Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Geri Atria 1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 181

Volume VI

GERIATRIA Parte 1

Coordenadores
Roberto Alves Lourenço
Maria Angélica dos Santos Sanchez
Carlos Montes Paixão Junior

Editor da série
Roberto A. Lourenço

Rio de Janeiro: Editora Triunfal, 2018.


Triunfal Gráfica e Editora
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CB/A

G389 Geriatria / Coordenadoras: Roberto Alves Lourenço,


Maria Angélica dos Santos Sanchez, Carlos Montes Paixão Júnior;
Editor: Roberto A. Lourenço. – Rio de Janeiro: Triunfal, 2018.
176 p. – (Rotinas hospitalares – Hospital Universitário Pedro
Ernesto; vol. VI, pt.1).

ISBN: 978-85-61175-78-8

1. Geriatria. 2. Guia de prática clínica. I. Lourenço, Roberto Alves.


II. Sanchez, Maria Angélica dos Santos. III. Paixão Júnior,
Carlos Montes. IV. Hospital Universitário Pedro Ernesto. V. Série.

CDU 616.053.9

Bibliotecária: Thais Ferreira Vieira CRB7/5302


Volume VI

GERIATRIA Parte 1
Coordenadores do volume
ROBERTO ALVES LOURENÇO
Médico. Doutor em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro. Professor Associado, Disciplina de Geriatria, Departamento de Medicina
Interna, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor
Titular, Departamento de Medicina, Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro.
Especialista em Geriatria, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

MARIA ANGÉLICA DOS SANTOS SANCHEZ


Assistente Social. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGG). Doutora em Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em
Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora, Laboratório
de Pesquisa em Envelhecimento Humano, Departamento de Medicina Interna,
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

CARLOS MONTES PAIXÃO JUNIOR


Médico. Ex-Residente em Geriatria da Assistance Publique-Hôpitaux de Paris, França.
Doutor em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto, Disciplina de Geriatria,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia – Seção Rio de Janeiro.

Apoio:
Equipe editorial
Comissão Científica Pedro Ernesto
Diretor do HUPE
Edmar José Alves dos Santos

Editor da série
Roberto Alves Lourenço

Coordenação do volume
Roberto Alves Lourenço
Maria Angélica dos Santos Sanchez
Carlos Montes Paixão Junior

Consultoria técnica
Edna Ferreira da Cunha

Coordenação da equipe editorial


Michelle Borges Rossi

Revisão e copidesque
Michelle Borges Rossi

Revisão técnica
Roberto Alves Lourenço
Maria Angélica dos Santos Sanchez
Carlos Montes Paixão Junior
Prefácio
O cuidado com o paciente idoso impõe desafios aos profissionais, que preci-
sam deter habilidades plurais para lidar com situações variadas. Um único pa-
ciente idoso pode apresentar doenças simultâneas em diversos órgãos e sistemas,
com prejuízo marcante da sua funcionalidade: redução da acuidade visual, perda
auditiva, declínio cognitivo, histórico vascular de longa data, síndrome de fragili-
dade, incontinências, alterações de pele e tantas outras. Além disso, com alguma
frequência, tem indicação de abordagem paliativa ou se encontra em risco social
de negligência ou violência.
Para que uma intervenção seja bem-sucedida, tal complexidade exige trabalho
em equipe interdisciplinar. A soma dos saberes de cada participante da equipe é
vital para que todas as dimensões do cuidado sejam contempladas. Esse é justa-
mente o princípio da Avaliação Geriátrica Ampla: estabelecer um plano de cuida-
dos que contemple as necessidades do paciente e de sua família, após avaliação
por profissionais com habilidades complementares.
Os professores Roberto A. Lourenço, Maria Angélica S. Sanchez e Carlos Montes
Paixão Jr. têm reconhecimento notório no campo do envelhecimento e reuniram
colaboradores de competência inquestionável para a publicação das rotinas hos-
pitalares da Geriatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), da Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O lançamento do livro dá-se em momen-
to difícil para o HUPE-UERJ, assolado por uma carência de verbas que prejudicam
a assistência, conforme ampla divulgação. O esforço desses professores em levar
adiante o projeto das rotinas em situação tão adversa torna ainda mais brava a sua
iniciativa, demonstrando a capacidade de resiliência dos profissionais do hospital.
A adoção de rotinas no cuidado do paciente idoso, seja em ambiente ambu-
latorial ou hospitalar, permite uma assistência ainda mais atenta. O médico nor-
te-americano Atul Gawande, um entusiasta dos geriatras, em seu livro Checklist
– Como fazer as coisas benfeitas, defende que mesmo as tarefas mais complicadas
podem ser facilitadas pela padronização e pela decomposição em sequências de
tarefas mais simples. Nesse sentido, essas rotinas em Geriatria trazem uma contri-
buição inestimável para aprimorar o tratamento conferido aos idosos, provocan-
do um olhar meticuloso sobre vários aspectos do cuidado. Tenho a convicção
de que serão úteis para alunos de graduação, estagiários, residentes e profissio-
nais de todas as áreas que se dedicam ao atendimento de idosos no hospital,
promovendo uma política integrada e pormenorizada de avaliação e tratamento.

José Elias Soares Pinheiro


Médico geriatra, Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (gestão 2016-2018)
Organizadores
ROBERTO ALVES LOURENÇO
Médico. Doutor em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Professor Associado, Disciplina de Geriatria,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Titular, Departamento de
Medicina, Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro. Especialista em
Geriatria, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

MARIA ANGÉLICA DOS SANTOS SANCHEZ


Assistente Social. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG). Doutora em Ciências da Saúde, Programa
de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Pesquisadora, Laboratório de Pesquisa em Envelhecimento Humano,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.

CARLOS MONTES PAIXÃO JUNIOR


Médico. Ex-Residente em Geriatria da Assistance Publique-Hôpitaux de Paris,
França. Doutor em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto, Disciplina de Geriatria,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ex-Presidente da Sociedade Brasileira
de Geriatria e Gerontologia – Seção Rio de Janeiro.
Apresentação
É com grande prazer que entregamos ao leitor o volume Geriatria, da Série
Rotinas Hospitalares do Hospital Universitário Pedro Ernesto.
Para dar conta do extenso número de questões abordadas, dividimos o vo-
lume em duas partes, publicadas em livros distintos. Na primeira, descrevemos
em detalhe as estratégias utilizadas no Serviço de Geriatria Prof. Mario A. Sayeg,
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no rastreamento e avaliação diag-
nóstica completa de idosos suspeitos de quadros de fragilização, seja no seu
formato de grave redução de reservas funcionais, com comprometimento das
variáveis fisiológicas aferidas, seja no formato das complicações associadas à
fragilidade, expressas como incapacidade e síndromes geriátricas, seja como
vulnerabilidades de outra natureza, como a ausência de suporte social, e as de
natureza econômica.
No intuito de cumprir tais propósitos, descrevemos o caráter objetivo e ágil dos
nossos procedimentos de rastreamento de condições adversas, que justificam a pro-
gressão do indivíduo em avaliação dentro do sistema que a literatura internacional
classicamente denomina Comprehensive Geriatric Assessment (CGA) e, já há mais
de 20 anos, traduzimos e praticamos como Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). A
AGA costuma ter formatos flexíveis na constituição profissional de sua equipe, na
dependência das estratégias eleitas para a condução diagnóstica e de reabilitação
ou, de maneira mais prosaica, pragmática, na dependência dos recursos humanos
e financeiros disponíveis. No início do funcionamento de nossa unidade de geria-
tria, e por muitos anos, um núcleo de três profissionais – assistente social, enfer-
meiro e médico – fazia a avaliação inicial do usuário do serviço e, na sequência,
buscava o auxílio de outras especialidades – nutrição, psicologia clínica, neuropsi-
cologia, entre outras – de acordo com as necessidades iniciais identificadas. Atual-
mente, tais funções são exercidas pelo assistente social, fisioterapeuta e médico.
De maneira resumida, na Parte 1, Seção 1, descrevemos os procedimentos
que constituem a AGA nos Protocolos 1 a 7, correspondentes a todas estas
avaliações; na Seção 2 detalhamos suas instruções de execução.
Na Parte 2, Seções 3, 4 e 5, são elaborados protocolos de temas relativos a
síndromes geriátricas (Protocolo 8 a 21), a doenças crônicas muito frequentes
entre idosos (Protocolos 22 a 26) e a questões especiais, que não poderiam
estar ausentes em uma publicação desta natureza (Protocolos 27 a 34).
Boa leitura!

Roberto Alves Lourenço


Editor da Série de Rotinas do Hospital Universitário Pedro Ernesto
Autores
ALINA LEBREIRO GUIMARÃES TELDESCHI
Psicóloga. Pós-Graduação em Geriatria e Gerontologia, Faculdade de Ciências
Médicas e Universidade Aberta da Terceira Idade, Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Mestre em Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Ciências
Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

ANA CRISTINA CANÊDO SPERANZA


Médica. Mestre em Ciências Médicas, Programa de Pós-Graduação em Ciências
Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Geriatria,
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

ARIETTE ROLLI
Médica. Especialista em Geriatria, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade do
Estado do Rio de Janeiro.

CARLOS MONTES PAIXÃO JUNIOR


Médico. Ex-Residente em Geriatria da Assistance Publique-Hôpitaux de Paris, Fran-
ça. Doutor em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto, Disciplina de Geriatria,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia – Seção Rio de Janeiro.

CLÍCIA VIEIRA CUNHA


Mestre em enfermagem, Especialista em Saúde da Pessoa Idosa. Especialista
em Estomaterapia. Ambulatório de Adulto do Instituto Nacional de Cardiologia.
Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

CRISTINA MARQUES DIAS BEREICÔA


Especialista em Geriatria, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Associa-
ção Médica Brasileira. Residência em Geriatria, Casa Gerontológica de Aeronáu-
tica Brigadeiro Eduardo Gomes e Hospital Universitário Clementino Fraga Filho,
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Residência em Clínica Médica, Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

DAYSE CARVALHO DO NASCIMENTO


Doutoranda em Enfermagem. Estomaterapeuta. Professora Colaboradora, Pós-
Graduação de Estomaterapia, Faculdade de Enfermagem, Universidade do
Estado do Rio de janeiro. Coordenadora da Comissão de Curativos do Hospital
Universitário Pedro Ernesto. Membro do Núcleo de Segurança do Paciente,
Hospital Universitário Pedro Ernesto. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

DÉBORA REGINA DE OLIVEIRA SILVEIRA


Assistente Social, Policlínica Piquet Carneiro, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Especialista em Serviço Social e Saúde, Faculdade de Serviço Social,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. MBA Gestão Pública, Faculdade de
Administração e Finanças, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

EDUARDO MAGALHÃES COSTA


Médico. Especialização em Geriatria, Departamento de Medicina, Pontifícia
Universidade Católica – Rio de Janeiro. Supervisor de alunos, Serviço de Geriatria
Prof. Mario A. Sayeg, Policlínica Piquet Carneiro, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Supervisor de alunos, Hospital São Vicente de Paulo, Rio de Janeiro.
ELIZABETE VIANA DE FREITAS
Doutora em Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Médica,
Hospital Universitário Pedro Ernesto. Especialista em Geriatria e Gerontologia,
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Especialista em Cardiologia,
Sociedade Brasileira de Cardiologia.

FERNANDA ROCHA RODRIGUES


Enfermeira, Estomaterapeuta, Comissão de Curativos do Hospital Universitário
Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

FILIPE GUSMAN
Médico. Especialista em Geriatria, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontolo-
gia. Presidente da Regional Sudeste da Academia Nacional de Cuidados Paliativos
(2014-2016). Professor, Curso de Medicina, Universidade Estácio de Sá. Professor
Orientador da Liga Acadêmica de Cuidados Paliativos, Universidade Estácio de Sá.

FLÁVIA MOURA MALINI DRUMMOND


Fisioterapeuta, Serviço de Geriatria Mario A. Sayeg, Policlínica Piquet Carneiro,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Preceptora do Programa de Residência
em Fisioterapia, Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Mestre e Doutoranda em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina
Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Membro da Comissão Técnica de
Saúde do Idoso, CREFITO-2.

GLAUCIA CRISTINA DE CAMPOS


Nutricionista. Doutora em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universida-
de do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Gerontologia, Sociedade Brasileira
de Geriatria e Gerontologia. Pesquisadora, Laboratório de Pesquisa em Envelheci-
mento Humano, Departamento de Medicina Interna, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.

