Revista Guará 15 - Janeiro.23
Revista Guará 15 - Janeiro.23
Revista Guará 15 - Janeiro.23
Editoração
Gustavo Henrique Araújo Forde Helyza Teixeira Mattos
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Karina Ellen Ramos Neves
e Cidadania
24
Oficina sobre higiene das mãos e bucal para crianças em um projeto de
extensão universitária: Relato de experiência
Cristiane Priscila Campiolo, Silvio Luiz Rutz da Silva, Mario Cezar Lopes, Marilisa do Rocio Oliveira, Ana Paula Veber, Manoelito Ferreira Silva Junior
35
Ações extensionistas na pandemia da COVID-19 para divulgação da
prevenção e tratamento de traumatismos dentários
Lucí Regina Panka Archegas, Fernanddo José Spagnol, Letícia Devidé, Mariane Fagundes de Oliveira,Mary Aparecida Pereira Hec
63
Acolhe(dor): Relato de experiência de grupo de apoio on-line a
enlutados pela Covid-19
Luciana Bicalho Reis, Ana Luiza Magalhães Gonçalves, Karina da Silva Cajaiba, Maiara da Silva, Aline Rocha de Morais Fiorese ,
98
O tabu da morte e a prevenção do suicídio nas universidades federais
Graciella Pimentel Rangel Kock
110 Ação extensionista frente à pandemia de SARS-CoV-2: o papel do
Laboratório de Diagnósticos Moleculares da UFV-CRP e o protagonismo
universitário
Liliane Evangelista Visôtto, Luanda Medeiros Santana, Karine Frehner Kavalco, Rubens Pasa, Pedro Ivo Vieira Good God
136
Tradução e conhecimento em tempos de pandemia de COVID-19 em
comunidade quilombola
Adriana Nunes Moraes-Partelli, José Marcos Amabiles Pazini, Aline Pestana Santos, Isabela Lorencini Santos, Marta Pereira Coelho
148
Interface do ensino de idiomas estrangeiros e extensão universitária no
contexto da pandemia de COVID-19
Bárbara Filomena da Silva, Jorge David Aguiar Bellido, Henrique dos Santos Gomes , Flaviana Pena Natividade
161
Promoção de Fonoaudiologia Educacional no enfrentamento da
pandemia COVID-19 na Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal
de Vila Velha
João Ricardo Ferreira Santos, Igor Mapa Silva, Bianca de Souza Conceição, Eduarda Biancardi Carneiro, Ellen Rafaela dos Santos Gomes
Karina Soares Pontes; Thais Knaack, Alessandra Brunoro Motta Loss, Carolina Fiorin Anhoque Comarela, Guiomar Silva De Albuquerque
Liliane Perroud Miilher, Aline Neves Pessoa Almeida, Andrea Alves Maia.
183
Projeto alívio dor orofacial: relato do atendimento fisioterapêutico e
odontológico em pacientes com disfunção temporomandibular durante
o período de pandemia da COVID-19
Anne Karoliny Amparo Cardoso, Cintia Helena Santuzzi, Dhandara Araujo de Sousa, Fernanda Mayrink Gonçalves Liberato, Carlos
6
psicológicas, de diagnóstico e tratamento no âmbito da saúde física e mental de
diferentes comunidades. Além disso, o manuscrito “Interface do ensino de idiomas
estrangeiros e extensão universitária no contexto da pandemia de COVID-19”
apresenta a adaptação de um projeto de idiomas anteriormente presencial para
o modo remoto, possibilitando o alcance e a participação de pessoas de diversas
localidades do Brasil e do exterior.
Mas nem só de pandemia vive a extensão! Há outras perspectivas de
transformar e impactar a sociedade, como pode ser visto nos artigos: “Oficina sobre
higiene das mãos e bucal para crianças em um projeto de extensão universitária:
relato de experiência” e “O tabu da morte e a prevenção do suicídio nas universidades
federais”, que integram a área temática da saúde; “Curso preparatório CELP-BRAS na
UNILA” e “Departamento de Ciências Humanas, Campus III UNEB: um território de
identidades”, que compõem a área da educação; e, por fim, “Propostas de temas a
serem abordados em atividades de educação ambiental em trilhas interpretativas:
estudo de caso no Parque Ecológico Mauro Romano, Vassouras-RJ”, na área temática
do Meio Ambiente.
Esperamos que a leitura deste volume seja instigante e demonstre as
contribuições inequívocas da extensão no contexto da pandemia e fora dele,
evidenciando os diversos “mundos” que a extensão cria e toca, parafraseando Paulo
Freire: “Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre
o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu
trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias”.
Boa leitura! E uma excelente transformação da realidade!
7
Andorinha-pequena, Constantino Buteri.
8
Departamento de ciências humanas, campus III
UNEB: Um território de identidades
Department of human siences, campus III UNEB: A territory of identities
Resumo
O presente artigo busca descortinar as propostas de consolidação
das ações pautadas nos preceitos da Educação Contextualizada Elenice Pereira dos Santos
para a Convivência com o Semiárido Brasileiro (ECSAB) através Edmerson dos Santos Reis
de ações de fomento desenvolvidas pelo Departamento de Ciên-
cias Humanas, Campus III, da Universidade do Estado da Bahia, nice.pereira10@gmail.com
que instigam a transgressão epistemológica capaz de suscitar
Universidade do Estado da
mudanças para a construção de novos saberes baseados na polí- Bahia
tica de convivência, cultura e diversidade dos sujeitos sociais do
Semiárido Brasileiro. Descreve a força da representatividade dos
projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão na trajetória formativa,
acadêmica e profissional dos futuros docentes, oportunizando
a atuação efetiva frente aos processos científicos e educacionais
enquanto campos de referência e preparação na atuação pro-
fissional. Desvela as ações do Projeto de Extensão Reflexão dos
Referencias Teóricos Práticos da Educação Contextualizada que
atua de forma inter-multi e transdisciplinar e contextualizada no
sentido de fortalecer as ações da ECSAB no âmbito do território
do Sertão do São Francisco. Traz como discussões reflexivas con-
cepções acerca de um território de identidade e sua inserção no
contexto social como fonte de significados simbólicos culturais
construídos coletivamente, espaço em que, a perspectiva da con-
textualização dos saberes e conhecimentos é o ponto de partida
das abordagens do projeto.
9
Abstract
The present article seeks to unveil proposals for the consolida-
tion of actions based on the precepts of Contextualized Educa-
tion for Living with the Brazilian Semi - arid (ECSAB) through
fomentation actions developed by the Department of Human
Sciences, Campus III, of the State University of Bahia, which ins-
tigate the epistemological transgression capable of provoking
changes for the construction of new knowledge based on the
politics of coexistence, culture and diversity of the social sub-
jects of the Brazilian Semiarid. It describes the strength of the
representation of teaching, research and extension projects in
the formative, academic and professional trajectory of the fu-
ture teachers, allowing effective action in front of the scientific
and educational processes as fields of reference and prepara-
tion in the professional performance. It reveals the actions of
the Extension Project Reflection of the Practical Theoretical Re-
ferences of Contextualized Education that acts in an inter-multi
and transdisciplinary and contextualized way in order to stren-
gthen the actions of ECSAB within the territory of the Sertão do
São Francisco. It brings as reflective discussions conceptions
about a territory of identity and its insertion in the social context
as a source of collectively constructed symbolic cultural mea-
nings, space in which, the perspective of the contextualization
of knowledge and knowledge is the starting point of the appro-
aches of the project.
10
INTRODUÇÃO
11
Intensas são as discussões, debates, reflexões e ações que vão constituindo a
ECSAB como uma insurgência no campo educacional, e o Departamento de Ciências
Humanas, Campus III, da Universidade do Estado da Bahia está inserido nesse contex-
to constituindo-se como um agente promotor com participação ativa frente às ações
e iniciativas que promulgam e advogam por princípios pautados na Educação Contex-
tualizada para a Convivência com o Semiárido Brasileiro. A construção, socialização, e
divulgação das experiências em torno desta proposta se dão no interior de seus cur-
sos, além da forte contribuição advinda dos projetos de ensino, pesquisa e extensão.
Além dos Cursos de graduação o Departamento de Ciências Humanas, Campus
III, ofertou o curso a nível Lato-Sensu em Educação Contextualizada para a Convivên-
cia com o Semiárido Brasileiro formando duas turmas de especialistas e atualmente
oferece o Programa de Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos –
PPGESA, criado em 2014 a nível Stricto Sensu com inserção e impacto da pós-gradua-
ção e na formação de profissionais que passam a compreender o Semiárido Brasileiro
por outra lógica, não mais da inviabilidade, mas da semiaridez como possibilidade.
Desta feita, perspectivas e metas são traçadas a fim de promover a qualificação
de profissionais para atuarem no mercado de trabalho em Educação Contextualizada
para a Convivência com o Semiárido Brasileiro que se firmam na oferta de cursos de
graduação e pós-graduação, na pesquisa e na extensão com o intuito de construir prá-
ticas educativas pedagógicas contextualizadas.
Inúmeros trabalhos de pesquisa foram e são desenvolvidos a cada ano pelos
atores sociais que formam e são formados pela instituição apresentando a relevância
em suas abordagens de conhecer, participar, problematizar e propagar questões refe-
rentes às especificidades, potencialidades, limites e possibilidades naturais da região
cuidando assim da formação acadêmica profissional dos discentes que a integram.
Uma contribuição que não se limita ao espaço da universidade ou suas redondezas,
pois transita em toda a extensão do território Semiárido e abrangências externas a ele,
fazendo-se multiterritorial e atuando num campo de inserção de abrangência inter-
-multi e transdisciplinar propiciando novos e instigantes desafios intelectuais.
Neste sentido, a universidade se mostra como campo de significados para a
produção de conhecimento e para a formação inicial e contínua obtendo exequibili-
dade, potencial de consolidação na capacitação e qualificação dos agentes em forma-
ção profissionalizando-os para atuarem no mercado de trabalho.
Ao longo dos mais de 35 anos de história do Departamento, a instituição apre-
senta-se como um corpo presente na realidade social e cultural da região, com par-
ticipação efetiva em instâncias representativas, a exemplo da Secretaria Executiva da
Rede de Educação do Semiárido Brasileiro – (RESAB), o Conselho Editorial da RESAB,
o Fórum do Território do São Francisco, entre outros órgãos e instituições afins cola-
borando com a formação plena dos cidadãos do Semiárido em atendimento às de-
mandas das comunidades da área rural e urbana com atuação nos mais diversifica-
dos municípios circunvizinhos, entre eles estão, o município de Casa Nova, Curaçá,
Remanso, Sento-Sé, Canudos, Uauá e Sobradinho, ancorado no compromisso com a
qualidade e equidade social.
12
Neste sentido, as intervenções sistemáticas na realidade social e cultural da re-
gião têm sido constantes e constantes se fazem os esforços em desenvolver ações e
levantar reflexões críticas acerca dos fundamentos teóricos metodológicos ligados a
temática incluindo nos processos acadêmicos e sociais questões pertinentes ao ensi-
no contextualizado, desenvolvendo intervenções de forma integrada com programas,
ações e atividades ligadas a projetos de ensino, pesquisa e extensão que corroboram
de forma efetiva com os cursos de graduação e pós-graduação do Campus.
Assim, o presente trabalho se propõe a descortinar as propostas de consolida-
ção das ações pautadas nos preceitos da ECSAB no Campus III da UNEB, buscando
evidenciar o impacto desses processos no âmbito dos projetos de ensino, pesquisa e
extensão, bem como sua relevância para a construção da identidade e atuação profis-
sional dos futuros docentes tendo como base as experiências vivenciadas no âmbito
dos cursos e projetos ofertados pela instituição de ensino superior.
Desde o final de 2019, o mundo tem passado por uma crise de proporções
pandêmicas. Milhões de pessoas foram afetadas. Um impacto causado em todo o
mundo devido à ação de um vírus altamente contagioso, o SARS-COV-02, que pro-
move a Covid-19. Todo o cenário mundial foi afetado e teve suas atividades roti-
neiras alteradas. Centros comerciais, parques, espaços de entretenimento e aero-
portos foram fechados, a economia entrou em colapso, os índices de desemprego
aumentaram, instituições governamentais e não governamentais passaram por um
processo de readequação, escolas e universidades suspenderam temporariamente
as aulas presenciais e as orientações para o exercício das atividades foram modifica-
das. Governos municipais e estaduais orientaram a população para cumprir as de-
terminações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e assim evitar aglomerações e
permanecer em confinamento domiciliar sendo esta uma das principais medidas de
proteção à vida para conter o contágio. O uso de máscara e álcool gel passa a fazer
parte da realidade dos cidadãos e claro, em uma emergência mundial é instituída a
ideia do “novo normal”.
Empresas passaram a orientar seus funcionários a trabalhar no regime home
office enquanto os espaços educativos passaram por um processo de reinvenção
para que os itinerários pedagógicos não estagnassem e sua operacionalização
acontecesse dentro das possibilidades e limitações ocasionadas tão repentinamen-
te pelo novo coronavírus. Desta feita, para que a educação não fosse interrompida e
os estudantes pudessem continuar a estudar, algumas instituições aderiram a mo-
dalidade de ensino remoto.
Nesse movimento de reinvenção e inovação do espaço dialógico, durante a
pandemia, o Departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB), Campus III, passou a promover a disseminação da pesquisa através
dos canais de transmissão do youtube do Programa de Pós-Graduação Mestrado
em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos (PPGESA), do Grupo de Pesquisa Po-
lifonia, do Grupo de Pesquisa Ecuss Cultural e do Canal do Colegiado de Pedagogia,
13
e a partir da promoção de rodas de conversas, lives, debates e experiências com-
partilhadas pensar e refletir criticamente sobre os desafios do contexto pandêmico
e pós pandêmico vividos no cenário educacional do mundo atual em conjunto com
os grupos de pesquisa e participação de pesquisadores nacionais e internacionais,
professores/as que integram a educação básica e o ensino superior, discentes, mo-
nitores/as, formadores/as, pesquisadores, dentre outros pares.
Nesse contexto, reflexões sobre a transformação dos sistemas de ensino de
natureza presencial para o ensino remoto; reflexões sobre a docência e as práticas
pedagógicas e condições precárias de acessos à internet e equipamentos tecnoló-
gicos por parte dos estudantes e professores/as durante a pandemia do Covid-19; a
docência e os desafios de trabalhos remotos; reflexões sobre atividades síncronas
e assíncronas; desafios do ensino remoto em domicilio durante o período de isola-
mento social; Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido em
tempos de Pandemia; a necessidade de acolhimento às pessoas para a continui-
dade dos processos educativos; foram estes os sentidos colocados em pauta nesse
ambiente/espaço de diálogo compartilhado e coletivo em meio a esse período.
Neste sentido, o modo como à educação era realizada pelos sistemas de ensi-
no ganhou uma nova configuração impondo as instituições de ensino, nas múltiplas
esferas e contextos (publico, privado, básico e superior), novas formas de atuação
por meio do manuseio de plataformas e aplicativos digitais para acesso as salas
virtuais.
Como exposto por Silva (2021),
[...] O contexto pandêmico nos (im)pôs uma nova realidade e uma, ain-
da que temporária, nova estrutura e realidade escolar, o que exige uma práti-
ca que muitos não conheciam até aqui. Até os professores mais experientes
precisam reaprender a como ser docentes nessa situação de distanciamento
social. Os professores iniciantes são, desse modo, levados a desenvolver a do-
cência em um processo em que todos precisamos (re)aprender a ser docen-
tes. (SILVA, 2021, p. 72).
14
educação por meio das plataformas digitais de forma a manter contato ativo de vínculo/
conexão com alunos/as da universidade e adaptação dos projetos pautados no pilar
do ensino, pesquisa e extensão a nova conjuntura posta pela pandemia. Um panorama
novo de uma educação através da internet, em tempos que exigem novas posturas, mo-
delagens e dinâmicas.
Nessa perspectiva, o cenário pandêmico trouxe limites e desafios imprimidos
pelo distanciamento social, contudo, por outro lado o processo de reinvenção possibili-
tou reunir instituições públicas e privadas e estabelecer um diálogo colaborativo circular
com seus atores sociais, bem como, oportunizar a aproximação e formação de laços
por meio da utilização dos instrumentos que possibilitaram a diversidade, pluralidade
e a formação do cidadão reflexivo no movimento constante firmado na esperança para
além da crise.
Como exposto pelo grande educador e filósofo Paulo Freire:
É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem
gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é
esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é
construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é jun-
tar-se com outros para fazer de outro modo… (FREIRE, 1992).
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O projeto Reflexão possui uma estrutura organizativa que funciona de maneira in-
tegrada realizando ações que não se restringem ao campo de ação individual, mas que se
estendem a uma rede de alcance colaborativo e coletivo tecidas em articulações vincula-
das a ações desenvolvidas com outros projetos de pesquisa e extensão da universidade
com permeabilidade nos cursos de graduação e pós-graduação.
Assim, num processo de expansão das discussões e suporte a outras abordagens
associadas à ECSAB, novos projetos se inserem nesse campo de significação e trabalham
em ações conjuntas a exemplo do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação Contextu-
alizada para a Convivência com o Semiárido Brasileiro - NEPEC – SAB, que teve sua origem
dentro das ações desenvolvidas pelo projeto Reflexão e ganha vida independente sendo
um grande apoiador tanto nas discussões como nas ações e conquistas engendradas que
agregam ações conjuntas.
17
Além do NEPEC-SAB outros projetos tem se dedicado a estabelecer relação de par-
ceria com o projeto Reflexão configurando-se como um importante avanço para as
pesquisas e ações que atingem uma substancial importância na representação da
UNEB nos momentos discursivos de estudo e reflexão crítica sobre Educação Con-
textualizada.
Muitos são os frutos colhidos ampliando as perspectivas, intensificando as
ações e criando novos rumos para o conhecimento. Além dos já mencionados, cum-
pre destacar a criação do Curso de Especialização em Educação Contextualizada
para a Convivência com o Semiárido e do Programa de Pós-Graduação Mestrado
em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos – PPGESA que em 2022 entrou com
a 9ª Turma de aspirantes a mestres em processo formativo e seis turmas já forma-
das nos anos anteriores desde a sua criação; a promoção do Workshop Nacional
em Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido Brasileiro com
inserção e impacto regional, nacional e internacional caminhando para sua 11ª edi-
ção em 2022; Colóquio de Pós-Graduação do Vale do São Francisco, 4ª edição, que
também nasceram no âmbito das ações mobilizadas no projeto e ganharam vida
própria através das mediações interventivas realizadas pelo programa de pós-gra-
duação Stricto Sensu do Campus. Outros frutos dessa jornada mediada pelo ensino,
pesquisa e extensão foi o surgimento de Grupos de Pesquisas, como o Educação
Contextualizada, Cultura e Território (EDUCERE), o ECUSS Cultural, e as abordagens
que foram dadas ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID),
desde 2013, e do Residência Pedagógica, que se fundamentaram na perspectiva da
Educação para Convivência com o Semiárido Brasileiro, assim como, inúmeras pu-
blicações (livros, artigos, capítulos de livros, participações em eventos) que vão fun-
damentando teoricamente este movimento.
Essas conquistas têm se materializado e obtido tamanha repercussão nos pro-
cessos educativos, formativos, discussões acadêmicas, científicas e culturais com
ricas experiências sentidas e vividas pelos corpos de docentes e discentes, veteranos
e egressos da instituição, em atuação ou que já atuaram nos projetos e nos cursos
de graduação e pós-graduação. Tais iniciativas oferecem respaldo para a relevância
do processo de formação inicial e contínua constituindo-se base para a profissio-
nalização docente preparando caminho para uma atuação profissional qualificada
em educação contextualizada exercendo papel proativo na construção de um novo
projeto de desenvolvimento para o Semiárido Brasileiro.
Importante se faz refletir sobre o link articulatório que os projetos de pesquisa
e extensão conseguem exercer e manter entre os cursos de graduação e pós-gradu-
ação na mobilidade de suas ações interventivas e educacionais obtendo impacto
significativo na profissionalização docente.
Uma articulação que se faz necessária também no interior dos cursos de li-
cenciatura e bacharelado ofertados pelo Campus III, que carecem dessa mesma
força de aproximação e impacto atribuindo maior representatividade no processo
formativo e profissional auxiliando os futuros professores para os desafios da pro-
fissão, pois se sabe que a participação dos graduandos em projetos ainda é mínima
em função do limitado número de vagas ofertadas se comparada ao fluxo de alunos
que adentram e compõem o corpo discente da universidade.
18
Pesquisas já foram realizadas tornando-se intenção investigativa trazendo como re-
sultado a necessidade de ampliar as iniciativas e o diálogo no interior dos cursos
de graduação a fim de oferecer maior preparação na atuação profissional como ex-
plicitado na narrativa abaixo destacada revelada através de pesquisa realizada em
2012 por uma estudante de pedagogia na elaboração de seu trabalho monográfico:
Penso que a universidade precisa fazer uma avaliação reflexiva para analisar a
necessidade de estar incluindo a ECSA na grade curricular do curso, pois ainda
tem feito muito pouco perto do que realmente pode ser feito contribuindo
desta forma para que a formação profissional de seus educandos seja mais
significativa, pois o departamento não tem oferecido subsídios para a aplica-
ção desses conhecimentos na prática escolar. (Graduanda V, 2012).
19
A universidade é um cenário importante na ação protagonizadora de estímulo
e incentivo a formação de seus participantes, contudo, faz-se necessário contribuir e
incentivar ainda mais a comunidade escolar habilitando-os a atuar de forma prática,
fundamentada na contextualização através de metodologias que possibilitem mini-
mizar as fendas que sangram de um processo formativo descontextualizado, desco-
nectado, portanto do contexto e da convivência com o meio social, um desafio atual
para as comunidades acadêmicas e escolares espaços esses de atuação e formação
profissional do professor.
20
Nessa perspectiva, a universidade enquanto instituição responsável pela
produção e difusão do conhecimento científico do campo educacional, configura-
-se como um território de múltiplas identidades uma vez que dispõe de recursos
materiais e imateriais que se tornam fonte de significados para os agentes que a
compõem. Tais significados podem ser construídos através dos princípios organiza-
cionais que balizam suas ações, a exemplo, do currículo, metodologias, regimentos
e normas, como também, por intermédio da convivência com o ambiente onde são
compartilhados os saberes e experiências fazendo desse um território social, singu-
lar e plural de formação e abrangência comunitária.
Dentre as concepções e conceitos acerca de território está a sua inserção no
contexto social que o compreende numa perspectiva múltipla, multidimensional e
diversa na produção de significados de um espaço-tempo vivido que abrange ele-
mentos interculturais firmados na experiência, na relação dos sujeitos com o mun-
do em que vivem, nos valores e nas ações materiais e imateriais como fundantes da
história e memória de um povo.
De acordo com Haesbaert, (2004, p.79), “o território pode ser concebido a
partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material das
relações econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais
estritamente cultural”. Neste sentido, os membros que ocupam esse espaço são
envolvidos pelo sentimento de pertencimento ao constituir-se parte do processo
e seres construtores de história e memória no compartilhamento de experiências,
aferindo sentido e consciência de sua participação, corroborando no princípio for-
mador de uma identidade pessoal, profissional e coletiva.
Segundo Santos, (2005, p. 96),
21
CONCLUSÕES
22
REFERÊNCIAS
BAHIA. Resolução 1.406/2020. Regulamenta o Plano de Ação para o enfrentamento a pandemia COVID-19,
no âmbito da UNEB. Salvador: Universidade do Estado da Bahia, Conselho Universitário, 2020
________. Resolução 1.495/2021. Documento Referencial Relativo ao Retorno Gradual das Atividades Pre-
senciais nas Ações Acadêmicas, de Gestão de Pessoas e dos Procedimentos Administrativos, no âmbito da
UNEB. Salvador: Universidade do Estado da Bahia, Conselho Universitário, 2021.
FARIAS, Edileuza Nunes Sobral. Desvendando o processo Histórico do Projeto Reflexão dos Referencias Teó-
ricos Práticos da Educação Contextualizada nos Campi da UNEB, localizada no Semiárido Baiano. Monogra-
fia apresentada à Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas-DCH III, para obtenção
do titulo de Licenciatura Plena em Pedagogia. Juazeiro/Bahia, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro,Paz e
Terra, 1992, 245 p.
MARTINS, Josemar da Silva. Anotações sobre a interação em rede. In: Educação para a convivência com o
Semi-Árido Brasileiro: reflexões teórico práticas. Bahia: Juazeiro: Selo Editorial RESAB, 2006.
MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Bra-
sil, 2003.
PIMENTA, S.G; ANASTASIOU, L. das G. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2014.
SANTOS, Elenice Pereira. Repercussões da Educação Contextualizada Para a Convivência com o Semiárido
no processo formativo dos educandos. Monografia apresentada à Universidade do Estado da Bahia, Depar-
tamento de Ciências Humanas-DCH III, para obtenção do titulo de Licenciatura Plena em Pedagogia. Juazeiro/
Bahia, 2013.
SILVA, Adelaide Pereira; MENEZES, Ana Célia Silva; REIS, Edmerson dos Santos. Educação para a convivência
com o Semiárido: desafios e possibilidades de um novo fazer. In: ROCHA, Maria Isabel Antunes (Orgs.). Territó-
rios educativos na educação do campo: escola, comunidade e movimentos sociais. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2012.
SILVA, A. J. N. da. Professores de Matemática em Início de Carreira e os Desafios (Im)Postos pelo Contexto
Pandêmico: Um Estudo de Caso com Professores do Semiárido Baiano: doi.org/10.29327/217514.7.1-5. Revista
IberoAmericana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], v. 7, n. 1, p. 17, 2021a. Disponível em: http://pe-
riodicorease.pro.br/rease/article/view/430. Acesso em: 28 mar. 2022.
AGRADECIMENTOS
23
Andorinha em voo, Constantino Buteri.
24
Oficina sobre higiene das mãos e bucal para crianças
em um projeto de extensão universitária:
Relato de experiência
Hand and oral hygiene workshop for children in an university extension project: report of
experience
Resumo
O objetivo do presente estudo foi relatar o desenvolvimento de
uma oficina educativa sobre higiene das mãos e bucal para crian- Cristiane Priscila Campiolo
ças entre 3 e 12 anos, em uma atividade extensionista no municí- Silvio Luiz Rutz da Silva
pio de Teixeira Soares-PR, Brasil, em 2019. A oficina foi elaborada Mario Cezar Lopes
e realizada durante uma Operação Rondon da Universidade Esta- Marilisa do Rocio Oliveira
dual de Ponta Grossa, e envolveu três acadêmicos de Odontolo- Ana Paula Veber
gia, sob supervisão de dois docentes. Para alcançar habilidades Manoelito Ferreira Silva Junior
ao público-alvo, ao nível cognitivo (conhecimento), foi planejada manoelito_fsjunior@hotmail.com
uma abordagem dialógica e, em nível psicomotor (habilidades
técnicas), um momento prático supervisionado. Aproximada- Universidade Estadual de
mente 30 crianças participaram da oficina, cujas atividades foram Ponta Grossa
divididas em três grupos, por faixa etária, a fim de deixá-los mais
homogêneos. Ainda que os recursos didáticos tenham sido os
mesmos, a linguagem e a abordagem tornaram-se mais adequa-
das. A atividade teve como propósito capacitar as crianças sobre
informações de saúde bucal pertinentes a cada faixa etária, bem
como motivá-las a realizar a higiene das mãos e da boca, com
técnicas de higiene adequadas para a idade. A experiência possi-
bilitou o desenvolvimento de materiais com recursos recicláveis
interativos e de baixo custo, além de uma formação acadêmica
mais humana e articulada com a comunidade.
25
Abstract
The objective of this study was to report the development of an
educational workshop on hand and oral hygiene for children in
an extension activity. The educational workshop on hand and
oral hygiene was developed for children between 3 and 12 ye-
ars old in the municipality of Teixeira Soares-PR, Brazil, in 2019
during an Operation Rondon of the State University of Ponta
Grossa. The workshop was designed and carried out by three
academics from Dentistry under the supervision of two tea-
chers. To achieve skills in the target audience at a cognitive level
(knowledge), a dialogic approach and a psychomotor level (te-
chnical skills) were planned for a supervised practical moment.
Approximately thirty children participated in the workshop, and
the activity was divided into three groups, trying to make the
group more homogeneous by age group, because even using
the same didactic resources, the language and approach were
adequate became more appropriate. The activity trained chil-
dren on oral health information relevant to the age group, as
well as motivating them to perform hand and mouth hygiene
with age-appropriate hygiene techniques. The experience ena-
bled the development of materials with interactive, low-cost
recyclable resources and a more humane and articulated aca-
demic formation with the community.
26
INTRODUÇÃO
Relato de experiência
Figura 1. Macro
modelo e escova
feito com materiais
recicláveis para
demonstração da
técnica de higieni-
zação.
28
Figura 2. Momento
de abordagem dia-
lógica sobre higie-
nização das mãos e
boca. Foto oficial da
operação.
Para ensinar a higienização das mãos, o primeiro passo foi pintar com tinta fos-
ca nas mãos (RIBEIRO et al., 2017) das crianças e, assim, simular bactérias; em seguida,
foi pedido para que elas se cumprimentassem, a fim de que percebessem a passagem
dessas bactérias de uma pessoa para outra. As crianças foram então conduzidas para
o lavatório, onde se despejou sabonete; seus rostos foram cuidadosamente vendados
e foi solicitado que elas lavassem as mãos do jeito que lavavam em casa e parassem
quando acreditassem que a lavagem já tinha sido suficiente. Depois disso, as vendas
foram retiradas e foi-lhes mostrado os locais onde ainda havia manutenção de tinta,
principalmente na região das unhas e entre os dedos. Assim, foi ensinada a técnica
de higienização simples das mãos às crianças. Por fim, foi solicitado que repetissem
todos os passos.
