.
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Nesse enfoque, o que a comunidade e o que cada indivduo pensa a respeito do proble-
ma em questo (suas representaes sociais) embasam, junto com a informao cien-
tfca, a construo de programas de educao em sade. Quando tambm entram em
cena as representaes individuais e os saberes do senso comum, a soberania do saber
cientfco como nica maneira de se explicar o adoecer questionada. Dessa forma,
supera-se a caracterstica instrumental da educao em sade e novas prticas so re-
dimensionadas.
Nas experincias pedaggicas que buscam problematizar o fenmeno, as
experincias crticas ou libertrias, a principal fnalidade superar as desigualdades
sociais pelo desenvolvimento da conscincia da realidade. Assim, o indivduo passa a
atuar de forma transformadora socialmente (KRUSCHEWSK et al., 2008). A promoo
de sade deve ser, portanto, fundamentada em uma pedagogia de participao. Os
princpios norteadores desta seriam: o desenvolvimento da capacidade da competncia,
da criatividade, da solidadariedade e da habilidade para a resoluo dos problemas
(TAMIETTI et al. 1998).
Apesar de ser difcil dimensionar o impacto social e individual da fuorose, a
educao comunitria deve levar em conta esse fator para que as aes educativas
consigam estreitar as identidades locais, reconhecer a insero ambiental da comunidade
e valorizar a participao de todos os seus membros. Estudo de Gonalves (2006) alerta
que principalmente entre os jovens, o apelo esttico [da fuorose] pode trazer problemas
de auto-estima at para aqueles considerados dentro da normalidade. Portanto, pode
estar sendo imposto a esse grupo de adolescentes marcados pela aparncia desfavorvel
um sofrimento no mensurvel pelo grau de fuorose apresentado ao exame, nem
tampouco por dados agrupados para a populao.
A elucidao do fenmeno fuorose dentria endmica envolvendo metodolo-
gias multi e interdisciplinares, em especial nos campos da geologia, hidrogeologia e da
odontologia em conjunto, uma experincia indita no Brasil. Apesar desse potencial
na abordagem interdisciplinar dos citados campos, permanecem difculdades internas
a cada campo e de concepo de cincia e pblico, especialmente em geologia.
O conhecimento geolgico est ausente na formao bsica da maior parte dos
cidados, no apenas no meio rural. Praticamente inexiste como forma disciplinar
no ensino brasileiro nos nveis fundamental e mdio e na formao superior constitui
disciplinas na estrutura curricular de reduzido nmero de cursos. Alm disso, a
abordagem dos currculos de Cincias, compartimentada segundo as reas especfcas
do conhecimento cientfco, ope-se a uma viso de mundo, de processos naturais
e de sade mais integrada. Alm disso, nota-se a inexpressiva divulgao social da
geologia decorrente da pouca valorizao dos profssionais da rea pela difuso de suas
pesquisas em meios no especializados, da escassez de livros didticos e paradidticos
nacionais, do reduzido nmero de exposies e museus geocientfcos no pas e da
limitada abordagem de temas geolgicos nas mdias nacionais.
Piranha e Carneiro (2009), por exemplo, preconizam uma melhor integrao
das Cincias da Terra nos diversos sistemas educativos como uma estratgia
importante para a formao de cidados informados, participativos e comprometidos
com a gesto responsvel do planeta e seus recursos. Defendem tambm que os
saberes geolgicos sejam mais bem explorados em prticas educacionais e constituam
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referencial curricular multi, trans, pluri e interdisciplinar, capaz de agregar valor in-
trnseco ao ensino efetivo, por proporcionar a formao integral do cidado plane-
trio. Esses autores consideram as informaes geolgicas regionais e locais um elo
integrador da aprendizagem que convida os aprendizes refexo, pois lhes mostram a
realidade de seu espao de vivncia e estimulam a conscincia refexiva.
