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QUEDAS NOS DIFERENTES

CENÁRIOS DA VELHICE
SOB A PERSPECTIVA
MULTIPROFISSIONAL:
avaliação de riscos,
prevenção, manejo
e experiências exitosas

Organizadores

Vilani Medeiros de Araújo Nunes


Gilson de Vasconcelos Torres

E D I T O R A
Vilani Medeiros de Araújo Nunes
Gilson de Vasconcelos Torres
Organizadores

QUEDAS NOS DIFERENTES CENÁRIOS


DA VELHICE SOB A PERSPECTIVA
MULTIPROFISSIONAL: avaliação de
riscos, prevenção, manejo e
experiências exitosas
EDITORA CHEFE
Profª Stella Regina Azevedo Alves dos Anjos

ORGANIZADORES DO LIVRO
Vilani Medeiros de Araújo Nunes
Gilson de Vasconcelos Torres

EDITORA EXECUTIVA
Paula F. Campos
2024 by Forma Midias Editora Copyright ©
Copyright do Texto © 2024 Os Autores
PRODUÇÃO EDITORIAL Copyright da Edição © 2024 Forma Mídias Editora
Fator Gestão Ltda

EDIÇÃO DE ARTE
Agência Forma Mídias

BIBLIOTECÁRIA
Eliane de Freitas Leite

IMAGENS DE CAPA
Forma Mídias

ÁREA DO CONHECIMENTO
Saúde Coletiva
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Quedas nos diferentes cenários da velhice sob a perspectiva multiprofissional


[livro eletrônico] : avaliação de riscos, prevenção, manejo e experiências
exitosas / Organização: Vilani Medeiros de Araújo Nunes, Gilson de
Vasconcelos Torres. -- São Paulo : Editora Forma Mídias, 2024.
PDF

Vários autores.
ISBN 978-65-983613-0-3

1. Gerontologia 2. Pessoas idosas - Cuidados e tratamento 3. Pessoas idosas -


Saúde 4. Quedas (Acidentes) em pessoas idosas - Prevenção I. Nunes, Vilani
Medeiros de Araújo. II. Torres, Gilson de Vasconcelos.

24-209657 CDD-362.6

Índices para catálogo sistemático:

1. Idosos : Saúde e assistência : Bem-estar social 362.6

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

10.5281/zenodo.11389251

A reprodução de textos e imagens contidos nessa publicação só serão


permitidas com a autorização dos autores.

Forma Mídias | Grupo Fator Gestão Ltda.


CNPJ: 43.487.819/0001-38
contato@formamidias.com.br
www.formamidias.com.br
EDITORA CHEFE
Profª Stella Regina Azevedo Alves dos Anjos

EDITORA DE REDAÇÃO
Paula F. Campos

CONSELHO EDITORIAL

Paula F. Campos | Comunicação Social


UNICID - Universidade Cidade de São Paulo.

Profª Stella Regina Azevedo Alves dos Anjos | Bacharel em Letras (Português/Inglês)
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Oswaldo Cruz

Dário Geraldo da Silva | Jornalista


FENARJ – Federação Nacional dos Jornalistas, Reg. profissional 0000890. – Coordenador de Publicações

Nayara Silva – Administração e Finanças


UNINOVE – Universidade Nove de Julho. – Consultora Técnica.

CONSELHO CIENTÍFICO

Membros
Vilani Medeiros de Araújo Nunes (Coordenadora/UFRN/Brasil)
Gilson de Vasconcelos Torres (Coordenador Adjunt/UFRN/Brasil)
Ana Elza Oliveira de Mendonça (UFRN/Brasil)
Ricardo Filipe da Silva Pocinho (Instituto Politécnico de Leiria/PT)
Sara Maria de Oliveira Gordo (Instituto Politécnico de Leiria/PT)
Silvia Clara Laurido da Silva (Instituto Politécnico de Leiria/PT)
Rui Duarte Santos (Instituto Politécnico de Leiria/PT)

COMITÊ DE REVISÃO TÉCNICA

Membros:
Ana Carolina Patricio de Albuquerque Sousa (UFRN/Brasil)
Ana Elza Oliveira de Mendonça (UFRN/Brasil)
Angelo Maximo Soares de Araújo Filho (UFRN/Brasil)
Cecília Olívia Paraguai de Oliveira Saraiva (UFRN/Brasil)
Gilson de Vasconcelos Torres (UFRN/Brasil)
Maria Eduarda Silva do Nascimento (UFRN/Brasil)
Renata Galvão Diniz do Nascimento e Silva (Lisboa/PT)
Rita de Cássia Azevedo Constantino (UFRN/Brasil)
Susana Cecagno (UFRN/Brasil)
Vilani Medeiros de Araújo Nunes (UFRN/Brasil)
Viviane Peixoto dos Santos Pennafort (UFRN/Brasil)
APRESENTAÇÃO
Considerando as diversas situações de vulnerabilidade em que a
maioria das pessoas idosas se encontra e relacionando importantes acha-
dos relacionados aos indicadores do risco de quedas nessa população,
identifica-se a necessidade de qualificação de profissionais que atuam no
cuidado assistencial, principalmente da área da saúde. Nessa perspectiva
inseriu-se como ponto de destaque investir esforços na sensibilização das
equipes diante da prevenção de quedas no atendimento/cuidado a um gru-
po etário que quantitativamente e qualitativamente aumenta nos serviços
de saúde. Torna-se urgente e necessário buscar oportunidades de melhoria
no desenvolvimento de ações direcionadas aos profissionais diante do pro-
cesso de envelhecimento e do cuidado qualificado à população idosa em
diferentes contextos.
Esta obra originou-se de estudos realizados por integrantes do Grupo
Longeviver, Observatório do Envelhecimento e Pesquisa em Gerontogeria-
tria, que se insere nas linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação
em Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde (PPGqualisaúde) sediado no
Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN).
Foram elaborados 22 capítulos em diferentes cenários da vida em que
os longevos se encontram, desde o domicílio, estruturas residencias, tam-
bém conhecidas como instituições de longa permanência para idosos (ILPI)
e hospitais. A construção foi realizada ao longo de reuniões de estudo, pes-
quisas e ações de extensão em componentes curriculares da universidade,
por profissionais que atuam na segurança do paciente no âmbito hospitalar,
na Atenção Primária de Saúde (APS), nos territórios dos campos de estágio
de acadêmicos, mestrandos e doutorandos espalhados pelo Brasil, Portugal
e Espanha.
Todos os capítulos foram submetidos a um procedimento de revisão
textual e avaliação técnico-científica por pares a partir de um checklist con-
tendo normas padronizadas. Destacamos a valorosa participação de cola-
boradores da Rede Internacional de Pesquisa Brasil, Portugal e Espanha so-
bre Vulnerabilidade e Saúde da Pessoa Idosa sediada na UFRN que integra
parceiros em nosso livro com participação de docentes, discentes e profis-
sionais dos diversos cenários da atenção à pessoa idosa.
Apresentamos, portanto, algumas contribuições que poderão ser
úteis à prevenção de quedas em pessoas idosas a fim de manter sua funcio-
nalidade e uma velhice melhor. Fica, assim o convite a leitura e aproveitar
um pouco dos estudos que foram realizados e aprofundados em cada cená-
rio apresentado.
Seguimos buscando melhorar e aprofundar nossos conhecimentos
e experienciando possibilidades que possam contribuir para que a década
do envelhecimento saudável possa incluir as pessoas que se encontram em
situação de vulneravilidade, carentes de um olhar mais humanizado e com
menos desigualdades.

Profa. Dra. Vilani Medeiros de A. Nunes


Organizadora e Coordenadora do Observatório
do Envelhecimento/ Grupo Longeviver
SOBRE OS AUTORES
Vilani Medeiros de Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do
Araújo Nunes Rio Grande do Norte (UFRN). Professora Associada do De-
partamento de Saúde Coletiva (DSC/UFRN). Líder do Grupo
Longeviver - Observatório do Envelhecimento Humano. Do-
cente do Programa de Pós-graduação em Gestão da Qualida-
de dos Serviços de Saúde (PPGQualisaúde/UFRN). Membro
da Rede Internacional de Pesquisa sobre Vulnerabilidade,
Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do Idoso: Brasil, Por-
tugal e Espanha. Pós Doutoramento em Gerontologia (Uni-
versidade Évora- PT).
E-mail: vilani.nunes@ufrn.br.

Ana Elza Oliveira de Doutora em Ciências da Saúde (UFRN). Docente do Departa-


Mendonça mento de Enfermagem (DENF/UFRN) e do Programa de Pós
Graduação em Saúde Coletiva (PPgSCol/UFRN) e do Mestra-
do Profissional Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde
(PPGQualisaúde/UFRN). Vice-líder do Grupo Longeviver
- Observatório do Envelhecimento Humano. Pesquisadora
do Grupo de Pesquisa QualiSaúde. Membro da Rede Interna-
cional de Pesquisa sobre Vulnerabilidade, Saúde, Segurança
e Qualidade de Vida do Idoso: Brasil, Portugal e Espanha.
E-mail: ana.elza.mendonca@ufrn.br

Adriana Catarina de Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Terapia Inten-


Souza Oliveira siva pelo Centro São Camilo. Mestrado em Gestão da Quali-
dade dos Serviços de Saúde pela Universidade de Murcia (Es-
panha). Doutorado em Saúde Pública pela Universidade de
Murcia. Docente do Departamento de Enfermagem da Uni-
versidade Católica de Murcia. Membro da Rede Internacional
de Pesquisa sobre Vulnerabilidade, Saúde, Segurança e Qua-
lidade de Vida do Idoso: Brasil, Portugal e Espanha. E-mail:
acatarina@ucam.edu
Albertina Proença Assistente Social pela PUC-SP, Especialista em gerontologia
Rodrigues Alves pela CETREDE- CE. Especialista em família - uma abordagem
sistêmica Unifor–CE. Especialista em Gestão da Qualidade.
Gerente da qualidade e experiência do paciente em um ser-
viço de oncologia de Fortaleza-CE. Mestranda em Gestão da
Qualidade em Serviços de Saúde (UFRN).
E- mail: albertinalves@yahoo.com.br

Alcides Viana de Lima Enfermeiro. Doutor em Enfermagem pela Universidade Fe-


Neto deral do Rio Grande do Norte (UFRN). Professor Adjunto da
Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - FACISA/UFRN.
E-mail: alcides.viana@ufrn.br

Ana Carolina Patrício Fisioterapeuta (UFPB), Mestre em Fisioterapia (UFRN) e


de Albuquerque Sousa Doutora em Ciências da Saúde (UFRN). Professora titular da
Escola Multicampi de Ciências Médicas - UFRN.
E-mail: acapas@gmail.com

Angelo Maximo Soares Graduando em Enfermagem (UFRN). Discente membro do


de Araújo Filho Grupo Longeviver - Observatório do Envelhecimento Huma-
no. Membro da Rede Internacional de Pesquisa sobre Vulne-
rabilidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do Idoso:
Brasil, Portugal e Espanha.
E-mail: angelomaximojunior@hotmail.com

Cecília Olívia Paraguai Doutora em Enfermagem (UFRN). Especialista em Qualida-


de Oliveira Saraiva de em Saúde e Segurança do Paciente pela ENSP/Fiocruz.
Professora Adjunta do Departamento de Saúde Coletiva. Do-
cente do Programa de Pós graduação em gestão da Qualidade
dos Serviços de Saúde. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa
QualiSaúde. Membro da Rede Brasileira de Enfermagem e Se-
gurança do Paciente e da Sociedade Brasileira para a Quali-
dade do Cuidado e Segurança do Paciente - SOBRASP. Email:
cecilia.saraiva@ufrn.br

Cristóvão Margarido Assistente Social, Mestre em Toxicodependência e Patolo-


gias Psicossociais e Doutor em Serviço Social. Investigador
do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais. CICS. NOVA-
-IPLeiria, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do
Instituto Politécnico de Leiria, Portugal. CICS. NOVA–IPLei-
ria. E-mail: cristovao.margarido@ipleiria.pt
Gilson de Vasconcelos Prof. Titular do Departamento de Enfermagem /UFRN. Coor-
Torres denador do Grupo de Pesquisa Incubadora de Procedimen-
tos de Enfermagem. Pesquisador do CNPq (PQ1D). Docente
do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (CCS/
UFRN). Coordenador da Rede Internacional de Pesquisa so-
bre Vulnerabilidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida
do Idoso: Brasil, Portugal e Espanha. E-mail: gilsonvtorres@
hotmail.com

Irla Milena de Fisioterapeuta. Graduada em fisioterapia pela Universidade


Albuquerque Bieging Católica de Pernambuco (UNICAP). Especialista em fisiote-
rapia respiratória. Mestranda em Gestão da Qualidade em
Serviços de Saúde (UFRN). Coordenadora da fisioterapia no
setor de urgência, emergência e trauma do Hospital Getúlio
Vargas-Recife/PE. E-mail: irlabieging@hotmail.com

Luciana Araújo dos Doutora em ciências da saúde (UFRN). Professora Titular da


Reis Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, do Programa
de Pós Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade e
do Mestrado em Educação Física. Membro da Rede Interna-
cional de Pesquisa sobre Vulnerabilidade, Saúde, Segurança
e Qualidade de Vida do Idoso: Brasil, Portugal e Espanha.
Email: luciana.araujo@uesb.edu.br

Marcia Vieira de Arquiteta e Urbanista (UNP). Pós graduada em Tecnologia


Alencar Caldas Assistiva (FELUMA) e em Práticas Pedagógicas no Ensino Su-
perior (UNP). Mestre em Administração (UNP). Membro do
Grupo Longeviver - Observatório do Envelhecimento Huma-
no. E-mail: marciacaldasarquiteta@gmail.com

Maria Eduarda Silva do Enfermeira pela Universidade Federal do Rio Grande do Nor-
Nascimento te. Membro do Grupo Nepen - Núcleo de Estudos e Pesqui-
sas em Enfermagem em Nefrologia e do Grupo Longeviver/
UFRN. Membro da Rede Internacional de Pesquisa sobre
Vulnerabilidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do
Idoso: Brasil, Portugal e Espanha. E-mail: maria.nascimen-
to.016@ufrn.edu.br
Mayara Priscilla Nutricionista. Especialista em Nutrição Aplicada à Tercei-
Dantas Araújo ra Idade pela Universidade Estácio de Sá (2019). Mestre em
Saúde Coletiva pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva (PPgSCol/UFRN). Doutoranda em Ciências da Saú-
de pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde
(PPGCSA/UFRN). Membro do Grupo Longeviver e da Rede
Internacional de Pesquisa sobre Vulnerabilidade, Saúde, Se-
gurança e Qualidade de Vida do Idoso: Brasil, Portugal e Es-
panha.
E-mail: mayaraaraujonutri@gmail.com

Meiry Fernanda Pinto Enfermeira (Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP),


Okuno Especialização em Enfermagem Gerontológica e Geriátrica
(UNIFESP); Mestrado, Doutorado e Pós- Doc em Enferma-
gem (UNIFESP). Professora Adjunto da Escola Paulista de
Enfermagem (UNIFESP). Membro da Rede Internacional de
Pesquisa sobre Vulnerabilidade, Saúde, Segurança e Qualida-
de de Vida do Idoso: Brasil, Portugal e Espanha.
E-mail: mf.pinto@unifesp.br

Moniky Keuly Marcelo Fisioterapeuta (Faculdade Integrada do Ceará), Pós-gradu-


Rocha Lima ada em Fisioterapia Respiratória e Cardiovascular (Unifor).
Especialista em Auditoria de Sistemas de Saúde (EstácioFic).
MBA em Gerenciamento de Processos e Projetos (UniFB).
Mestrado profissional PPGQualiSaude - UFRN - Analista de
Qualidade e Segurança no Núcleo de Gestão da Qualidade e
Segurança do Paciente (NGQS) da Diretoria de Gestão Estra-
tégica e Financeira (DGEF) nas Unidades geridas pelo Insti-
tuto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH). E-mail: moniky.
cge@gmail.com

Renata Galvão Diniz do Doutoranda da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) de


Nascimento e Silva Lisboa. Mestrado profissional em Educação Profissional em
Saúde na Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio -
FIOCRUZ RJ. Graduação em Odontologia (UFRN), Mestre em
Educação Profissional em Saúde- FIOCRUZ/RJ. Especialista
em Periodontia - Academia Norte Rio-grandense de Odonto-
logia, Especialista em Saúde Coletiva (UFRN), Gestão Pública
(FGV), Educação a Distância (UFPR). Educação Permanen-
te em Saúde (UFRGS). Sanitarista da Secretaria Estadual de
Saúde do Rio Grande do Norte.
E- mail: renatagalvaodiniz@gmail.com.
Rita de Cássia Azevedo Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do
Constantino Rio Grande do Norte. Discente membro do Grupo Longevi-
ver - Observatório do Envelhecimento Humano. Membro da
Rede Internacional de Pesquisa sobre Vulnerabilidade, Saú-
de, Segurança e Qualidade de Vida do Idoso: Brasil, Portugal
e Espanha.
E-mail: rcconstantino06@gmail.com

Ricardo Filipe da Silva Licenciado em Direito, Doutorado em Processos de Forma-


Pocinho ção pela Universidade de Salamanca e em Psicogerontologia
(Universidade de Valência). Pós-Doc encia Ciências da Edu-
cação (Universidade de Coimbra). Professor Adjunto da Es-
cola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico
de Leiria. Investigador do Centro Interdisciplinar de Ciências
Sociais. CICS. NOVA. IPLeiria. Presidente e Coordenador
Científico da Associação Nacional de Gerontologia Social-
ANGES.
E-mail: ricardo.pocinho@ipleiria.pt

Rui Duarte Santos Licenciado em Serviço Social pelo Instituto Superior Bissaya
Barreto. Mestre em European Comparative Social Studies,
pela Universidade Norte de Londres. Doutor pela Universida-
de de Turim. Professor Adjunto na Escola Superior de Educa-
ção e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria (ESE-
CS-IPL), Investigador do CICS. NOVA. IPLeiria.
E-mail: rui.d.santos@ipleiria.pt

Sandra Maria da Enfermeira. Mestre em Enfermagem e Doutorado em Ciên-


Solidade Gomes cias da Saúde (UFRN). Vinculada a Estratégia da Saúde da
Simões de O. Torres Família Ronaldo Machado, Secretaria Municipal de Saúde de
Natal/RN. Membro da Rede Internacional de Pesquisa sobre
Vulnerabilidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do
Idoso: Brasil, Portugal e Espanha.
E- mail: sandrasolidade@hotmail.com
Sara Maria de O. Gordo Psicóloga, Doutoramento em Neuropsicologia Clínica; Mes-
trado em Psicologia Clínica e Psicoterapias; Licenciatura
em Psicologia. Professora Adjunta Convidada na Escola Su-
perior de Saúde - Instituto Politécnico de Leiria, Portugal.
Coordenadora de Respostas Sociais de Serviço de Apoio
Domiciliário e Centro de Dia no Centro Social de Carnide.
Center for Innovative Care and Health Technology – CiTech-
Care. Associação Nacional de Gerontologia Social – ANGES.
E-mail: sara.gordo@ipleiria.pt

Sílvia Silva Assistente Social, Mestranda em Gerontologia Social Aplica-


da, Diretora Técnica da Associação de Paralisia Cerebral de
Braga, Professora Assistente da Escola Superior de Edu-
cação e Ciências Sociais. Instituto Politécnico de Leiria.
Associação Nacional de Gerontologia Social – ANGES.
E-mail: silvia.c.silva@ipleiria.pt

Silvia Knorr U. Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de


Fernandes Pelotas (UFPEL). Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/
CNPQ.
E-mail: silviakungaretti@gmail.com

Susana Cecagno Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde - Universidade


Federal de Pelotas (UFPEL). Chefe do Setor de Gestão da
Qualidade do Hospital Escola da Universidade Federal de
Pelotas. Pós-doutoranda do Programa de Pós Graduação em
Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde da UFRN.
E-mail: cecagno@gmail.com

Thaiza Teixeira X. Doutora em ciências da saúde (UFRN). Professora Associa-


Nobre da da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA/
UFRN), do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva
e do Mestrado Profissional Gestão da Qualidade em Serviços
de Saúde. Membro da Rede Internacional de Pesquisa sobre
Vulnerabilidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do
Idoso: Brasil, Portugal e Espanha.
Email: thaiza.nobre@ufrn.br
Viviane Peixoto dos Enfermeira/Universidade de Brasília (UnB). Doutora em Cui-
Santos Pennafort dados Clínicos em Enfermagem e Saúde (Universidade Esta-
dual do Ceará - UECE). Enfermeira Nefrologista do Setor de
Hemodiálise do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/
UFRN/EBSERH). Docente do Mestrado Profissional Gestão
da Qualidade em Serviços de Saúde (PPGQualisaúde/UFRN).
Membro da Rede Internacional de Pesquisa sobre Vulnerabi-
lidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do Idoso: Bra-
sil, Portugal e Espanha.
E-mail: viviane.pennafort@ebserh.gov.br
LISTA DE SIGLAS
ABNT: Associação Brasileira de Nor- FN-ILPI: Frente Nacional de Fortale-
mas Técnicas cimento as ILPI

ANVISA: Agência Nacional de Vigi- GM/MS: Gabinete do Ministro/Minis-


lância Sanitária tério da Saúde

APS: Atenção Primária à Saúde HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica

AVD: Atividades de Vida Diária IBGE: Instituto Brasileiro de Geogra-


fia e Estatística
CEO: Centros de Especialidades
Odontológicas ICICT: Instituto de Comunicação
e Informação Científica e Tecnológica
CF: Capacidade Funcional em Saúde

CSPI: Caderneta de Saúde da Pessoa ILPI: Instituição de Longa Permanên-


Idosa cia para Pessoas Idosas

DM: Diabetes Mellitus IRAS: Infecções Relacionadas à Assis-


tência à Saúde
EA: Eventos Adversos
JH-FRAT: Escala de Avaliação do Ris-
ECA: Enzima Conversora de Angio- co de Quedas
tensina
LAPICS: Laboratório de Práticas Inte-
EPS: Educação Permanente em Saúde grativas e Complementares em Saúde

eSB: Equipes de Saúde Bucal LPP: Lesão por Pressão

ESF: Estratégia de Saúde da Família MR: Módulo de Referência

ERPI: Estruturas Residenciais para MS: Ministério da Saúde


Pessoas Idosas
NOTIVISA: Sistema de Notificação
FIOCRUZ: Fundação Oswaldo Cruz em Vigilância Sanitária
NSP: Núcleos de Segurança do Pa- PNSP: Programa Nacional de Segu-
ciente rança do Paciente

NUPICS: Núcleo de Práticas Integrati- PNSPI: Política Nacional de Saúde da


vas e Complementares em Saúde Pessoa Idosa

OMS: Organização Mundial da Saúde POP: Procedimentos Operacionais


Padrão
ONU: Organização das Nações Unidas
PROQUALIS: Qualidade do Cuidado
OPAS: Organização Pan-americana e Segurança do Paciente
de Saúde
RDC: Resolução da Diretoria Colegia-
PCI: Prevenção e Controle de Infec- da
ções
SAD: Serviço de Apoio Domiciliário
PGRSS: Plano Geral de Resíduos Sóli-
dos em Saúde SBAR: Situação, Breve Histórico,
Avaliação e Recomendação
PICS: Práticas Integrativas e Comple-
mentares em Saúde SNC: Sistema Nervoso Central

PNAD: Pesquisa Nacional por Amos- SNVS: Sistema Nacional de Vigilância


tra de Domicílios Sanitária

PNH: Política Nacional de Humaniza- SUS: Sistema Único de Saúde


ção
SVS: Sistema de Vigilância Sanitária
PNPIC: Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares em UBS: Unidade Básica de Saúde
Saúde
UFRN: Universidade Federal do Rio
PNSB: Política Nacional de Saúde Bu- Grande do Norte
cal
PREFÁCIO
Este livro denota um esforço de pesquisadores e colaboradores vin-
culados a Rede internacional de pesquisa sobre vulnerabilidade, saúde, se-
gurança e qualidade de vida da pessoa idosa: Brasil, Portugal, Espanha e
França, com foco central na temática de Quedas nos diferentes cenários da
velhice sob a perspectiva multiprofissional, avaliando os riscos, prevenção,
manejo e experiências exitosas.
Considerando que as quedas em pessoas idosas têm se tornado cada
vez mais frequentes nos diferentes contextos que vivem, se caracterizam
como um grave problema de saúde pública em nível mundial, resultando
em complicações para a saúde quanto aos aspectos funcional, físico, psi-
cológico e financeiro, aumentando as demandas por cuidado e gastos em
saúde, além de ser crescente a taxa de mortalidade.
Neste sentido, está livro está estruturado em três eixos que abordam
temas relacionados a avaliação do risco e manejo das quedas em pessoas
idosas, medidas de proteção de quedas na população idosa em diferentes
cenários e experiências exitosas de prevenção de quedas em diferentes ce-
nários no cuidado.
No primeiro eixo, contempla cinco capítulos, sendo no primeiro abor-
dando as quedas no cenário da velhice focando os conceitos básicos, dados
epidemiológicos e demográficos das quedas no mundo e no Brasil, etiologia
das quedas, abordagens de prevenção e intervenção. No segundo capítulo
descreve o processo de avaliação do risco de quedas no ambiente hospita-
lar, como preveni-las e o manejo adequado após a ocorrência de uma que-
da. No terceiro foca no rastreio de quedas em pessoas idosas nos diversos
cenários de cuidado e descrevendo instrumentos utilizados para avaliação
de risco de quedas na Atenção Primária à Saúde (APS) e Instituições de Lon-
ga Permanência para Idosos (ILPIs). No quarto capítulo aborda por que as
quedas em pessoas idosas são mais preocupantes e quais as consequências
de quedas em pessoas idosas nos contextos domiciliar, institucional e hos-
pitalar. Já no quinto capítulo aborda os fatores de risco para quedas em pes-
soas idosas e o impacto dos medicamentos de alta vigilância, elencando as
principais classes farmacológicas que contribuem para episódios de quedas
em pessoas idosas e apresentar a escala Medication Fall Risk Score (MFRS)
para rastreio do risco.
No segundo eixo, estruturado em oito capítulos, que trata das medi-
das de proteção de quedas na população idosa em diferentes cenários. No
primeiro capítulo tem como foco a segurança da pessoa idosa na prevenção
de quedas em diferentes contextos, buscando evidenciar as principais inter-
venções e estratégias para prevenção de quedas da pessoa idosa e redução
dos fatores de risco nos diferentes cenários. No segundo capítulo, descreve
as estratégias fisioterapêuticas na prevenção de quedas em pessoas idosas,
com destaque para o calçado, o ambiente, ambiente domiciliar e externo,
prática de exercícios físicos e uso de dispositivos auxiliares da marcha. No
terceiro capitulo que está centrado na elaboração de planos de cuidados na
prevenção de quedas nos domicílios busca discorrer sobre os principais fa-
tores de risco associados às quedas no domicílio, de modo a se evitar novos
episódios e se adequar o domicílio para atender as necessidades das pesso-
as idosas. No quarto capítulo, aborda a necessidade de um plano de cuida-
dos na prevenção de quedas em pessoas idosas, orientando as ILPIs sobre
a importância da implantação e implementação de um plano de cuidados
na prevenção de quedas, bem como, manter uma vigilância reforçada nos
locais com maior incidência de quedas. O quinto capítulo, tem como foco
a pessoa idosa hospitalizada, discutindo uma proposta de plano de cuidado
para prevenção de quedas e prática segura. No sexto capitulo discute os
ambientes seguros na prevenção de quedas às pessoas idosas, expondo a
importância de espaços seguros arquitetônicos, na perspectiva com vistas
na prevenção de riscos de quedas nos domicílios e nos espaços urbanos.
No sétimo capítulo aborda as estratégias de prevenção das ocorrências de
quedas e do medo de cair da pessoa idosa, os impactos psicossociais da
ocorrência de quedas e o medo de cair novamente, fortalecendo a confian-
ça para restaurar a autonomia e a independência. No último capítulo deste
eixo, foca a gerontecnologias voltadas para o monitoramento e prevenção
de quedas em pessoas idosas, discutindo-as como capazes de prevenir, mo-
nitorar e mitigar as consequências das quedas na população idosa, além de
possibilitar uma reflexão sobre o tema.
No terceiro eixo estruturado em oito capítulos, contempla as experi-
ências exitosas de prevenção de quedas em diferentes cenários no cuidado
à pessoa idosa. No primeiro capítulo, foca em experiência exitosa na pre-
venção de quedas em pessoas idosas na APS. No segundo capítulo, trata da
avaliação e prevenção do risco de quedas em um hospital universitário. No
terceiro capítulo foca no cenário acadêmico das quedas na população idosa
institucionalizada em atividades extensionistas, reinventando a educação
permanente e relato da experiência de ação de extensão. O quarto capítulo
tem como foco a RDC nº 502/2021 como instrumento da vigilância sanitária
em instituições de longa permanência para idosos, descrevendo o padrão
mínimo de funcionamento das ILPIs e os direitos e garantias dos idosos. No
quinto capítulo, trata dos projetos educativos e a prevenção de quedas fo-
cado na experiência em Portugal, elegendo o desenvolvimento de mecanis-
mos preventivos através de programas de intervenção multidimensionais.
No sexto capítulo, aborda a casa segura, com foco centrado na educação
para prevenção de quedas utilizando jogo de tabuleiro, banner de cuidados
com o ambiente doméstico e relato de prática desenvolvida. O sétimo capí-
tulo tem como foco o relato de experiência sobre prevenção de quedas em
uma clínica de oncologia, visando o gerenciamento de risco e a segurança
dos pacientes oncológicos assistidos no ambulatório de quimioterapia, e
por último no oitavo capítulo, aborda o risco de quedas em pessoas idosas
institucionalizadas, descrevendo estudo multicasos em Portugal.
Diante disto, consideramos que este livro contempla de forma e ob-
jetiva a temática das quedas nas pessoas idosas nos diferentes contextos,
numa perspectiva de abordagem multiprofissional e os estudos e experiên-
cias exitosas aqui descritos, constituem importantes referenciais para dis-
cussão e reflexão desta temática, em especial, no que concerne aos concei-
tos básicos, medidas de proteção e experiências exitosas de prevenção de
quedas em diferentes cenários no cuidado à pessoa idosa, ao mesmo tempo
em que, mostra a importância a adoção de estratégias de intervenção que
visando a redução de quedas, em prol do envelhecimento ativo e saudável.

Prof. Dr. Gilson de Vasconcelos Torres


Organizador e Coordenador da Rede internacional de pesquisa sobre
vulnerabilidade, saúde, segurança e qualidade de vida da pessoa
idosa: Brasil, Portugal, Espanha e França
SUMÁRIO
EIXO 1

Avaliação do Risco e Manejo


das Quedas em Pessoas Idosas

Capítulo 1
As Quedas no Cenário da Velhice: Conceitos Básicos.............................................25
10.5281/zenodo.11402330

Capítulo 2
Avaliação, Medidas Preventivas e Conduta Pós-Queda
em Pacientes Idosos no Ambiente Hospitalar.........................................................34
10.5281/zenodo.11402468

Capítulo 3
Rastreio de Quedas em Pessoas Idosas nos Diversos
Cenários de Cuidado..................................................................................................48
10.5281/zenodo.11402499

Capítulo 4
Por Que as Quedas em Pessoas Idosas são mais preocupantes?
Quais as consequências?...........................................................................................56
10.5281/zenodo.11402527

Capítulo 5
Fatores de Risco para Quedas em Pessoas Idosas:
O Impacto dos Medicamentos de Alta Vigilância....................................................65
10.5281/zenodo.11402558
EIXO 2

Medidas de Proteção de quedas


na população idosa em diferentes cenários

Capítulo 1
Segurança da Pessoa Idosa na Prevenção
de Quedas em Diferentes Contextos.........................................................................76
10.5281/zenodo.11402589
Capítulo 2
Estratégias Fisioterapêuticas na Prevenção
de Quedas em Pessoas Idosas...................................................................................83
10.5281/zenodo.11402622
Capítulo 3
Elaborando Planos de Cuidados na Prevenção
de Quedas nos Domicílios.........................................................................................91
10.5281/zenodo.11402638
Capítulo 4
Plano de Cuidados na Prevenção de Quedas
em Pessoas Idosas: Porque é Necessário?..............................................................100
10.5281/zenodo.11402677
Capítulo 5
A Pessoa Idosa Hospitalizada: Uma Proposta
de Plano de Cuidado para Prevenção de Quedas..................................................110
10.5281/zenodo.11402681
Capítulo 6
Ambientes Seguros na Prevenção de Quedas às Pessoas Idosas..........................117
10.5281/zenodo.11402696
Capítulo 7
Estratégias de Prevenção da Ocorrências de Quedas
e do Medo de Cair da Pessoa Idosa.........................................................................126
10.5281/zenodo.11402702
Capítulo 8
Gerontecnologias voltadas para o Monitoramento
e Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas............................................................135
10.5281/zenodo.11402708
EIXO 3

Experiências Exitosas de Prevenção


de Quedas em Diferentes Cenários
no Cuidado à Pessoa Idosa

Capítulo 1
Experiência Exitosa na Prevenção de Quedas em
Pessoas Idosas na Atenção Primária à Saúde........................................................146
10.5281/zenodo.11402724
Capítulo 2
Avaliação e Prevenção do Risco de Quedas em Um
Hospital Universitário..............................................................................................157
10.5281/zenodo.11402732
Capítulo 3
Cenário Acadêmico das Quedas na População Idosa
Institucionalizada em Atividades Extensionistas..................................................165
10.5281/zenodo.11402756
Capítulo 4
RDC nº 502/2021 como instrumento da Vigilância
Sanitária em Instituições de Longa Permanência para Idosos.............................173
10.5281/zenodo.11402776
Capítulo 5
Projetos Educativos e a Prevenção de Quedas - Experiência em Portugal..........179
10.5281/zenodo.11402784
Capítulo 6
Casa Segura: Educação para Prevenção de Quedas
utilizando Jogo de Tabuleiro....................................................................................189
10.5281/zenodo.11402798
Capítulo 7
Relato de Experiência Sobre Prevenção de
Quedas em uma Clínica de Oncologia...................................................................198
10.5281/zenodo.11402804
Capítulo 8
Risco de Quedas em Pessoas Idosas Institucionalizadas:
Estudo Multicasos em Portugal...............................................................................208
10.5281/zenodo.11402812
Capítulo 9
Experiência Exitosa no Lar da Vovozinha:
Como estamos protegendo nossas idosas das quedas?........................................222
10.5281/zenodo.11402826
EIXO 1

Avaliação do Risco e Manejo


das Quedas em Pessoas Idosas
CAPÍTULO 1
AS QUEDAS NO CENÁRIO DA VELHICE:
CONCEITOS BÁSICOS
Vilani Medeiros de Araújo Nunes
Ana Elza Oliveira de Mendonça
Maria Eduarda Silva do Nascimento
Jessica Roberts Fonseca
Monik y Keuly Marcelo Rocha

APRESENTAÇÃO

O crescente envelhecimento da população brasileira traz consigo sé-


rios desafios a serem enfrentados, não apenas demandando uma reorien-
tação dos serviços de saúde para atender às necessidades específicas das
pessoas idosas, mas também requer a implementação de estratégias abran-
gentes de promoção à saúde e prevenção de agravos para garantir um pro-
cesso de envelhecimento saudável (Oliveira, 2019; Veras; Oliveira, 2019).
As doenças crônicas e os processos fisiológicos associados ao enve-
lhecimento conferem aos idosos uma condição de fragilidade e suscetibili-
dade a eventos incapacitantes (Gonçalves, 2022). Entre esses eventos, des-
taca-se a ocorrência de quedas em pessoas idosas, cujas causas não derivam
apenas de um evento físico isolado, mas sim de um ponto de convergência
entre alterações fisiológicas que afetam a estabilidade corporal, resultando
em mudanças associadas ao declínio funcional, limitações nas atividades
diárias e comprometimento da mobilidade corporal, bem como uma varie-
dade de fatores ambientais e sociais que contribuem para a ocorrência des-
se agravo (Brasil, 2021; Cabral et al., 2021; SBGG, 2021).
A queda pode ser definida como o deslocamento involuntário do cor-
po para um nível inferior à sua posição inicial, geralmente acompanhado
da incapacidade de evitar ou corrigir essa situação em tempo hábil (OMS,
2015). Com o envelhecimento da população e o aumento da expectativa
de vida, esse evento emerge como uma preocupação cada vez mais com-
plexa no âmbito da saúde pública, dada sua associação com o aumento da
polifarmácia, o medo de cair novamente, a ocorrência de fraturas ósseas -
principalmente fraturas de fêmur - trauma cranioencefálico e óbitos (Brasil,
2021; SBGG, 2021; Santos, Vieira, 2021; Novaes et al., 2023). Alguns estudos
destacam também, a necessidade de acrescentar como aspecto relevante no
tocante ao evento queda, o aumento substancial nos custos relacionados à
saúde, decorrente da crescente demanda por serviços médicos, como cirur-
gias, hospitalizações e reabilitação prolongadas (Novaes et al., 2023; Brasil,
2021; Santos, Vieira, 2021).
Apesar de não serem inevitáveis com a longevidade, as quedas podem
sinalizar o início de uma série de alterações como a fragilidade física, poten-
cialmente resultando em complicações graves, interferindo na funcionali-
dade da pessoa idosa. A diminuição da capacidade funcional nessa popu-
lação pode resultar na perda de independência e autonomia, necessitando
de um aumento na provisão de cuidados por parte de familiares, cuidadores
profissionais e sistemas de apoio governamentais, em alguns casos, essa re-
dução funcional pode levar à institucionalização (Gonçalves, 2022; Brasil,
2021; SBGG, 2021). Por conseguinte, o custo social torna-se elevado devido
à dependência do indivíduo por um sistema de saúde que o acolha, promo-
va seu autocuidado e compreenda a mobilidade fragilizada nas atividades
básicas da vida diária (ABVD) (Conceição et al., 2021).
As quedas, no contexto do crescente envelhecimento da população,
surgem como eventos importantes e determinam complicações múltiplas
que podem afetar negativamente a qualidade de vida da pessoa idosa, com
consequências físicas, funcionais e psicossociais (Quintans; Melleiro, 2023;
SBGG, 2021; Veras; Oliveira, 2019).
Esse capítulo tem como objetivo apresentar os principais aspectos re-
lacionados ao evento queda no contexto da velhice, propondo uma visão
ampliada e divulgando os principais aspectos de interesse comum às famí-
lias, aos profissionais que atuam na atenção à saúde da pessoa idosa, cuida-
dores e pessoas interessadas na temática do envelhecimento humano.