As recomendações da técnica de higienização seguiu o manual “Lavar as mãos”
do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008), no qual se recomendam as seguintes etapas de
desenvolvimento da técnica de higienização simples das mãos: retirar adornos; abrir
a torneira e molhar as mãos, evitando encostar-se na pia; evitar água muito quente ou
29
muito fria, a fim de prevenir o ressecamento da pele; aplicar sabão líquido na palma
da mão, em quantidade suficiente para cobrir todas as superfícies (seguir a quanti-
dade recomendada pelo fabricante); realizar a fricção de todas as partes das mãos,
incluindo palmas, dorso, espaços interdigitais, dorso dos dedos, polegares, polpas
digitais e punhos; enxaguá-las, retirando os resíduos de sabão, no sentido dos dedos
para os punhos, evitando contato direto das mãos ensaboadas com a torneira. Para
finalizar, proceder a secagem com papel toalha descartável, iniciando pelas mãos e
seguindo em direção aos punhos; posteriormente, desprezar o papel tolha na lixeira
destinada a resíduos comuns. A duração do procedimento depende do tipo no caso
da higienização simples deve ser de, aproximadamente, 40 a 60 segundos.
Escovação Bucal
30
DISCUSSÃO
31
Após a lavagem, que foi feita de olhos vendados e encerrada quando as crian-
ças acreditavam ser satisfatória, foi demonstrado, após a remoção da venda, que a
técnica da lavagem não foi executada a contento. A lavagem das mãos é a providência
mais simples que uma pessoa pode tomar para reduzir o número de microrganismos
nas mãos e, assim, evitar doenças e propagação para outras pessoas. Muitas doenças
e condições se espalham por conta do simples passo de lavagem das mãos, com sa-
bão e água corrente limpa (CENTERS ..., 2015).
A interação do acadêmico com a comunidade, através de atividades realizadas
por projeto de extensão como o aqui apresentado, oportuniza ao aluno colocar em
prática os conhecimentos adquiridos durante sua formação acadêmica, sendo um
processo educativo e científico, que exerce função social na comunidade e que re-
sultará em aprendizado para ambos (SERRANO, 2016), sendo assim, essas atividades
devem ser estimuladas ao longo de todo o processo de formação profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AGNELLI, P.B. (2015). Variação do índice CPOD do Brasil no período de 1980 a 2010. Revista Brasileira de Odon-
tologia, 72(1/2): 10-15.
ANOPA, Y.; MCMAHON, A. D.; CONWAY, D. I.; BALL, G. E; MCINTOSH; MACPHERSON, L. M. (2015). Improving child
oral health: cost analysis of a national nursery toothbrushing programme. PLoS One, 25(8): e0136211. Doi:
10.1371/journal.pone.0136211
ARDENGHI, T. M.; PIOVESAN, C.; ANTUNES, J. L. F. (2013). Desigualdades na prevalência de cárie dentária não
tratada em crianças pré-escolares no Brasil. Revista de Saúde Pública, 47 (Supl. 3): 129-137.
BRASIL (2009). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Higie-
nização das Mãos. Brasília: Anvisa, 105p.
32
BRASIL (2008). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de segurança do paciente: higienização das
Mãos. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). (2015). Show me the science - how to wash your
hands. Disponível em: https://www.cdc.gov/handwashing/why-handwashing.html. Acesso em: 06 ago. 2019.
CHAER, M. R.; GUIMARÃES, E. G. A. (2012). A importância da oralidade: educação infantil e séries iniciais do
Ensino Fundamental. Pergaminho, 3:71-88, nov. 2012
DYER, D.; ADDY, M.; NEWCOMBE, R. G. (2000) Studies in vitro of abrasion by different manual toothbrush hea-
ds and a standard toothpaste. Journal of Clinical Periodontology, 27(2): 99-103.
ESAN, A.; FOLAYAN, M. O.; EGBETADE, G. O.; OYEDELE, T. A. (2015). Effect of a school-based oral health educa-
tion programme on use of recommended oral self-care for reducing the risk of caries by children in Nige-
ria. International Journal of Paediatric Dentistry, 25(4): 282-290.
FERREIRA, A. F. V.; SÁ, A. S.; MENDONÇA, K. M.; SOUSA, A. C. S.; SANTOS, S. L. V. (2010). Técnica de higienização
simples das mãos: a prática entre acadêmicos da enfermagem. Ciencia y EnfermerIa, 16(1): 49-58.
FIGUEIRA, T. R.; LEITE, I. C. G. (2008). Percepções, conhecimentos e práticas em saúde bucal de escolares.
Revista Gaúcha de Odontologia, 56(1): 27-32.
FREIRE, M. C. M.; REIS, S. C. G. B.; FIGUEIREDO, N.; PERES, K. G.; MOREIRA, R. da S.; ANTUNES, J. L. F. (2013).
Determinantes individuais e contextuais da cárie em crianças brasileiras de 12 anos em 2010. Revista de
Saúde Pública, 47(3): 40-49.
KAY, E. J.; LOCKER, D. (1996). Is dental health education effective? A systematic review of current evidence.
Community Dentistry and Oral Epidemiology, 24(4): 231-5. Doi: 10.1111/j.1600-0528.1996.tb00850.x
MAGALHAES, Ana Carolina; MORONI, Bruna Mangialardo; COMARI, Lívia Picchi; BUZALAF, Marília Afonso Rabelo.
(2011). Uso racional dos dentifrícios. Revista Gaúcha de Odontologia. 59(4): 615-625.
MARCENES, W.; KASSEBAUM, N. J.; BERNABÉ, E.; FLAXMAN, A.; NAGHAVI, M.; LOPEZ, A.; MURRAY, C. J. (2013). Glo-
bal burden of oral conditions in 1990-2010: a systematic analysis. Journal of Dental Research, 92(7): 592-597.
MONTEIRO, Mello P. C.; DONADIO, Nicodemo D.; SARTORI, Pinto L. (2013). Práticas de Higiene Bucal como Par-
te de Ação Voluntária na Operação São Francisco – Projeto Rondon. Disponível em: http://www.sinprosp.
org.br/conpeb/revendo/dados/files/textos/pdf_Relatos_de_Experiencias/PR%C3%81TICAS%20DE%20HIGIE-
NE%20BUCAL%20COMO%20PARTE%20DE%20A%C3%87%C3%83O%20VOLUNT%C3%81RIA%20NA%20O.pdf.
Acesso em: 07 abr.
2020.
NASCIMENTO, A. P. C.; SILVA-JUNIOR, M. F.; GOMES, A. M. M.; DALEPRANE, B.; CASPAR, C. V.; GOMES, A. P. M.;
GOMES, A. A. (2017). Effectiveness of indirect motivational methods in the reduction of biofilm and gingival
alteration in adults. Arquivos em Odontologia, 53:e05. doi: 10.7308/aodontol/2017.53.e05.
PEREIRA, V.; FRATE, B.; SALVETTI, T.; OKANE, E.; SARTORI, L. (2016). Oficina da saúde bucal aplicada na opera-
ção Porta do Sol, Itatuba-PB, e na E.E. Júlio de Mesquita Filho, São Paulo-SP. Revista Eletrônica de Extensão,
13(21): 214-223.
33
RABIEI, S.; MOHEBBI, S. Z.; YAZDANI, R.; VIRTANEN, J. I. (2014). Primary care nurses’ awareness of and willing-
ness to perform children’s oral health care. BMC Oral Health. 14: 26. doi: 10.1186/1472-6831-14-26.
RIBEIRO, F. D. O.; SOUZA, M. A.; DE PAULA, A. O.; SILVA, A. G.; OLIVEIRA, A. C. (2017). Estratégia lúdica para a
melhoria de práticas de higienização das mãos entre os profissionais de saúde. Revista de enfermagem da
UFPE on-line, 11(10): 3971-9.
SANTOS, C. T.; SOUZA, L. B. P., SILVA, S. L. R. (2016). O monstro da cárie: a importância da ludicidade em ativida-
des teórico-práticas relacionadas à saúde bucal. Espacios. 37(33): 22.
SERRANO, R. M. S. M. (2016). Conceitos de extensão universitária: um diálogo com Paulo Freire. Pró-reitoria de
extensão e assuntos comunitários – PRAC, 13(8): s.p.
STEIN, C.; SANTOS, N. M. L.; HILGERT, J. B.; HUGO, F. N. (2017). Effectiveness of oral health education on oral
hygiene and dental caries in school children: Systematic review and meta-analysis. Community Dentistry and
Oral Epidemiology, 46(1): 30-37. Doi: 10.1111/cdoe.12325.
TAKEUCHI, R.; KAWAMURA, K.; KAWAMURA, S.; ENDOH, M.; UCHIDA, C.; TAGUCHI, C.; NOMOTO, T.; HIRATSUKA,
K.; FIFITA, S.; FAKAKOVIKAETAU, A.; KOBAYASHI, S. (2017). Evaluation of the child oral health promotion ‘Mali-
Mali’ Programme based on schools in the Kingdom of Tonga. International Dentistry Journal, 64(4): 229-237.
AGRADECIMENTOS
34
Batuira, Constantino Buteri.
35
Ações extensionistas na pandemia da COVID-19
para divulgação da prevenção e tratamento de
traumatismos dentários
Extension actions in the COVID-19 pandemic to publicize the prevention and treatment of
dental trauma
36
Abstract
The present study is an experience report on the activities of
extension workers at the Federal University of Paraná (UFPR),
in the prevention and treatment of dental trauma, to create: a
guide to clinical conduct on dental trauma for undergraduates
and professionals in Dentistry, digital materials of prevention of
tooth avulsion for schoolchildren and extension event on den-
tal trauma for students of the Technical Course in Community
Health Agents, in Curitiba. The basis of this work was research
in databases of Dentistry and digital books. Tooth avulsion is
a prevalent occurrence for children and adolescents, requi-
ring immediate actions to keep the tooth in this population.
In this way, a playful educational pamphlet, video, and online
questionnaire were made for five public and private schools in
Curitiba-PR and Papanduva-SC, which reached approximately
3000 people including parents, educators, administrators and
students. Project participants experienced socialization throu-
gh digital contact with colleagues, advisors and the community
during the pandemic; and shared scientific knowledge through
technological tools for the prevention and treatment of dental
trauma for schoolchildren, undergraduates and health profes-
sionals.
37
INTRODUÇÃO
38
As lesões dentárias traumáticas são um problema de saúde pública, sendo mais
comuns em crianças e adolescentes, embora mencione-se que um terço da população
sofrerá algum tipo de trauma dentário durante a vida (HAMMEL; FISCHEL, 2019). Agres-
sões, acidentes de trânsito, atividades esportivas, entre outros, são as causas mais rela-
cionadas ao traumatismo dental. A prevalência desses traumas varia entre 9,4% e 62,1%
na dentição decídua, e entre 8,0% e 58,6% na dentição permanente (RODRIGUES et al.,
2015). É imprescindível também ter o conhecimento de que o tratamento para faixas etá-
rias mais jovens varia se comparado a indivíduos adultos, já que o crescimento da raiz e
o crescimento facial devem ser levados em consideração (BOURGUIGNON et al., 2020). A
compreensão dos princípios básicos das ações imediatas frente aos diferentes tipos de
traumas dentais é importante para que a população tome as medidas necessárias na ma-
nutenção do dente, visto que o manejo inicial possui grande influência no prognóstico do
tratamento (CHAUHAN et al., 2016).
Dentre todos os traumas dentais destaca-se a avulsão, definida como o desloca-
mento completo do dente para fora de seu alvéolo, sendo um trauma que causa danos
severos aos tecidos da polpa e do ligamento periodontal (ANDREASEN et al., 2012). Este
trauma possui uma ocorrência menos frequente, mas esta perda precoce pode causar gra-
ves sequelas na saúde, no comportamento, no estado psicológico e na qualidade de vida
do indivíduo afetado (RODRIGUES et al., 2015). Desta forma, observa-se a necessidade do
aprofundamento do tema, associada à divulgação desses conhecimentos para a socie-
dade em geral. Na avulsão, algumas simples ações são imprescindíveis para o sucesso do
tratamento e devem ser tomadas imediatamente após o trauma até o reimplante dental.
Os estudantes e profissionais da área de Odontologia devem habituar-se ao proto-
colo de atendimento frente aos diferentes traumas dentais, a fim de executar um diagnós-
tico e uma conduta clínica assertiva. O traumatismo dentário não tratado imediatamente,
ou tratado de forma inadequada, pode gerar graves sequelas, incluindo o escurecimento
do dente envolvido; a morte da polpa dental (responsável por garantir a vitalidade do ór-
gão); danos nos tecidos de sustentação do dente (responsável por absorver os impactos
da força mastigatória) e a reabsorção da raiz dentária, que pode levar à completa perda do
dente (ANDREASEN et al., 2012). Esta perda pode causar grandes impactos na qualidade
de vida do paciente, afetando tanto a estética facial quanto a função mastigatória e diges-
tiva (ANDREASEN et al., 2012).
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi relatar ações extensionistas durante a
pandemia da COVID-19 para promover a prevenção e tratamento dos traumatismos den-
tais.
MÉTODO
39
Primeiramente, os extensionistas do projeto, sob orientação de duas professoras
orientadoras, desenvolveram atividades de pesquisa sobre os traumatismos dentários, em
livros digitais, e busca de artigos científicos em base de dados, como o PubMed e biblioteca
virtual Scielo (Scientific Electronic Library Online). Foram levantadas as lesões de traumatis-
mo dentário, como: dos tecidos duros dos dentes e da polpa, dos tecidos periodontais,
da gengiva e da mucosa oral e do osso de sustentação, sua prevalência na população e a
importância da atuação imediata frente a esses acidentes.
Em seguida, os conteúdos obtidos deram origem ao desenvolvimento de um guia
de protocolo clínico para o atendimento de traumas dentais, com o objetivo de auxiliar
tanto os estudantes do curso de Odontologia quanto os cirurgiões dentistas, a expandirem
seus conhecimentos sobre o tema, facilitar o diagnóstico e tomar as medidas necessárias
em cada caso. Os membros do projeto se reuniam semanalmente de forma on-line com
seus orientadores, para um alinhamento dos conteúdos em relação a revisão de literatu-
ra. Para abranger o atendimento clínico emergencial foram definidos os seguintes tópicos:
introdução, classificação e conceitos dos traumatismos dentários; ações preventivas; ava-
liação diagnóstica; abordagem inicial e condutas clínicas. Para facilitar a compreensão do
guia, ilustrações dos diferentes tipos de traumas foram pesquisadas pelos extensionistas,
referenciadas e inseridas no material. O planejamento de divulgação deste material foi na
forma digital de Recurso Educacional Aberto (REA) no acervo bibliográfico da UFPR, para
que possa ser amplamente acessado por profissionais e acadêmicos da área de Odonto-
logia.
Uma nova fase do projeto se iniciou quando os extensionistas se sensibilizaram
para o fato de que a perda precoce do dente por trauma pode trazer graves consequências
para a vida do indivíduo, assim, outras iniciativas para a prevenção de avulsão dentária co-
meçaram a ser definidas. O ambiente escolar tornou-se o alvo da equipe do projeto de ex-
tensão em Saúde Bucal nesta fase, pois mesmo em época de Pandemia pelo Coronavírus,
o ambiente proporcionado pela escola continua a ser diferenciado e tem uma perspectiva
global (IPPOLITO-SHEPHERD; CERQUEIRA, 2005). Desta forma, o planejamento cerceou
primeiramente o desenvolvimento de um material ilustrativo em formato de folder digi-
tal, com linguagem acessível e didática direcionado à comunidade escolar, com o objetivo
de divulgar as medidas imediatas a serem tomadas pela comunidade frente aos casos de
avulsão dentária. A equipe programou e desenvolveu os desenhos necessários para sensi-
bilizar o público-alvo na ferramenta de design Adobe Illustrator.
Junto ao folder, também foi proposto a elaboração e encaminhamento de um
vídeo, com intuito de despertar o interesse da comunidade escolar a respeito do material
enviado, e sintonizar os integrantes do projeto com a comunidade. O vídeo, com duração
de um minuto e trinta segundos no formato MP4, foi gravado e editado pelos extensionis-
tas no aplicativo “InShot”, para a contextualização e reforço das informações mais impor-
tantes contidas no material ilustrativo de avulsão dental. Esta gravação foi enviada para os
representantes das escolas por e-mail e pelo aplicativo WhatsApp, e repassada aos pais e
alunos.
Outra proposta do planejamento para o ambiente escolar foi a elaboração de um
formulário avaliativo, material desenvolvido no Google Forms com questões sobre a avul-
são dentária (Tabela 1), para se medir o grau de esclarecimento da comunidade escolar e
a eficácia do folder e vídeo enviados.
40
Perguntas Respostas
Tabela 1: Questiona-
mentos de avulsão
dentária utilizados Você já tinha conhecimento sobre avulsão dentária? ( ) Sim ( ) Não
no formulário ava-
liativo
Após assistir ao vídeo e fazer leitura do folder sobre avul-
são dentária, você acha que essas informações aumenta- ( ) Sim ( ) Não
ram seu conhecimento sobre o assunto?
Se algum amigo ou conhecido sofrer um deslocamento
total do dente para fora do seu lugar, você saberia que ( ) Sim ( ) Não
medidas tomar?
RESULTADO
Por conta da pandemia do novo coronavírus, todo planejamento e ações do
projeto de extensão foram realizados de forma virtual, por meio de reuniões na pla-
taforma Microsoft® Teams. O desenvolvimento do guia de traumatismo dentário com
integração multidisciplinar e pesquisa científica, aprofundou consideravelmente o
conhecimento dos alunos participantes do projeto sobre esse tema, assim como
ampliou a visão das formas de abordagem divulgadas à população. Este guia intitu-
lado “Impactos, prevenção e condutas clínicas do traumatismo dentário” abordou
os conceitos dos traumas, sua classificação (quanto a lesões nos tecidos duros e
à polpa, lesões nos tecidos periodontais, na gengiva ou na mucosa oral e no osso
de sustentação), ações preventivas (como utilizar protetores bucais), avaliação diag-
nóstica e as condutas clínicas necessárias para o adequado atendimento, de acordo
com os dados mais recentes da literatura. Neste instrumento foram elaboradas di-
versas ilustrações autorais, assim como imagens de lesões dos tecidos envolvidos
e tabelas. Todas essas atividades relativas ao guia proporcionaram uma expansão
de conhecimento aos acadêmicos do projeto, assim como informações atualizadas
para profissionais e estudantes de Odontologia, com sua divulgação no repositório
aberto da UFPR.
41
Considerando que a avulsão possui maior prevalência em crianças na idade es-
colar (7 a 12 anos), os membros do projeto desenvolveram, concomitantemente ao guia,
um material ilustrativo lúdico em formato de folder digital com foco na avulsão de um
dente permanente, abordando o momento do trauma e as ações imprescindíveis a se-
rem tomadas, que são determinantes para um melhor prognóstico do caso. Os desenhos
nele contidos foram desenvolvidos exclusivamente pela equipe do projeto, desta forma
as imagens são autorais e traduzem as necessidades visuais requeridas para sensibilizar o
público atingido (Figura 1).
Figura 1: Folder
“Meu dente per-
manente caiu! E
agora?”
DISCUSSÃO
As atividades desenvolvidas por esse projeto de extensão mostraram a importân-
cia de se manter a relação universidade-comunidade durante a pandemia, principalmen-
te para a saúde mental dos extensionistas e orientadores. A socialização vivenciada pelo
grupo, mesmo de forma on-line, estimulou a todos para o estudo científico, preparo de
material didático preventivo e divulgação na comunidade.
43
A extensão promove a interação transformadora entre as instituições de en-
sino superior e outros setores da sociedade por meio da produção e aplicação do
conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa (FORPROEX,
2012). O uso de ferramentas tecnológicas para a saúde se mostrou um canal de co-
municação eficaz e de fácil utilização neste projeto, acordando com Campos et al.
(2020).
A forma on-line das ações extensionistas proporcionou vários pontos positi-
vos: otimização do tempo, pois não havia a necessidade de deslocamento dos seus
integrantes; agendamento prévio de reuniões; maior conforto aos participantes e
redução de custos em geral. Além dessas condições, também proporcionou a opor-
tunidade de trabalhar em grupo e o aprendizado de tomar decisões em conjunto. O
ambiente on-line desenvolvido durante a execução das atividades deste projeto de
extensão promoveu um aprendizado diferenciado, interessante, mais abrangente e
muito efetivo para toda a equipe do projeto.
Com a necessidade de aprimorar o antigo e, instantaneamente, aprender o
novo, a extensão universitária buscou neste trabalho on-line a perspectiva de inovar
os conhecimentos, e assim, permitiu que os acadêmicos e orientadores saíssem da
sua rotina universitária. Deste modo, foi possível a proximidade com as pessoas de
forma diferenciada, mesmo em época de pandemia. A interdisciplinaridade e indis-
sociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, diretrizes da extensão universitária,
foram vivenciadas pela equipe do projeto durante o desenvolvimento do guia de
traumatismo dentário. Esta foi uma atividade complementar da matriz curricular
dos extensionistas, com pesquisa em base de dados, e constituiu-se em um proces-
so interdisciplinar e tecnológico de interação transformadora dos integrantes, com
resultados positivos para aos profissionais e acadêmicos da área de Odontologia.
A disseminação do conhecimento de traumatismo dental, do tipo avulsão,
para a comunidade é de fundamental importância, pois a literatura é precisa quanto
ao fato de que o menor tempo de reposicionamento do dente no alvéolo é decisivo
no prognóstico e pode diminuir seu impacto na saúde bucal, bem como na estética
(FOUAD et al., 2020). Destaca-se, também, a importância prévia ao reimplante de lavar
suavemente o dente avulsionado em água corrente, sem tocar na raiz, para evitar a
destruição das fibras periodontais da sua superfície (ANDREASEN et al., 2012). Se o
reimplante não for possível imediatamente, o dente deverá ser armazenado em um
recipiente contendo leite ou soro fisiológico, meios adequados para a conservação
dos seus componentes até a procura pelo cirurgião-dentista. Quanto menor o tempo
até o reimplante, maior a chance de salvar a estrutura dental. Sempre será necessária
a procura pelo atendimento profissional odontológico para complementar as abor-
dagens terapêuticas. Todas essas ações são de grande importância para o sucesso do
tratamento. Desta forma, este tema foi abordado no folder para a comunidade escolar
com o objetivo de divulgar as ações frente a essas situações odontológicas de emer-
gência. Este folder também retomou a interdisciplinaridade dos conteúdos ministra-
dos no Curso de Odontologia, além de despertar o interesse na pesquisa, como forma
de aprofundamento em assuntos ainda não familiarizados.
44
A ideia de educação em saúde nas escolas oportuniza o desenvolvimento
de estratégias em conjunto, para que a sociedade conviva melhor e com mais saúde,
tanto bucal quanto geral. Considerando que o ensinamento sobre saúde é um pro-
cesso de capacitação dos indivíduos envolvidos, para que adquiram mais clareza
sobre assuntos ainda desconhecidos pela maioria, o ambiente escolar é um espaço
ideal para formação de atitudes saudáveis, de prevenção e introdução de conceitos
devido a sua abrangência, além de acolher as diferentes faixas etárias que mais so-
frem traumatismos dentários.
Embora não exista um consenso sobre a faixa etária acometida pela avulsão
dental, existe uma prevalência maior entre 7 e 12 anos de idade (MARKOVIC et al.,
2014), para o sexo masculino (MESQUITA et al., 2017). Nesta faixa etária, o indivíduo
já apresenta a dentição permanente, porém, não há o completo crescimento facial
e isto possibilita uma maior exposição dos dentes anteriores, para ocorrência do
trauma (ANDREASEN et al., 2012). Assim, a atuação deste projeto no ambiente es-
colar sedimenta a prevenção dos traumatismos dentais com atuação direta sobre
seu público-alvo, o que evidencia o impacto e transformação social gerados, da ex-
tensão universitária. As atividades do projeto na comunidade escolar contribuíram
para a formação ética e de cidadania dos acadêmicos, como profissionais capazes
de tomar decisões assertivas frente à diferentes situações de trauma dental, e na
formação enquanto agentes sociais geradores de conhecimento e transformação.
O retorno por parte dos gestores, diretores, professores e demais envolvidos
quanto ao material educativo divulgado foi imediatamente positivo, principalmente
por parte dos docentes, em relatos tais como: “Achei interessantíssimo. Isso sempre
acontece na escola. E é ótimo saber como proceder. Obrigada. Excelente trabalho e
sucesso”. Declarações como essas demonstram a real necessidade dos trabalhos ex-
tramuros dos projetos de extensão universitária para os docentes das escolas públi-
cas e privadas. A exposição deste tema com a comunidade escolar promoveu uma
reflexão sobre o acesso e inclusão social na esfera de saúde.
O evento de extensão on-line para os alunos do TACS aumentou ainda mais
a abrangência da prevenção, com profissionais disseminadores do conhecimento.
Todas as ações propostas colaboraram para a prevenção da saúde bucal com prá-
ticas assertivas frente a um traumatismo dental. O projeto conseguiu desenvolver
uma estreita relação entre alunos de diferentes períodos do curso de Odontologia
da UFPR, bem como a interrelação entre as diferentes disciplinas curriculares, e
mostrou sua aplicação prática para diferentes profissionais da saúde.
CONCLUSÃO
ANDREASEN, J. O.; LAURIDSEN, E.; GERDS, T. A.; AHRENSBURG, S. S. Dental Trauma Guide: A source of evidence-
based treatment guidelines for dental trauma. Dental Traumatology, v.28, n.2, Apr, 2012.
BOURGUIGNON, C.; COHENCA, N.; LAURIDSEN, E.; FLORES, M. T.; O’CONNELL, A.; DAY, P.; TSILINGARIDIS, G.;
ABBOTT, P.V.; FOUAD, A. F.; HICKS, L.; ANDREASEN, J. O.; CEHRELLI, Z.C.; HARLAMB, S.; KAHLER, B.; ORGINNI, A.;
SEMPER, M.; LENIN, L. International Association of Dental Traumatology guidelines for the management of
traumatic dental injuries: 1. Fractures and luxations. International Association of Dental Traumatology, v.36,
p.314-330, May, 2020.
CAMPOS, Blenda Hyedra; ALFIERI, Daniela Frizon; BUENO, Emily Bruna Toso; KERBAUY, Giselena; DELLAROZA,
Mara Solange Gomes; FERREIRA, Natálai Marciano de Araújo. Telesaúde e Telemedicina: Uma Ação de Extensão
Durante a Pandemia, Revista Aproximação, v. 2, n.4, jul/ago/set 2020.
CHAUHAN, Ravi; RASARATNAM, Lakshmi; ALANI, Aws; DJEMAL, Serpil. Adult Dental Trauma: what should the
dental Practitioner Know? Primary Dental Journal, v. 5, n. 2, p.66-77, may, 2016.
FERNANDES, Marcelo Costa; SILVA, Lucilene Maria Sales; MACHADO, Ana Larissa Gomes; MOREIRA, Thereza Maria
Magalhães. Universidade e a extensão universitária: a visão dos moradores das comunidades circunvizinhas.
Educ. rev., Belo Horizonte, v. 28, n. 4, p. 169-194, 2012.
FOUAD, A.F., ABBOTT, P.V.; TSILINGARIDIS, G.; COHENCA, N.; LAURIDSEN, E.; BOURGUIGNON, C.; O’CONNELL,
A.; FLORES, M.T.; DAY, P.F.; HICKS, L.; ANDREASEN, J.O.; CEHRELI, Z.C.; HARLAMB, S.; KAHLER, B.; OGINNI, A.;
SEMPER, M.; LEVIN, L. International Association of Dental Traumatology guidelines for the management of
traumatic dental injuries: 2. Avulsion of permanent teeth. Dent Traumatol., v. 36, n. 4, p. 331-342, Aug, 2020.
FORPROEX – Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Política Nacional
de Extensão Universitária. Manaus: FORPROEX, 2012. Disponível em: https://www3.unicentro.br/proec/
wpcontent/uploads/sites/73/2020/02/Politica_Nacional_de_Extensao_2012_07_13.pdf Acesso: 11 abr. 2021.
GRACIANO, Andréa; CARDOSO, Natália; MATTOS, Flávio; GOMES, Viviane; OLIVEIRA, Ana. Promoção da Saúde
na Escola: história e perspectivas. J. Health Biol. Sci., v.3, n.1, p.34-38, jan.-mar, 2015.
HAMMEL, Jean M.; FISCHEL, Jason. Dental Emergencies. Emergency Medicine Clinics of North America, v. 37, n.
1, p. 81-93, Norwalk-USA, 2019.
IPPOLITO-SHEPFHERD, Josefa.; CERQUEIRA, Maria Teresa. Las escuelas promotoras de la salud en las
Américas: una iniciativa regional. Promotion & Education, v.12, n. 3-4, p. 220-229, September, 2005.
LOPES, Iraneide; NOGUEIRA, Júlia; ROCHA, Dais. Eixos de ação do Programa Saúde na Escola e Promoção da
Saúde: revisão integrativa. Saúde em Debate [online], v. 42, n. 118, p. 773-789, 2018. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/0103-1104201811819. Acesso em: 23 Nov. 2020.
MAIA, Berta; DIAS, Paulo. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da
COVID-19. Estudos de Psicologia, v. 37, e200067, Campinas, maio, 2020.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200067. Acesso em 24 Jun. 2021.
MARKOVIC, Dejan; VUKOVIC, Ana; VUKOVIC, Rade; SOLDATOVIC, Ivan. Factors associated with positive outcome
of avulsion injuries in Children. Vojnosanit Pregl, v.71, n.9, p.845-50, Sep, 2014.
MESQUITA, Gabriela Campos; SOARES, Priscila Barbosa F.; MOURA, Camila Christisan Gomes; ROSCOE, Marina
Guimarães; PAIVA, Saul Martins; SOARES, Carlos José. A 12-Year Retrospective Study of Avulsion Cases in a
Public Brazilian Dental Trauma Service. Brazilian Dental Journal, v. 28, n. 6, Nov-Dec, 2017.
46
RODRIGUES, Amanda Silva; CASTILHO, Thuan ny; ANTUNES, Lívia Azeredo Alves; ATUNES, Leonardo dos Santos.
Perfil Epidemiológico dos Traumatismos Dentários em Crianças e Adolescentes no Brasil. UNOPAR Cient.,
CIênc. biol. Saúde, v.17, p. 267-278, 2015.
Responding to COVID-19 and beyond, the Global Education Coalition in action. United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization (UNESCO), France, 2020. Disponível em: <https://unesdoc.unesco.org/
ark:/48223/pf0000374364>. Acesso em 10 de fev. de 2023.
47
Garça, Constantino Buteri.