Destaca-se o papel do entendimento dos processos da dinmica terrestre como
sendo uma elaborao favorvel compreenso da natureza. A adoo dessa linha no
ensino, calcada em princpios formativos e de investigao do ambiente, contribui para
uma formao que transcende os limites entre as reas especfcas de cada cincia. O
estudante que vivencia a construo desse conhecimento, da observao dos materiais
e processos at a elaborao/questionamento de modelos evolutivos, percorrendo
mltiplas escalas de espao e tempo, percebe o mundo com outros olhos. Esse processo
revoluciona seu olhar atravs de [...] um de um modo de ver a natureza [...] uma
relao entre o planeta e o Homem. (COMPIANI et al., 1984).
A presena no ensino, desde o nvel fundamental, da abordagem geocientfca
anteriormente referida poderia embasar a difuso do saber sobre as causas dos riscos
ambientais e suas consequncias para a humanidade, inclusive para a sade humana
(ponto crucial para a compreenso do fenmeno em questo), avanando para a
discusso sobre o uso dos recursos naturais, sua relao com a sustentabilidade
ambiental e as consequncias da ao humana sobre esses recursos. Dessa forma, abrir-
se-ia a sala de aula para o mundo real (CARNEIRO et al., 2004).
Alm dos fatores limitantes j mencionadas para essa construo, a execuo
das aes educativas depara-se com as difculdades de comunicao, que so constantes
na avaliao de programas de educao em sade no Brasil. No campo da relao entre
geologia-hidrogeologia e pblico tais difculdades so igualmente constantes, agravadas
ainda pelo uso de uma terminologia no usual na sociedade e desconhecida do leigo. Na
rea odontolgica, os profssionais, apesar de deterem o conhecimento cientfco sobre
o tema, no tm formao adequada na rea pedaggica; o mesmo ocorrendo com
os gelogos. A difuso dos conhecimentos pelo dentista, por exemplo, seja na forma
de palestras dirigidas a uma plateia ou no ato de conversar com seu paciente sobre
a importncia da higienizao ou da adoo de hbitos dietticos saudveis, ainda
carece de efccia (PAULETO et al., 2004).
Porm, apregoar simplesmente sobre a necessidade de educar para a sade,
mesmo com a contextualizao ambiental da sade, no sufciente. preciso que
tais aes educativas no estejam isoladas do contexto geral das aes de promoo de
sade. Para responder a essa necessidade, o projeto em foco buscou o trabalho conjunto
de reas to diversas como a odontologia e a geologia, tendo a endemia de fuorose
como problema-chave que orientou a construo dos necessrios elos metodolgicos
entre aquelas reas.
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METODOLOGIA
A metodologia adotada buscou a construo de uma relao dialgica entre
pesquisa e divulgao do conhecimento, sendo norteada pela busca da interdisciplina-
ridade e da participao ativa e protagonista da comunidade. A avaliao dos resulta-
dos tem por base mtodos qualitativos de anlise.
Considerando que estudos anteriores detectaram o ambiente escolar como o
ambiente em que os constrangimentos causados pela fuorose grave se tornam mais
evidentes (CASTILHO et al., 2009), optou-se por atuar prioritariamente nesse espao.
Os propsitos do projeto foram levados ao grupo de professores e, aps levan-
tamento das demandas locais, as aes de educao assumiram o formato de educao
para a sade articulada com educao sobre o ambiente fsico de vivncia da comuni-
dade.
A metodologia consolidou a concepo de que a educao em sade deve estar
presente no ambiente e nas prticas escolares uma vez que estes so espaos de vivn-
cia adequados para a implementao de programas de sade voltados para crianas e
jovens em faixa etria propcia ao aprendizado de medidas educativas e preventivas
(VASCONCELOS et al., 2001).