26
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS E DEMOGRÁFICOS
DAS QUEDAS NO MUNDO E NO BRASIL

Quedas são a segunda principal causa de mortes por lesões não inten-
cionais em todo o mundo. Anualmente, estima-se que 684.000 indivíduos
perdem suas vidas devido a quedas, sendo que mais de 80% dessas ocorrên-
cias concentram-se em países de baixa e média renda. Além disso, adultos
com mais de 60 anos são os mais afetados, representando a maior propor-
ção de quedas fatais. Paralelamente, ocorrem 37,3 milhões de quedas que
requerem atenção médica a cada ano. Esses números ressaltam a impor-
tância do problema das quedas como uma questão de saúde pública global,
conforme evidenciado pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2021)
Evidencia-se que a população idosa mundial está em crescimento.
Estima-se que o número de pessoas no mundo com 65 anos ou mais dobre
até 2050, atingindo 1,6 bilhão, em comparação com os 761 milhões registra-
dos em 2021 (ONU, 2023). No Brasil, de acordo com os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022) havia mais de 30 milhões
de pessoas com mais de 60 anos em 2022. Esse aumento populacional traz
desafios significativos para a saúde pública, como o aumento dos acidentes
por queda entre a população idosa.
Além disso, as pessoas idosas enfrentam o maior risco de morte ou
lesões graves em decorrência de quedas, sendo que esse risco aumenta
conforme avança a idade. Essa probabilidade elevada de queda pode ser
atribuída, em parte, às alterações físicas, sensoriais e cognitivas associadas
ao processo de envelhecimento, combinadas com ambientes que não estão
adaptados para uma população mais idosa (WHO, 2021).
Estudos realizados por Novaes et al., em 2023 revelam um crescimen-
to significativo no número de quedas, óbitos e custos entre os anos 2000 e
2020. O número de internações por quedas mais do que dobrou, totalizan-
do 128 mil internações em 2020, em comparação com as 51 mil registradas
no ano de 2000. Além disso, o número de óbitos cresceu continuamente,
alcançando 6.385 em 2020, quase o triplo do número do ano de 2000, onde

27
ocorreram 2.156 episódios. Os custos relacionados às quedas em 2020 tota-
lizaram R$ 212 milhões, representando mais de cinco vezes o valor de 2000,
que foi de R$ 37 milhões.
A situação das quedas no Brasil reflete as tendências globais, com
um aumento significativo nas taxas de hospitalização, custos e óbito entre
as pessoas idosas (Novaes et al., 2023). Entre a população idosa com idade
mais avançada, com 80 anos ou mais, a proporção de quedas chega a apro-
ximadamente 40% anualmente, sendo mais prevalentes entre os residentes
de asilos e casas de repouso, onde alcançam até 50% (Brasil, 2022). Assim,
estratégias de prevenção e intervenção são fundamentais para enfrentar
esse desafio de saúde pública no Brasil.

ETIOLOGIA DAS QUEDAS

A etiologia das quedas é complexa e pode ser dividida em fatores in-


trínsecos e extrínsecos. Entre os fatores intrínsecos, a idade avançada é um
fator-chave, pois traz consigo mudanças físicas que aumentam o risco de
quedas. Ademais, as condições médicas como osteoporose e doenças neu-
rológicas também desempenham um papel importante, afetando a mobili-
dade e o equilíbrio. (Ferreira et al., 2023).
Destaca-se que o uso de vários medicamentos, conhecido como po-
lifarmácia, pode contribuir para quedas devido a efeitos adversos e intera-
ções entre os medicamentos (Sangaleti, 2023). É crucial considerar esses
fatores intrínsecos ao desenvolver estratégias de prevenção de quedas, es-
pecialmente entre a população idosa.
Já os fatores extrínsecos, como iluminação deficiente, arquitetura des-
favorável, disposição inadequada de móveis, desordem nos espaços e co-
res escuras, aumentam o risco de quedas em ambientes domésticos. Além
disso, objetos espalhados pelo chão e tapetes soltos também representam
perigos. Adicionalmente, cores escuras podem dificultar ainda mais a de-
tecção de obstáculos. Portanto, tais fatores demandam ajustes para garantir
a segurança dos moradores (SBGG, 2023).

28
ABORDAGENS DE PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO

De acordo com o Ministério da saúde, no Brasil, as intervenções com


multicomponentes tendem a ser mais efetivas na prevenção de quedas, des-
critas no Protocolo de prevenção de quedas, publicado em 2013 (BRASIL,
2013).
Uma estratégia fundamental na prevenção e intervenção de quedas
é a avaliação do risco de queda, onde são identificados fatores como fragi-
lidade, condições médicas crônicas, uso de medicamentos e dificuldades
de mobilidade. Com base nessa avaliação, os profissionais de saúde podem
adaptar estratégias personalizadas, como recomendações para educação
sobre prevenção de quedas, modificações no ambiente, prática de exercí-
cio, e ajustes na medicação. Essa avaliação do risco de queda é fundamental
para promover a segurança e reduzir o risco de quedas em diferentes con-
textos de cuidados de saúde (Magalhães, 2023).
Ainda segundo os estudos de Magalhães (2023), foi destacada a im-
portância dessas medidas com a implementação de uma equipe multidisci-
plinar em uma unidade de internação. Com isso, observou-se uma melhoria
significativa por meio de ações direcionadas à identificação de pacientes em
risco e medidas preventivas. Os resultados evidenciaram uma redução de
30% no número de quedas em 2020 e uma queda ainda mais expressiva de
40% em 2021.
Entendendo que temos como objetivo estratégico do Plano de ação
global para segurança do paciente até 2030, o envolvimento e o empodera-
mento do paciente e acompanhante para ajudar e apoiar a jornada por uma
assistência à saúde mais segura. Portanto, o Plano de ação global para segu-
rança do paciente configura-se como uma ferramenta poderosa, ao propor
como objetivo estratégico o envolvimento e o empoderamento do paciente
e acompanhante para ajudar e apoiar a jornada por uma assistência à saú-
de mais segura, de modo a evitar eventos adversos, dentre esses, o evento
queda. Talvez seja a ferramenta mais poderosa para melhorar a segurança
do paciente. A perspectiva do paciente e de sua família de como o cuidado

29
pode ser mais seguro é muito valiosa, tornando os pacientes e acompanhan-
tes parceiros do cuidado, aumentando a conscientização e educação sobre
a segurança do paciente para prevenção de eventos adversos (OMS, 2021).
Para isto, é imprescindível que haja uma comunicação aberta, trabalho em
equipe, e aprendizado constante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do envelhecimento global da população e do aumento da pre-


valência de quedas em idosos, é imperativa a adoção de uma abordagem in-
tegrada e colaborativa na profilaxia, tratamento e reabilitação. A implemen-
tação de estratégias multidisciplinares possibilita uma avaliação holística
dos fatores de risco e situacionais, permitindo a síntese de intervenções per-
sonalizadas para prevenir quedas ao longo do processo de envelhecimento,
incluindo pessoas idosas residentes na comunidade, institucionalizadas, ou
ainda, hospitalizadas. Ademais, a colaboração entre profissionais e gestores
de saúde é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas vol-
tadas à promoção da saúde e segurança das pessoas idosas em diferentes
contextos biopsicossociais, com vistas a garantir uma longevidade ativa e
saudável.

30
REFERÊNCIAS

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da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-
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33
CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO, MEDIDAS PREVENTIVAS E
CONDUTA PÓS-QUEDA EM PACIENTES IDOSOS
NO AMBIENTE HOSPITALAR
Albirea Shinobu Inaoka Brito
Ana Beatriz de Almeida Medeiros Moura
Carlos Alexandre de Souza Medeiros
Manuela Pinto Tibúrcio
Patrícia Medeiros da Silva Oliveira

APRESENTAÇÃO

As quedas sofridas pelos pacientes durante a internação hospitalar


são uma das ocorrências mais importantes na quebra da segurança da assis-
tência, e são frequentemente responsáveis pelo aumento do número de dias
de internamento e piores condições de recuperação. Quedas em hospitais
são eventos de origem multifatorial, com consequências negativas para pa-
cientes e instituições. Para tanto, este capítulo objetivou descrever o proces-
so de avaliação do risco de quedas, como preveni-las e o manejo adequado
após a ocorrência de uma queda.

AVALIAÇÃO DO RISCO DE QUEDA EM IDOSO


NO AMBIENTE HOSPITALAR

O envelhecimento humano é considerado um processo gradual em


que ocorre um declínio das funções fisiológicas, com alterações anatômicas
e funcionais que podem ocasionar a instabilidade postural ou a incapacida-
de de manutenção do equilíbrio, tornando o idoso mais susceptível a que-
das (Gil et al., 2011).
As quedas são um dos eventos mais frequentes entre os idosos hospi-
talizados, podendo comprometer a capacidade funcional do paciente e, em
casos extremos, levar à morte. Além do impacto ao paciente e aos familiares,
também acarretam em custos econômicos adicionais para as instituições
hospitalares (Hill; Vu; Walsh, 2007).
Para os idosos hospitalizados, a avaliação do risco de quedas é crucial,
uma vez que a hospitalização ocorre em um ambiente muitas vezes desco-
nhecido e desafiador. Durante esse período, os efeitos do envelhecimento
normal se combinam com as consequências do repouso no leito e da pró-
pria hospitalização, aumentando a vulnerabilidade do indivíduo a quedas.
Como salientado por Sousa et al. (2019), a intervenção para evitar
quedas deve envolver uma equipe multidisciplinar de saúde, familiares e o
próprio paciente. O processo preventivo deve ser iniciado com uma avalia-
ção completa do paciente e de seus fatores de risco.
Existem alguns instrumentos que avaliam o risco de queda dos pa-
cientes no contexto hospitalar, oferecendo aos profissionais uma avaliação
sistemática. Isso permite a escolha de estratégias específicas para preven-
ção, promoção e controle, de acordo com o nível de risco individual de cada
paciente. Dentre os instrumentos existentes, destaca-se a Morse Fall Scale
(MFS) ou Escala de Quedas de Morse (EQM), publicada por Janice Marga-
ret Morse em 1989, que foi traduzida e adaptada transculturalmente para o
português por Urbanetto et al. (2013). A EQM sobressai-se pela sua alta via-
bilidade de aplicação e pela simplicidade de seus itens de avaliação, sendo
a mais comumente empregada por todo o mundo.
Conforme mencionado por Ganz et al. (2013), a aplicação da EQM é
recomendada no momento da entrada do paciente no serviço de interna-
mento, durante sua transferência para outra unidade ou serviço, em caso de
qualquer alteração na condição do paciente ou após um episódio de queda.
A escala de Morse é composta por seis parâmetros de avaliação (Qua-
dro 1): Histórico de queda; Diagnóstico secundário; Auxílio na deambu-
lação; Terapia endovenosa/Dispositivo endovenoso salinizado ou hepa-
rinizado; Marcha; Estado mental. Cada um desses parâmetros deve ser
devidamente analisado conforme as definições operacionais presentes no
Quadro 2 e possui um valor numérico, que quando somados resultam em

35
um escore, o qual é utilizado para atribuir o nível de risco. Quando o escore
é inferior a 25, o paciente tem baixo risco de queda. Se o escore estiver entre
25 e 44, o risco é moderado. Entretanto, se o escore for igual ou superior a 45,
o paciente apresenta alto risco de queda. Diante do risco de queda avaliado,
exige-se uma intervenção que contemple um plano preventivo personaliza-
do com várias medidas adaptadas aos distintos fatores de risco do paciente
(Morse, 1997).

Quadro 1 – Morse Fall Scale em inglês e na versão traduzida para o português do Brasil.
Porto Alegre, 2011.

Fonte: Urbanetto et al. (2013).

36
Quadro 2 – Definições operacionais de cada item da Morse Fall Scale traduzida
e adaptada para a língua portuguesa do Brasil. Porto Alegre, 2011.

Fonte: Urbanetto et al. (2013).

37
O risco para quedas aumenta proporcionalmente ao número de fato-
res de risco, uma vez que raramente é atribuível a um único fator isolado. É
primordial que essa avaliação seja integrada ao plano de cuidados individu-
al como uma medida proativa de prevenção.

MEDIDAS PREVENTIVAS DE QUEDA PARA


PESSOAS IDOSAS NO AMBIENTE HOSPITALAR

A implementação de medidas preventivas para quedas em ambien-


tes hospitalares é imprescindível para garantir a segurança de todos os pa-
cientes. Nesse contexto, uma atenção particular deve estar direcionada para
os idosos, tendo em vista a gravidade das consequências que essa clientela
pode enfrentar após um episódio de queda.
O paciente idoso vivencia alterações decorrentes do seu processo
natural de envelhecimento, manifestadas através da diminuição da sensi-
bilidade dos receptores relacionados à regulação da pressão arterial, assim
como a redução da água corporal e do volume plasmático, contribuindo
para a ocorrência de hipotensão ortostática. É importante ressaltar que a
maioria dos idosos passa considerável tempo em repouso no leito, o que,
aliado ao uso de medicamentos sedativos e certos anti-hipertensivos, agra-
va ainda mais o risco de quedas. Essas alterações intrínsecas à própria ida-
de aumentam significativamente a propensão a eventos adversos, tornando
a prevenção de quedas uma consideração crucial no cuidado aos idosos
(Bakerjian, 2022).
Nos serviços hospitalares, ao analisar as quedas em idosos, mais de
60% acontecem dentro do banheiro, fato que demanda o aumento da vigi-
lância nesses ambientes para minimizar o risco. O fator ambiental desem-
penha um papel primordial no desencadeamento de quedas em idosos, es-
pecialmente quando o ambiente não é familiar e demanda posturas mais
desafiadoras (Rubenstein, 2021). O risco é amplificado em situações em que
as condições ambientais não são adaptadas às necessidades específicas dos
idosos, destacando a importância de ambientes seguros e acessíveis para

38
prevenir acidentes. O quadro a seguir apresenta as medidas para prevenção
de quedas.

Quadro 3 - Medidas para prevenção de quedas agrupadas por tipos de cuidados.

TIPOS DE MEDIDAS PARA PREVENÇÃO DE QUEDAS


CUIDADOS
- Manter a cama na posição mais baixa possível, evi-
tando deixá-la em posição elevada após realização de
procedimentos;
CAMA
- Garantir que as grades do leito estejam levantadas e
travadas, dando ênfase às grades próximas ao tronco do
paciente.
- Informar ao paciente e seu acompanhante acerca da
hipotensão ao se levantar rapidamente do leito. Reco-
menda-se que o paciente se sente e aguarde pelo menos
HIPOTENSÃO cinco minutos ou o tempo necessário conforme a con-
POSTURAL dição do paciente, antes de realizar qualquer movimen-
to para se levantar do leito ou poltrona. Essa precaução
visa evitar episódios de queda ou tontura relacionados à
mudança postural.
- Organizar o ambiente, evitando a presença de obs-
OBSTÁCULOS táculos (equipamentos, mesas ou outros objetos) que
possam obstruir ou dificultar o deslocamento do idoso.
-Manter o ambiente levemente iluminado durante a
noite, evitando total escuridão, a fim de prevenir situa-
LUMINOSIDADE
ções em que o paciente possa enfrentar dificuldades de
visibilidade.

39
- Verificar as condições de umidade do banheiro. O ba-
nheiro, por sua natureza úmida, pode apresentar pisos
escorregadios, aumentando o risco de acidentes. É fun-
damental que, antes de utilizá-lo, o paciente/acompa-
nhante verifique as condições desse local e, se possível,
o profissional responsável seja comunicado da situação
para realizar a higienização adequada do ambiente;
BANHEIRO
- Usar tiras antiderrapantes no chão do box;
- Avaliar a necessidade de cadeiras para banhos, em
caso de pacientes com dificuldade de locomoção;
- Manter pisos uniformes;
- Questionar se há sensação de tontura e se os membros
inferiores mantêm a força necessária para sustentação,
após a utilização do sanitário.
- Recomendar o uso de calçados confortáveis, preferen-
cialmente com solado antiderrapante, evitando solas
desgastadas ou lisas;
CALÇADOS
- Optar por calçados baixos e adequados contribuem
significativamente para a segurança ao caminhar e ofe-
recem maior estabilidade ao paciente.
- Acompanhar o paciente durante a sua caminhada pelo
hospital, tendo cuidado especial aos artigos médico-
-hospitalares que precisem ser transportados junto
com o paciente (ex.: suporte de soro, bomba de infusão,
CAMINHADA
bolsa coletora, dreno);
- Utilizar dispositivos auxiliares para marcha de pacien-
tes com mobilidade prejudica (ex.: muletas, andadores,
cadeira de rodas).

40
- Observar o aprazamento de medicamentos que
estimulam a diurese e as eliminações intestinais, por
exemplo, em horários noturnos;
MEDICAMENTOS
-As doses dos fármacos devem ser calculadas com cui-
dado e precisão para garantir uma administração segura
e eficaz.
- Colocar pulseira de identificação do risco de quedas
no membro do paciente com risco alto para quedas;
- Identificar o leito do paciente com placa amarela de
IDENTIFICAÇÃO risco de quedas;
- A pulseira de risco de quedas sinaliza aos profissionais
a necessidade de maior atenção aos cuidados relativos à
prevenção de quedas do paciente em uso.

Fonte: Elaborado pelos autores

CONDUTA PÓS-QUEDA EM PACIENTE


IDOSO NO AMBIENTE HOSPITALAR

Em caso de queda em idoso, a conduta deve ser cuidadosa para as-


segurar o seu bem-estar e prevenir complicações, envolvendo uma série de
etapas coordenadas de forma a garantir a avaliação adequada e a prevenção
de quedas futuras. É imprescindível que essas etapas sejam sistematizadas,
instituídas e protocolizadas para que a equipe multidisciplinar saiba como
proceder, ou ainda, dê importância à ocorrência do evento adverso (Cunha,
Baixinho, Henriques, 2019).
Após a ocorrência de queda em ambiente hospitalar, é importante que
o paciente seja encaminhado ao leito para ser avaliado, atentando-se ao fato
de que ele não deve ser movimentado precipitadamente, tendo em vista que
movimentos inadequados podem agravar possíveis lesões. Em circunstân-
cias do paciente ser encontrado no chão, é recomendado que a equipe ava-
lie a presença de lesões ou complicações e verifique se há sinais ou sintomas
de fratura ou potencial de lesão na coluna vertebral antes de movimentar o

41
paciente. Quando há possibilidade de lesão na coluna, o transporte do pa-
ciente deve respeitar a cinemática do trauma, utilizando-se prancha longa e
colar cervical, com mobilização em bloco (Zhao et al., 2019).
A equipe de enfermagem, responsável pelos cuidados de saúde di-
retos ao paciente e por permanecer maior tempo junto dele, geralmente é
a primeira a presenciar a queda ou receber o relato de sua ocorrência. Na
avaliação imediata, é primordial que seja verificado o nível de consciência
e as funções vitais do paciente idoso, incluindo a respiração e a circulação.
Deve ser realizada uma avaliação física cuidadosa para identificar sinais de
lesões, como contusões, deformidades, cortes, hematomas, edemas e fontes
de sangramentos. Se o paciente estiver consciente, deve-se questioná-lo so-
bre dor, desconforto ou incapacidade de mover alguma parte do corpo. Ofe-
recer apoio e conforto neste momento é crucial para acalmá-lo e orientá-lo.
Se o paciente estiver inconsciente ou com as funções vitais comprometidas,
os protocolos de emergência devem ser seguidos (Passos et al., 2022).
Em paralelo, devem ser investigados os aspectos clínicos e ambientais
relacionados ao incidente: histórico médico e recentes alterações no quadro
clínico, mobilidade e equilíbrio, função cognitiva, visão e audição, ambien-
te, segurança no leito (Rezende et al., 2020).
Neste momento, o profissional também precisa coletar informações
sobre as circunstâncias da queda, incluindo: quando e onde ocorreu a que-
da; atividades que o paciente estava realizando no momento da queda; se
o paciente tentava alcançar algo; deslocar-se ou levantar-se; se houve des-
maio, tontura ou outra sensação antes da queda. Conversar com testemu-
nhas pode ser valioso para obter suas perspectivas sobre como e por que a
queda ocorreu (Liu, Zhu, Song, 2021).
Ressalta-se que, mesmo que a queda pareça sem gravidade e sem le-
sões evidentes, é recomendado que o paciente seja avaliado também por
um profissional médico. Portanto, assim que possível, o médico responsável
pelo paciente ou o médico do plantão deve ser acionado (Paradela, 2014).
A depender da avaliação inicial e do exame físico, com enfoque nos
sistemas neurológico e musculoesquelético, podem ser necessários exames

42
de imagem, como radiografias, tomografias computadorizadas e ressonân-
cias magnéticas de modo a promover uma melhor análise de possíveis le-
sões internas. Caso seja identificada alguma lesão, o médico deve elaborar
um plano de tratamento, que pode incluir desde cuidados conservadores
até intervenções cirúrgicas, se necessário (Paradela, 2014; Santos Les et al.,
2021).
É válido salientar que o manejo de quedas envolve não apenas uma
abordagem clínico-funcional, mas também mitigar fatores de risco para
prevenir futuras quedas. Com base na avaliação da equipe multidisciplinar,
é necessário desenvolver ou atualizar o plano de prevenção de quedas do
paciente, abordando tanto os fatores de risco clínicos quanto ambientais
identificados (Cunha, Baixinho, Henriques, 2019; De Souza et al., 2019).
Imediatamente após garantir a segurança e realizar a avaliação inicial
do paciente, os profissionais devem documentar no prontuário do paciente,
de forma clara, precisa e detalhada, todos os aspectos relacionados à queda
(data e hora, local, descrição do evento e fatores contribuintes), à avaliação
do paciente (condição inicial em que ele se encontrava, sinais vitais, lesões
identificadas), às intervenções realizadas e as modificações no plano de cui-
dados, que devem incluir qualquer instrução dada ao paciente e à família
para prevenir novas quedas (Reiniack et al. 2017; Gorreis et al, 2021).
Por fim, devem realizar a notificação da queda, seguindo os protoco-
los específicos de gestão de incidentes da sua instituição. A notificação é o
primeiro passo para investigar as causas subjacentes e identificar fatores de
risco que contribuíram para o incidente (Visvanathan et al., 2023; Hermann
et al, 2023)
Cada queda é um sinal de alerta e uma oportunidade para revisar
e ajustar o cuidado ao idoso, visando reduzir o risco de futuras quedas e
promover um ambiente mais seguro. As equipes devem utilizar o inciden-
te como uma oportunidade para revisar e aprimorar as políticas e proce-
dimentos de prevenção de quedas em ambiente hospitalar, incluindo ca-
pacitação dos profissionais, educação em saúde para os pacientes e suas
famílias e melhorias no ambiente físico (Visvanathan et al., 2023; Hermann
et al, 2023).
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As intervenções com multicomponentes tendem a ser mais efetivas


na prevenção de quedas, tais como: a avaliação do risco de queda, a identi-
ficação do paciente com risco através de sinalização à beira do leito ou com
pulseira, a revisão da medicação, a atenção aos calçados utilizados pelos
pacientes, a educação dos pacientes e dos profissionais, a revisão e análise
do evento para identificação de possíveis causas.
Esta última contribui sobremaneira para a educação em saúde dos
pacientes que sofreram quedas e atuam como suporte para embasar as
orientações dadas àqueles que ainda não experienciaram o incidente.

44
REFERÊNCIAS

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01 mar. 2024.

47
CAPÍTULO 3
RASTREIO DE QUEDAS EM PESSOAS
IDOSAS NOS DIVERSOS CENÁRIOS
DE CUIDADO
Raquel Spindola Samartini
Eilane Souza Marques dos Santos
Danila Cristina Paquier Sala
Carla Roberta Monteiro Miura
Meiry Fernanda Pinto Okuno

APRESENTAÇÃO

As quedas, conceituadas como eventos não intencionais que resul-


tam na mudança de posição inesperada do indivíduo para um nível infe-
rior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil (WHO,
2008).
Além disso, são consideradas como um grave problema de saúde pú-
blica, e sua ocorrência podem resultar em diversas complicações secundá-
rias como a diminuição da capacidade funcional, e consequentemente, da
autonomia e da independência, de modo a aumentar a demanda por cuida-
dos de familiares, cuidadores formais e sistemas de saúde, inclusive, pode
ocasionar medo de cair novamente, diminuição da qualidade de vida, fratu-
ras, institucionalização e morte (WHO, 2021).
De acordo com Novaes et al (2023) o Sistema Único de Saúde (SUS)
custeou mais de R$ 1 bilhão com internações hospitalares, entre os anos de
2002 e 2016, por complicações secundárias a acidentes por quedas. Acres-
ce-se ainda que os custos governamentais tenham um aumento exponen-
cial até o ano de 2025 se estratégias profiláticas não forem implementadas
nos diferentes contextos em que as pessoas idosas encontram-se inseridas.
Sabe-se que a prevalência de quedas e suas consequências podem
ser indicadores de extrema relevância para o acompanhamento do envelhe-
cimento saudável nos serviços de saúde, como a Atenção Primária à Saúde
(APS), Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPI) e uni-
dades hospitalares. Com isso, torna-se imprescindível que os profissionais
entendam sobre o risco de quedas e como identificá-los, pois dessa forma, o
plano de cuidados para prevenção de quedas pode ser mais eficaz em alcan-
çar seus objetivos nos diversos cenários de cuidado à pessoa idosa (WHO,
2021).
Por isso, o presente capítulo irá apresentar instrumentos de avaliação
do risco de quedas em pessoas idosas validados para o contexto brasileiro.

INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA AVALIAÇÃO DE RISCO DE


QUEDAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Os autores Berardi (2020) e Filho (2020) discorrem sobre diversas es-


calas desenvolvidas, traduzidas e validadas para a língua portuguesa com o
objetivo de identificar precocemente riscos para queda que podem apoiar a
gestão do cuidado na APS. Dentre as escalas de predição do risco de queda
empregada nos ambientes que atendem a população idosa, destacam-se: a
Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) e o Home Falls and Accidents Screening
Tool Brazil Self-report (HOME FAST-Brasil).
A Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) avalia o desempenho funcional
e o risco de quedas levando em conta o impacto do ambiente na funcio-
nalidade, com base em 14 itens comuns das atividades de vida diária (Be-
rardi, 2020). como ficar de pé, sentar-se, transferir-se, virar-se e olhar sobre
os ombros, inclinar-se para frente e pegar um objeto do chão, que mede o
equilíbrio estático e dinâmico. A EEB é valorizada por sua simplicidade, não
requerendo equipamentos para sua aplicação, podendo ser realizada em
vários ambientes de saúde, até mesmo em domicílio. Cada tarefa é pontu-
ada de 0 a 4, com uma pontuação total que varia de 0 a 56 pontos. Uma
pontuação total de 56 indica um equilíbrio funcional excelente, enquanto
pontuações abaixo de 45 são indicativas de um aumento no risco de quedas
(Berardi, 2020).
49
O HOME FAST-Brasil é um instrumento que permite ao próprio idoso,
ou seu cuidador, avaliar o risco de quedas no ambiente doméstico, identi-
ficando potenciais agravos que demandam intervenções ou readequações
para tornar o ambiente seguro. No total, o HOME FAST-Brasil inclui 25 itens
relacionados aos principais aspectos de segurança nos ambientes domésti-
cos, bem como funções e mobilidade dos indivíduos nesses ambientes (Fi-
lho, 2020).
Esses itens abrangem áreas como pisos, mobília, iluminação, banhei-
ro, despensa, escadas/degraus e função/mobilidade. Cada item do HOME
FAST-Brasil possui uma definição para orientar o avaliador, e as respostas
possíveis são "sim", "não" e "não aplicável". O resultado é determinado pela
soma das respostas marcadas exclusivamente como "não". Quanto maior a
pontuação, ou seja, mais próxima de 25 pontos, maior é o risco de quedas no
ambiente doméstico. Portanto, o HOME FAST Brasil pode instrumentalizar
atividades educacionais na APS (Filho, 2020).

INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA AVALIAÇÃO DO RISCO DE


QUEDAS EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA
PESSOAS IDOSAS (ILPIS)

Uma Revisão Integrativa da Literatura, realizada no ano de 2020, iden-


tificou que os principais instrumentos empregados na avaliação do risco de
queda em pessoas idosas institucionalizadas são o Timed Up and Go Test
(TUG) e o Performance-Oriented Mobility Assessment (POMA) (Baixinho ,
2020).
O TUG foi traduzido e validado no Brasil com pessoas idosas resi-
dentes na comunidade e em ILPI (Cabral, 2011). Ele avalia a mobilidade e
o equilíbrio funcional e tem sido amplamente buscado devido à sua asso-
ciação com o risco de quedas, o medo de cair e sua relevância funcional, É
um teste de execução simples, notável por sua acessibilidade em termos de
custo e eficácia na avaliação da mobilidade e do equilíbrio funcional (Mon-
teiro, 2023; Oliveira-Zmuda, 2022).

50
No TUG é solicitado que o indivíduo se levante de uma cadeira, per-
corra uma distância de três metros à frente, vire-se, retorne e sente-se no-
vamente na cadeira. O tempo necessário para completar a tarefa é crono-
metrado. Vale ressaltar que, tempos inferiores a 10 segundos sugerem risco
baixo; entre 10 e 20 segundos indicam risco médio, enquanto tempos maio-
res que 20 segundos demonstram risco elevado para queda (Monteiro, 2023;
Oliveira-Zmuda, 2022).
O POMA foi traduzido e validado no Brasil em pessoas idosas insti-
tucionalizadas, é uma escala composta em duas partes, uma que avalia o
equilíbrio, e a outra, a marcha. Totalizando 22 tarefas, sendo 13 relacionadas
ao equilíbrio e as outras nove à marcha (Gomes, 2003).
Ademais, essa escala engloba uma variedade de atividades repre-
sentativas das tarefas diárias, observadas pelo examinador. A Avaliação do
Equilíbrio Orientada pelo Desempenho pode ser classificada em: normal,
adaptativa e anormal, sendo as pontuações correspondentes a 3, 2 e 1, res-
pectivamente. A Avaliação da Marcha Orientada pelo Desempenho é classi-
ficada em: normal e anormal, correspondendo a pontuações 2 e 1, respec-
tivamente. Assim, as Avaliações de Equilíbrio e Marcha Orientadas somam,
no máximo, 39 e 18 pontos, respectivamente (totalizando até 57 pontos nas
duas escalas) (Gomes, 2003).
Os escores atualmente relatados na literatura correspondem à Escala
de Tinetti, originalmente composta por 14 tarefas (oito para equilíbrio e seis
para marcha), com pontuação máxima de 28 pontos. Pontuações abaixo de
19 e entre 19 e 24 pontos representam, respectivamente, alto e moderado
risco de quedas (Mascarenhas, 2023, Tinetti, 1986). Por conseguinte, é de
extrema importância a elaboração e validação de escalas de avaliação do
risco de queda direcionadas especificamente para o ambiente das ILPIs.

51
INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA AVALIAÇÃO
DO RISCO DE QUEDAS EM HOSPITAIS

A Morse Fall Scale (MFS) (Morse, 1989) foi publicada, originalmen-


te, por Morse no ano de 1989 e no ano de 2013 foi traduzida e adaptada
transculturalmente para o contexto brasileiro por Urbanetto e colaborado-
res (Urbanetto, 2013). O instrumento é composto por seis critérios para a
avaliação do risco de quedas, sendo eles “Histórico de quedas”, “Diagnósti-
co Secundário”, “Auxílio na deambulação”, “Terapia Endovenosa/dispositivo
endovenoso salinizado ou heparinizado”, “Marcha” e “Estado Mental”. Cada
critério avaliado recebe uma pontuação que varia de zero a 30 pontos, to-
talizando um escore de risco, em que a classificação corresponde a: risco
baixo, de 0 - 24; risco médio, de 25 - 44 e risco alto, ≥459-10. Por fim, o MFS
é considerado um instrumento amplamente utilizado no cenário hospitalar
para melhor direcionamento de ações, assim como na pesquisa com pesso-
as idosas hospitalizadas (Falcão, 2019).
A St Thomas’s Risk Assessment Tool in Falling Elderly Inpatients (STRA-
TIFY), foi concebida em 1997 por David Oliver e seus colaboradores na In-
glaterra (Oliver, 1997), traduzida e adaptada para a realidade brasileira em
2019 por Viveiro e colaboradores (Viveiro, 2019). Trata-se de instrumento
largamente recomendado pelo Ministério da Saúde e utilizado nos progra-
mas de prevenção de quedas entre idosos. A escala STRATIFY é constituída
por cinco perguntas com opções dicotômicas de resposta (sim/não), sen-
do que, na última pergunta, a pontuação é obtida através da conjugação de
duas respostas do índice de Barthel modificado em relação à transferência
e mobilidade. A pontuação total da escala STRATIFY é obtida com base na
soma das respostas referentes às cinco perguntas, podendo tomar valores
entre zero e cinco. Uma pontuação igual a 0 corresponde a um risco consi-
derado baixo, igual a 1 corresponde a um risco moderado e, por fim, supe-
rior ou igual a 2 corresponde a um risco elevado (Rodrigues, 2020).

52
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As quedas entre esse grupo etário podem resultar em uma série de


consequências adversas, incluindo traumas físicos e psicológicos, perda de
autonomia e até mesmo o risco de óbito. Portanto, destaca-se a importân-
cia da utilização de instrumentos para a avaliação de risco de queda nesse
grupo etário nos diversos cenários de cuidado, uma vez que essa avaliação
oferecerá subsídios valiosos para a equipe interprofissional na elaboração
de estratégias direcionadas a fomentar a segurança das pessoas idosas, com
foco na redução da ocorrência de quedas e suas complicações associadas.

53
REFERÊNCIAS

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55
CAPÍTULO 4
POR QUE AS QUEDAS EM PESSOAS
IDOSAS SÃO MAIS PREOCUPANTES?
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS?
Mayara Priscilla Dantas Araújo
Sandra Maria da Solidade Gomes Simões de Oliveira Torres
Thaiza Teixeira Xavier Nobre
Carmelo Sergio Gómez Martínez
Gilson de Vasconcelos Torres

APRESENTAÇÃO

O envelhecimento é um processo progressivo que causa declínio em


vários sistemas corporais, aumentando o risco de quedas. Essas alterações
fisiológicas e estruturais no organismo, decorrentes do envelhecimento, po-
dem influenciar negativamente na condição muscular e no equilíbrio, as-
sim como a redução da capacidade funcional e aumento do risco de quedas,
que pode ser agravado por influências de aspectos sociais, econômicos, po-
líticos e psicológicos (Bertochi et al., 2024).
As quedas, por sua vez, contribuem com a morbidade e mortalida-
de em pessoas idosas, trazendo inúmeras consequências para o indivíduo
como a diminuição da qualidade de vida, com maior impacto nas famílias
com menor condição financeira e para o sistema de saúde, o que as tornam
um grave problema de saúde pública. Compreender os fatores de risco rela-
cionadas aos diferentes ambientes nos quais essas pessoas estão inseridas
é fundamental para auxiliar na proposição de ações de prevenção para sua
ocorrência e evitar suas consequências, como a redução de gastos em saúde
e demandas por cuidado devido a internações e reabilitação (Ferreira et al.,
2019).
Sabemos que existem múltiplos fatores de risco relacionadas às cau-
sas para quedas em idosos, sendo recomendável que as intervenções mais
efetivas devem ser múltiplas e preferivelmente executadas por equipe mul-
tiprofissional, mas para isso, é imprescindível o conhecimento dos fatores
associados ao risco de quedas e suas consequências, visto que pode auxi-
liar no rastreamento, prevenção e tratamento efetivo da população sob
risco.
A ocorrência de quedas demonstra que há lacunas na segurança do
paciente, além de ocasionar limitações e declínios relacionados à saúde nas
pessoas idosas. Entender por que as pessoas idosas caem significa enten-
der quais os fatores que contribuem para esse evento. Dessa forma, neste
capítulo abordaremos as principais causas e consequências de quedas em
pessoas idosas nos contextos domiciliar, institucional e hospitalar.