48
Propostas de temas a serem abordados em
atividades de educação ambiental em trilhas
interpretativas: Estudo de caso no Parque Ecológico
Mauro Romano, Vassouras-RJ
Proposals of themes to be used in environmental education activities in interpretative
trails: A case study in the Mauro Romano Ecological Park, Municipality of Vassouras, Rio
de Janeiro State
49
Abstract
The study aimed to identify themes that can be discussed with
the participants of environmental education activities in the
trails of the Mauro Romano Ecological Park of the Vale Verde-
jante Civil Association, Municipality of Vassouras, Rio de Janei-
ro State. In this sense, visits were made to the Park to observe its
characteristics and propose themes that could be approached
at points of interest in the environmental education activities
in the trail of the Park. The two trails studied are called “refo-
restation trail” and “agroforestry trail”. Several interesting cha-
racteristics to be used in the dissemination of information and
generate discussions on environmental issues were suggested,
including the diversity of species and the importance of their
protection, the conservation of natural resources and agroe-
cological practices. In addition, the dynamics proposed in the
present work will be useful for assimilating the knowledge dis-
seminated during the activities in the Park.
50
INTRODUÇÃO
51
Algumas das atividades de educação ambiental realizadas no Parque ocorrem
em trilhas ecológicas, que são caminhos onde a interpretação das características lo-
cais é utilizada como instrumento pedagógico e de sensibilização para as questões
ambientais (AMARAL; MUNHOZ, 2007). Nesse sentido, é interessante criar um roteiro
de temas a serem abordados nessas atividades. Assim, o objetivo desse trabalho foi
apontar temas que podem ser discutidos com os participantes das atividades de edu-
cação ambiental nas trilhas do Parque Ecológico Mauro Romano da Associação Civil
Vale Verdejante.
MÉTODO
52
Foram propostos temas que possam ser abordados em pontos de interesse nas ativi-
dades de educação ambiental das trilhas. Essas etapas são necessárias, pois o suces-
so de atividades educativas em espaços não formais depende, dentre outros fatores,
do conhecimento prévio das características do local e do planejamento detalhado das
atividades que serão desenvolvidas (TERCI; ROSSI, 2015).
Além das informações que podem ser apresentadas e discutidas com os gru-
pos de visitantes, também foram propostas dinâmicas de grupo, para ilustrar as infor-
mações apresentadas ou que possibilitem estimular as discussões sobre as questões
ambientais. Visto que nas atividades de educação ambiental, além da transferência
de conhecimentos, é importante proporcionar experiências que possibilitem a per-
cepção da conexão entre os indivíduos e a natureza e a assimilação do conhecimento
(TOMAZELLO; FERREIRA, 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram observadas nas duas trilhas estudadas, aqui denominadas “Trilha do
Reflorestamento” e “Trilha Agroflorestal”, diversas características interessantes para
serem utilizadas na disseminação de informações e gerar discussões sobre temas
ambientais, incluindo a diversidade de espécies e a importância da sua proteção, a
conservação de recursos naturais e as práticas agroecológicas.
Em ambas as trilhas, sugere-se alocar placas indicativas com a identificação
das espécies dos indivíduos arbóreos próximos das trilhas. Tal ação permite que
os visitantes possam conhecer as espécies na ausência de guias e tornar a trilha
autoguiada. Além disso, é interessante alocar placas em pontos da trilha com ca-
racterísticas relevantes. Tais placas podem conter informações consideradas rele-
vantes ambientalmente e que possam ser observadas na localidade. A prática de
instalar placas ou painéis contendo informações é bastante utilizada em trilhas in-
terpretativas (AMARAL; MUNHOZ, 2007; GARCIA; NEIMAN; PRADO, 2011), sendo úteis
para atingir o objetivo da interpretação ambiental (MOREIRA, 2011). Ressalta-se a
necessidade de evitar a utilização excessiva de jargões técnicos nas placas e nas dis-
cussões sobre as questões ambientais. Pois o uso descuidado de expressões pou-
co conhecidas pelas pessoas sem formação na área das ciências ambientais pode
dificultar a transferência de conhecimento. De acordo com Moreira (2011, p. 79), a
Interpretação Ambiental:
53
Embora seja interessante evitar a utilização excessiva de jargão técnico du-
rante as atividades de educação ambiental nas trilhas, por dificultar o entendimento
dos participantes das atividades, a utilização de alguns termos seguida de explica-
ções e da continuidade do seu uso ao longo da atividade pode proporcionar o seu
aprendizado, além de gerar a adoção dos termos pelos participantes das atividades
(RABELO; ARAÚJO; CARVALHO, 2019).
Na Trilha do Reflorestamento, em seu início, pode-se explorar a influência das
florestas sobre o clima (Tabela 1). Em função da retenção de umidade e do sombre-
amento, as florestas mantêm o clima mais estável e ameno (LIMA, 2008). Como dinâ-
mica para exemplificar essa ação das florestas, foi proposto medir a temperatura do
ar, com auxílio de um termômetro, em local aberto antes de adentrar a floresta e ob-
ter novamente a temperatura após adentrar a floresta, para demonstrar a mudança
de temperatura. O efeito da vegetação sobre o clima é bastante conhecido, porém
a importância das trilhas interpretativas na educação ambiental inclui a capacida-
de de exemplificar questões teóricas em atividades práticas, com o uso dos fatores
ambientais (SANTOS; FLORES; ZANIN, 2012). Além disso, pode-se discutir as causas
do desmatamento na atualidade, muitas vezes associadas a questões econômicas,
e as consequências da redução da cobertura florestal sobre a qualidade de vida da
população, como em relação às mudanças no clima.
PONTO DE
TEMAS DINÂMICAS
INTERESSE
Entrada da
Demonstrar a mudança de tempera-
floresta/ início da Clima
Tabela 1. Pontos de tura ao adentrar a floresta
trilha
interesse, temas e
dinâmicas propos- Demonstrar diferenças no escoa-
tas na Trilha do Entrada da mento superficial em função da
Proteção do solo exer-
Reflorestamento no floresta/ início da cobertura do solo pela vegetação e
Parque Ecológico cida pela vegetação
trilha efeitos sobre o solo, com a experiên-
Mauro Romano, cia com auxílio de uma Garrafa PET
Vassouras, Estado
do Rio de Janeiro.
Após adentrar a Biodiversidade – Realizar perguntas sobre a biodi-
floresta importância versidade e a sua importância
Próximo a
Explicar a importância dessas espé-
espécies
cies e o motivo de estarem ameaça-
ameaçadas de Extinção de espécies
das de extinção e esclarecer sobre
extinção e/ou
o que são espécies endêmicas
endêmicas
Próximo a
Explicar o motivo de serem ameaças à
espécies exóticas Espécies exóticas
biodiversidade nativa
invasoras
54
Próximo a
espécies de Explicar a diferença na morfologia
Diversidade da
árvores com das plantas e os possíveis motivos
vegetação
características dessas diferenças
peculiares
Próximo a árvores
Árvores com impor- Perguntar ao grupo de visitantes se
com frutos
tância comercial e/ou conhecem as plantas e a sua utili-
comestíveis e/
características interes- zação. Comentar sobre as espécies,
ou de interesse
santes colher frutos e degustar
comercial
Próximo de árvo-
Comentar sobre as espécies e a sua
res utilizadas em Árvores com importân-
utilização em projetos paisagísticos
projetos paisagís- cia paisagística
e na arborização urbana
ticos
Local com
Destacar a importância para a prote-
expressiva Importância ecológica
ção de recursos edáficos e hídricos,
quantidade de da serapilheira
além da biodiversidade associada
serapilheira
55
Ainda no início da Trilha do Reflorestamento, pode-se abordar as diferenças
no escoamento superficial e na infiltração da água em ambientes florestados e des-
matados. Deve-se enfatizar como as florestas auxiliam a reabastecer o lençol freático
e evitar a erosão do solo, auxiliando na perenidade dos rios e na melhor qualida-
de da água (BALBINOT et al., 2008). Também, pode-se mencionar que as florestas
auxiliam na proteção do solo, evitando a perda de solo e a consequente redução
da sua profundidade, além de proporcionar a manutenção da sua qualidade (BRA-
GA, 2005). Como dinâmica, garrafas PET cortadas ao meio, no sentido do seu maior
comprimento, podem ser utilizadas para simular o escoamento da água da chuva
em solo coberto por vegetação, coberto por serapilheira e em solo sem cobertu-
ra. Em uma das garrafas coloca-se apenas o solo, em outra sobre o solo é alocada
serapilheira e, em uma terceira garrafa, aloca-se grama representando a cobertu-
ra vegetal (PROGRAMA SOLO NA ESCOLA, 2011). O guia da trilha, com o auxílio de
um visitante, irá despejar igual quantidade de água nas três garrafas. Após todos os
participantes da atividade observarem o resultado do experimento, deve-se discutir
com o grupo as questões ambientais relacionadas à proteção do solo realizada pela
serapilheira e pela vegetação.
A importância das florestas para a conservação e preservação das espécies
nativas pode ser abordada na trilha. É importante mencionar que as florestas man-
têm maior biodiversidade (número de espécies) que áreas cultivadas, pastagens e
áreas urbanas e que essa biodiversidade é útil para os seres humanos (GOMES et al.,
2013; ALMEIDA; VARGAS, 2017). Durante as visitas guiadas, elementos da biodiversi-
dade, como insetos e pássaros, podem estar presentes nas proximidades das trilhas
e gerar indagações por parte dos participantes. Nesses casos, o guia deve conduzir a
discussão de forma transversal aos temas centrais apontados no presente trabalho,
de modo a ampliar a discussão acerca das questões ambientais, auxiliando na dis-
cussão, aprendizado e sensibilização dos participantes (RABELO; ARAÚJO; CARVA-
LHO, 2019). Na dinâmica proposta, o guia pergunta para o grupo de visitantes quais
são os benefícios que a humanidade obtém a partir da biodiversidade. Durante a
discussão, o guia pode citar, como benefícios da diversidade biológica, a obtenção
de alimentos, a polinização, o controle de pragas, a fixação biológica de nitrogênio,
a recreação em meio a natureza e a proteção da água e do solo (ALHO, 2012; ALMEI-
DA; VARGAS, 2017). O guia pode ainda mencionar as ações antrópicas que põem em
risco a diversidade biológica, incluindo grandes empreendimentos agropecuários
que estão ligados a mudanças de uso do solo, com as florestas nativas dando lugar
a pastagens e monoculturas, e empreendimentos que provocam poluição ambien-
tal. Além de abordar as consequências negativas da perda de biodiversidade para a
população e as ações que podem reverter esse quadro atual de elevada extinção de
espécies.
Ao longo da trilha, espécies de árvores próximas a trilha foram escolhidas
para serem destacadas e utilizadas para discutir temas importantes. Entre elas estão
as espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção, as espécies exóticas, e as que
possuem características morfológicas interessantes (acúleos, bifurcações, cascas di-
ferenciadas, beleza cênica e que são utilizadas pelo ser humano). Nesse seguimen-
to, propõe-se uma dinâmica de discussões com as espécies ameaçadas de extinção
existentes próximo da trilha, utilizando o palmito-juçara (Euterpe edulis Mart.)
56
como exemplo, explicando que o principal motivo de estar ameaçada de extinção é
ser visada para a obtenção de palmito.
Acerca das espécies exóticas invasoras, o guia pode mencionar que geral-
mente não possuem inimigos naturais nos locais onde foram introduzidas e se re-
produzem rapidamente aumentando sua densidade populacional e suprimindo as
espécies nativas, podendo levar essas espécies a extinção. No caso da trilha estuda-
da, pode-se utilizar o exemplo da jaqueira (Artocarpus heterophyllus Lam.), mencio-
nando que não é nativa do local, sendo originária do sudeste asiático, possivelmen-
te da Índia (CHAVES et al., 1967; FERRÃO, 1993).
No que se refere às espécies com características interessantes, recomenda-se
utilizar os acúleos na paineira (Chorisia speciosa A. St.-Hil.), e informar como podem
ser úteis para as plantas na defesa contra herbívoros e também destacar a rugosi-
dade da casca do pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha (Mart. J. F. Macbr.). Também
pode-se mencionar a grande diversidade morfológica das espécies arbóreas e tratar
das variações na arquitetura das copas. O urucum (Bixa orellana L.) pode ser utiliza-
do para enfatizar as características morfológicas dos frutos e apontar que é utilizado
na cozinha e também para a produção de tinta vermelha, mencionando ainda o seu
uso por tribos indígenas. Como dinâmica, sugere-se perguntar ao grupo de visitan-
tes se conhecem o urucum e a sua utilização. Posteriormente pode-se solicitar que
voluntários colham as sementes e observem o seu potencial na produção de tintas.
As espécies com valor econômico podem ser indicadas ao longo da trilha,
incluindo as espécies úteis como fonte de alimento, sendo as seguintes espécies
exemplos existentes no reflorestamento em questão: Eugenia brasiliensis Lam.
(grumixama), A. heterophyllus (jaqueira), Eugenia uniflora L. (pitangueira), Maclura
tinctoria L. (amora) e E. edulis (palmito-juçara). Como proposta de dinâmica, é in-
dicado que o grupo possa colher e degustar alguns dos seus frutos. É importante
mencionar que a floresta, além de ser fonte de alimento, também é fonte de diversas
matérias-primas para a preparação de medicamentos e cosméticos, além de diver-
sos outros produtos biotecnológicos. Destaca-se a utilidade como fonte de madeira,
que é utilizada na construção civil e na fabricação de móveis, ferramentas em geral e
papel. O Ipê-amarelo (Tabebuia chrysotricha Mart.) pode ser indicado como uma es-
pécie com importância paisagística, assim o guia irá mencionar a sua beleza quan-
do em floração, informando também que muitas espécies nativas são utilizadas em
projetos paisagísticos. Essas discussões acerca das espécies florestais são úteis para
enfatizar que as florestas, além de apresentarem importância ecológica, também
possuem clara importância econômica, o que pode facilitar a conscientização e a
sensibilização dos indivíduos em relação à necessidade da sua conservação. Pode-
-se destacar que a redução da cobertura florestal nativa pode ser considerada um
desperdício de oportunidades de geração de produtos biotecnológicos, incluindo
novas biotecnologias, que poderiam proporcionar empregos, renda e melhorar a
qualidade de vida dos cidadãos. Então, o guia pode sugerir novamente uma discus-
são acerca dos interesses econômicos que provocam o desmatamento, agora com
foco em entender quais grupos sociais são os mais prejudicados pela supressão da
vegetação nativa, principalmente pensando-se a longo prazo.
57
No ponto próximo ao meliponário, é interessante que o guia explique sobre
as colmeias de abelhas enfatizando a produção de mel, principalmente a produção
por espécies de abelhas nativas do Brasil. Deve-se indicar a importância desses in-
setos como polinizadores e mencionar que as atividades antrópicas estão reduzin-
do grandemente as populações de abelhas, pondo em risco o equilíbrio dos ecos-
sistemas naturais e também a produção agrícola. Pode-se mencionar quais são os
polinizadores e dispersores de semente das espécies arbóreas próximas do local.
A dinâmica indicada é uma pergunta que pode ser feita pelo guia, indagando aos
participantes como seria o mundo sem as abelhas. O guia pode, então, mediar a
discussão que surgirá a partir dessa indagação.
Nos locais com bastante serapilheira, deve-se indicar que esse componente é
o habitat de inúmeras espécies, principalmente de invertebrados. Posteriormente, o
guia irá comentar sobre a importância ecológica da serapilheira e dessas espécies,
incluindo os seus efeitos sobre as características do solo, destacando a ciclagem de
nutrientes, a quantidade de matéria orgânica e a porosidade do solo, com conse-
quentes efeitos sobre o ciclo hidrológico.
O último ponto de interesse observado na Trilha do Reflorestamento é o cor-
redor ecológico, existente entre a floresta do Parque e um fragmento florestal pró-
ximo. Indica-se que seja abordado com o grupo de visitantes que essas faixas de
vegetação facilitam o trânsito de animais entre remanescentes florestais (ALMEIDA;
GOMES; QUEIROZ, 2011). Esse trânsito permite o aumento do fluxo gênico, reduzin-
do a perda de diversidade genética e a recolonização de áreas (ALMEIDA; VARGAS,
2017).
Já na Trilha Agroflorestal, pode-se explicar o que é o sistema agroflorestal,
enfatizando que é diferente das monoculturas por possuir uma ampla variedade de
espécies cultivadas. O guia irá indicar que nos sistemas agroflorestais busca-se apro-
veitar as interações entre as espécies cultivadas como, por exemplo, o café som-
breado com espécies arbóreas, incluindo leguminosas que formam associação com
bactérias fixadoras de nitrogênio, obtendo assim grãos de café de maior qualidade e
valor econômico e reduzindo a necessidade da adubação com nitrogênio (Tabela 2).
58
Próximo às
Comentar sobre a interação entre
plantas de café Interações Ecológicas
as plantas de café e as árvores
sombreado
Próximo a plantas
Plantas alimentícias Apresentar o conceito de PANCs
alimentícias não
não convencionais e indicar espécies consideradas
convencionais
(PANCs) como PANCs. Degustação.
(PANCs)
CONCLUSÕES
60
REFERÊNCIAS
ALHO, C. J. Importância da biodiversidade para a saúde humana: uma perspectiva ecológica. Estudos
avançados, v.26, p.151-166, 2012.
ALMEIDA, F. S.; GARRIDO, F. S. R. G.; ALMEIDA, A. A. Avaliação de impactos ambientais: uma introdução ao tema
com ênfase na atuação do Gestor Ambiental. Diversidade e Gestão, v.1, p.70-87, 2017.
ALMEIDA, F. S.; GOMES, D. S.; QUEIROZ, J.M. Estratégias para a conservação da diversidade biológica em
florestas fragmentadas. Ambiência, v.7, p. 367-382, 2011.
ALMEIDA, F. S.; VARGAS, A. B. Bases para a gestão da biodiversidade e o papel do Gestor Ambiental.
Diversidade e Gestão, v.1, p.10-32, 2017.
BALBINOT, R.; OLIVEIRA, N. K.; VANZETTO, S. C.; PEDROSO, K.; VALÉRIO, A. F. O papel da floresta no ciclo
hidrológico em bacias hidrográficas. Ambiência, v.4, p.131-149. 2008.
CASTRO, A. P.; FRAXE, T. J. P.; SANTIAGO, J. L.; MATOS, R. B.; PINTO, I. C. Os sistemas agroflorestais como
alternativa de sustentabilidade em ecossistemas de várzea no Amazonas. Acta Amazonica, v.39, n.2, p.279–
288, 2009.
CHAVES, C. M.; MARTINS, H. F.; CARAUTA, J. P. P.; LANNA-SOBRINHO, J. P.; VIANNA M. C.; SILVA, S. A. F. (eds).
Arboreto Carioca 3. Rio de Janeiro: Centro de Conservação da Natureza, 28p. 1967
GARCIA, F. O.; NEIMAN, Z.; PRADO, B. H. S. Planejamento de uma Trilha Interpretativa na Estação Ecológica de
Angatuba (SP). Revista Brasileira de Ecoturismo, v. 4, n. 3, p. 323-344, 2011.
GOMES, D. S.; ALMEIDA, F. S.; VARGAS, A. B.; QUEIROZ, J. M. Resposta da assembleia de formigas na interface
solo-serapilheira a um gradiente de alteração ambiental. Iheringia, Série Zoologia, v. 103, n.2, p. 104-109, 2013.
JACOBI, P. R. O Brasil depois da Rio + 10. Revista do Departamento de Geografia, v.15, p.19–29, 2002.
61
JARDIM, I. C. S. F.; ANDRADE, J.A. Resíduos de agrotóxicos em alimentos: uma preocupação ambiental global –
um enfoque às maçãs. Química Nova, v.32, n.4, p. 996-1012, 2009.
LIMA, W. D. P. Hidrologia florestal aplicada ao manejo de bacias hidrográficas. Piracicaba: Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”, 245p. 2008.
LOPES, P. R.; LOPES, K. C. S. A. Sistemas de produção de base ecológica – a busca por um desenvolvimento rural
sustentável. Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, v.4, n.1, p. 1-32, 2011.
MOREIRA, J. C. Geoturismo e interpretação ambiental. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2011, 157 p.
NODARI, R. O.; GUERRA, M. P. A agroecologia: estratégias de pesquisa e valores. Estudos Avançados, v.29, n.83,
p.183-207, 2015.
PROGRAMA SOLO NA ESCOLA. Programa Solo na Escola: ESALQ, USP. 2011. Disponível em: <https://
solonaescola.blogspot.com/2011/11/experimentos-6.html> Acesso em: 06 jun. 2019.
RABELO, D. M. R. S.; ARAÚJO, G. F. C.; CARVALHO, M. C. Aplicação de trilha interpretativa no Jardim das Borboletas,
Divinópolis: estratégias e contribuições para a educação ambiental. Revista Guará, n.11, p.43-55, 2019.
RIBEIRO, M. C.; MARTENSEN, A. C.; METZGER, J. P.; TABARELLI, M.; SCARANO, F.; FORTIN, M. J. The Brazilian
Atlantic Forest: a shrinking biodiversity hotspot. In: ZACHOS, F. E.; Habel, J. C. (Ed) Biodiversity hotspots:
distribution and protection of conservation priority areas. Heidelberg: Springer, p. 405-434, 2011.
SANTOS, M. C.; FLORES, M. D.; ZANIN, E. M. Educação ambiental por meio de trilhas ecológicas interpretativas
com alunos NEEs. Revista Monografias Ambientais, v.5, n.5, p.982-991, 2012.
SILVERIO NETO, R.; BENTO, M. C.; MENEZES, S. J. M. C.; ALMEIDA, F. S. Caracterização da Cobertura Florestal de
Unidades de Conservação da Mata Atlântica. Revista Floresta e Ambiente, v.22, p.32-41, 2015.
SIQUEIRA, L. F. Trilhas interpretativas: Uma vertente responsável do (eco)turismo. Caderno Virtual de turismo,
v.4, n.14, p.79-87, 2004.
SOUSA, A. J. J.; SOBRINHO, A. I. A importância do reflorestamento nos processos de recuperação das áreas
degradadas do sertão paraibano. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v.10, n.1, p.31-37, 2016.
TERCI, D. B. L.; ROSSI A. V. Dinâmicas de ensino e aprendizagem em espaços não formais. Anais do IX Encontro
Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC), Águas de Lindóia, São Paulo, 2015.
TOMAZELLO, M. G. C.; FERREIRA, T. R. C. Educação Ambiental: que critérios adotar para avaliar a adequação
pedagógica de seus projetos. Ciência & Educação, v.7, n.2, p.199-207, 2001.
AGRADECIMENTOS
62
Noivinha-branca , Constantino Buteri.
63
Acolhe(dor): Relato de Experiência de Grupo de Apoio
On-line a Enlutados pela Covid-19
Reception: Covid-19 On-line Support Group Experience Report for the Bereaved
64
Abstract
Reports the experience of Covid-19 bereaved online Support
Groups. 10 weekly meetings were held, with 8 participants.
With a brief and focal approach, it aimed to help the bereaved
to resolve separation conflicts and facilitate the adaptation to
grief. The activities were designed based on the demands of the
group and its characteristics. From the participants’ reports, it
was noticed that the support group constituted an important
space for the expression and validation of the emotions and fe-
elings that make up the experience of grief, with the possibility
of learning about grief and the construction of social support
networks and emotional. In the pandemic, risk factors increase
for more difficult experiences of mourning, such as multiple los-
ses, lack of social support and absence of traditional farewell
rituals. Proposals such as Acolhe(dor) can reduce the risks for
complicated grief and produce positive effects on the mental
health of the bereaved.
65
INTRODUÇÃO
MÉTODO
Oito pessoas participaram do grupo. O critério de inclusão foi: I - ter perdido al-
guém pela Covid-19; e II - dispor de condições tecnológicas para participar dos encon-
tros (computador ou dispositivo móvel com antivírus). Pessoas com risco iminente de
suicídio e com transtornos mentais graves não foram admitidas, dado o formato on-line,
sendo acolhidas individualmente e encaminhadas a serviços de saúde locais.
Procedeu-se ao atendimento psicológico em grupos e on-line, atendendo às
orientações de distanciamento social vigentes. Os interessados em participar estabe-
leceram contato com o projeto e preencheram o Formulário de Inscrição para Atendi-
mento no Acolhedor (Instrumento 1), criado na plataforma Google docs para a obtenção
de dados pessoais e sociodemográficos, além de informações relacionadas ao próprio
processo de luto (quem perdeu, há quanto tempo, como o luto tem impactado a vida
da pessoa) e à saúde mental do inscrito, permitindo os critérios de inclusão e exclusão.
67
Ao fim da intervenção, os participantes responderam ao Formulário de Avaliação da
participação (Instrumento 2), desenvolvido também na plataforma Google docs, no
sentido de relatar os efeitos da participação no projeto.
Os grupos, em um total de dez encontros, tiveram frequência semanal, com
cerca de 1h e 30 minutos de duração e aconteceram entre maio e julho de 2021. As
atividades desenvolvidas foram planejadas e discutidas com a professora orienta-
dora, e norteadas pelo modelo de luto apresentado em Aconselhamento do Luto
e Terapia do Luto: um manual para profissionais da saúde mental (WORDEN, 2013).
Assim, a proposta estruturou-se como uma intervenção breve e focada, cujo objeti-
vo foi apoiar o enlutado a resolver os conflitos de separação e facilitar a adaptação
ao luto. As atividades foram pensadas considerando-se as demandas evidenciadas
pelo grupo e suas características. A Tabela 1 destaca os objetivos, bem como os pro-
cedimentos realizados.
Tabela 1: Apresenta-
OBJETIVOS PROCEDIMENTOS ção dos objetivos e
dos procedimentos
Apresentação dos participantes, relatos Os participantes foram estimula- por Encontro (Enc.).
1 das perdas, estabelecimento de contra- dos a relatar como se sentiam no
to terapêutico. seu processo de luto.
Apresentação da imagem de
um guarda-chuva em um dia
Identificar, reconhecer e expressar emo-
chuvoso, em que cada gota de
3 ções e sentimentos referentes ao pro-
chuva deveria, à escolha dos
cesso de luto.
participantes, representar um
sentimento na vivência do luto.
68
Apresentação do Modelo do Pro-
Compreender o processo de luto como cesso Dual do Luto descrito por
um movimento de investimentos tanto Stroebe e Schut (1999) a partir de
5
na dor como na vida numa perspectiva uma imagem dinâmica de um
da psicoeducação para o luto. pêndulo como metáfora entre dois
polos: da perda e da restauração.
Apresentação de um poema
que versa sobre saudade como
Compartilhar aspectos ligados à vivên-
disparador para a conversa. Os
6 cia da saudade que sentem dos familia-
participantes foram incentiva-
res falecidos.
dos a relatar o que sentiam a
partir da leitura do poema.
Compartilhamento de lembran-
Favorecer o contato com lembranças
ças significativas vividas com os
7 positivas presentes nas relações com
falecidos com foco em situações
os entes falecidos.
engraçadas, alegres, prazerosas.
Compartilhamento do poema
Refletir sobre “quem eu me torno a “Tempo de travessia’’ que trata
partir do meu luto?”. Compartilhar as- do caminhar, de se estar aberto
9 pectos relativos à travessia de cada um para uma nova etapa da vida sem
pelo luto e os aprendizados advindos esquecer-se de tudo que viveu.
desse processo. Debate sobre os sentimentos e
ideias provocados pelo poema.
Apresentação de uma imagem
com o desenvolvimento de uma
borboleta desde o casulo como
metáfora para a experiência do
Encerrar as atividades grupais realizan-
luto como uma transformação.
do uma autoanálise em relação a como
Em seguida: apresentação das
estão em seu processo de luto, como se
10 questões: Quais as marcas que
percebem neste caminhar, bem como
meu ente querido deixou em mi-
o que ficou de seus falecidos familiares
nha vida? Quais as marcas que eu
em suas vidas.
deixei nele? Por fim, a composi-
ção de um poema coletivo sobre
a experiência de partilha no gru-
po de apoio ao luto e à vida.
69
Os grupos foram registrados em prontuário psicológico (Registro de sessão
grupal) e submetidos à Análise de Conteúdo do tipo de temática (BARDIN, 1977).
Vale ressaltar que os encontros não foram gravados (nem em áudio, nem em vídeo).
O que foi tomado como dados a serem exibidos e discutidos foram os Formulários
de Inscrição, os Formulários de Avaliação dos atendimentos do Acolhedor, assim
como os Registros de Sessão Grupal feitos imediatamente após cada encontro.
Para a apresentação dos resultados, tomou-se o cuidado de omitir dados e
informações que pudessem identificar os participantes. Ademais, todos deram con-
sentimento verbal (gravado em vídeo) autorizando o uso dos dados, depois de en-
cerrada a intervenção, já que a autorização prévia não foi uma condicionante para
receber assistência psicológica no projeto, conforme orientações éticas (CONEP,
2018; Resolução n° 510/2016). Este relato de experiência foi aprovado pelo comitê
de ética em pesquisa com seres humanos (Parecer nº 5.103.900).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
73
Neste encontro, mostrou-se bastante sensibilizada, chorando muito ao perceber
como ela evitava lidar com sua dor e sofrimento. À medida que os encontros se
sucederam, ela começou a apresentar mudanças em seu discurso, reconhecendo
posteriormente a necessidade de dar lugar aos afetos e pensamentos difíceis: “Eu
tô naquele processo de me permitir sentir, como vocês sabem eu tava muito bloque-
ada… Agora qualquer coisinha eu choro”, e ainda “Hoje eu vou me permitir pensar
neles” (Paula).
Em contraponto ao que trouxe Paula, outros participantes relataram ter sido
essencial nesse encontro perceber que retomar as atividades da vida, em seu tempo
e em seu ritmo; que descobrir novos prazeres; assumir novos papéis sociais; não
significava o fim do luto e o esquecimento de quem morreu, mas um processo na-
tural e esperado de reinvestimento na vida. A partir deste encontro, observou-se o
movimento de alguns deles em direção à retomada de atividades do dia a dia, como
a prática de atividades físicas e a volta ao trabalho, relatados nos encontros que se
sucederam.