GRACIETE SARAIVA MARQUES


Mestre em enfermagem. Estomaterapeuta. Preceptora do Programa de Pós-Gradu-
ação, Residência de Enfermagem Cirúrgica, Faculdade de Enfermagem, Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro. Seção Cirurgia Plástica. Hospital Universitário
Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

GRAZIELA SANTANA BORGES


Enfermeira, Instituto Nacional do Câncer José de Alencar. Preceptora, Educação
Continuada, Instituto Nacional do Câncer José de Alencar, Instituto Nacional do
Câncer.

JAMES NASCIMENTO
Médico. Professor Auxiliar, Disciplina de Fisiatria e Medicina de Reabilitação,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas. Chefe, Serviço
de Fisiatria, Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.

JOÃO SANTOS PEREIRA


Médico. Doutor em Neurologia, Universidade Federal do Estado de São Paulo.
Professor Associado, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Coordenador do Setor de Distúrbios do Movimento, Serviço de
Neurologia, Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia.
KALIL MOHALLEM
Médico, Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras, Rio de Janeiro, RJ. Espe-
cialista em Cardiologia, Sociedade Brasileira de Cardiologia. Mestre em Cardio-
logia, Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro. Especialista em Geriatria,
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

LILIAN HENNEMANN-KRAUSE
Médica. Medicina Paliativa. Especialista em Anestesiologia, Sociedade Brasileira
de Anestesiologia, Associação Médica Brasileira. Mestre em Ciências Médicas, Pro-
grama de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Especialista em Medicina Paliativa AMB. Especialista em tratamento da dor
pela Sociedade Brasileira do Estudo da Dor. Pós-Graduação em Geriatria, Faculda-
de de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

MARIA ANGÉLICA DOS SANTOS SANCHEZ


Assistente Social. Especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG). Doutora em Ciências da Saúde, Programa de
Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Pesquisadora, Laboratório de Pesquisa em Envelhecimento Humano, Departamento
de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.

MARIANGELA PEREZ
Médica. Doutora em Ciências Médicas, Programa de Pós-Graduação em Ciências
Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Geriatria,
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Pesquisadora, Laboratório de
Pesquisa em Envelhecimento Humano – GeronLab. Médica-supervisora, Serviço de
Geriatria, Hospital São Vicente de Paulo.

MARISTELA VÔMERO DIAS


Psicóloga. Especialista em Neuropsicologia, Serviço de Psiquiatria, Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro. Neuropsicóloga, Serviço de Geriatria Prof. Mario A.
Sayeg, Policlínica Piquet Carneiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

PATRÍCIA CRISTINA DOS SANTOS FERREIRA


Médica. Mestre em Ciências Médicas, Programa de Pós-Graduação em Ciências
Médicas, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

ROBERTA ARNOLDI COBAS


Médica. Especialista, Residência em Endocrinologia, Hospital Universitário Pedro
Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em Fisiopatologia Clí-
nica e Experimental, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora Adjunta,
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

ROBERTO ALVES LOURENÇO


Médico. Doutor em Saúde Coletiva, Instituto de Medicina Social, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro. Professor Associado, Disciplina de Geriatria,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Titular, Departamento de
Medicina, Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro. Especialista em
Geriatria, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

ROBERTO GAMARSKI
Mestre em Cardiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ. Especialista em
Geriatria, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Especialista em Cardio-
logia, Sociedade Brasileira de Cardiologia.
RODRIGO MARTINS RIBEIRO
Médico, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Mestre em Ciências Médicas, Programa de Pós-Graduação em Ciên-
cias Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Geriatria,
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

ROSA MARIA FERNAMBEL MARQUES E SILVA


Enfermeira, Policlínica Piquet Carneiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Pós-Gradução em Gerontologia, Universidade Federal Fluminense.

SIMONE DA COSTA MAZZEI


Fisioterapeuta, Serviço de Geriatria Mario A. Sayeg, Policlínica Piquet Carneiro,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Gerontologia, Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Consultora para Fisioterapia em Gerontolo-
gia da Rede Silvestre Saúde. Membro da CT Saúde do Idoso CREFITO-2. Diretora
Secretária da Associação Brasileira de Fisioterapia em Gerontologia (ABRAFIGE).

VÂNIA OTERO BOMBINHO CEZARIO


Fisioterapeuta, Serviço de Geriatria Mario A. Sayeg, Policlínica Piquet Carneiro,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pós-Graduação em Geriatria e Geron-
tologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Gerontologia,
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

VERÔNICA COSTA MELO


Nutricionista, Serviço de Geriatria Mario A. Sayeg, Policlínica Piquet Carneiro,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Nutrição Clínica, Univer-
sidade Federal Fluminense. Especialista em Geriatria e Gerontologia, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.

VIRGÍLIO GARCIA MOREIRA


Médico. Mestre e Doutor em Ciências Médicas, Programa de Pós-Graduação em
Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisador, Labo-
ratório de Pesquisa em Envelhecimento Humano – GeronLab, Departamento de
Medicina Interna, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

WASHINGTON ALVES BIANCHI


Médico, Professor Adjunto, Disciplina de Fisiatria e Medicina de Reabilitação,
Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

1RM – teste de carga máxima AUA – Associação Americana de


AAS – ácido acetilsalicílico Urologia
ABRAZ – Associação Brasileira de AVC – acidente vascular cerebral
Alzheimer AVD – atividade básica de vida
ABVD – atividades básicas de vida diária
diária AVE – acidente vascular encefálico
ACC – Colégio Americano de AVK – antagonista de vitamina K
Cardiologia BH – bexiga hiperativa
ACO – anticoagulante BIA – análise de bioimpedância
ADA – Associação Americana de CA – circunferência abdominal
Diabetes CAM – Confusion Assessment
ADM – amplitude de movimento Method
articular CAMCOG – Cambridge Cognitive
AE – átrio esquerdo Examination
AFB – avaliação funcional breve CASE – Caregiver Abuse Sreening in
AGA – avaliação geriátrica ampla the elderly
AGE – ácidos graxos essenciais CB – circunferência do braço
AHA – Associação Americana do CCL – comprometimento cognitivo
Coração leve
AIDS (SIDA) – síndrome da CDC – Centros para Controle e
imunodeficiência adquirida Prevenção de Doenças
AIVD – atividade instrumental de CES-D – Escala de Depressão do
vida diária Center for Epidemiological Studies
AJ – altura do joelho CFM – Conselho Federal de
ALT – alanina aminotransferase Medicina
ANCP – Academia Nacional de CIA – comunicação interatrial
Cuidados Paliativos CIF – classificação internacional de
ANS – Agência Nacional de Saúde funcionalidade
Suplementar ClCr – clearance de creatinina
APGAR – Adaptation, Participation, CP – circunferência da panturrilha
Growth, Affection e Resolution CREAS – Centros de Referência
ASA – Sociedade Americana de Especializados de Assistência Social
Anestesiologia CSF – líquido cefalorraquidiano
ASHT – American Society of Hand CV – cardioversão
Therapists DA – doença de Alzheimer
AST – aspartato aminotransferase DAC – doença arterial coronária
DAV – diretivas antecipadas de IAM – infarto agudo do miocárdio
vontade IAMSST – infarto agudo do
DEXA – absorciometria radiológica miocárdio com supradesnível de
de dupla energia segmento ST
DGI – índice dinâmico de marcha IASP – International Association for
(dynamic gait index) the Study of Pain
DHEA – desidroepiandrosterona IC – insuficiência cardíaca
DM – diabetes mellitus IECA – inibidores da enzima
DP – doença de Parkinson captadora de angiotensina
DS-DAT – Discomfort Scale in IFP – articulação interfalangeana
dementia of the Alzheimer type proximal
DSM-5 – Manual Diagnóstico e ILP – instituições de longa
Estatístico de Distúrbios Mentais, permanência
quinta edição IM – infarto do miocárdio
DÚ – dose única IM – via intramuscular
ECG – ecocardiograma IMC – índice de massa corporal
EDG – escala de depressão geriátrica IME – índice de massa muscular
EEB – escala de equilíbrio de Berg esquelética
ETE – ecocardiograma transesofágico IMMA – índice de massa muscular
EV – via endovenosa apendicular
EWGSOP – European Working INR – índice internacional
Group on Sarcopenia in Older normalizado
People IQCODE – Informant Questionnaire
FA – fibrilação atrial for Cognitive Decline in the Elderly
FAB – bateria de avaliação frontal IRNS – inibidores de recaptação de
FAIc – fosfatase alcalina norepinefrina-serotonina
FC – frequência cardíaca IRSS – inibidor seletivo de
FES-I-BR – Escala de autoeficácia de recaptação da serotonina
quedas ISPOCD – International Study of
FI-CGA – índice de fragilidade – Postoperative Cognitive Dysfunction
avaliação geriátrica ampla ISRS – inibidores seletivos de
FO – ferida operatória receptação de serotonina
FPP – força de preensão palmar ITB – índice tornozelo braquial
FXa – antagonista do fator X ativado IU – incontinência urinária
GABA – ácido gama-aminobutílico IV – via intravenosa
GC – glicemia capilar LD – levodopa
GH – hormônio do crescimento LPP – lesão por pressão
HA – hipertensão arterial MAN – Miniavaliação Nutricional
MAPA – monitorização ambulatorial RENAME – Relação Nacional de
da pressão arterial Medicamentos
MEEM – Minexame do Estado RNI – razão normatizada internacional
Mental RNM – ressonância nuclear magnética
MMII – membros inferiores SAE – sistematização da assistência
MS – ministério da saúde de enfermagem
NACO – novo anticoagulante SBC – Sociedade Brasileira de
NIA – Instituto Nacional de Cardiologia
Envelhecimento SC – via subcutânea
NSP – Núcleo de Segurança do SCA – síndrome coronariana aguda
Paciente SCID – Structured Clinical Interview
OMS – Organização Mundial de Depression Inventory
Saúde SCPD – sintomas comportamentais e
PA – pressão arterial psicóticos das demências
PACSLAC – Pain Assessement SDCS – sintomas depressivos
Checklist for Seniors with Limited clinicamente significativos
Ability to Communicate SPECT – tomografia por emissão de
PAD – pressão arterial diastólica fóton único
PADE – Abby pain scale, Pain SPPB – Short Physical Performance
Assessement for the Dementing Battery
Elderly SUFU – Sociedade de Urologia e
PAEFI – proteção e atendimento Urodinâmica Feminina
especializado a famílias e indivíduos SUS – Sistema Único de Saúde
PAINAD – Pain Assessement in TC – tomografia computadorizada
Advanced Dementia TDR – teste do desenho do relógio
PAS – pressão arterial sistólica TUG – teste get-up and go
PET – tomografia por emissão de UPDRS – Escala Unificada de
pósitrons Avaliação da Doença de Parkinson
PNSP – Programa Nacional de (Unified Parkinsons´ Disease Rating
Segurança do Paciente Scale)
PO – pós-operatório VO – via oral
POCD – Disfunção Cognitiva do VR – via retal
Pós-Operatório
POMA II – Performance-Oriented
Mobility Assessment II
PVM – prolapso da válvula mitral
RAVLT – teste de aprendizagem
auditivo-verbal de Rey
SUMÁRIO

Parte 1

Introdução. Avaliação funcional interdisciplinar: Princípios........................21

Seção 1. Avaliação Geriátrica Ampla

Protocolo 1. Triagem.................................................................................31

Protocolo 2. Avaliação social....................................................................37

Protocolo 3. Avaliação de enfermagem.....................................................44

Protocolo 4. Avaliação médica.................................................................52

Protocolo 5. Avaliação nutricional............................................................60

Protocolo 6. Avaliação fisioterapêutica.....................................................70

Protocolo 7. Avaliação neurocognitiva.....................................................80

Seção 2. Manual de instruções dos instrumentos de avaliação

Apresentação da seção..................................................................................93

Instruções do Protocolo 1. Triagem...........................................................94

Instruções do Protocolo 2. Avaliação social........................................... 104

Instruções do Protocolo 4. Avalição médica........................................... 120

Instruções do Protocolo 5. Avaliação nutricional................................... 130

Instruções do Protocolo 6. Avaliação fisioterapêutica............................ 135

Instruções do Protocolo 7. Avaliação cognitiva...................................... 160