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DAS QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS

Ambiente domiciliar
Pessoas idosas que residem na comunidade devem ser atendidas pela
atenção primária à saúde e alguns fatores de risco para queda podem ser
observados pelos profissionais de saúde, como alterações da marcha, defi-
ciência de vitamina D, osteoporose, anemia, problemas auditivos e de visão,
tonturas, hipotensão ortostática, incontinência urinária, insuficiência veno-
sa e/ou arterial, deformações nos pés como pé de Charcot em pacientes dia-
béticos, e a presença de dor crônica e/ou aguda (Carlos et al., 2024, Teixeira
et al., 2019).
Além das implicações físicas, as quedas afetam diretamente o psicoló-
gico das pessoas idosas que caem. O medo de cair é comumente observado
nas pessoas que já caíram e tem grande impacto sobre sua independência
e autonomia. As pessoas idosas apresentam maior preocupação em manter
o equilíbrio e evitar novas quedas, o que representa que estão mais atentas,
porém, se tornam mais preocupadas devido às limitações econômicas e fí-
sicas que as impossibilitam de tornar o ambiente mais seguro, o que pode
gerar maior insegurança e sofrimento (Teixeira et al., 2019).

57
No ambiente domiciliar, as quedas ocorrem, principalmente, no
quarto, banheiro e quintal. Essas quedas se dão, sobretudo, da própria al-
tura e muitas pessoas idosas relatam que elas ocorreram devido a perda do
equilíbrio, tontura, pisos irregulares e escorregadios (Araújo et al., 2019).
Muitas ações de prevenção de quedas estão relacionadas a modifica-
ções nos ambientes para torná-los mais seguros, principalmente o quarto,
banheiro e quintal, que são locais de maior frequência de quedas nos domi-
cílios (Teixeira et al., 2019). Algumas situações, áreas e atividade realizadas
no domicílio são destacadas como problemáticas por favorecerem o risco
de quedas, sendo elas: entrar e sair do domicílio, andar dentro do domicílio,
subir escadas, uso da cozinha e do banheiro, pisos irregulares e escorrega-
dios, tapetes e fios soltos, objetos soltos no quintal/jardim (WHO, 2021).
Todos esses fatores de risco são relevantes em todos os contextos as-
sistenciais à saúde da pessoa idosa, porém, no ambiente domiciliar, onde
não se tem supervisão e acompanhamento diário, o risco de quedas e as
suas consequências podem ser maiores. Essas consequências envolvem
também a necessidade de ajuda para realizar atividades básicas de vida diá-
ria devido às limitações decorrentes dela, a perda de autonomia, isolamento
e depressão (Araújo et al., 2019). O contexto domiciliar requer mais esforços
da equipe de saúde e da rede de apoio e políticas públicas para promoção
de hábitos saudáveis, prevenindo a incapacidade, dependência e perda da
autonomia da pessoa idosa.

Ambiente institucional
As quedas são eventos comun s na população idosa, porém, em ins-
tituições de longa permanência (ILPI), as taxas de quedas são as mais altas.
A incidência média estimada de quedas em ILPI é 43% (Shao et al., 2023),
o que demonstra a importância de identificar as causas da sua ocorrência e
intervir sobre elas, sobretudo pelas características das pessoas idosas que
residem nessas instituições e pela sua organização.
A organização dessas instituições se dá, em parte, como um ambien-
te doméstico, com a presença de profissionais que auxiliam no cuidado da

58
pessoa idosa que não é mais capaz de se cuidar sozinha. Isso se deve à difi-
culdade de adaptação a novos ambientes enfrentada pelas pessoas idosas e
que, quando institucionalizadas, têm maiores chances de cair e sofrer gra-
ves consequências dessa queda quando comparadas às pessoas que vivem
em seus domicílios (WHO, 2021).
Além disso, os fatores de risco para quedas em ILPI são diferentes da-
queles observados no domicílio e em hospitais, assim como as condições
de saúde dessas pessoas, por isso a necessidade de estudar as quedas nesse
ambiente. As pessoas idosas institucionalizadas são mais prováveis de cair
devido a idade avançada, presença de declínio cognitivo e comorbidades,
diminuição da autonomia e independência e falta de suporte familiar e so-
cial (Shao et al., 2023).
Apesar dessas características, as pessoas idosas institucionalizadas
que requerem um menor nível de cuidado são as que têm maior probabi-
lidade de cair (WHO, 2021). Isso ocorre devido ao nível de vulnerabilidade
dessas pessoas, condição inerente à institucionalização, que conseguem re-
alizar algumas atividades sozinhas, mas precisam de algum nível de assis-
tência. As instalações físicas das ILPIs também requerem atenção. Os quar-
tos e banheiros são os principais locais de quedas, enquanto os momentos
em que as quedas são mais frequentes são antes das refeições, entre o perí-
odo da manhã e meio dia e no final da tarde (WHO, 2021).
Dentre as consequências físicas das quedas em pessoas idosas insti-
tucionalizadas, destacam-se as fraturas, sobretudo de fêmur, lesão cerebral
traumática, lesão da medula espinhal e vértebras, danos aos órgãos intra
abdominais e intra torácicos, danos às articulações e tecidos moles, contu-
sões e cortes (WHO, 2021). Essas consequências podem levar a pessoa idosa
à hospitalização e morte, por isso a necessidade e urgência de ações para
prevenção de quedas.
Após a queda, a pessoa idosa pode sofrer alterações na cognição e
funcionalidade que pode ser para estabilidade, declínio lento ou rápido, po-
rém, com maior chances de declínio lento e rápido (Trevisan et al., 2022).
Ou seja, a pessoa idosa dificilmente irá voltar a seu estado funcional e cog-

59
nitivo antes da queda, o que demonstra que as consequências das quedas
se estendem pelo resto da vida dessa pessoa, afetando negativamente sua
autonomia e independência.
Há também consequências psicológicas das quedas como o medo
de cair novamente, que é comum em pessoas idosas institucionalizadas,
principalmente entre pessoas idosas com deficiências sensoriais, e que tem
impacto significativo na sua qualidade de vida (Lach et al., 2020). Isso de-
monstra a complexidade das consequências das quedas, que se amplificam
quando se trata de pessoas frágeis e vulneráveis.

Ambiente hospitalar
Em decorrência das alterações próprias da senescência como a pre-
sença concomitante de doenças crônicas, uso de múltiplos medicamentos,
declínio funcional e perda de massa muscular, a pessoa idosa hospitalizada
tende a ser mais frágil e mais predisposta a sofrer quedas (Silva; Costa; Reis,
2019). Ao avaliar os fatores de risco para quedas no ambiente hospitalar, é
necessário atentar para os fatores intrínsecos e extrínsecos e quais deles são
modificáveis.
No Brasil, tem sido observado um aumento de internações por que-
das em pessoas idosas. Essas internações foram mais frequentes em idosos
mais jovens (60 a 69 anos), porém, a letalidade, custos e tempo de inter-
nação aumentaram à medida que a idade avança. Além disso, destaca-se
que, apesar de uma maior proporção de hospitalizações de mulheres, são os
homens que mais caem e sofrem as consequências das quedas (Lima et al.,
2022). No entanto, a idade e o sexo são dois fatores que não são passíveis de
modificação, sendo importante considerar essas características ao avaliar o
risco de queda, mas, a equipe de saúde também deve atentar para o que se
pode mudar e melhorar, como o estado nutricional e o uso de medicamen-
tos, condições que são manejadas em ambiente hospitalar e que requerem
atenção para o seu monitoramento.
A desnutrição é uma condição associada às quedas intra-hospitalares
e que aumenta o risco da sua ocorrência com danos, além de contribuir para

60
um maior tempo de internação (Lackoff et al., 2020). A triagem e avaliação
nutricional do paciente idoso na admissão hospitalar pode contribuir para
identificação oportuna desse fator de risco intrínseco que é modificável. A
adoção de intervenções nutricionais para recuperação do estado nutricio-
nal pode ser atribuída aos protocolos de prevenção de quedas como medida
de prevenção.
Os fatores extrínsecos para as quedas são diversos e, no ambiente
hospitalar, eles podem ser amplificados. Apesar do monitoramento cons-
tante, muitos medicamentos favorecem as quedas em pessoas idosas, so-
bretudo sedativos, antipsicóticos, antidepressivos, psicotrópicos, anti-hi-
pertensivos, diuréticos e laxantes (Araújo et al., 2022). Esses medicamentos
são amplamente utilizados por pessoas idosas e necessitam de monitora-
mento e revisão, tendo em vista que muitos são inapropriados para essas
pessoas por favorecerem eventos adversos à saúde como as quedas.
A organização do ambiente pode favorecer a ocorrência de quedas,
como o excesso de móveis nas enfermarias, no entanto, a reordenação do
mobiliário das enfermarias apresenta-se como uma medida simples e de
fácil execução, mas que ajuda a prevenir a ocorrência de quedas nesse am-
biente (Chaves et al., 2018).
As consequências das quedas em pacientes idosos hospitalizados são
diversas. O agravamento da condição clínica, limitações físicas, incapacida-
des são algumas das consequências físicas das quedas com danos, porém,
as quedas podem levar a problemas sociais, econômicos e psicológicas, so-
bretudo pelo medo de cair novamente (Luzia et al., 2019), condição mais
frequente em pessoas que já cairam alguma vez e que são menos ativas, e
que interfere diretamente na qualidade de vida dessas pessoas (Nguyen et
al., 2020).
Diante da complexidade do evento queda e do contexto hospitalar,
a eliminação de todos os fatores de risco, sejam eles intrínsecos ou extrín-
secos, não é possível (Luzia et al., 2019). A identificação de fatores de risco
modificáveis é uma estratégia a ser adotada no ambiente hospitalar a fim de
minimizar o risco de quedas e consequentemente, o agravamento da condi-
ção de saúde dos pacientes idosos.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O evento queda é preocupante em todas as fases da vida, porém,


ao se tratar de pessoas idosas, é alarmante. As causas das quedas são diver-
sas, vão além dos fatores intrínsecos à pessoa idosa e podem ser agravados
pelo ambiente no qual ela se encontra. Além disso, as suas consequências
são significativas e geram impactos negativos em todas as dimensões da sua
vida, contribuindo para a dependência e perda da autonomia e qualidade
de vida. Por isso a necessidade de se avaliar as causas das quedas, sejam
elas relacionadas à pessoa idosa ou ao ambiente, e intervir sobre ela, mi-
nimizando e prevenindo, de forma multiprofissional e multidisciplinar, a
ocorrência desse evento e suas consequências.

62
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64
CAPÍTULO 5
FATORES DE RISCO PARA QUEDAS EM
PESSOAS IDOSAS: O IMPACTO DOS
MEDICAMENTOS DE ALTA VIGILÂNCIA
Angelo Maximo Soares de Araujo Filho
Jessica Roberts Fonseca
Maria Fernandes Costa dos Santos Ricardo
Rita de Cássia Azevedo Constantino
Ana Elza Oliveira de Mendonça

APRESENTAÇÃO

A inversão na estrutura etária da população brasileira emerge como


um fenômeno de magnitude, impactando não apenas na situação econô-
mica e social do país, mas também, de forma preponderante, a saúde da
população. O declínio nos índices de natalidade e mortalidade impulsiona o
processo de envelhecimento populacional, que se consolida como uma re-
alidade incontestável e presente na atual conjuntura da sociedade brasileira
(Oliveira et al., 2021).
A compreensão da epidemiologia das quedas em pessoas idosas é
fundamental para orientar políticas de saúde pública e práticas clínicas, vol-
tadas para a prevenção e manejo desses eventos. Diversos fatores de risco
estão associados às quedas em idosos, como idade avançada, polifarmácia,
desequilíbrio, fraqueza muscular, perda de sensibilidade e alto nível de de-
pendência funcional. Uma abordagem baseada em evidências, que consi-
dere esses fatores de risco em conjunto, é essencial para desenvolver inter-
venções eficazes e individualizadas que reduzam o impacto das quedas na
saúde e na qualidade de vida dessa população (Ferreira et al., 2023).
A ocorrência das quedas em pessoas idosas a partir dos 60 anos tem
gerado um alerta para o Sistema Único de Saúde (SUS), devido aos elevados
custos gerados em decorrência desses eventos. Um estudo de análise tem-
poral, desenvolvido no Brasil, no ano de 2023, identificou um crescimento
significativo nos números de quedas em pessoas idosas, óbitos e interna-
ções hospitalares por acidentes com quedas entre os anos de 2000 a 2020.
Ademais, estima-se que em 2025 o total de Internações por quedas será de
aproximadamente 150 mil (Novaes et al., 2023).
Entre os fatores predisponentes para as quedas destaca-se a polifar-
mácia, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2019) como o
uso simultâneo de cinco ou mais medicamentos por um mesmo paciente,
prática frequentemente observada em pessoas idosas portadoras de doen-
ças crônicas. Ademais, o uso concomitante de múltiplos medicamentos tor-
na o indivíduo suscetível a quedas e interações medicamentosas, além de
comprometer sua cognição e estado nutricional (WHO, 2019).
Embora esses fármacos sejam frequentemente prescritos para o ma-
nejo de condições crônicas de saúde, evidências científicas indicam uma
correlação entre o diagnóstico de doenças crônicas e o uso de determinados
grupos farmacológicos, como anti-hipertensivos, antidiabéticos, diuréticos
e antidepressivos, com um aumento significativo no risco de quedas (Soa-
res, 2024).
Em estudo realizado por Barros et al., 41,7% das pessoas idosas uti-
lizavam mais de três classes medicamentosas simultaneamente e cerca de
35% relataram ter sofrido quedas no último ano (Barros, 2012). Desse modo,
a polifarmácia torna-se para a pessoa idosa uma via de mão dupla, pois,
embora seja essencial para a terapêutica, também pode influenciar a ocor-
rência de quedas enquanto evento adverso que compromete a capacidade
funcional (Oliveira, 2023).
Diante disso, o presente capítulo tem como objetivo elencar as prin-
cipais classes farmacológicas que contribuem para episódios de quedas em
pessoas idosas e apresentar a escala Medication Fall Risk Score (MFRS) para
rastreio do risco.

66
CLASSES DE MEDICAMENTOS QUE INFLUENCIAM NAS QUEDAS:

Dentre a gama de medicamentos utilizados pela população idosa,


alguns têm maior possibilidade de aumentar o risco de quedas, pois seus
efeitos adversos relatados podem ocasionar sonolência, desequilíbrio,
tontura e inibição da coordenação motora. (Ming et al., 2018) Isso ocorre
principalmente com os psicotrópicos (dentre eles, benzodiazepínicos, an-
tidepressivos e antipsicóticos), analgésicos opioides (como, codeína e tra-
madol), hipnóticos e sedativos (exemplo zolpidem e zopiclona) (AGS, 2019)
e os hipotensores utilizados para tratamento da hipertensão arterial (como
captopril, hidroclorotiazida e losartana) (Dani et al., 2021).

Psicofármacos:
Na população com mais de 60 anos, as doenças afetivas, como de-
pressão e ansiedade, e as doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e
Parkinson, têm uma alta prevalência, gerando problemas significativos de
saúde mental e aumentando o uso de medicamentos psicotrópicos. Esse ce-
nário é particularmente preocupante devido ao fato desses medicamentos
representarem um importante fator de risco para quedas (AGS, 2019). Isso
foi corroborado por um estudo que identificou certos medicamentos que
impactam o sistema nervoso central como associados a um maior risco de
quedas (Soares et al., 2022).
O risco de quedas ocasionado pelos psicotrópicos e os opioides, ocorre
devido ao fato deles poderem desencadear efeitos adversos como, tontura,
sedação, alteração da marcha e do equilíbrio, distúrbios posturais e déficit
cognitivo. Em um estudo conduzido por Woolcott et al (2009), os pesquisa-
dores encontraram uma associação significativa entre o uso de sedativos,
hipnóticos, antidepressivos e benzodiazepínicos e a ocorrência de quedas,
sendo que o uso de antidepressivos mostrou a associação mais forte.

Anti-hipertensivos:
Os medicamentos anti-hipertensivos são prescritos para o tratamen-
to da hipertensão arterial sistêmica (HAS) e são distribuídos nas seguintes

67
classes: Diuréticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores diretos, anta-
gonistas do sistema renina-angiotensina e bloqueadores dos canais de cál-
cio. A escolha da terapia medicamentosa dependerá do estágio da doença,
sendo adotada a monoterapia no estágio 1 (130-139/85-89 mmHg) e asso-
ciação medicamentosa a partir do estágio 2 (160-179/100-109 mmHg), ou
estágio 1 com alto risco cardiovascular (Brasil, 2021).
No âmbito do SUS, os medicamentos são distribuídos de forma gra-
tuita nas Unidades Básicas de Saúde, além disso, 6 anti-hipertensivos es-
tão inclusos no programa farmácia popular, sendo eles: Atenolol, captopril,
enalapril, hidroclorotiazida, losartana e propranolol (Brasil, 2024).
Hipotensão ortostática: Se caracteriza por uma redução abrupta da
pressão arterial logo após assumir a posição ortostática (em pé) quando an-
teriormente se estava sentado ou deitado, levando a tontura, desmaio e po-
dendo resultar em perda de equilíbrio e queda (Dani et al., 2021).
Alteração no equilíbrio/marcha: Alguns anti-hipertensivos vasodi-
latadores podem resultar em alteração nos receptores sensoriais no sistema
nervoso central responsáveis por manter o equilíbrio e coordenação moto-
ra, levando a instabilidade durante a caminhada e potencializando o risco
de quedas (Albasri et al., 2021).
Desidratação: O uso dos diuréticos associado a redução na capacida-
de de retenção de água na pessoa idosa, leva a perda de eletrólitos respon-
sáveis por manter a função muscular intacta assim como também resulta
em excreção excessiva de água na urina. Em conjunto, esses fatores levam
a redução considerável da pressão arterial, resultando no desequilíbrio dos
fluidos corporais, vertigem e sensação de fraqueza generalizada, todos esses
fatores importantes para aumento no risco de quedas (Miller, 2015).

Rastreio do risco de queda por uso de fármacos:


Diante da preocupante situação do elevado número de quedas que
ocorrem em pessoas idosas, é fundamental concentrar esforços na preven-
ção desse problema. Para isso, é necessário identificar os fatores de risco

68
para quedas de maneira individualizada, o que consiste numa estratégia
crucial na elaboração de planos de educação em saúde personalizados para
cada pessoa (Bochnie et al., 2024) Para isso, é essencial que os profissionais
de saúde monitorem regularmente a lista de medicamentos prescritos aos
idosos, ponderando os riscos e benefícios de cada um.
Assim, torna-se evidente que a adoção de múltiplas estratégias pre-
ventivas é fundamental para abordar de forma abrangente a prevenção e a
gestão das quedas, assim como suas implicações (Silva et al., 2019).

Como avaliar?
Como já explicado anteriormente, a ocorrência de quedas, princi-
palmente na pessoa idosa, causa uma série de malefícios a sua saúde e é, em
sua maioria, um evento evitável. Diante disso, o uso de instrumentos para
rastreio do risco de quedas são essenciais para traçar estratégias eficientes
na redução de ameaças, sendo a combinação de escalas durante a avaliação
incentivada para que um maior nível de especificidade seja atingido (Mon-
teiro, 2023).
Visto a necessidade da avaliação do risco de quedas por uso de medi-
camentos, o Instituto de Práticas Seguras no Uso de Medicamentos (ISMP)
publicou no ano de 2017 o boletim “Medicamentos associados a ocorrência
de quedas”, no qual foi recomendado o uso da escala Medication Fall Risk
Score (MFRS). Essa escala define o grau de risco (alto, médio e baixo) a par-
tir da avaliação dos medicamentos que o paciente utiliza de forma contínua.
(ISMP, 2017).

69
Quadro 1. Distribuição dos itens avaliados conforme escala Medication Fall Risk Score (MFRS - BR).
Brasil, 2024.

Pontuação
Medicamentos Observações
(grau de risco)

Sedação, tontura,
distúrbios pos-
Opioides, antipsicóticos, anticonvulsivantes,
turais, alteração
3 (alto) benzodiazepínicos e outros hipnótico-seda-
da marcha e do
tivos
equilíbrio, déficit
cognitivo.

Indução do ortosta-
Anti-hipertensivos, medicamentos utilizados
tismo, comprometi-
2 (médio) no tratamento de doenças cardiovasculares,
mento da perfusão
antiarrítmicos e antidepressivos.
cerebral.

Aumento da deam-
1 (baixo) Diuréticos. bulação, indução
do ortostatismo.

FONTE: ISMP, 2017

Cada medicamento utilizado pela pessoa avaliada tem sua pontu-


ação medida de acordo com a posição da classe medicamentosa a qual o
fármaco pertence, caso sejam utilizados mais de um da mesma classe, a
pontuação deve ser multiplicada pelo número de medicamentos em uso da
categoria. O paciente que atingir pontuação maior ou igual a 6 nos itens ava-
liados pela escala apresenta alto risco de quedas (ISMP, 2017).
Eckert, Millão e Urbanetto (2023) avaliaram a aplicabilidade e adap-
tação da escala americana MFRS - BR entre profissionais de diversos esta-
dos brasileiros. Apesar de alguns participantes relatarem dificuldade no uso

70
devido ao conhecimento deficitário das classes farmacológicas, os resulta-
dos obtidos pelo estudo foram satisfatórios e considerou o instrumento váli-
do para utilização nos serviços de saúde brasileiro, com aprovação de 65,2%
dos profissionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O alto número de quedas em idosos representa uma preocupação


constante na saúde pública. Além disso, embora não haja um único fator
de risco identificado para quedas, medicamentos que afetam o sistema ner-
voso central, anti-hipertensivos e a idade avançada são influenciadores im-
portantes. Dessa forma, a revisão periódica dos medicamentos prescritos
emerge como uma estratégia crucial na prevenção de quedas, destacando a
importância do uso de ferramentas de avaliação do risco associado ao uso
desses medicamentos.
É fundamental que hospitais e instituições de cuidados de longa per-
manência adotem processos sistemáticos de revisão de medicamentos para
pacientes em risco de quedas. Com isso, a participação ativa de prestadores
de cuidados de saúde, pacientes e cuidadores é essencial para identificar
precisamente quais medicamentos podem contribuir para quedas. Além
disso, a implementação de dispositivos de segurança na administração de
medicamentos desempenha um papel significativo na minimização de er-
ros.
Para diminuir a probabilidade de quedas, é essencial um esforço co-
ordenado e persistente, que envolva uma comunicação eficaz entre todos
os setores do sistema de saúde. Incluindo a implementação de protocolos
e procedimentos que garantam a segurança do paciente em todas as etapas
do cuidado.

71
REFERÊNCIAS:

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adverse events: systematic review and meta-analysis. BMJ, p. n189, 10 fev.
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em: 2 mar. 2024.

74
EIXO 2

Medidas de Proteção de quedas


na população idosa em
diferentes cenários
CAPÍTULO 1
SEGURANÇA DA PESSOA IDOSA NA
PREVENÇÃO DE QUEDAS EM
DIFERENTES CONTEXTOS
Vilani Medeiros de Araújo Nunes
Susana Cecagno
Viviane Peixoto dos Santos Pennafort
Cecília Olívia Paraguai de Oliveira Saraiva
Ana Carolina Albuquerque

APRESENTAÇÃO

O envelhecimento é considerado um processo natural e contínuo, e


abordar suas demandas é crucial para a saúde da população em geral. Nes-
se processo, ocorrem alterações fisiológicas que podem aumentar a pro-
babilidade de quedas entre pessoas idosas, o que impacta diretamente na
qualidade de vida dessa população e de seus familiares, com importante
comprometimento da funcionalidade, convívio social e da autonomia na
realização das atividades cotidianas (Medeiros et al., 2023).
Os resultados das investigações sobre quedas na população idosa
nos últimos anos têm possibilitado a descrição dos fatores de risco em di-
ferentes contextos, bem como de medidas preventivas embasadas em evi-
dência para o controle do risco, da queda, das lesões secundárias e da sua
gravidade (Baixinho; Dixe, 2020).
Dessa forma, a prevenção de quedas envolve esforços na implemen-
tação de intervenções inovadoras nos diversos contextos, capazes de redu-
zir a incidência desse evento e promover maior segurança da pessoa idosa.
Com isso, diminui-se a morbimortalidade, contribuindo, assim, para a me-
lhor qualidade de vida dessa população.
Nesta perspectiva, objetivou-se evidenciar as principais intervenções
e estratégias para prevenção de quedas da pessoa idosa e redução dos fato-
res de risco nos diferentes cenários.

PREVENÇÃO DE QUEDAS DA PESSOA IDOSA


EM DIFERENTES CONTEXTOS

a) Prevenção de quedas na pessoa idosa no domicílio


Observa-se que o domicílio é o local mais propenso para a ocorrência
de quedas em pessoas idosas. Logo, a prevenção de quedas neste cenário
consiste em um grande desafio para os profissionais de saúde, familiares e
cuidadores, ao considerar os fatores de risco do ambiente e as estratégias
para melhor adesão da pessoa idosa às soluções, de forma a favorecer prota-
gonismo, independência, autonomia, desempenho ocupacional, interação
e participação social (Schuartz et al., 2023).
Relativo as estratégias preventivas, um estudo realizado por Medeiros
et al. (2023) instituiu um grupo denominado “Grupo Prevenção de Quedas
e Casa Segura” com foco na educação em saúde, a fim de sensibilizar e ins-
truir as pessoas idosas, familiares e cuidadores para que adotem medidas e
práticas protetivas contra quedas, tanto no domicílio quanto no ambiente
externo. O grupo promoveu situações de tomada de decisão autônoma pela
pessoa idosa, que inclui a escolha do tipo de calçado apropriado e da ilu-
minação adequada dos cômodos, a decisão sobre a disposição dos móveis
para evitar acidentes, a avaliação da necessidade de utilização de tapetes, a
opinião sobre a instalação das barras de apoio no banheiro e a escolha do
melhor exercício de acordo com sua condição física, entre outras mudanças
de comportamento e adaptações nos ambientes da casa. Também foram es-
timulados a identificar os cuidados na prevenção de quedas em ambientes
externos, como atravessar as ruas com segurança e atenção, observar onde
pisam e evitar carregar muito peso (Medeiros et al., 2023).

77
Deste modo, sugerir recomendações pontuais para minimizar riscos
e evitar acidentes no domicílio da pessoa idosa é vantajoso. Contudo, deve-
-se reconhecer os benefícios da adequação ambiental de forma ampla, para
que tais modificações possam, além de evitar as quedas, contribuir para a
redução dos impactos no sistema de saúde. Assim, as políticas públicas se
tornam tão relevantes nessa temática, considerando o Estado a fonte para
garantir uma forma de orientar e prover suporte para a adequação da mora-
dia, além das melhorias dos espaços públicos (Tissot et al., 2023).
Neste contexto, as gerontotecnologias se destacam como ferramentas
educativas eficazes na prevenção de quedas da pessoa idosa no domicílio.
Dentre elas, as cartilhas educativas e os jogos de memória demonstram po-
tencial para orientação dos cuidados de idosos com Doença de Parkinson
(DP). Um jogo elaborado com base na marcha e na memória, identificadas
como necessidades emergentes na avaliação realizada junto às pessoas ido-
sas com a DP, promoveu o autocuidado e esclareceu dúvidas sobre a DP, si-
nais e sintomas, trazendo novos conceitos e cuidados para evitar as quedas.
Dessa forma, a utilização de gerontotecnologias criativas e de fácil compre-
ensão, tornam-se mais atrativas e facilitam a interação da pessoa idosa na
aquisição de novos conhecimentos para mudança de hábitos e condutas na
prevenção de quedas (Ferreira et al, 2021).

b) Prevenção de quedas em Instituição de Longa


Permanência para Idosos (ILPI)
As pessoas idosas residentes em ILPI apresentam três vezes mais
probabilidades de sofrer uma queda do que aqueles que residem em suas
próprias casas. E, para estes, as consequências deste acidente são mais ne-
fastas, resultando frequentemente em declínio funcional, incapacidade,
dependência e diminuição da qualidade de vida (Baixinho e Dixe, 2020).
Segundo esses autores, a população idosa institucionalizada integra um
grupo heterogêneo em seus diagnósticos, status funcional e objetivos de
tratamento subjacentes, o que dificulta a intervenção dos profissionais na
introdução de medidas preventivas. Verificaram ainda nessas instituições
problemas na organização dos cuidados associados à falta de unidades es-

78
pecializadas, sobrecarga de trabalho, ausência de formação e comunicação
das equipes.
O cuidado qualificado às pessoas idosas residentes em Instituições
de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), requer profissionais preparados
para avaliá-lo de forma integral e que implementa intervenções fundamen-
tadas em atividades de prevenção e promoção da saúde, com o objetivo de
evitar uma série de agravos e incapacidades relacionados ao desempenho
das atividades de vida diária, a exemplo da prevenção de quedas (Coutinho
et al., 2021).

c) Prevenção de quedas da pessoa idosa em ambiente


hospitalar
O elevado risco de quedas em idosos hospitalizados está diretamente
relacionado com a presença de déficit cognitivo, síndrome da fragilidade e o
risco para sarcopenia. Estes são fatores que merecem atenção dos gestores e
profissionais de enfermagem para a oferta de um cuidado seguro (Caetano
et al., 2023).
Estudo realizado em um hospital universitário da região sul do Brasil
identificou nas unidades de atendimento cirúrgico e emergência que o local
mais frequente de queda foi a enfermaria, já nas unidades de atendimento
clínico, o banheiro foi o local de maior incidência. Neste cenário, ocorreram
danos em mais de 20% das quedas, sendo a abrasão o tipo de dano mais
prevalente nas unidades de atendimentos cirúrgicos. A partir da análise dos
eventos notificados, optou-se pelo planejamento e a implantação do Progra-
ma Fall Tailoring Interventions for Patient Safety (Fall TIPS) para prevenção
de quedas, considerado uma inovação tecnológica para o cuidado em saúde
e a mitigação de destes incidentes na realidade brasileira, em especial, para
a pessoa idosa (Hermann et al., 2023).
Outra estratégia considerada útil, foi a utilização de um protótipo
(meias) 3S – Smart Safe Shoes por pessoas idosas internadas com risco de
queda em hospital do norte de Portugal. Os enfermeiros que avaliaram o
produto consideraram que as meias são fáceis de calçar e se adaptam às

79
diferentes regiões anatômicas do pé, com propriedades antiderrapantes nos
pisos testados; e na maioria das situações, permitem uma boa mobilidade
dos dedos. Esse dispositivo apresentou características necessárias para ga-
rantir uma marcha segura, sendo recomendado para utilização em outros
contextos (Martins et al., 2023).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Independente do cenário que ocorram as quedas, torna-se importan-


te, a adoção de boas práticas pelas pessoas que atuam no cuidado e na as-
sistência às pessoas idosas, além de buscar promover a autonomia dessas
pessoas, na perspectiva da segurança e melhoria contínua da qualidade dos
cuidados com o foco na prevenção de quedas.
Outro destaque importante são as intervenções eficazes para preven-
ção de quedas na população idosa que abrangem programas de exercícios
físicos e atividades lúdicas ligadas a qualidade de vida, além, de interven-
ções multicomponentes, ambas com vistas ao fortalecimento musculoes-
quelético, à manutenção da funcionalidade geriátrica, à melhoria do equi-
líbrio, à coordenação motora, à avaliação de riscos e prevenção de quedas.
O desenvolvimento de tais intervenções impacta diretamente na di-
minuição de fatores de riscos (intrínsecos e extrínsecos) para ocorrência de
quedas, o que poderá influenciar na promoção da qualidade de vida da po-
pulação idosa, com vistas à preservação da autonomia e da independência
na realização das atividades de vida diária.

80
REFERÊNCIAS

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para prevenir as quedas nos idosos institucionalizados? Revista Baiana
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82
CAPÍTULO 2
ESTRATÉGIAS FISIOTERAPÊUTICAS
NA PREVENÇÃO DE QUEDAS
EM PESSOAS IDOSAS
Clarissa Fernandes Bezerra
Ana Beatriz de Oliveira Bezerra
Maria Clara Silva de Melo

APRESENTAÇÃO

A ocorrência de quedas em pessoas idosas é considerada um proble-


ma de saúde pública, uma vez que gera prejuízos em diversos contextos de
vida dessa população (Vale et al., 2020). As consequências incluem lesões e
fraturas, dores, déficits funcionais, insegurança na realização das atividades
diárias, hospitalizações, custos elevados em saúde, ou até mesmo o óbito
(Sherrington et al., 2019; Lewis et al., 2024).
Segundo estimativas anuais, cerca de 30% das pessoas com idade aci-
ma de 65 anos e 50% das pessoas com idade acima de 80 anos referem episó-
dios de queda (Pereira; Kanashiro, 2022). Além disso, aquelas que possuem
histórico de quedas pregressas apresentam maior risco para novos episó-
dios se comparados àqueles que nunca caíram (Prabhakaran et al., 2019).
No Brasil, o aumento da expectativa de vida da população é um alerta sobre
a necessidade de estratégias de prevenção de quedas em pessoas idosas, a
fim de minimizar as consequências à saúde dessa população e os custos no
Sistema Único de Saúde - SUS (IBGE, 2023; Andrade et al., 2019).
O risco de queda é multifatorial. A idade avançada, o sexo feminino,
histórico de quedas anteriores e a presença de doenças associadas - como
osteoporose, sarcopenia, Doença de Parkinson, Acidente Vascular Cerebral
(AVC) e doenças neuromusculares - são importantes fatores de risco não
modificáveis. Ainda, a polifarmácia, déficit nutricional, sedentarismo, as-
pectos ambientais e comportamentais são fatores que podem ser modifica-
dos e/ou ajustados (Pereira; Kanashiro, 2022). Compreende-se, portanto, a
importância de uma avaliação minuciosa dos fatores de risco por parte de
uma equipe multiprofissional, que inclui o profissional fisioterapeuta (Bra-
sil, 2023).
Dessa forma, o presente capítulo tem por objetivo elencar estratégias
fisioterapêuticas na prevenção de quedas em pessoas idosas.

ESTRATÉGIAS FISIOTERAPÊUTICAS

O calçado
Conhecer o tipo de calçado de uso habitual da pessoa idosa faz par-
te da avaliação fisioterapêutica, sendo papel do fisioterapeuta realizar ade-
quações e orientações quando necessário (Brasil, 2023).
As melhores opções de calçados incluem sapatos fechados, sandálias
com tira posterior e superior, que sejam fáceis de calçar, confortável, de ta-
manho adequado, material resistente e preferencialmente antiderrapantes,
com solado emborrachado. Além disso, é necessário observar o nível de
desgaste desse calçado e a região com maior distribuição de pressão, optan-
do pela substituição em caso de desgaste excessivo e deformação (Hatton;
Rome, 2019).
A fim de aumentar a segurança, deve-se orientar a pessoa idosa quan-
to ao hábito de sentar-se para calçar o seu sapato, de manter a vigilância em
tiras e cadarços para garantir que estejam bem posicionadas e amarradas.
Orienta-se ainda que evitem andar descalço ou apenas com meias (Clem-
son et al., 2023).
Outro ponto importante diz respeito ao uso de sandálias ou chinelos
que apresentam uma tira em formato de Y que passa entre o primeiro e se-
gundo dedo do pé e uma sola chata em borracha. Esse modelo apresenta
elevado risco de queda por não ser fixo e, dessa forma, diminui o feedback
sensorial da sola do pé durante interações com ambientes externos e predis-
põem à queda (Cudejko et al., 2020).
84
O ambiente
Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapaci-
dade e Saúde - CIF, o ambiente exerce forte influência no conceito de saúde
das pessoas a partir de barreiras ou facilitadores (OMS, 2004).
No que se refere à ocorrência de quedas em pessoas idosas, entende-
-se que potenciais barreiras podem ser importantes fatores de risco. Cerca
de 30% das quedas nessa população ocorrem devido a fatores ambientais
(Clemson et al., 2023). Sendo assim, há a necessidade da avaliação do con-
texto ambiental em que a pessoa idosa está inserida para que o fisioterapeu-
ta possa realizar adequações de forma a conter os episódios de queda.