Sobre esses processos de restauração, Joana, que assumiu a gestão de um
negócio que era administrado pelo falecido marido, relatou, ao fim dos encontros,
estar lidando melhor com essa responsabilidade e passou a administrá-lo à sua ma-
neira, sem a tentativa de fazê-lo como imaginava que o marido faria, nem se culpar
por isso. Este fato da vida da participante aponta para um importante aspecto da
experiência do luto: de que ele é também um processo de aprendizagem (PARKES,
1998). Por isso, é ilusório o enlutado esperar que, após algum tempo, ele voltará a
ser a pessoa que era antes da perda. Isso porque, enquanto uma transição psicos-
social, o luto exige do sujeito aprendizagens das mais variadas, incluindo os novos
papéis sociais, as estratégias de enfrentamento das emoções, sentimentos e estres-
sores advindos da perda, entre outros (PARKES, 1998; TAVARES, 2018). O relato de
outra participante ilustra isso: “Tô aprendendo com isso tudo” (Roberta).
Percebeu-se, como esperado, que o luto se dá de modo singular. Ao iniciar-
mos os encontros alguns participantes demonstraram estar centrados totalmente
na restauração, negligenciando aspectos indispensáveis de sua experiência emo-
cional, tal como Paula; outros tinham dificuldade de oscilar para o polo da restau-
ração e retomar atividades de sua vida. A reflexão sobre essa dinamicidade do luto
favoreceu a compreensão de que ambos os polos são importantes no enfrentamen-
to da perda.
Nos encontros seguintes, sexto e sétimo, trabalhou-se com os participantes a
construção da compreensão de que o vínculo afetivo com quem morreu não acaba,
mas deve tornar-se de uma outra natureza, constituindo-se um vínculo continuado
(WORDEN, 2013). A este respeito, Dantas et al. (2020) trazem uma importante contri-
buição:
Nestes encontros, abriu-se espaço para falar da saudade e dos caminhos per-
corridos por todos ao entrar em contato com pertences dos falecidos. Buscou-se
favorecer a emergência da compreensão de que a ausência do sujeito amado será
sempre paradoxal, revelando-se uma ausência-presença, já que o amor não morre
(PARKES, 1998).
No que diz respeito a esta tarefa do luto, em encontrar uma conexão dura-
doura com a pessoa morta em meio à nova vida (WORDEN, 2013), observou-se que
cada participante fez, ou estava fazendo, à sua maneira. Paula percebeu seus laços
continuados com as pessoas falecidas por meio de sua aparência, ao afirmar que
“(...) olho no espelho e vejo eles”, relatando que suas mãos lembram o pai, já os olhos
e o sorriso os irmãos. Outra forma de estabelecer conexão duradoura com o familiar
falecido foi descrita pela participante Maria, que diz ver a mãe por intermédio do jar-
dim de sua casa, pois, após seu falecimento, flores que nunca haviam desabrochado
agora o fizeram, e isso a fez lembrar dela e sentir sua presença continuada em sua
vida. Já Joana percebeu seu laço continuado com o marido por meio das filhas, que
são as marcas que ele deixou em sua vida, estabelecendo para sempre sua presen-
ça, mesmo na ausência.
Ainda na perspectiva da criação de um vínculo continuado, no sétimo encontro
os participantes foram estimulados a trazer relatos de momentos felizes com os fami-
liares falecidos. O objetivo era que as lembranças ligadas a afetos positivos pudessem
tomar o lugar das lembranças difíceis ligadas aos últimos momentos de vida dos fa-
miliares. Como se sabe, a morte pela Covid-19 aconteceu em situação de isolamento,
sem a rede de afetos do doente. Isso é difícil tanto para o sujeito internado quanto
para os familiares, que podem, a partir de então, focar suas lembranças exclusivamen-
te nestes últimos momentos de vida, abrindo a possibilidade de um luto traumáti-
co (DANTAS et al., 2020). Buscou-se trabalhar com os participantes a ressignificação
desta ‘ausência final’, contrapondo-a a presença em outros momentos da vida de
quem morreu. Este encontro foi especialmente marcado por afetos leves e alegres. Os
participantes trouxeram lembranças de vivências felizes e muitas vezes engraçadas,
fazendo com que todos rissem dos relatos apresentados. Entende-se que o objetivo
estabelecido foi alcançado, levando à compreensão por parte deles que também há
lembrança e amor fora da dor.
Os últimos três encontros foram organizados de modo a iniciar o processo de
encerramento do grupo. Para o oitavo encontro, na semana anterior, foi proposto que
eles fizessem um memorial para o familiar falecido, de modo a homenageá-lo. Alguns
participantes não conseguiram fazê-lo, relatando ainda dor aguda ao entrar em conta-
to com certas lembranças e afetos. Isso foi acolhido e validado no grupo, evitando-se a
produção de um sentimento de fracasso, mas, ao contrário, reforçando a ideia de que
respeitar o próprio tempo, e limites, é também um ato de autocuidado.
75
Alguns apresentaram o que haviam preparado: uma apresentação de fotos
em powerpoint do familiar e do jardim de flores de que cuidava (Maria), e a tentativa
de escrever uma carta que não foi concluída (Paula). Os rituais simbólicos, tais como
os memoriais, podem ser importantes estratégias para que enlutados consigam en-
contrar, por meio da expressão simbólica, modos de manifestar seus afetos e dar
sentido à perda (DANTAS et al., 2020; WALLACE et al., 2020) e a ausência deles pode
intensificar sentimentos como raiva, tristeza e culpa (PARKES, 1998). Entretanto, per-
cebeu-se que para os participantes deste grupo, especificamente, a tarefa foi difícil
de ser realizada por completo, talvez por estarem em um momento inicial do luto,
com manifestação ainda bastante aguda do sofrimento. Ainda assim, não foi sem
efeito a sua proposição, pois mesmo as dificuldades relatadas foram compartilha-
das, acolhidas e colocadas em reflexão pelos participantes com auxílio dos media-
dores do grupo.
No nono encontro, objetivou-se refletir sobre quem os participantes têm se
tornado a partir de sua experiência de luto, compartilhando aspectos relativos à tra-
vessia de cada um e os aprendizados advindos desse processo. Retomou-se neste
encontro algo discutido no encontro inaugural do grupo: de que não se pretende
que ao final da participação no projeto o enlutado saia com seu processo de luto
‘encerrado’ ou ‘superado’, como, comumente, as pessoas esperam. Ao contrário
disso, a direção ética que sustentou esta intervenção foi a de que o luto, enquan-
to processo, não se encerra, dado que o amor pelo falecido não acaba e nem as
lembranças (PARKES, 1998), assim como afirmou o participante Jorge: “A saudade
nunca passa”. Entende-se que ao enfrentar o luto e, nos casos necessários, receber
suporte profissional, o enlutado torna-se capaz de lidar com os efeitos dessa perda,
de sustentar seu amor na ausência física, sem necessariamente sucumbir à tristeza
permanente (TAVARES, 2018; WORDEN, 2013). O que se espera que acabe, portanto,
é a tristeza paralisante tão característica do processo inicial de luto.
Ao serem estimulados, a partir do poema “Travessia”, de uma imagem de uma
ponte e a falar de sua experiência de luto, os participantes trouxeram relatos como:
“Tentar lembrar-se da pessoa que partiu como uma lembrança doce… é claro que o
tempo também ajuda, mas a ação ajuda. É preciso viver o luto e correr atrás dos outros
sentimentos bons” (Jorge); “[É preciso] Dar seguimento aos sonhos, aos desejos, tentar
construir algo novo, até mesmo para honrar ele né?!” (Joana). Ou ainda: “Há um tempo
em que a gente precisa passar por isso… sentir tudo isso… esse tem que passar na
vida da gente. A gente não pode ficar na acomodação, é preciso se desprender e ousar”
(Paula).
Como se percebe nos relatos acima, os participantes reconhecem o caráter
transformador do luto, da dor aguda como característica transitória, da retomada
da vida como possibilidade de honrar a memória de quem se foi e da importân-
cia de que o enlutado seja ativo neste processo, tal como propõe Worden (2013). A
perspectiva norteadora deste trabalho foi, portanto, que, no caso do luto, o tempo
sozinho não ‘é o senhor de todas as coisas’, cabendo ao enlutado uma postura ativa
em seu enfrentamento (WORDEN, 2013). “A elaboração requer esforço e coragem e,
se acontecer de forma articulada com a rede social, torna-se menos pesada” (TAVA-
RES, 2018, p. 236-237).
76
No último encontro, na perspectiva de um encerramento do grupo, e da ava-
liação dos efeitos da participação das pessoas no projeto, refletiu-se sobre o luto
como processo transformador, advogando, entretanto, que não há linearidade nem
tempo pré-definido para a resolução do conflito de separação (WORDEN, 2013). Os
participantes, a partir da atividade disparadora, foram estimulados a fazer uma ava-
liação retrospectiva do seu processo, identificando mudanças ao longo do tempo.
Ao avaliarem em retrospectiva seus processos de luto, os participantes de-
monstraram estar lidando com tarefas diferentes do processo. Jorge afirmou que
se sentia na fase de casulo, de uma borboleta ainda recolhida, que estava em so-
frimento, mas que tinha esperança em algo melhor. Joana, de posse da mesma
metáfora, afirmou estar saindo do casulo. Assim, grupos de apoio ao luto devem
ter também essa função, de instilar esperança para aqueles enlutados que ainda se
encontram em pleno sofrimento. Olhar adiante com essa perspectiva, de que o so-
frimento pode não ser permanente é algo que contribui para o processo de enfren-
tamento dos efeitos do luto, como demonstrou Joana: “Eu decidi não me martirizar.
Eu decidi que não vou mais ficar presa a obrigação de sofrer”.
Alguns participantes relataram como encontrar no grupo espaço de acolhi-
mento de sua vivência, de validação de seus afetos, de aprendizagem e, sobretudo,
de apoio mútuo, e como foi importante para lidar com sua experiência de perda: “Já
tô voando”, relatou Fernando ao dizer que a soma das experiências dos outros com
as dele trouxe alívio e crescimento.
Os participantes referiram-se ao grupo como espaço que possibilitou auto-
conhecimento, expressão dos afetos e obtenção de apoio social e emocional. Os
relatos a seguir demonstram isso e foram retirados do Formulário de avaliação dos
encontros: “Foi bastante significativo, eu me permiti entrar em contato com as minhas
emoções… Eu sei exatamente o que eu perdi, eu sei exatamente quais são os meus
planos e o que eu quero me tornar daqui pra frente” (Paula); “Vocês foram o melhor
remédio que eu tive, foram o abraço que eu não recebi, são as páginas que eu escrevi”
(Joana); E ainda: “Me sinto acolhido por vocês” (Jorge).
Para Worden (2013), é importante que se faça uma avaliação qualitativa dos
efeitos da intervenção no luto. Deve-se avaliar a experiência subjetiva do enlutado,
ou seja, verificar até que ponto ele percebe modificações dos afetos, cognições e
comportamentos que fizeram com que ele procurasse ajuda. É esperado que, como
efeito da participação nos grupos, os sujeitos relatem aumento da autoestima e dos
sentimentos positivos em relação ao morto, com diminuição de sentimentos como
culpa como expressado pela participante: “Saí de uma tristeza profunda a ponto de
chorar o dia todo, tinha um sentimento de culpa, raiva, impotência e hoje esta um
pouco mais leve” (Joana). Além disso, é um indicativo indispensável da eficácia da
intervenção o participante começar a relatar mudanças espontâneas de comporta-
mento.
77
Muitos foram os efeitos relatados pelos participantes a partir de sua inserção
nos grupos de apoio, como ampliação da rede social, a aprendizagem sobre o pro-
cesso de luto, a escolha de estratégias de enfrentamento mais adaptativas. Os relatos
a seguir ilustram isso: “A identificação com as outras pessoas que estão passando pela
mesma situação gerou um apoio mútuo e compreensão do que fazer” (Joana). “Aprendi
que o luto é individual, que precisa ser vivido, e que não tem tempo certo de acabar”
(Maria). “Aprendi que o luto não vai passar, mas que vamos aprender a conviver com ele
sem tanta dor. Também a me permitir sentir o luto, pois estava sofrendo ao bloquear mi-
nhas emoções. Hoje consigo chorar, expor melhor meus sentimentos” (Paula). E ainda:
... tive contato com outras pessoas enlutadas, que mostraram suas vivên-
cias e me permitiram ver o problema por diversos ângulos. Também senti
um acolhimento muito grande por parte de todos, o que nos fez criar um
laço capaz de dar muito conforto (Jorge).
CONCLUSÕES
78
Como demonstrado nos resultados deste trabalho, o grupo de apoio pode
oferecer espaço importante de expressão e validação das emoções, e sentimentos
que compõem a experiência do luto, com possibilidade de ressignificação da per-
da, aprendizagem sobre essa experiência e a construção de redes de apoio social e
emocional, tal como relatado pelos participantes.
Pode ser interessante que pesquisas futuras lancem mão de instrumentos pa-
dronizados, para avaliar condições psicológicas antes e após a intervenção em situ-
ações de apoio ao luto, de modo a superar distorções da autoavaliação dos próprios
participantes em relação aos benefícios da intervenção. De qualquer modo, consi-
derar o que relatam os enlutados sobre como se sentiram ao participar dos grupos e
os resultados advindos já é um importante indicador qualitativo da proposta.
Este trabalho, amparado no que propõe Worden sobre a intervenção breve e
focal com enlutados, demonstrou que uma proposta estruturada a partir das neces-
sidades dos participantes, com número de encontros relativamente pequeno, pode
ter efeito fundamental sobre a saúde mental dos enlutados, evitando ou diminuin-
do-se com isso a possibilidade de luto complicado. Isso aponta para a possibilidade
de que grupos de apoio ao luto sejam oferecidos por profissionais habilitados nos
mais diferentes contextos, como Unidades Básicas de Saúde, hospitais e escolas, de
modo a beneficiar o maior número de pessoas possível.
REFERÊNCIAS
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manejo de corpos no contexto do novo coronavírus COVID-19. Secretaria de
Vigilância em Saúde Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis Coorde-
nação-Geral de Informação e Análises Epidemiológicas. Brasília/DF Versão 1, 2020. Disponível em: http://www.
saude.gov.br/svs. Acesso em: 10 maio 2020.
BOLASÉLL, L. T.; NUNES, F. R. C.; VALANDRO, G. S.; RITTMANN, I.; MARKUS, J.; WEIDE, J. N.; SEIBT, L. T.; VERDE,
L. V., & RODRIGUES, C. S. M. O processo de luto a partir das diferentes perdas em tempos de pandemia.
Porto Alegre: PUCRS. Projeto gráfico: Luciana Gomes, 2020. Disponível em: https://www.pucrs.br/coronavirus-v-
3-prov/wp-content/uploads/sites/270/2020/09/2020_09_03-coronavirus-cartilhas-o_processo_de_luto_a_par-
tir_das_diferentes_perdas_em_tempos_de_pandemia.pdf. Acesso em: 25 jan. 2023.
CONSELHO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS/ CONEP. Carta Circular nº 166/2018-CO-
NEP/CNS/MS, 2018. Disponível em: http://www.utfpr.edu.br/comissoes/permanentes/comite-de-etica-em-
-pesquisa/CartaCircular1662018Tramitaodosestudosdotiporelatodecaso.pdf . Acesso em: 10 maio 2020.
CREPALDI, M. A.; SCHMIDT, B.; NOAL, D. DA S.; BOLZE, S. D. A.; & GABARRA, L. M. Terminalidade, morte e luto
na pandemia de COVID-19: demandas psicológicas emergentes e implicações práticas. Estudos de Psicologia
(Campinas), 37, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200090 . Acesso em: 10 maio
2020.
DANZMANN, P. S.; SILVA, A. C. P. DA; GUAZINA, F. M. N. Implicações da morte e luto na saúde mental do sujeito
frente à pandemia / Implications of death and grief for the subject’s mental health in the face of the pande-
mic. Revista de psicologia, [S.l.], v. 15, n. 55, p. 33-51, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.14295/idonline.
v15i55.3016.
FIOCRUZ. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: proces-
so de luto no contexto da COVID-19. Rio de Janeiro: 2020. Disponível em ttps://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/
wp-content/uploads/2020/04/Sa%c3%badeMental-e-Aten%c3%a7%c3%a3o-Psicossocial-na-Pandemia-Covi-
d-19-processo-deluto-no-contexto-da-Covid-19.pdf. Acesso em: 10 maio 2020.
79
FOGAÇA, P. C.; AROSSI, G. A.; HIRDES, A. Impacto do isolamento social causado pela pandemia de COVID-19 na
saúde mental da população em geral: uma revisão integrativa. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento , 10
(4), e52010414411, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i4.14411 . Acesso em: 10 maio 2020.
FRANCO, M. H. P. O luto no século 21: uma compreensão abrangente do fenômeno. São Paulo: Summus, 2021.
FRANCO, M. H. P. Por que estudar luto na atualidade? In: M. H. P. Franco (Org.). Formação e rompimento dos
vínculos - dilema das perdas na atualidade. São Paulo: Summus, p. 17-42, 2010.
GIAMATTEY, M. E. P.; FRUTUOSO, J. T.; BELLAGUARDA, M.L. DOS R; LUNA, I. J. Rituais fúnebres na pandemia
de COVID-19 e luto: possíveis reverberações. Escola Anna Nery [on-line]. 2022, v. 26. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/2177-9465-EAN-2021-0208
NIELSEN, M. K.; NEERGAARD, M. A.; JENSEN, A. B.; VEDSTED, P., BRO, F.; GULDIN, M. B. Predictors of complica-
ted grief and depression in bereaved caregivers: A nationwide prospective cohort study. Journal of Pain and
Symptom Management, 53, 540-550, 2017. Doi: 10.1016/j.jpainsymman.2016.09.013
PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus, 1998.
PORTER, N.; CLARIDGE, A. M. Unique grief experiences: The needs of emerging adults facing the death of a
parent. Death Studies; 1–11., 2019. Doi: 10.1080 / 07481187.2019.1626939
SHIMANE, K. Social Bonds with the Dead: How Funerals Transformed in the Twentieth and Twenty-first
Centuries. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci., 373(1754): 20170274, 2018. Doi: 10.1098/rstb.2017.0274
STROEBE, M.; SCHUT, H. The Dual Process Model of Coping with bereavement: rationale and description.
Death Studies, 23:3, 197-224, 1999. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/07481189920104
STROEBE, M.; BOELEN, P. A; VAN DEN HOUT, M. et al. Enfrentamento ruminativo como evitação. Eur Arch Psy-
chiatry Clin Neurosc, 257, 462–472, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00406-007-0746-y
STROEBE, M.; STROEBE, W.; VAN DE SCHOOT, R.; SCHUT, H.; ABAKOUMKIN, G.; LI, J. Guilt in Bereavement: The
Role of Self-Blame and Regret in Coping with Loss. PLoS ONE 9 (5): e96606, 2014. Disponível em: https://doi.
org/10.1371/journal.pone.0096606 . Acesso em: 10 maio 2022.
SUNDE, R. M.; SUNDE. L. M. C. Luto familiar em tempos da pandemia da Covid-19: dor e sofrimento psicoló-
gico. Revista Interfaces, v. 8, n. 3, (número especial Covid-19), 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.16891/
2317-434X.v8.e3.a2020.pp703-710. Acesso em: 10 maio 2020.
TAVARES, G. R. Conectar enlutados: do degradar ao despertar e prosseguir. In: K. O. Fukumitsu. Vida, morte e
luto: atualidades brasileiras. São Paulo: Summus, pp. 232-242, 2018.
WALLACE, C. L.; WLADKOWSKI, S. P.; GIBSON, A.; WHITE. P. Grief During the COVID-19 Pandemic: Considera-
tions for Palliative Care Providers. American Academy of Hospice and Palliative Medicine, 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.jpainsymman.2020.04.012
WALTER, T.; BAILEY, T. How Funerals Accomplish Family: Findings from a Mass-Observation Study. Omega,
82(2), 175-195, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0030222818804646 em . Acesso em: 10 maio 2020.
WORDEN, J. W. Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto: um manual para profissionais da saúde mental.
São Paulo: Roca, 2013.
80
Chupin chopin, Constantino Buteri.
81
Curso Preparatório Celpe-Bras na UNILA
Celpe-Bras preparation course at UNILA
Resumo
A Língua Portuguesa e a Espanhola são as línguas de trabalho da Laura Marcia Luiza Ferreira
Universidade da Integração Latino-Americana (UNILA) que tem o
laura.ferreira@unila.edu.br
bilinguismo institucional como um de seus pilares. Neste texto,
relato a experiência de coordenação do curso de extensão Prepa- Universidade Federal da
ratório para o exame Certificado de Proficiência em Língua Portu- Integração Latino-Americana
guesa para Estrangeiros, o Celpe-Bras, realizado no primeiro e no
segundo semestre de 2019 no contexto da UNILA. Inicialmente,
apresento informações sobre ações relacionadas ao exame Cel-
pe-Bras na UNILA, tais como as aplicações do exame e os primei-
ros cursos preparatórios para o exame Celpe-Bras da instituição
e, em seguida, discuto o processo de construção da metodolo-
gia que direcionou as edições do curso durante o ano de 2019 e
seus resultados, tanto para os cursistas quanto para a formação
de futuros professores de línguas. A ação atendeu futuros exami-
nandos da comunidade interna da universidade e da região da
Tríplice Fronteira e, ao mesmo tempo, foi espaço para realização
de estágio obrigatório para futuras professoras, fomentando o le-
tramento em avaliação de línguas. Espera-se que o relato possa
contribuir para o registro das ações de promoção da língua portu-
guesa em contextos universitários, bem como, oferecer informa-
ções para elaboração de novos cursos preparatórios para exames
de proficiência.
82
Abstract
Portuguese and spanish bilingualism is one of the institutio-
nal pillars of Federal University for Latin American Integration
(UNILA). These languages were chosen to be the working ones
at the university. In this paper, I report an coordination course
experience that was held at UNILA with the aim of preparing
examinees for the Certificate of Proficiency in Portuguese as a
Foreign Language (Celpe-Bras) in 2019. First, I present informa-
tion about the actions related to Celpe-Bras at UNILA such as
test administration and previews preparation courses. Then, I
discuss the course methodology construction process and its
results from the examinees perspective as well as for the lan-
guage teachers that were in charge for them. This action was
part of an University extension program that offered Celpe-Bras
preparation courses for the internal and external community
from Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú and Ciudad Del Este. This
action was also an internship experience for under-gradua-
te students at UNILA. It is expected that this report could be a
testimony for portuguese language promotion in universitary
contexts and also offer information for Celpe-Bras preparation
courses program designs.
83
INTRODUÇÃO
Fonte:
UNILA, 2019, p.3.
O principal objetivo das edições dos cursos de preparatórios de 2011 a 2018 foi
o de promover o conhecimento sobre o exame entre os futuros examinandos. Para
tanto, professores que atuam no ensino de língua portuguesa da UNILA, bem como
estudantes da graduação contribuíram para que o curso fosse oferecido durante nove
anos. Segundo informações da Pró-Reitoria de Extensão da UNILA, entre 2016 e 2018,
aproximadamente 87 pessoas foram atendidas pelo curso preparatório. De 2011 a
2018, doze bolsistas remunerados e três voluntários trabalharam na ação. O perfil dos
estudantes extensionistas que compuseram a força de trabalho da ação era diverso, a
maioria eram discentes do curso de Relações Internacionais, mas havia também gra-
duandos em Economia, Letras (bacharelado), Engenharia Civil e Ciências Biológicas.
Com a entrada dos primeiros discentes da UNILA em 2015 no curso de gradua-
ção em Letras Espanhol e Português como Línguas Estrangeiras, em grau de licencia-
tura, a coordenação da licenciatura procurou ampliar as possibilidades de campo de
estágio obrigatório para futuros professores de línguas. O Projeto Político Pedagógico
do curso de Licenciatura em Letras (UNILA, 2020) prevê em sua grade curricular ativi-
85
dades de estágio, extensão e pesquisa. O estágio curricular, está organizado em quatro
etapas com o foco na reflexão teórica sobre a prática por meio do planejamento das
atividades didáticas, da observação participante e da regência orientada. Por ser um
curso de licenciatura dupla, o estágio é previsto em cada uma das línguas (português
e espanhol). No estágio IV, por exemplo, quatro créditos semestrais ou 68 horas au-
las foram destinados para observação participante e regência de aulas de Português
como Língua Estrangeira. Por este motivo, os cursos preparatórios oferecidos em 2019
ampliaram seus objetivos para também ser uma alternativa de campo de estágio e for-
mação para que futuros professores pudessem aproximar teoria e prática de ensino e
avaliação em línguas. Pimenta e Lima (2006), ao discutir o papel do estágio nos cursos
de licenciatura, concluem que o estágio é um momento de reflexão sobre a docência
em que o(a) professor(a) crítico(a) e reflexivo(a) de sua própria prática se aproxima da
realidade e, a partir dela, o(a) docente pode sistematizá-la, pensá-la teoricamente e
refletir sobre condições e possibilidades reais de ensino. O grande desafio da ação foi
manter o principal objetivo do curso que é de oferecer uma preparação de qualidade
aos futuros examinandos do Celpe-Bras e, ao mesmo tempo, construir coletivamente
com as professoras-estagiárias um campo experimental de docência, relacionando-o
com o curso de graduação.
Cabe aqui ressaltar as potencialidades da ação em promover o letramento de
avaliação em línguas que diz respeito às habilidades, competências e conhecimentos
que os professores dominam sobre avaliações internas e externas. Taylor (2013) ex-
plica que com a demanda de profissionais para trabalhar em processos de aplicação
de exames de larga escala, o tema de como formar professores para avaliarem, não
só seus alunos em sala de aula, mas também, examinandos em processos de testes
internacionais de línguas se tornou presente na agenda de pesquisa da área de ava-
liação em línguas. Scarino (2013) sugere que a formação profissional dos professores
deva trabalhar a avaliação simultaneamente tanto como prática, que transforma ava-
liação em um benefício para o processo de ensino aprendizagem, tanto como para
desenvolver nos professores uma autocompreensão e conscientização da natureza
do próprio fenômeno de avaliação. Interrelacionar tais objetivos implicam em lidar
com preconceitos, crenças, compreensões e visões de mundo sobre avaliação que os
professores-avaliadores trazem do seu fazer profissional e de sua formação. Aprender
sobre avaliação, neste sentido, vai além de aprender conceitos teóricos sobre o tema
porque é preciso promover nos professores a prática real da avaliação e a reflexão
sobre esta prática. Neste sentido, a ação Preparatório Celpe-Bras teve como objetivo
também de explorar estratégias de desenvolvimento da compreensão sobre a ava-
liação pelas futuras professoras e avaliadoras, por meio da prática real e sua reflexão.
A seguir, detalharemos a metodologia da ação de extensão.
86
MÉTODO
O planejamento da oferta do curso foi elaborado em função da demanda das
edições do exame. Em 2019, ocorreram duas aplicações do exame Celpe-Bras, uma no
primeiro e outra no segundo semestre. Cinco estudantes de licenciatura em Letras, das
quais quatro estavam cumprindo a carga horária de estágio obrigatório, participaram das
equipes. O trabalho de coordenação da ação de extensão Preparatório Celpe-Bras foi com-
posto por dois eixos: o de administração do curso e o de gestão do trabalho pedagógico. A
administração envolveu o cadastro do projeto, a divulgação do curso, a abertura e homo-
logação de inscrições, o ensalamento, a seleção de professores-extensionistas, a gestão do
e-mail institucional da ação, a emissão dos certificados dos participantes e o envio de rela-
tórios da ação. Faziam parte do trabalho pedagógico a coordenação do planejamento das
aulas, a avaliação das aulas e coordenação de eventos semanais de correção e discussão
de discrepâncias das notas previamente atribuídas individualmente pelas professoras-es-
tagiárias às tarefas feitas pelos cursistas nas aulas anteriores.
A experiência de estágio na ação está diretamente relacionada com a formação
dos discentes de LEPLE, e se apresenta como uma oportunidade de integração dos varia-
dos componentes curriculares (UNILA, 2020), tais como: Linguística Textual, Laboratório de
Linguística Aplicada, Laboratório de Pesquisa e Prática Pedagógica e, especialmente, Ava-
liação em Língua Estrangeiras. A disciplina sobre avaliação trata também das avaliações
de larga escala de proficiência das quais Celpe-Bras e Celu fazem parte. Um dos requisitos
para estagiar no curso preparatório é ter cursado o componente sobre avaliação, por isso
os encontros de formação teórica são poucos e os textos são cuidadosamente seleciona-
dos para fundamentar o planejamento do curso. Nos encontros iniciais de planejamento,
estudamos relatos de experiências didáticas em outros preparatórios e resultados de pes-
quisa que contribuíram para delimitar o perfil das tarefas do exame para subsidiar a pre-
paração das aulas. Durante o ano de 2019, após leituras teóricas e experiências docente,
chegamos a um formato de aula que vem sendo aprimorado.
O principal objetivo do curso é potencializar as chances dos examinandos de-
monstrarem o que já sabem fazer na língua portuguesa nas situações de interação verbal
propostas na prova. Para tanto, o curso foi planejado de forma a desenvolver a consciência
sobre como e o que está sendo medido por meio do desenho do exame Celpe-Bras, ou
seja, estudam-se as características dos itens ou das tarefas e como a resposta é avaliada. O
Celpe-Bras avalia a proficiência oral e escrita dos examinandos por meio de quatro ques-
tões abertas que envolvem a redação de textos e uma interação oral, face a face, em situa-
ção de entrevista de proficiência oral. Segundo a Cartilha do Participante (BRASIL, 2019), a
parte escrita é composta por quatro itens ou tarefas que deve ser feita em até 3 horas. Na
primeira tarefa, o examinando assiste a um vídeo, na segunda, ouve um áudio e nas outras
duas, lê textos impressos para redigir um outro. Os textos de compreensão que compõem
a prova são retirados de veículos da mídia brasileira (FERREIRA, 2012; SCHOFFEN; MENDEL,
2018). Cada tarefa tem o objetivo de simular ações de linguagem (SCARAMUCCI, 2001), por
isso, em geral, no enunciado está delimitado um propósito e uma interlocução para o texto
que o examinando deve escrever e, em alguns casos, define-se também o gênero textual.
Para fazer a prova escrita é preciso compreender textos orais e escritos para redigir, em três
horas, quatro outros textos, cujas características são delimitadas no comando da tarefa.