Apêndice 1. Diagrama da Avaliação Geriátrica Ampla............................ 168

Apêndice 2. Instruções para impressões, condutas e acompanhamento... 169

Apêndice 3. Elaboração do plano de cuidados........................................ 174


Parte 2

Seção 3. Síndromes geriátricas: Protocolos de intervenção

Protocolo 8. Perda cognitiva: Queixas subjetivas, comprometimento


cognitivo leve e demências................................................. 177

Protocolo 9. Sintomas comportamentais e psicóticos das demências:


Diagnóstico........................................................................ 187

Protocolo 10. Apatia................................................................................. 195

Protocolo 11. Agitação motora e demência.............................................. 201

Protocolo 12. Insônia e parassonias.......................................................... 208

Protocolo 13. Tratamento de demências................................................... 215

Protocolo 14. Delirium............................................................................. 221

Protocolo 15. Depressão........................................................................... 227

Protocolo 16. Imobilidade........................................................................ 233

Protocolo 17. Sarcopenia.......................................................................... 239

Protocolo 18. Fragilidade.......................................................................... 247

Protocolo 19. Reabilitação fisiátrica ......................................................... 256

Protocolo 20. Quedas............................................................................... 275

Protocolo 21. Incontinência urinária......................................................... 284

Seção 4. Doenças crônicas em Geriatria

Protocolo 22. Diabetes mellitus................................................................ 295

Protocolo 23. Hipertensão arterial sistêmica............................................. 304

Protocolo 24. Doença coronariana........................................................... 314

Protocolo 25. Fibrilação atrial................................................................... 329

Protocolo 26. Doença de Parkinson.......................................................... 341


Seção 5. Temas especiais em Geriatria

Protocolo 27. Aspectos clínicos do paciente geriátrico cirúrgico.............. 351

Protocolo 28. A pele do idoso hospitalizado: Considerações gerais de


assistência de enfermagem................................................. 360

Protocolo 29. A pele do idoso hospitalizado: Condutas específicas de


enfermagem........................................................................ 376

Protocolo 30. Violência interpessoal......................................................... 392

Protocolo 31. Cuidados paliativos: Critérios, recomendações e condutas.... 401

Protocolo 32. Cuidados paliativos: Controle da dor.................................. 413

Protocolo 33. Cuidados paliativos: Controle dos sintomas........................ 428

Protocolo 34. Diretivas antecipadas de vontade....................................... 444


GERIATRIA
Parte 1
Introdução

AVALIAÇÃO FUNCIONAL Carlos Montes Paixão Junior

INTERDISCIPLINAR: PRINCÍPIOS

I INTRODUÇÃO
A avaliação do idoso, levando-se em conta as doenças mais prevalentes
nesta faixa etária, de ordem principalmente crônico-degenerativa, deve ser
norteada pelos princípios de avaliação funcional, em contraposição à clássica
avaliação orientada pela etiologia de doenças. A prática em saúde do idoso
hoje pressupõe uma visão baseada na participação efetiva dos profissionais
envolvidos no atendimento. Assim, elenca-se um conjunto de informações
que possam permitir uma visão global quanto ao quadro que o idoso apresenta
(Tabela 1).
Tabela 1. Objetivos da avaliação do paciente idoso

a. Detecção, quantificação e identificação da origem de doenças e perdas funcionais.


b. Fornecer uma medida do resultado de intervenções funcionais ao longo do tempo.
c. Orientar tratamentos e outras intervenções, tendo em vista a globalidade das funções e a
qualidade de vida do paciente na escolha de terapêuticas alternativas.
d. Avaliar a necessidade de recursos comunitários.
e. Melhorar a previsão do curso de doenças crônicas.

Fonte: American College of Physicians (1991).

A interdisciplinaridade implica a interação das diversas disciplinas que pos-


sibilitarão um enfoque holístico no que tange à melhoria da qualidade de
vida da população idosa usuária dos serviços oferecidos. Ter um olhar isolado
em relação à saúde do idoso é deixar de lado um conjunto de questões que
estão intimamente relacionadas com seu processo de vida, que os aspectos
sociais, emocionais, culturais e ambientais se refletem diretamente no estilo de
vida, contribuindo significativamente para os aspectos biológicos. São muitas
as possibilidades em relação às metodologias de avaliação ampla do paciente
geriátrico, tanto em relação ao tipo de paciente avaliado quanto ao local onde
é realizada esta avaliação.
22 INTRODUÇÃO

No entanto, há um consenso de que o paciente que mais se beneficia desta


tecnologia é o idoso frágil, isto é, aquele que exibe uma grande complexidade
e vulnerabilidade no que tange à sua saúde física, psicológica e social, tem
doenças com apresentações atípicas e obscuras, graves distúrbios cognitivos,
afetivos e funcionais; além do mais, são especialmente vulneráveis à iatrogê-
nese, socialmente isolados e economicamente desprotegidos, com alto risco
de institucionalização prematura e inapropriada.
A recuperação e/ou manutenção da qualidade de vida vem sendo apontada
como um dos objetivos centrais na abordagem clínica de pacientes idosos
fragilizados. A história, o exame físico e o diagnóstico diferencial tradicio-
nais não são suficientes para um levantamento amplo das diversas atividades
físicas, psicológicas e sociais necessárias à vida diária. O estado funcional é
componente central da avaliação do indivíduo idoso. O processo normal de
envelhecimento, assim como a presença de processos mórbidos diversos pode
levar o organismo à incapacidade de responder adequadamente às deman-
das da vida diária. Entre idosos, é comum que um distúrbio funcional seja o
primeiro sinal, muitas vezes ignorado, da presença de processos mórbidos. A
habilidade funcional pode ser vista como uma medida de resumo do impacto
geral das condições médicas no contexto do ambiente e do sistema de apoio
social do indivíduo. Mais importante, a habilidade de um indivíduo idoso fun-
cionar segundo seus desejos de estilo de vida pessoal deve ser uma considera-
ção importante em qualquer planejamento de saúde.
O método utilizado para a avaliação vem se desenvolvendo desde as primei-
ras publicações de Marjorie Warren, médica britânica que, em 1936, iniciou o
processo de avaliação específica do paciente idoso. Baseia-se no princípio do
trabalho multi e interdisciplinar e tem sido comumente denominado Avaliação
Geriátrica Ampla (AGA) ou, em inglês Comprehensive Geriatric Assessment.
Mais recentemente, dada a preocupação em se explicitar que o tratamento e o
seguimento clínico são partes importantes e objetivas desta avaliação, tem-se
utilizado a denominação Avaliação e Tratamento Geriátricos Amplos (Com-
prehensive Geriatric Evaluation and Management). Seu conceito resume-se na
avaliação interdisciplinar dos fatores físicos, psicológicos e sociais que afetam
a saúde dos pacientes mais idosos e frágeis, de maneira a desenvolver um pla-
nejamento para tratamento e acompanhamento a longo prazo.

I AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA


A AGA forma um conjunto de técnicas, procedimentos e ambientes opera-
cionais em que se associa às intervenções habituais de várias disciplinas de
saúde uma avaliação funcional abrangente. Desde sua concepção, caracteri-
AVALIAÇÃO FUNCIONAL INTERDISCIPLINAR: PRINCÍPIOS 23
za-se por uma diversidade de formas de implementação que podem se dar em
ambientes de enfermarias especializadas, unidades ambulatoriais ou unidades
de cuidados no domicílio.
Os componentes básicos e dimensões mensuráveis da AGA incluem a ava-
liação dos problemas médicos e comorbidades relevantes, do estado funcional
e estado psicológico, rede de suporte e atividades sociais, necessidades eco-
nômicas e moradia (Tabela 2). Idealmente, em um grupo interdisciplinar, cada
componente pode ser avaliado pelo membro mais apropriado da equipe que,
em seguida, levará os dados para a discussão na conferência do grupo.
O processo da AGA inicia-se com a identificação do paciente-alvo, que se
constitui mais comumente no indivíduo idoso que tenha sofrido deteriorações
em sua saúde e função. Tal atividade de busca de caso ou rastreamento pode
se dar em diversos ambientes, incluindo uma instituição de saúde, consultório
médico, ou mesmo fora do ambiente de saúde habitual, como o domicílio ou
um centro de convivência. Em geral, quando a condição de saúde do indiví-
duo se deteriorou, porém a sua função permanece estável, ele pode receber os
cuidados comuns básicos de saúde sem necessidade da AGA. O paciente sai,
portanto, do processo e é encaminhado para cuidados tradicionais dependen-
do de suas necessidades de saúde, como clínica médica geral, oftalmologia,
ou outra clínica especializada. Entretanto, pacientes com deficiências novas
e perdas progressivas do seu status funcional ou que possuam problemas ge-
riátricos múltiplos e complexos devem receber os cuidados da AGA, subme-
tendo-se a procedimentos mais complexos. Cumpre ressaltar, com risco de
redundância, que a AGA não é uma tecnologia de simples rastreamento de
problemas. Isto se dá no início do processo, com objetivos de eficiência e
focalização nos pacientes mais frágeis. A AGA, além da triagem, procede ao
acompanhamento do paciente idoso, com ações de prevenção e/ou reabilita-
ção funcional.
Após uma revisão da informação médica, talvez mesmo após um exame
físico focalizado no problema inicial que trouxe o paciente ao serviço, uma
AGA típica revisa as habilidades funcionais gerais (Tabela 2). Em geral, isto
é captado com a utilização de medidas de atividades básicas de vida diária
(AVDs) e atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). As AVDs incluem
atividades básicas de autocuidado como alimentação, banho, transferência e
higiene pessoal. Pacientes com tais dificuldades necessitam, em geral, de su-
pervisão diária de 12 a 24 horas. As AIVDs incluem trabalho doméstico mais
pesado, gerência do orçamento doméstico, saídas do domicílio para passeios
ou compras e habilidade em utilizar telefone – atividades necessárias para a
independência do indivíduo em seu domicílio
24 INTRODUÇÃO

Tabela 2. Componentes principais da AGA

Saúde Física
- Lista tradicional de problemas
- Indicadores de gravidade de doenças
Habilidade Funcional Geral
- Atividades básicas e instrumentais de vida diária
- Medidas de marcha e equilíbrio
- Níveis de atividade física
Saúde Psicológica
- Testes cognitivos (estado mental)
- Instrumentos afetivos (depressão)
Parâmetros Sociais e Ambientais
- Necessidades e recursos de suporte social
- Adequação e segurança do ambiente

Fonte: Autoria própria (2017).

A interpretação dos resultados de distúrbios nas habilidades funcionais gerais


do paciente requer, via de regra, informações complementares sobre sua situa-
ção social e do domicílio. Por exemplo, a malha social em redor do paciente,
o tipo e quantidade de suporte à disposição e o nível de atividades sociais das
quais o paciente participa vão influenciar as decisões clínicas subsequentes à
identificação do distúrbio. Dois outros itens cruciais na AGA são avaliações de
deficit cognitivos e depressão, prevalentes nesta população idosa (Tabela 2). O
uso de medidas de avaliação padronizada e instrumentos com escalas propi-
ciou a formação de uma linguagem comum, formalizou os componentes prin-
cipais da AGA e introduziu um aspecto quantitativo no processo de avaliação.
Uma vez que a AGA tenha identificado e quantificado o nível de distúrbio,
incapacidade e desvantagem do paciente e suas causas, podem-se formular
estratégias de cuidados e tratamento. O conhecimento dos recursos institucio-
nais e comunitários para o tratamento ou reabilitação do paciente é essencial
para a formulação de um planejamento ótimo de cuidados e seguimento a
longo prazo.
Outra questão fundamental está ligada à tipicidade das patologias decorren-
tes em idosos, de natureza crônico-degenerativa e geralmente com a presença
concorrente de múltiplas patologias. O processo de AGA, portanto, não rara-
mente revela uma grande quantidade de problemas de saúde. Infelizmente,
muitos programas de AGA atuais não delineiam previamente as prioridades
e os processos utilizados para se planejar o cuidado. Por consequência, os
planos e suas efetividades respectivas terminam por sofrer variações de um
programa a outro. Publicações recentes têm procurado identificar as condi-
ções nas quais as equipes deveriam focalizar preferencialmente seus esforços,
ou seja, aquelas que geralmente induzem às maiores perdas e custos e para
as quais há tratamentos mais efetivos. Há grupos, por exemplo, que avaliam
AVALIAÇÃO FUNCIONAL INTERDISCIPLINAR: PRINCÍPIOS 25
o paciente, identificam seus problemas e o reencaminham para seus médicos
generalistas ou serviços de origem. Há outros que acompanham os pacientes
enquanto estes possuem distúrbios funcionais e, uma vez resolvidos estes pro-
blemas, dão alta. Há grupos, no entanto, que, uma vez captado o paciente,
passam a assisti-lo indefinidamente, diminuindo, apenas quando possível, o
nível de assistência para um acompanhamento mais simples que, stricto sensu,
não poderia ser denominado de AGA.
Como mencionado anteriormente, a AGA pode ser realizada em uma varie-
dade de locais, de centros hospitalares a ambientes domiciliares. Vários fato-
res devem ser considerados na decisão do local onde a AGA será implemen-
tada. A Tabela 3 indica alguns destes fatores como o nível de incapacidade e
cognição do paciente, acuidade e complexidade da doença, rede de suporte
social e acesso a transporte.
Tabela 3. Níveis e locações da AGA: principais determinantes
Ambulatório/ Unidade Unidade
Fatores
domicílio ambulatorial/equipe hospitalar/equipe
Nível de incapacidade Baixo Intermediário Alto
Disfunção cognitiva Leve Leve – Grave Moderada – Grave
Agudez da doença Leve Leve – Moderada Moderada – Grave
Complexidade Baixa Intermediária Alta
Suporte social Bom Bom – Regular Bom – Ruim
Transporte Bom Bom Bom – Ruim
Fonte: American Geriatrics Society (1995).