De fato, a idade escolar o perodo mais apropriado uma vez que as crianas
e adolescentes so mais receptivos a novos conhecimentos, sentindo-se inseridos em
um ambiente de aprendizado. Por conseguinte, a escola diferencia-se como uma das
instituies onde a promoo de sade tem grande potencial para gerar resultados
positivos. Com a educao estabelecida, espera-se que as crianas desenvolvam senso
de responsabilidade em relao a sua sade bucal, em prol de se manterem saudveis
durante toda a vida (NAVARRO et al., 1996).
Quadro 1. Etapas
de Trabalho-
Educao para
a Sade, Brejo
dos Angicos,
Municpio de So
Francisco, Minas
Gerais, Brasil.
Etapa de trabalho 2009 2010 2011
Reunies de equipe para discusso dos dados, planejamento e avaliao
das atividades, ocorridas em Belo Horizonte, realizadas em vrios
momentos do projeto
x x X
Reunies com agentes da administrao municipal, lideranas comunitrias
e professores para apresentar a proposta, discutir apoio e planejar as
atividades conjuntas. As reunies ocorreram na sede das secretarias
municipais da Sade e do Meio Ambiente e na sede do jornal local, na
cidade de So Francisco.
x x
Reunies com a diretora e professoras da Escola Estadual Joo Jos
Silveira, em Cro e da unidade rural da escola, em Brejo dos Angicos para
apresentar a proposta, levantar dados das escolas, conhecer a infra-
estrutura, planejar as atividades conjuntas, conhecer as demandas locais de
ensino, traar o desenho da percepo das professoras acerca das relaes
Ambiente-Sade-Sociedade, conhecer as expectativas das mesmas e
discutir articulaes possveis entre as atividades e os planos de ensino da
escola.
x
Levantamento de campo das famlias residentes em Brejo dos Angicos e
apresentao do projeto.
x
Trabalhos de campo na bacia do crrego do Boi Morto para realizar: a
coleta de amostras de minerais, rochas e solo a serem utilizadas nas
colees didticas pela equipe de gelogos; registrar imagens do ambiente
e tomar depoimentos de moradores para a produo de materiais didticos.
x
Elaborao de material didtico. Foram doados para o acervo da Escola
Estadual Joo Jos Silveira: os materiais impressos da exposio
autoexplicativa, os arquivos digitais dos painis instrucionais e das
apresentaes multimdia, alm das amostras representativas do contexto
geolgico da bacia.
x x
Realizao das atividades educativas e posterior avaliao com as
professoras, em abril de 2011.
x
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As atividades de educao incluram exposio interativa com emprego de ma-
teriais didticos diversos elaborados pela equipe. Dentre eles, citam-se:
Materiais instrucionais autoexplicativos;
Painel ilustrativo e relacional sobre o ciclo da gua global e local, identifcando
os impactos sobre os recursos hdricos locais gerados pelas formas de uso do solo na
bacia do crrego do Boi Morto;
Mostrurio de minerais e rochas, incluindo exemplares locais acompanhados de
esquemas-guia para a experimentao pelo pblico (Fig. 1);
Mostrurio com diferentes tipos de gua utilizados pela comunidade (gua sub-
terrnea do poo tubular local, gua do crrego do Boi Morto, da cisterna da escola,
gua de chuva e do caminho pipa) para a determinao, pelo pblico, do pH com
tornassol e discusso do signifcado dos resultados;
Maquete tridimensional de hidrogeologia com os tipos de aquferos (granular,
fraturado e crstico) articulada com exemplos de rochas locais, incluindo calcrio com
fuorita, utilizada na discusso sobre as caractersticas da gua subterrnea da regio
e o mecanismo natural (hidrogeolgico) responsvel pelas concentraes anmalas de
for na gua subterrnea (Fig. 2);
Projees multimdia organizadas com as imagens locais contextualizadas em
diferentes escalas;
Pirmide alimentar e modelos para a orientao sobre sade bucal;
Mapas temticos da bacia do crrego do Boi Morto;
Histria-painel musicada sobre o ciclo da gua para exposio aos presentes.