Ambiente domiciliar
Durante uma avaliação domiciliar, o fisioterapeuta deve atentar-se
quanto ao espaço físico e a forma como os móveis e objetos estão dispos-
tos. A pessoa idosa e seus familiares devem ser orientados a evitar exces-
so de móveis, principalmente em espaços muito estreitos que dificultem
a locomoção. Ao possuírem tapetes, estes devem estar fixados ao solo, em
boas condições, sem fios soltos, sendo preferencialmente antiderrapantes.
Ainda, faz-se necessário a instalação de barras de apoio em áreas molha-
das e onde são realizadas transferências, como próximo à cama e ao vaso
sanitário, além de corrimão em locais com a presença de escadas e degraus
(Clemson et. al., 2023).
Para otimizar o tempo e garantir maior segurança, sugere-se organi-
zar os objetos mais utilizados em local de fácil acesso, evitando que o idoso
precise subir em cadeira e/ou escada e abaixar-se para alcançar algo. Com
relação a iluminação do ambiente, é essencial garantir que esteja adequada
e disponibilizar interruptor e lanterna próximos ao idoso, principalmente
no período noturno (Clemson et. al., 2023).

Ambiente externo ao domicílio


A Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, visa garantir a acessibi-
lidade de pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida em espaços

85
públicos e privados (Brasil, 2000). No entanto, o previsto por lei não é oferta-
do de forma satisfatória na maioria dos casos, gerando constrangimentos e
riscos. Sendo assim, estratégias individuais necessitam ser criadas para que
se evite episódios de quedas.
A recomendação do uso de sapatos adequados, como menciona-
do anteriormente, deve ser reforçada em condições externas ao domicílio.
Além disso, deve-se evitar locais muito cheios e com excesso de desníveis.
Ainda, recomenda-se que a pessoa idosa esteja acompanhada sempre que
possível, dependendo também do seu nível de dependência (Brasil, 2023).
O uso de transporte público pode ser, em muitos casos, o único meio
de transporte pelo qual a pessoa idosa tem acesso. Por isso, sugere-se que
evitem este meio em horários de grande fluxo de pessoas, como inícios da
manhã e da noite (Clemson et. al., 2023).

Prática de exercícios físicos


O risco de quedas está associado a fatores como déficit de força mus-
cular, de controle postural e equilíbrio (Andrade et al., 2019), e no contexto
da Gerontologia, o fisioterapeuta atua atenuando e prevenindo estas con-
dições. A avaliação física contribui para o plano de intervenção mais ade-
quado à pessoa idosa, e pode incluir a prescrição de exercícios ativos livres
e resistidos, alongamentos, treinamento aeróbico, equilíbrio, dupla tarefa e
controle postural. Tal prática contribui para a redução do risco de quedas e
aumento da funcionalidade, a partir do fortalecimento muscular, ganho de
equilíbrio e mobilidade (Sadaqa et al., 2023).
Esse plano de intervenção pode abranger a prescrição de exercícios
físicos domiciliares, de modo a tornar um treinamento mais intensivo e efe-
tivo, desde que seja executado com segurança. Essa conduta é baseada no
Cuidado Centrado na Pessoa e na Família, o qual direciona ao paciente e
sua rede de apoio o gerenciamento das decisões e responsabilidades em
saúde (Cruz; Pedreira, 2020).

86
Uso de dispositivos auxiliares da marcha
A mobilidade é um dos aspectos mais relevantes da avaliação fisio-
terapêutica e está intimamente relacionada à locomoção e independência
funcional. Ao identificar o risco de queda na avaliação da pessoa idosa, faz-
-se necessário a prescrição de um dispositivo auxiliar à marcha, como ben-
gala, andador ou cadeira de rodas. A escolha de um desses itens deve ser
feita por um profissional de saúde capacitado e é baseada na necessidade da
pessoa idosa, considerando o grau de força muscular de membros, controle
de tronco, equilíbrio postural e função cognitiva. Após a seleção do disposi-
tivo, deve-se realizar possíveis adaptações, ajuste de altura, e o treino para
seu uso, no contexto de marcha e de transferências, de modo a diminuir o
risco de queda e evitar o abandono do dispositivo (Brasil, 2023).
A prescrição do tipo de dispositivo pode variar de acordo com o ní-
vel de deambulação. Por exemplo, o fisioterapeuta pode considerar para o
mesmo paciente o uso de andador no ambiente domiciliar, caracterizado
por curtas distâncias, e o uso de cadeira de rodas no contexto comunitário,
o qual demanda maior gasto energético (Viosca et al., 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prevenção de quedas na população idosa abrange diversos contex-


tos, sendo os fatores ambientais e comportamentais fortes influências nesse
cuidado. O fisioterapeuta consiste de um profissional capacitado para ava-
liar, estabelecer condutas e orientar a pessoa idosa e seus familiares e/ou
cuidadores quanto às estratégias para prevenir quedas.
Dentre as estratégias fisioterapêuticas, a avaliação do tipo de calçado
utilizado e as condições ambientais em que a pessoa idosa está inserida,
aliado à prescrição de exercícios físicos adequados e ao possível uso de dis-
positivos auxiliares à marcha, podem favorecer a independência funcional,
reduzir o risco de quedas e melhorar a qualidade de vida da pessoa idosa.

87
REFERÊNCIAS

ANDRADE, Juliana Mara; DUARTE, Yeda Aparecida De Oliveira; ALVES,


Luciana Correia; ANDRADE, Flávia Cristina Drumond; SOUZA JUNIOR,
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Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm.
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Viktória; HOCK, Márta. Effectiveness of exercise interventions on fall
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Lindy; HOPEWELL, Sally; LAMB, Sarah E. Exercise for preventing falls in
older people living in the community. Cochrane Database of Systematic
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Disponível em: http://doi.wiley.com/10.1002/14651858.CD012424.pub2.

VALE, Pauliane Marques; LONTRA, Vania Aparecida Marques; RAMOS,


Mariane Araújo; SOUZA, Maurício José Cordeiro; NEMER, Camila
Rodrigues Barbosa; MENEZES, Rubens Alex de Oliveira. Principais fatores
de riscos relacionados a queda em idosos e suas consequências: revisão
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a039. Disponível em: https://pubsaude.com.br/revista/principais-fatores-
de-riscos-relacionados-a-queda-em-idosos-e-suas-consequencias-
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VIOSCA, Enrique; MARTÍNEZ, José L.; ALMAGRO, Pedro L.; GRACIA,


Antonio; GONZÁLEZ, Carmen. Proposal and Validation of a New
Functional Ambulation Classification Scale for Clinical Use. Archives of
Physical Medicine and Rehabilitation, [S. l.], v. 86, n. 6, p. 1234–1238, 2005.
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elsevier.com/retrieve/pii/S0003999305000651

90
CAPÍTULO 3
ELABORANDO PLANOS DE CUIDADOS
NA PREVENÇÃO DE QUEDAS
NOS DOMICÍLIOS
Leila Medeiros de Azevedo
Ana Luísa Silva Maciel
Betina Barbiero Saad Formiga
Beatriz Noele Azevedo Lopes

APRESENTAÇÃO

Dentre as diversas Síndromes Geriátricas, existe o evento “queda”, que


configura um acontecimento traumático na vida da pessoa idosa. Sabe-se
que as causas para esse evento, na população idosa, incluem um aumen-
to da prevalência de doenças crônicas, déficits nas funções sensoriais, di-
minuição de força muscular, sedentarismo e distúrbios de marcha ou de
equilíbrio. Os domicílios precisam ser adaptados para a maior segurança e
cuidado com os idosos, considerando que a queda e suas complicações são
uma causa importante de internação na população idosa.
Nesse contexto, este capítulo tem como objetivo discorrer sobre os
principais fatores de risco associados às quedas no domicílio, de modo a
se evitar novos episódios e se adequar o domicílio para atender as necessi-
dades das pessoas idosas, minimizando riscos de novos eventos a partir da
elaboração de um plano de cuidados (Santos; Figueiredo, 2019).

PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA AS QUEDAS NO DOMICÍLIO

Para Carvalho e Martins (2021), a maioria das quedas ocorre no am-


biente domiciliar ou em seus arredores, durante a execução de atividades de
vida diárias, como caminhar ou ir ao banheiro.
Existem fatores de risco intrínsecos (do paciente) e extrínsecos (am-
bientais) que aumentam o risco de queda. Os principais fatores de risco in-
trínsecos são: diminuição de força muscular, osteoporose, arritmias cardía-
cas, alterações na pressão arterial, depressão, problemas nas articulações,
alterações neurológicas, uso de múltiplas medicações e diminuição de visão
ou de audição. Existem algumas intervenções que podem reduzir tais fato-
res de risco, dentre elas a prática de atividade física, uso de calçados apro-
priados e adaptações do domicílio (Ang; Low; How, 2020).
Além disso, é importante ressaltar que morar sozinho é um fator de
risco relevante para quedas, como demonstrado em estudo que avaliou pes-
soas idosas caidoras (Dias, 2023). Diante disso, entende-se o papel do cui-
dador como essencial para a otimização do espaço domiciliar, tornando a
casa um ambiente mais seguro para que a pessoa idosa possa executar suas
atividades cotidianas com menores riscos.
Já os fatores de risco para quedas relacionadas ao ambiente domici-
liar são: baixa iluminação; presença de múltiplos desníveis e escadas; dispo-
sição inadequada de móveis, tornando os ambientes de passagem cheios de
obstáculos; presença de tapetes ou de pisos escorregadios e pisos ou carpe-
tes com desenhos ou estampas (Paiva, 2021).

MODIFICAÇÕES NO DOMICÍLIO PARA


DIMINUIR O RISCO DE QUEDAS

Os domicílios precisam ser adaptados para a maior segurança e cui-


dado com os idosos, já que a queda e suas complicações são uma causa
importante de internação na população idosa.. Keall et al., (2015) identifi-
caram que alterações e reparos de baixo custo no ambiente domiciliar são
efetivos para reduzir o risco de ferimentos decorrentes de quedas na popu-
lação idosa. O Manual de Prevenção de Quedas para Idosos, proposto pela
Universidade Federal do Paraná (Arsie, 2021) e o Manual de Boas Práticas
- Prevenção de Quedas em Idosos, da Universidade de Coimbra (Almeida,
2022), sugerem mudanças em acessórios utilizados pelo idoso e adaptações
em cômodos no domicílio, dentre as quais se destacam:

92
Sapatos
Os idosos devem usar sapatos com solas antiderrapantes e bem pre-
sos ao pé (preso ao calcanhar), evitando sandálias, chinelos de dedo, ou sa-
patos com salto alto.

Iluminação
Em toda a casa, é importante manter os ambientes bem iluminados,
mantendo interruptores em locais de fácil acesso e evitando que qualquer
deslocamento ou atividade sejam realizados com as luzes desligadas.

Chão e pavimentos
O uso de tapetes deve ser evitado, porém, caso necessário, eles devem
ser antiderrapantes ou fixados ao chão. O piso deve ser o menos escorre-
gadio possível, sendo mantido sempre seco e em boas condições, evitando
também a presença de obstáculos, como fios ou objetos pequenos espalha-
dos pelo chão. Em caso de lugares onde existam desníveis, devem ser usa-
das diferentes cores e texturas para destacar a mudança de nível. Caso seja
necessário, para caminhar, devem ser utilizados dispositivos auxiliares de
marcha, como andador e bengalas.

Escadas
As escadas devem ser bem iluminadas, com presença de corrimão
em ambos os lados. É importante que a pessoa idosa caminhe com calma e
cuidado ao descer as escadas, nunca se apressando. Caso possível, o uso de
fitas adesivas antiderrapantes coloridas deve ser feito para parar as bordas
dos degraus.

Banheiros
É o local que apresenta maior risco para quedas na casa, então é es-
sencial realizar as mudanças nesse cômodo. É importante que existam bar-
ras de proteção dentro do box e em frente ao vaso sanitário, a cerca de 75

93
cm do chão. É aconselhável que o idoso tome banho se segurando na barra
ou sentado em uma cadeira. Para evitar instabilidades posturais, uma boa
opção é o uso de pisos antiderrapantes ou tapetes emborrachados com ven-
tosas. Além disso, o vaso sanitário deve ser elevado (46 a 50 cm do chão).
Por último, é crucial pensar no posicionamento dos itens para evitar que o
chão fique molhado, dessa maneira, toalhas devem ser colocadas próximo
à área de banho.

Sala
É crucial não utilizar tapetes. Usar móveis fixos, evitando aqueles com
quinas pontudas ou com materiais facilmente quebráveis, como mesas de
vidro. Para sofás e poltronas, o ideal é que os assentos sejam elevados e te-
nham braços.

Cozinha
Nesse ambiente, os itens mais utilizados devem ser mantidos em lu-
gares de fácil acesso, a nível dos olhos, evitando o uso de escadas e bancos
para alcançar objetos mais altos. Ao manusear itens quentes, o uso de luvas
térmicas é indicado. Também, para evitar períodos prolongados em pé, po-
dem ser utilizados bancos e cadeiras para realizar as funções sentado.

Quarto
É essencial prezar pela iluminação adequada, utilizando de interrup-
tores ou abajures perto da cama, evitando qualquer deslocamento no escu-
ro. Além disso, manter óculos e telefone ao lado da cama é indicado. A cama
deve ter cabeceira e uma altura média de 50 cm, incluindo o colchão, deven-
do a pessoa idosa conseguir apoiar os pés no chão ao se sentar. É comum a
presença de tontura em idosos, em caso de mudanças bruscas de posição,
sendo importante orientar a necessidade de ficar alguns minutos sentados
antes de se levantar.

94
Peridomicílio
Em caso de deslocamentos para fora do ambiente domiciliar, é impor-
tante realizar a manutenção de calçadas e dos caminhos a serem utilizados,
evitando desníveis, folhas, musgos, árvores no caminho e possíveis obstácu-
los no chão. É vital instruir o idoso a evitar caminhadas em áreas pavimenta-
das molhadas e com árvores.

CAÍ, E AGORA?

Apesar do uso de estratégias que reduzam o risco de quedas, even-


tuais acidentes podem ocorrer, sendo necessário que as pessoas idosas e os
seus cuidadores saibam como agir em caso de queda. Mantenha uma lista
telefônica com contatos de emergência, perto do telefone, para facilitar a
ligação em caso de possíveis acidentes, de acordo com o Manual de Boas
Práticas - Prevenção de Quedas em Idosos, da Universidade de Coimbra (Al-
meida, 2022),
Caso o idoso esteja sozinho no momento da queda, o ideal é ficar
onde está e chamar por ajuda. Caso não haja ajuda disponível e o idoso não
esteja com ferimentos graves ou dor, a forma mais segura para se reerguer é
se apoiar em algo firme. Ao encontrar uma estrutura fixa, o idoso deve rolar
ou se arrastar até ela, se levantando a partir da posição ajoelhada (Almeida,
2022). Existem inúmeros dispositivos tecnológicos que podem ser utiliza-
dos para uma uma casa mais inteligente e um ambiente mais seguro, ao au-
xiliarem na detecção de quedas, entre os quais se destacam alarmes, colares
com botões de alerta e relógios inteligentes (Torres, 2018).
Após a queda, é muito importante conversar com um médico sobre
o ocorrido, para que o acidente seja investigado e seja criado um plano de
ação direcionado aos possíveis desencadeadores do evento. Mesmo na au-
sência de quedas prévias, pelo menos uma vez por ano, todo idoso deve ser
questionado sobre possíveis quedas e suas causas pelo Médico Geriatra ou
pelo Médico da Atenção Primária à Saúde (Ang; Low; How, 2020).

95
A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA
NA PREVENÇÃO DE QUEDA

Sabe-se que o declínio da força muscular é um dos principais fatores


associados às quedas, além de ter importante papel na instauração do medo
de cair dentre as pessoas idosas. Esse receio gera um ciclo, haja vista que
o medo de novos eventos oprime o idoso, o qual tende a diminuir as suas
atividades diárias e a se tornar mais sedentário. Tal impacto em sua funcio-
nalidade o torna menos ativo física e mentalmente, de modo a aumentar os
riscos de outras quedas (Nogueira, 2023).
Nesse sentido, o sedentarismo compreende um importante fator de
risco para a qualidade de vida da pessoa idosa (Oliveira, 2020), por estar
associado (Domingos; Vanderley, 2021) a uma redução de massa muscular,
à sarcopenia e à fragilidade, constituindo, portanto, elemento a ser conside-
rado no contexto de prevenção a quedas no paciente idoso. Estudo recente
(Johansson, 2021) sugere que a prática de 30 minutos diários de atividade
física reduz consideravelmente o risco de desenvolvimento de sarcopenia.
Tal análise corrobora a necessidade de se incluir o comportamento ativo na
busca para se alcançar o envelhecimento saudável, sendo este um impor-
tante aliado na prevenção de quedas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se as quedas como eventos traumáticos na vida da pessoa


idosa, sendo estas dependentes de fatores extrínsecos, isto é, ligados ao
ambiente em que o paciente reside; e de fatores intrínsecos, associados às
próprias particularidades clínicas do indivíduo. O conhecimento dos fatores
de risco para esse evento é essencial para a sua prevenção, sendo este um
papel desempenhado pelos cuidadores das pessoas idosas. É essencial, ain-
da, incluir o idoso nesse processo, tornando-o membro ativo nas condutas
voltadas ao seu envelhecimento saudável e ativo.

96
A elaboração de um Plano de Cuidados voltado à prevenção de que-
das, por meio de adaptações nos domicílios, tem como enfoque a redução
de episódios traumáticos e deve ser realizada de forma individualizada,
considerando as particularidades de cada idoso. Adaptações simples, como
a retirada de tapetes do ambiente domiciliar, já configuram medidas essen-
ciais para a questão, conforme foi supracitado neste capítulo.
Os cuidadores devem, além de incluir a pessoa idosa na elaboração
do seu Plano de Cuidado, estimular a prática de exercícios físicos, de forma
supervisionada e respeitando as limitações de cada paciente.

97
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Anamélia et al., Manual de Boas Práticas - Prevenção de Quedas


em Idosos. Coimbra: Cáritas Diocesana de Coimbra, 2022.

ANG, G. C.; LOW, S. L.; HOW, C. H. Approach to falls among the elderly
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Curitiba: UFPR, 2021. 29p.

CARVALHO, M. S. de; MARTINS, P.; SANTOS, F. S. .; QUEIROZ, D. T. S.


Quedas em idosos comunitários atendidos por uma estratégia de saúde da
família do município de São Leopoldo: prevalência e fatores associados.
Acta Fisiátrica, [S. l.], v. 28, n. 4, p. 259-267, 2021.

CHIOSSI, N. Daniela; COUTO, V. Tatiana. Manual de Prevenção de Quedas.


São Paulo: Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual,
2021. 16p.

DIAS, Adriana Luna Pinto; PEREIRA, Fabrícia Alves; BARBOSA, Cláudia


Paloma de Lima; ARAÚJO-MONTEIRO, Gleicy Karine Nascimento de;
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Risco de quedas e a síndrome da fragilidade no idoso. Acta Paul Enferm, v.
36, eAPE006731, abr. 2023.

DOMINGOS, Ângela Maria Oliveira; VANDERLEY, Alycia Santos; SILVA,


Edclênia Carla Marques; SILVA, Vanessa Milena Guedes de Lima;
CALHEIRO, Monique Suiane Cavalcante; DE MELO, Givânya Bezerra. O
SEDENTARISMO NO IDOSO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA QUALIDADE
DE VIDA. Caderno de Graduação - Ciências Biológicas e da Saúde - UNIT
- ALAGOAS, [S. l.], v. 7, n. 1, p. 13, 2021.

JOHANSSON, J., MORSETH, B., SCOTT, D., STRAND, B.H., HOPSTOCK,


L.A.; and GRIMSGAARD, S. (2021) Moderate-to-vigorous physical activity
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98
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of fear of falling and risk of sarcopenia in older adults. Fisioterapia em
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OLIVEIRA, D. V. de. O comportamento sedentário na população idosa:


hábito contrário ao envelhecimento saudável. Revista Kairós-Gerontologia,
[S. l.], v. 23, p. 35–40, 2020

PAIVA, M. M. DE .; LIMA, M. G.; BARROS, M. B. DE A.. Quedas e qualidade


de vida relacionada à saúde em idosos: influência do tipo, frequência e
local de ocorrência das quedas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, p. 5099–
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SANTOS, S. C. A. DOS .; FIGUEIREDO, D. M. P. DE .. Preditores do medo


de cair em idosos portugueses na comunidade: um estudo exploratório.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 1, p. 77–86, jan. 2019.

TORRES, Guilherme Gerzson. Tecnologia Assistiva para Detecção de


Quedas: Desenvolvimento de sensor vestível integrado ao sistema de casa
inteligente. 2018. 71f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica)
- Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018. 71p.

99
CAPÍTULO 4
PLANO DE CUIDADOS NA PREVENÇÃO
DE QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS:
PORQUE É NECESSÁRIO?
Angélica Quirino da Costa
Cristiane Kalline Silva Costa de Araújo
Maria Elizabeth de Sousa

APRESENTAÇÃO

De acordo com o Ministério da Saúde, atualmente o perfil da maioria


da população idosa residente nos lares geriátricos é composta por pessoas
com idade avançada, na faixa etária igual ou maior que 60 anos de idade,
como é preconizado na legislação brasileira, sexo feminino, com equilíbrio
prejudicado, a marcha senil (lenta), fraqueza muscular em membros, imo-
bilidade, perda cognitiva, com diagnósticos que afetam sua capacidade fun-
cional (ex: doença de Parkinson), com prescrição de hipnóticos/ansiolíticos
e polifarmácia. E esses são exatamente os principais fatores que favorecem
a ocorrência das quedas nessas pessoas (Brasil, 2006).
Considerando esse cenário, o objetivo deste capítulo é orientar as Ins-
tituições de longa permanência para idosos (ILPI) sobre a importância da
implantação e implementação de um Plano de Cuidados na Prevenção de
Quedas.

CONTEXTUALIZANDO A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESSOA IDOSA

A RDC n° 502/2021 define ILPI como sendo instituições governamen-


tais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada a domicílio
coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem su-
porte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania.” (ANVI-
SA, 2021).
Segundo Camarano et al., (2010) a institucionalização de pessoas
idosas é um fenômeno complexo influenciado por uma variedade de fato-
res. Dentre os quais destacam-se: dificuldades financeiras na família e/ou
conflitos familiares, ausência de suporte do grupo familiar e/ou a crescente
demanda por cuidados em relação ao idoso, além de comprometimentos
físicos e mentais.

QUEDAS ENTRE PESSOAS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS

Queda pode ser definida como sendo o deslocamento não intencional


do corpo para um nível inferior à posição inicial, provocado por circunstân-
cias multifatoriais, resultando ou não em dano. Considera-se queda quando
o paciente é encontrado no chão ou quando, durante o deslocamento, ne-
cessita de amparo, ainda que não chegue ao chão. A queda pode ocorrer da
própria altura, da maca/cama ou de assentos (cadeira de rodas, poltronas,
cadeiras, cadeira higiênica, banheira, trocador de fraldas, bebê conforto,
berço etc.), incluindo vaso sanitário (SBGG, 2008; Brasil, 2013).

PLANO DE CUIDADOS NA PREVENÇÃO DE QUEDAS EM ILPIS

Considerando a vulnerabilidade da população idosa institucionaliza-


da, as ILPIs precisam implementar um plano de cuidados na prevenção de
quedas de uma forma criteriosa e sistematizada. Tal fato inclui a aplicação
de instrumentos de avaliação na admissão para identificar o grau de risco de
quedas de cada residente. O processo de envelhecimento é contínuo e indi-
vidualizado. Com o passar do tempo surgem várias alterações no equilíbrio,
mobilidade, articulares e psicológicas, tal fato sinaliza a obrigatoriedade de
reavaliações periódicas e vigilância a respeito dos possíveis eventos adver-
sos (Rosa; Cappellari; Urbanetto, 2019; Oliveira et al., 2019).
A recorrência de episódios de quedas em pessoas idosas no âmbito
das Instituições de Longa Permanência (ILPI) evidenciam falhas no quesito
segurança do paciente, favorecendo agravamentos à condição de saúde e/
ou evoluindo para óbito.Valida essa afirmação, estudo de análise temporal

101
de dados sobre a mortalidade em pessoas idosas que foram vítimas de que-
da no Brasil, em série histórica de 2000 a 2019, evidenciou 135.209 óbitos
motivados pela queda (Gonçalves et al., 2022).
Nesse sentido, é fundamental a avaliação das pessoas no acolhimen-
to, identificando potenciais riscos que levem a ocorrência deste agravo por
intermédio de classificações e/ou escalas certificadas, que devem ser adota-
das pelas instituições para o planejamento das atividades e ações preventi-
vas de educação permanente em saúde com vistas a elevar a percepção das
pessoas idosas sobre os riscos (Sá et al., 2022; Soares et al., 2022).
O plano de cuidados desenvolvido pela equipe multidisciplinar da
instituição, contemplará abordagens para os diferentes fatores desencade-
adores de quedas. Na prática o gerenciamento poderá ocorrer pela coorde-
nação de enfermagem, por ser a equipe de assistência em tempo integral e
elo entre os demais profissionais, considerando, ainda, o fato que índice de
queda faz parte do rol do chamado indicador sensível à enfermagem (Mel-
leiro et al., 2015).

ETAPAS DO PLANO DE CUIDADOS NA PREVENÇÃO DE QUEDAS


NAS ILPIS

a) Levantamento de informações realizado pelo serviço social,


antes do acolhimento. É importante que a equipe conheça a
condição do futuro residente a fim de organizar o espaço onde
será acomodado. Condições como acuidade visual e/ou audi-
tiva, incapacidade de deambulação, cognição prejudicada, são
alguns dos achados que precisam ser considerados antes de de-
cidir em qual acomodação a pessoa idosa ficará mais segura.
b) No momento da admissão, realizado pelo profissional enfer-
meiro, a anamnese geral deverá contemplar campos para in-
formações diretamente relacionadas com o advento da queda
(diagnósticos presentes, sinais e sintomas relatados e observa-
dos, condição cognitiva, medicações em uso, dentre outros).

102
Essa anamnese, por vezes, sofre prejuízo pelo fato de alguns
idosos chegarem à instituição sem histórico de vida pregresso.
c) Aplicação dos instrumentos de avaliação protocolados na ins-
tituição. Os mais utilizados com idosos: Mini Exame do Estado
Mental (MEEM) – avalia a cognição; Escala de Depressão Ge-
riátrica (GDS) auxilia no rastreio de fatores intrínsecos; Escala
de avaliação do risco de queda Johns Hopkins-JH-FRAT; Índice
de Katz, avalia o grau de dependência do idoso baseado na ne-
cessidade ou não de auxílio para realizar atividades básicas da
vida diária; Teste Timed Up and GO TUG que avalia mobilidade
e equilíbrio. Com o decorrer do tempo, pode ser necessário re-
aplicar os instrumentos de avaliação, pois é comum que os ido-
sos apresentem alterações comportamentais devido à mudança
de ambiente e nova rotina. Além disso, as prescrições medica-
mentosas frequentemente sofrem modificações, sendo crucial
avaliá-las com critério e responsabilidade.
d) Interpretação dos resultados e acompanhamento do comporta-
mento desse novo morador. Ao acomodá-lo em seus aposentos,
apresentá-lo aos demais profissionais da instituição é necessá-
rio comunicar a classificação de risco para quedas (identificada
no momento da admissão), embora seja prudente considerar
todas as pessoas idosas recém-admitidas como de alto risco,
principalmente devido à falta de familiaridade com seu com-
portamento na prática.
e) A capacitação da equipe de cuidados diretos, técnicos de en-
fermagem e cuidadores, na abordagem dos fatores de riscos e
prevenção de quedas devem ocorrer de forma contínua para
que o plano de cuidados tenha êxito. Será essa equipe de cui-
dados diretos que fará o acompanhamento em tempo integral
dos residentes, portanto, desenvolver um olhar crítico, agir com
proatividade e manter uma comunicação eficiente com os de-
mais membros das equipes será determinante para reduzir a
ocorrência de quedas na instituição.

103
A capacitação não deve se restringir apenas aos profissionais da as-
sistência, aqueles que atuam no setor administrativo e que exercem outras
funções que não a assistência também tem papel fundamental na garantia
da segurança à saúde dessas pessoas (Resende; Quaresma; Lucas, 2021).
Todos os trabalhadores e voluntários de uma ILPI são cuidadores, uma vez
que o propósito dessas instituições é o cuidado da pessoa idosa. Por exem-
plo, a ocorrência de piso molhado é um fator extrínseco, totalmente contro-
lável, desde que o responsável pela limpeza esteja atento e siga o protocolo
institucional para lidar com essa situação.
Outro ponto que não pode deixar de ser contemplado no plano de
prevenção diz respeito ao ambiente físico, considerando, principalmente,
as áreas de convivência coletiva. Atualmente os órgãos reguladores em suas
visitas rotineiras possuem um olhar minucioso para as instalações físicas
das ILPIs, sempre sinalizando e exigindo as devidas correções a situações
de risco identificadas. A RDC n° 502/2021 orienta as condições de uso dos
ambientes necessários a edificações desse tipo. A norma aponta padrão
mínimo para funcionamento, itens de infraestrutura, desde a indicação do
programa de necessidades, que compreende os ambientes, usos e dimen-
sionamentos adequados. Nunes; Mendonça; 2023).
Dessa forma, os gestores das ILPIs precisam ter domínio sobre as exi-
gências das resoluções, normas técnicas e estatutos que regem e regulamen-
tam essas instituições, visando cumprir as diretrizes norteadoras e garantir
os direitos dos institucionalizados, incluindo a prevenção e a manutenção
da saúde da pessoa idosa (Brasil, 2003)
Destacamos, ainda, sobre as reformas estruturais, que podem repre-
sentar elevado risco para quebra dos pontos protocolares estabelecidos no
plano de prevenção. A gestão da ILPI precisa estar atenta às orientações téc-
nicas descritas na RDC n° 502/2021 e providenciar os ajustes necessários ao
plano de prevenção de quedas a fim de minimizar riscos de intercorrências
entre os moradores.

104
Finalizando o plano de cuidados para prevenção de quedas destaca-
mos duas ações de suma relevância.
A primeira trata da construção de instrumento para registro das que-
das ocorridas. Tal instrumento deverá ser extremamente detalhado, con-
tendo todas as informações relevantes ou não, para que sirva de material
para estudo e análise. A qualidade dos dados registrados irá determinar o
êxito na segurança do paciente (Araújo et al., 2018). Importante contem-
plar também as ações adotadas na assistência imediata, o fluxograma de
encaminhamentos de ações, serviços e pessoas envolvidas. Ao final dessa
etapa espera-se que a equipe consiga identificar se houve falhas na atua-
ção dos profissionais, falha no plano de prevenção implementado ou se a
ocorrência foi totalmente inevitável. Com o domínio dessas informações e
conclusões, uma reavaliação de condutas deverá ser estudada e aprovada.
A segunda ação, de igual forma indispensável para o êxito do plano
de prevenção é o desenvolvimento de um programa de apoio aos idosos
que sofreram quedas. Após um episódio de queda, de 21% a 39% dos indi-
víduos caidores desenvolvem medo de cair; e idosos que temem uma nova
queda podem tornar-se mais suscetíveis à reincidência deste episódio, visto
que restringem suas atividades, reduzem o nível de atividade física e apre-
sentam uma qualidade de vida reduzida de acordo com Silva et al., (2020).
Orientações e escuta ativa para idosos “não caidores” também precisam ser
inseridas no planejamento da prevenção.

105
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se pode subestimar as consequências impactantes de uma ou


mais quedas à saúde física, social e emocional. A eficácia de um plano de
cuidados na prevenção de quedas, obrigatoriamente, deverá contemplar a
atuação dos diversos profissionais das ILPIs, incluindo avaliação contínua
dos idosos, independentemente de histórico de queda, para identificar fa-
tores de risco intrínseco e extrínsecos. Além disso, é essencial implementar
e atualizar estratégias de prevenção, bem como manter uma vigilância re-
forçada nos locais com maior incidência de quedas. Assim, cientes das vul-
nerabilidades e necessidades que acometem a pessoa idosa que reside em
ILPI, conclui-se que a implementação de um plano de cuidados na preven-
ção de quedas é condição primordial, sem a qual não se conseguirá atingir o
objetivo de cuidar de forma segura dos residentes institucionalizados.

106
REFERÊNCIAS

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âmbito comunitário: perspectiva na Península Ibérica. Rev. Latino-Am.
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109
CAPÍTULO 5
A PESSOA IDOSA HOSPITALIZADA:
UMA PROPOSTA DE PLANO DE CUIDADO
PARA PREVENÇÃO DE QUEDAS
Giselle Karine Muniz de Melo
Karen Valessia da Silva
Thaiza Teixeira Xavier Nobre
Vilani Medeiros de Araújo Nunes

APRESENTAÇÃO

O envelhecimento populacional é uma das mais significativas ten-


dências do século XXI, e é um triunfo do desenvolvimento, apresentando
implicações para todos os domínios da sociedade (UNFPA, 2012). É um pro-
cesso natural, acompanhado de alterações fisiológicas, como a redução das
reservas funcionais, que possuem fatores diretamente relacionados à maior
incidência a riscos, dentre eles, o risco de quedas, em decorrência das alte-
rações musculoesqueléticas (Bohórquez, 2017). Nessa faixa etária repercute
o aumento da demanda da assistência das instituições de saúde, especial-
mente no ambiente hospitalar, apontado como um dos fatores que aumenta
consideravelmente o risco de queda, tornando-o mais suscetível a eventos
adversos relacionados a quedas, devido às suas condições clínicas e comor-
bidades (VACCARI et al., 2016; (BRASIL, 2014).
A queda é definida como o deslocamento não intencional do corpo
para um nível inferior à posição inicial, provocada pela interação de fatores
de risco intrínsecos e extrínsecos (WHO, 2007).
Consideradas como acontecimentos traumáticos e multifatoriais, as
quedas normalmente ocorrem de maneira involuntárias e imprevisíveis,
provocando, com frequência, lesões na pessoa idosa. Estas acarretam con-
sequências para o próprio, para o cuidador e para a sociedade (Romão &
Nunes, 2018) e representam um indicador negativo da qualidade do cuida-
do hospitalar, razão pela qual a prevenção de quedas está inserida em uma
das metas de segurança ao paciente (Bohórquez, 2017).
Quando nos referimos à pessoa idosa hospitalizada, as quedas sofri-
das por esse paciente durante o período de internação são intercorrências
relevantes, que demonstram a falta de segurança no cuidado. Sabendo-se
que a medição do risco de queda é um dos indicadores de avaliação da qua-
lidade hospitalar, no que se refere a segurança do paciente, sobretudo aos
idosos com 65 ou mais anos, faz se necessário que as instituições de saúde
utilizem instrumentos específicos, devidamente validados, que permitam
uma correta avaliação do risco de queda para que possam prevenir e redu-
zi-las no ambiente hospitalar (Falcão, 2019).
A identificação do risco de quedas por meio de escalas de risco vai
favorecer o direcionamento e o planejamento dos cuidados de enfermagem
centrados no paciente, para que possam realizar intervenções efetivas com
a finalidade de contribuir para a teorização da prevenção e/ou redução de
quedas no contexto hospitalar. Além disso, o uso de um instrumento especí-
fico vem a acrescentar no processo de enfermagem, uma vez que permitirá
que o enfermeiro planeje e direcione o cuidado de forma a atender as neces-
sidades individuais de cada paciente, de acordo com a avaliação do risco.
Considerando a queda como um incidente que pode trazer múltiplas
consequências ao paciente, principalmente aos mais velhos, o estudo teve
como objetivo dispor de uma proposta de plano de cuidado para prevenção
de quedas em pacientes idosos, em âmbito hospitalar, fortalecendo a práti-
ca segura.
No sentido deste fortalecimento, é necessário que a equipe de saúde
seja capacitada, oriente os idosos e seus cuidadores, reforçando o seu po-
tencial de saúde em direção ao bem-estar, tendo em conta as respostas do
cliente aos fatores de estresse que são descritos como forças ambientais que
interagem com e alteram potencialmente a estabilidade do sistema (MA-
DURO, 2011).