Alguns programas de AGA se comportaram melhor do que outros em


avaliações sistemáticas. Porém, os resultados gerais indicam diminuição
da mortalidade, melhora da função cognitiva, diminuição da frequência de
hospitalizações e aumento da probabilidade de se permanecer no domicílio.
As avaliações tendem a produzir melhores resultados quando as equipes de
AGA possuem controle sobre a implementação dos tratamentos necessários e
a evolução para a recuperação funcional do paciente idoso.
A avaliação de cada um dos domínios da AGA pode ser realizada usando
certos instrumentos que, embora não sejam essenciais, tornam o processo mais
fácil e confiável. Estes também facilitam a comunicação entre os membros da
equipe e a objetivação de achados e mudanças evolutivas que possibilitam a
avaliação da melhoria da qualidade de vida da população atendida pelo setor.
Não sendo original, pelo contrário, utilizado de uma forma ou de outra nos
atendimentos realizados em um número bastante extenso de outras institui-
ções no Brasil e no mundo, precisa, no entanto, ser adequadamente adaptado
à realidade específica em que nos inserimos. Deve-se notar também o fato
26 INTRODUÇÃO

de haver evidências, mencionadas acima, da eficácia deste método em mais


de 25 estudos controlados publicados, realizados em modelos institucionais
os mais diversos, reforçados por várias metanálises recentes. Os benefícios
incluem maior acurácia diagnóstica, melhora do estado funcional e mental,
mortalidade diminuída, menor institucionalização e hospitalização em unida-
des de atendimento agudo e maior satisfação com o serviço prestado.

I MEMBROS DA EQUIPE NA AGA


Em vista da complexidade envolvida no atendimento dos problemas do in-
divíduo idoso, uma base extensa de conhecimento e treinamento é necessária
para a AGA. A unidade básica, como já mencionado anteriormente, é constituí-
da por uma equipe interdisciplinar com profissionais de saúde com formação
diversificada. Sua composição pode variar em função das circunstâncias, obje-
tivos e ambientes em que a equipe exerce suas atividades, mas em geral, estes
grupos possuem uma equipe mínima ou central, constituída de um profissional
médico geriatra, um profissional de enfermagem e um terceiro de serviço social,
cujas atividades específicas serão delineadas em protocolos específicos. Refe-
re-se também a uma equipe expandida, cuja consulta é exigida em situações
de avaliação específica por problemas identificados ou em circunstâncias espe-
ciais, como, por exemplo, avaliação de violência doméstica ou incapacidade
física. Mais recentemente, alguns autores têm mencionado o conceito de equipe
interdisciplinar virtual, em que os novos instrumentos de comunicação digital,
como medicina virtual a distância, podem ser utilizados (Tabela 4).
Tabela 4. A equipe geriátrica

Equipe Central
• Enfermeiro
• Geriatra
• Assistente social
Equipe Estendida
• Cirurgião
• Dentista
• Farmacêutico
• Fisiatra
• Psicólogo
• Fisioterapeuta
• Neurologista
• Psiquiatra
• Urologista
• Nutricionista
• Podiatra
• Terapeuta Ocupacional

Fonte: Autoria própria (2017).


AVALIAÇÃO FUNCIONAL INTERDISCIPLINAR: PRINCÍPIOS 27
Brevemente, pode-se dizer que a avaliação preliminar do idoso se faz pela
equipe mínima, composta pelo assistente social, pelo enfermeiro e pelo médi-
co que, por meio da aplicação de instrumentos padronizados (geronlab.com),
faz o diagnóstico clínico, social, funcional e cognitivo deste indivíduo que
se apresenta com determinada queixa. De posse deste diagnóstico amplo, a
equipe formula um conjunto de instruções coordenadas, consulta outras es-
pecialidades (Nutrição, Neuropsicologia, Fisioterapia, etc.) e estabelece um
plano estruturado frente aos problemas detectados.
A equipe mínima se abre então para formar o núcleo do atendimento de
geriatria, ou seja, um grupo interdisciplinar no qual a participação constante e
ininterrupta é imprescindível (profissionais de medicina, enfermagem, serviço
social, medicina física e reabilitação, neuropsicologia, nutrição e outros que
se façam necessários). Este núcleo geriátrico é maleável, aberto em inter-rela-
ções de consultas, e depende da participação esporádica de diversas outras
especialidades médicas e afins ou outras. Estas últimas, eventualmente soli-
citadas, necessitam ter proximidade física com o ambulatório de AGA para a
comodidade do paciente idoso (oftalmologia, otorrino, ginecologia, psiquia-
tria, cardiologia, neurologia, serviços cirúrgicos, odontologia, educação física,
podiatria, etc.).
Também é necessário usar uma linguagem comum e um organograma estru-
turado com as funções precípuas de cada profissional. Em geral, uma AGA não
se realiza um uma única consulta, por conta das complexidades envolvidas.
Além disso, deve-se atentar para o conforto do paciente idoso e sua capacida-
de de suportar um período prolongado de avaliações. É necessário que haja
um programa de treinamento continuado e formal dos profissionais envolvidos
no atendimento funcional do paciente geriátrico. A educação geriátrica deve
ser integrada ao longo de toda a formação dos profissionais da área de saúde,
desde os cursos de graduação.
Vários autores vêm se debruçando sobre as necessidades não atendidas no
que tange à educação profissional tradicional nas escolas de saúde e às habi-
lidades profissionais necessárias que não vêm sendo contempladas. Há vários
anos, o Departamento de Saúde dos Estados Unidos da América do Norte pu-
blicou material correlato, e suas conclusões constam na Tabela 5.
28 INTRODUÇÃO

Tabela 5. Uma agenda nacional para formação em geriatria: relatório oficial

a. Os profissionais de saúde que trabalham com idosos raramente receberam treinamento for-
mal sobre interdisciplinaridade, embora se espere que trabalhem desta forma.
b. A maior parte dos profissionais de saúde e serviço social carece de conhecimento e base ex-
perimental no funcionamento interdisciplinar, gerontologia e geriatria.
c. As necessidades de cuidados complexos de saúde dos idosos frágeis, bem como a complexi-
dade crescente dos sistemas de saúde e seus componentes de dispensação de saúde exigem
conhecimento, treinamento e expertise que nenhuma disciplina, isoladamente, consegue
fornecer.
d. No atual sistema de reembolso por serviços de saúde, não há provisão para serviços presta-
dos por grupos interdisciplinares. Não há incentivo para este tipo de reembolso, e permane-
cem os pagamentos por atos profissionais individuais.
e. Há escassez de literatura científica rigorosa sobre os resultados ou manejos, treinamento,
prática e educação na área geriátrica.

Fonte: American Geriatrics Society (1995).

Apesar da data da publicação, infelizmente, e em especial no Brasil, estas con-


clusões são de uma atualidade pungente. Não há um período de discussão e trei-
namento sobre interdisciplinaridade, em qualquer disciplina da área médica, há
pouco tempo em outras áreas de saúde no currículo de graduação das universi-
dades brasileiras. Mudanças curriculares são prementes. Conceitos de trabalho
de equipe, retorno de informações, negociação de papéis, análise e resolução de
conflitos, identificação interativa de problemas e solução criativa de problemas,
para dar alguns exemplos básicos do funcionamento de uma equipe, devem ser
inicialmente ensinados em uma sala de aula. Em seguida, estes conceitos precisam
ser treinados em aulas práticas para que se tornem comportamentos conscientes
no âmbito individual e coletivo. O aprendizado de nova linguagem comum com
seus jargões, metáforas, valores e cultura de uma equipe é crítico para que um
profissional se torne um personagem produtivo em uma equipe interdisciplinar.

I REFERÊNCIAS
LIPSCHITZ, S. Comprehensive geriatric assessment. Continuing Medical Education, v.
25, n. 9, 2007.
OSTERWEIL D., BRUMMEL-SMITH, K., BECK J. C. Comprehensive Geriatrica Assess-
ment. McGraw-Hill, 2000. 838 pp
PAIXÃO-JR C. M., REICHENHEIM, M. E. Uma revisão sobre instrumentos de avaliação do
estado funcional do idoso. Cad Saúde Pública, v. 21, n.1, p. 7-19, 2005.
STUCK, A. E., ILIFFE, S. Comprehensive geriatric assessment for older adults. BMJ,  v. 343,
2011.
STUCK, A. E. et al. “Comprehensive geriatric assessment: a meta-analysis of controlled
trials.” The Lancet, v. 342, n. 8878, p. 1032-1036, 1993.
SEÇÃO 1
AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA
Protocolo 1
TRIAGEM Maria Angélica dos Santos Sanchez
Roberto Alves Lourenço
Carlos Montes Paixão Junior

I INTRODUÇÃO
O objetivo primordial da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa é a recu-
peração, a manutenção da funcionalidade e a promoção da autonomia e da inde-
pendência dos indivíduos idosos, e a avaliação deste segmento etário deve centrar
suas investigações na capacidade funcional. Esta pode ser entendida como o poten-
cial que o indivíduo apresenta para viver desempenhar de modo independente as
atividades diárias. Quanto maior a sua funcionalidade melhor será o desempenho
nas tarefas diárias e menor será a possibilidade de necessitar da ajuda de terceiros.
O objetivo deste protocolo é apresentar os instrumentos que podem fazer
parte do processo de triagem, uma etapa do cuidado destinada a conhecer
o nível de capacidade funcional do indivíduo que chega a uma unidade de
atenção geriátrica, ou a uma unidade de atenção básica, assim como auxiliar
a tomar decisões quanto ao fluxo a ser seguido.
Na prática geriátrica interessa à equipe identificar as condições que possam
levar à perda de funções – o que geralmente é feito com o uso de instrumentos
de rastreio. Uma vez identificadas as condições geradoras de dependência,
podem ser tomadas decisões que permitam a recuperação da área que apre-
senta anormalidade, além de se adotarem medidas que possibilitem a preser-
vação da funcionalidade.
A triagem é um processo utilizado para classificar as prioridades de atendi-
mento do indivíduo em uma unidade de saúde. É um procedimento simples,
porém, depende de padronização e treinamento básico da equipe de saúde
para a aplicação de instrumentos breves de rastreio. Eles podem ser utilizados
por qualquer categoria profissional, sendo sugerida a realização pelo técnico
responsável pelo acolhimento do usuário no serviço de saúde.
Uma boa estratégia para se iniciar uma triagem é a avaliação funcional
breve (AFB), utilizando, por exemplo, um instrumento de rastreio multidimen-
sional. (geronlab.com)
32 PROTOCOLO 1

Este instrumento foi utilizado durante os anos iniciais do Serviço de Geria-


tria Prof. Mario Antônio Sayeg, na Policlínica Piquet Carneiro, de forma a pa-
dronizar os critérios de elegibilidade para acompanhamento na unidade. Na
época, eram encaminhados para o serviço idosos sem prévia avaliação, tendo
como única justificativa de encaminhamento a idade do indivíduo.
Ao longo dos anos, o serviço foi se tornando referência para atenção ao
idoso com síndromes geriátricas, tornando o rastreio dispensável, uma vez
que a maioria dos indivíduos encaminhados preenchiam as condições para
inclusão na estrutura de avaliação geriátrica ampla e reabilitação funcional,
não havendo mais a necessidade deste rastreio. No entanto, ele poderá ser útil
em serviços que estejam recebendo o idoso pela primeira vez e sem qualquer
impressão diagnóstica sobre a sua funcionalidade.
O instrumento avalia onze situações que podem comprometer a capaci-
dade funcional: diminuição da visão e da audição, incontinência urinária,
incapacidade para realizar atividades de vida diária, habilidade motora em
membros superiores, alteração no equilíbrio e na marcha, alteração no estado
nutricional, declínio cognitivo, alteração do humor, perigos potenciais no am-
biente domiciliar e ausência de suporte social.
A anormalidade em itens isolados ou em conjunto com os demais itens
pode levar o indivíduo à condição de dependência e suas consequências (Ta-
bela 1). Parte das incapacidades pode ser recuperada com procedimentos de
baixa ou média complexidade (Tabela 2), fazendo com que o indivíduo de-
sempenhe suas atividades sem a necessidade da ajuda de terceiros. A falha em
identificar a instalação da incapacidade funcional pode gerar consequências
que sobrecarregam ainda mais o sistema de saúde.
Tabela 1. Consequências da incapacidade funcional não avaliada
Área de teste Consequências

Visão Falta de interesse pela leitura, acidentes domésticos, isolamento.