Etapa de trabalho 2009 2010 2011
Reunies de equipe para discusso dos dados, planejamento e avaliao
das atividades, ocorridas em Belo Horizonte, realizadas em vrios
momentos do projeto
x x X
Reunies com agentes da administrao municipal, lideranas comunitrias
e professores para apresentar a proposta, discutir apoio e planejar as
atividades conjuntas. As reunies ocorreram na sede das secretarias
municipais da Sade e do Meio Ambiente e na sede do jornal local, na
cidade de So Francisco.
x x
Reunies com a diretora e professoras da Escola Estadual Joo Jos
Silveira, em Cro e da unidade rural da escola, em Brejo dos Angicos para
apresentar a proposta, levantar dados das escolas, conhecer a infra-
estrutura, planejar as atividades conjuntas, conhecer as demandas locais de
ensino, traar o desenho da percepo das professoras acerca das relaes
Ambiente-Sade-Sociedade, conhecer as expectativas das mesmas e
discutir articulaes possveis entre as atividades e os planos de ensino da
escola.
x
Levantamento de campo das famlias residentes em Brejo dos Angicos e
apresentao do projeto.
x
Trabalhos de campo na bacia do crrego do Boi Morto para realizar: a
coleta de amostras de minerais, rochas e solo a serem utilizadas nas
colees didticas pela equipe de gelogos; registrar imagens do ambiente
e tomar depoimentos de moradores para a produo de materiais didticos.
x
Elaborao de material didtico. Foram doados para o acervo da Escola
Estadual Joo Jos Silveira: os materiais impressos da exposio
autoexplicativa, os arquivos digitais dos painis instrucionais e das
apresentaes multimdia, alm das amostras representativas do contexto
geolgico da bacia.
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Realizao das atividades educativas e posterior avaliao com as
professoras, em abril de 2011.
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Foram utilizados, tambm,
estereoscpios de espelho para a observao
de pares, estereoscpicos de fotografas
areas de So Francisco e da bacia do
crrego do Boi Morto pelo pblico, medidor
de nvel de gua e recipiente com gua para
simulao de medida em poo, computador
e projetor multimdia, escala de dureza de
minerais, m e outros materiais bsicos
para a realizao de testes simples.
Os efeitos do for na dentio humana, e em particular no caso da rea em
estudo, foram abordados por meio
de teatro dialgico com fantoches no
qual uma personagem, Dona Judith,
estimulava a plateia a se expressar sobre
a sua realidade, a compartilhar suas
ideias sobre as causas da fuorose dentria
naquela regio e sobre os problemas
originados quando os colegas se referem
ao sorriso do outro como consequncia de
falta de higiene.
RESULTADOS E DISCUSSO
A participao dos professores foi intensa, tanto na etapa de planejamento,
quanto na execuo e na avaliao das atividades. Vrios estudos demonstraram
que benfca a relao entre dentistas e professores na divulgao coesa de sade
bucal em escolares dentro da faixa etria em que a higiene bucal est em processo de
formao (GARCIA et al., 1998). No estudo realizado, fca claro que a participao
dos professores crucial para a continuidade das atividades de conhecer o entorno e
relacion-lo com os problemas de sade da comunidade, como foi percebido na etapa
de educao em sade em Brejo dos Angicos.
As atividades do campo da educao comunitria convergiram para a realizao
de ofcinas interativas nas duas unidades da Escola Estadual Joo Jos Silveira que
recebem crianas e adolescentes de Brejo dos Angicos afetados pela fuorose dentria
grave e moderada. Cada famlia benefciada pelo fltro desenvolvido no projeto
recebeu, previamente em projeto de pesquisa especfco, uma abordagem instrucional
no campo da sade, correspondendo ao atendimento individual (DRUMOND et al.,
2011). As ofcinas aqui descritas correspondem estratgia coletiva de enfrentamento
do problema. No s as causas da fuorose dentria foram abordadas - as consequncias
no cotidiano das pessoas afetadas por essa doena tambm foram tratadas na discusso
com a comunidade.