111
PROPOSTA DE UM PLANO DE CUIDADOS PARA PREVENÇÃO
DE QUEDAS EM PACIENTES IDOSOS, NO ÂMBITO HOSPITALAR

Para assegurar um cuidado à saúde com qualidade, a instituição pre-


cisa garantir um atendimento em ambiente digno, ou seja, com estrutura
adequada e práticas de cuidado seguro, atrelados aos princípios e objetivos
da segurança do paciente (SENA, 2020).
Os profissionais de saúde precisam gerenciar a complexidade dos
cuidados em seu trabalho diário, prestando serviços de saúde com base
em evidências e mantendo um ambiente seguro para os pacientes. Quan-
do lidamos com pacientes idosos é comum a associação de características
cognitivas, psiconeuromotoras e biopsicoemocionais que demonstram a
necessidade de personalizar as práticas seguras, com o ajuste dos Protoco-
los de Segurança do Paciente de acordo com as características e as necessi-
dades da pessoa idosa (BRASIL, 2013).
Segundo a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006)
a prática de cuidados às pessoas idosas exige abordagem global, interdisci-
plinar e multidimensional, que leve em conta a grande interação entre os
fatores físicos, psicológicos e sociais que influenciam na saúde dos idosos e
na importância de considerar o cidadão idoso não mais como passivo, mas
como agente das ações a eles direcionadas, devendo ser desenvolvida uma
assistência acolhedora e resolutiva, que valorize e respeite o ser idoso.
Considerando a queda como um incidente multifatorial evitável, que
pode trazer múltiplas consequências ao paciente idoso hospitalizado, é fun-
damental traçar um plano de cuidado com foco nos fatores de risco para a
prevenção do incidente durante a rotina assistencial.
O Plano de Cuidados para prevenção de queda em pessoas idosas
hospitalizadas engloba as seguintes intervenções (BRASIL, 2014):
1. Avaliação do risco de queda na admissão;
2. Reavaliação do risco de queda diariamente, quando houver
alteração do quadro clínico e nas transferências intra ou inter-
-hospitalares.
112
O idoso e seu acompanhante devem ser informados sobre a impor-
tância da avaliação do risco de queda nos primeiros momentos do inter-
namento hospitalar, utilizando uma comunicação audível, clara e em ve-
locidade adequada para compreensão, com orientações e lembretes das
medidas preventivas que auxiliam o cuidado e a prevenção de quedas (VI-
LANI, 2021), como:
a) Atender e programar as necessidades de ajuda: ida ao banheiro,
movimentação da cama para poltrona, troca de fraldas, uso de
papagaio ou comadre;
b) Manter as grades da cama elevadas;
c) Orientar uso de sapatos seguros, com solados antiderrapantes,
e observar se o chão se encontra limpo e seco;
d) Propiciar iluminação adequada e utilizar “luz noturna”;
e) Manter maca/cama baixa e travada;
f) Deixar a campainha, mesa auxiliar, telefone e outros itens utili-
zados com frequência ao alcance do paciente;
g) Avaliar continuamente a necessidade de retirada de dispositi-
vos;
h) Checar o entendimento das orientações para a prevenção de
queda com o paciente, familiar ou acompanhante a cada troca
de plantão;
i) Checar presença e permanência de acompanhante ou familiar;
j) Realizar “rondas” a cada 2 horas para avaliar conforto e segu-
rança do idoso;
k) Orientar o paciente e/ou familiar a não se levantar sem ajuda da
equipe de Enfermagem;
l) Movimentar o paciente da cama para poltrona com auxílio,

113
com duas pessoas no mínimo, e com dispositivos que possam
facilitar essa transferência;
m) Colocar o paciente próximo ao posto de Enfermagem, sempre
que possível (EBSERH, 2022);
n) Manter óculos e aparelhos auditivos acessíveis;
o) Deixar dispositivos de apoio à marcha, como andador, cadeiras
de rodas e cadeiras de banho, disponíveis em condições de uti-
lização segura e acessíveis (DQS, 2019);
p) Colocar sinalização visual para identificação de risco de que-
da, a fim de alertar toda a equipe de cuidado, além de registar
no prontuário do paciente todos os procedimentos realizados
(BRASIL, 2014).
A natureza multifatorial da queda justifica a intervenção de uma equi-
pe multiprofissional, composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
farmacêuticos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e psicólogos (Dege-
lau, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Definida como um evento adverso multifatorial, a queda nos pacien-


tes idosos hospitalizados precisa de uma análise clínica individualizada,
capaz de identificar os diferentes fatores de riscos específicos para o even-
to, onde toda a equipe assistencial deverá implantar um plano de cuidado
singular, intervindo de maneira precisa nos riscos identificados. Além disso,
a equipe precisa escutar as expectativas e necessidades do paciente idoso e
seu cuidador, promovendo o engajamento e o empoderamento da pessoa
idosa do seu próprio cuidar na prevenção de quedas.

114
REFERÊNCIAS

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NORMA NÚMERO: 008/2019 DATA: 09/12/2019 ASSUNTO: Prevenção e


Intervenção na Queda do Adulto em Cuidados Hospitalares. Departamento
da Qualidade na Saúde (dqs@dgs.min-saude. pt)
116
CAPÍTULO 6
AMBIENTES SEGUROS NA PREVENÇÃO
DE QUEDAS ÀS PESSOAS IDOSAS
Angela Thayssa Durans Amaral
Ítalo Henrique Martins Corrêa
João Carlos Romano Rodrigueiro Junior
Júlia Danielle de Medeiros Leão
Márcia Vieira de Alencar Caldas

APRESENTAÇÃO

A linguagem poética de Adélia Prado em "Erótica é a Alma" articula a


literatura contemporânea com a longevidade, um convite atual à reflexão
entre o envelhecer e o cotidiano. Nesse contexto, as “pernas que irão pesar’’
e a “coluna que irá doer’’, citadas pela poetisa, estão de forma intrínseca rela-
cionada como um dos fatores que podem ocasionar os riscos de quedas por
pessoas idosas em diversos ambientes, seja caminhar em uma rua, avenida
ou ao subir e descer um degrau dentro de casa, ou seja, pensar os riscos ine-
rentes ao público idoso nesses cenários (Prado, 1991).
O envelhecimento populacional é um fenômeno de escala global, ob-
servado em todos os países, seja ele desenvolvido ou em desenvolvimento.
Envelhecer é um processo natural de diminuição funcional do organismo e
ocorre naturalmente com o passar do tempo. Nesse cenário, a perda da fun-
cionalidade devido ao amadurecimento, traz consigo preocupações acerca
das quedas, um evento comum e, costuma acometer essa população (Tei-
xeira et al., 2019).
Portanto, tendo em vista as necessidades surgidas pelo envelheci-
mento populacional, urge a necessidade de que o caminho seja também,
em algumas situações, uma reforma estrutural ou comportamental por fora
dos ambientes, e não somente “renovar a mobília interior’’ como é citado
no poema. Diante disso, o presente capítulo tem como objetivo expor a im-
portância de espaços seguros arquitetônicos, na perspectiva com vistas na
prevenção de riscos de quedas nos domicílios e nos espaços urbanos.

GARANTIR À PESSOA IDOSA AMBIENTES ACOLHEDORES E QUE


ESTIMULEM SUA FUNCIONALIDADE - LEGISLAÇÃO E NORMAS
TÉCNICAS

Em 2003 foi instituído o Estatuto da Pessoa Idosa, lei reguladora dos


direitos garantidos às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. No
título dos Direitos Fundamentais, o capítulo que trata da habitação, expõe
a condição de moradia digna, provida de acessibilidade e livre de barreiras
arquitetônicas (Brasil, 2003).
Para as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dispõe da RDC - Reso-
lução de Diretoria Colegiada, nº 502 de 2021, que institui as exigências mí-
nimas de funcionamento para essa modalidade de moradia coletiva, tanto
pública quanto privada. Com destaque a promoção da ambiência acolhe-
dora e atividades que estimulem a autonomia, observando a importância
do ambiente físico acessível para viabilizar estes parâmetros (Brasil, 2021).
Para atender as diretrizes de acessibilidade, a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) nº 9050/2020, intitulada: Acessibilidade a Edifica-
ções, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos, explora soluções que
contemplem a diversidade. Com isso, a inclusão de pessoas para alcance,
aproximação, uso, informação fácil e intuitiva estarão dentro das condições
de acesso. A aplicação da norma garante o direito em espaços residenciais e
urbanos, que devem oferecer condições para qualquer pessoa utilizar, inde-
pendentemente da idade ou condição (ABNT, 2020).
O ambiente construído amigável ao envelhecimento, requer a arqui-
tetura e design das novas construções e das adaptações com a aplicação de
disciplinas tais como: o desenho universal, a ergonomia e a acessibilidade,
que irão corroborar para residências integradas com as atividades da vida
diária das pessoas idosas com conforto e segurança (Tissot; Vergara, 2023).

118
O CENÁRIO DA CIDADE NO CONTEXTO DA ACESSIBILIDADE -
ESTÍMULO PARA A FUNCIONALIDADE E AUTONOMIA.

O envelhecimento populacional e a urbanização são duas tendências


mundiais que, em conjunto, representam o momento atual. No Brasil, foi
implementada a Lei nº 10.257, denominada Estatuto da Cidade, que visa
garantir o direito à cidades sustentáveis, entendido como direito à infra-
-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos para as presentes
e futuras gerações, e que sejam adequados aos interesses, necessidades e às
características locais da população (Brasil, 2001).
Nesse contexto, a população idosa ainda encontra diversas dificulda-
des para viver de forma livre e segura dentro da comunidade, tendo em vista
a presença de barreiras físicas e arquitetônicas, as quais não foram projeta-
das para atendê-los. Desse modo, as condições inadequadas do ambiente
compõem eventual risco para ocorrência de quedas, como as superfícies
escorregadias, iluminação inadequada e obstáculos (Baixinho; Dixe, 2020).
Nessa perspectiva, pode se tornar um fator para que a pessoa idosa
não queira mais sair de casa, uma vez que o medo de cair é uma das conse-
quências comuns das quedas. Portanto, tal situação poderá afetar e influen-
ciar nas condições e aspectos de saúde e com isso a independência para
realizar suas atividades acaba por declinar, uma vez que sua capacidade de
locomoção, mobilidade e funcionalidade diminuem, favorecendo assim,
um maior risco de quedas (Brito et al., 2019).

A MORADIA COLETIVA, O AMBIENTE DA ILPI - ACOLHIMENTO E


SEGURANÇA

Os espaços físicos representam uma interação entre o comportamen-


to humano e o ambiente. Além disso, sensações e pensamentos permeiam o
comportamento do indivíduo que por sua vez está condicionado às caracte-
rísticas da percepção do espaço, tendo em vista disso, a relação entre a pes-
soa idosa e seu local de convivência, reflete muito mais que uma moradia,

119
representa a sua identidade e sua construção de bem estar com o convívio
social (Tissot; Vergara, 2023).
A representação social das pessoas idosas alicerçadas nas instituições
de longa permanência, retratam as manifestações geriátricas, como encur-
tamento dos passos, alterações cognitivas e baixa funcionalidade espacial
(Santos et al., 2023). Desse modo, essas transformações comprometem as
atividades de vida diária (AVD), fazendo com que o ambiente se adeque às
condições de vida do indivíduo, em razão disso, a ambiência coletiva de
idosos necessitam de um cuidado maior e qualificado, que vise promover e
proteger a saúde dos mesmos, na concepção de que eles se sintam acolhi-
dos e seguros na instituição.
Então é necessário observar esses espaços físicos, com o objetivo de
identificar possíveis fatores extrínsecos que promovam a aumento de risco
de quedas, tais como: soleiras em relevo; presença de tapetes; piso desnive-
lado; mobiliária pontiagudas e maçanetas de difícil manuseio (Lana et al.,
2021). A Política Nacional da Pessoa Idosa, decretada em 1994, objetiva as-
segurar os direitos sociais do cidadão idoso, trazendo como diretrizes que os
espaços dos residentes devem desenvolver atividades que levem as pessoas
a se sentirem vivas e acolhidas, oferecendo condições de habitabilidade, se-
gurança, salubridade e a acessibilidade (Brasil, 2006).

O AMBIENTE DO DOMICÍLIO NO CONTEXTO DO CUIDADO

A importância do ambiente doméstico no cuidado e bem-estar tem


ganhado destaque, especialmente para indivíduos em situações de vulne-
rabilidade, como idosos e pessoas com condições crônicas. Nesse ínterim,
os ambientes inseguros deixam os idosos expostos a fatores de riscos, como
as quedas. Tendo em vista que essa população está mais propícia a sofrerem
tais eventos, em virtude do natural comprometimento funcional devido à
idade (Santos et al., 2023).
Na perspectiva dos espaços urbanos e do domicílio, estes represen-
tam um ambiente de risco, pois as ocorrências de quedas estão relacionadas

120
à insegurança e à falta de adequação do ambiente, com medidas de segu-
rança, de modo a evitar quedas e suas possíveis consequências (Tavares;
Araújo; Nunes, 2021). Além disso, é interessante frisar que, as quedas co-
laboram com a diminuição da autonomia e funcionalidade. Assim como,
representam uma questão de saúde pública, por serem os principais fatores
de lesões, traumas, hospitalização, podendo chegar ao óbito (Giacomini;
Fhon; Rodrigues, 2020).
Dada a relevância que o peridomicílio exerce na vida das pessoas, re-
comenda-se realizar adaptações, como: o nivelamento de calçadas, uso de
pisos e tapetes antiderrapantes, tapetes fixos, uso de barras de apoio e cor-
rimão, adequação de iluminação, manter áreas livres para locomoção, a fim
de garantir tornar o ambiente um local seguro, consequentemente, evitando
quedas e fechos diversos a saúde (Tavares; Araújo; Nunes, 2021).

PREVENÇÃO DE QUEDAS PARA A AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA

O conceito de acessibilidade arquitetônica é definido como a livre


locomoção do ambiente físico. No entanto, nem todos os indivíduos são
capazes e nem podem usufruir totalmente dessa idealização, visto que, a
pessoa idosa sofre com a sua capacidade funcional reduzida e acabam se
tornando mais suscetíveis a quedas, principalmente nas residências (Santos
et al., 2023).
Pesquisas demonstram que existem eficácia das intervenções domici-
liares na redução do risco de quedas em idosos, como por exemplo, o uso de
marcapasso que pode chegar a reduzir as quedas frequentes, entre outros
fatores que precisam, urgentemente, de manutenção e medidas preventivas
em casa ou na instituição em que vivem (Hopewell et al., 2020). Considerar
a autonomia e a independência como pilares no desenvolvimento de es-
tratégias voltadas a otimizar o cuidado, a qualidade de vida, a inclusão e
assegurar o bem-estar para população com algum tipo de fragilidade e in-
capacidade.

121
Dessa forma, se faz necessário que os profissionais de saúde desen-
volvam estratégias e atividades educativas com a comunidade, objetivando
promover a autonomia e independência da pessoa idosa, assim como, a re-
dução de risco de quedas (Teixeira et al., 2019).
Outro ponto relevante ao debate, refere-se à funcionalidade do an-
cião. Naturalmente, ao longo da vida, o indivíduo vai perdendo sua capa-
cidade funcional. Essa redução também está relacionada à percepção de
autonomia, ou seja, quanto mais funcional o idoso, maior sua percepção
de autonomia, do mesmo modo, quanto maiores as necessidades de ajuda
para realização de atividades da vida diária (AVDs), menor será a percepção
de autonomia (Gomes et al., 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de envelhecimento necessita de um olhar global, verificar


a cidade como cenário de participação social da pessoa idosa, da rede de
apoio, dos cuidados e da assistência. Desse modo, contextualizando os tipos
de moradia, seja ela coletiva ou individual, a residência permite e estimula
atividades da vida cotidiana, por isso, devem ser projetadas a fim de garantir
a autonomia, independência e acessibilidade do espaço a ser utilizado. Nes-
se sentido, os direitos garantidos no Estatuto da Pessoa Idosa, as exigências
mínimas e diretrizes de acessibilidade devem promover um ambiente cons-
truído além de legalizado, amigável no sentido do acolhimento.
Como exposto anteriormente, o alicerce legal nos direciona para essa
possibilidade, porém é preciso ressaltar que a ausência dessas diretrizes ou
mesmo desconhecimento delas, podem prejudicar a garantia da funcionali-
dade e estímulo à autonomia da pessoa idosa. A integridade física e mental
perpassa por um ambiente acolhedor e de estimulação, que pode facilitar a
assistência à saúde e fortalecer a rede de apoio. Por isso, é preciso acentuar
que o investimento em políticas públicas e em educação, devem alicerçar e
fortalecer todos os direitos já adquiridos ao longo desses anos e promover
novas diretrizes dentro desse olhar do acolher e amparar.

122
REFERÊNCIAS

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125
CAPÍTULO 7
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DA
OCORRÊNCIAS DE QUEDAS E DO MEDO
DE CAIR DA PESSOA IDOSA
Kamilla Sthefany Andrade de Oliveira
Angelo Maximo Soares de Araujo Filho
Maria Luiza de Sousa Belém
Milla Iasmim Queiroz Freitas

APRESENTAÇÃO

A mudança na estrutura etária da população brasileira vem despon-


tando como um fenômeno de grandes transformações que impõe impactos
na situação econômica, social e, sobretudo, na saúde da população. Com os
índices de queda da natalidade e registros de queda da mortalidade, o enve-
lhecimento populacional se coloca como um acontecimento imperativo na
sociedade brasileira (Alves, 2019).
Apesar de o envelhecimento ser um processo natural e, portanto, não
ser sinônimo de adoecimento, há uma estreita ligação deste fenômeno com
os processos de transição demográfica e de transição epidemiológica, pois
o envelhecimento ocasiona mudanças anatômicas e funcionais com reper-
cussões na saúde da pessoa idosa, mudando o perfil de mortalidade e mor-
bidade da população (Soares et al., 2019; Oliveira et al., 2021).
Além das mudanças associadas à elevada prevalência de doenças
nessa população, a ocorrência de incidentes e eventos incapacitantes, como
as quedas, é uma realidade que pode gerar impactos negativos na saúde do
idoso, mas também na sua qualidade de vida, sendo considerado um pro-
blema de saúde pública (Marinho et al., 2020; Nascimento, 2019).
Dados apontam que, anualmente, cerca de 30% a 60% de pessoas com
65 anos ou mais de idade caem, sendo que 40% a 60% dessas quedas le-
vam a algum tipo de entorse ou lesão, como fraturas vertebrais, de fêmur,
úmero, rádio e costelas (Mendonça et al., 2023; Nascimento, 2019; Santos et
al., 2020), o que, consequentemente, pode desencadear a dependência da
pessoa idosa, mas também pode ser fatal (Mendonça et al., 2023; Cruvinel
et al., 2021).
Aspectos intrínsecos, como as alterações fisiológicas relacionadas ao
envelhecimento, a doenças e efeitos causados por uso de fármacos são as
causas mais comuns de quedas em pessoas idosas. Soma-se a isso, as altera-
ções cognitivas e fatores extrínsecos como circunstâncias sociais e ambien-
tais que podem oferecer risco (Marinho et al., 2020; Cruvinel et al., 2021;
Souza et al., 2021). Além desses fatores, a ocorrência de queda pode estar
associada a sérias consequências psicológicas, além de quadros de depen-
dência; isolamento social; perda progressiva da capacidade funcional e à
reincidência de novo episódio de queda, e o medo de cair novamente (Sou-
za et al., 2019, Miranda et al., 2020).
Nesse sentido, medidas de prevenção e de segurança são necessárias
como estratégias para evitar esse tipo de ocorrência e suas repercussões na
vida diária, funcional, emocional da pessoa idosa. O presente capítulo visa
elencar algumas estratégias de prevenção ao risco de quedas e ao medo de
cair novamente.

IMPACTOS PSICOSSOCIAIS DA OCORRÊNCIA DE QUEDAS

As quedas tem uma série de consequências psicológicas para a pes-


soa idosa, entre elas o medo de cair, que consiste em uma preocupação
constante em relação a queda, mas também a falta de autoconfiança de que
algumas atividades podem ser realizadas sem o risco de queda (Santos; Fi-
gueiredo, 2019; Santos; Santos, 2014). Dados apontam que quedas levam
ao aparecimento do medo de cair (Souza, et al., 2019), ao mesmo passo que
este medo é reconhecido como um fator de risco para quedas (Santos et al.,
2019).
Esse medo pode estar associado a diversos fatores como a idade avan-
çada, sexo feminino, baixa satisfação com a vida, percepção frágil acerca do
127
estado de saúde, sedentarismo, viver sozinho e/ou rede de apoio social res-
trita, nível reduzido de atividade física, além de transtornos mentais e com-
prometimento cognitivo (Santos; Figueiredo, 2019; Marinho, 2019).
A ocorrência de quedas pode, ainda, ser determinante para a funcio-
nalidade e qualidade de vida na população idosa, pois acidentes como esses
podem levar pessoas idosas a evitarem desempenhar atividades de vida di-
ária, sendo que isso pode causar sedentarismo e isolamento (Santos et al.,
2019; Soares, 2019).
O sedentarismo, isolamento e a inatividade diante do medo de cair
pode se traduzir em perda de autonomia e independência, além do aumen-
to de sentimentos de fragilidade e insegurança, desencadeando estados
de ansiedade e sintomas depressivos (Oliveira et al., 2021; Santos; Santos,
2014). Por outro lado, as doenças psiquiátricas, como a depressão, estão
incluídas como condições patológicas que predispõem à queda na pessoa
idosa (Marinho, 2019; Santos; Figueiredo, 2019; Miranda et al., 2020).

ENTENDENDO O MEDO DE CAIR NOVAMENTE

O medo de cair emerge como uma barreira psicossocial significati-


va, impondo-se como uma sombra constante sobre a vida da pessoa idosa.
Esse medo não apenas reflete uma frequente preocupação com a própria
segurança, mas também afeta a autoconfiança, tornando cada passo uma
batalha contra a incerteza (Oliveira et al., 2021).
Alterações psíquicas podem ser associadas ao medo de cair, o que traz
à tona os conceitos de síndrome pós-queda e a ptofobia, cujos fenômenos
resultam em danos à saúde mental e física da pessoa idosa. A síndrome pós-
-queda combina a instabilidade postural não tratada com a ocorrência de
queda, enquanto a ptofobia é definida como um pavor de se manter em pé
e andar, relacionada ao medo de cair, ainda que não haja alterações na loco-
moção, ou não apresente comprometimentos neurológicos ou ortopédicos
(Santos; Santos, 2014).

128
Percebe-se, então, que o medo de cair novamente não apenas res-
tringe a vida do indivíduo fisicamente, mas também a aprisiona emocio-
nalmente. O isolamento se torna, então, uma fortaleza contra o perigo per-
cebido, privando o indivíduo não apenas da liberdade física, mas também
do contato social e da rede de relacionamento que torna a vida significativa
(Oliveira et al., 2021).

FORTALECENDO A CONFIANÇA PARA RESTAURAR A AUTONOMIA


E A INDEPENDÊNCIA

A abordagem multiprofissional na educação para prevenção às que-


das torna-se essencial ao tratar as diversas necessidades e desafios enfren-
tados pelas pessoas idosas; além disso, desempenha um papel fundamental
na redução do risco de episódios futuros. A partir de orientações claras e
práticas, pessoas idosas são capacitadas a adotar medidas proativas para
proteger sua segurança e bem-estar. Essa educação não apenas aumenta a
conscientização sobre os fatores de risco associados a quedas, mas também
oferece estratégias eficazes para mitigar esses riscos (Nascimento, 2019).
Além de fornecer orientações, a educação sobre prevenção de quedas
também visa promover mudanças de comportamento e estilo de vida. Isso
inclui incentivar a adoção de hábitos de vida saudáveis, como por exemplo a
prática regular de exercícios físicos para melhorar o equilíbrio e a força mus-
cular. Essa perspectiva holística não apenas fortalece o corpo fisicamente,
mas também aumenta a confiança e a segurança das pessoas idosas em
suas atividades diárias (Souza et al., 2019; Nascimento, 2019), o que impacta
sobremaneira na sua autonomia e funcionalidade.
Com a diminuição do equilíbrio e a significativa redução da força
muscular decorrente do processo natural de envelhecimento (Silva, 2021),
a implementação de um programa efetivo e individualizado de atividades
físicas se caracteriza como um importante passo na prevenção e redução
de novos episódios de quedas. Dentre essas práticas destacam-se os trei-
nos de equilíbrio, voltados ao estímulo do corpo para informações senso-

129
riais, controle de estabilidade, rotação do tronco e treinos de fortalecimento
muscular (Silva, 2019), mas também atividades como o Tai Chi Chuan, vem
sendo reconhecidas dentre profissionais da área como um aliado direto no
cuidado com a saúde da pessoa idosa (Bertolini, 2022).
Apesar do uso de antipsicóticos, anticonvulsivantes, opioides, antide-
pressivos e outros hipnóticos-sedativos se enquadrarem como potenciais
agravantes para a ocorrência de quedas, em função de sua gama de efei-
tos adversos (CRF, 2020), o uso prolongado e irracional de benzodiazepí-
nicos segue em destaque como um dos maiores causadores desses aciden-
tes (Freire et al., 2022). Para tanto, faz-se necessário um acompanhamento
farmacêutico para a ponderação entre a real necessidade da prescrição de
alguns medicamentos de alto risco, o que inclui o monitoramento periódi-
co dos seus efeitos adversos, ajuste de dosagem se necessário, desencora-
jamento quanto a automedicação e identificação de potenciais interações
medicamentosas, gerando a possibilidade de reversibilidade de condições
adversas (CRF, 2020).
Ainda nesse cenário, intervenções psicológicas, dentro de uma abor-
dagem multidisciplinar, são bem vindas e demonstraram sua eficácia. A
atuação do psicólogo, que é orientada para as necessidades individuais do
paciente, direciona o processo de intervenção que visa capacitar o paciente
a enfrentar com sucesso as possíveis limitações inerentes a esta fase da vida
(Santos; Santos, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do panorama do envelhecimento populacional no Brasil, tor-


na-se evidente a necessidade premente de se abordar e enfrentar os desa-
fios relacionados à saúde e qualidade de vida das pessoas idosas. O enve-
lhecimento, embora natural, não é desprovido de impactos significativos,
especialmente no que tange à incidência de quedas e suas consequências
adversas.
A ocorrência de quedas entre pessoas idosas configura-se não apenas
como um problema de saúde pública, mas também como um desafio com-
130
plexo que afeta a autonomia, a independência e a qualidade de vida dessa
parcela da população. Estudos demonstraram que as quedas são eventos
frequentes, com potencial para causar lesões graves e até mesmo serem fa-
tais, além de desencadear um ciclo de medo, restrição de atividades e perda
progressiva da funcionalidade.
Contudo, é importante ressaltar que a prevenção das quedas e a res-
tauração da autonomia e independência das pessoas idosas são objetivos
alcançáveis. A abordagem multidisciplinar na educação para prevenção de
quedas, aliada a estratégias personalizadas de exercícios físicos, acompa-
nhamento farmacêutico adequado, adaptações ambientais, e intervenção
psicológica, desempenham um papel fundamental nesse contexto.
Ao fortalecer o corpo físico e psicologicamente, promovendo hábitos
saudáveis e adaptando o ambiente doméstico, é possível não apenas reduzir
o risco de quedas, mas também empoderar os idosos, proporcionando-lhes
maior confiança e segurança em suas atividades diárias. Dessa forma, inves-
tir em medidas preventivas eficazes não apenas preserva a saúde e o bem-
-estar da pessoa idosa, mas também contribui para a construção de uma
sociedade mais inclusiva e resiliente para todas as idades.

131
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134
CAPÍTULO 8
GERONTECNOLOGIAS VOLTADAS PARA
O MONITORAMENTO E PREVENÇÃO
DE QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS
Kellen Rosa Coelho Sbampato
Cláudia Martins da Costa
Thalyta Cristina Mansano Schlosser
Gilson de Vasconcelos Torres
Eulália Maria Chaves Maia

APRESENTAÇÃO

As tecnologias em saúde têm impacto significativo na melhoria dos


cuidados em saúde em todo o mundo. Os avanços tecnológicos permitem
tomar decisões mais assertivas e eficazes para a promoção em saúde e pre-
venção, monitoramento e tratamento de agravos. Além de reduzir custos,
aumentar a eficiência dos serviços, melhorar os resultados para os indivídu-
os e promover a equidade no acesso aos cuidados em saúde. Estas tecnolo-
gias são resultados de conhecimentos científicos para a produção de bens
materiais, ou não, utilizadas durante intervenções da prática e/ou no âmbi-
to da pesquisa, com vistas à resolução de problemas humanos e estruturais
relacionados à saúde (Silva et al., 2019).
O conceito de tecnologia em saúde é amplo e vai além da abordagem
tradicional centrada nos aspectos técnicos e instrumentais, enfatizando sua
dimensão social, relacional, econômica e política na produção de cuidado
e na organização dos sistemas de saúde. Nesse sentido, as tecnologias em
saúde não são apenas artefatos técnicos, mas são mediadoras das relações
sociais e das práticas de cuidado. Essa perspectiva crítica e reflexiva tem sido
fundamental para compreender os desafios e as oportunidades associadas
ao uso e desenvolvimento de tecnologias em saúde na contemporaneidade
(Merhy, 2005).
Neste contexto, Merhy (2005) classifica as tecnologias em saúde em:
Leves – práticas organizacionais, relações de trabalho e modos de gestão
que influenciam o cuidado, como protocolos, modelos de gestão, relações
profissionais/usuários etc; Duras – associadas a equipamentos, dispositivos
e procedimentos técnicos, como equipamentos médicos, instrumentos ci-
rúrgicos, sistemas de imagem diagnóstica etc; Leve-duras – elementos tan-
to técnicos quanto organizacionais, como sistema de informação de saúde
integrado, que envolve tanto software e hardware específicos (tecnologia
dura), quanto mudanças nos processos de trabalho e na organização do ser-
viço de saúde (tecnologia leve) (Merhy, 2005).
Independente das denominações, estas tecnologias representam uma
área dinâmica e em constante evolução. É notório o potencial das tecnolo-
gias em transformar radicalmente a prestação de cuidados em saúde, uma
vez que por meio delas, é possível melhorar a qualidade dos cuidados e pro-
mover o bem-estar e qualidade de vida das populações (Silva et al., 2019).
Neste contexto, é inevitável e indissociável pensar nos desafios do fe-
nômeno do envelhecimento e as estratégias tecnológicas para resolver ou
mitigar problemas advindos deste processo. A população idosa apresenta
desafios de diversas ordens, tais como sociais, econômicos e de saúde, que
dificultam a manter uma qualidade de vida, sobretudo do ponto de vista
da autonomia e independência, bem como para monitorar a saúde e redu-
zir os riscos que esta população pode enfrentar (Antunes et al., 2019). Estes
desafios na gerontologia e os riscos para a saúde das pessoas idosas podem
ser solucionados ou reduzidos por meio das tecnologias, o que vem sendo
denominada como gerontecnologia (Piau et al., 2014).
A gerontecnologia é o estudo da tecnologia associada ao envelheci-
mento para adequação dos recursos tecnológicos à saúde, moradia, mobi-
lidade, comunicação, lazer, dentre outros, no intuito de manter nos idosos
suas habilidades físicas e cognitivas, para garantir autonomia e indepen-
dência (Piau et al., 2014). Destarte, a gerontecnologia se caracteriza pelo
desenvolvimento de técnicas, produtos e serviços com base nos aspectos do
processo de envelhecimento e procura atender a duas principais tendên-
cias: o aumento da população idosa e o crescente avanço tecnológico (Fer-
reira et al., 2019).
136
A gerontecnologia apresenta ampla e interdisciplinar possibilidade
de atuação: da saúde e da segurança até à comunicação, assistência com
mobilidade e suporte familiar. Dessa forma, pode proporcionar melhora na
condição de saúde e autoestima das pessoas idosas, na segurança dos am-
bientes, no cuidado ofertado às pessoas idosas, na mobilidade, na comuni-
cação e nas relações familiares (Antunes et al., 2019).
Nas últimas décadas, estudos referentes à gerontecnologia mostra-
ram as seguintes abordagens: mobilidade e motricidade; cuidados comuni-
tários e ambiente; capacidades sensoriais e cognitivas; design e ergonomia;
atividades de vida diária; saúde móvel; tecnologia da informação e comu-
nicação; e tecnologia assistiva. Dentre estas abordagens, destaca-se a preo-
cupação de vários pesquisadores no desenvolvimento de gerontecnologias
para avaliar, auxiliar ou monitorar a marcha das pessoas idosas, em prol da
prevenção e monitoramento das quedas nesta população (Antunes et al.,
2019).
De fato, as alterações fisiológicas e as modificações gradativas e pro-
gressivas que ocorrem com o envelhecimento, sobrepostas às doenças crô-
nicas pré-existentes, podem causar limitação funcional nas pessoas idosas.
Do ponto de vista da funcionalidade, este panorama do envelhecimento
favorece a diminuição da força muscular e da coordenação motora, o que
compromete a locomoção, causa o declínio da mobilidade funcional e, con-
sequentemente, a ocorrência de quedas em pessoas idosas (Oliveira; Pinho;
Bós, 2019).
A queda é considerada um dos graves problemas de saúde pública,
pois se caracteriza como uma síndrome geriátrica complexa, de natureza
multifatorial, que compromete a autonomia e a capacidade funcional da
pessoa idosa, com influência direta na sua qualidade de vida. Cerca de um
terço das pessoas acima de 65 anos sofrem pelo menos uma queda por ano
e, a partir dos 80 anos, metade das pessoas idosas caem (Oliveira; Pinho;
Bós, 2019). As consequências das quedas vão desde fraturas, medo de cair
novamente e lesões de tecido mole, até mudança na estrutura e rotina fami-
liares, hospitalização e custos elevados para a administração dos recursos
em saúde (Dourado Júnior et al., 2022).

137
Por toda esta problemática, torna-se relevante e se faz necessário a
inovação do cuidado com o desenvolvimento de gerontecnologias capazes
de prevenir, monitorar e mitigar as consequências das quedas na população
idosa. Além de possibilitar uma reflexão sobre o tema, estimular o raciocínio
e propiciar a troca de saberes, o que favorece a pessoa idosa a obter maior
autonomia e empoderamento para se tornar agente de mudança de sua re-
alidade e, consequentemente, para prevenir quedas (Ferreira et al., 2019).

ESTRATÉGIAS GERONTOTECNOLÓGICAS

Estudos retratam a diversidade de estratégias tecnológicas que vêm


sendo desenvolvidas para monitoramento e prevenção de quedas em pes-
soas idosas em diferentes contextos, além de trazerem reflexões acerca da
temática e revelarem uma gama de recursos desenvolvidos e disponíveis
que podem ser incorporadas nas práticas assistenciais e nas políticas pú-
blicas e institucionais (Hakim et al., 2017; Sá et al., 2019; Camargo; Colichi;
Lima, 2023). Entre estas estratégias tecnológicas ressaltam-se aquelas re-
lacionadas a processo educativo, programas/ferramentas de tecnologia da
informação, dispositivos vestíveis e dispositivos para ambiente (Camargo;
Colichi; Lima, 2023).
A gerontecnologia educacional compreende um conjunto de conhe-
cimentos, dispositivos, processos e estratégias que vislumbram novas pos-
sibilidades de ensinar e aprender, por meio da valorização das relações e
interações entre o profissional, o idoso e a família (Lima et al., 2021). Estudo
revelou que as tecnologias desenvolvidas para a educação em saúde na pre-
venção de quedas em pessoas idosas na comunidade tiveram o predomínio
de materiais impressos, softwares, vídeos, maquetes e suporte telefônico (Sá
et al., 2019).
O desenvolvimento de gerontecnologias educacionais tridimensio-
nais, onde há o treinamento e visualização tridimensional pode ser eficaz
na prevenção de quedas. O uso da visualização tridimensional fornece
qualidade visual necessária para conceituar as informações mediadas pelo
profissional de saúde e proporciona imersão e representação da realidade

138
(Hamm; Money; Atwal, 2017). No estudo de Lima e colaboradores, (Lima et
al., 2021) a gerontecnologia educacional tridimensional do tipo maquete se
mostrou uma estratégia válida para ser utilizada na promoção da saúde em
diferentes contextos, sobretudo no que se refere a identificação de risco para
quedas em pessoas idosas dentro do domicílio.
Alguns estudos apresentaram também a visita domiciliar como po-
tente gerontecnologia educacional, utilizada como estratégia de cuidado
pelos profissionais da Atenção Primária à Saúde na prevenção de quedas.
A visita domiciliar permite a identificação dos fatores de riscos que podem
estar relacionados à ocorrência de quedas na população idosa, para que, as-
sim, sejam ofertados orientações e esclarecimentos que propiciem ao idoso
o empoderamento necessário para agir diante dos riscos e prevenir episódio
de quedas, sobretudo no ambiente domiciliar (Dourado Júnior et al., 2022).
Como inovação tecnológica capaz de contribuir com a gerontecno-
logia, tem-se a Internet das Coisas (IoT). Esta permite que objetos físicos
vejam, ouçam, pensem, executem tarefas, compartilhem informações, pro-
cessem dados, capturem variáveis ambientais e mudanças externas por
meio de uma rede sem fio, que se comunica usando a Internet, incorporan-
do dispositivos, sensores, sistemas, aplicativos, dentre outros, para prover
um monitoramento mais completo e visando a um maior cuidado para os
idosos (Diniz et al., 2022).
As gerontecnologias IoT voltadas para a mobilidade e equilíbrio do
indivíduo estão sendo utilizadas para prevenção de quedas em pessoas ido-
sas. Estudo recente de Diniz e colaboradores, encontraram gerontecnolo-
gias IoT que abordavam sistemas, sensores, dispositivos, jogos sérios, exer-
games, robôs, realidade virtual, aplicativos, além de dispositivos vestíveis
(wearables) e dispositivos presentes no domicílio (smart home), com o obje-
tivo de auxiliar no monitoramento e prevenção das quedas, as quais podem
ser evitadas com o monitoramento em tempo real (Diniz et al., 2022). Ade-
mais, as gerontecnologias IoT desenvolvidas para utilização em instituições
hospitalares podem agir diretamente na redução dos custos assistenciais
(Sadoughi; Behmanesh; Sayfouri, 2020).