Audição Diminuição da participação em atividades sociais, isolamento.

Incontinência urinária Infecção urinária, constrangimento, diminuição da atividade sexual, iso-


lamento.

ABVD/AIVD Imobilidade, constante necessidade de ajuda de terceiros.

Função dos braços Incapacidade para realização de movimentos finos como se pentear, se
vestir e se alimentar.

Função de pernas Imobilidade, instabilidade postural, quedas.

Nutrição Presença de alguma comorbidade que necessite de avaliações e/ou pro-


cedimentos mais complexos.

Estado mental Ausência de tratamento adequado, sobretudo orientações aos familiares.


TRIAGEM 33
Tabela 1. Consequências da incapacidade funcional não avaliada (cont.)
Área de teste Consequências

Depressão Ausência de tratamento adequado, isolamento.

Ambiente domiciliar Acidentes domésticos.

Suporte social Impossibilidade de reorganização da estrutura familiar.

Fonte: Autoria própria (2017).


Legenda: ABVD/AIVD: Atividades Básicas de Vida Diária/Atividades Instrumentais de Vida Diária; MEEM:
Miniexame do Estado Mental; EDG: Escala de Depressão Geriátrica.

Tabela 2. Tomada de decisões para as avaliações de áreas que sugerem anormalidade


Área de teste anormal Procedimentos para resgate da função ou orientações de conduta

Visão Encaminhamento para um exame da acuidade visual.

Audição Encaminhamento para avaliação com otorrinolaringologista e para exa-


me audiológico.

Incontinência urinária Encaminhamento para avaliação uroginecológica.

ABVD/AIVD Ampliar a avaliação com o uso de instrumentos de avaliação de ativida-


des de vida diária e realização de entrevista subjetiva com o acompa-
nhante para identificar o foco do problema. Encaminhamento para ava-
liação motora e funcional.

Função dos braços Ampliar a avaliação com outros instrumentos aplicados por profissionais
da área de reabilitação.

Função de pernas Ampliar a avaliação com outros instrumentos aplicados por profissionais
da área de reabilitação.

Nutrição Ampliar a investigação com uso de avaliação nutricional.

Estado mental Ampliar a investigação aplicando o MEEM e outros instrumentos inter-


mediários.

Depressão Ampliar a investigação aplicando a EDG

Ambiente domiciliar Fornecer orientações básicas sobre ações que possam evitar acidentes.

Suporte social Identificar membros da rede pessoal do indivíduo que possam fornecer
suporte.

Fonte: Autoria própria (2017).


Legenda: ABVD/AIVD: Atividades Básicas de Vida Diária/Atividades Instrumentais de Vida Diária; MEEM:
Miniexame do Estado Mental; EDG: Escala de Depressão Geriátrica.

Para complementar a AFB, nos casos de anormalidade apresentada, o profis-


sional pode lançar mão de outros instrumentos de rastreio que são comumente
utilizados na assistência geriátrica. Tais instrumentos não são apropriados para
estabelecer diagnósticos. Porém, se constituem em ferramenta para identificar
perdas funcionais que podem sinalizar declínio gerador de dependência.
34 PROTOCOLO 1

Instrumentos de rastreio que complementam a AFB:


• Escala de Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD).
• Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD).
• Miniavaliação Nutricional (MAN).
• Miniexame do Estado Mental (MEEM).
• Escala de Depressão Geriátrica (EDG).
►► Escala de Atividades Básicas de Vida Diária (geronlab.com)
Instrumento utilizado para aferir a capacidade do indivíduo para realizar
tarefas condizentes com seu autocuidado sem necessitar da ajuda de terceiros.
É composto por seis itens que demonstram se o idoso pode realizar a atividade
de forma independente ou se necessita de assistência.
►► Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (geronlab.com)
Trata-se de um instrumento utilizado para aferir a capacidade do indivíduo
para realizar tarefas rotineiras que o mantêm independente na administração
cotidiana do domicílio. É composto por sete itens, como administração finan-
ceira, possibilidade de locomoção fora do domicílio, etc.
Ambos os instrumentos devem ser aplicados também ao acompanhante, de
modo a confirmar as respostas. O avaliador deve, antes de iniciar a aplicação
das escalas, informar que elas serão aplicadas duas vezes, uma no idoso e
outra no acompanhante para entender como este percebe o desempenho do
indivíduo que está sendo avaliado.
Os resultados não devem ser considerados de maneira isolada de uma ava-
liação subjetiva, com informações complementares. Estas podem ser colhidas
a partir do relato do acompanhante, com o objetivo de deixar claro para os
demais membros da equipe o tipo de dependência apresentada, ou seja:
• Temporária ou permanente.
• Por incapacidade motora decorrente de algum acidente ou por perda
cognitiva.
• Por existir alguém que realiza tarefa por superproteção da família.
• Se o indivíduo nunca realizou aquela atividade.
►► Miniavaliação Nutricional (geronlab.com)
Trata-se de questionário breve composto por 18 itens. É divido em dois mó-
dulos; o primeiro é considerado uma triagem dos problemas nutricionais no
qual, ao final, se o escore for maior ou igual a 12 pontos, não será necessário
prosseguir. Caso a pontuação seja menor ou igual a 11 pontos, será necessário
prosseguir aferindo os demais itens que compõem o segundo módulo – de-
nominado avaliação global – e é composto por 12 questões (G a R), com o
máximo de 16 pontos. O escore final da avaliação é o somatório da pontuação
TRIAGEM 35
obtida no primeiro módulo com o segundo módulo, podendo totalizar até 30
pontos. O resultado apresenta a seguinte estratificação:
• 24 pontos = idoso eutrófico;
• 17 a 23,5 pontos = idoso em risco de desnutrição;
• < 17 pontos = idoso desnutrido.
Na aplicação da MAN o acompanhante pode ser consultado com o objetivo
de confirmar as informações.
►► Miniexame do Estado Mental (geronlab.com)
O MEEM possui dezenove itens distribuídos pelos seguintes domínios cog-
nitivos: orientação (temporal e espacial), memória, atenção e cálculo, praxia
e linguagem. Deve ser aplicado somente no idoso. É importante não haver
nenhuma interferência do acompanhante.
Escores utilizados
• Analfabetos com teste inferior a 19: sugestivo de declínio cognitivo.
• Indivíduos com mais de 1 ano de escolaridade com teste inferior a 24:
sugestivo de declínio cognitivo.
►► Escala de Depressão Geriátrica (geronlab.com)
A EDG é utilizada para o rastreamento de sintomas depressivos em idosos.
Ela pode ser autoaplicada ou aplicada por um entrevistador treinado de qual-
quer área da saúde. É de aplicação exclusiva no idoso.
Contagem dos pontos
• Resposta igual a que está entre parênteses conta 1 (um) ponto.
• Resposta diferente da que está entre parênteses conta 0 (zero).
• Escore superior a cinco é sugestivo de depressão.
A triagem realizada por meio de instrumentos de aferição de atividades de
vida diária, da cognição, do humor e do estado nutricional constitui parte
importante da avaliação multidimensional e fornece à equipe um retrato das
condições para o exercício de vida autônoma e independente do idoso em
avaliação. Os resultados obtidos pela aferição dos instrumentos podem ser
úteis nos serviços de atenção secundária, para direcionar a avaliação geriá-
trica ampla, uma vez que indica para os demais membros da equipe quais
as áreas necessitam de uma análise mais acurada. Nos serviços de atenção
primária, servirão para a tomada de decisão visando ao encaminhamento do
indivíduo para a rede especializada.
36 PROTOCOLO 1

I REFERÊNCIAS
LACHS, M. S. et al. A simple procedure for general screening for functional disability in
elderly patients. Annals of Internal Medicine, v. 112, p. 699-706, 1990.
LINO, V. T. S. et al. Adaptação transcultural da Escala de Independência em Atividades da
Vida Diária (Escala de Katz). Cad. Saúde Pública, v. 24, n. 1, p. 103-112, 2008.
LAWTON, M. P. et al. Assessment of older people: self-maintaining and instrumental activ-
ities of daily living. Gerontologist, v. 9, n. 3, p. 179-86, 1969.
LOURENÇO, R. A. et al. Mini-Exame do Estado Mental: características psicométricas em
idosos ambulatoriais [Mini-Mental State Examination: psychometric characteristics in el-
derly outpatients]. Rev Saúde Pública,v. 40, p. 712-719, 2006.
YESAVAGE, J. A. et al. Development and validation of a geriatric depression screening
scale: a preliminary report. J Psichiatri Res, v. 17, n. 1, p. 37-49.
Protocolo 2
AVALIAÇÃO SOCIAL Maria Angélica dos Santos
Sanchez

I INTRODUÇÃO
A atuação geriátrica requer uma ação multidisciplinar que permita um olhar
ampliado sobre o que acomete o indivíduo em avaliação. Não obstante pro-
blemas biológicos serem os principais responsáveis pela busca de atenção
clínica, em geral, uma série de questões sociais atravessam tais problemas e
merecem um olhar diferenciado e aprofundado de forma a colaborar com a
construção de um plano terapêutico adequado.
A avaliação social é realizada com o objetivo de conhecer a realidade do
usuário do serviço e suas interações no contexto em que está inserido. Nesta
avaliação são analisadas as condições socioeconômicas, bem como os riscos
sociais e os conflitos na dinâmica familiar que podem interferir no restabe-
lecimento da saúde do indivíduo ou podem estar influenciando no apareci-
mento de novos problemas que afetam a sua saúde. Ela pode ser realizada por
meio de instrumentos específicos que avaliam as várias dimensões sociais, tais
como suporte social, bem-estar subjetivo, rede de suporte, etc.
A entrevista é um dos instrumentos mais utilizados na avaliação social, e
possibilita ao assistente social o conhecimento das reais demandas, tanto ex-
plícitas quanto implícitas. Ela tem como objetivos:
• Conhecer o usuário e a sua demanda.
• Reunir condições efetivas de intervenção profissional.
Por meio da avaliação social se obtém uma visão integral do sujeito que
adoece, favorecendo maior compreensão das implicações socioculturais na
saúde, conforme Tabela 1.
38 PROTOCOLO 2

Tabela 1. Dimensões, itens e condições que devem ser analisadas em uma entrevista inicial
na avaliação social
Dimensões Itens Condições avaliadas

Vive só ou acompanhado
Características
Número de pessoas que compõem a rede
estruturais da rede
Periodicidade da convivência entre os membros
social pessoal
Rede social Disponibilidade de convivência

Características das Vizinhos


relações extra rede Amigos
pessoal Participação em grupos sociais ou religiosos

Conta com benefícios previdenciários


Situação É chefe de família
Aspectos financeiros
econômica Não possui renda
Ainda trabalha

Moradia própria
Habitação Saneamento básico
Condições de moradia
Acesso

Morte de pessoa próxima


Mudança de casa
Perda financeira
Risco social Situações recentes
Separação na família
Cuidador de familiar dependente
Familiares próximos que fazem uso de álcool ou drogas

Fonte: Autoria própria (2017).