Figura 1: Sala
de atividades
interativas com
mostrurio de
minerais e rochas
sobre a mesa e
painis ilustra-
tivos fxados na
lousa, ao fundo
da sala. Escola
Estadual Joo
Jos Vieira, Cro,
municpio de So
Francisco MG.
Abril de 2011.
Figura 2: Sala
de atividades
interativas
com maquete
tridimensional
de hidrogeologia
ilustrando
os tipos de
aquferos. Escola
Estadual Joo
Jos Vieira, Brejo
dos Angicos,
SF-MG. Abril de
2012.
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Volume 1, nmero 1
As etapas iniciais do projeto, que antecederam a ao na escola, propiciaram
equipe a possibilidade de identifcar e interagir com a administrao local, lideranas
comunitrias, diretora e professores da Escola. Com estas aes no apenas as autori-
zaes para a realizao das atividades foram conseguidas como tambm: obteno de
apoio logstico, levantamento de dados locais sobre as caractersticas do meio fsico e
da populao local, auxlio para coletar amostras (como a disponibilizao de guias,
escolhidos entre a populao, para orientao sobre trilhas, nascentes, entre outros),
para proceder organizao de kits de exposio e registrar imagens para posterior
incorporao aos materiais instrucionais.
A partir do contato com lideranas comunitrias fcou mais fcil a interao
com a comunidade. Com o estabelecimento de relaes com a populao, foi possvel
identifcar as principais explicaes e mitos criados pela populao sobre a fuorose,
bem como os termos e dvidas mais recorrentes na discusso sobre o tema. Esses co-
nhecimentos prvios, aliados s defnies metodolgicas, estruturaram as atividades
e foram fundamentais para que a equipe superasse as difculdades de comunicao.
Cita-se, a ttulo de exemplo, a incorporao, nos materiais elaborados, de termos de
uso local de determinadas feies de relevo ou rocha em paralelo com a identifcao do
termo utilizado pela comunidade especializada, facilitando o dilogo e entendimento
entre todos os agentes do processo.
O teatro de fantoches mostrou-se particularmente efcaz na interao com o
pblico, no apenas com as crianas e adolescentes, mas tambm com os adultos, em
especial com as mes e a agente de sade que atua na comunidade. Tal avaliao
qualitativa e tem como base a participao da plateia nos dilogos e interlocues
com o personagem. Para estabelecer os elos entre as imagens da comunidade e o
conhecimento cientfco, o fantoche-protagonista estabelecia dilogos entre o pblico e
outra personagem fantoche, que respondia as perguntas do pblico. A ao tinha como
caractersticas a interatividade e a espontaneidade e, embora houvesse um roteiro,
este no foi seguido risca devido ao alto grau de participao dos presentes com
perguntas, intervenes e comentrios.
A atividade de ensino desenvolvida
na forma de teatro envolveu os presentes ao
abordar de forma ldica e interativa o tema
complexo da fuorose, cujas relaes causais
situam-se em campos de interface entre ge-
ocincias e odontologia e que, alm disso,
envolve as impresses pessoais e coletivas
sobre a doena (Fig. 3). Os presentes senti-
ram-se vontade para emitir opinies, for-
mular perguntas, compartilhar preocupa-
es e apresentar sugestes. Nesse sentido,
a atividade alcanou os objetivos pretendidos. A empatia do pblico com as personagens
foi de tal ordem que, embora no previsto originalmente, os fantoches migraram para as
atividades da histria-painel musicada, igualmente interativa (Fig. 4), e continuaram,
dessa forma, a exercer uma saudvel mediao entre o pblico e os pesquisadores.
Figura 3: Teatro
dialgico com
fantoches utiliza-
do para motivar a
discusso sobre as
causas da fuorose
dentria e os fa-
tores ambientais
relacionados.
Escola Estadual
Joo Jos Vieira,
Cro, SF-MG.