139
Dentre as gerontecnologias IoT, percebe-se a predominância de
dispositivos vestíveis para a criação das soluções voltadas para o monito-
ramento de idosos na prevenção de quedas, principalmente por meio de
sensores do tipo acelerômetro que conseguem medir a quantidade de pas-
sos e a aceleração do corpo. Essa maior utilização destes dispositivos se dá
pela ocorrência da maior adesão da população idosa e por também poder
realizar o monitoramento de outros dados fisiológicos, como a frequência
cardíaca, pressão arterial e calorias gastas, o que é visto pelos idosos como
algo relevante para a sua saúde (Lee; Lee, 2018).
As estratégias gerontecnológicas de monitoramento e prevenção de
quedas devem ser adaptadas aos diferentes contextos em que as pessoas
idosas vivem e recebem cuidados. Por exemplo, em um ambiente domici-
liar, a instalação de sensores de movimento em áreas de alto risco, como
escadas e banheiros, pode ajudar a identificar riscos de queda e fornecer
alertas precoces para intervenção (Jiang et al., 2020).
No ambiente hospitalar, estratégias tecnológicas para monitoramento
e prevenção de quedas, com o uso de hardwares e softwares, sensores e tec-
nologia da informação, possibilitam a ampliação do acesso às informações
e ao cuidado. Também são utilizados dispositivos para ambientes, tais como
monitoramento por vídeo, com sensor detector de movimento; sistemas in-
tegrados de alarmes, através de sensores acoplados a cama, capazes de si-
nalizar a tentativa e a saída do paciente do leito; equipamentos mecânicos
para contenção, como dispositivo desenvolvido para uso seguro do vaso sa-
nitário (Camargo; Colichi; Lima, 2023).
Em Instituições de Longa Permanência para Idosos, a prevenção de
quedas pode ser eficaz por meio da integração de sistemas de monitora-
mento remoto, que detectam mudanças na atividade e comportamento
dos residentes e alertam a equipe de cuidados sobre o risco de quedas imi-
nentes. Além disso, e tecnologias de mobilidade assistida, como andadores
equipados com sensores de estabilidade, podem ajudar a reduzir o risco de
quedas durante a locomoção (Hanson et al., 2019).

140
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prevenção de quedas em pessoas idosas requer uma abordagem


multiprofissional que integre conhecimentos e práticas de diversas disci-
plinas. As estratégias tecnológicas desempenham um papel crucial nesse
esforço, oferecendo uma variedade de soluções adaptadas aos diferentes
contextos ambientais e sociais, sob um olhar multiprofissional
Portanto, torna-se relevante ampliar as discussões para a formula-
ção de programas e políticas públicas de monitoramento e prevenção de
quedas na população idosa, compostas por estratégias tecnológicas e de
intervenções inovadoras, com abordagem multiprofissional, voltadas para
a segurança e qualidade de vida da pessoa idosa. O desenvolvimento de ge-
rontecnologias é um campo inovador e promissor no cuidado em saúde nas
áreas da Geriatria e Gerontologia, sobretudo no que tange à prevenção e
monitoramento de quedas em pessoas idosas.

141
REFERÊNCIAS

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144
EIXO 3

Experiências Exitosas de Prevenção de


Quedas em Diferentes Cenários no
Cuidado à Pessoa Idosa
CAPÍTULO 1
EXPERIÊNCIA EXITOSA NA PREVENÇÃO DE
QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE
Larissa Amorim Almeida
Kalyne Patrícia de Macêdo Rocha
Sandra Maria da Solidade Gomes Simões de Oliveira Torres
Bruno Araújo da Silva Dantas
Gilson de Vasconcelos Torres

APRESENTAÇÃO

O envelhecimento populacional cada vez mais significativo, gera a


importância de estudos e planejamentos que atendam às necessidades da
população idosa. Nesse contexto, o tema da ocorrência de quedas nesse
público merece atenção especial, uma vez que é um dos desfechos de saú-
de pública e de impacto social mais relevantes que afeta as pessoas idosas
no Brasil, com prevalência de aproximadamente 27%, sendo a idade mais
avançada associada ao maior risco de quedas (Filho et al., 2019). Isso não
ocorre somente no Brasil, mas em todos os países que estão passando por
um crescimento da população idosa.
A ocorrência dessas quedas é o resultado de uma interação complexa
entre diversos fatores, como aspectos fisiológicos, sociais, comportamentais
e ambientais (Fonseca; Matumoto, 2020). Trata-se de um evento multicau-
sal e que pode gerar consequências graves para a saúde da pessoa idosa,
como fraturas, lesões, medo de cair novamente e até a necessidade de hos-
pitalização (Santos et al., 2022).
As quedas representam o mais sério e frequente acidente doméstico
que ocorre com a população idosa e, a principal etiologia de morte aciden-
tal em pessoas acima de 65 anos (Freitas, 2016). No quesito hospitalização
em decorrência de quedas, foi evidenciado entre 2000 e 2018, um aumento
progressivo com consequente elevação dos custos para o sistema de saúde
(Silveira et al., 2020), o que representa um sério desafio para a saúde pú-
blica, uma vez que estão correlacionadas à diminuição da capacidade fun-
cional e à restrição da mobilidade. A perda de autonomia e independência
decorrente dessa redução da capacidade funcional pode demandar cuida-
dos adicionais por parte de familiares, cuidadores e instituições públicas,
aumentando o risco de institucionalização e óbito (Novaes et al., 2023).
Quando se trata da saúde das pessoas idosas, estima-se que no Bra-
sil cerca de 70% desse grupo depende dos serviços oferecidos pelo Siste-
ma Único de Saúde (SUS), com foco principal na Atenção Primária à Saú-
de (APS). Dentro desse contexto, destaca-se o papel da Estratégia de Saúde
da Família (ESF), que concentra suas atividades na promoção, proteção e
recuperação da saúde de forma abrangente e contínua. A ESF adota uma
abordagem multidisciplinar e um planejamento integrado das ações, visan-
do atender às necessidades do público idoso de maneira mais eficaz (Pedro;
Faria, 2019). Neste sentido, é essencial que sejam traçadas medidas preven-
tivas efetivas, para a prevenção de quedas nessa população.
Considerando a queda como um agravo potencialmente evitável, ire-
mos refletir sobre medidas que apresentaram êxito na modificação ou eli-
minação de fatores preditores deste evento, para pessoas idosas residentes
da comunidade, ou seja, atendidos no âmbito da Atenção Primária à Saúde.

MEDIDAS PREVENTIVAS PARA QUEDAS


NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE

O perfil da ocorrência de quedas em pessoas idosas é associado, na li-


teratura, principalmente a fatores intrínsecos, como presença de limitações
de mobilidade física, alterações de marcha, fraqueza muscular, diminuição
de acuidade visual e equilíbrio. Dentre os fatores extrínsecos, elencam-se si-
tuações referentes ao ambiente doméstico, como a presença de obstáculos,
baixa iluminação e desníveis (Dourado Júnior et al., 2022; Neiva; Moreira,
2022; Rajagopalan; Litvan; Jung, 2017).

147
Conhecer os fatores potencialmente geradores do evento torna pos-
sível traçar medidas com vistas à prevenção, como a prática de atividades
físicas; ações multicomponentes e, atualmente, também, utilizar medidas
tecnológicas para essa finalidade.

A PRÁTICA DA ATIVIDADE FÍSICA NA PREVENÇÃO DE QUEDAS

A perda de massa muscular decorrente da idade, assim como a sarco-


penia e perda do equilíbrio que podem ocorrer na pessoa idosa predispõem
a um maior risco de quedas. Mesmo sendo fatores intrínsecos, a literatura
demonstra que a atividade física é benéfica para modelá-los, promovendo
benefícios como aumento da força, redução da sarcopenia e melhoria da
estabilidade postural (Carlini Junior et al., 2021; Garcia et al., 2022).
Neste sentido, estudos que tiveram como proposta de intervenção
programas de treinamento físico, prática de artes marciais, prática de exer-
cício físico integrado - unindo atividades aeróbicas, de força, equilíbrio e
flexibilidade - apresentaram redução do risco de quedas, com melhora na
marcha e equilíbrio a curto e médio prazos, reduzindo o risco de as pesso-
as idosas sofrerem quedas (Ahmadinejad et al., 2024; Dourado Júnior et al.,
2022; Liu-Ambrose et al., 2019; Meulenbroeks et al., 2024).
Além dos benefícios físicos, vale ressaltar a relevância da atividade fí-
sica para a saúde mental das pessoas idosas, especialmente nas situações
de exercícios grupais, possibilitando, também, uma interação social entre os
envolvidos (Casemiro; Ferreira, 2020).

PREVENINDO QUEDAS POR MEIO DE AÇÕES MULTICOMPONENTES

As ações de multicomponentes são estratégias preventivas que com-


binam mais de uma atividade com o intuito de prevenir o evento das quedas,
como: a prática de exercícios físicos, monitoração telefônica, visita domici-
liar e avaliação de risco de queda. Estudos que analisaram essas estratégias
combinadas apresentaram maior eficácia na prevenção de quedas (Doura-
do Júnior et al., 2022; Meulenbroeks et al., 2024).
148
O ambiente domiciliar da pessoa idosa deve ser um local onde ela
possa estar segura, no entanto, muitas vezes esse local pode apresentar ris-
cos para sua saúde. Pesquisa realizada no Estado do Rio Grande do Norte
evidenciou que a maioria das quedas em pessoas idosas ocorreu dentro do
domicílio, cenário onde se encontram a maior parte dos fatores extrínsecos
ambientais, aqueles podem ser modificados, como a presença de tapetes,
obstáculos no chão, escadas sem corrimão, dentre outros (Tavares; Araújo;
Nunes, 2021).
Neste aspecto, a visita domiciliar é uma estratégia que pode ser bas-
tante eficaz para prevenção de quedas uma vez que possibilita que sejam
identificados fatores de risco no ambiente doméstico, possibilitando a
avaliação direcionada do risco de queda e, assim, predispondo a oferta de
orientações e esclarecimentos a fim de promover ao idoso o conhecimento
necessário para atuar diante dos fatores presentes em seu ambiente com
vistas a prevenir a ocorrência de quedas. Além disso, o contato presencial e
direto com a pessoa idosa e familiares possibilita a oportunidade de retirada
de dúvidas (Dourado Júnior et al., 2022).
A monitorização telefônica também é um importante instrumento
que pode ser utilizado em conjunto com outras estratégias tanto para a ava-
liação do risco de queda, como para a oferta de orientações individualiza-
das de medidas preventivas para a realidade de cada pessoa idosa (Dourado
Júnior et al., 2022).
Diversas ferramentas de avaliação estão disponíveis para mensurar o
risco de quedas, dentre elas a Escala de Morse é amplamente empregada,
essa escala considera seis critérios principais (histórico de quedas, presença
de diagnósticos médicos, uso de equipamentos de apoio à marcha, uso de
terapia intravenosa, dificuldade na locomoção e estado mental do pacien-
te). Neste sentido, outro instrumento utilizado, também, para averiguação
do risco de quedas é a Escala de Downton, a qual inclui cinco critérios (his-
tórico de quedas anteriores, uso de medicamentos e presença de déficits
sensoriais, como distúrbios visuais e auditivos) (Falcão et al., 2019; Soares
et al., 2022). A importância do uso desses instrumentos consiste na possibi-
lidade de se conhecer e avaliar a possibilidade de ocorrência de quedas, de

149
forma a permitir um olhar direcionado e desempenho de maiores esforços
com vistas à prevenção do evento em pessoas com maior risco.
É crucial reconhecer a importância de identificar o risco de queda
em idosos, pois isso permite uma abordagem proativa na implementação
de medidas preventivas. Ao utilizar ferramentas de avaliação para exami-
nar a mobilidade, equilíbrio e risco de queda, como os testes mencionados,
é possível determinar quais idosos estão em maior vulnerabilidade. Essa
conscientização permite a implementação de intervenções preventivas di-
recionadas, através das intervenções multicomponentes, com a união de
programas de exercícios, modificações no ambiente doméstico e orienta-
ções e esclarecimento às pessoas idosas, familiares e cuidadores, auxiliando
na mitigação do risco de quedas.

TECNOLOGIAS E PREVENÇÕES DE QUEDAS - O FUTURO PRÓXIMO

Além das medidas já mencionadas que apresentaram êxito para a


prevenção de quedas de pessoas idosas da comunidade, atendidos no âm-
bito da Atenção Primária à Saúde, atualmente têm sido pesquisadas e uti-
lizadas, com o avanço da inteligência artificial, medidas tecnológicas, atra-
vés do uso de dispositivos atrelados a análises de algoritmos que podem ser
aliados nessa missão.
Neste grupo estão incluídos dispositivos vestíveis (como relógios, pul-
seiras, dentre outros) que ficam atrelados ao corpo e podem calcular fre-
quência cardíaca, glicemia, saturação de oxigênio e alterações de pressão
arterial possibilitando prever situações de risco de queda em pessoas ido-
sas e acionar alarmes, conforme programação, sinalizando tanto cuidado-
res, familiares ou mesmo serviços de saúde. Também têm sido pesquisados
produtos com sensores como acelerômetros e giroscópios para análise da
marcha e monitoramento da mobilidade, auxiliando, também, a predizer o
risco de quedas (Mohan et al., 2024; Rajagopalan; Litvan; Jung, 2017).
Além disso, têm sido utilizados sensores ambientais, não vestíveis,
que podem analisar a marcha, o equilíbrio, detectar movimentos e o contor-

150
no do corpo, como as câmeras e o piso inteligente com sensores de pressão
que monitoram parâmetros como velocidade, comprimento da passada e
largura do passo. A análise dos dados ocorre através de algoritmos (Mohan
et al., 2024; Nascimento; Silva; Juchem, 2022; Rajagopalan; Litvan; Jung,
2017).
No entanto, tanto os sensores vestigiais, como o uso de sensores am-
bientais têm pontos negativos. Os primeiros podem gerar desconforto na
pessoa idosa durante o uso e os sensores ambientais podem afetar a sua pri-
vacidade, além do investimento financeiro requerido, não sendo acessível a
toda a população idosa (Mohan et al., 2024).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o envelhecimento da população em ascensão, é crucial que os


sistemas de saúde desenvolvam abordagens para atender às necessidades
específicas desse grupo, não somente nos ambientes de saúde como, tam-
bém, no ambiente domiciliar, regido pela Atenção Primária à Saúde.
Considerando as relevantes taxas de quedas em pessoas idosas ocor-
ridas no domicílio e as graves consequências que podem ser ocasionadas
a partir deste evento (como lesões, fraturas, hospitalização e até mesmo o
óbito), ressalta-se a importância das equipes de atenção primária à saúde
terem abordagem efetiva com vistas à prevenção de quedas, assim como
o olhar direcionado para os fatores de risco intrínsecos e extrínsecos apre-
sentados pela população idosa adscrita, a fim de possibilitar a promoção de
medidas preventivas neste âmbito.
A prática de atividade física é descrita na literatura como fator chave
para a prevenção de quedas e, quando atrelada a outras atividades como a
monitorização telefônica e a visita domiciliar, na intervenção multicompo-
nentes, apresenta ainda maior efetividade.
Além disso, com os avanços tecnológicos vivenciados no âmbito da
saúde, acredita-se que em um futuro breve será possível unir as ações pre-
ventivas de atividade física, multicomponentes, sensores vestíveis e am-

151
bientais com a análise de algoritmos a fim de promover uma avaliação da
pessoa idosa na comunidade que possibilite uma melhor predição e pre-
venção deste evento adverso.
Futuras pesquisas devem se concentrar na integração de dados pro-
venientes de sensores tecnológicos para avaliar diversos fatores de risco de
quedas em idosos, não deixando de lado a importância das demais medidas
já atualmente praticadas com esse intuito.

152
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156
CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO E PREVENÇÃO DO RISCO
DE QUEDAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Carlos Alexandre de Souza Medeiros
Manuela Pinto Tiburcio
Albirea Shinobu Inaoka Brito
Ana Beatriz de Almeida Medeiros Moura
Patrícia Medeiros da Silva Oliveira

APRESENTAÇÃO

Queda é o deslocamento não intencional do corpo para um nível in-


ferior à posição inicial mesmo que não chegue ao chão, causado por cir-
cunstâncias multifatoriais, podendo resultar ou não em dano (Armino et al.,
2020).
Um evento de queda em pacientes hospitalizados produz danos em
30% a 50% dos casos, sendo que de 6% a 44% desses pacientes sofrem danos
graves, podendo chegar até o óbito. Estes eventos podem trazer impactos
de vários tipos como: redução na mobilidade, medo de novo evento, inse-
gurança, ansiedade, depressão, além de que seus danos podem aumentar
a morbidade e o tempo de internação do paciente, aumentando a carga de
cuidados dispensados e consequentemente os custos hospitalares (Armino
et al., 2020; Oliveira et al., 2014).
Nesse contexto, os protocolos de prevenção de quedas, preconizados
pelo Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), visam reduzir o
risco de lesões ao paciente em decorrência de quedas. O protocolo institu-
cional deve ser baseado no protocolo publicado pela ANVISA e tem como
princípios básicos a avaliação de risco e a implementação de medidas pre-
ventivas baseadas no risco (Brasil, 2013).
A avaliação do risco de queda é o primordial para guiar intervenções
individualizadas, visando a prevenção e a redução de quedas em pacientes
hospitalizados. Um diagnóstico situacional deve ser feito para que se possa
conhecer a realidade dos eventos de quedas na instituição como forma de
subsidiar a tomada de decisão relativa à prevenção de quedas (Alves, 2017).
O Ministério da Saúde tem envidado grandes esforços para tornar efe-
tivo o PNSP, porém muitos hospitais têm dificuldade de implantar efetiva-
mente ações voltadas a promover a segurança do paciente. Um dos motivos
para este fato é a formação deficitária dos profissionais no tema, sendo ne-
cessárias ações de capacitação e instrumentalização para implementação
efetiva destas medidas. Os projetos colaborativos surgem como excelentes
ações para suprir essa lacuna, trazendo a expertise de instituições onde as
metodologias de ponta já são utilizadas e a cultura de segurança está bem
estabelecida (Jacques, 2021).
A metodologia da Ciência da Melhoria do IHI (Institute for Healthcare
Improvement), também conhecido como Modelo de Melhoria, é uma abor-
dagem sistemática e baseada em evidências para aprimorar a qualidade e
segurança dos cuidados de saúde. O IHI desenvolveu essa metodologia com
o objetivo de ajudar as organizações de saúde a alcançarem melhorias sus-
tentáveis em seus processos e resultados. Essa abordagem se baseia em al-
guns princípios-chave, incluindo: foco no paciente; abordagem sistemática;
aprendizado contínuo; colaboração interdisciplinar; e uso de ferramentas
de melhoria. Desta forma, o Modelo de Melhoria do IHI fornece uma estru-
tura robusta e baseada em evidências para impulsionar melhorias mensu-
ráveis e sustentáveis na qualidade e segurança dos cuidados de saúde. Ao
adotar essa abordagem, as organizações de saúde podem trabalhar de for-
ma colaborativa para alcançar resultados melhores e mais consistentes para
os pacientes (Langley, et al., 2011).
Nesse contexto, foi lançado em novembro de 2016 o Projeto Pacien-
te Seguro, onde um Hospital de referência prestou consultoria in loco para
15 hospitais brasileiros selecionados, compartilhando sua expertise para a
implantação efetiva de protocolos de segurança do paciente, utilizando o
Modelo de Melhoria do IHI.

158
DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DAS QUEDAS
E PLANEJAMENTO DAS AÇÕES

Um dos hospitais selecionados para o Projeto Paciente Seguro, foi um


Hospital universitário de porte médio, localizado no nordeste brasileiro, que
possuía Núcleo de Segurança do Paciente em atividade, porém o protocolo
de prevenção de quedas não estava plenamente implementado.
No início do processo de consultoria, foi aplicada uma ferramenta de
diagnóstico que contemplava os recursos materiais, processos e indicado-
res.
A partir daí foi construído um Diagrama Direcionador para prevenção
de quedas na instituição (Figura 1). Este diagrama era composto pelo obje-
tivo (que trazia a meta a ser cumprida), os direcionadores primários (que
contribuem diretamente para atingir o objetivo), os direcionadores secun-
dários (que são subcomponentes dos direcionadores primários) e as ideias
de mudança específicas para testar em cada direcionador secundário (Fi-
gura 2).

Figura 1 – Diagrama Direcionador (Quedas)

159
Figura 2 – Exemplo de ideias de mudança

INTERVENÇÃO

As ideias de mudança começaram a ser testadas nas unidades inicial-


mente definidas como pilotos. A ferramenta selecionada para a realização
dos testes foi o PDSA (Plan-Do-Study-Act). Um ciclo de PDSA é um plano
para testar a mudança (Plan- planejar), realizar o teste (Do- fazer), observar,
analisar e aprender com o teste (Study -estudar) e determinar quais mo-
dificações fazer para o próximo ciclo (Act - agir). Essa ferramenta deve ser
utilizada no menor universo possível, pois cada ideia mudança pode passar
por vários ciclos e só se deve tentar a expansão quando se estiver seguro que
o processo está bem desenhado.

PDSA PARA O AUMENTO DA ADESÃO À AVALIAÇÃO DIÁRIA DO


RISCO DE QUEDA

• Inicialmente se realizou um PDSA para a aplicação da escala


de Morse (escala utilizada para avaliação do risco de quedas
na instituição) em um paciente. Foi verificado que é possível a
aplicação da escala sem que houvesse prejuízo à assistência;
160
• O passo seguinte foi expandir a avaliação para um quarto da
enfermaria, o que englobava a avaliação de três pacientes;
• Posteriormente ampliou-se a avaliação para toda a enfermaria
(31 pacientes), sendo que nesta fase foi verificado que, a Escala
de Morse era um formulário extra e não era integrado à evolu-
ção do enfermeiro, desta forma seguia-se muitos passos para
abri-lo no sistema;
• Testou-se a junção da evolução do enfermeiro, escala de Mor-
se, escala de Braden (escala utilizada para avaliação do risco de
lesão por pressão) e escala de Fugulin (escala utilizada para de-
terminar o grau de dependência do paciente) em um formulário
só, otimizando assim seu preenchimento..
• Conclusão: A junção de vários formulários em um único docu-
mento no sistema reduziu o tempo de preenchimento e assim
melhorou a adesão da equipe de enfermagem que saiu de uma
mediana de 28,1% para 76,9%, conforme mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Percentual de pacientes avaliados quanto ao risco de quedas

161
PDSA PARA O AUMENTO DA PRESCRIÇÃO DE CUIDADOS
ADEQUAÇÃO AO RISCO DE QUEDA

• Um segundo pilar da prevenção de quedas é a implementação


de cuidados preventivos adequados ao risco do paciente, obser-
vado na avaliação;
• Nesse contexto foi realizado um PDSA para testar a melhor for-
ma do enfermeiro prescrever as medidas preventivas de acordo
com o risco;
• Inicialmente foram desenvolvidos os pacotes de medidas con-
forme cada faixa de risco: baixo, médio e alto;
• As medidas foram incluídas separadamente no sistema de pres-
crição do enfermeiro, porém observou-se que a equipe perdia
muito tempo procurando as medidas separadamente, o que
não favorecia a prescrição correta;
• Testou-se a elaboração de pacotes de medidas conforme as fai-
xas de riscos;
• Conclusão: A criação de pacotes reduziu o tempo de prescrição
e melhorou o percentual de prescrições adequadas ao risco,
saindo da mediana de 24,5% para 81%, conforme o Gráfico 2.

Gráfico 2 – Percentual de adesão às medidas de prevenção aplicadas conforme o risco

162
CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto de um hospital universitário, onde apesar de instituído


o protocolo de prevenção de quedas não estava implementado. O uso de
ferramentas baseadas em evidência, trazidas por um projeto colaborativo
de abrangência nacional, foi fundamental para que houvesse êxito nas ini-
ciativas primordiais relativas à prevenção de quedas na instituição.
Atualmente, observamos que os processos destacados aqui estão bem
sedimentados na equipe, fruto das ações desenvolvidas seguindo o Modelo
de Melhoria do IHI, amplamente disseminado na instituição através da con-
sultoria prestada pelo projeto e sustentado pela equipe local.

163
REFERÊNCIAS

ARMINO, Simone Olga et al. Avaliação do risco de quedas em uma unidade


de clínica de um hospital universitário. Revista Enfermagem Atual In
Derme, v.91, n.29, p. 4-9, jan-mar, 2020.

OLIVEIRA, Roberta Meneses et al. Estratégias para promover segurança do


paciente: da identificação dos riscos às práticas baseadas em evidências.
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem. v.18, n.1, p.122-129, jan-mar,
2014.

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de Vigilância Sanitária. [2013] Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/
pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/
protocolo-de-prevencao-de-quedas

ALVES, Vanessa Cristina et al. Ações do protocolo prevenção de quedas:


mapeamento com a classificação de intervenções de enfermagem. Revista
Latino-americana de Enfermagem. V.25, p.1-11, 2017.

JACQUES, Fernanda Boaz Lima et al. Projeto Paciente Seguro – Fase I: relato
de experiência. Revista Científica da Escola Estadual de Saúde Pública de
Goiás. V.7, p.1-13, 2021.

LANGLEY, Gerald J. et al. Modelo de Melhoria - Uma Abordagem Prática


Para Melhorar o Desempenho Organizacional. São Paulo: Mercado de
Letras, 2011. 545p.

164
CAPÍTULO 3
CENÁRIO ACADÊMICO DAS QUEDAS
NA POPULAÇÃO IDOSA INSTITUCIONALIZADA
EM ATIVIDADES EXTENSIONISTAS
Clemer Mateus Gomes Teixeira
Ítalo Henrique Martins Corrêa
Josiane Pereira dos Santos
Júlia Danielle de Medeiros Leão
Luiza Lisboa Krause de Araujo e Lima

APRESENTAÇÃO

O Plano Nacional de Extensão Universitária (PNEU) define ativida-


de de extensão como “uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à
comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de
elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico” (PNEU, 2001, p.5).
São ações que ocorrem fora do ambiente acadêmico tradicional e que se
conectam diretamente com as comunidades, contribuindo para a formação
dos estudantes ao proporcionar-lhes experiências práticas que fortalecem
a segurança em relação ao seu desenvolvimento profissional (PNEU, 2001).
Pinheiro e Narciso (2022) afirmam que as ações extensionistas favore-
cem o processo de ensino aprendizagem pela importância para o meio aca-
dêmico, pois ajuda no conhecimento do estudante sobre a realidade local
em que a universidade está inserida, na prestação de serviços e assistência à
sociedade, além de estimular o aprimoramento do seu currículo acadêmico
e sua formação em saúde. Nesse sentido, as ações extensionistas se desta-
cam como uma ferramenta promissora para o desenvolvimento profissional
e social, uma vez que possibilitam a articulação e a interação da academia
com a sociedade.
Enveredando a temática das ações referidas com a explosão do fenô-
meno do envelhecimento populacional, muitos desafios estão sendo en-
frentados pela saúde pública. A ocorrência de quedas é considerado um
evento frequente em qualquer idade, mas devemos estar alertas quando
ocorre com pessoas idosas. Dessa forma, são necessárias a efetiva imple-
mentação de estratégias de educação em saúde visando garantir a seguran-
ça e proteção da pessoa idosa, consequentemente, preservando sua capaci-
dade funcional (Oliveira, 2014).
À medida que a idade avança, a maioria das pessoas idosas tende a
precisar de apoio, especialmente quando há questões de saúde ou limita-
ções funcionais, pode necessitar de cuidados de longa permanência, levan-
do as pessoas idosas a residir em Instituições de Longa Permanência para
Idosos (ILPI). Nesse cenário, as quedas entre pessoas idosas estão relacio-
nadas à diminuição da capacidade funcional e ao comprometimento da
mobilidade que pode prejudicar sua independência e autonomia. Emergem
como uma preocupação relevante em ambientes institucionais que neces-
sitam de estratégias de prevenção que incluem acompanhamento, orienta-
ções, avaliação de risco, modificação do ambiente para que este se adeque
à pessoa idosa, exercícios físicos para o fortalecimento muscular, revisão de
medicamentos para ocorrer a observação dos efeitos colaterais e educação
para cuidadores além de exigir cuidados maiores acarretando ainda na ins-
titucionalização (Lojuice et al., 2010; Novaes et al.,2023).
As possíveis consequências das quedas em ILPIs podem ser a dimi-
nuição da capacidade funcional, nível da atividade física, ferimentos, fratu-
ras, declínio na qualidade de vida, dependência, isolamento social, depres-
são, aumento da mortalidade, gerando alto custo com a saúde, incentiva ou
antecipa a institucionalização, gera medo de cair e risco de morte (Freitas,
2016).
Sob essa perspectiva, o presente capítulo objetiva descrever um relato
de experiência realizado a partir de um projeto de extensão universitária
intitulado (Seminário de Formação em Gestão do Cuidado e Segurança da
Pessoa Idosa) e conduzido pelo Observatório do Envelhecimento Humano
(Grupo Longeviver), sediado no Departamento de Saúde Coletiva da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que desempenha um
papel significativo no contexto da segurança da pessoa idosa, por meio do

166
conhecimento, bem como medidas de proteção e prevenção de quedas no
âmbito de instituições de longa permanência para Idosos (ILPIs), e como
esta pode contribuir para a capacitação de seus cuidadores.

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E SAÚDE:


REINVENTANDO A EDUCAÇÃO PERMANENTE

O Ministério da Saúde, por meio das Portarias nº 198/2004 e nº


1996/2007, estabelece a Educação Permanente como uma política pública
de saúde, que objetiva orientar a formação e capacitação dos profissionais
que atuam nos serviços de saúde, buscando garantir a promoção e a trans-
formação das práticas profissionais e da organização do trabalho (Brasil,
2004; Brasil, 2007).
Nessa perspectiva, a Política Nacional do Idoso (PNI) preconiza que a
capacitação de recursos humanos é considerada uma competência essen-
cial no cuidado à pessoa idosa, enfatizando a necessidade de compreender
suas particularidades. Nesse contexto, o papel do cuidador emerge como
crucial para assegurar o suporte e a atenção integral à saúde desse público.
Portanto, torna-se essencial que os cuidadores estejam sensibilizados para
essas peculiaridades e participem ativamente de programas de capacitação
no sentido de estar atentos à prevenção de quedas com o objetivo de dimi-
nuir a morbidade e mortalidade, pois, as complicações decorrentes repre-
sentam um grande impacto na qualidade de vida dessa população (Silveira
et al., 2023).
É preciso ter formação e preparo para saber como lidar com essa fase
da vida. A importância de ter profissionais capacitados para cuidar é visível
nos detalhes, como no modo de lidar com as limitações das pessoas na po-
pulação idosa (Brasil, 2023).
Desse modo, instruir a capacitação da equipe é fundamental para se
obter profissionais qualificados, que estejam atentos às necessidades indi-
viduais de cada pessoa, com uma visão ampliada, e que busquem melhorar
a qualidade de vida das pessoas idosas (Anício, 2013).

167
RELATO DA EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA

A experiência extensionista ocorreu em parceria com cinco Institui-


ções de Longa Permanência para Idosos (ILPI) localizadas no município de
Natal e uma localizada na região metropolitana, todas de cunho filantró-
pico, sem fins lucrativos. A ação foi conduzida pelos membros do Grupo
Longeviver e teve como tema abordado o “Risco de Quedas e Administração
Segura de Medicamentos”, cujo principal objetivo foi sensibilizar os profis-
sionais que atuam na assistência às pessoas idosas residentes em ILPIs em
relação aos cuidados seguros na prevenção de quedas e sua relação à admi-
nistração correta de medicamentos. O local de realização do seminário foi o
Lar da vovozinha, instituição de caráter filantrópico, localizada no território
do distrito sanitário oeste, município de Natal - RN.
Participaram da ação estudantes de graduação em enfermagem, saú-
de coletiva, profissionais da arquitetura e farmácia, juntamente com repre-
sentantes das ILPIs. Inicialmente foi realizada uma dinâmica para integra-
ção dos participantes, promovendo um ambiente colaborativo e acolhedor.
As atividades foram divididas em dois momentos. No primeiro, foi abordado
sobre a temática de "Prevenção de Quedas nas ILPIs", com discussão basea-
da no seguinte questionamento: "Como estabelecer a prevenção de quedas
em pessoas idosas residentes nas Instituições de Longa Permanência para
Idosos?". A apresentação foi realizada por profissionais da saúde, onde co-
locaram vários pontos de estratégias e boas práticas para responder a essa
pergunta. Nessa perspectiva, foi abordado um pouco sobre os aspectos rela-
cionados à prescrição, uso e administração de medicamentos associando a
temática da Polifarmácia em pessoas idosas que residem em ILPI conside-
rando a relação existente de certos medicamentos que provocam desequilí-
brio e ocasionam em quedas.
Seguindo as atividades, a arquiteta colaboradora do grupo Longevi-
ver fez uma apresentação abordando alguns aspectos relacionados à estru-
tura física das ILPIs, que geralmente são antigas e em condições de pouca
acessibilidade aos residentes, favorecendo o acometimento de quedas que
ocorrem pela falta de um ambiente adequado e seguro. Com isso, a arquite-

168
ta forneceu sugestões simples que poderão ser adaptadas na prevenção des-
ses incidentes junto com soluções para a melhoria desses ambientes, tais
quais, estão inclusos, barras de ferro, adesivos antiderrapantes e câmeras.
O segundo momento do seminário foi direcionado para o tema do uso
seguro de medicamentos pela população idosa, com ênfase na necessidade
de acompanhamento constante das prescrições pela equipe de profissio-
nais que atuam na assistência, a fim de que problemas decorrentes de iatro-
genia e interação medicamentosa sejam evitados nos residentes.
Destacam-se algumas orientações presentes no manual de orienta-
ção ao farmacêutico, que consideram a complexidade do cuidado à pessoa
idosa, tendo em vista a presença comum de comorbidades, fragilidade e uso
de múltiplos medicamentos, reforçando a importância da implementação
de atividades relacionadas à assistência farmacêutica nessas instituições.
Essas atividades visam garantir um melhor controle dos medicamentos
utilizados, promover uma boa integração com a equipe de saúde multidis-
ciplinar e alcançar os resultados desejados na terapia medicamentosa, in-
cluindo a manutenção da saúde, a redução de custos e o uso racional de
medicamentos (CRF, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A extensão universitária atua como uma ferramenta promissora na


formação em saúde de futuros profissionais, especialmente no contexto
da prevenção de quedas em ambiente institucional para pessoas idosas.
A aproximação entre a universidade e a comunidade externa não apenas
proporciona oportunidades de aprendizado enriquecedoras para os alunos,
mas também promove melhorias tangíveis na sociedade por meio de ações
de educação permanente em saúde.
As ações de extensão viabilizam uma troca de conhecimentos em que
ambas as partes contribuem para o avanço da ciência e agregam valor ao
desenvolvimento social. Espera-se, portanto, que essas iniciativas contribu-
am para aprimorar a gestão do cuidado, capacitando os profissionais com

169
uma perspectiva ampla e sensível, e elevando a qualidade das práticas de
assistência prestadas à pessoa idosa.
Importante destacar ainda a educação continuada dos profissionais
que prestam assistência às pessoas idosas, seja em ambiente domiciliar,
hospitalar ou institucional, como uma medida fundamental para a pre-
venção do risco de quedas. Assim, as ações extensionistas, como método
de educação em saúde, proporcionam melhorias significativas, incluindo a
identificação precoce dos fatores de risco e a implementação de medidas
preventivas, permitindo que os profissionais ajam com prontidão e eficiên-
cia em caso de quedas, reduzindo lesões e proporcionando uma assistência
de qualidade.

170
REFERÊNCIAS:

A atuação do farmacêutico em instituições de longa permanência para


idosos. Manual de orientações ao farmacêutico. Disponível em: chrome-
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Anício, Valéria Alvarenga. Cuidando de idosos: um enfoque na capacitação


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Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria Nº 1.996, 20


de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da
Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília 20 de agosto
de 2007. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
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Brasil. Portaria nº 198/GM/MS, de 13 de fevereiro de 2004. 13 fev. 2004.


Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/
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Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras


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Freitas, Elizabete Viana de; PY, Ligia. Tratado de Geriatria e Gerontologia.


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de tendência temporal de 2000 a 2020 e o impacto econômico estimado no
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Oliveira, Cristina Domingos de. Educação permanente para cuidadores de


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Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/VRNS-9QEFCY.
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Desenvolvimento Profissional". Disponível em: https://periodicos.ufrn.
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Acesso em: 26 fev. 2024.