►► Avaliando a rede social


Uma das primeiras dimensões a ser estudada na avaliação social é a rede
social na qual este idoso está inserido. Kane (1995) define a rede social como a
teia de relações e contatos na vida de um indivíduo. É a partir do conhecimen-
to desta rede que a equipe multiprofissional poderá planejar a melhor conduta
a ser implementada.
Papéis e funções da rede social:
• Oferecer companhia.
• Proporcionar apoio emocional.
• Servir como guia de conselhos e regulação social.
• Fornecer ajuda material.
• Facilitar o acesso a novos contatos.
Além de conhecer a rede, o profissional deve atentar para as suas caracte-
rísticas estruturais:
• Número de pessoas que a compõe.
• Como estas pessoas se relacionam.
• Como essa rede é composta.
• História do vínculo entre seus integrantes.
AVALIAÇÃO SOCIAL 39
Após o entendimento sobre a constituição da rede social pessoal do idoso
em avaliação, o profissional deve buscar conhecer como este suporte social
é oferecido. No Brasil, país onde as políticas públicas passam por constante
desmantelamentos, a família é a maior provedora de suporte. Contudo, mais
importante que avaliar o suporte social no seu aspecto quantitativo, é avaliar
se o indivíduo recebe o mínimo suporte. Deve-se considerar:
• Com quem a pessoa pode contar quando precisa de ajuda.
• Qual a periodicidade do contato que mantém com seus parentes mais
próximos.
• Como é a convivência com amigos e a periodicidade de contato.
• Qual a disponibilidade das pessoas fornecerem suporte.

I AVALIANDO A SITUAÇÃO ECONÔMICA E HABITACIONAL


Os fatores econômicos, assim como as condições habitacionais, podem im-
pactar significativamente a vida de uma pessoa. Eles são determinantes de
qualidade de vida e estão diretamente relacionados à saúde física e emocio-
nal. Tais dimensões na avaliação são responsáveis pela definição da conduta
terapêutica adotada por uma equipe. A precariedade recursos financeiros e a
inexistência de ambiente domiciliar em boas condições impedem a adoção de
medidas adequadas para um pronto restabelecimento.
Principais aspectos a serem analisados na avaliação da situação econômica:
• A renda mensal.
• A origem da renda.
• O gasto mensal.
• Se ainda exerce atividade laborativa e que tipo de atividade.
• Se é chefe de família.
• Se possui empréstimo consignado.
• Se outras pessoas da família fazem uso de sua renda mensal.
A avaliação da situação financeira pode ajudar o profissional a identificar
sérios casos de abuso financeiro. No momento desta avaliação o profissional
deve ser capaz de avaliar se a renda do idoso é compatível com a forma como
ele se apresenta, sobretudo no seu estado geral de cuidado. A informação so-
bre o tipo de trabalho que realizou ao longo da vida também pode contribuir
com as demais avaliações da equipe para o estabelecimento de diagnósticos
cognitivos, além de contribuir para que profissional e usuário possam pensar
em atividades prazerosas relacionadas à construção de novos projetos de vida.
Principais aspectos a serem analisados na avaliação da situação habitacional:
• Tipo de moradia.
• A quem pertence a moradia.
40 PROTOCOLO 2

• Condições de acesso.
• Quantas pessoas residem no domicílio.
• Condições de saneamento.
Ao analisar este item o profissional conhecerá, não somente a qualidade
do local de moradia, mas o bem-estar do idoso no local de moradia. Neste
momento o profissional pode, por exemplo, identificar as relações de poder
dentro do domicílio avaliando se o idoso mora de favor no domicílio ou ou-
tras pessoas moram de favor no domicílio do idoso. Muitos casos de violência
contra idosos, estão relacionados às relações de poder e dependência, além
dos conflitos causados por uso de moradia em comum.

I AVALIANDO AS SITUAÇÕES DE RISCO SOCIAL


Dimensão de caráter subjetivo que deve ser direcionada ao idoso não ape-
nas para saber se aconteceu alguma das situações descritas na Tabela 2, mas
sim, se alguma das situações repercutiu de maneira negativa na sua vida. Si-
tuações como estas podem ser impulsionadoras de problemas que causem
isolamento, solidão, angústia, desespero, e podem contribuir até para o desen-
volvimento de quadros de depressão.
Tabela 2. Avaliação das situações de risco social de idosos
Situações de risco social Avaliação

Indagar se houve falecimento recente de alguma pessoa importante


Morte de pessoa
para o idoso. Situações de luto podem ser trabalhadas junto a outros
próxima
profissionais da equipe.

Buscar saber se houve mudança de casa por algum motivo que foi con-
Mudança de casa tra a vontade do idoso. Idosos, geralmente, sofrem ao ter que deixar
espaços que construíram ou em que viveram a maior parte da vida.

Indagar sobre separação de pessoas importantes na vida do idoso.


Pais, geralmente, tendem a sofrer com o rompimento das relações de
Separação conjugal seus filhos, avós da mesma forma. Além disso, uma separação pode
significar um retorno à casa ocasionando uma condição de dependên-
cia.

Identificar se houve perdas financeiras importantes que possam estar


causando problemas na vida do idoso. Caso tenha acontecido, indagar
Perdas financeiras
o tipo de perda. Não raro, idosos têm seus bens subtraídos por fami-
liares.

Cuidador de pessoa Identificar se cuida de pessoa doente ou em condição que cause so-
dependente brecarga e estresse.

Identificar se existe algum familiar que faz uso de álcool ou de drogas,


Uso abusivo de álcool ou
gerando situações de risco ou de estresse para o idoso, ou se tal situa-
de drogas
ção gera ônus financeiro ou emocional.

Fonte: Autoria própria (2017).


AVALIAÇÃO SOCIAL 41
Ao término da avaliação social inicial, caso o profissional necessite ampliar
sua visão de maneira mais objetiva, poderá lançar mão de instrumentos que
permitam uma análise mais acurada da situação apresentada, por exemplo, a
avalição do apoio familiar e da satisfação com o suporte recebido.

I AVALIANDO O APOIO SOCIAL


Alguns instrumentos de avaliação do apoio social estão disponíveis no es-
tudo de Domingues (2012). No entanto, a escala de apoio social utilizada no
Medical Outcomes Study (MOS) foi validada para uso no Brasil e vem sendo
utilizada em serviços de atenção ao idoso. Trata-se de importante instrumento
para avaliar a percepção e qualidade do apoio recebido.
É uma escala composta por 19 itens, agrupada por suas funções nas cinco
dimensões de apoio social: apoio emocional, apoio de informação, apoio ma-
terial, apoio afetivo e apoio do tipo interação social positiva, e com cinco op-
ções de resposta: 1 = nunca; 2 = raramente; 3 = às vezes; 4 = quase sempre e 5
= sempre. Não existem pontos de corte que classifiquem o apoio. No entanto,
quanto maior a pontuação, melhor a percepção de apoio recebido.

I AVALIANDO O SUPORTE SOCIAL


Para avaliar a satisfação com o suporte que é destinado ao idoso, o profis-
sional pode utiliza o APGAR, uma das ferramentas utilizadas para aferir tal
satisfação, sobretudo com sua família. A denominação APGAR é uma sigla
das dimensões avaliadas pelo instrumento: Adaptation, Participation, Growth,
Affection e Resolution. (geronlab.com)
Ao identificar fragilidade no apoio e na rede de suporte social, o profissional
deve:
• Discutir com o idoso sobre os principias motivos da fragilidade do su-
porte.
• Identificar as condições de autonomia e independência.
• Após autorização do idoso, entrar em contato com os demais membros
que compõem a rede de suporte.
• Organizar uma reunião para abrir a escuta aos problemas apresentados.
• Buscar, em conjunto com familiares, alternativas que possam melhorar
o suporte destinado.
• Buscar a parceria do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).
Na ausência de uma rede familiar, o profissional deve:
• Identificar outras pessoas da rede pessoal, tais como amigos, vizinhos,
integrantes de seu grupo religioso, etc.
42 PROTOCOLO 2

• Buscar, em conjunto com estas pessoas, alternativas que possam propi-


ciar maior bem-estar ao idoso.
Na inexistência de qualquer possibilidade de suporte, o profissional deve:
• Se articular com Instituições de Longa Permanência (ILP), conforme os
critérios de elegibilidade.
• Acionar o Ministério Público para as medidas cabíveis.
Além da avaliação do apoio e suporte social, outras seguem com a mesma
importância na análise da dinâmica familiar e do contexto no qual o idoso
está inserido, tais como a avaliação da sobrecarga, da cognição e, nos casos
de suspeita de maus-tratos, a avaliação da situação geradora de violência.
(Protocolo 30).

I AVALIANDO A SOBRECARGA DE QUEM CUIDA


A análise da sobrecarga é uma medida interessante tanto na avaliação do
idoso quanto na avaliação de seu acompanhante. Um indivíduo sobrecarre-
gado pela tarefa de cuidar pode perder o equilíbrio emocional, pode maltratar
e pode até adoecer em decorrência dos problemas gerados pelo seu estado. É
grande o número de idosos que demandam cuidados de terceiros, e gradativa-
mente o número de pessoas idosas cuidando de seus familiares aumenta gra-
dativamente. A Escala de Sobrecarga de Zarit é o instrumento mais utilizado
para a aferição da sobrecarga (geronlab.com).
Se for identificado estado de sobrecarga de moderado a alto, o profissional
deve:
• Acionar a família para buscar alternativas de divisão de tarefas.
• Encaminhar para grupos de orientação e suporte emocional.
• Buscar parceria com o CRAS para fortalecer o trabalho com a rede fa-
miliar.

I AVALIANDO A COGNIÇÃO
A impressão do familiar a respeito do desempenho do idoso nas atividades
cotidianas é fundamental para colaborar com a avaliação dos demais membros
da equipe multidisciplinar. Por outro lado, nem sempre a família consegue
compreender que determinadas ações de indivíduos idosos estão associadas
ao declínio cognitivo. Esta falta de conhecimento pode gerar situações
conflitantes e mal interpretadas. Não raro, ao se aplicarem instrumentos de
avaliação para este fim, o familiar entra em contato com situações as quais
não se destinava a entender. Instrumentos desenhados para a obtenção de
informações dos acompanhantes conhecedores do comportamento habitual
AVALIAÇÃO SOCIAL 43
do idoso são excelentes ferramentas de avaliação. Destacam-se aqui dois
instrumentos: o Informant Questionnaire on Congnitive Decline in the Elderly
– IQCODE-BR (Sanchez & Lourenço, 2013) (geronlab.com) e o Questionário
de Atividades Funcionais (Functional Activities Questionnaire) – FAQ (Sanchez
et al., 2011) (geronlab.com).
Este conjunto de avaliações propicia um maior conhecimento acerca das
condições de vida do idoso, da dinâmica familiar, das possibilidades e limites
de uma adesão ao plano terapêutico proposto, além de contribuir com a
prática interdisciplinar, tanto no acompanhamento ambulatorial quanto em
períodos de internação hospitalar, sendo a atuação em períodos de internação
mais complexa. Ainda que o profissional estabeleça um vínculo com a família
de modo a prepará-la para a alta do idoso, a inexistência de recursos auxiliares
para um pós-alta com qualidade é um fator negativo. Os obstáculos são muitos,
o que acarreta o abandono. Nestas circunstâncias, uma parceria com o CRAS
e Ministério Público pode ser uma alternativa.