Abril de 2011.
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Em outro ambiente, a ofcina in-
terativa sobre as caractersticas fsicas do
ambiente possibilitava experimentao dos
participantes com diversos materiais da re-
gio. O reconhecimento dos espaos de vi-
vncia do observador nas imagens areas
estereoscpicas, por exemplo, introduzia
a discusso sobre as caractersticas do am-
biente identifcadas pelo mesmo e as repre-
sentaes desse espao em diversos tipos
de produtos cartogrfcos. Essa dinmica
permitiu estabelecer o dilogo entre a percepo do espao pelo indivduo e as repre-
sentaes desse mesmo espao pelas geocincias.
No ambiente escolar, a participao ampla da comunidade foi perceptvel
no envolvimento dos pais, responsveis e professores no ato de educar. Alm desses,
participaram as servidoras das escolas e uma agente de sade que atua em Brejo dos
Angicos. Esse envolvimento importante na consolidao das aes educativas e na
expanso das mesmas para alm dos muros da escola, constituindo o cerne conceitual
da prtica de promoo de sade. O uso de recursos didticos variados que motivem
esse envolvimento deve ser estimulado, pois essas experincias impactam as prticas de
promoo de sade sobremaneira. No se trata de coao ou apenas de transmisso de
informaes, mas de proporcionar subsdios que capacitem os atores sociais para a ao
(KRUSCHEWSK et al., 2008). Dessa forma, durante os trabalhos da ofcina foram
empregados recursos variados, tais como painis, maquetes, projees multimdia,
teatro, alm de exposio aberta experimentao pelo pblico.
Como a escola se relaciona diretamente para a famlia, espera-se que os resultados
das ofcinas estendam o seu leque de atuao para dentro dos lares. Para isso, h que
se considerar que a educao em sade bucal est relacionada com o conhecimento
e com a conscientizao comunitria, sendo, portanto, focada em oportunidades de
aprendizagem e, como tal, podendo se expandir para outros espaos sociais, alm
da escola (MESQUINI et al., 2006). Portanto, na pesquisa, os mtodos e os recursos
didticos utilizados foram escolhidos por seu potencial de comunicao da informao,
bem como pela facilidade de sua futura reproduo pela escola ou outros interessados
da comunidade.
Em sntese, apesar das difculdades de cada rea envolvida na pesquisa para
efetivar a transposio didtica do conhecimento e do carter pioneiro da experincia,
buscou-se a construo de uma abordagem multidisciplinar, considerada fundamental
para a ao educativa na comunidade.
CONCLUSES
As aes educativas mostraram-se efcazes para: (a) aproximar a equipe da rea-
lidade social e cultural da comunidade; (b) reconhecer lideranas locais; (c) estabelecer
mtua relao de confana e colaborao da equipe com as lideranas; (d) divulgar
as metas do projeto e obter adeses locais; (e) prestar esclarecimentos comunidade
sobre a origem da fuorose e sua relao com as caractersticas geoambientais da rea
Figura 4:
Histria-painel
sobre o ciclo da
gua. Sobre a
mesa, direita da
fgura, maquete
de hidrogeologia
e, na lousa, painel
ilustrativo do
ciclo hidrolgico
Escola Estadual
Joo Jos
Vieira, Brejo dos
Angicos, SF-MG.
Abril de 2011.
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Volume 1, nmero 1
(que determinam as concentraes anmalas de for na gua subterrnea); (f) infor-
mar a comunidade sobre o tratamento domiciliar proposto e, por fm, (g) difundir co-
nhecimento e contribuir para o processo de ensino nas escolas da bacia do crrego do
Boi Morto, em Brejo dos Angicos.