87
Sobre a prova oral, trata-se de uma interação face a face em situação de entre-
vista de proficiência oral organizada de forma que haja um momento de quebra-gelo,
em que o examinando fala sobre suas informações pessoais, gostos, preferências e,
em seguida, é esperado que o examinando converse com o avaliador, a partir de re-
cortes de reportagem (FERREIRA, 2012) que funcionam como insumo para a interação
verbal. Na composição da nota final do exame, a nota da prova escrita tem sido a que
define a faixa de certificação, por isso grande parte da carga horária do curso é desti-
nada às tarefas escritas.
No planejamento do curso, cada uma das tarefas escritas e a prova oral fo-
ram abordadas. O curso teve uma carga horária de 15 horas, distribuídas em cinco
encontros de três horas. Na primeira aula, a coordenadora apresentou o curso e pro-
feriu uma breve palestra introdutória sobre o exame Celpe-Bras destinada a futuros
examinandos. Em seguida, as professoras-extensionistas assumiram a aula com o ob-
jetivo de desenvolver estratégias iniciais de leitura dos comandos das tarefas escrita
e a leitura do texto de insumo. Ao final, os estudantes redigiram e entregaram suas
respostas. Na segunda aula, eles receberam a tarefa avaliada e a aula se voltou para a
preparação e escrita da próxima tarefa. A terceira e a quarta aula seguiam as mesmas
etapas da segunda. No último encontro, a prova oral foi abordada. Uma nova comu-
nicação foi preparada com o objetivo de explicar o desenho de avaliação da prova
oral. Neste momento, vários dados de pesquisas levantados no âmbito do projeto de
pesquisa Avaliação em Línguas foram utilizados e adaptados para este público. Ainda
na última aula, convidamos membros do projeto de pesquisa Tandem: aproximando
línguas-culturas latino-americanas e caribenhas para compartilhar informações sobre
estratégias de interação face a face. No quadro 1, organizo o planejamento geral do
curso.
Quadro 1: Programa
Aula 01 Palestra introdutória sobre o exame Celpe-Bras. Apresentação
do curso Preparatório
do curso. Leitura de trechos do manual do examinando do Cel-
Celpe-Bras 2019.2
pe-Bras. Características gerais das tarefas escritas. Preparação e
aplicação de uma tarefa 01. Fonte: elaboração da
Aula 02 Retorno das respostas à tarefa 01. Explicação dos critérios de autora.
avaliação da prova escrita. Preparação e aplicação de uma tarefa
02. Estratégias de leitura dos comandos de prova. Estratégias de
compreensão de textos orais.
Aula 03 Retorno das tarefas avaliadas. Os critérios de avaliação de provas
escritas e sua relação com as faixas de certificação. Estratégias de
compreensão de texto escrito e leitura de comando de prova.
88
Aula 04 Retorno da tarefa respondida. Estratégias de textualização: coesão
e coerência.
O fato das quatro aulas dedicadas à produção escrita terem o mesmo formato
e a mesma dinâmica auxiliou tanto os estudantes no acompanhamento do curso,
quanto os professores-extensionistas na elaboração e regência. A estrutura contem-
plava o retorno individualizado das avaliações; leitura e preparação para escrita de
uma nova tarefa e a escrita da tarefa propriamente dita. Para cada uma das etapas
um tempo de 40 a 60 minutos era dedicado.
A estrutura, assim como a metodologia e o conteúdo das aulas, foi sendo
construída pela equipe. O texto As especificações do exame Celpe-Bras e a descri-
ção das tarefas da parte escrita: convergências e divergências, de Schoffen e Men-
dell (2018), foi especialmente relevante para nortear a seleção de tarefas para serem
trabalhadas no curso, uma vez que as autoras sintetizam as principais característi-
cas das 156 tarefas analisadas que caíram na prova desde a primeira aplicação, de
1998 a 2016-2. Após compreender o perfil de tarefas mais recorrentes no exame, as
professoras selecionaram quatro tarefas que gostariam de trabalhar durante o cur-
so, mediante pesquisa em acervos pessoais de material do exame e acervos online
como o Acervo Celpe-Bras (UFRGS, 2020) e site do INEP. As aulas foram planejadas a
partir das tarefas de edições passadas do exame de forma que uma tarefa era previs-
ta para cada encontro. Iniciamos com as tarefas de compreensão oral, assim como
o faz o exame. O prévio planejamento de cada uma das aulas foi feito em duplas ou
individualmente pelas professoras-extensionistas com a orientação da coordenado-
ra. Após a leitura da coordenadora do plano de aula, caso necessário, mudanças
eram feitas antes da aula e reapresentadas à equipe. Os momentos de reunião de
planejamento fomentaram a reflexão sobre teoria e prática. Às vezes, remetia-se à
conceitos e leituras feitas em outras disciplinas do curso para justificar alguma esco-
lha do plano de aulas.
Ao longo da experiência, as professoras-extensionistas chegaram a uma me-
todologia de aulas organizadas em cinco etapas (Quadro 2). No primeiro momento,
era apresentado o retorno da correção das produções feitas pelos alunos, apon-
tando as principais dificuldades e possibilidades de reescrita dos textos. O objetivo
era oferecer um feedback individualizado a cada um dos que fizeram a tarefa. Neste
momento, pedia-se autorização para ler e comentar algumas respostas dos alunos,
apontando pontos positivos e negativos a serem superados nas próximas redações.
89
No segundo momento da aula, era realizada a leitura e interpretação do comando
da nova tarefa que seria realizada. O comando da tarefa era desmembrado em o que
escrever, para quê, para quem e quais informações do texto de leitura são relevantes
para o cumprimento da tarefa. No terceiro momento, realizava-se a compreensão
do texto, podendo ser texto impresso, vídeo ou áudio, seguido da exploração cole-
tiva das informações que poderiam ser retomadas na resposta à tarefa. No quarto
momento, era realizada a análise das principais características discursivo-textuais
solicitadas pela atividade, em algumas aulas, um texto autêntico similar ao requisi-
tado na tarefa foi compartilhado e analisado pelos cursistas. No quinto momento,
depois de explorar diversas informações pertinentes para o cumprimento da tarefa,
os cursistas finalmente colocavam a mão na massa e redigiam o texto. Todos os ma-
teriais utilizados nas aulas eram enviados por e-mail aos alunos, alguns dias antes
da aula, para que pudessem se preparar.
Etapas Atividades
Quadro 2: Planejamento
Primeiro momento: retorno das avaliações das tarefas reali- de aula sobre Tarefa 03 -
zadas na aula anterior Hortas, 2016.2
Segundo momento: leitura e análise do comando da tarefa:
quem escreve? por que escreve? para Fonte: Planejamento
de aula sobre Tarefa 03 -
que escreve? como escreve? quais
Hortas, 2016.2.
informações do texto de leitura são per-
tinentes para construção da resposta à
tarefa?
Terceiro momento: apresentação do gênero textual:
identidade de blogues de alimentação
saudável, características de postagem
neste tipo de blogue, a autoria do blo-
gue. Leitura e análise de uma postagem
de blogue com a temática de hortas
urbanas.
Quarto momento: leitura do texto de insumo da tarefa,
destacando os pontos mais importan-
tes que devem e/ou podem ser retoma-
dos na resposta à tarefa.
90
Fonte: BRASIL, 2016
RESULTADOS
91
Sobre o processo de planejamento das aulas, uma das estudantes relatou que a prepara-
ção para sua primeira aula foi insuficiente, o que, segundo ela, influenciou negativamente
na regência. Na segunda aula, a professora estudou com mais detalhes a tarefa e suas pos-
síveis respostas o que fez diferença na sua performance, de acordo com sua percepção. A
outra extensionista também destaca a importância do planejamento, em especial, a revi-
são prévia da aula pela coordenação que apontava fragilidades e alternativas de revisão.
Ela ressalta ainda a relevância das reuniões pós-aula para a revisão das práticas didáticas.
Segundo a extensionista, um bom planejamento dá segurança não só ao professor, como
também ao cursista. A reflexão sobre o tema do planejamento e avaliação do planejamen-
to pós-aula foi um dos aspectos que mais apareceu nas reuniões de orientação e avaliação
final do curso, o que nos remete à discussão sobre o papel do estágio de aproximar teoria
e prática.
Na segunda edição de 2019, a equipe dobrou para atender a demanda inicial de
72 inscritos. Além da coordenação, participaram três estudantes que cumpriam a carga
horária de estágio e uma voluntária. As professoras do segundo semestre também ava-
liaram positivamente ter uma tarefa e uma estrutura prévia como ponto de partida para o
planejamento da aula. As professoras aprovaram o fato de cada aula ter uma responsável
pelo planejamento, embora todas pudessem participar da aula e dar sugestões de elabo-
ração e revisão do plano de aula. Um dos desafios iniciais para as professoras e, especial-
mente para os estudantes, foi entender o objetivo do curso. Muitos estudantes têm uma
ideia preliminar de que o Celpe-Bras avalia adequação linguística e que, por isso, o curso
deveria se voltar para explicações de aspectos formais da língua. O primeiro desafio foi
de esclarecer que o objetivo do preparatório é familiarizar os discentes com as tarefas de
avaliação, ou seja, prepará-los para entender o desenho da prova de forma a potencializar
suas chances de demonstrarem o que já sabem escrever e falar em português. Todas as
professoras destacam a dificuldade de informar aos estudantes sobre a parte teórica do
exame, por este motivo incorporamos ao planejamento do curso as palestras de professo-
ras especialistas no assunto.
Sobre as avaliações das tarefas dos cursistas ao longo do curso de 2019, as pro-
fessoras avaliaram que fornecer as notas e justificá-las auxiliou os cursistas a entenderem
o exame. Além disso, para as professoras foi uma etapa para aproximá-las da experiência
de correção de exames externos e também serviu como fonte de informação sobre a aula,
uma vez que, pelas respostas à tarefa, as professoras iam apontando falhas e potencialida-
des da aula ministrada, que preparou os cursistas para redação do texto corrigido.
93
Apenas um estudante nos informou que em uma primeira aplicação havia se
certificado na faixa intermediário e após o curso, tornou a fazer o exame e conse-
guiu atingir a nota máxima, avançado-superior. Como se tratava de um médico em
processo de revalidação de diploma, a diferença de faixa é relevante para seu futuro
profissional.
Fonte: elaboração da
autora
“A ordem dos tópicos usados no curso foi bem consequente (sic), cumpriam
uma lógica para o estudante e facilitava a sua aprendizagem. Mesmo assim (sic), a
presença de mais instrutores no curso possibilitou uma avaliação mais estrita e deta-
lhada dando uma confiança maior no conteúdo ou informação plasmada na redação
e na estrutura da escrita” (cursista – preparatório Celpe-Bras, 2019.2)
94
Gráfico 03: Síntese das
respostas do questioná-
rio de avaliação do curso
Preparatório 2019.2
Fonte: elaboração da
autora
CONCLUSÕES
95
A experiência, tanto de elaborar o planejamento quanto de produzir mate-
riais para as aulas, gerou também um pequeno acervo para futuras edições do curso
e materiais para pesquisas sobre o tema. Além disso, a experiência levantou poten-
ciais questões de pesquisa sobre o desenho do exame Celpe-Bras e também sobre o
processo de desenvolvimento do letramento em avaliação de línguas, especialmen-
te no que se trata do processo de correção de avaliações abertas.
Do ponto de vista dos estudantes que frequentaram mais da metade das au-
las, a maioria afirma que após o curso eles se sentem mais preparados para a prova.
Ao analisar as planilhas de notas dos estudantes no começo e no final do curso,
percebemos uma tendência de aumento da nota. Ao analisar a nota dos cursistas
que fizeram todas as quatro tarefas, houve uma tendência de deslocamento de faixa
de classificação do intermediário para o avançado. Uma limitação da análise foi não
comparar as notas dos estudantes com a nota oficial do Celpe-Bras. Outra limitação
deste relato foi não esclarecer por que há uma grande procura do curso e poucos o
concluem.
Além de contribuir para o registro das ações de promoção no que se refere
ao Celpe-Bras, espero que o relato também possa contribuir para o debate sobre
formação de professores de línguas e oferecer informações para o planejamento de
futuros cursos preparatórios em outros contextos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Apresenta informações sobre aplicação do exame Celpe-Bras. Disponível em: http://www.inep.gov.br/
celpebras/estrutura_exame.asp. Acesso em: 21 jan. 2020.
FERREIRA, Laura Márcia Luiza. Habilidades de leitura na Proposta de Interação Face a Face do Exame Celpe-
Bras. Dissertação Mestrado. Belo Horizonte: UFMG, 2012.
PIMENTA, Selma Garrida; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista
Poíesis, v.3, n.3, p.5-24, 2006.
SCARAMUCCI, Matilde V. Ricardi. O Projeto Celpe-Bras no Âmbito do Mercosul: contribuições para uma definição
de proficiência comunicativa. In: ALMEIDA FILHO, J.C.P (Org.) Português para Estrangeiros: interface com o
espanhol. 2.ed. Campinas: Pontes, 2001, 77-90 p.
96
SCARINO, Angela. Language assessment literacy as self-awareness: Understanding the role of interpretation
in assessment and in teacher learning. Language Testing, v. 30, n. 3, p. 309-317, 2013.
SCHLATTER, M.; SCARAMUCCI, Matilde V. Ricardi; PRATI, S. Celpe-Bras and CELU proficiency exams as political
acts in Brazil and Argentina. In: ALTE 3rd - International Conference Cambridge 2008, 2008, Cambridge.
Programme of the ALTE 3rd - International Conference Cambridge 2008. Cambridge, v. 1, p. 64-64, 2008.
SCHOFFEN, Juliana Roquele; MENDEL, Kaiane. As especificações do exame Celpe-Bras e a descrição das
tarefas da parte escrita: convergências e divergências. Domínios da Lingu@gem, v.12, n. 2, p.1091-1122, abr.-
jun., 2018.
TAYLOR, Lynda. Communicating the theory, practice and principles of language testing to test stakeholders:
some reflections. Language Testing, v. 30, n. 3, p.403-412, 2013.
UNILA. Universidade Federal da Integração Latino Americana. Pró-Reitoria de Relações Internacionais. Relatório
sobre exame Celpe-Bras em 2017, 2018 e 2019. Foz do Iguaçu, 2019.
UNILA. Universidade Federal da Integração Latino Americana. Projeto Pedagógico do Curso de Letras –
Espanhol e português como línguas estrangeiras. UNILA: Foz do Iguaçu, 2020. Disponível em: https://portal.
unila.edu.br/graduacao/letras-espanhol-portugues/arquivos/PPCLEPLEApartirde2018.1.pdf. Acesso em: 05
mai.2020.
UFRGS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acervo Celpe-Bras. Disponível em: http://www.ufrgs.br/
acervocelpebras/acervo. Acesso em: 05 mai. 2020.
97
Saíra verde, Constantino Buteri.
98
O tabu da morte e a prevenção do suicídio nas
universidades federais
The death taboo and suicide prevention at federal universities
99
Abstract
The World Health Organization has proposed a Mental Health
Action Plan with a goal of reducing the global suicide rate by
10%. Brazil became a signatory to this plan and implemented
an Agenda of Strategic Actions for Surveillance and Suicide
Prevention and Health Promotion, for the 2017-2020 quadren-
nium. In this proposal, the education segment was inserted as
an actor and agent of intervention, given that the number of ex-
termination of life also affects children, young adolescents and
university students. In view of this, this article analyzes how 15
federal universities in the Southeast and South regions of Brazil
act in the prevention of suicide among members of the univer-
sity community and presents suggestions for the implementa-
tion of a Suicide Prevention Program for the Federal University
of Espirito Santo (Ufes).
100
INTRODUÇÃO
101
lificado e estratégias desenvolvidas. Além disso, o documento também menciona
a necessidade do engajamento de instituições sociais e profissionais de diferentes
áreas, com o intuito de oferecer apoio a pessoas vulneráveis e àqueles que fizeram
pelo menos uma tentativa contra sua vida. Em linhas gerais, essas medidas podem
trazer conforto a pessoas que perderam alguém para o suicídio e também podem
ajudar a combater o estigma.
No Brasil, país que tornou-se signatário do plano de ação da OMS, conforme
dados descritos no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em
2017, a estimativa é de que, por ano, 800 mil pessoas morrem pela via do suicídio. Os
dados apresentados nesse documento são preocupantes, pois o Brasil, atualmente,
encontra-se entre os dez países que registram os maiores números absolutos de
suicídios. Aproximadamente, um total de 11 mil pessoas cometem suicídio todos os
anos no Brasil. Só entre 2011 e 2015, ocorreram 55.649 mil casos no país.
Para enfrentar esse problema, o país conta com o Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan) e o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), os
quais disponibilizam dados epidemiológicos sobre as tentativas de suicídio. Esses
dados mostram que enxergar o suicídio como um problema de saúde pública possi-
bilita a utilização dos instrumentos mais adequados para as medidas de prevenção.
Em relação ao aumento do número de suicídios em ambientes específicos,
como as universidades, observa-se que há uma escassez de trabalhos sobre o tema,
a partir da perspectiva da Psicologia e de campos correlatos. No entanto, não são
raras as notícias veiculadas na imprensa e nas redes sociais sobre essas ocorrên-
cias em universidades públicas, a exemplo da Universidade Federal de Minas Gerais
(BHAZ, 2018) e da Universidade de Brasília (KLEIN, 2018).
Nessas duas instituições, os fatos se deram dentro do campus universitário. Na
universidade mineira, em maio de 2017, um aluno cometeu suicídio dentro do seu
quarto na moradia estudantil. Às vésperas de completar um ano desse acontecimen-
to, a instituição registrou mais dois casos de suicídio entre estudantes, os quais ocor-
reram no período de uma semana, no mês de abril de 2018. Até maio de 2019, já havia
ocorrido mais dois casos de suicídio na Universidade Federal de Minas Gerais. Em ju-
nho de 2018, na Universidade de Brasília, uma aluna estudante de Ciências Sociais su-
biu no topo de um dos edifícios da instituição e se jogou de uma altura de 15 metros.
Essas ocorrências não são casos isolados. Em um breve levantamento reali-
zado em sites de veículos de comunicação identificamos 15 casos de suicídios de
estudantes de universidades federais, entre o período de 2016 e 2018, incluindo-se
diferentes instituições, tais como: Universidade do Recôncavo Baiano (UFRB) em
2016; Universidade Federal de Minas Gerais, em 2017, 2018 e 2019; Universidade Fe-
deral do Espírito Santo (Ufes), em 2016 e 2018; Universidade Federal do Acre em
2018; e Universidade Federal do Tocantins em 2017, entre outras.
Mesmo esse número sendo significativo, sobretudo no que tange ao curto es-
paço de tempo em que se sucederam as ocorrências, acreditamos que ele está su-
bestimado. Isto porque, em pesquisa nas redes sociais neste mesmo período, perce-
bemos que o número de casos citados sobre suicídio de universitários foi maior do
que os publicados em sites de notícias, uma vez que este é um tema que a imprensa
não elenca entre os critérios de noticiabilidade para veiculação, justamente devido
aos tabus envolvendo a questão.
102
Ao expandir a pesquisa incluindo as universidades estaduais, esses números ten-
dem a aumentar, visto que somente na Universidade de São Paulo (USP), entre maio e
junho de 2018, foram registradas quatro mortes de estudantes por suicídio, o que levou
à criação imediata do escritório para acolhimento dos discentes (INFOMAR, 2018).
Considerando esse cenário, Dutra (2012) comunga da ideia acerca da obscuri-
dade que permeia a prática do suicídio em determinados locais, como o espaço aca-
dêmico. Para a autora, o suicídio entre jovens é comum e ocorre nas mais diferenciadas
regiões do Brasil, mas o registro de tais ocorrências não corresponde à realidade, pois
em muitos casos o problema acaba sendo ignorado, devido a tabus e preconceitos.
Neste contexto, diante do aumento de casos de suicídios entre os jovens e
considerando as diretrizes nacionais de prevenção do suicídio envolvendo as ins-
tituições acadêmicas, analisamos neste artigo como 15 universidades federais das
regiões Sul e Sudeste do país têm formulado políticas de prevenção do suicídio em
seus campi e como a Universidade Federal do Espírito Santo pode desenvolver esse
tipo de iniciativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANDIFES, Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior. UFG – Debate refle-
te sobre saúde mental. Brasília: Andifes, 2018. Disponível em: https://www.andifes.org.br/?p=58557. Acesso
em: 03 out. 2018.
ARIÈS, Philippe. História da morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
BAHIA, Camila Alves et al. Lesão autoprovocada em todos os ciclos da vida: perfil das vítimas em serviços de
urgência e emergência de capitais do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Manguinhos, v. 22, n. 9, p. 2841-2850,
2017.
BARBOSA, Fabiana de Oliveira; MACEDO, Paula Costa Mosca; SILVEIRA, Rosa Maria Carvalho da. Depressão e o
suicídio. Revista SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, jan./jun. 2011.
BHAZ. Novo caso de suicídio estudantil é registrado pela UFMG: segundo em uma semana. Belo Horizonte:
BHAZ, 2018. Disponível em: https://bhaz.com.br/noticias/bh/estudante-ufmg-suicidio-veterinaria/. Acesso em:
18 set. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.876, de 14 de agosto de 2006. Institui Diretrizes Nacionais para
Prevenção do Suicídio, a ser implantadas em todas as unidades federadas, respeitadas as compe-
tências das três esferas de gestão. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/
prt1876_14_08_2006.html. Acesso em: 17 set. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Suicídio: saber, agir e prevenir. Boletim Epide-
miológico, Brasília, v. 48, n. 30, p. 1-15, 2017.
CHRISTANTE, Luciana. Saúde Mental. Unesp Ciência, Marília, v. 1, n. 1, 2010. Disponível em: https://www.unesp.
br/aci/revista/ed13/com-saida. Acesso em: 02 out. 2018.
CRUZ, Mayara Peres da; CAMARGO, Nayara. Suicídio: Interfaces de um problema de saúde pública. 2017. 71f.
Monografia (Graduação em Enfermagem) – Curso de Enfermagem, Centro Universitário Católico Salesiano Au-
xilium, Lins, 2017.
DUTRA, Elza. Suicídio de universitários: o vazio existencial de jovens na contemporaneidade. Estudos e Pes-
quisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 924-937, 2012.
108
FERREIRA JUNIOR, Avimar. O comportamento suicida no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de Psicologia,
Salvador, v. 2, n. 1, p. 15-28, 2015.
FREUD, Sigmund. Considerações atuais sobre a guerra e a morte. In S. Freud Obras Completas (P. C. Souza,
trad., Vol. 12, p.209-246). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
GAMMONE, Maria Teresa et al. O contexto do suicídio. Trilhas Pedagógicas, v. 6, n. 6, p. 257-287, ago. 2016.
INFOMAR. Após quatro casos de suicídio, USP cria escritório de saúde mental. 2018. Disponível em: https://
catracalivre.com.br/cidadania/apos-4-casos-de-suicidiousp-cria-escritorio-de-saude-mental/. Acesso em: 17
set. 2018.
KLEIN, Lucas Pitta. UnB amanhece de luto. 2018. Disponível em: https://esquerdaonline.com.br/2018/06/06/
unb-amanhece-de-luto/. Acesso em: 17 set. 2018.
KOVÁCS, Maria Júlia. Educação para a morte. Psicologia, ciência e profissão, Universidade de São Paulo, v. 25,
nº 3, p. 484 – 497, 2005.
MEDEIROS, Milene Nazaré Félix. Risco de suicídio, saúde e estilos de vida - Estudo com estudantes universitá-
rios. 2012. 127f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Centro de Ciências Sociais e Humanas, Universidade da
Beira Interior, Covilhão, 2012.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Global Healt Observatory. 2017. Disponível em: http://www.who.
int/gho/en/. Acesso em: 30 set. 2018.
PEREIRA, Adelino Gonçalves; CARDOSO, Francisco dos Santos. Ideação suicida na população universitária:
uma revisão de literatura. Revista E-Psi, v. 5, n. 2, p. 16- 34, 2015.
SCHLÖSSER, Adriano; ROSA, Gabriel Fernandes Camargo; MORE, Carmen Leontina. Revisão: comportamento
suicida ao longo do ciclo da vida. Temas em Psicologia, v. 22, n. 133, p. 1-145, 2014.
TENG, Chei Tung; PAMPANELLI, Mariana Bonini. O Suicídio no contexto psiquiátrico. Revista Brasileira de Psi-
cologia, Salvador, v. 2, n. 1, 2015. Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/29343876/teng-pam-
panelli-2015-osuicidio-no-contexto-psiquiatrico. Acesso em 15 ago. 2018.
UFMG, Universidade Federal de Minas Gerais. Relatório Conclusivo da Comissão Institucional de Saúde Men-
tal - CISME/UFMG. 2017. Disponível em: https://www.ufmg.br/online/arquivos/anexos/Relatorio%20da%20
Comiss%E3o%20d e%20Saude%20Mental%20da%20UFMG%2010-03-17.pdf. Acesso em: 15 mai. 2019.
109
Savacu de coroa, Constantino Buteri.
110
Ação extensionista frente à pandemia de SARS-CoV-2:
o papel do Laboratório de Diagnósticos Moleculares
da UFV-CRP e o protagonismo universitário
Extension action in the face of the SARS-CoV-2 pandemic: the role of the UFV-CRP
Molecular Diagnostics Laboratory and university protagonism
Resumo
Com a crise sanitária instaurada no início de 2020, foi proposta Liliane Evangelista Visôtto
por membros da comunidade acadêmica da Universidade Fede- Luanda Medeiros Santana
ral de Viçosa - Campus Rio Paranaíba (UFV-CRP) a criação de um Karine Frehner Kavalco
laboratório de diagnóstico do SARS-CoV-2, por RT-qPCR. O obje- Rubens Pasa
tivo deste artigo é relatar como o esforço conjunto entre univer- Pedro Ivo Vieira Good God
sidade, instituições públicas e privadas promoveu, com sucesso,
lvisotto@ufv.br
a instalação de um laboratório de testagem em um campus, fora
da sede universitária, no enfrentamento da COVID-19. Nos quase Universidade Federal de
dois anos de atividade, o Laboratório de Diagnósticos Moleculares Viçosa/ Campus Rio Paranaíba.
(LDM) atendeu a 22 municípios da região do Alto Paranaíba/MG e
liberou 25.201 exames. Além destes, o LDM também realizou o trei-
namento de estudantes de graduação e pós-graduação nas técni-
cas moleculares de diagnóstico do coronavírus, atuou no combate
contra a propagação de informações falsas nas redes sociais e na
disseminação de métodos profiláticos da COVID-19. A instalação
do LDM proporcionou a criação de uma disciplina teórica e práti-
ca sobre a doença, e fortaleceu a pesquisa no campus, permitindo
que projetos de iniciação científica relacionados a COVID-19 fos-
sem executados, com resultados publicados em periódicos cientí-
ficos indexados internacionalmente.
111
Abstract
With the health crisis established in early 2020, members of the
academic community of the Federal University of Viçosa - Cam-
pus Rio Paranaíba (UFV-CRP) proposed the creation of a SARS-
-CoV-2 diagnostic laboratory, by RT-qPCR. The purpose of this
article is to report how the joint effort between the university,
public and private institutions successfully promoted the ins-
tallation of a testing laboratory on a new campus, outside the
university headquarters, in the face of COVID-19. In almost two
years of activity, the Molecular Diagnostics Laboratory (MDL)
served 22 cities in the Alto Paranaíba/MG region and released
25,201 tests. In addition, MDL also trained undergraduate and
graduate students in molecular diagnostic techniques for the
coronavirus, acted in the fight against the spread of false in-
formation on social networks and the spread of COVID-19 pro-
phylactic methods. The installation of MDL provided the crea-
tion of a theoretical and practical discipline about the disease,
and strengthened research on campus, allowing scientific ini-
tiation projects related to COVID-19 to be carried out, with re-
sults published in internationally indexed scientific journals.
112
INTRODUÇÃO
MÉTODO
Criação do LDM
114
trutura física do laboratório e a aquisição/empréstimo de vários equipamentos, reagen-
tes, materiais de consumo e EPI. Também foi feita a seleção de voluntários para atuarem
nas atividades do laboratório, baseando-se na experiência laboratorial prévia.
RESULTADOS
115
Tabela 1:
MUNICÍPIOS INSTITUIÇÕES
Laboratórios
credenciados pela
FUNED, em 02 de
Belo Horizonte FioCruz Minas
abril de 2020, para
Fundação Hemominas
participarem da Re-
deLab Covid-19 na São Marcos Saúde e Medicina Diagnóstica
execução de testes Simile Instituto de Imunologia Aplicada
de SARS-CoV-2 por Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
RT-qPCR. Diamantina Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e
Mucuri (UFVJM)
Ipatinga Hospital Márcio Cunha
Fundação São Francisco Xavier
Lagoa Santa Loci Genética Laboratorial
Montes Claros Unimontes
Pedro Leopoldo Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuá-
ria (MAPA)
Rio Paranaíba Universidade Federal de Viçosa - Campus Rio Para-
naíba (UFV-CRP)
Sete Lagoas Laboratório Santa Lúcia
Viçosa Universidade Federal de Viçosa (UFV)
116
Figura 1:
Laboratório de Diag-
nósticos Moleculares
da UFV-CRP. (A)
Equipamentos ad-
quiridos para as ati-
vidades de testagem
do SARS CoV-2. (B)
Laboratório comple-
to, inaugurado em 28
de maio de 2020.
Fonte: Rubens Pasa
– acervo pessoal,
(2020/2022)
A expectativa inicial era realizar cerca de 50 testes por dia. Com o aumento
no número de casos de COVID-19 em todo o mundo e a alta demanda das secre-
tarias municipais de saúde da região, foi necessária a aquisição de um extrator
de ácidos nucléicos automatizado, que possibilitou quadruplicar o número de
exames realizados diariamente. Nos meses de pico da pandemia, foi necessário
um revezamento da equipe do LDM nos três turnos para atender toda a deman-
da dos municípios, que chegou a mais de 200 exames por dia.