172
CAPÍTULO 4
RDC Nº 502/2021 COMO INSTRUMENTO
DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA EM INSTITUIÇÕES
DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS
Alice Alves de Souza
Tatiana de Almeida Jubé

APRESENTAÇÃO

As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) são organi-


zações governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, des-
tinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e
dignidade e cidadania (Brasil, 2021).
Estes serviços têm particularidades que derivam principalmente da
população que habita suas dependências, as pessoas idosas, que requerem
uma atenção específica para garantia do bem-estar físico, mental e social
tanto dos moradores quanto das pessoas que trabalham nestes locais. As-
sim, o bom funcionamento de uma ILPI tem dimensões que englobam, mas
não se esgotam, nas ações de vigilância sanitária (Arreaza; Moraes, 2010).
Nesse sentido, a Anvisa acompanha a norma sanitária federal dedica-
da ao tema, a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) no 502 de 2021. Essa
resolução descreve o padrão mínimo de funcionamento das Instituições de
Longa Permanência para Idosos, com o objetivo de observar os direitos e
garantias dos idosos, promover ambiência acolhedora, promover a convivên-
cia mista entre os residentes de diversos graus de dependência, dentre outras
ações (Brasil, 2021).
HISTÓRICO DA NORMA SANITÁRIA

A RDC no 283, de 26 de setembro de 2005, que aprovava o Regula-


mento Técnico que definiu normas de funcionamento para as Instituições
de Longa Permanência para Idosos, foi um marco regulatório sanitário para
as boas práticas em residências coletivas para pessoas idosas. Ela foi elabo-
rada a partir da necessidade de estabelecer critérios para a prevenção e re-
dução dos riscos à saúde aos quais ficam expostos os idosos residentes, bem
como de definir os critérios mínimos para o funcionamento desses locais e
os mecanismos de avaliação e monitoramento dos serviços prestados (Bra-
sil, 2005). A mobilização das discussões para a elaboração do regulamento
partiu das políticas públicas e da legislação vigente sobre os direitos dessa
população.
Em 2019, o governo federal publicou o Decreto no 10.139 de 2019, que
dispõe sobre a revisão e a consolidação dos atos normativos inferiores a de-
creto, conhecido como “Decreto do Revisaço”. Em atendimento a essa nor-
ma, a Anvisa vem realizando uma série de ações voltadas para a avaliação e
a consolidação de suas normas (Brasil, 2019).
Nessa perspectiva, a Anvisa publicou em sua página a RDC renome-
ada como Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 502, de 27 de maio de
2021. Importante destacar que o processo de revisão e consolidação não
contempla alterações técnicas no conteúdo das normas, mas apenas aper-
feiçoa a técnica legislativa e a redação, bem como organiza e consolida os
atos normativos. Para isso, são considerados fatores como eliminação de
ambiguidades, união de dispositivos repetitivos, atualização de termos e de
linguagem antiquados, eliminação de dispositivos já obsoletos, dentre ou-
tros. Houve uma atualização quanto ao formato de alguns artigos para ade-
quação da técnica legislativa, não ocorrendo alteração de mérito na norma,
ou seja, o conteúdo é praticamente o mesmo (Brasil, 2021).

174
INOVAÇÃO: PROPOSTA DE AVALIAÇÃO DO SERVIÇO A PARTIR DE
NOTIFICAÇÃO DE INDICADORES

A avaliação e o monitoramento dos serviços sujeitos à vigilância sa-


nitária permitem a organização de dados para a tomada de decisão sobre
esse serviço, que vão desde uma advertência a uma interdição. Esses ins-
trumentos podem estar interligados a sistemas específicos, favorecendo a
intervenção (Portela, 2000; Costa, 2000).
A prevenção de quedas na velhice é um conhecido fator de qualidade
independentemente da pessoa idosa estar ou não em um serviço de saúde,
pois essa atuação é o que pode evitar uma hospitalização ou um agravo no
estado de saúde desse indivíduo (Dourado et al.,2022).
Para o acompanhamento do serviço prestado nas ILPIs estão previs-
tos na norma sanitária, por exemplos, a notificação de quedas e tentativas
de suicídios, que devem ser trabalhados em conjunto com a vigilância epi-
demiológica e os serviços de saúde quando alterados, para devida adequa-
ção do serviço, visando especialmente a segurança da pessoa idosa que ali
habita. Essa é uma inovação em termos de normas sanitárias publicadas em
2005 que permaneceu após a avaliação de 2021.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente a Anvisa verificou a necessidade de uma análise da nor-


ma quanto a sua aplicabilidade e atualização, uma vez que as determina-
ções técnicas datam de 2005, como explicitado anteriormente.
Nesse contexto, a agência realiza o que é conhecido nas Boas Práticas
Regulatórias como Análise de Impacto Regulatório (AIR), um processo que
apresenta direções para definir se a norma sanitária precisa ser atualizada e
em quais pontos. A AIR define um ou mais problemas regulatórios relacio-
nados à norma, os atores envolvidos nesta discussão, as alternativas para
solução destes problemas e os possíveis impactos destas alternativas para
seleção da melhor opção no contexto da análise.

175
A avaliação da qualidade dos serviços prestados pela ILPI parece ser
um fator a ser observado nessa análise, sendo as notificações de queda um
grande orientador dessa qualidade pela sua importância na manutenção
do estado de saúde da pessoa idosa. É preciso verificar, por exemplo, se o
acesso às notificações bem como seu tratamento estão sendo trabalhados
conjuntamente pela Vigilância Sanitária e pela Vigilância Epidemiológica,
conforme proposto pela resolução. Outro ponto é identificar se o procedi-
mento para a notificação é acessível e compreendido pelas ILPIs.
É notório que essa discussão deve contar com diversos atores além
das vigilâncias sanitária e epidemiológica, envolvendo a assistência social,
direitos humanos, tanto em nível da administração pública quando de orga-
nizações que tratam o tema, para que essas notificações sejam reconhecidas
dentro da estrutura de qualidade de serviço das ILPIs.

176
REFERÊNCIAS

Arreaza ALV, Moraes JC de. Vigilância da saúde: fundamentos, interfaces


e tendências. Ciência Saúde coletiva [Internet]. 2010Jul;15(4):2215–28.
Available from: https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000400036.
Acesso em: 08/03/2024

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome


Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Reimpressão 2014.
Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/
assistencia_social/Normativas/tipificacao.pdf Acesso em: 08/03/2024

Decreto nº 10.139, de 28 de novembro de 2019 - Dispõe sobre a revisão


e a consolidação dos atos normativos inferiores a decreto (alterado pelo
Decreto nº 10.310, de 2020 e Decreto nº 10.437, de 2020).

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 502 de 27/05/2021


- DOU de 31/05/21 p. 110 - seção 1 nº 101 - Dispõe sobre o funcionamento
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Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 283, de 26 de


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178
CAPÍTULO 5
PROJETOS EDUCATIVOS E A PREVENÇÃO
DE QUEDAS - EXPERIÊNCIA EM PORTUGAL
Ricardo Filipe da Silva Pocinho
Rui Miguel Duarte Santos
Cristóvão Adelino Fonseca Franco Ribeiro Margarido
Sílvia Clara Laurido da Silva
Sara Maria de Oliveira Gordo

APRESENTAÇÃO

Envelhecer em Portugal
Dados da PORDATA (2022) indicam que Portugal é o quarto país do
mundo com mais pessoas com uma idade igual ou superior a 65 anos repre-
sentando, esta faixa etária, quase 25% da população portuguesa. Em 2021, a
percentagem de população idosa era de 23,4% enquanto a de jovens era de
apenas 12,9%, sendo que o índice de envelhecimento da população portu-
guesa é atualmente de 182 idosos por cada 100 jovens. Paralelamente a este
crescimento, assistimos a um aumento do número de idosos frágeis e de-
pendentes de terceiros para a realização das tarefas da vida diária, aumen-
tando consequentemente a procura pela opção de cuidados institucionais
(Pocinho, 2022).
Efetivamente, o envelhecimento normal está associado a uma fra-
gilidade física, psicológica e social, ainda que com intensidade variável A
fragilidade pode assim representar uma fase de transição entre o envelheci-
mento bem-sucedido e a incapacidade funcional e, consequente institucio-
nalização (Cesari et al., 2017; Tavares, Grácio & Nunes, 2020).
Têm sido vários os fatores de risco que contribuem para a institucio-
nalização, nomeadamente, a fragilidade física e psíquica, a sobrecarga dos
cuidadores, a falta de apoio sociofamiliar, as alterações neurocognitivas,
psicopatológicas, a presença de múltiplos diagnósticos, a polimedicação, os
episódios de hospitalização, e as quedas (Dixe et al., 2023; Jerez-Roig et al,
2017; Wang et al., 2018).
A maior propensão a quedas está relacionada ao fenómeno de fragi-
lidade, nomeadamente a fatores intrínsecos como alterações nos sistemas
musculoesquelético, perda de massa muscular, diminuição de equilíbrio,
défices sensoriais, vestibulares e cognitivos e, a fatores extrínsecos relacio-
nados ao ambiente como as condições habitacionais, o acesso a meios de
transporte e/ou a serviços saúde (Giacomini, Fhon & Rodrigues, 2020; Ma-
rinho et al., 2020).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2018) estima-se que um
terço dos idosos acima de 65 anos vivencie um episódio de queda anual-
mente, o que contribui para um declínio funcional e à perda de autonomia,
de qualidade de vida e bem-estar. Inclusivamente, quanto maior a fragilida-
de maior a propensão a quedas, pois esta afeta a resistência física, altera o
equilíbrio, potencializa fraqueza muscular e reduz o desempenho motor do
idoso (Giacomini et al., 2020)
Considerando os fatores associados ao risco de queda e consequen-
te institucionalização, torna-se assim fundamental repensar os paradigmas
associados à prestação de cuidados às pessoas mais velhas, elegendo o de-
senvolvimento de mecanismos preventivos através de programas de inter-
venção multidimensionais.

PROGRAMAS EDUCATIVOS E A PREVENÇÃO DE QUEDAS:


A EXPERIÊNCIA PORTUGUESA

A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende que um dos pila-


res de um envelhecimento ativo e saudável assenta no acesso à educação
e aprendizagem ao longo da vida, através da implementação de programas
que apoiam a participação na íntegra a atividades estímulo. Foi neste con-
texto que o AGEING@LAB – Laboratório Internacional de Estudos Sobre
Envelhecimento, desenvolveu um projeto educativo com diferentes ativida-

180
des estímulo validadas cientificamente para prevenção da fragilidade e con-
sequente institucionalização de pessoas idosas residentes no seu domicílio.
Com enfoque na intervenção na comunidade foram definidos quatro
eixos de intervenção para 100 participantes idosos residentes no seu domi-
cílio:
Eixo 1. Domínio de saúde mental : são desenvolvidas atividades de estimu-
lação das i) Funções cognitivas: memória a curto e longo prazo; linguagem
expressiva e recetiva; orientação temporal e espacial; atenção/concentração
seletiva e motora; perceção e associação; e funções executivas e das ii) Com-
petências Emocionais: cuja avaliação é efetuada pela triagem de presença
de sintomatologia ansiosa e depressiva potencialmente patológica para pos-
terior encaminhamento em articulação com o sistema nacional de saúde;
Eixo 2. Domínio de saúde física: são desenvolvidas atividades de esti-
mulação das i) Capacidades físicas e motoras: treino do equilíbrio, pos-
tura corporal, mobilidade e deambulação com avaliação do risco de
quedas, coordenação motora: membros superiores e inferiores e esta-
do nutricional; ii) Funcionalidade com treino de atividades básicas da
vida diária (estratégias de alimentação, vestir, deambular, higiene pes-
soal) e de atividades instrumentais da vida diária (estratégias para gerir
a medicação, seguir uma dieta rica e equilibrada, manter um nível ade-
quado de limpeza, tratar das suas roupas e manuseamento de dinheiro);
Eixo 3. Domínio de saúde social: são desenvolvidas atividades de
avaliação da rede sociofamiliar de apoio, o risco de institucionali-
zação. As atividades estímulo são realizadas numa vertente socio-
cupacional em grupo com vista a reduzir a solidão e isolamento; e
Eixo 4. Domínio meio ambiente são desenvolvidas atividades estímulo de
capacitação de competências técnicas adaptadas as necessidades, gostos e
interesses dos participantes, nomeadamente através da promoção da litera-
cia em saúde, literacia digital, alfabetização, Línguas, Lazer e Bem-estar. É
também efetuado um mapeamento das fragilidades habitacionais e socioe-
conómicas com respetivo encaminhamento quando necessário.
No âmbito de prevenção de quedas foi desenhada a Oficina MOVE-TE
que ocorre três vez por semana com atividades de i) Saúde & Bem-estar que

181
inclui ações de sensibilização de segurança e cuidados a ter no domicílio
(barreiras arquitetónicas), como atuar em caso de urgência, o que fazer em
caso de queda, e mecanismos wearables de monitorização da saúde; ii) Ioga
Sénior; iii) Zumba Sénior; iv) Ginástica com classes de movimentos e dança.
Estas atividades foram escolhidas com intuito de promover o equilíbrio, a
agilidade e coordenação motora; o treino de força e a massa muscular dos
membros superiores e inferiores; promover a dinâmica grupal e a socializa-
ção.
De forma a validar cientificamente as atividades desenvolvidas foi de-
senvolvido um protocolo de avaliação inicial e respetiva reavaliação decor-
ridos 12 meses de intervenção piloto, para testar o impacto da intervenção.
São utilizados os seguintes instrumentos de avaliação:

Avaliação sociodemográfica e clínica


Composto por um conjunto de questões para avaliação de aspetos so-
ciodemográficos como: idade; escolaridade; leitura e escrita; sexo; estado
civil; agregado familiar; condições habitacionais; barreiras arquitetónicas;
eletricidade; água canalizada; zona de habitação; necessidade de cuidado-
res informais; tipo de apoio prestado e motivo e o rendimento per capita;
e aspetos clínicos; diagnósticos múltiplos; comorbilidades clínicas; medi-
cação; número de medicamentos; perturbações do sono; necessidade de
ajudas técnicas; hábitos e estilos de vida (tabaco, álcool; outras substâncias
psicoativas); exercício físico; episódios de hospitalização nos últimos 6 me-
ses; necessidade de cuidados de saúde no domicílio nos últimos 6 meses.

Avaliação da Fragilidade
Para medir a fragilidade é utilizado o TFI – Tilburg Frailty Test validado
para a população portuguesa por COELHO et al, (2015). Este teste encontra-
-se estruturado em 3 subdomínios: o físico, o psicológico e social. Confere
uma pontuação global e por subdomínios sendo que o ponte de corte para
a população portuguesa é de 8 pontos.

182
Avaliação da Fragilidade Física
No protocolo da Escala de Morse para avaliação do risco de queda
(versão portuguesa de Costa-Dias, Ferreira & Oliveira, 2014); cuja pontu-
ação varia entre 0 e 125 pontos, as pessoas são discriminadas em função
da sua pontuação em: Sem risco (0 e ≤ 24 pontos); Baixo risco (≥ 25 e ≤ 50
pontos); Alto risco (≥ 51 pontos); a SARC-F para avaliação do risco de sarco-
penia (versão portuguesa de FARIA et al., 2021); o Sénior Fitness Teste que
inclui os teses: Timed Up and Go; Sit and Reach; Back Scratch e Chair Stand
Test (validado para a população portuguesa por Baptista & Sardinha, 2005);
a Escala de Barthel para avaliação das atividades básicas da vida diária, ver-
são portuguesa de Araújo, Ribeiro, Oliveira e Pinto (2007), que estipula qua-
tro níveis de dependência: Dependência total (0 – 20 pontos); Dependência
grave (21 – 60 pontos); Dependência moderada (61 – 90 pontos); Dependên-
cia muito leve (91 – 99 pontos); e Independência (100 pontos); e o Indice de
Lawton e Brody para avaliação das atividades instrumentais da vida diária,
versão portuguesa de Araújo., Pais-Ribeiro, Oliveira, Pinto E Martins (2008),
que estipula três níveis de dependência: Independente (8 pontos); Modera-
damente dependente, necessita de uma certa ajuda (9 a 20 pontos); e Seve-
ramente dependente, necessita de muita ajuda (> 20 pontos).

Fragilidade psicológica
Para avaliação do funcionamento cognitivo é utilizado o Teste de De-
clínio Cognitivo de 6 Itens (6 CIT) versão portuguesa de Apóstolo e Paiva
(2017). Avalia a capacidade de orientação temporo-espacial, linguagem,
memória e atenção/concentração. É composto por seis perguntas simples e
que não exigem uma interpretação complexa. Quanto aos pontos de corte,
pontuações de 0-7 são consideradas normais, enquanto as iguais a 8 ou su-
periores são consideradas significativas para compromisso
Para avaliação da sintomatologia ansiosa é utilizado o Inventário de
Ansiedade Geriátrica, versão portuguesa de Ribeiro, Paúl, Simões e Firmino
(2011), que através de uma escala de Concordo/Discordo sinaliza a presen-
ça de sintomatologia ansiosa, cujo ponto de corte para a população portu-
guesa é de 13 pontos.

183
Para avaliação da sintomatologia depressiva é utlizada a Escala de
Depressão Geriátrica, versão portuguesa de Pocinho, Farate, Dias, Lee e Ye-
savage (2009), que através de uma escala de Sim/Não sinaliza a presença
de sintomatologia depressiva, cujos pontos de corte para a população por-
tuguesa são: “Sem depressão” (0 – 5 pontos) e “Com depressão” (Mais de 5
pontos).

Fragilidade social
Para avaliação da fragilidade social é utilizada a Escala de Solidão
(UCLA) que avalia duas dimensões (isolamento social e afinidades) com
um ponto de corte de >32 que indica a presença de sentimentos negativos
de solidão (versão portuguesa de Pocinho, Farate & Amaral Dias, 2010); a
Escala de Gijón que avalia o risco social com um ponto de corte de 13 pontos
(versão portuguesa de Mourão, 2008).
Resultados preliminares permitiram observar que após 12 meses de
intervenção de atividades de estimulação físico-motora, três vezes por se-
manas, os participantes reduziram o seu nível de fragilidade global em 23%,
sendo que na avaliação inicial 73% dos participantes apresentava fragilida-
de em comparação com os 50% obtidos na reavaliação. Em relação aos sub-
domínios de fragilidade, verificámos uma melhoria de 12% na fragilidade
física, sendo que as principais queixas que se mantiveram prendem-se com
a falta de força nas mãos por artroses, dificuldades visuais ainda que corrigi-
das e dificuldades de deambulação por dores articulares.
Quanto à fragilidade psicológica, observámos uma melhoria de 15%,
sendo que em alguns dos participantes se mantêm queixas na memória a
curto-prazo. Mais especificamente verificamos uma uma melhoria de 16%
nas funções cognitivas, uma redução de 56% dos sintomas ansiosos e uma
redução de 46% de sintomas depressivos.
Quanto à fragilidade social obtivemos uma melhoria de 17%, sendo
que as principais manifestações que se mantiveram estão relacionadas com
o fato de viverem sozinhos.

184
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estes resultados colocam em manifesto a importância de desenvol-


ver projetos educativos com ênfase na prevenção da saúde e prevenção da
doença, mitigando os riscos de fragilidade que conduzem a uma maior pro-
pensão a quedas e consequente perda de autonomia, institucionalização e
morte nas pessoas idosas.

185
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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188
CAPÍTULO 6
CASA SEGURA: EDUCAÇÃO PARA
PREVENÇÃO DE QUEDAS UTILIZANDO
JOGO DE TABULEIRO
Wendy Sousa de Oliveira
Marianne Silva de Azevedo
Márcia Vieira de Alencar Caldas
Kadma Lanúbia da Silva Maia
Tamires Carneiro de Oliveira Mendes

APRESENTAÇÃO

A prevenção de quedas perpassa a análise multifatorial quando o alvo


do estudo é a pessoa em processo de envelhecimento. Segundo estudo de
Paiva et al., (2021), é apontado os tipos de quedas predominantes que pro-
vêm de escorregões e tropeços, com o ambiente residencial em detrimento
aos ambientes urbanos. Buscar estratégias para minimizar os riscos de que-
das, na promoção de segurança para os usuários é um caminho que pode
auxiliar no planejamento e melhoria dos ambientes residenciais (Tissot;
Vergara, 2023).
Estudos realizados por Ramadhani e Rogers (2022) apontam que é
menos recorrente a intervenção do espaço físico para adequações, impli-
cando na alteração de comportamento deste usuário para adaptar-se ao
meio físico, o que não seria interessante. Diante de tantas alterações bio-
lógicas, trabalhar estratégias para alertar sobre os riscos no ambiente cons-
truído, pode ser um bom caminho na promoção da segurança e bem-estar,
possibilitando ainda senso crítico na exigência de novas construções e cla-
reza na necessidade de adaptações.
No âmbito da promoção da saúde, as tecnologias educacionais são as
ferramentas que representam uma importante estratégia capaz de provocar
mudanças de atitudes e comportamentos naqueles que a utilizam (Seabra
et al., 2019). Já trazida na Constituição Federal do Brasil, de 1988, a educação
é a base para a construção de uma sociedade justa e igualitária, sendo o ele-
mento primordial para o desenvolvimento pessoal e da sociedade. Na edu-
cação em saúde, a estratégia de utilização de práticas lúdicas e interativas,
como os jogos, pode gerar benefícios ao processo de ensino-aprendizagem
em função do maior engajamento do aprendiz e pelo processo de reflexão
gerado, o que permite que a educação não se limite à transmissão de infor-
mações, mas que leve os indivíduos a assumirem criticamente e ativamente
a solução dos problemas de saúde-doença.
Nessa perspectiva, apresenta-se, aqui, uma experiência de ensino-
-aprendizagem realizada por um projeto de extensão do Instituto do Enve-
lhecer da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (IEN/UFRN) vol-
tada para pessoas idosas da comunidade com o objetivo de fazê-las refletir
sobre os potenciais riscos para quedas no seu domicílio e estratégias para
prevenção das mesmas.

BANNER: CUIDADOS COM O AMBIENTE DOMÉSTICO

A presente estratégia educativa se inicia com a teorização do pro-


blema, as quedas em domicílio, desenvolvida com o auxílio de um banner,
apresentado na figura 1, que traz, em sua introdução alguns dados epide-
miológicos e consequências das quedas para destacar a relevância da te-
mática a ser tratada. Em seguida, o banner conta com um infográfico que
ilustra os possíveis riscos e as medidas de prevenção que podem ser encon-
trados e solucionados dentro do ambiente doméstico, tais como: utilização
de tapetes, apoios em banheiros, iluminação e sinalização.

190
Figura 1. Banner sobre cuidados com o ambiente doméstico, Natal/RN 2023.

A apresentação das informações contidas no banner é realizada de


forma dialógica. Se o espaço físico permite, faz-se uma roda de conversa
com os participantes, estimulando a participação dos mesmos através de
perguntas. Ademais, considerando que o processo de ensino-aprendizagem
não é unidirecional, as pessoas idosas são convidadas a expor suas vivências
a cada ponto tratado, o que torna a discussão mais próxima à realidade das
pessoas.
191
O JOGO “ MINHA CASA SEGURA ”

Após exposição do tema com auxílio do banner, aplica-se o jogo de


tabuleiro“ Minha casa segura”, ilustrado na figura 2, que tem por objetivo in-
duzir à identificação, reflexão e modificação dos elementos de risco em seu
ambiente doméstico. Assim, busca-se promover um ambiente mais seguro
e propício ao bem-estar das pessoas idosas por meio de uma abordagem
lúdica e educativa.

Figura 2. Layout do jogo “Minha casa segura”. Natal/RN 2023.

O jogo é composto por um tabuleiro, 46 cartas, um dado e 6 cones


para identificação dos jogadores ou equipes. O tabuleiro foi elaborado no
formato de trilha, pensado em retratar um ambiente doméstico, com 39 ca-
selas a serem percorridas, divididas em fases que representam áreas distin-

192
tas distintas de um domicílio e identificadas por uma cor específica. Além
disso, foram acrescentados elementos representativos que remetem a cada
local, como sofá, camas, chuveiro e degraus, proporcionando assim uma ex-
periência mais imersiva aos jogadores.
A missão do jogo é percorrer o tabuleiro e responder corretamente às
perguntas sobre a prevenção de quedas em pessoas idosas, em ambiente
doméstico. O jogador que chegar primeiro ao final do tabuleiro, com o maior
número de respostas corretas, vence. No tabuleiro, existem quatro casas es-
peciais que oferecem ações compensatórias, fornecendo dicas relacionadas
a diferentes ambientes domésticos, e três ações punitivas, que servem como
alertas relacionados a possíveis riscos de queda em seus respectivos locais.
Cada cômodo contém cartas correspondentes às cores do tabuleiro
que são lidas à medida em que os jogadores estiverem naquele cômodo. Na
sala, por exemplo, as cartas abordam a altura do sofá, a presença de tape-
tes, a exposição de fiação e a disposição da mobília, considerando possíveis
pontos de esbarrões, assim, até os jogadores passarem por todos os cômo-
dos. O jogo permite que os jogadores interajam com o facilitador e discutam
sobre os questionamentos apresentados nas cartas, compartilhando expe-
riências e aprendendo uns com os outros. Dessa forma, o jogo não apenas
fornece informações, mas também promove a troca de conhecimentos e o
fortalecimento de vínculo entre os participantes.

RELATO DE PRÁTICA DESENVOLVIDA

No mês de fevereiro de 2024, desenvolveu-se a atividade educativa


com um grupo de mais de 20 participantes de um grupo de convivência de
pessoas idosas ligado a uma Unidade de Saúde da Família situada em uma
região de vulnerabilidade econômica do município de Natal/RN, conforme
foto apresentada na figura 3.
A partir de uma roda de conversa, por meio do banner, foram apre-
sentados os principais dados estatísticos de quedas na pessoa idosa, des-
tacando os possíveis riscos e fatores de proteção em ambiente doméstico,

193
trazendo uma reflexão aos participantes sobre a situação de suas moradias,
das ruas e calçadas, ajudando-os a reconhecer e mitigar esses riscos em seus
próprios lares. Realizada a discussão e trocas de experiências, no intuito de
conscientizá-los sobre a prevenção de quedas, foi iniciado o jogo "Minha
casa Segura".

Figura 3. Foto com participantes do jogo “Minha casa segura”, Natal/RN 2024.

Diante do grande número, os participantes foram divididos em três


grupos de seis a sete participantes. As pessoas idosas receberam uma orien-
tação detalhada sobre as regras do jogo, seguida por uma primeira jogada
realizada como teste para garantir o entendimento dos participantes quanto
à dinâmica e, em seguida, foi sorteado o grupo que iniciaria jogando o dado.
A cada casela, os grupos eram instigados a debaterem entre si sobre as ques-
tões levantadas e, assim, tiveram a oportunidade de discutir, compartilhar
experiências e identificar riscos que ainda não tinham percebido em seus

194
ambientes domésticos. A ação os levou a refletir sobre a importância de ob-
servar sobre riscos de quedas e medidas de prevenção desses riscos em seu
ambiente doméstico.
Para avaliar o impacto da ferramenta como instrumento de apoio
para a compreensão das orientações sobre a prevenção de quedas em pes-
soas idosas, ao final do jogo, foi solicitado aos participantes que exprimis-
sem suas opiniões sobre as características físicas, clareza, relevância e sua
capacidade de proporcionar maior consolidação dos conhecimentos cons-
truídos durante as discussões. Espontaneamente, os participantes respon-
deram às seguintes perguntas: "O que vocês acharam do jogo?"; "Tiveram
dificuldade quanto ao design e organização do jogo?";"O jogo foi explicado
com clareza”; "O conteúdo do jogo é relevante?". Em respostas a esses ques-
tionamentos, as manifestações foram bem positivas, no sentido de que as
informações recebidas foram de grande importância para a compreensão
de como prevenir quedas, pois muitos dos riscos eram desconhecidos por
eles e estavam presentes nos seus domicílios. Relataram, ainda, que as in-
formações e orientações tinham sido transmitidas de forma lúdica e clara,
e que a participação no jogo proporcionou uma espécie de diversão educa-
tiva para o grupo, além de conscientizar sobre a prevenção deste agravo tão
relevante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Jogo “ Minha Casa Segura”, que tem como lema a educação para
prevenção de quedas utilizando jogo de tabuleiro, apresentou-se como
uma ferramenta importante e eficaz para auxiliar na compreensão e con-
solidação das informações e orientações sobre prevenção de quedas. Os
participantes fizeram relatos de que o jogo contribuiu com o autocuidado
por meio de uma diversão educativa, ou seja, um momento de interação,
aprendizado e entretenimento. Assim, a utilização do jogo se destacou no
processo educativo pelo mérito que essa ferramenta tem de representar o
lúdico da cultura e pelo incentivo do diálogo entre jogadores e facilitadores.
Pressupõe-se uma dimensão social transformadora e questionadora, por

195
meio de intervenções sociais e processos de aprendizagem que possibilitam
o desenvolvimento individual e coletivo.
Sendo assim, o jogo desenvolvido e testado pode ser utilizado como
recurso de apoio educacional, associado a uma orientação teórica, nas abor-
dagens referentes à prevenção de quedas em pessoas idosas, considerando
que seu método e sua fácil aplicação pode otimizar a compreensão dessas
pessoas quanto às temáticas e conscientização sobre autocuidado.

196
REFERÊNCIAS

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Acesso em: 29 fev 2024.

197
CAPÍTULO 7
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE
PREVENÇÃO DE QUEDAS EM
UMA CLÍNICA DE ONCOLOGIA
Albertina Proença Rodrigues Alves
Joseana da Costa Guimarães Barbosa
Juliana Palácio de Queiroz Ventura Barros
Susana Cecagno
Vilani Medeiros de Araújo Nunes

APRESENTAÇÃO

O câncer pode ser definido como uma doença crônica e sua frequ-
ência aumentada com a idade, ocorre pelo acúmulo de fatores de risco as-
sociada a menor eficácia de reparação celular nos idosos, que afeta a inte-
gridade física e psicológica da pessoa adoecida e envolve todo o contexto
familiar (Frietino, 2020).
Em publicação realizada pela SBGG (2020), o texto faz referência a
American Cancer Society que demonstra que aproximadamente 60% dos
tipos de câncer acometem pessoas com 60 anos ou mais e que além disso,
cerca de 70% das mortes pela doença acontecem em idosos. Estes mesmos
dados são encontrados em publicação do IBGE (2018).
Gomes (2022) esclarece que dentro desse contexto de fragilidade fí-
sica e mental, as quedas dos pacientes ainda são eventos adversos comuns
relacionados e relatados em ambulatórios de atendimento, podendo gerar
morbidade, mortalidade, o medo contínuo de cair e perda prolongada da
mobilidade. Relata ainda, que as quedas podem se tornar eventos graves a
depender da especificidade de cada paciente. O mesmo autor enfatiza que,,
pacientes em tratamento oncológico podem apresentar queda relacionada
a fatores fisiopatológicos como anemia e fadiga; efeito de diferentes trata-
mentos - como quimioterapia, radioterapia, pós cirurgia, tais como diarreia,
vômitos, tonturas, fraqueza muscular, mobilidade limitada, neuropatias pe-
riféricas e manifestações da doença.
Frente ao exposto, este capítulo tem como objetivo relatar a experi-
ência da implementação de ações assistenciais e gerenciais em um serviço
ambulatorial de oncologia do Ceará. A instituição é representativa no con-
texto local e brasileiro no que se refere aos desafios de trabalhar a meta de
segurança internacional da Organização Mundial de Saúde de Prevenção de
Quedas (Brasil, 2021) em um cenário ambulatorial de pacientes portadores
de doença ameaçadora de vida como o câncer.
Realiza em média duas mil consultas e mil infusões de quimioterapia
e medicamentos de suporte mensal. No que se refere a gestão da qualidade,
é uma instituição certificada como ONA 1, certificado emitido pela Organi-
zação Nacional de Acreditação para instituições de saúde que atinjam 70%
ou mais dos padrões brasileiros de qualidade e segurança em saúde.
O perfil epidemiológico da clínica do ano de 2023, é constituído por
76% de mulheres, 59% acima de 60 anos e portadores de câncer de mama
em 46,9% dos casos e por isso a necessidade de capacitar-se para o atendi-
mento voltado à pessoa idosa.
A rotina da pessoa idosa em tratamento oncológico exige que ele com-
pareça presencialmente à Clínica de Oncologia para realizar seu tratamento
na maior parte das vezes, sendo sua ocorrência determinada pelo tipo de
protocolo, podendo ser semanal, quinzenal, mensal ou até trimestral.
Neste contexto, visando o gerenciamento de risco e a segurança dos
pacientes oncológicos assistidos no ambulatório de quimioterapia, consta-
tamos a necessidade de implementar ações que reduzissem o risco, aumen-
tando a segurança do serviço prestado.
Com o intuito de reduzir a possibilidade de quedas nos pacientes, em
especial nas pessoas idosas, o Núcleo de Segurança do Paciente da clínica
em estudo mapeou a jornada do paciente dentro da clínica na intenção de
promover um ambiente mais seguro:

199
ENVOLVIMENTO DOS PROFISSIONAIS
NA PREVENÇÃO DE QUEDAS

O primeiro ponto identificado é que o risco de queda no paciente,


como meta internacional de segurança institucionalizada, devia ser uma
preocupação de todos os profissionais, sejam eles assistenciais ou admi-
nistrativos, e onde todos precisam entender o seu papel na linha de cui-
dados. Com isso, a preocupação passou a ter um olhar multiprofissional e
a preparação de todos os profissionais foi incorporada no treinamento de
integração e semestral para todos, sendo que a equipe assistencial e de hi-
gienização recebem treinamentos com conteúdo diferenciado. Em todas as
oportunidades os colaboradores são incentivados a realizar o registro das
notificações de melhoria e atuar nas soluções.
Colaboradores administrativos e assistenciais transitam entre pacien-
tes e acompanhantes e são sensibilizados quanto a necessidade de ajudar e
acompanhar pessoas que apresentem dificuldade de locomoção e dar aten-
ção a mobiliários e ambientes que apresentem maior risco de quedas.
A equipe de serviços gerais incorpora na sua rotina a necessidade de
utilizar placas sinalizadoras de “PISO MOLHADO”, estabelecer horários de
higienização nos ambientes com maior circulação de pessoas em horário
com menor fluxo e sempre deixar um dos lados dos corredores livres para
passagem.
A equipe assistencial multiprofissional recebe treinamentos e atua di-
retamente nos cuidados de forma integrada, seja na identificação de maior
risco de queda, na atuação dos fatores que agravam este risco ou na orienta-
ção a pacientes e familiares.

A NAVEGAÇÃO DA PESSOA IDOSA NA CONDIÇÃO DE PACIENTE

Ao receber o diagnóstico de uma doença ameaçadora de vida como é


o câncer, o paciente e seus familiares têm o impacto da tomada de decisão
e a necessidade de gerenciar paralelamente sentimentos e resoluções prá-
ticas.
200
Segundo Pautasso (2020), na área da oncologia, os enfermeiros na-
vegadores são capacitados e encarregados de avaliar as necessidades dos
pacientes, elaborar e implementar planos de cuidados personalizados para
cada um individualmente. Seu objetivo é aprimorar o acesso à triagem,
diagnóstico e tratamento, enquanto ajudam a superar as barreiras enfren-
tadas pelo paciente.
A navegação clínica realizada pela equipe de enfermagem em conjun-
to com a equipe multiprofissional formada por nutricionistas, psicólogos e
farmacêuticos tem como objetivo guiar e orientar nosso paciente, otimizan-
do tempo de espera entre diagnóstico precoce, início do tratamento, parti-
cipação efetiva e aumento da adesão dos pacientes ao tratamento e melhor
desfecho clínico após o diagnóstico do câncer.
A abordagem da equipe junto ao paciente e sua rede de apoio se ini-
cia com a consulta de enfermagem. Neste momento, entre outros riscos, é
realizada a primeira aplicação da ferramenta Morse para avaliar o risco de
quedas e o levantamento de comorbidades e medicamentos que o paciente
utiliza, uma vez que a queda é um evento complexo, influenciado por uma
série de fatores. Silveira (2021), esclarece que estes fatores podem ser clas-
sificados em intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos estão relacio-
nados ao estado físico e aos problemas de saúde do indivíduo, tais como
fraqueza muscular, distúrbios do equilíbrio e/ou da marcha, comprometi-
mento cognitivo ou demência, instabilidade neurocardiovascular, déficits
visuais e infecções. Já os fatores extrínsecos estão ligados a um estilo de vida
ativo e, com mais frequência, a riscos ambientais, como irregularidades na
superfície do solo e variações sazonais, como pouca iluminação.
As orientações iniciais sobre o risco de queda são fornecidas para os
pacientes e familiares e esclarecido que este é um cuidado que será tomado
em toda a sua trajetória no ambulatório de oncologia. Além das orientações
verbais, é enviado um link de treinamento sobre prevenção de quedas, ide-
alizado pela clínica.