As orientaes sobre fuorose dentria e sade bucal, realizadas por meio de
atividades ldicas ou de debate com as especialistas, motivaram a explicitao de
dvidas e preocupaes da comunidade. Nesse aspecto, os presentes perguntaram
sobre as consequncias do consumo de gua com excesso de for sobre o organismo
como um todo, a relao entre fuorose e outras doenas, as formas de prevenir e tratar
a fuorose, as diferenas entre as tcnicas de desfuoretao da gua, a efccia do fltro
de vela comum e as alternativas para o abastecimento futuro de gua de qualidade
para o consumo humano. Os mtodos dialgicos e participativos da atividade foram
catalisadores do ambiente descontrado, que motivou a colocao das dvidas e anseios
da comunidade, assim como o posicionamento claro e objetivo dos pesquisadores. As
difculdades de comunicao das reas especfcas, j previstas nas etapas iniciais do
projeto, parecem ter sido diludas no processo, em grande parte, devido natureza
daqueles mtodos.
Com base na observao do grande envolvimento das crianas, jovens e adultos
nas atividades realizadas, considera-se que a difuso das informaes geoambientais e
odontolgicas praticadas neste projeto conseguiu dialogar com a cultura local e com as
prioridades temticas das escolas. Nesse sentido, e nos limites da avaliao qualitativa
aqui realizada, a difuso do conhecimento produzido pela pesquisa poderia ser consi-
derada uma ferramenta de esclarecimento das causas da fuorose dentria na comuni-
dade afetada e, at certo ponto, uma ferramenta de interao entre cincia e sociedade.
Tamietti et al.(1998) defendem que a educao para a sade seja incorporada
de forma efetiva no contedo do ensino fundamental. Na mesma direo, o presente
estudo conclui que a abordagem pela escola do problema da fuorose dentria em Brejo
dos Angicos (e de seus condicionantes ambientais) deve fazer parte dos contedos esco-
lares daquelas comunidades desde a educao fundamental. Trata-se de um problema
de sade pblica que afeta a populao rural abastecida por gua subterrnea com
elevados teores de for, sendo perfeitamente passvel de ser englobado no ensino de
contedos escolares, como em cincias, e preferencialmente no tratamento interdisci-
plinar de contedos das reas ambientais e sociais.
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COMO CITAR ESTE ARTIGO:
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Acesso em: 12 Sept. 2008.
Recebido em: 29 abr. 2013.
Aceito em: 14 jul. 2013.
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CHAMADA DE TEXTOS
v. 1, n. 2
(ago./dez. 2013)
PRAZO: 15 de outubro de 2013.
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A EXTRAMUROS - Revista de Extenso da UNIVASF, iniciativa da Pr-Reitoria
de Extenso da Universidade Federal do Vale do So Francisco, foca na publicao de
artigos que versem sobre a prtica extensionista universitria em qualquer rea (seja
ela relacionada a Cincias da Terra, Cincias da Vida, Cincias Humanas e Cincias
Sociais Aplicadas, Engenharias e Cincias Exatas). A revista tambm publica relatos
de experincia e outras contribuies, tais como resenhas e entrevistas sobre a rea de
extenso.
Todos os textos relacionados extenso sero submetidos ao processo de
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DIRETRIZES PARA AUTORES
I - INSTRUES PARA O PREPARO E ENCAMINHAMENTO DE ARTIGOS
[instrues sobre outros textos seguem na parte II]
Os artigos devem ter no mnimo 10 e no mximo 20 pginas, incluindo as
referncias. Todas as margens do texto devem ter 2,5 cm.
Se no trabalho houver a incluso de imagem(s), essa(s) dever(o) ser enviadas
no corpo do texto e no exceder 1 MB cada.
Do ttulo s palavras-chave em lngua estrangeira, utilizar espaamento simples.
No texto, utilizar espaamento 1,5. Para as referncias, utilizar espaamento simples.