Entre os meses de maio de 2020 a fevereiro de 2022, período de atividade
do LDM como membro da RedeLab Covid-19, foram realizados 25.201 testes de
COVID-19 por RT-qPCR (Figura 3). Nos primeiros doze meses de atividade (05/2020
a 05/2021) mais de 18 mil exames foram entregues aos municípios da região, sen-
do a média mensal de 1.417,5 testes. Já no segundo ano (06/2021 a 02/2022) fo-
ram realizados 6.773 exames, com média mensal de 752,5. Pode-se observar uma
variação mês a mês no número de exames liberados, devido às variações no nú-
mero de casos na região, a demanda das secretarias municipais de saúde e ao
contexto nacional da pandemia.
118
Figura 3:
Total de exames
mensais realizados
pelo LDM, no perío-
do de maio de 2020
a fevereiro de 2022.
Figura 4:
Municípios atendi-
dos e número de
exames realizados
pelo LDM.
119
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. (2022). Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Especial: Doença pelo Novo Coronavírus- CO-
VID-19, n. 112. Publicado em: 13 de maio de 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-
-de-conteudo/publicacoes/boletins/boletins-epidemiologicos/covid-19/2022/boletim-epidemiologico-no-
-112-boletim-coe-coronavirus.pdf/view. Acesso em: 16 maio 2022.
BRITO, S.B.P.; BRAGA, I.O.; CUNHA, C.C.; PALÁCIO, M. A.V.; TAKENAMI I. Pandemia da COVID-19: o maior desafio
do século XXI. Revista Visa em Debate: Sociedade, Ciência e Tecnologia, 8(2), 54-63, 2020.
CERAOLO, C.; GIORGI, F. M. Genomic variance of the 2019-nCoV coronavirus. Journal of Medical Virology, 92,
522-529, publicado em 02 fevereiro 2020.
FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS (FUNED). Dezenove laboratórios são habilitados pela Funed para o teste de co-
ronavírus em MG. Publicado em: 02/04/2020. Disponível em: http://www.funed.mg.gov.br/2020/04/destaque/
dezenove-laboratorios-sao-habilitados-para-o-teste-de-coronavirus-em-mg/. Acesso em: 30 abr. 2022.
GARCIA, L.P.; DUARTE, E. Intervenções não farmacológicas para o enfrentamento à epidemia da COVID-19
no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 29(2), e2020222, 2020.
121
GIMENEZ, A.M.N.; SOUZA, G.; FELTRIN, R.B. Para além do ensino, da pesquisa e da extensão: iniciativas e res-
postas das universidades brasileiras para o enfrentamento da COVID-19. Revista Tecnologia e Sociedade, 16(43),
116-137, ed. especial, 2020.
INSTITUTO BUTANTAN. Por que acontecem mutações do SARS-CoV-2 e quais as diferenças entre cada uma
das variantes. Publicado em: 09/09/2021. Disponível em: https://butantan.gov.br/noticias/por-que-acontecem-
-mutacoes-do-sars-cov-2-e-quais-as-diferencas-entre-cada-uma-das-variantes. Data de acesso: 29 abr. 2022.
LISBOA, A. P. Universidades e Institutos federais fizeram 1.665 ações contra COVID-19. Correio Braziliense,
publicado em 07 de julho de 2020. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estu-
dante/ensino_educacaobasica/2020/07/07/interna-educacaobasica-2019,870230/universidades-e-institutos-
-federais-fizeram-1-665-acoes-contra-covid.shtml. Acesso em: 29 abr. 2022.
MADRUGA, S.W. Editorial. Revista Expressa Extensão, 25(2), publicado em abril de 2020.
UZUNIAN, A. Coronavirus SARS-CoV-2 and COVID-19. Jornal Brasileiro de Patologia Laboratorial, 56, 1-4, pu-
blicado em 09 setembro 2020.
WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Coronavirus disease (COVID-19) pandemic (on-line). Disponível em:
https://www.who.int/emergencies/diseases/novelcoronavirus-2019. Acesso em: 29 abr. 2022.
AGRADECIMENTOS
FONTES DE FINANCIAMENTO
122
João de Barro, Constantino Buteri.
123
Contribuições da Iniciativa Conjunta para Promoção
da Abordagem da Saúde Única na formação
profissional e comunitária para o enfrentamento da
pandemia de Covid-19
Contributions of the Joint Initiative for the Promotion of the One Health Approach in
professional and community training to face the Covid-19 pandemic
124
Abstract
The One Health approach integrates several professionals to
solve problems involving human, animal, and environmental
health, and its implementation is important for the prevention
of pandemics, such as Covid-19. This experience report des-
cribes how our extension project in One Health had a positive
impact on the continuity of university activities during the Co-
vid-19 pandemic and on the promotion of knowledge for the
community in general. Due to social isolation, all activities
were carried out virtually. The tasks, which started in August
2020, were: (i) webinars and meetings with professors, health
professionals, and undergraduate and graduate students; (ii)
international course involving professionals and students from
Brazil, Germany, Mozambique, and Kosovo; and (iii) dissemi-
nation of educational content in posts on social networks. We
have done five webinars, 10 study groups to discuss current is-
sues, more than 70 content on social media, and two editions of
the international course on One Health. The project succeeded
in uniting and training a range of professionals from different
areas of activity, states, and countries, and in disseminating the
One Health approach to the general population.
125
INTRODUÇÃO
O termo ‘Saúde Única’, do inglês “One Health”, caracteriza-se por uma aborda-
gem integrada e unificada que reconhece que a saúde de humanos, animais domésti-
cos e selvagens, plantas e o meio ambiente são intimamente ligados e interdependen-
tes . Esta abordagem é defendida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a
principal forma de evitar futuras pandemias em uma era de emergência e reemergên-
cia de doenças infecciosas, com potencial de rápida disseminação internacional (ONE
HEALTH HIGH LEVEL EXPERT PANEL, 2021).
Com a pandemia de Covid-19 pudemos ver lacunas de conhecimento, soma-
das à necessidade de respostas coordenadas e colaborativas para prevenção, pre-
paração e resposta a ameaças como esta (ONE HEALTH HIGH LEVEL EXPERT PANEL,
2021). Consequentemente, em março de 2022, quatro organizações mundiais firma-
ram um memorando para o enfrentamento de riscos à saúde usando o contexto da
Saúde Única (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2022). Contudo, seu sucesso depende-
rá do preparo constante dos sistemas de saúde de todos os países para lidarem com
epidemias cada vez mais frequentes, complexas e impactantes, em um ciclo integrado
de preparação, resposta e recuperação .
Os recursos humanos são um componente importante da abordagem da Saú-
de Única (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018), unindo áreas médicas, veterinárias
e ambientais aos governos, negócios e sociedade civil . No entanto, o pensamento
focado em áreas disciplinares específicas, as diferenças culturais e a falta de recursos
humanos capacitados dificultam iniciativas com esta abordagem (RIBEIRO; VAN DE
BURGWAL; REGEER, 2019). Desta forma, a capacitação para o trabalho interprofissio-
nal e intersetorial é essencial para que estudantes e profissionais desenvolvam habi-
lidades para atuação em um cenário de centralidade da Saúde Única como forma de
resposta aos desafios em saúde global. Além disso, o envolvimento da comunidade
e o financiamento da educação, diretamente influenciado por fatores políticos e eco-
nômicos, são primordiais para o sucesso destas ações (FOOD AND AGRICULTURE OR-
GANIZATION, 2011). Nesse contexto, práticas como a criação de projetos de extensão
dentro de universidades permitem implementar estratégias holísticas, em momento
oportuno, que é o início da capacitação profissional .
Dentre cursos e projetos em Saúde Única já realizados, podemos observar al-
gumas limitações, destacando-se as seguintes: inclusão de apenas alunos de medi-
cina humana ou veterinária; implementação somente nos últimos anos do curso de
graduação; ausência de internacionalização e de exposição a casos-problema reais
(treinamento prático), e falhas na comunicação . Ademais, temos uma atitude ainda
muito vista nos cursos, descrita como “mentalidade de silo”, que é caracterizada por
uma mentalidade limitada e fechada, onde pessoas inseridas em determinadas orga-
nizações tem dificuldade em dividir conhecimento e interagir com indivíduos de fora .
Neste artigo, abordamos o projeto de extensão “Iniciativa Conjunta para Pro-
moção da Abordagem da Saúde Única” (One Health Espírito Santo), iniciado em agos-
to de 2020, momento em que as atividades presenciais da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES) estavam restritas devido a pandemia de Covid-19. Dentre os par-
ticipantes, estavam estudantes de cursos de graduação, pós-graduação, professores
e profissionais.
126
O projeto possibilitou a continuidade das atividades de ensino e extensão, de forma
remota, com alcance também na comunidade em geral. Além disso, vem promoven-
do a discussão de tópicos necessários ao enfrentamento da pandemia de Covid-19
e de futuras emergências em saúde pública (PETTAN-BREWER et al., 2021) .
Tendo em vista o contexto mencionado, este artigo apresenta os impactos e desafios des-
te projeto de extensão na continuidade das atividades universitárias e na promoção do
conhecimento e discussões sobre Saúde Única entre profissionais, estudantes e a comu-
nidade em geral. Aqui, propomos identificar estratégias aplicadas que foram bem-suce-
didas, bem como aquelas que necessitam de aprimoramento, com o intuito de fornecer
recomendações e exemplos para projetos futuros.
MÉTODO
Delineamento do estudo
Público-alvo e atividades
Divulgação
Os eventos foram divulgados nas redes sociais do One Health Espírito Santo no
Instagram (@one.health.es), Facebook, Twitter (OneHealthES) e via e-mail (one.health.
es@gmail.com). Também para divulgação de informações à comunidade em geral,
foram produzidos materiais educativos sobre Saúde Única e publicados no perfil do
Instagram, em formato de postagens e stories. A produção foi realizada pela equipe de
comunicação do projeto em conjunto com as equipes responsáveis por cada grupo
de estudo. Foram escolhidos temas considerados relevantes para a compreensão da
Saúde Única e da atuação interprofissional nesta abordagem, além de sua aplicação
em situações que fazem parte da realidade epidemiológica do estado do Espírito San-
to e do Brasil, aproximando o tema à comunidade, com linguagem clara, simples e
direta.
Internacionalização
128
AAB). Dentro desse projeto foi lançado o curso “Global Health Challenges and One
Health”, disponível em plataforma Moodle, contendo exercícios, atividades e video-
aulas (VICENTE et al., 2021). Na UFES, o curso vem sendo ofertado desde 2021 pelo
Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas (PPGDI), com aulas síncronas
e assíncronas.
RESULTADOS
129
Para o curso “Global Health Challenges and One Health” foram produzidos 48
vídeo-aulas de diversos temas compreendidos nos seguintes módulos: (i) Interpro-
fessional and collaborative practice in One Health; (ii) One Health; (iii) Healthcare, sur-
veillance, and One Health; (iv) Bioethics in One Health; e (v) Careers in Global Health.
Contribuíram para a elaboração das aulas professores, cientistas e outros profissio-
nais de 26 instituições das Américas (Brasil, Estados Unidos da América), África (Mo-
çambique, África do Sul, Gana), Europa (Alemanha, Irlanda, Portugal, Espanha, Suécia,
Kosovo) e Ásia (Singapura, Filipinas).
O curso, ofertado em língua inglesa, contou com aulas síncronas e assíncronas,
envolvendo alunos e professores de todas as instituições simultaneamente, utilizando
o método de Aprendizagem Online Internacional Colaborativa, em que os alunos dos
diversos locais participam de debates e realizam trabalhos em grupos, possibilitando
o desenvolvimento de competências interculturais, linguísticas e interprofissionais,
além de conhecimento teórico sobre a Saúde Única (VICENTE et al., 2021; VICENTE et
al., 2022). O piloto do curso foi implementado entre 27 de abril e 01 de julho de 2021,
envolvendo inicialmente 30 estudantes de pós-graduação da Ludwig-Maximilians-U-
niversität (n = 5), Technische Universität München (n = 5), UFES (n = 9), Universidade Fe-
deral do Paraná (n = 5), Universidade Católica de Moçambique (n = 5), e Kolegji AAB (n
= 1). Em sua segunda edição, ocorrida entre 26 de abril de 2022 a 28 de junho de 2022,
contou com 25 estudantes das instituições anteriormente mencionadas, além de cin-
co estudantes de pós-graduação bolsistas que atuaram como assistentes no projeto.
No Instagram, até setembro de 2022, foram produzidos e postados mais de 70
materiais educativos (postagens e stories) com as mais diversas temáticas, como o
papel dos diferentes profissionais nas equipes de Saúde Única, doenças zoonóticas,
saúde do meio ambiente e hábitos sustentáveis, fatores relacionados à emergên-
cia de doenças, entre outros. O perfil conta com 695 seguidores, até o momento da
elaboração deste artigo, das mais diversas faixas etárias: 13 a 17 (0,5%), 18 a 24 anos
(24,3%), 25 a 34 anos (34,3%), 35 a 44 anos (25,1%), 45 a 54 anos (11,1%), mais de 55
anos (4,3%)-- e que em sua maioria se identificam com o gênero feminino (71,7%). Os
principais países dos seguidores são Brasil (89,9%), Estados Unidos (2,2%), Colômbia
(1,6%), Canadá (1,1%) e Chile (1%).
Em um período de 90 dias (18 de junho a 15 de setembro de 2022), o perfil al-
cançou 595 contas pertencentes a indivíduos de diversas faixas etárias - 25 a 34 anos
(37,1%), 18 a 24 anos (26,7%), 35 a 44 anos (21,8%) e 45 a 54 anos (9,4%) - sendo que
76% se identificam com o gênero feminino. Além do Brasil, o perfil alcançou usuários
da Colômbia (1,9%), Estados Unidos (1,9%), e Peru (0,9%). Quanto ao engajamento,
houve envolvimento de 139 contas que realizaram 402 interações com o conteúdo,
sendo 260 curtidas, 69 compartilhamentos, 39 salvamentos, e nove comentários. O
engajamento ocorreu principalmente de usuários das faixas etárias de 25 a 34 anos
(30,9%), seguidos por 34 a 44 anos (25,8%), 18 a 24 anos (23%) e 45 a 54 anos (12,9%). A
maioria se identificava como gênero feminino (73,5%) e, além do Brasil (95,6%), foram
identificadas interações do Canadá (1,4%), Colômbia (0,7%) e Bolívia (0,7%). As quatro
publicações mais relevantes, com base no número de curtidas no último ano, foram:
(i) animais sinantrópicos (n = 43); (ii) o papel do médico na Saúde Única (n = 37); (iii) dia
mundial das zoonoses (n = 33); e (iv) a varíola dos macacos (n = 32).
130
DISCUSSÃO
O projeto de extensão “Iniciativa Conjunta para Promoção da Abordagem da Saú-
de Única” (One Health Espírito Santo) foi criado em agosto de 2020, ano em que a pan-
demia de Covid-19 se iniciou. Neste momento, diversos grupos de estudo e projetos de
extensão de caráter remoto também foram criados e, os já existentes, foram adaptados .
Nosso projeto apresentou consideráveis avanços na compreensão do que é e de
como aplicar a Saúde Única por alunos de diversos cursos da graduação, pós-gradua-
ção e profissionais. Este avanço deve-se principalmente ao foco interprofissional e da
participação colaborativa, com promoção do trabalho em equipe, que o coloca em des-
taque como um dos mais promissores projetos de extensão do Brasil sobre Saúde Única
(PETTAN-BREWER et al., 2021) . Foi demonstrado que profissionais de diferentes áreas
da saúde divergem no seu entendimento sobre o conceito de Saúde Única (HAYES; EL-
GELKE; STIELSTRA, 2014), o que reforça a necessidade de ações educativas interprofis-
sionais sobre esta abordagem na esfera acadêmica.
O uso de tecnologias de informação e comunicação, para viabilizar as atividades
no cenário de pandemia, permitiu a retomada e continuidade de atividades de ensino
e extensão de forma remota, bem como a participação de estudantes e profissionais
de diversas cidades do Espírito Santo e de diferentes estados do Brasil. Este resultado
evidencia o grande alcance das redes sociais do projeto e o interesse crescente pela te-
mática da Saúde Única no contexto da pandemia, que tem garantido uma participação
frequente e ativa de membros de instituições nacionais e internacionais nos grupos de
estudo.
Apesar do investimento em educação estar entre os Princípios de Berlim, formu-
lados para superar barreiras para implementação da Saúde Única (GRUETZMACHER et
al., 2021), este importante assunto ainda não é abordado em disciplinas da graduação,
o que reforça a importância da extensão para superar esta lacuna e promover a educa-
ção interprofissional, ainda incipiente na universidade (FURTADO et al., 2010). A inclusão
da temática de Saúde Única nos currículos impulsiona a reflexão aprofundada sobre
as causas de problemas complexos em saúde, buscando soluções integradas que vão
além de resultados imediatos, por meio da gestão de riscos e não a mera resposta às
emergências em saúde, que muitas vezes leva a resultados negativos não-intencionais
(ONE HEALTH COMMISSION, 2018). No contexto prático de Saúde Única, Righi et al. (2021)
destacam o papel interdisciplinar na prevenção e minimização de desastres e emergên-
cias em saúde, ao abordarem estratégias de educação e treinamento de profissionais.
No presente projeto de extensão, os estudantes e profissionais vêm sendo capacitados
e incentivados a integrarem seus conhecimentos de forma interdisciplinar, para a ela-
boração de ações visando à comunidade externa. As ações possibilitam ainda o desen-
volvimento de competências colaborativas, como comunicação e liderança, além de
oportunizar aos estudantes de pós-graduação atividades de orientação, integrando a
graduação e a pós-graduação. Algumas práticas utilizadas no projeto são reconhecidas
por proporcionarem melhores resultados em aprendizagem interprofissional, como o
foco em conceitos compartilhados e experiências, trabalho em pequenos grupos, e ên-
fase em competências similares necessárias às diferentes profissões (LARSEN, 2021).
131
O projeto de extensão ainda teve impacto na introdução do tema Saúde Úni-
ca na pós-graduação, por meio do curso Global Health Challenges and One Health,
que tem proporcionado o intercâmbio acadêmico, com participação de estudantes
de seis instituições de quatro países, contribuindo para internacionalização do ensi-
no na UFES. Além disso, os estudantes da pós-graduação que atuam como assisten-
tes tem papel fundamental no planejamento e acompanhamento das atividades do
curso, desenvolvendo competências necessárias à sua atuação como futuros docen-
tes (VICENTE et al., 2022). Fugindo das interpretações errôneas comumente feitas do
conceito de internacionalização (WIT, 2011) , este curso não apenas abordou assuntos
internacionais, reuniu estudantes de diferentes países e utilizou o inglês como língua
padrão, como, principalmente, desenvolveu atividades para aquisição de competên-
cias interculturais e compartilhamento de experiências.
O uso de mídias sociais para educação e comunicação em saúde é uma estraté-
gia de disseminação de informações que, além de acompanhar tendências tecnológi-
cas, é considerada uma ferramenta de baixo custo em relação aos canais de comuni-
cação tradicionais (STELLEFSON et al., 2020). A participação do projeto no Instagram
teve impacto crescente no engajamento da comunidade, tanto nacional quanto in-
ternacional. Entre as postagens com maior número de curtidas estava presente uma
da série sobre o papel das diferentes profissões no contexto da Saúde Única. Isso de-
monstra interesse na rotina interprofissional e em saber como cada especialista pode
contribuir a partir de sua bagagem educacional, para o objetivo comum de promover
a saúde. O perfil demográfico dos seguidores evidencia o alcance do público-alvo do
projeto, e as interações reforçam a percepção da relevância dos temas por usuários
das redes sociais, inclusive sobre emergências em saúde atuais, como a varíola dos
macacos.
Quanto às limitações do projeto de extensão, podemos citar a ausência de apli-
cação de questionários para avaliação dos alunos quanto a sua participação no proje-
to, com feedback sobre o que foi importante e sugestões de melhorias. Além disso, as
limitações de um ensino remoto incluem a impossibilidade de ações práticas, como
visitas a organizações e treinamentos; e o comprometimento do alcance e assiduida-
de dos alunos ao projeto, já que nem todos os participantes têm acesso a ferramentas
tecnológicas e internet de boa qualidade. Quanto ao curso internacional, sua realiza-
ção em língua inglesa é um impedimento de participação para aqueles alunos sem
domínio escrito e falado do idioma, o que limita o acesso de um público mais amplo,
apesar de propiciar uma melhora de comunicação em inglês, conforme relatado por
estudantes que concluíram o curso piloto (VICENTE et al., 2022).
REFERÊNCIAS
BEDFORD, J.; FARRAR, J.; IHEKWEAZU, C.; KANG, G.; KOOPMANS, M.; NKENGASONG, J. A new twenty-first
century science for effective epidemic response. Nature, v. 575, n. 7781, p. 130-136, 7 nov. 2019.
BUSCHHARDT, T.; GÜNTHER, T.; SKJERDAL, T.; TORPDAHL, M.; GETHMANN, J.; FILIPPITZI, M. E.; MAASSEN,
C.; JORE, S.; ELLIS-IVERSEN, J.; FILTER, M.; OHEJP GLOSSARY TEAM. A One Health glossary to support
communication and information exchange between the human health, animal health and food safety
sectors. One Health, v. 13, p. 100263, 1 dez. 2021.
CARDOSO, M. C.; FERREIRA, C. P.; SILVA, C. M., MEDEIROS, G. M., PACHECO, G.; VARGAS, R. M. Utilização das
redes sociais em projeto de extensão universitária em saúde durante a pandemia de Covid-19. Expressa
Extensão, v. 26, n. 1, p. 551-558, 29 dez. 2020.
COLLIGNON, P.; MCEWEN, S. One Health - Its importance in helping to better control antimicrobial resistance.
Tropical Medicine and Infectious Disease, v. 4, n. 1, p. 22, 29 jan. 2019.
DAVIS, M. F.; RANKIN, S. C.; SCHURER, J. M.; COLE, S.; CONTI, L.; RABINOWITZ, P.; COHERE EXPERT REVIEW
GROUP. Checklist for One Health epidemiological reporting of evidence (COHERE). One Health, v. 4, p. 14–21, 1
dez. 2017.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. One Health: Food and Agriculture Organization of the United Nations
strategic action plan. Roma: Food and Agriculture Organization. 2011.
FURTADO, M. S.; SANTOS, P. A.; SILVA, M. T. N.; SOUZA, N. V. D. O. Reflecting on interdisciplinarity in graduation
through the extension projects. Revista de Enfermagem UFPE on line, v. 4, n. 3, p. 1280, 17 maio 2010.
GRUETZMACHER, K.; KARESH, W. B.; AMUASI, J. H.; ARSHAD, A.; FARLOW, A.; GABRYSCH, S.; JETZKOWITZ, J.;
LIEBERMAN, S.; PALMER, C.; WINKLER, A. S.; WALZER, C. The Berlin principles on One Health - Bridging global
health and conservation. Science of the Total Environment, v. 764, p. 142919, 10 abr. 2021.
HAYES, B.; ENGELKE, H.; STIELSTRA, S. Assessment of knowledge, attitudes, and beliefs of health
professional students on One Health after completion of an interprofessional education course. Medical
Science Educator, v. 24, n. 4, p. 369-378, 12 dez. 2014.
HUSS, A. B. M.; BISPO, C. G. C.; MISTRELLO, Y. A.; ROSSETTO, K. C. A.; VELTRINI, V. C. A pandemia e a reformulação
de um projeto de extensão sobre educação em saúde bucal. Revista da ABENO, v. 22, n. 2, p. 1695, 21 fev. 2022.
JOHNSON, I.; HANSEN, A.; BI, P. The challenges of implementing an integrated One Health surveillance system
in Australia. Zoonoses Public Health, v. 65, n. 1, e229-e236, dez. 2018.
KAHN, L. H. Developing a One Health approach by using a multi-dimensional matrix. One Health, v. 13, p.
100289, 1 dez. 2021.
LARSEN, R. J. Shared curricula and competencies in One Health and health professions education. Medical
Science Educator, v. 31, p. 249-252, 1 fev. 2021.
133
ONE HEALTH COMMISSION. Education task force guide to developing One Health lessons for K-12. Apex: One
Health Commission. 2018.
ONE HEALTH HIGH LEVEL EXPERT PANEL. OHHLEP annual report 2021. Disponível em: https://
cdn.who.int /media/docs/default-source/food-safety/onehealth/ohhlep-annual-report-2021.
pdf?sfvrsn=f2d61e40_6&download=true. Acesso em: 17 maio. 2022.
PETTAN-BREWER, C.; MARTINS, A. F.; DE ABREU D. P. B.; BRANDÃO, A. P. D.; BARBOSA, D. S.; FIGUEROA, D. P.;
CEDIEL, N.; KAHN, L. H.; BRANDESPIM, D. F.; VELÁSQUEZ, J. C. C.; CARVALHO, A. A. B.; TAKAYANAGUI, A. M. M.;
GALHARDO, J. A.; MAIA-FILHO, L. F. A.; PIMPÃO, C. T.; VICENTE, C. R.; BIONDO, A. W. From the approach to the
concept: One Health in Latin America-experiences and perspectives in Brazil, Chile, and Colombia. Frontiers in
Public Health, v. 9, p. 687110, 14 set. 2021.
PUROHIT, M.; CHANDRAN, S.; SHAH, H.; DIWAN, V.; TAMHANKAR, A. J.; STÅLSBY LUNDBORG, C. Antibiotic
resistance in an indian rural community: a ‘One-Health’ observational study on commensal coliform from
humans, animals, and water. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 14, n. 4, p.
386, 6 abr. 2017.
RIBEIRO, C. S.; VAN DE BURGWAL, L. H. M.; REGEER, B. J. Overcoming challenges for designing and
implementing the One Health approach: a systematic review of the literature. One Health, v. 7, p. 100085,
2019.
RIGHI, E.; LAURIOLA, P.; GHINOI, A.; GIOVANNETTI, E.; SOLDATI, M. Disaster risk reduction and interdisciplinary
education and training. Progress in Disaster Science, v. 10, p. 100165, 1 abr. 2021.
STELLEFSON, M.; PAIGE, S. R.; CHANEY, B. H.; CHANEY, J. D. Evolving role of social media in health promotion:
updated responsibilities for health education specialists. International Journal of Environmental Research and
Public Health, v. 17, n. 4, p. 1153, 12 fev. 2020.
TOGAMI, E.; GARDY, J. L. HANSEN, G. R.; POSTE, G. H.; RIZZO, D. M.; WILSON, M. E.; MAZET, J. A. K. Core
Competencies in One Health Education: What Are We Missing? NAM Perspectives. Washington, DC: National
Academy of Medicine. 2018.
UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to
break the chain of transmission. Nairobi: United Nations Environment Programme. 2020.
VICENTE, C. R.; JACOBS, F.; DE CARVALHO, D. S.; CHHAGANLAL, K.; DE CARVALHO, R. B.; RABONI, S. M.; QOSAJ, F.
A.; TANAKA, L. F. Creating a platform to enable collaborative learning in One Health: The Joint Initiative for
Teaching and Learning on Global Health Challenges and One Health experience. One Health, v. 12, p. 100245, 1
jun. 2021.
VICENTE, C. R.; JACOBS, F.; DE CARVALHO, D. S.; CHHAGANLAL, K.; DE CARVALHO, R. B.; RABONI, S. M.; QOSAJ, F.
A.; DAU, P. H.; FERREIRA, M. A. M.; BRUNETTI, M. N.; TANAKA, L. F. The Joint Initiative for Teaching and Learning
on Global Health Challenges and One Health experience on implementing an online collaborative course.
One Health, v. 15, p. 100409, 1 dez. 2022.
VILLANUEVA-CABEZAS, J. P.; WINKEL, K. D.; CAMPBELL, P. T.; WIETHOELTER, A.; PFEIFFER, C. One Health
education should be early, inclusive, and holistic. The Lancet Planetary Health, v. 6, n. 3, p. e188–e189, 1 mar.
2022.
WIT, H. Internationalization of Higher Education: Nine Misconceptions. 2011. Disponível em: https://ejournals.
bc.edu/index.php/ihe/article/view/8556/8321. Acesso em: 20 maio 2022.
134
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Managing epidemics: key facts about major deadly diseases. Luxemburgo:
World Health Organization. 2018.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Quadripartite Memorandum of Understanding (MoU) signed for a new
era of One Health collaboration. Disponível em: https://www.who.int/news/item/29-04-2022-quadripartite-
memorandum-of-understanding-(mou)-signed-for-a-new-era-of-one-health-collaboration. Acesso em: 17 maio
2022.
AGRADECIMENTOS
FONTES DE FINANCIAMENTO
135
Sabiá da praia tamron, Constantino Buteri.
136
Tradução e conhecimento em tempos de pandemia
de COVID-19 em comunidade quilombola
Knowledge translation in times of the COVID-19 pandemic in quilombola community
Resumo
OBJETIVO: Ilustrar a tradução do conhecimento no formato de Adriana Nunes Moraes-Partelli
material educativo em saúde realizado em tempos de pandemia José Marcos Amabiles Pazini
para comunidade quilombola. METODOLOGIA: Estudo qualitati- Aline Pestana Santos
Isabela Lorencini Santos
vo e bibliográfico, desenvolvido nas etapas: 1) Levantamento dos
Marta Pereira Coelho
conteúdos científicos sobre o COVID-19 pela pesquisa bibliográfi-
ca; 2) Produção de cartilha com informação sobre contágio, dis- adrianamoraes@hotmail.com
seminação e como se prevenir da COVID-19 em comunidade qui-
lombola, considerando componentes de grupo com ancestrais Universidade Federal do
provenientes do continente africano; e 3) Entrega da cartilha à Espírito Santo
Secretaria Municipal de Saúde para distribuição nas Unidades de
Saúde que possuem comunidades quilombolas em seu território.
RESULTADOS: A revisão bibliográfica contribuiu cientificamente
com levantamento de temas para a composição da cartilha. Em
seguida, foi elaborado storyboard onde foram definidas as ilus-
trações, o conteúdo textual e a linguagem utilizada. Contratou-se
empresa que ilustrou e diagramou o produto final: “Comunidade
quilombola em foco: prevenção do contágio e disseminação do
Coronavírus”. A entrega de 680 exemplares impressos da carti-
lha foi realizada a Secretaria Municipal de Saúde de São Mateus.
CONCLUSÃO: Esse estudo foi desenvolvido aplicando o pilar da
universidade (ensino-pesquisa-extensão), que impactou direta-
mente na formação de estudantes de graduação e culminou na
produção de tecnologia educativa contendo conteúdo com pro-
blema social urgente e atual, contribuindo na inclusão de grupos
sociais em situação de vulnerabilidade.