201
Figura 1: link para vídeo de treinamento sobre Risco de Quedas - Pronutrir

A orientação farmacêutica tem um papel fundamental nesta etapa,


identificando e orientando cada paciente sobre os medicamentos que uti-
liza na sua residência e sobre outros medicamentos que passará a usar du-
rante o tratamento de quimioterapia.
A atuação do farmacêutico tem como objetivo identificar interação
medicamentosa e além disso planejar com a pessoa idosa e sua rede de
apoio, os melhores horários de uso dos medicamentos considerando a sua
eficácia, mas também seus riscos. Alguns medicamentos podem aumentar
o risco de quedas ao provocarem efeitos como hipotensão ortostática, dis-
função cognitiva, distúrbios do equilíbrio e da coordenação motora, tontu-
ra, sonolência, alterações visuais e sintomas similares ao parkinsonismo.
Além disso, Gomes (2022) fala que certos medicamentos podem contribuir
indiretamente para a ocorrência desse evento. Por exemplo, o uso de diuré-
ticos está associado a quedas devido à poliúria, especialmente se isso resul-
tar em nictúria.
A orientação nutricional à pessoa idosa na condição de paciente on-
cológica no ambulatório tem como objetivo preservar ou melhorar a sua
condição nutricional. Um dos efeitos indesejáveis da quimioterapia pode
ser a náusea e o vômito, além de alterações intestinais. De acordo com Bra-
zilian Society of Parenteral and Enteral Nutrition (2019), é importante que o
paciente possa se alimentar adequadamente e assim não aumentar ainda
mais o risco de quedas. O paciente da clínica não tem a alimentação forne-

202
cida e por isso amplia a necessidade de esclarecimento também a rede de
apoio.
O apoio psicológico visa auxiliar no processo de aceitação e enfrenta-
mento do paciente em toda essa jornada e assim, auxiliar na adesão a todas
as orientações fornecidas. Além disso, em Gomes (2022) lê-se que fatores
como depressão e ansiedade podem aumentar a necessidade do uso de an-
tidepressivos e ansiolíticos que podem causar desorientação e sonolência
aumentando assim o risco de queda na pessoa idosa.

O ACOMPANHAMENTO CONTÍNUO

A preparação para o recebimento da pessoa idosa portadora de doen-


ça oncológica a cada vez que necessita ir a clínica acontece desde a adequa-
ção do espaço físico.
O piso antiderrapante se encontra em todo o espaço de circulação. Os
banheiros possuem barras de apoio e portas largas que permitem a travessia
com uma pessoa ajudando ou uso de andadores/cadeiras de rodas. Du-
rante toda a estadia dos pacientes em nossa instituição, implementamos e
treinamos uma equipe dedicada, conhecida como “posso ajudar”, formada
por pessoas dos serviços gerais e equipe assistencial. Esses membros acom-
panham os pacientes, posicionando cadeiras de rodas em pontos estratégi-
cos acompanhando pessoas com dificuldades, visando identificar e mitigar
os riscos de quedas.
Antes de iniciar a infusão de quimioterapia, o paciente passa pela tria-
gem de enfermagem no qual é aplicada a ferramenta Morse. Os objetivos
são identificar se houve aumento do risco de quedas, realizar a SAE (Siste-
matização da Assistência de Enfermagem) e os reforços de orientação para
os pacientes. Além disso, quando identificado risco elevado de queda, de
acordo com protocolo institucional, ocorre sinalização visual atrás da aco-
modação do paciente, que é chamado de Painel de Comunicação.

203
Figura 2: Painel de Comunicação localizado acima das poltronas das Unidades de Oncologia Pronutrir,
Fortaleza - CE, 2024

Quando há a sinalização no Painel de Comunicação de risco de que-


das, a equipe de enfermagem busca posicionar a pessoa idosa próxima aos
banheiros e há sistematização da equipe em acompanhar o paciente em to-
dos os seus deslocamentos.
Um plantonista médico fica disponível em todo o período de infusão
para intercorrências, inclusive quedas.

O CICLO DE APRENDIZADO

A aplicação da Escala Morse nos permite conhecer como está o risco


geral da população idosa que atendemos e assim nos prepararmos enquan-
to estrutura e equipe assistencial. Identificamos que no ano de 2023, das
pessoas idosas que iniciam o tratamento quimioterápico, 38,8% possuíam
risco médio para quedas e 16,8%, risco alto.
Na percepção da equipe de triagem da enfermagem, o aumento da
pontuação na Escala Morse se deve a necessidade de ajuda para deambula-
ção e quedas no ambiente domiciliar/externo à clínica, porém não há dados

204
mensurados sobre isso na clínica até o momento. Uma outra percepção da
equipe é que o paciente e seus cuidadores têm dificuldade em entender o
próprio conceito de quedas (Brasil, 2021) que inclui a “quase queda”, situ-
ação em que para que a queda não aconteça, a pessoa necessita se apoiar
em algo ou ter ajuda de outra pessoa e por isso, essa informação pode estar
sendo subnotificada.
A vigilância constante e o reforço das orientações durante toda a jor-
nada são ações necessárias. O foco do paciente e seu grupo de apoio duran-
te este período é voltado para o tratamento do câncer, a queda, dificilmente
se apresenta como o alvo de cuidados e por isso, a importância da atenção
de toda a equipe.
O indicador de quedas foi instituído na clínica há mais de dois anos.
O cálculo é baseado no número de quedas x o número de atendimentos. Em
um recorte realizado com as pessoas idosas (mais de 60 anos), foram iden-
tificadas 4 quedas dentro da clínica nos anos de janeiro de 2022 a dezembro
de 2023. Não identificamos dados publicados sobre quedas em pacientes
idosos em unidades ambulatoriais de oncologia para análise comparativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de dados comparativos publicados sobre quedas em pessoas


idosas em tratamento oncológico em nível ambulatorial, dificulta a análi-
se se as ações implantadas na clínica em estudo estão no direcionamento
correto. Porém, o baixo número de casos absolutos sugere que as ações têm
sido efetivas.
No momento está sendo aplicada uma pesquisa com os pacientes
de forma eletrônica, pedindo que nos responda sobre a sua compreensão
das perguntas que a triagem de enfermagem faz sobre a Escala de Morse
e orientações de queda para que nos direcione sobre ações futuras. Iden-
tifica-se como desafio a sensibilização e treinamento de pessoas idosas e
seu grupo de apoio quanto às necessidades de cuidados de prevenção de
quedas no ambiente domiciliar, estendendo o cuidado fora do ambiente da
clínica. Gerar informações de qualidade e envolver o paciente em seu cui-
dado, é um dever de toda organização de saúde.
205
REFERÊNCIAS

BARBOSA, DM et al. Tratamento oncológico e o impacto na vida de idosos


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Journal Of Health Review, v.4, n.3, 2021, p. 2094-12104.

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protocolos-basicos-de-seguranca-do-paciente, 2021

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Diretriz BRASPEN de terapia nutricional no paciente com câncer,
2019 Disponível em: https://faculdadebarretos.com.br/wp-content/
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FRIETINO, JKO et al. Prevalência de diagnóstico e tipos de câncer em


idosos: dados da Pesquisa Nacional de Saúde. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol,
v.2, n.23, 2020.

GOMES, DM et al. Risco de ocorrência de quedas relacionadas ao uso de


medicamentos. Research, Society and Development, 2022.

IBGE - AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Projeção da População 2018: número de


habitantes do país deve parar de crescer em 2047. Disponível em: https://
agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-
de-noticias/releases/21837-projecao-da-populacao-2018-numero-de-
habitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047. Acesso em: 25 fev.
2024.

IBGE. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação


- Evolução dos grupos etários 2010-2060. Brasília, 2018. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html?utm_
source=portal&utm_medium=popclock&utm_campaign=novo_
popclock. Acesso em: 25 fev. 2024.

PAUTASSO FF, Lobo TC, Flores CD, Caregnato RCA. Enfermeiro navegador:
desenvolvendo um programa no Brasil. Rev. Latino-Am Enfermagem.
2020;

206
SILVEIRA, FM et al. Impacto do tratamento quimioterápico na qualidade
de vida de pacientes oncológicos. Acta Paul Enferm, v.34, 2021.

SBGG. População idosa corresponde a 60% dos brasileiros com câncer. Rio
de Janeiro, 2020. Disponível em: https://sbgg.org.br/populacao-idosa-
corresponde-a-60-dos-brasileiros-com-cancer/. Acesso em: 25 fev. 2024.

207
CAPÍTULO 8
RISCO DE QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS
INSTITUCIONALIZADAS: ESTUDO MULTICASOS
EM PORTUGAL
Marta Cristina Pinheiro Rodrigues
Maria José Abrantes Bule
Maria Gorete Mendonça Reis
Vilani Medeiros de Araújo Nunes
Maria Laurência Parreirinha Gemito

APRESENTAÇÃO

O envelhecimento é um processo fisiológico multifatorial que leva


em consideração os determinantes genéticos, os fatores ambientais, sociais
e pessoais, sendo estes últimos designados frequentemente pelo estilo de
vida. As mudanças fisiológicas do envelhecimento explicam a redução na
resistência músculo-esquelética e as alterações sensoriais que, ao longo do
tempo, modificam as habilidades motoras e a funcionalidade dos idosos,
com consequente aumento do risco de quedas.
A queda é um evento súbito caracterizado pelo embate do corpo ao
solo, o risco aumenta com o avanço da idade e têm maior probabilidade
de causar morte ou lesões graves (WHO, 2021). Portugal é um dos países
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)
com o envelhecimento1 populacional mais rápido (Burnows, 2024), em
2001 o índice de envelhecimento ultrapassou os 100% e em 2022 alcançou
os 183,5% (Pordata, 2023).
A prevenção de quedas ocorridas em contexto de cuidados de saúde
está regulada em todas as unidades hospitalares por normas de procedi-

1 O índice de envelhecimento refere-se ao número de pessoas a partir dos 65 anos a cada 100 menores de 15 anos
(Pordata, 2023).
mentos (DGS, 2019) nas quais, definem que de acordo com o risco, deve ser
instituído um plano de cuidados individualizado com o objetivo de evitar a
queda.
Em instituições e na comunidade o uso de instrumentos preditores
do risco é uma estratégia eficaz (Mendes; Pereira; Gemito; Miranda et al.,
2022). Os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) referentes a 2019 relatam
a ocorrência de 9.124 quedas em contexto de cuidados de saúde, e uma ele-
vada percentagem de instituições com planos de prevenção (aproximada-
mente 85%) (DGS, 2021).
A internação de pessoas idosas representa uma disrupção com o con-
texto ambiental, acrescida da complexidade de materiais e equipamentos e
do incremento da fragilidade pela condição de doença. As quedas ocorridas
durante as internações são um evento adverso e a sua prevenção está, fre-
quentemente, associada à restrição da mobilidade, fator de risco para a de-
pendência funcional. Além disso, o internamento nos idosos está associado
a um declínio funcional com aumento da dependência (Rodrigues Mendes;
Santos; Preto; Azevedo, 2023).
Os enfermeiros de reabilitação desenvolvem o processo de cuidados
com vista à recuperação da funcionalidade e à reinserção das pessoas no
contexto social, familiar e profissional, com uso de estratégias de capacita-
ção (Reis; Bule, 2017). Os cuidados de enfermagem de reabilitação às pesso-
as idosas internadas têm como enfoque atrasar as perdas, potenciar ganhos
e capacitá-las para a adaptação (Reis; Bule; Sousa; Marques-Vieira et al.,
2021).
Neste capítulo são apresentados os resultados de um projeto de in-
tervenção2 (Rodrigues, 2022) cujo objetivo é capacitar para os autocuidados
às pessoas idosas internadas. Foi desenvolvido segundo a metodologia de
estudo de caso, com as etapas do processo de enfermagem (Marques-Viei-
ra; Gonçalves, 2021), enquadrado conceitualmente nas teorias de Dorothea
Orem. Os resultados evidenciam o aumento do risco de queda que acompa-

2 Desenvolvido no Curso de Mestrado em Enfermagem na área de Enfermagem de reabilitação

209
nha a recuperação da independência para os autocuidados, sem que tenha
ocorrido nenhum evento adverso.

ESTUDO MULTICASOS EM PORTUGAL

O projeto de intervenção2 foi desenvolvido numa Unidade de Cui-


dados Continuados de Média Duração e Reabilitação (UMDR), na região do
Alentejo, Portugal, no período de setembro de 2021 a janeiro de 2022. Os
objetivos específicos foram identificar focos de intervenção do especialista
em enfermagem de reabilitação, implementar intervenções de capacitação
para o autocuidado e analisar os resultados.
O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Évora
(Doc nº 21045). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) dos
participantes foi obtido em formulário próprio. Os critérios de inclusão dos
participantes foram ter dependência em autocuidado e serem alvos de cui-
dados de enfermagem de reabilitação.
As técnicas para coleta de dados foram a entrevista, a observação e
o exame manual. Os dados de caracterização sociodemográfica foram re-
colhidos por questionário aplicado. O estado cognitivo foi avaliado com a
finalidade de rastreio das funções que estivessem alteradas, gerando depen-
dência para os cuidados de técnicas e estratégias individualizadas para en-
sinar, treinar e instruir os participantes. O instrumento utilizado foi o Mini
Mental State Examination (MMSE), validado para a população portuguesa
e com pontos de corte relacionados com a escolaridade (Morgado; Rocha;
Maruta; Guerreiro et al., 2009).
A funcionalidade foi avaliada pela Medida de Independência Fun-
cional (MIF), traduzida para português e recomendada pela DGS (2011). A
escala é constituída por 18 itens agrupados em: Autocuidados, Controle de
Esfíncteres, Transferências, Mobilidade, Comunicação e Interação Social.
Os itens são pontuados de 1 a 7, o valor máximo de 126 pontos indica inde-
pendência total, e o valor mínimo de 28 pontos classifica o avaliado como
Dependência Total (DGS, 2011).

210
Para avaliação do risco de quedas foi aplicada a Escala de Morse
(DGS, 2021), validada para a população portuguesa (Costa-Dias; Ferreira;
Oliveira, 2014). A pontuação varia de zero a 125 pontos, e classifica como
sem risco (0-24 pontos), baixo risco (25-50 pontos) e alto risco (≥ 51 pontos)
(DGS, 2019).
A recolha de dados realizou-se em três momentos: inicial, intermédio
e final. Os dados obtidos foram primeiramente analisados na perspetiva clí-
nica de modo a serem identificados os focos de enfermagem de reabilitação,
formulados e validados os diagnósticos e definidos os planos de interven-
ção individualizados. Em conformidade com a Teoria do Défice de autocui-
dados foram planeadas intervenções nos níveis de assistir, orientar, ensinar,
treinar e apoiar (Petronilho; Margato; Mendes; Areias et al., 2021).
O número mínimo de sessões de cuidados realizadas foram 15 e o
máximo 45 (média=33,9; DP3=11,39), a variabilidade deveu-se à duração do
internamento. Cada sessão teve duração média de 30 minutos. Todas as ses-
sões foram realizadas pela mesma enfermeira.
Para análise dos dados foi usado o IBM SPSS Statistics 24.

RESULTADOS DO ESTUDO: AUMENTO DO RISCO DE QUEDAS

O projeto incluiu 10 participantes, 9 mulheres e 1 homem. A média de


idades é de 68,7 anos (DP=21,8). O estado civil mais frequente foi a viuvez
(n=4) e o casado (n=4), seguidos pelo divorciado(n=2). Um dos participan-
tes não frequentou a escola, o número médio de anos de escolaridade é 6,7
(DP=4,2). A escolaridade mais elevada é o 12º ano (n=3). Nove participantes
eram independentes nos autocuidados antes do internamento.
Todos os participantes tinham outras doenças associadas, as mais
prevalentes foram do foro cardiovascular (n=9) e músculo-esqueléticas
(n=9). Ademais, 9 participantes tinham antecedentes de quedas e 3 apre-
sentavam alterações das funções cognitivas com impacto no autorreconhe-
cimento das limitações.

3 DP – Desvio padrão

211
Todos os participantes apresentavam dependência funcional na ava-
liação inicial, 6 na categoria ligeira (MIF>80) e 4 na categoria moderada
(80>MIF<40). Na avaliação final todos os participantes apresentavam ligeira
dependência funcional (Minino=111 pontos; máximo=126 pontos) (Tabela
1).

Tabela 1 – Medida de Independência funcional dos participantes em UMDR


nas três avaliações de 2022.

Os autocuidados com maior dependência eram o uso do sanitário


(n=6), vestir e despir (n=10), transferir-se (n=8) e a marcha (n=10). Na avalia-
ção final apenas 1 participante mantinha necessidade de supervisão no uso
do sanitário, também só 1 participante se mantinha a realizar transferências
e marcha com supervisão, os restantes eram independentes e 5 tinham ain-
da necessidade da ajuda mínima ou supervisão para subir e descer escadas.
Analisou-se a significância dos valores obtidos pelo teste não paramé-
trico de Friedman, considerando-se o nível de significância de 95% (p≤ 0.05)
para determinar se os valores da MIF são semelhantes nas três avaliações.
Os resultados revelaram que os valores da MIF têm diferença significativa
(X2F (2)=20,000; p= .000;n=10).
Para identificar em que fases da intervenção as diferenças são signi-
ficativas realizou-se a comparação múltipla de médias das ordens e, a dife-
rença ocorreu entre a primeira e a terceira avaliação (p = .000) (Figura 1).

212
Figura 1 - Comparação múltipla de médias das ordens das avaliações da funcionalidade (MIF)

213
A diferença estatisticamente significativa verificou-se entre a primeira
e a última avaliação, o que corresponde à evolução favorável obtida com a
assistência, treino e instrução nos autocuidados realizada por enfermeiro
de reabilitação
O risco de queda foi determinado pela Escala de Morse, tendo-se ve-
rificado que na avaliação inicial três participantes não apresentavam risco,
dois tinham baixo risco e cinco alto risco de queda. Na avaliação intermé-
dia assistiu-se ao aumento do risco em todos os participantes (Baixo risco
n=4; alto risco n=6). Na avaliação final, três participantes mantinham baixo
risco e sete alto risco de queda. Medidas estatísticas não paramétricas não
demonstraram diferenças significativas entre as avaliações, nem associação
dos valores de risco de queda com a independência funcional.

O QUE DIZEM OS ESTUDOS?

A maioria dos participantes foram mulheres idosas, fato que coincide


nos dados da população portuguesa, onde as mulheres têm uma expectati-
va de vida a partir dos 65 anos superior à dos homens, em cerca de 4 anos
(PORDATA, 2023a). Outrossim, também são as mulheres que compreen-
dem valores mais baixos de boa saúde (Burnows, 2024).
A escolaridade dos participantes foi muito variável, sendo, no entan-
to, um dado relevante, considerando que nos perfis de pessoas com baixo
conhecimento em saúde e com dificuldade de compreensão das instruções
técnicas de saúde se situam em primeiro lugar os idosos, seguido das pes-
soas com baixa escolaridade (Almeida, 2023). A capacitação para o autocui-
dado envolve conhecimento, capacidade para a tomada de decisão e a ação
(Reis; Bule, 2017), e os resultados dependem fortemente de estratégias que
garantam eficácia na comunicação.
Todos os participantes tinham doenças múltiplas, o que representa
um desafio atual aos sistemas de saúde e sociais, onde a centralidade deixa
de ser a doença enquanto entidade que coloca a pessoa numa dada traje-
tória de cuidados, e passa a ser a pessoa com múltiplos problemas e neces-

214
sidades, as quais devem ser atendidas e consideradas numa perspetiva de
cuidados integrados e de autocuidado (Lopes, 2021; Sakelarides, 2021).
O projeto de intervenção desenvolveu-se efetivamente centrado nos
participantes, partiu de uma avaliação diagnóstica detalhada que permitiu
definir e implementar cuidados de enfermagem de reabilitação personali-
zados, participativos e colaborativos, integrados nos valores e nos objetivos
pessoais de cada participante.
A ocorrência de queda nos três meses anteriores ao internamento es-
teve presente em nove dos dez participantes, facto que salienta o relevo des-
te problema para a saúde pública e para a economia (WHO, 2021). A queda
é um evento com potencial para agravar os custos relacionados com a inter-
nação (Alves Sobral Sousa; Valente; Lopes; Ribeiro et al., 2023), a qualidade
de vida ou mesmo a sobrevida dos doentes idosos (WHO, 2021).
A independência funcional e a vida independente são pilares do en-
velhecimento ativo e saudável. Os resultados do projeto revelam a evolução
favorável que os participantes obtiveram com cuidados de enfermagem de
reabilitação centrados na reaprendizagem do autocuidado. A recuperação
do equilíbrio e da marcha foram determinantes na concretização dos obje-
tivos individuais. Recuperar a marcha é determinante para a recuperação da
mobilidade, da independência, reduz custos assistenciais e tempo de inter-
namento (Alves Sobral Sousa; Valente; Lopes; Ribeiro et al., 2023).
Verificou-se que o risco de queda dos participantes aumentou da ava-
liação inicial para a avaliação intermédia e mostrou tendência para dimi-
nuição na avaliação final. O resultado pode ter sido influenciado pelo fato
de a maioria dos participantes estarem na fase inicial da restrição ao leito,
sem mobilidade independente ou assistida e, nessa condição, sem risco de
queda. Aparentemente, mitigar as complicações da imobilidade faz aumen-
tar o risco de queda, mas, também se verificou que a recuperação da mobi-
lidade e da independência promovida por especialistas em enfermagem de
reabilitação não esteve associada a eventos adversos.
Estudos mostram que o aumento da mobilidade reduz o risco de que-
das (Alves et al., 2023; Preto et al., 2023; Rodrigues Mendes et al., 2023),

215
mas os resultados no projeto de intervenção não o revelam, provavelmente
pelas características dos participantes na fase inicial e também pela dura-
ção da intervenção. Pode-se questionar se a continuidade dos cuidados não
refletiria também na redução do risco, pois os valores da avaliação final são
indicadores desse trajeto. Capacitar os idosos, as famílias e os cuidadores
para o problema das quedas é não só uma estratégia para as reduzir como
também uma medida de saúde pública (Rocha; Gemito; Caldeira; Coelho et
al., 2022).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O internamento de pessoas idosas têm frequentemente impactado


nas funções essenciais para controle do movimento corporal. A diminui-
ção da força, a perda do equilíbrio e a redução da resistência ao esforço são
exemplos de consequências, por vezes difíceis de recuperar. Além disso, in-
terromper a cadeia da dependência é também um processo lento, oneroso e
com impacto na qualidade de vida do idoso e da família.
As funções comprometidas pela imobilidade e pelo processo de con-
valescença constituem-se como fatores intrínsecos para a queda, enquanto
o contexto ambiental de internamento é potencialmente um fator extrín-
seco, uma vez que os idosos perdem as referências espaciais com as quais
estavam familiarizados. A estimação do risco com instrumentos validados é
essencial pois fornece dados indicadores dos fatores de risco individuais e,
desta forma, torna-se visível as medidas que devem ser implementadas para
prevenção da queda.
Prevenir quedas no internamento é um propósito associado aos indi-
cadores de qualidade dos cuidados, envolve profissionais de múltiplas áreas
que desejavelmente definem conjuntamente os objetivos e as estratégias do
processo assistencial. Os cuidados de enfermagem de reabilitação centra-
dos nas pessoas e na complexidade das suas necessidades respondem à ges-
tão dos fatores intrínsecos do risco e capacitam os idosos com habilidades
motoras protetoras da queda.

216
A realização do autocuidado é, na essência, uma tarefa múltipla e
complexa, pois requer atenção, concentração, memória, força, coordena-
ção e resistência. Assistir, treinar e instruir para os autocuidados é também
uma estratégia de capacitação motora que previne as quedas. Recuperar a
capacidade para a marcha independente, mesmo com um meio auxiliar, é
essencial para a independência.
O projeto de intervenção revelou que à medida que a mobilidade dos
participantes aumentou, fez igualmente elevar o risco de queda, pois, pela
escala de Morse, o confinamento no leito faz reduzir o risco. Este dado refor-
ça a necessidade de cuidados especializados que garantam a segurança do
processo de recuperação funcional.
O estudo das quedas em idosos e em particular em contextos de in-
ternamento carece de estudos epidemiológicos que permitam estratificar os
riscos nas diferentes tipologias de internamento, mas também nos fatores
intrínsecos de risco.
Em Portugal as alterações estruturais nos cuidados de saúde fizeram
emergir novas respostas em cuidados (como as Unidades de Hospitalização
Domiciliária) mas também a redução na duração do internamento hospi-
talar. Do mesmo modo, o contexto pandêmico que se viveu recentemente
evidenciou que os idosos em instituições como lares e residências de aco-
lhimento precisam de cuidados de saúde. Estas são algumas mudanças que,
sendo estruturais, também acarretam perfis diferentes nas pessoas interna-
das/institucionalizadas.
As quedas nos idosos devem ser consideradas numa perspetiva de
abordagem multiprofissional e os estudos devem igualmente procurar evi-
dências sobre as estratégias de intervenção que conciliam a redução do
evento e simultaneamente a preservação ou recuperação da funcionalida-
de, em prol do envelhecimento ativo e saudável.

217
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221
CAPÍTULO 9
EXPERIÊNCIA EXITOSA NO LAR DA
VOVOZINHA: COMO ESTAMOS PROTEGENDO
NOSSAS IDOSAS DAS QUEDAS?
Angelica Quirino da Costa
Cristiane Kalline Silva Costa de Araújo

APRESENTAÇÃO

O Lar da Vovozinha é uma instituição de longa permanência (ILPI)


para pessoas do sexo feminino, fundada no ano de 1981. Sua missão é aco-
lher e cuidar da mulher idosa em situação de vulnerabilidade socioeconô-
mica, atendendo efetivamente seus direitos civis de moradia, alimentação,
saúde, lazer e afeto, proporcionando-lhe melhor qualidade de vida. Sua ca-
pacidade de acolhimento total é para 40 idosas, classificando-se como uma
ILPI de porte II.
Atualmente possui uma equipe composta por 40 funcionários em di-
versas áreas de atuação (assistência direta, serviços de suporte e serviços
administrativos). A gestão é composta por 06 coordenadores voluntários
divididos em Coordenadoria Administrativa, Executiva, Departamentos,
Marketing, Recursos Humanos e Convênio. A equipe multiprofissional é
composta por Assistente Social, Enfermeira, Fisioterapeuta, Médica, Nutri-
cionista e Arte Terapeuta. Nesse contexto, o presente capítulo tem por ob-
jetivo apresentar um relato de experiência vivenciado pela equipe técnica
e interdisciplinar que atuam no cuidado às pessoas idosas que residem no
Lar da Vovozinha.
COMO ENTENDEMOS O EVENTO DAS QUEDAS?

Entende-se por institucionalização o atendimento integral, em regi-


me de internato, às pessoas de 60 anos ou mais, dependentes ou indepen-
dentes, sem vínculo familiar ou que não dispõem de condições para prover
sua própria subsistência (Yoshitome, 2010). A institucionalização do idoso
possui diversas causas, que abrangem a constituição familiar, comprometi-
mento em saúde, dependência para realização de atividades diárias, entre
outros. Consiste em um processo complexo que promove desfechos distin-
tos à vida, que podem envolver o agravo do processo fisiopatológico
pré-existente, alterações emocionais, psíquicas e sensoriais (Linder et
al., 2010).
Segundo Ferreira et al., (2019) a população idosa que reside em ILPI
têm incidência de queda por volta de 40%, sendo estimado que 13% a 66%
destes tornam-se caidores recorrentes. Esses dados se justificam pela pre-
sença maior de fragilidade, dependência funcional e debilidade entre os
mesmos. Essa afirmativa corrobora que a pessoa idosa institucionalizada é
propensa ao risco de sofrer queda por condições multifatoriais, principal-
mente àquelas onde se encontram os fatores ambientais mais próximos que
dizem respeito às condições físicas das ILPIs.
De acordo com um estudo realizado por Alves et al., (2016) com a
análise para o risco de quedas entre idosos institucionalizados, a maioria
apresentou risco alto para quedas. Este grupo, frequentemente apresenta
mais de um fator de risco para quedas, o que aumenta a probabilidade de
eventos recorrentes e consequências mais graves. Dentre esses fatores es-
tão: isolamento social, sedentarismo, forte declínio funcional e cognitivo,
prevalência de comorbidades, uso de múltiplos medicamentos, fragilidade,
fatores ambientais e outros. Para Ferreira (2021) e Yoshitome (2010), esta
população apresenta três vezes mais chances de cair do que aqueles que
residem na comunidade.
Na busca de um eficiente processo preventivo de quedas, devem ser
adotados métodos de prevenção primária e secundária. A prevenção pri-

223
mária objetiva eliminar os fatores de risco de doença ou condição, visando
reduzir sua incidência, enquanto a prevenção secundária vai identificar e
corrigir individualmente esses fatores para diminuir a incidência (Nunes,
2023).

DEFINIÇÃO DE QUEDAS

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), queda é o


deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição ini-
cial, com incapacidade de correção em tempo hábil. Considera-se queda
quando a pessoa/paciente é encontrado no chão ou quando, durante o des-
locamento, necessita de amparo, ainda que não chegue ao chão. A queda
pode ocorrer da própria altura, do sofá, cadeiras, cama, assentos (cadeira
de rodas, poltronas, cadeira higiênica, chuveiro, banheira e outros; ou des-
locamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial,
provocado por circunstâncias multifatoriais, resultando ou não em dano
(Brasil, 2013).

COMO DETERMINAR O RISCO DE QUEDA DE FORMA INDIVIDUALI-


ZADA EM NOSSA INSTITUIÇÃO?

Considerando a gravidade que o evento queda pode representar na


vida de uma pessoa idosa, bem como a maior incidência de quedas den-
tro das instituições de idosos, a equipe multiprofissional da ILPI precisa ter
muita atenção com os mecanismos de identificação de riscos e a atuação de
todos os profissionais no planejamento da prevenção (Baixinho et al. (2020).
Ainda segundo os autores, a identificação dos idosos que têm alto risco de
queda é o primeiro passo para ajudar os profissionais a definir intervenções
para prevenir as quedas e as lesões associadas a estas.

Anamnese
Objetiva reconhecer os riscos potenciais para a ocorrência de quedas.
A primeira avaliação ocorre com a triagem realizada pelo serviço social, an-

224
tes do acolhimento. O instrumento de anamnese social possui alguns cam-
pos voltados à identificação de potenciais fatores intrínsecos desencadea-
dores de quedas. No dia do acolhimento, somam-se os dados coletados na
anamnese de enfermagem e de fisioterapia.

Escalas e Índices de Avaliação ao Risco de Quedas


A aplicação das escalas ocorre durante a admissão. Por meio desses
instrumentos, conseguimos identificar os fatores de risco para quedas, o
que nos proporciona uma base mais sólida para a elaboração de um plano
de cuidados preventivos baseado em evidências. Atualmente, em nossa ins-
tituição, temos os seguintes instrumentos de avaliação de riscos para que-
das protocolados:
Johns Hopkins - JH-FRAT (versão brasileira): Essa escala foi es-
truturada com base em fatores de risco identificados na literatura — dis-
ponibilizando uma classificação de risco para direcionamento de medidas
preventivas, como instrumento confiável, de custo relativamente baixo para
aplicabilidade e simples operacionalização já demonstrada na versão brasi-
leira (Martinez et al., 2019)
Utilizamos ainda outros índices cujos resultados obtidos são relevan-
tes para a ciência da atual condição de saúde do idoso e, portanto, direta-
mente relacionados com fatores desencadeadores do evento queda. São
eles:
Mini Exame do Estado Mental (MEEM) – avalia a cognição. É o teste
de rastreio cognitivo mais utilizado no mundo (Melo; Barbosa, 2015);
Escala de Depressão em Geriatria (‘Geriatric Depression Scale’ —
GDS)16 é um dos instrumentos mais frequentemente utilizados para a de-
tecção de depressão na pessoa idosa. A associação entre o risco de queda
e o índice de depressão apresenta correlação estatisticamente significativa
(Silva, 2016);
Índice de Katz - Foi desenvolvido para avaliar o grau de dependência
do idoso baseado na necessidade ou não de auxílio para realizar atividades
básicas da vida diária (Leite et al., 2020);

225
Teste Timed Up and Go (TUG) que avalia a mobilidade e equilíbrio.
Esse teste tem resultados positivos quando complementado por outro teste
(Andrade, 2021).
Ressaltando que a aplicação da escala ocorrerá sempre que surgir al-
guma mudança na rotina da pessoa idosa. Algumas situações: Internação
hospitalar; Declínio cognitivo; Mudança na prescrição (avaliando a neces-
sidade conforme natureza do medicamento introduzido/retirado); Queixas
de tonturas Mudança de ambiente; Problemas neurológicos; quedas (Mais
de dois terços dos idosos que sofrem uma queda cairão novamente nos seis
meses subsequentes. Isto significa que a história de queda anterior, em pelo
menos seis meses passados, é um fator preditor de uma nova queda.

QUAL A CONDUTA EM CASOS DE QUEDA NO


LAR DA VOVOZINHA?

A identificação precoce do risco de queda sempre deverá ser a ação


prioritária no tocante a evitar essas ocorrências, porém, quando ocorre uma
situação de queda, a rotina institucional aplicada no atendimento imediato
objetivando minimizar complicações será decisiva para a recuperação físi-
ca e psicológica da vítima da queda. O protocolo estabelecido deverá ser
amplamente trabalhado em capacitação com os profissionais e colabora-
dores que atuam na ILPI (DOURADO et al., 2022). Cada um, conforme sua
função, exercerá um papel determinado, de forma sincronizada, intentando
agilizar a solução da questão com a máxima eficácia

Atuação da equipe diante da ocorrência de queda


em uma pessoa idosa no Lar da Vovozinha
Cuidadores: Um(a) aciona a equipe de enfermagem e outro(a) per-
manece ao lado da pessoa fornecendo conforto e/ou alguma ação de pri-
meiros socorros conforme treinamento; Após chegada do profissional da
enfermagem, apenas um cuidador permanece no local e disponibiliza-se
para prestar apoio ao profissional de enfermagem, caso solicitado; Demais

226
cuidadores buscam manter a tranquilidades nos outros residentes da insti-
tuição; Um dos cuidadores já se prepara para a necessidade de acompanhar
a pessoa idosa em atendimento de urgência externo.
Profissional da enfermagem (Técnico ou enfermeiro): No caso de
queda com lesão iniciar avaliando lesões aparentes e exigência de interven-
ção imediata; avaliar nível de consciência; acionar o SAMU (pode solicitar
para outro profissional); continuar inspeção/verificação de sinais vitais; Ca-
sos de queda sem lesão dar seguimento ao fluxograma (figura 1).

Figura 1. Fluxograma a ser seguido na ocorrência de queda sem lesão no Lar da Vovozinha, Natal - RN.

227
Ações da equipe após estabilização da intercorrência:
O técnico de enfermagem assume a responsabilidade pelo registro da
ocorrência no prontuário, preenchimento do instrumento de registro e ava-
liação de quedas e administração da prescrição/orientação do profissional
médico, fisioterapeuta e enfermeiro, se necessário. O Enfermeiro: supervi-
siona registros, avalia imagens das câmeras, ouve relatos dos presentes ao
fato, busca identificar falhas na prevenção. Ao descartar fatores extrínsecos,
avalia fatores intrínsecos ao idoso (alteração glicemia, HAS, mudança pres-
crição, alteração padrão do sono, etc), comunica ao serviço social e direção
da instituição, notifica à Vigilância Sanitária, preenche relatório e resume
em prontuário. Acompanha a evolução da pessoa idosa na instituição ou
ambiente hospitalar. Promove encontro com equipe do plantão do dia da
ocorrência para uma roda de conversa e reflexões sobre o ocorrido. Reavalia
risco de queda por meio do emprego das escalas.
A atuação da assistente social é informar familiares/responsáveis pela
ocorrência, fazer contato com o serviço social da unidade hospitalar caso o
residente seja hospitalizado, conversar com demais residentes no intuito de
acalmá-los. Esse profissional será o elo entre equipe hospitalar e equipe da
ILPI. O Fisioterapeuta irá avaliar a condição motora, investigar mudanças
nos padrões anteriormente encontrados. Presta assistência para sequelas
da queda, caso apresente, aplica instrumentos de avaliação protocolados e
inicia o processo de reabilitação, se for o caso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quedas são um evento comum entre a população idosa, com uma in-
cidência ainda maior dentro das instituições de longa permanência, muitas
vezes acarretando consequências graves para a saúde física e psicológica.
Conscientes dessa questão, os gestores e as equipes multidisciplinares do
Lar da Vovozinha buscam implementar protocolos assistenciais de preven-
ção de quedas, buscando reduzir a ocorrência desse evento tão danoso à
saúde das pessoas idosas residentes em instituições de longa permanência
e, em geral, garantir sua segurança.

228
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