O texto deve manter a sequncia e formatao a seguir:
a) Ttulo do trabalho em portugus;
b) Nome do(s) autor(es): com nota de rodap informando titulao, vinculao
institucional e endereo eletrnico para correspondncia;
c) Agradecimento e/ou dedicatria: inclu-los brevemente aps os nomes dos
autores (estes dois itens so OPCIONAIS e no devem exceder 20 palavras cada);
d) Resumo com at 150 palavras;
e) Palavras-chave: de trs a cinco, com iniciais maisculas e separadas por ponto e
vrgula;
f) Ttulo do trabalho em ingls ou espanhol;
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g) Abstract ou Resumen: com no mximo 150 palavras;
h) As mesmas trs ou cinco palavras-chave traduzidas para o idioma escolhido e na
mesma formatao.
TEXTO: todo o texto deve ter fonte Times New Roman, tamanho 12 (exceto
quando indicado tamanho diferente). Pargrafos devem ser iniciados com recuo de
1,25 cm (1 TAB).
obrigatrio haver pelo menos trs divises referentes introduo, ao
desenvolvimento e concluso. Essas divises podem ter quaisquer subttulos, des
de que o contedo tenha relao com elas. Durante o texto essencial:
a) usar sistema autor-data;
b) inserir notas de rodap apenas quando relevantes;
c) que citaes com at trs linhas fquem entre aspas no prprio corpo do texto;
d) que citaes com mais de trs linhas sejam recuadas em 4 cm da margem
esquerda, fonte tamanho 11;
e) que tabelas e grfcos estejam com fonte tamanho 11 e tenham legendas
com fonte tamanho 10;
f) evitar jargo extremamente tcnico ou, quando este for necessrio, faz-
lo vir acompanhado de uma breve explicao.
Referncias bibliogrfcas: incluir apenas aquelas que constam no corpo do
texto, conforme as normas da ABNT. Todos os hyperlinks devem ser removidos.
II - INSTRUES PARA O PREPARO E ENCAMINHAMENTO DE OUTROS TEXTOS
[relatos de experincia, entrevistas, ensaios, resenhas sobre obras de extenso e afns]
Outros textos devem ter a mesma formatao do artigo, com as seguintes excees:
a) para relatos de experincia, o nmero de pginas fca circunscrito a: mnimo de 6 e
mximo de 8 (esse texto deve ter resumo e palavras-chave em portugus e em lngua
estrangeira);
b) para outros textos (resenhas, ensaios, entrevistas etc.), o nmero de pginas mnimo
4 e mximo 6 (esses textos dispensam resumo e palavras-chave em portugus e em
lngua estrangeira).
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AS PRINCIPAIS DIFERENAS ENTRE ARTIGOS E OUTROS TEXTOS SO:
a) Artigos so textos com maior extenso e aprofundamento terico;
b) Relatos de experincia so mais breves e fuidos, sem dispensar um arcabouo terico
para a apresentao e articulao das ideias;
c) Outros textos, como entrevistas e resenhas dispensam referncias e a articulao de
ideias deve ser feita de acordo com cada gnero textual.
PRAZO PARA SUBMISSO: 15 DE OUTUBRO DE 2013
www.extramuros.univasf.edu.br
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ILUSTRAES DA REVISTA
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As imagens utilizadas para ilustrar a Capa, assim como as sees Relatos
e Artigos desta revista, foram gentilmente cedidas por seu criador, o artista plstico
A. C. Colho de Assis (Coelho), da cidade de Juazeiro (Bahia).
Os originais (em leo sobre tela) 1 e 2 pertencem, respectivamente, ao acervo de
Josemar Martins Pinzoh e Edirane Carvalho Coelho Assis.
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DADOS TCNICOS
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Ttulo: EXTRAMUROS - Revista de Extenso da UNIVASF
Projeto grfco: Cecilio Ricardo de Carvalho Bastos
Logotipo: Ricardo Guimares Cardoso
Editorao Eletrnica: Fulvio Torres Flores
Formato do arquivo: Portable Document Format (PDF)
Formato do papel: 21 x 29,70cm
Fontes: Bodoni, Berlin Sans e Chiantin
Nmero de pginas: 189