137
OBJECTIVE: To illustrate the translation of knowledge in the
format of educational health material carried out in times of a
pandemic for quilombola community. METHODOLOGY: Qualita-
tive and bibliographic study, developed in the following stages:
1) Survey of scientific content on COVID-19 through bibliographic
research; 2) Production of a booklet with information on conta-
gion, dissemination and how to prevent COVID-19 in the quilom-
bola community, considering the rgoup with ancestors from the
African continent.; and 3) Delivery of the booklet to the Municipal
Health Department for distribution to the Health Units that have
quilombola communities in their territory. RESULTS: The literatu-
re review contributed scientifically to the survey of themes for the
composition of the booklet. Afterwards, a storyboard was crea-
ted where the illustrations, the textual content and the language
used were defined. A company was hired that illustrated and dia-
grammed the final product: “Quilombola community in focus: on
preventing the contagion and spread of the Coronavirus”. The de-
livery of 680 printed copies of the booklet was made to the Muni-
cipal Health Department of São Mateus. CONCLUSION: This study
was developed by applying the university pillar (teaching-resear-
ch-extension), which directly impacted the training of undergra-
duate students and culminated in the production of educational
technology containing content with an urgent and current social
problem, contributing to the inclusion of social groups in a situa-
tion of vulnerability.
138
INTRODUÇÃO
139
Nesse sentido, as tecnologias educacionais favorecerem a elevação do nível de
conhecimento e confiança da população, dando-lhes a base e suporte para a realiza-
ção do autocuidado. Além disto, contribuem no processo de comunicação e interação
entre o profissional da saúde e a comunidade, com vistas a incentivar hábitos sau-
dáveis, como higienização das mãos e o uso de máscaras (NOAL; PASSOS; FREITAS,
2020).
O Knowledge Translation ou, em português, a Tradução do Conhecimento con-
siste em uma proposta que objetiva sintetizar, disseminar, trocar e aplicar o conheci-
mento eticamente produzido para melhorar e prover serviços de saúde mais efetivos,
de forma a impactar positivamente nos níveis de saúde da população (KHODDAM;
MEHRDAD; PEYROVI, 2014).
Neste contexto, surge a necessidade de produzir uma cartilha que possa, atra-
vés da tradução do conhecimento, embasar e fundamentar cientificamente a produ-
ção de um material educativo, que contenha informações e orientações. Assim, esse
material serviria de auxílio na educação em saúde da comunidade quilombola, com
base nos componentes étnico-geográficos, permitindo que essa população crie iden-
tidade pela união dos conhecimentos da cultura local e do conhecimento científico,
no que tange ao contágio e disseminação da COVID-19. Portanto, esse é o objetivo
desse estudo, através da pergunta norteadora: como traduzir o conhecimento científi-
co em informações e orientações que auxiliem na educação em saúde da população
quilombola, em tempos de COVID-19?
MÉTODO
Revisão Bibliográfica
A pesquisa bibliográfica gera a união e a composição do conhecimento de pes-
quisas relevantes, contribuindo diretamente para sua introdução e assimilação na práti-
ca clínica. Dessa forma, essa etapa foi desenvolvida nas fases: Elaboração das perguntas
norteadoras; Definição dos descritores; Busca na base de dados; Aplicação dos Critérios
de inclusão/exclusão dos artigos; Análise e Síntese dos achados (SILVA et al., 2017).
A revisão foi desenvolvida por meio do levantamento de material científico, no
período de maio a dezembro de 2020, com vista a responder à questão da pesquisa:
quais são as evidências científicas necessárias para embasar a produção de material
educativo sobre a temática COVID-19, para comunidades quilombolas?
A primeira etapa destinou-se a realizar a identificação do problema ou da temáti-
ca abordada, por meio do estabelecimento de descritores. Nesse contexto, adotaram-se
os seguintes termos: “Infecções por Coronavírus”, “prevenção & controle” e “educação
em saúde”.
Para sistematizar o panorama atual da literatura, abordando a temática proposta,
realizou-se uma busca sistemática em bases de dados por meio do Portal de Periódicos
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tais como:
Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-a-
mericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Español em
Ciencias de la Salud (IBECS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), e a biblioteca
eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SciELO).
140
É valido ressaltar que a investigação na literatura foi realizada através da combinação
dos descritores, utilizando o operador booleano and.
Foram incluídos na revisão os estudos originais, disponíveis em formato completo com
abordagem qualitativa ou quantitativa, que tinham relação direta com o objeto de es-
tudo, os quais envolveram COVID-19, prevenção e educação em saúde, estudos pu-
blicados no idioma Português, Inglês ou Espanhol. Como critérios de exclusão, foram
descartados estudos repetidos, teses, dissertações ou editoriais em que o método não
estivesse claro. Também, foram desconsiderados os trabalhos que não respondiam à
pergunta norteadora.
A seleção dos artigos deu-se, inicialmente, através da leitura dos títulos e, posteriormen-
te, pelo resumo, onde foram excluídos aqueles que não atendiam aos critérios para in-
vestigação. Os artigos cujos títulos e resumos surtiram dúvidas sobre sua inclusão ou
exclusão para a pesquisa, foram mantidos para uma leitura completa do trabalho.
Para análise, aplicou-se instrumento de elaboração própria, com inclusão dos seguintes
itens: Autores/País/Ano, objetivos do estudo e as implicações para a prática.
RESULTADOS
Figura 1- Mosaico
do storyboard pre-
liminar com capa e
sumário da cartilha.
São Mateus, ES,
2021.
Fonte: Autoria
própria
O material educativo foi definido com a seguinte composição: capa, folha de rosto,
apresentação, sumário e os sete temas abordados na cartilha, os quais são: 1- Expli-
cando o coronavírus e a COVID-19; 2- Sinais e sintomas iniciais da COVID-19; 3- Formas
de transmissão do coronavírus; 4- Se possível, fique em casa!; 5- Vacina, sim!; 6- Quan-
do e onde procurar ajuda; e 7- Dicas importantes para o trabalho rural; as Referências
e, por fim, a contracapa. A cartilha intitulada “Comunidade quilombola em foco: na
prevenção do contágio e disseminação do Coronavírus” foi ilustrada e diagramada
por uma empresa contratada. O exemplar conta com 24 páginas, com tamanho pa-
drão de formatação de 21cm de altura por 15cm de largura, e está disponível gratuita-
mente pelo link: http://repositorio.ufes.br/handle/10/11780 (Figura 2).
142
Figura 2 - Capa e
apresentação da
cartilha “Comunida-
de quilombola em
foco: na preven-
ção do contágio e
disseminação do
Coronavírus”. São
Mateus, ES, Brasil,
2021.
Fonte: Autoria
própria
Fonte: Autoria
própria
143
A cartilha foi finalizada e os objetivos do presente estudo foram alcançados.
Ressalta-se que pode ser utilizada no formato impresso e também online, por profis-
sionais de saúde e de educação, no contexto da prevenção do contágio e dissemi-
nação da COVID-19.
DISCUSSÃO
Os materiais educativos têm grande importância no processo ensino-apren-
dizagem e de promoção à saúde, constituem uma tecnologia de cuidado que po-
tencializa as intervenções de saúde e o trabalho da equipe, além de servirem como
ferramentas permanentes de cuidado, uma vez que podem ser consultadas sempre
que necessário (LEMOS; VERÍSSIMO, 2020). Tal relevância tem sido discutida por di-
versos autores que os qualificam como facilitadores da aprendizagem e não apenas
como um objeto que oferece informação, pois, além da transmissão do conheci-
mento, também passa a ser proporcionado ao profissional de saúde, responsável
pela educação em saúde, gerando adesão satisfatória dos conhecimentos adquiri-
dos (ROCHA et al., 2019; LIMA et al., 2020; MATOS et al., 2019).
No presente estudo foi produzido um material educativo no formato de car-
tilha, levando-se em consideração os componentes étnico-raciais e o modo de vida
do público-alvo, residentes em comunidade quilombola, sobre a prevenção do con-
tágio e disseminação da COVID-19 (COUTINHO; PADILLA, 2020).
Este estudo realizado no contexto escolar, evidencia que a cartilha é um ma-
terial relevante em relação às características que a compõem. Também confirma a
importância da utilização deste material com vistas a contribuir para a promoção de
educação em saúde (BRAGA et al., 2021).
Além disso, o material foi produzido no contexto da Tradução do Conheci-
mento, um dos vários termos usados para colocar a evidência em ação, e de en-
tender como essas práticas funcionam no mundo real. Trata-se de um processo
interativo do conhecimento que inclui a síntese, a disseminação, o intercâmbio e
a utilização do conhecimento com a finalidade de melhorar serviços e colocar à
disposição da população produtos eficazes e, assim, fortalecer o sistema de saúde
(ANDRADE; PEREIRA, 2020).
Para tanto, a criação da tradução do conhecimento tem 3 fases: investigação
do conhecimento, síntese do conhecimento, e geração de produtos e ferramentas
do conhecimento (GRAHAM et al., 2006). O saber é refinado a cada estágio e se torna
mais útil para os seus usuários.
Assim, para que a fundamentação dos temas elencados ocorresse de maneira
fidedigna e com base em conhecimentos científicos realizou-se uma pesquisa bi-
bliográfica, como um instrumento metodológico que almeja explicar e discutir um
assunto, tema ou problema, com base em diferentes referências, conforme aponta
a literatura. Além disso, a pesquisa bibliográfica propõe-se a conhecer, analisar e
elucidar as contribuições dos mesmos. Ainda, cita sua atuação no que tange a rea-
lizar a fundamentação teórica dos estudos, bem como identificar o estágio atual do
conhecimento de determinado tema (SANTOS, 2020).
144
Nesse contexto, a cartilha foi sistematizada buscando entender o processo
da transferência de saberes no âmbito da saúde sobre a COVID-19, evadindo-se da
transferência de conhecimentos e conteúdos técnicos, mas fundamentando-se na
criação de um processo educativo baseado no diálogo, como peça fundamental
para a construção do vínculo entre o educador e o educando (SANTOS, 2020).
Diante desse rigor metodológico, elaborou-se um produto educativo intitu-
lado “Comunidade Quilombola em foco: na prevenção do contágio e dissemina-
ção do Coronavírus”, de maneira a contribuir na educação em saúde ofertada pelos
profissionais da área, principalmente enfermeiros, como auxílio à educação dos re-
sidentes em comunidade quilombola, com informações científicas de maneira sim-
plificada. Após a elaboração, ilustração e diagramação, a cartilha foi entregue para
os gestores em saúde, para que fossem distribuídas.
O estudo teve como limitações a última etapa do processo de tradução de co-
nhecimento que é a avaliação do material pelo público-alvo, devido ao isolamento
social. Pretende-se dar continuidade ao estudo com a realização de validação de
aparência pelo público leitor e validação de conteúdo por juízes/especialistas, para
que, desta forma, a cartilha confira maior qualidade ao processo de ensino-aprendi-
zagem na assistência em saúde, reforçando a confiabilidade das orientações.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANDRADE, K. R. C.; PEREIRA, M. G. Tradução do conhecimento na realidade da saúde pública brasileira. Rev.
Saúde Pública, São Paulo, v.54, p.1-7, jul 2020.
BELASCO, A. G. S.; FONSECA, C. D. Coronavirus 2020. Revista Brasileira de Enfermagem, v.73, n.2, 2020.
BRAGA, P. P.; ROMANO, M. C. C.; GESTEIRA, E. C. R. et al. Tecnologia Educacional sobre limpeza e desinfecção
de brinquedos para ambientes escolares frente à pandemia da COVID-19. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro,
v.25, n.spe, e20210023, 2021.
145
BRASIL. Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003. Regulamenta o procedimento para identificação, reco-
nhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunida-
des dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Brasília; 2003.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política para o
SUS. 3. ed., Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
COUTINHO, J. G.; PADILLA, M. Informação adequada, confiável e oportuna em tempos de pandemia de CO-
VID-19. Rev Panam Salud Publica, v.28, n.44:e118, Sep 2020.
DE PINHO BARBOSA, S.; SILVA, A.V. F. G. A Prática da Atenção Primária à Saúde no Combate da COVID-19. APS
em Revista, v.2, n.1, p.17-19, 2020.
GRAHAM, I. D.; LOGAN, J.; HARRISON, M. B. et al. Lost in knowledge translation: time for a map? J Contin Educ
Health Prof., v.26, n.1, p.13-24, 2006.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Conheça o Brasil - População: cor ou raça. Rio de Janeiro:
IBGE; 2019.
JIN, Y. H. et al. Uma diretriz de aconselhamento rápido para o diagnóstico e tratamento da nova pneumonia
infectada por coronavírus 2019 (2019-nCoV) (versão padrão). Pesquisa Médica Militar, v.7, n.1, p.4, 2020.
KHODDAM, H.; MEHRDAD, N.; PEYROVI, H. et al. Knowledge translation in health care: a concept analysis. MJI-
RI, v.28, n.98, p.1-15, 2014.
LEMOS, R. A.; VERÍSSIMO, M. L. Estratégias metodológicas para elaboração de material educativo: em foco a
promoção do desenvolvimento de prematuros. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n.2, p.505–18, 2020.
LIMA, N. K. G.; ARAÚJO, M. M.; GOMES, E. B. et al. Game proposal as educational technology for the promotion
of adolescent cardiovascular health. Brazilian Journal of Health Review., v.3, n.5, p.13494–514, 2020.
MATOS, M. R.; RAVELLI, A. P. X.; SCORUPSKI, R. et al. Construção e implementação de um jogo educativo para
puérperas. Extensão em foco, n.18, p.01-14, Jan./Jun 2019.
NOAL, D. S.; PASSOS, M. F. D.; FREITAS, C. M. (Org.). Recomendações e orientações em saúde mental e atenção
psicossocial na COVID-19. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020.
ROCHA, E. M.; PAES, R. A.; STHAL, G. M. et al. Cuidados Paliativos: Cartilha educativa para cuidadores de pacien-
tes oncológicos. Clinical & Biomedical Research. v.39, n.1, p.40–57, 2019.
SANTOS, A. S.; VIANA, M. C. A.; CHAVES, E. M. C. et al. Educational technology based on nola pender: promoting
adolescent health. J Nurs UFPE on line, Recife, v.12, n.2, p.582-9, Feb. 2018.
SILVA, J. L.; OLIVEIRA, W. A. F.; CARVALHO, M. M. et al. Anti-bullying interventions in schools: a systematic lite-
rature review. Ciência & Saúde Coletiva, v.22, n.7, p.2329-2340, 2017.
XU, Z. et al. Achados patológicos do COVID-19 associados à síndrome do desconforto respiratório agudo.
The Lancet medicine respiratória, v.8, n.4, p.420-422, 2020.
146
FONTE DE FINANCIAMENTOS
AGRADECIMENTOS
147
Jaçana, Constantino Buteri.
148
Interface do ensino de idiomas estrangeiros e
extensão universitária no contexto da pandemia de
COVID-19
Interface of teaching foreign languages and university outreach in the context of the
Covid-19 pandemic
149
Abstract
This article presents an experience report on the “CAP Langua-
ge Conversation Center,” an outreach project initiated by the
Federal University of São João del Rei, Alto Paraopeba campus,
aimed at democratizing the knowledge of foreign languages
through cultural and teaching activities. The project has been
active since 2014 and focuses on sensitizing society to the im-
portance of learning a second language and promoting inter-
nationalization. Amidst the COVID-19 pandemic, the project
observed a significant increase in the number of courses and
classes offered, as well as the team size and enrollment of in-
dividuals in the selection process. Compared to the 2020.1 and
2022.1 public calls, the number of students enrolled increased
by 533.75%. The article aims to investigate the impact of the
language courses offered by the project. Analyzing the data
collected from each public call, it was evident that the project
garnered greater visibility for both the project and UFSJ, ena-
bling participation from individuals from other universities and
states in Brazil, fulfilling its objective of outreach in knowledge
diffusion.
150
INTRODUÇÃO
MÉTODO
RESULTADOS
156
A troca de conhecimento e engajamento dos colaboradores é incentivada
pela participação em eventos e congressos. Em 2020, membros do Projeto subme-
teram propostas para o IX Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU) e
foram aprovadas as apresentações de seis trabalhos. Em 2021 foram apresentados
dois trabalhos na XVIII Semana de Extensão Universitária da UFSJ e um trabalho no
IV Seminário de Internacionalização da UFSJ, em que foi possível discutir os enfren-
tamentos e desafios perante a pandemia, a partir da perspectiva da relação entre
Universidade e Sociedade. No intuito de incentivar a aprendizagem de idiomas, o
Núcleo também realizou oficinas de introdução ao Espanhol e Japonês, durante o
IV Seminário de Internacionalização da UFSJ. Todas essas atividades demonstraram
um gradual crescimento e consolidação das atividades do projeto.
Outra ação desenvolvida foi a confecção de um material para os cursos de
Inglês e Espanhol, em dezembro de 2020. O material é composto por 10 partes/uni-
dades/seções, sendo cada parte referente a uma aula. O conteúdo de cada aula gira
em torno do seu tema, com o objetivo de que, ao final daquele encontro, o aluno
tenha uma base interessante de vocabulário, sobre um assunto específico tratado
em aula. Esse material poderá ser expandido para outros níveis e idiomas.
Cabe destacar que o modelo virtual adotado para as aulas também possibi-
lita uma maior abrangência dos eventos promovidos pelo Núcleo. Foram ministra-
dos workshops de pronúncia em inglês e uma palestra sobre entrevistas no idioma,
ambos eventos abertos à toda a comunidade interna e externa à Universidade. Na
próxima seção, serão discutidos os resultados deste estudo.
DISCUSSÃO
157
“Explicação bem feita, fácil de compreender. Professores muito empe-
nhados em ajudar.”
“O professor explica bem, o conteúdo é diversificado, o material comple-
mentar é bom e tem dicas de conteúdo extra para ficar familiarizado com
a cultura e a fonética do idioma.”
“Eu gosto que é ensinado o Espanhol do Peru ao invés do comumente es-
panhol europeu. A Larissa tem didática e dicção muito boas, o que facilita
a compreensão e entusiasmo para se envolver no conteúdo ensinado.”
“Gostei da atenção, paciência e do conteúdo trabalhado com a turma.”
“Explicação muito completa; didática excelente; dinamismo e exercícios
realizados durante as aulas; gosto que sempre estimulam os alunos a par-
ticiparem. ”
“Aulas leves e com uma duração adequada.”
“Eu de verdade estou amando tudo! As professoras Gabriela e Roberta ex-
plicam sempre muito bem e com muito cuidado, os comentários do Jorge
são perfeitos, os conteúdos são muito bons, o podcast que indicaram, tudo
é muito bom! Na nossa classe está sempre surgindo um assunto diferente
e importante durante a aula, seja por causa do tema seja por causa das
nossas conversas e interações, e isso é maravilhoso pois agrega muito
além do espanhol”
“Já fiz Inglês no núcleo também e gostaria de parabenizar pois, até ago-
ra, as professoras que tive/tenho possuem excelente didática. É realmente
muito importante que tenhamos momentos para descontrair e ‘brincar’ de
aprender, interagindo com os colegas e treinando a fala.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
158
REFERÊNCIAS
AMOR DIVINO, A. E. DO; COSTA, C. L. N. DO A.; OLIVEIRA, C. E. L. DE; COSTA, C. A. DE C; SOUZA NETA, H. R. DE;
CAMPOS, L. DA S; MENEZES, R. M. DE J.; CABRAL, S. C. DA S. A extensão universitária quebrando barreiras. Ca-
derno de Graduação - Ciências Humanas e Sociais - UNIT - SERGIPE, 1(2), 135–140. 2013. Disponível em: https://
periodicos.set.edu.br/cadernohumanas/article/view/491. Acesso em: 12 maio 2022.
BRASIL. Portaria nº 376, de 3 de abril de 2020. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 6
abr. 2020. Seção 1, p. 66. (2020) (Brasil). Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-376-de-
-3-de-abril-de-2020-251289119. Acesso em 19 maio 2022.
BRASIL. Portaria nº 973, de 14 de novembro de 2014. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
17 nov. 2014. (Brasil). Disponível em: https://www.gov.br/cnpq/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/
programas/ciencia-sem-fronteiras/apresentacao-1/documentos-1. Acesso em: 13 set. 2022.
CARDOSO, M. C., FERREIRA, C. P., SILVA, C. M. DA, MEDEIROS, G. DE M., PACHECO, G.; VARGAS, R. M. Utilização das
Redes sociais em Projeto de Extensão Universitária em Saúde durante a pandemia de COVID-19. Expressa
Extensão, 26(1), 551-558., 2021. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/expressaexten-
sao/article/view/19640. Acesso em: 03 abr. 2022.
DA ROCHA, C. R.; MOREIRA, A. P. A.; DA SILVA, L. R.; SANTOS, I. M. M. dos; BARBOSA, M. N.; BITTENCOURT, G.; FEI-
TOSA, I. B. A utilização das redes sociais como estratégia para continuidade da extensão universitária em
tempos de pandemia. Raízes e Rumos, [S. l.], v. 8, n. 1, p. 261–269, 2020. Disponível em: http://seer.unirio.br/
raizeserumos/article/view/10288. Acesso em: 02 abr. 2022.
DA SILVA, M. R. F.; MASCARENHAS, A. L. L. D.; DA SILVA, M. D. C. F.; DUTRA, G.; DA SILVA, C. A. F.; DA SILVA DIAS, N.
Reflexões sobre as ações extensionistas e de pesquisa no combate à COVID-19 na universidade do estado
do Rio Grande do Norte. Brazilian Journal of Health Review, 3(2), 3622-3646, 2020. Disponível em: https://www.
brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/9169. Acesso em: 20 abr. 2022.
DIAS, V.; LIMA, M. A aprendizagem colaborativa de inglês em contexto universitário. In: SEMINÁRIO INTER-
NACIONAL DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, I, 2011, Porto Alegre. Anais [...] Porto Alegre: EDIPUCRS – Editora
Universitária da PUCRS, 2011. 1-21. Disponível em: https://ebooks.pcrs.br/edipucrs/anais/sial/2011/index.html.
Acesso em 15 abr. 2022.
DINIZ, E. G. M.; DA SILVA, A. M.; NUNES, P. H. V.; FRANCA, W. W. M .; DA ROCHA, J. V. R.; DA SILVA, D. V. S. P.; DE
LIMA AIRES, A. A extensão universitária frente ao isolamento social imposto pela COVID-19. Brazilian Journal
of Development, 6(9), 72999-73010, 2020. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/
article/view/17434. Acesso em: 20 abr. 2022.
FERNÁNDEZ GUTIÉRREZ, B.; RELJANOVIC GLIMÄNG, M.; SAURO, S.; O’DOWD, R. (2022). Preparing Students for
Successful Online Intercultural Communication and Collaboration in Virtual Exchange. Journal of Internatio-
nal Students, 12(S3), 149–167. Disponível em: https://doi.org/10.32674/jis.v12iS3.4630. Acesso em: 12 set. 2022.
FINARDI, K. R.; HILDEBLANDO JUNIOR, C. A.; GUIMARÃES, F. F. Affordances da formação de professores de lín-
guas na era digital. Revista Eletrônica de Educação, [S. l.], v. 14, p. e3723011, 2020. DOI: 10.14244/198271993723.
Disponível em: https://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/3723. Acesso em: 12 set. 2022.
MÉLO, C. B.; FARIAS, G. D.; NUNES, V. R. R.; DE ANDRADE, T. S. A. B.; DALLE PIAGGE, C. S. L. A extensão universi-
tária no Brasil e seus desafios durante a pandemia da COVID-19. Research, Society and Development, 10(3),
e1210312991-e1210312991, 2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/12991.
Acesso em: 02 maio 2022.
159
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Ministério da saúde Declara Transmissão Comunitária Nacional. 2020. Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2020/marco/ministerio-da-saude-declara-transmissao-co-
munitaria-nacional. Acesso em: 19 maio 2022.
MOURA, M. E. S. Pandemia COVID-19: a extensão universitária pode contribuir. Revista Práticas em Extensão,
4(1), 56-57, 2020. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/17434. Aces-
so em: 02 maio 2022.
NUNES, R. K. S.; MACIEL, G. A. dos S.; ALMEIDA, E. B.; GUEDES, M. R.; HENN, R. Desafios e adaptações da ex-
tensão universitária em tempos de pandemia: relato de experiência. Revista Ciência Plural, [S. l.], v. 7, n. 1, p.
211–223, 2021. DOI: 10.21680/2446-7286.2021v7n1ID23003. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/rcp/arti-
cle/view/23003. Acesso em: 05 maio 2022.
RODRIGUES, A. L. L.; COSTA, C. L. N. do A.; PRATA, M. S.; BATALHA, T. B. S.; PASSOS NETO, I. de F. Contribuições da
extensão universitária na sociedade. Caderno de Graduação - Ciências Humanas e Sociais - UNIT - SERGIPE, [S.
l.], v. 1, n. 2, p. 141–148, 2013. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/cadernohumanas/article/view/494.
Acesso em: 18 maio 2022.
SERRÃO, A. C. P. Em tempos de exceção como fazer extensão? Reflexões sobre a Prática da Extensão Univer-
sitária no Combate à Covid-19. Revista Práticas em Extensão, 4(1), 47-49, 2020. Disponível em: https://www.
brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/17434. Acesso em: 14 maio 2022.
TORRES, P. L. Redes e Conexões para compor os liames do conhecimento. In: Patrícia Lupion Torres. (Org.).
Metodologia para a produção do conhecimento: da concepção à prática. 1ed.Curitiba: SENAR, 2015, v. 1, p.
25-40. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_
pde/2016/2016_artigo_gestao_unicentro_ivonetebarp.pdf. Acesso em: 05 maio 2022.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Coronavirus (COVID-19) Dashboard. World Health Organization. Gene-
va: 2020a. Disponível em: https://covid19.who.int/table. Acesso em: 19 maio 2022.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Listings of WHO’s response to covid-19. World Health Organization. Geneva:
2020b. Disponível em: https://www.who.int/news/item/29-06-2020-covidtimeline. Acesso em: 19 maio 2022.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 290 p. ISBN
9788582602317.
CONFLITO DE INTERESSES
AGRADECIMENTOS
FONTES DE FINANCIAMENTO
O projeto recebeu financiamento da UFSJ por meio do Programa Institucio-
nal de Bolsas de Extensão - PIBEX para sua realização.
160
Periquito-rei, Constantino Buteri.
161
Promoção de Fonoaudiologia Educacional no
enfrentamento da pandemia COVID-19 na Secretaria
de Educação da Prefeitura Municipal de Vila Velha
Promotion of Educational Speech Therapy in the face of the COVID-19 pandemic at the
Secretary of Education of the Municipal Prefecture of Vila Velha
162
Abstract
The School Health Program (PSE) provides integration actions
between Health and Education. The COVID-19 pandemic im-
pacted the education system, due to the need for readaptations
in the teaching and learning process. Based on the demand of
the team of speech therapists from the PSE of the Municipality
of Vila Velha (PMVV), this project was elaborated with the ge-
neral objective of promoting educational speech therapy, with
remote strategies of prevention and intervention in the proces-
ses of communication and learning to read and writing. The
main results obtained were: continuing education of teachers;
preparation and sharing of informative and educational mate-
rials, on topics about health and education, related to the pro-
cess of facing the consequences of the COVID-19 pandemic in
the teaching and learning system. The indicators evaluated by
the survey of demands, the support and monitoring of the local
management and the evaluations during the process showed
new perspectives of the educators, in face of the current rea-
lities of the exposed themes. It is concluded that the activities
carried out had a positive impact on the municipality’s public
education, based on the new positions of the teachers, with a
view to the student’s competences according to the possibilities
of the economic, political and social context.
163
INTRODUÇÃO
MÉTODO
Todas as ações deste projeto foram realizadas de forma remota, com temáti-
cas de prevenção, promoção e atenção integral à comunidade escolar, utilizando a
formação continuada como aperfeiçoamento dos saberes necessários para a sala
de aula, alinhados ao enfrentamento dos impactos da pandemia da COVID-19.
O projeto foi engajado com a coordenação de 4 (quatro) docentes do Curso
de Fonoaudiologia da UFES e 3 (três) discentes do Colegiado de Fonoaudiologia,
além de 2 (duas) Fonoaudiólogas do PSE da PMVV, que foram as responsáveis pela
divulgação do projeto aos educadores de todas as escolas da rede municipal, para
165
levantamento das demandas, por meio do envio de um questionário online, pelo
qual perguntas abertas ou semi-dirigidas contemplavam o mapeamento de pos-
síveis desejos, perguntas ou necessidades por parte dos professores de educação
infantil a serem abarcadas: “Qual é a sua demanda a ser discutida que envolva o
trabalho do Fonoaudiólogo no âmbito escolar?”. Após a definição dos temas, e seus
redirecionamentos às docentes palestrantes responsáveis, foram realizadas reuni-
ões semanais para definição das estratégias de prevenção e promoção de saúde à
comunidade escolar, em que foram produzidos materiais, posteriormente citados e
discutidos, como forma de complementar as apresentações feitas aos professores
da PMVV. Estes eram enviados por meio das vias de comunicação oficiais da Secre-
taria de Educação Municipal após as exposições aos temas.
As respostas foram discutidas e sistematizadas em eixos temáticos de discussão
entre os participantes do projeto de extensão, que se reuniram sistematicamente para
traçar estratégias para oficinas, rodas de conversa, Live em canal da PMVV e materiais
didático-pedagógicos de apoio à capacitação de professores da rede. As categorias
contemplaram as grandes áreas de voz, audição, linguagem e aprendizagem da Fono-
audiologia, obtendo-se desta forma os seguintes temas para discussão: Comunicação
em sala de aula, Saúde e bem estar vocal - Saúde vocal e comunicação eficiente dian-
te do distanciamento físico e uso de máscara, Habilidades de Consciência Fonológica
para o processo de Alfabetização; Dificuldades de aprendizagem: questões e desafios;
Dislexia, disortografia, disgrafia e discalculia - conhecer para intervir; Interfaces entre
a audição e a aprendizagem: habilidades auditivas e aprendizado; Desenvolvimento
socioemocional na primeira infância; Comunicação compassiva e desenvolvimento
humano em diferentes ciclos de vida: brincadeira, linguagem e aprendizado. Os do-
centes responsáveis pelas atividades foram a Profª Drª Andréa Alves Maia, coordena-
dora e subcoordenadoras a Profª Drª Aline Neves Pessoa Almeida, Profª Drª Alessandra
Brunoro Motta Loss, Profª Drª Guiomar Silva de Albuquerque, Profª Drª Liliane Perroud
Miilher e Profª Drª Carolina Fiorin Anhoque. Tais temáticas foram desenvolvidas con-
forme cronograma acordado com gestão da equipe multiprofissional da PMVV, a com-
por, outrossim, estratégias de formação continuada.
As videoconferências Google Meet foram planejadas previamente para dura-
ção de 1 hora, e para cada atividade houve um roteiro de competências a serem tra-
balhadas que foi alinhado pelo diagnóstico apresentado. Os discentes integrantes
participaram de todas as ações e trabalharam de modo a executarem o roteiro/pla-
nejamento de cada ação, com estratégias de metodologias de Ensinagem e apren-
dizagem focado no participante, estimulando reflexão, autoanálise, em facilitação
à possíveis tomadas de decisões em seus dia-a-dia. Outrossim, acompanhavam o
registro de frequência dos participantes, manifestações via chat e/ou quaisquer de-
mandas existentes em ocasiões de ações síncronas. Para todo encontro de forma-
ção houve registro do feedback acolhido via formulários, relatos e/ou chat.
Destarte, contamos com relevante apoio na utilização de recursos de tecno-
logia de informação e comunicação da Secretaria de Educação Municipal de Vila
Velha, que foram utilizados para webconferências, banco dos produtos digitais e
para todo processo de interação com a comunidade de educadores. Os recursos
utilizados foram: plataforma do Ministério da Educação e Cultura – e-Proinfo, Google
Meet e StreamYard para transmissão direta ao canal no YouTube da PMVV.
166
O presente artigo se refere ao período inicial do projeto, de 04 de janeiro de
2021 até 31 de julho de 2021, mas houve a renovação para o período de agosto de
2021 até agosto de 2022.
RESULTADOS
Este projeto foi avaliado, pelos servidores professores da rede da PMVV, como
fundamental para esta ocasião de ensino remoto e de retorno às atividades presen-
ciais, por atender assertivamente às necessidades trazidas e que envolvem o con-
texto biopsicossocial de saúde e educação da rede de ensino e dos profissionais
da equipe multidisciplinar, o que foi alicerçado em levantamento de dados sobre
a prática docente durante esse período e o compartilhamento dos seus resultados
pode permitir a evolução das estratégias aplicadas na área do ensino-aprendizagem
para que sejam alcançadas metodologias capazes de beneficiar todos os sujeitos
presentes nessa relação.
Isto posto, fica evidenciado que as ações deste projeto de extensão intitula-
do “Promoção de Fonoaudiologia Educacional no enfrentamento da pandemia da
COVID-19”, na Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Vila Velha, estão
alinhadas aos pressupostos regimentais e atuou em prol de impactos positivos na
qualidade de vida dos educandos.
Conforme demandas ocasionadas pela necessidade de distanciamento físico,
devido à pandemia da COVID-19, os professores da rede pública tiveram espaço para
aprendizados e reformulações de seus afazeres com as ações desenvolvidas pelo proje-
to. Assim, foram acolhidos e receberam materiais de respaldo científico, para elaboração
de estratégias, além de adquirirem conhecimento para enfrentar questões como as pos-
sibilidades metodológicas nesta nova condição de trabalho, o envolvimento emocional
do novo processo e as dificuldades dos estudantes no período da pandemia.
A pandemia da Covid19 trouxe a necessidade de uma reinvenção, recriação e
readaptação do corpo docente, uma vez que existe uma demanda pela continuida-
de da educação de forma ativa para todos(as) os(as) estudantes, embora com dis-
crepâncias entre o ensino público e privado no que tange a condição social e eco-
nômica dos(as) estudantes e docentes brasileiros(as) (COELHO et al., 2021, p. 21).
Durante a execução das atividades, questões que envolvem as dificuldades
de acessibilidade e inclusão digital em nosso país tornaram-se evidentes. Desta for-
ma, este novo contexto educacional trouxe fatores que estão além do campo da
educação, que interferiram em seu funcionamento, sendo a vulnerabilidade so-
cioeconômica o mais agravante. Dados da Secretaria Municipal de Educação da
Prefeitura de São Paulo (2021, p. 16) apontam desafios semelhantes no período de
readequação das modalidades de ensino durante a pandemia, em que a baixa co-
nectividade e a falta de dispositivos para obter acesso digital prejudicaram grande
parte da comunidade escolar e a elaboração de planejamentos pedagógicos capa-
zes de garantir acesso educacional igualitário. Vale ressaltar que o acesso à internet
com qualidade no sinal comprometeu o acesso de muitos indivíduos do público-al-
vo das ações e gerou muitos ruídos comunicativos.
A falta de formação e de infraestrutura adequada, de acesso, para realizar ati-
vidades remotas com os estudantes, em plataformas virtuais, afetou um número
significativo de professores que atuam na rede pública da Educação Básica, geran-
do estresse e ansiedade (SARAIVA; TRAVERSINI; LOCKMANN, 2020, p. 15).
Ao mesmo tempo, foi possível notar um reconhecimento positivo sobre as
possibilidades que a utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação
168
podem oferecer ao trabalho em educação, dando maior flexibilidade e permitindo
acessibilidade. Lèvy (2011, p.21) apud Secretaria Municipal de Educação da Prefei-
tura de São Paulo (2021, p. 20) traz os termos de sincronização e interconexão, para
falar de tempo e lugar no meio virtual, e que ferramentas informacionais permitiram
a implementação das estratégias educacionais como “lives”, videochamadas, uso
de plataformas de reunião síncrona, dentre outros. Destaca-se a possibilidade de
acesso aos materiais no tempo e demanda de cada sujeito, assim como gravações
das aulas em mídias digitais. Além disso, o relato dos participantes sobre as informa-
ções fornecidas foi notoriamente positivo, como observado pelos registros no chat/
comentário, das webconferências.
Todo material elaborado buscou sempre trazer conteúdos de relevância cien-
tífica e atualizados para o contexto proposto. É importante ressaltar, o acolhimento
gerado para essa equipe de professores, que se viu desafiada pela pandemia em to-
das as esferas sociais e, que para além de informações, foi possível levar reflexões e
ponderações, como verdadeiros espaços de troca. O acolhimento como ato ou efeito
de acolher expressa, em suas várias definições, uma ação de aproximação, um “estar
com” e um “estar perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão. Essa atitude implica, por
sua vez, estar em relação com algo ou alguém (SILVA; MAIA, 2021, p. 540-541).
Nesta etapa do projeto, o trabalho foi realizado somente com os professores
inscritos na rede, não sendo viável a inclusão de pais e estudantes nas atividades.
Outras formas de acessar esse público foram pensadas, porém os trâmites dos ór-
gãos públicos não permitiram. Assim como outros tipos de materiais, um possível
podcast, por exemplo, foi inviabilizado por depender das plataformas governamen-
tais que, por um período, ficaram sem possibilidade de indexação, devido às condi-
ções políticas e de logística do serviço.
A parceria entre a UFES e a PMVV, desenvolvida neste projeto de extensão,
fomentou estratégias que impactaram de maneira significativa nos desafios e nas
demandas que surgiram, devido à situação de trabalho do professor, bem como no-
vas oportunidades de aprendizado dos estudantes a partir da nova realidade impos-
ta pela pandemia da COVID-19. As atividades do projeto forneceram à comunidade
escolar o apoio necessário ao enfrentamento de situações que possam comprome-
ter o processo de Ensino e Aprendizagem, além do desenvolvimento de crianças,
adolescentes e jovens a partir de fatores intervenientes, como: os impactos do uso
de máscara facial, acústica do ambiente e construções de habilidades auditivas e de
linguagem, uso de tecnologias e desenvolvimento de estratégias de metodologias
ativas, oportunas a este cenário de ensino emergencial remoto.
Por meio das ações realizadas neste projeto foi possível promover forma-
ção continuada aos professores da rede pública, com ações diretas às demandas
existentes, no enfrentamento dos impactos da pandemia da COVID-19, tais como:
impactos no processo de ensino e aprendizado gerados pela paralisação do siste-
ma; atraso no desenvolvimento das crianças; processos de comunicação em for-
mato remoto; estratégias de comunicação assertiva; distanciamento físico dentro
das escolas; utilização de máscaras faciais e voz; fadiga vocal; higiene vocal. Esses
tópicos puderam ser acolhidos, discutidos e posteriormente reavaliados e aprimo-
rados para serem trabalhados com os novos participantes após a renovação do pro-
jeto. Desta forma, consideramos que o objetivo deste projeto foi alcançado e foi de
169
grande relevância para a comunidade acadêmica da rede municipal de ensino da
Prefeitura Municipal de Vila Velha.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde (MS); Ministério da Educação (MEC). Passo a Passo PSE: Programa Saúde na
Escola: tecendo caminhos da intersetorialidade. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. p. 6. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/legislacao/passo_a_passo_pse.pdf.
COELHO, E. A.; DA SILVA, A. C. P.; DE PELLEGRINI, T. B.; PATIAS, N. D. Saúde mental docente e intervenções da
Psicologia durante a pandemia. PSI UNISC, v. 5, n. 2, p. 20-32, 10 jul. 2021. Disponível em: https://online.unisc.
br/seer/index.php/psi/article/view/16458.
CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA. Resolução CFFa Nº 605, de 17 de março de 2021. Dispõe sobre a
atuação do fonoaudiólogo no âmbito da Educação. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/reso-
lucao-cffa-n-605-de-17-de-marco-de-2021-309062427.
CORREIA, Renata da Silva; COUTO, Aparecido José Soares; SILVIA, Maria Cárnio. Atuação fonoaudiológica no
Programa Saúde na Escola (PSE). ANAIS 2015, 2022, Salvador, Bahia. Anais 2015. São Paulo: SBFa, 2015. Dispo-
nível em: http://www.sbfa.org.br/portal/anais2015/premios/PP-030.pdf.
GARCIA, Tânia Cristina Meira; MORAIS, Ione Rodrigues Diniz; ZAROS, Lilian Giotto; RÊGO, Maria Carmem Freire
Diógenes. Ensino remoto emergencial: proposta de design para organização de aulas. UFRN: SEDIS, 2020.
Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/29767.
HODGES, Charles et al. Diferenças entre o aprendizado online e o ensino remoto de emergência. Revista da
Escola, Professor, Educação e Tecnologia, Recife, v.2, p. 1-12, 2020. Disponível em: https://escribo.com/revista/
index.php/escola/article/view/17.
NAKANO, Tatiana de Cassia; ROZA, Rodrigo Hipolito; OLIVEIRA, Allan Waki de. Ensino a distância em tempos
de pandemia. Revista E-Curriculum, [S.L.], v. 19, n. 3, p. 1368-1392, 29 set. 2021. Pontifical Catholic University of
São Paulo (PUC-SP). Disponível em: http://dx.doi.org/10.23925/1809-3876.2021v19i3p1368-1392.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. A atenção à saúde coordenada pela APS: construindo as redes
de atenção no SUS: contribuições para o debate. Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília : Organiza-
ção Pan-Americana da Saúde, 2011. 113 p.: il. (NAVEGADORSUS, 2). ISBN: 978-85-7967-065-7. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_coordenada_APS_construindo_redes_atencao_
sus_2ed.pdf.
SARAIVA, Karla; TRAVERSINI, Clarice; LOCKMANN, Kamila. A educação em tempos de COVID-19: ensino remoto
e exaustão docente. Práxis Educativa, [S. l.], v. 15, p. 1–24, 2020. DOI: 10.5212/PraxEduc.v.15.16289.094. Disponí-
vel em: https://revistas.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/view/16289.
170
SILVA, Antonio Carlos Barbosa da; MAIA, Bruna Bortolozzi. Grupo de acolhimento com professoras: desafios
frente ao ensino remoto emergencial. REVISTA ELETRÔNICA PESQUISEDUCA, [S. l.], v. 13, n. 30, p. 533–552, 2021.
Disponível em: https://periodicos.unisantos.br/pesquiseduca/article/view/1083.
UNESCO. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. COVID-19 educational disruption
and response. [S.L.], 2020. Disponível em: https://en.unesco.org/news/covid-19-educational-disruption-and-
-response. Acesso em: 25 de maio de 2022.
CONFLITO DE INTERESSES
171
Quiriquiri, Constantino Buteri.
172
O Trabalho da/o Assistente Social no estado do
Espírito Santo no contexto da pandemia por Covid-19
The work of the Social Worker in the state of Espírito Santo in the context of the Covid-19
pandemic
173
Abstract
This article is the result of the Extension Project entitled: “The
work of the Social Worker in Espírito Santo in the context of the
Covid 19 pandemic” project carried out in partnership between
Lótus and CRESS-ES. After data collection through of COFI and
also, after holding the Seminar “Professional work in the con-
text of Covid 19”, we observed demands that allowed us to as-
sess the need for the training course that sought to address the
main question: How to face the dilution of professional work to
institutional demands, especially from the impacts caused by
the pandemic on professional attributions and skills. The work
had to contribute to the process of continuing education of so-
cial workers actives in the various socio-occupational spaces,
aiming to deepen the knowledge of the fundamentals of social
work in Espirito Santo.
174
INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
MÉTODOS
RESULTADOS
A própria articulação entre instituições (UFES e CRESS ES), bem como arti-
culação com a Universidade Federal Fluminense-UFF com a vinda da Profª. Eblin
Farage que ministrou o terceiro módulo, são resultados dessa profícua atividade.
179
Destaca-se ainda, enquanto resultado qualitativo, a troca de experiências e articula-
ções coletivas que se fizeram no decorrer do curso. Isso posto, nos parece evidente
que o resultado de maior relevância é o impacto na melhoria e qualidade do serviço
prestado à população usuária da seguridade social em nosso estado, dado a sua
significativa abrangência.
Além disso, as discussões geradas no curso de formação apontaram que o tra-
balho do assistente social integra uma dinâmica racionalizadora, que se aprofunda
na pandemia com rebatimentos nas atribuições e competências profissionais com
tendências que se expressam em: crescente rotinização e padronização de processos
de trabalho; prioridade de leituras dos manuais das políticas sociais como fonte exclu-
siva do conhecimento e referência para o trabalho, o que vem contribuindo para uma
reprodução acrítica dos textos oficiais/institucionais, uma diluição do Serviço Social
na política social e frágil apropriação dos fundamentos teórico-metodológicos do tra-
balho profissional; quantificação de atividades como número de visitas, entrevistas,
cadastros; fortalecimento de mecanismos de controle dos beneficiários dos serviços
e benefícios; incorporação de tecnologias de informação e comunicação. Além destas
tendências, a pandemia agravou ainda mais a distância do/a profissional com o tra-
balho político-pedagógico, de conhecimento e organização dos/as usuários/as dos
serviços. Temos ainda um contexto de ampliação da desregulamentação do trabalho
e das profissões com a flexibilização, intensificação, polivalência, rotatividade, propi-
ciando um quadro de desespecialização e desprofissionalização.
Diante deste quadro, quais os desafios e possibilidades podemos perspec-
tivar? Destaca-se como possibilidades: a) investimento do conjunto CFESS/CRESS
neste contexto, dotando de aportes de defesa das políticas sociais, do exercício
profissional, das condições éticas e técnicas do trabalho profissional, da defesa do
Projeto Ético-Político; com destaque especial das Comissões de Orientação e Fisca-
9Documento emitido lização dos Conselhos Regionais de Serviço Social que acompanham as demandas
no XXIX Encontro e respostas profissionais, buscando construir estratégias coletivas para a categoria;
Nacional CFESS/CRESS, b) relevância da cultura crítica do Serviço Social no campo das esquerdas em arti-
na cidade de Maceió
(AL), entre os dias 3 e 6 culação com as universidades; c) protagonismo do Serviço Social expresso na Carta
de setembro de 2000. de Maceió/20009 com defesa de uma visão ampliada da Seguridade Social brasi-
Disponível em: http:// leira, incorporando os demais direitos sociais; d) importância dos parâmetros para
www.cfess.org.br/arqui- atuação profissional que se constituem em documentos com direção do conjunto
vos/encontronacional_
CFESS/CRESS para o trabalho profissional. Nesta direção, reafirmamos a importân-
cartas_maceio.pdf
cia da análise crítica, dos fundamentos da profissão e das implicações éticas para o
desenho de respostas profissionais às competências e atribuições.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Resolução CFESS nº 512/2007 - Política Nacional de Fiscalização.
Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS-PNF2019-Revisada.pdf
IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2ª ed. São
Paulo: Cortez, 1999.
RAICHELIS, Raquel. As atribuições e competências profissionais à luz da “nova” morfologia do trabalho. In:
CFESS. Atribuições privativas da/do assistente social em questão. CFESS, Vol. 2, 2020, p.11-42 . Disponível
em: http://www.cfess.org.br/arquivos/ CFESS202-AtribuicoesPrivativas-Vol2.
SESA. Site da Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo – SESA. Disponível em: https://coronavirus.es.gov.
br/painel-covid-19-es.
SILVA, Jeane Andreia F. O trabalho profissional do assistente social no Espírito Santo no contexto da Co-
vid-19. Palestra proferida no Seminário O trabalho profissional no contexto da Covid 19. CRESS-17ª Região,
maio, 2021.
CONFLITO DE INTERESSES
181
AGRADECIMENTOS
FONTES DE FINANCIAMENTO
182
Mimus gilvus, Constantino Buteri.
183
Projeto alívio dor orofacial: relato do atendimento
fisioterapêutico e odontológico em pacientes com
disfunção temporomandibular durante o período de
pandemia da COVID-19
Orofacial pain relief project: report of physiotherapy and dental care in patients with
temporomandibular dysfunction during the COVID-19 pandemic period
Resumo
Introdução: O projeto Alívio - Dor Orofacial surgiu em 2019 com Anne Karoliny Amparo
propósito de atender à demanda de uma condição de saúde Cardoso
muito subdiagnosticada, incapacitante e carente de tratamento Cintia Helena Santuzzi
especializado, a disfunção temporomandibular (DTM). A restri- Dhandara Araujo de Sousa
Fernanda Mayrink
ção física imposta pela pandemia suspendeu os atendimentos
Gonçalves Liberato
presenciais, porém iniciaram-se teleatendimentos visando ofere-
Carlos Henrique Cardoso
cer suporte aos pacientes através de orientação e estratégias de Sarcinelli
manejo para controle das DTM. Objetivo: Relatar a experiência do
projeto Alívio com o teleatendimento durante a Pandemia. Méto- nandamayrink@yahoo.com.br
do: Os pacientes eram triados através de formulário online e após
sorteio, convidados à consulta por videochamada na plataforma Universidade Federal do
Espírito Santo
Google Meet, assim como os pacientes que já participavam no
modo presencial. Discussão: Cinco pacientes estavam em acom-
panhamento quando as atividades presenciais foram suspensas
e todos continuaram de forma online. No período de isolamento
foram realizados 38 atendimentos contemplando 16 pacientes.
Durante as sessões online buscava-se incentivar hábitos saudá-
veis, enfrentamento das crenças limitantes, auto manejo da dor
e cessação de hábitos parafuncionais. Conclusões: O teleaten-
dimento foi fundamental para continuidade do tratamento das
DTM, uma vez que parte do tratamento consiste em mudança de
hábitos e estilo de vida, além de se mostrar útil no dia a dia do
projeto mesmo fora do isolamento social.
184
Abstract
Introduction: The Relief - Orofacial Pain project emerged in
2019 with the purpose of meeting the demand of a very under-
diagnosed, disabling health condition that lacks specialized
treatment, temporomandibular disorders (TMD). The physical
restriction imposed by the pandemic suspended face-to-face
calls, but teleservices were started to offer support to patients
through guidance and management strategies to control TMD.
Objective: Report the experience of the Relief project with tele-
service during the Pandemic. Method: Patients were screened
using an online form and, after a lottery, invited to the consulta-
tion by video call on the Google Meet platform, as were patients
who already participated in the face-to-face mode. Discussion:
Five patients were in follow-up when face-to-face activities
were suspended and all continued online. During the isolation
period, 38 consultations were performed, covering 16 patients.
During the online sessions, we sought to encourage healthy ha-
bits, coping with limiting beliefs, self-management of pain and
cessation of parafunctional habits. Conclusions: The teleservi-
ce was essential for the continuity of TMD treatment, since part
of the treatment consists of changing habits and lifestyle, in
addition to proving useful in the day to day of the project even
outside social isolation.
185
INTRODUÇÃO
186
Devido à restrição imposta pela pandemia, em março de 2020, e a então sus-
pensão dos atendimentos presenciais houve a necessidade de adaptar as consultas
para o formato remoto, porém síncrono. Em conjunto, professores e alunos refor-
mularam o método do atendimento fisioterapêutico/odontológico para as platafor-
mas digitais, tornando o foco ainda maior das consultas no manejo e orientações
aos pacientes, visando a continuidade do tratamento e então o controle das DTM.
Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo relatar a experiência do projeto
Alívio com o teleatendimento durante a pandemia pelo COVID-19.
MÉTODOS
187
Durante os atendimentos online colocou-se em prática os manejos interdis-
ciplinares sobre educação em dor, auto manejo da dor (como termoterapia e alon-
gamentos), higiene do sono, conscientização acerca dos hábitos parafuncionais,
orientações sobre a importância da inserção do exercício físico na rotina diária,
estratégias de meditação guiada e relaxamento, exercícios específicos de acordo
com o tipo de DTM, além do acompanhamento semanal com os profissionais de
fisioterapia e odontologia sobre queixas específicas e particulares de cada paciente
(OLIVEIRA et al., 2020).
RESULTADOS
Foto 1
Atendimentos no
modo presencial
Foto 2
Consulta através de
videochamada
188
Foto 3
Consulta através de
videochamada
189
Outra barreira encontrada foi a dificuldade de adesão por parte dos pacientes
à consulta remota, pois para a aplicação do teleatendimento era necessário conhe-
cimento mínimo de tecnologia para a utilização da ferramenta (Google Meet). Por-
tanto, antes de iniciarmos os atendimentos, enviávamos aos pacientes instruções
detalhadas de como fazer o download do aplicativo Google Meet no celular e como
utilizar a plataforma. Apesar disso, ainda houve obstáculos na implementação do
teleatendimentos como problemas de conexão, local inadequado para atendimen-
to (barulho e iluminação insuficiente), dificuldade dos terapeutas para demonstrar
alguns exercícios a serem feitos pelo paciente (a dosagem de força e localização
dos músculos a serem trabalhados). Para minimizar essas barreiras, foram realiza-
das orientações gerais e vídeos demonstrando a execução correta dos exercícios,
os quais foram enviados aos pacientes para que estes pudessem ver quantas vezes
quisessem.
Em 2021, após a diminuição dos casos de COVID-19, os atendimentos volta-
ram a ser realizados de forma presencial na Clínica Escola Interprofissional de Saúde
da UFES, e avaliações físicas dos pacientes, que foram atendidos apenas de forma
remota, foram efetuadas. Esta avaliação realizada após as sessões de atendimen-
to online não fornece informações precisas de como o paciente estava, porém foi
efetuada para verificação da condição de saúde do paciente, ajuste de condutas e
registro dos dados em prontuário. Mesmo com o retorno de atendimentos presen-
ciais, algumas consultas continuaram de forma remota com aqueles pacientes que
não tinham condições de se deslocarem até a Clínica Escola. Estes teleatendimen-
tos eram realizados também via Google Meet, num local separado da sala do projeto,
onde o aluno conseguia ouvir, entender e solucionar as demandas.
Apesar das barreiras relatadas, observou-se que o teleatendimento foi
essencial na continuidade do tratamento dos pacientes, bem como para início
de novos atendimentos. As faltas observadas nessa modalidade de atendimento
ocorriam com os mesmos pacientes que eram faltosos no atendimento presencial.
Tantos foram os benefícios observados que a modalidade remota hoje faz parte do
projeto para o atendimento de pacientes que não tem a possibilidade de compare-
cer presencialmente, aumentando o alcance dos atendimentos, sem renunciar ao
tratamento presencial, indispensável na maioria desses pacientes.
CONCLUSÃO
190
REFERÊNCIAS
AGUIAR, A. D. et al. Cross-cultural adaptation, reliability and construct validity of The Tampa Scale for Kinesio-
phobia for Temporomandibular Disorders (TSK/TMD-Br) into Brazilian Portuguese. Journal of Oral Rehabilita-
tion, v. 44, n. 7, p. 500–510, 2017.
ALMEIDA-LEITE, C. M.; STUGINSKI-BARBOSA, J.; CONTI, P. C. R. How psychosocial and economic impacts of CO-
VID-19 pandemic can interfere on bruxism and temporomandibular disorders? Journal of Applied Oral Scien-
ce, n. 28, 2020.
BUYSSE, D. J. et al. The Pittsburgh Sleep Quality Index: a new instrument for psychiatric practice and research.
Psychiatry Research, v. 28, n. 2, p. 193-213, 1989.
CAMPOS, J. A.; CARRASCOSA, A. C.; MAROCO, J. Validity and reliability of the Portuguese version of Mandibular
Function Impairment Questionnaire. Journal of Oral Rehabilitation, v. 39, n. 5, p.:377-383, 2012.
CAVALCANTE, S. et al. Abordagem terapêutica multidisciplinar para o tratamento de dores orofaciais: uma revi-
são de literatura. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 7, p.44293-44310, jul. 2020.
DEAR, B. F. et al. The Pain Course: a randomised controlled trial of a clinician-guided Internet-delivered cognitive
behaviour therapy program for managing chronic pain and emotional well-being. PAIN, v. 154, n. 6, p. 942–950, 2013.
DE LEEUW, R.; KLASSER, G. D. Orofacial Pain: Guidelines for assessment, diagnosis, and management. 5 ed.
Illinois: Quintessence; 2013. 327p.
ECCLESTON C, et al. Managing patients with chronic pain during the COVID-19 outbreak: considerations for the
rapid introduction of remotely supported (eHealth) pain management services. Pain, v. 161, n. 5, p. 889-893, 2020
EMODI-PERLMAN, A.; ELI, I. One year into the COVID-19 pandemic - temporomandibular disorders and bruxism:
What we have learned and what we can do to improve our manner of treatment. Dental and Medical Problems,
v. 58, n. 2, p. 215-218, 2021.
FALAVIGNA, A. et al. Instruments of clinical and functional evaluation in spine surgery. Coluna, v. 10, n. 1, p.62-
67, 2011.
FLODGREN, G. et al. Interactive telemedicine: effects on professional practice and health care outcomes. Co-
chrane Database of Systematic Review. v. 9, 2015.
GIANNAKOPOULOS, N. et al. Anxiety and depression in patients with chronic temporomandibular pain and in
controls. Journal of dentistry. v. 38, n. 5, p. 369-376, 2010.
LIST, T.; JENSEN, R. H. Temporomandibular disorders: Old ideas and new concepts. Cephalalgia, v. 37, n. 7, p.
692-704, 2017.
MARCO, C. A.; MARCO, A. P. Assessment of pain. In: Thomas SH, editor. Emergency department analgesia: an
evidence based guide. Cambridge, UK: Cambridge University Press, p. 10–8, 2008.
MOTTAGHI, A. et al. Assessment of the relationship between stress and temporomandibular joint disorder in fema-
le students before university entrance exam (Konkour exam). Dental Research Journal, v. 8, n. 1, p. 76-79, 2011.
191
NISZEZAK, C. M. et al. Abordagem fisioterapêutica no centro multidisciplinar de dor orofacial da UFSC: Um relato
de experiência. Revista Eletrônica de Extensão, Florianópolis, v. 16, n. 32, p. 116-124, 2019.
OKESON, J. P.; DE LEEUW, R. Differential diagnosis of temporomandibular disorders and other orofacial pain
disorders. Dental Clinics of North America, v. 55, n. 1, p. 105-120, 2011.
OLIVEIRA, S. S. I. et al. Temporomandibular disorders: Guidelines and Self-Care for Patients During COVID-19
Pandemic. Brazilian Dental Science, v .23, n. 2, 2020.
OHRBACH, R.; MARKIEWICZ, M. R.; MCCALL, W. D. Jr. Waking-state oral parafunctional behaviors: specificity and
validity as assessed by electromyography. European Journal of Oral Sciences, v. 116, n. 5, p. 438-444, 2008.
OHRBACH, R., et al. The Jaw Functional Limitation Scale: Development, reliability, and validity of 8-item and
20-item versions. Journal of Orofacial Pain , v. 22, p. 219-230, 2008.
OHRBACH, R. (Ed.). Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders: Assessment Instruments. Version
15 May 2016. <www.rdc-tmdinternational.org>. Acesso em 03 de junho de 2021.
ROELOFS, J. et al. The pain vigilance and awareness questionnaire (PVAQ): further psychometric evaluation in
fibromyalgia and other chronic pain syndromes. Pain, v. 101, n. 3, p. 299-306, 2003.
SALVETTI, M. de G.; PIMENTA, C. A. de M. Chronic Pain Self-Efficacy Scale Portuguese Validation. Archives of
Clinical Psychiatry, São Paulo, v. 32, n. 4, p. 202–210, 2005.
SEHN, F. et al. Cross-cultural adaptation and validation of the Brazilian Portuguese version of the pain catastro-
phizing scale. Pain Medicine. v. 13, n. 11, p. 1425-35, 2012.
SLATTERY, B. W. et al. An Evaluation of the Effectiveness of the Modalities Used to Deliver Electronic Health In-
terventions for Chronic Pain: Systematic Review With Network Meta-Analysis. Journal of Medical Internet Re-
search. v. 21, n. 7 , 2019.
SILVA, J. M. D. et al. Qualidade de vida relacionada à saúde em indivíduos portadores de Disfunção Temporo-
mandibular: revisão integrativa. Archives of Health Investigation, v. 10, n. 8, p. 1225–1229, 2021.
TRIZE, D. M. et al. A disfunção temporomandibular afeta a qualidade de vida? Einstein, São Paulo, v. 16, n. 4, 2018.
VALESAN, L. F. et al. Prevalence of temporomandibular joint disorders: a systematic review and meta-analysis.
Clinical Oral Investigations, n. 25, p. 441–453, 2021
CONFLITO DE INTERESSES
FONTES DE FINANCIAMENTO
192