I REFERÊNCIAS
DOMINGUES, M. A. R. C. et al. Revisão sistemática de instrumentos de avaliação de rede
de suporte social para idosos. Revista Temática Kairós Gerontologia, v. 15, n. 6, p. 333-
354, 2012.
KANE, R. A. Assessment of social function: recomendations for comprehensive geriatric
assessment. In: Rubenstain L.Z, Wieland D. Benrnabei R, editors. Geriatric Assessment
Tecnology: The state of the Art. New York: Spring Publish; 1995. p. 91-110.
SANCHEZ, M.A.S; CORREA, P.C.R; LOURENÇO, R.A. Cross-cultural Adaptation of the
“Functional Activities Questionnaire - FAQ” for use in Brazil. Dement Neuropsychol, v. 5,
n. 4, p. 322-327, 2011.
SANCHEZ, M.A. S; LOURENÇO, R. A. Screening for dementia: Brazilian version of
the Informant Questionnaire on Cognitive Decline on the Elderly and its psychometric
properties. Geriatr Gerontol Int. v. 13, p. 687–693, 2013.
SLUZKI, C. E. A rede social na prática sistêmica; Tradução Claudia Berliner. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1997.
Protocolo 3
AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM Graciete Saraiva Marques
Dayse Carvalho do
Nascimento
Rosa Maria Fernambel
Marques e Silva
Graziela Santana Borges
Clícia Vieira Cunha
Fernanda Rocha Rodrigues

I INTRODUÇÃO
Envelhecer é um processo heterogêneo, dinâmico e progressivo. O envelhe-
cimento humano traz desafios à saúde pública, e para nortear as políticas de
saúde faz-se necessário identificar o estado funcional do idoso, com o objetivo
de delinear o perfil de saúde e riscos desta população. Existem idosos ativos e
saudáveis (autônomos e independentes), porém há aqueles frágeis, com redu-
ção progressiva de capacidade funcional, que apresentam maior demanda por
serviços de saúde. Essa heterogeneidade dos perfis de idosos sugere diferentes
prioridades nas ações e no encaminhamento aos serviços de saúde geriátricos,
sejam eles ambulatoriais ou hospitalares.
Em termos de classificação para as diferentes abordagens, as seguintes situa-
ções são consideradas de risco:
• Idade acima de 80 anos.
• Idade acima de 60 anos com as seguintes características:
◦◦ polipatologias (3 ou mais diagnósticos);
◦◦ polifarmácia (5 ou mais drogas/dia);
◦◦ imobilidade parcial ou total;
◦◦ incontinência urinária ou fecal;
◦◦ instabilidade postural;
◦◦ quedas de repetição;
◦◦ declínio cognitivo:
▪▪ síndrome demencial;
▪▪ depressão;
▪▪ delirium.
• História de internações frequentes e/ou pós-alta hospitalar.
• Dependência nas atividades básicas de vida diária (ABVDs).
• Ausência de suporte familiar e em situação de vulnerabilidade social,
tanto nas famílias como institucionalizados.
AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM 45
O plano de cuidado para o idoso traçado pelo Ministério da Saúde (MS),
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), orienta o atendimento em ní-
veis hierárquicos, de acordo com o grau de dependência e complexidade das
ações e reforça o pressuposto básico do risco de fragilidade que define o grau
de atenção que o idoso necessita. Infere-se como melhor estratégia o acom-
panhamento da saúde, visando a identificação precoce e o monitoramento
de agravos, ou seja, tê-lo sempre sob observação, variando apenas os níveis,
a intensidade e o cenário da intervenção. O MS, além de reforçar que saúde
não é sinônimo de assistência médica, ressalta que sem o cuidado ambulato-
rial e domiciliar, e, ainda, sem as instâncias intermediárias de apoio ou, even-
tualmente, o cuidado específico hospitalar, não se pode restabelecer a saúde.
Nesse contexto, faz-se necessário, nas esferas ambulatorial e hospitalar, ter
uma equipe multidisciplinar com capacitação gerontológica para atendimento
especializado e diversificado, com o objetivo de avaliar e traçar as melhores
condutas possíveis considerando as demandas individuais do idoso.
No âmbito da enfermagem, a prática de cuidados em saúde é função essen-
cial da profissão, reforçando o papel de ajudar as pessoas a realizar sua ca-
pacidade funcional ao máximo, independente do seu estado de saúde e faixa
etária. Enfatizamos a crescente formação de enfermeiros na área gerontológica
como indispensável na formação básica para integrá-los aos tipos de cuidados
especiais dessa população, correspondentes a necessidades específicas:
• nutrição, hidratação e eliminação;
• integridade da pele, mucosa e anexos;
• locomoção e mobilidade;
• sono e repouso;
• sensorial;
• proteção às infecções oportunistas;
• segurança, enquanto estiver hospitalizado;
• cirúrgicas;
• acolhimento no fim da vida.
O idoso apresenta demandas específicas em relação aos demais grupos etá-
rios, necessitando dos serviços de saúde com mais frequência por um longo
período. Os profissionais devem oferecer atitudes efetivas e de impacto na
atenção à saúde desse grupo populacional. O enfermeiro deve exercer um cui-
dado competente visando o benefício dos seus clientes com base no respeito à
dignidade humana, na responsabilidade, na justiça, na autonomia, na boa in-
ter-relação com a equipe de saúde e o paciente/familiar/cuidador. Esse tipo de
abordagem deve partir de um planejamento das ações, com questões inerentes
ao processo de envelhecimento que estimulem a autonomia dos usuários, as-
sim como o envolvimento do cuidador/familiar.
46 PROTOCOLO 3

No cenário ambulatorial, o enfermeiro realiza a consulta específica (Resolu-


ção do COFEN 358/2009), na qual, dentre outras ações, deve:
• Realizar uma escuta minuciosa para identificar os problemas específicos
do paciente e direcioná-la para a melhor estratégia de cuidado.
• Avaliar a capacidade funcional, autonomia e perdas na qualidade de
vida por meio de instrumentos.
• Estimular e orientar os cuidados básicos com alimentação, hidratação,
mobilidade, pele e eliminação.
• Garantir o embasamento científico e a sensibilidade na assistência.
Nesse sentido, a consulta do enfermeiro, tem como foco:
• Identificar situações de saúde/doença.
• Prescrever e implementar ações de enfermagem que contribuam para
promoção, prevenção, proteção da saúde, recuperação e reabilitação
do indivíduo, da família e da comunidade.
Na condição de educadores, os enfermeiros também reforçam a sua equipe
por meio da educação continuada, implementando grupos educativos volta-
dos para família e cuidador, com o objetivo de diminuir as atitudes preconcei-
tuosas com o idoso e promover mudanças de concepção sobre o processo de
envelhecimento. Um tema especial trata do uso de medicamentos prescritos
e das possibilidades de efeitos adversos e de erros na utilização, visto que
nem sempre são usados de maneira organizada e planejada. Assim, em cada
diferente cenário, a presença da figura do familiar, cuidador e profissional de
enfermagem é essencial para centralizar nesses espaços e oferecer segurança
ao cuidado.
Ainda sob o aspecto educativo, destacamos a importância das atividades
de sala de espera, que acontece enquanto o paciente aguarda a consulta am-
bulatorial. O resultado tem se mostrado positivo tanto para o idoso envolvido
quanto para os profissionais, pois permitem troca de experiências, aprendiza-
do, compartilhamento de dúvidas, extravasamento da ansiedade e dos medos,
além de estimular a criatividade, promover reflexões, mudanças e até uma
nova maneira de aprender a viver com qualidade. Assim, as ações educati-
vas devem ser consistentes, esclarecedoras, de fácil compreensão, oferecendo
segurança e buscando favorecer uma relação harmoniosa entre o binômio
paciente/cuidador e envolver parceria com toda a equipe multidisciplinar.
Destacamos que não é fácil a construção deste tipo de estratégia educativa,
como a dinâmica de grupo, pois há obstáculos. Como exemplo, citamos a
formação acadêmica do profissional de saúde, comumente centrado no ensi-
no clínico com foco em técnicas e cuidados físicos, sujeitos à falta de apoio
institucional ou de membros da equipe. A dinâmica de grupo vai além de um
saber pragmático, pois exige como critério a criatividade, a busca de soluções
AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM 47
de casos imprevisíveis com o propósito de preparar os indivíduos para serem
independentes, capazes de tomar suas próprias decisões.
Oferecemos alguns exemplos destes formatos de interação, por meio de
fotos (Figuras 1 a 4) de atividades desenvolvidas pelas autoras no Hospital
Universitário Pedro Ernesto e na Policlínica Piquet Carneiro:
Figura 1. Grupo de apoio no HUPE

Fonte: Marques (2014).

Figura 2. Orientações para o idoso estomizado

Fonte: Marques (2013).

No contexto ambulatorial de atenção primária, uma atividade permanente


dos profissionais de saúde deve ser o acolhimento do idoso visando identificar
riscos para a saúde. O enfermeiro se insere nesse aspecto da atenção desem-
penhando papel valioso, colaborando com outros membros da equipe multi-
disciplinar na avaliação e no encaminhamento para outras unidades. Para ci-
tar um exemplo, ele encaminha o idoso fragilizado (com múltiplas síndromes
48 PROTOCOLO 3

geriátricas ou perda de capacidade funcional) para unidades especializadas


que ofereçam diagnóstico, tratamento e reabilitação adequados.
Alguns aspectos da fragilização do idoso são transversais a todos os ambien-
tes de cuidado: domiciliar, ambulatorial e hospitalar. Os profissionais devem
planejar e orientar ações básicas que visem:
• prevenir o risco de quedas;
• estimular a aceitação da alimentação;
• reforçar a higiene bucal;
• valorizar a prática de exercícios ou atividades físicas.
Figura 3. Consulta ambulatorial

Fonte: Marques et al. (2016).

No que se refere ao contexto hospitalar assistencial, a enfermagem deve


manter atenção às características físicas, psicológicas e culturais próprias do
envelhecimento. É imperioso que esses profissionais sejam éticos no cuidado,
ajam de forma humanizada para reconhecer as especificidades do pacien-
te idoso, estimulem sua independência, garantam o seu acesso aos recursos
terapêuticos disponíveis, respeitem sua autonomia, sempre com boas práti-
cas nos cuidados prestados visando à segurança do paciente. O MS indica a
hospitalização apenas para os eventos agudos da doença crônica, preferen-
cialmente por um período curto. Desta forma, o hospital é reconhecido em
sua capacidade no processo de recuperação de um doente no menor período
possível. Após a remissão da fase aguda, o hospital de baixa complexidade ou
AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM 49
assistência domiciliar deverá ser o melhor local de continuidade do tratamen-
to. A hospitalização de longa permanência é indicada para casos de cuidados
paliativos na fase terminal.
Para os enfermeiros, é importante nortear as ações desenvolvidas para o ido-
so, empregando-se a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), por
meio de planos de cuidados individualizados, com reavaliações constantes
para garantir segurança na terapêutica proposta. Assim, deve-se lançar mão de
protocolos institucionais, com fins de orientar e padronizar as etapas de cada
procedimento e evitar eventos adversos.
Figura 4. Ações assistenciais com idoso hospitalizado

Fonte: Marques (2013).

Por meio da Portaria MS/GM nº 529, de 1º° de abril de 2013, o MS, instituiu
o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). O tema segurança do
paciente tem gerado amplas discussões com o objetivo de contribuir para a
melhora nos cuidados em saúde e promover maior segurança no manejo dos
pacientes atendidos em estabelecimentos de saúde. A partir de 2013, a obri-
gatoriedade da implantação nos serviços de saúde do Núcleo de Segurança
ao Paciente forneceu estratégias de ações para a promoção da segurança do
paciente, além de orientar a vigilância e o monitoramento de eventos adver-
sos. Os eventos adversos são definidos como incidentes que ocorrem durante
a prestação do cuidado à saúde e que resultam em dano ao paciente, podendo
este ser físico, social e psicológico, incluindo doença, lesão, sofrimento, inca-
pacidade ou morte.
O crescimento da população idosa gera um aumento de internações em
ambientes que apresentam de antemão deficiências de infraestrutura e insufi-
ciência de programas específicos de atendimento ao idoso. Algumas questões
específicas incluem infecções hospitalares, complicações cirúrgicas, proce-
dimentos terapêuticos relacionados às drogas, lesões por pressão, quedas do
leito.
50 PROTOCOLO 3

No momento da alta hospitalar, o enfermeiro deve traçar um plano com


registro fidedigno do caso assim como dar orientações precisas aos familiares
ou cuidadores. Ressaltamos que se utilize de uma evolução apropriada e pon-
tual das alterações encontradas, considerando os aspectos legais envolvidos
desde a admissão até a alta hospitalar. Recomenda-se o encaminhamento, se
necessário, para o ambulatório específico ou da clínica de origem do paciente,
preferencialmente de cuidados geriátricos.
Com relação ao cuidador, destacamos alguns aspectos relevantes. Em geral,
trata-se de um familiar idoso cuidando de outro idoso, com diversas respon-
sabilidades, preocupado em aprender técnicas para lidar com seu parente no
domicílio, sem tempo para socialização, carente de informações e recursos,
estressado, sobrecarregado, apresentando problemas de saúde e negligencian-
do seu autocuidado e sem possiblidade de revezamento no cuidado prestado.
Não esqueçamos que o receptor dos cuidados, o idoso, pode ser alguém fra-
gilizado, com temor da dependência temporária ou definitiva dos cuidados de
uma segunda pessoa.
A atribuição de papéis e as tarefas de cuidar seguem normas culturais tra-
dicionais. No contexto brasileiro, em geral, essas normas exigem do homem
o sustento e a sobrevivência material da família, além da autoridade moral, e
da mulher, a organização da vida familiar, o cuidado com filhos, com idosos e
com tudo o que se relacione ao domicílio.
Assim, o período do atendimento no ambiente geriátrico deve ser percebido
pelos profissionais como o mais propício para aproximar, observar e indagar
sobre estresse, cansaço, sentimentos como raiva, culpa, suas dificuldades e
limitações no dia a dia do cuidado. Ao mesmo tempo, deve-se atentar para a
realidade das condições econômicas, sociais e locais que podem ser ofereci-
das em domicílio, visando alcançar a meta do planejamento de cuidados na
comunidade compatível com o modo de vida da família como um todo.

I REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. BRASIL. Plano de Cuidado para Ido-
sos na Saúde Suplementar. Rio de Janeiro. 2012. 62 p. Disponível em:
BRASIL. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução n° 358, de 15 de outubro
de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação
do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cui-
dado profissional de Enfermagem e dá outras providências. Disponível em: <http://novo.
portalcofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html>
GONÇALVES, L. H. T.; TOURINHO, F. S. V. (orgs.). Enfermagem no cuidado ao idoso
hospitalizado. Barueri, SP: Manole, 2012. 436p.
AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM 51
LOURENÇO, R. et al. Assistência ambulatorial geriátrica: hierarquização da demanda. Rev
Saúde Pública, v. 39, n. 2, p. 311-8, 2005.
VERAS, R. P. A necessária gestão qualificada na área da saúde: decorrência da ampliação
do segmento etário dos idosos. J. Bras. Econ. Saúde, v. 3, n. 3, p. 31-39, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Plano de
cuidado para idosos na saúde suplementar. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/publicacoes/plano_cuidado_idosos.pdf>. Acesso em: 10/04/2017.
Protocolo 4
AVALIAÇÃO MÉDICA Carlos Montes Paixão Junior

I INTRODUÇÃO
O indivíduo idoso frágil é o alvo primordial da avaliação funcional multi-
disciplinar, denominada Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Este indivíduo,
embora classificado como frágil, independentemente do método de avaliação
utilizado (Protocolo 18), pode se apresentar com múltiplos problemas, muitas
vezes em diversos sistemas e certamente necessitando de intervenções de múl-
tiplas áreas de atuação profissional.
Faz-se necessário priorizar as demandas, de tal sorte que os problemas e
queixas mais prementes e graves sejam avaliados prioritariamente. Por este
motivo, o formato clássico de anamnese clínica deve ser alterado com vistas a
uma avaliação do status funcional do indivíduo que chega a um ambulatório
geriátrico organizado para realizar a AGA. A participação ativa do paciente e
seu familiar/cuidador são essenciais para que tal empreendimento seja bem-
sucedido.
Outras funções importantes desta avaliação são: promoção de saúde e pre-
venção de doenças, rastreamento de condições assintomáticas ou oligossin-
tomáticas, frequentes nesta faixa etária, avaliação de medicações prescritas e
não prescritas, rastreamento de abuso ou mau uso de substâncias, problemas
psicológicos e sociais, incluindo risco de violência doméstica.

I DA AVALIAÇÃO AOS EXAMES LABORATORIAIS


►► Objetivos
Promover, por meio de técnicas próprias ao campo médico, e em estreita
colaboração com os outros membros da equipe, intervenções visando à pre-
venção, promoção e recuperação da saúde dos idosos atendidos. Em colabo-
ração com outros membros da equipe, identificar e adotar medidas terapêuti-
cas e preventivas frente a:
AVALIAÇÃO MÉDICA 53
• Queixas e alterações cognitivas, tais como quadros demenciais.
• Problemas neurológicos, como doença de Parkinson.
• Problemas funcionais, como a perda de capacidade para atividades da
vida diária.
• Problemas cardiovasculares, tais como hipertensão arterial sistêmica e
doença cerebrovascular.
• Problemas metabólicos, tais como diabetes mellitus e hipercolestero-
lemia.
• Problemas com o controle dos sistemas de eliminação, tais como incon-
tinência urinária e fecal.
• Patologias infecciosas, tais como gripe, pneumonia e infecção urinária.
• Outros problemas próprios da pessoa idosa.
• Participação ativa nas atividades, individualizadas e em grupos, de pre-
venção de doença e promoção de saúde.
►► Observações iniciais
Embora pareça uma obviedade, não custa lembrar que o médico deve aten-
tar, desde o primeiro contato, para a postura, comportamento, vestimenta e
interação do idoso com seu ambiente, com o médico e com seus acompa-
nhantes. Pequenos detalhes como o quanto o indivíduo depende do cuidador
para se expressar, a passividade, a limpeza geral, podem fornecer informações
relevantes sobre a autonomia e a função dele. Uma simples conversa inicial
com o paciente e seu acompanhante é muito relevante sob este aspecto.
►► Anamnese
O primeiro ponto crucial nesta fase é identificar se o paciente consegue
responder às questões, ou mesmo se consegue contar a história de seus pro-
blemas sem precisar de auxílio dos acompanhantes. Alguns temas essenciais
a serem abordados incluem tabagismo e consumo de outras substâncias como
álcool, atividade física regular, polifarmácia e aspecto nutricional, como rotina
alimentar, obesidade ou história de desnutrição. A anamnese dirigida também
é de fundamental importância, sobretudo para identificar condições subnoti-
ficadas ou oligossintomáticas como incontinência urinária ou fecal, sintomas
depressivos, perda cognitiva, quedas recentes, dor e dificuldade ao deambu-
lar, sintomas da região oral, dificuldades visuais e auditivas. Uma revisão do
sistema gastrintestinal também pode revelar informações importantes relacio-
nadas à saúde do paciente.
54 PROTOCOLO 4

►► Exame físico
A Tabela 1 aponta para alguns itens relevantes do exame físico. No que tan-
ge à pressão arterial, alguns aspectos devem ser avaliados. Em primeiro lugar,
o exame deve ser feito nas diversas posições de decúbito e de pé, em busca de
hipertensão arterial sistêmica, bem como de hipotensão ortostática. Evidências
recentes direcionam para a necessidade de métodos mais precisos de avalia-
ção não invasiva, como a medida da pressão arterial ambulatorial, bem como
de aparelhos digitais, uma vez que é frequente a síndrome ou hipertensão do
jaleco branco.
Por outro lado, a avaliação nutricional do idoso também é assunto comple-
xo, a ser abordado no Protocolo 5. A medida do peso em relação à altura e,
especialmente, a informação sobre perda ou ganho recente de peso são dados
relevantes a se buscar.
Como mencionado, a prevalência de perdas sensoriais aumenta signifi-
cativamente com o envelhecimento e podem ter efeitos relevantes sobre a
cognição, o humor e a autonomia. Alguns métodos simples de rastreamento
podem ser utilizados no que tange à visão e audição, bem como o uso de ins-
trumentos específicos que incluem questionários ou testes de desempenho.
Tabela 1. Exame físico do paciente idoso
Intervalo
Item Instrumento Diagnóstico Intervenção (anos)
Comentários

Pressão Esfigmomanô- Hipertensão Aconselhamento 1 Hipertensão sis-


arterial metro arterial dietético tólica: principal
Uso de fator de risco CV,
anti-hipertensivo hipotensão pos-
tural frequente

Composição Balança Obesidade Aconselhamento 1


corporal Bioimpedância dietético ---

Visão Tabela de Snellen Perda visual, Correção 2 Pode estar


Cartão de Jaeger cataratas, terapêutica relacionada a
glaucoma, específica perdas cognitivas
degeneração Facectomia pode
macular melhorar status
funcional
Audição Hearing handi- Perda neurossen- Órteses auditivas 2 Órteses auditivas
cap inventory for sorial Outras terapias podem melhorar
the elderly Presbiacusia status funcional
Teste do sussurro Perda de condução
Audioscópio
Teste de fricção
dos dedos
Boca Inspeção da boca Cáries Específico por 1 Geralmente negli-
Câncer oral patologia genciado
Perda dentária Problemas
podem afetar o
estado nutricional
AVALIAÇÃO MÉDICA 55
Tabela 1. Exame físico do paciente idoso (cont.)
Intervalo
Item Instrumento Diagnóstico Intervenção (anos)
Comentários

Pele Inspeção da pele Câncer Específico por 1 Geralmente


patologia negligenciado
Problemas
podem afetar
o estado
nutricional
Sistema car- Avaliação Sopros Específico por 1
---
diovascular cardiovascular Aterosclerose patologia
Sistema Exame pélvico Câncer Específico por 2
reprodutor e Papanicolau patologia
---
mamas Exame de
mamas
Reto Toque retal Câncer Excisão 1
---
Pólipos
Marcha/ Timed up & go Risco de quedas Reabilitação 2-3
equilíbrio Velocidade da Condicionamento
---
marcha

Sistema Força de Sarcopenia Reabilitação 2-3


---
muscular preensão manual Condicionamento
Cognição e MEEM Perda cognitiva Específico por 1 Testes de rastrea-
afeto EDG Depressão patologia mento, exame
neurológico

Fonte: Applegate (1995).


Legenda: MEEM: Miniexame do Estado Mental; EDG: Escala de Depressão Geriátrica; CV: cardiovascular.

O exame oral é dos itens mais negligenciados no exame físico, embora pro-
blemas relacionados à boca e seus componentes possam influenciar de forma
significativa o comportamento e o estado nutricional do indivíduo idoso. De
modo semelhante, a pele é uma região esquecida, contudo, especialmente em
país de alta incidência de luz solar e com atividades de lazer muito ligadas à
exposição solar, um exame cuidadoso de áreas expostas, como a pele da face,
pescoço, cabeça, membros inferiores, ombros e tórax, é obrigatório.
A prevalência de doença cardiovascular aumenta significativamente com a
idade, a ponto de este grupo etário ser o mais afetado por doença sintomática
ou assintomática, chegando a mais da metade dos indivíduos que se apresen-
tam em atendimento ambulatorial. O exame cardiovascular tradicional pode
identificar problemas potencialmente sérios e prevalentes, como estenose aór-
tica. Novas técnicas com aparelhos portáteis, como ecocardiografia de beira
de leito, podem melhorar muito a acurácia diagnóstica, e o médico clínico
geriatra deve ser treinado com tais tecnologias de ponta.
O rastreamento de câncer em indivíduos idosos possui características pecu-
liares. Em primeiro lugar, evidências indicam que esta faixa etária é negligen-
56 PROTOCOLO 4

ciada, embora seja, em geral, a mais afetada por estes agravos. Por outro lado,
ainda há várias controvérsias, especialmente no que tange ao rastreamento de
câncer de próstata, além de algumas questões recentes relacionadas à frequên-
cia e necessidade de mamografia antes dos 50 ou após os 75 anos de idade.
O câncer da região cervical uterina ainda é um problema grave no Brasil.
Muitas mulheres idosas não tiveram acompanhamento ginecológico adequa-
do ao longo de suas vidas e isto deve ser pesquisado. A incidência de câncer
de cervix e endométrio aumenta, e exames regulares podem ser necessários,
mormente se o acompanhamento foi irregular ao longo da vida da paciente.
►► Exames laboratoriais e complementares
Há controvérsias internacionais sobre a necessidade de exames regulares
para rastreamento e prevenção de doenças. Exames de dosagem de hormô-
nio estimulante da tireoide podem ser solicitados a cada 5 anos, glicemia e
hemoglobina glicosada, anualmente, e exames simples de urina podem ser a
cada 3 a 5 anos, respeitando-se certas assunções, como indicadas na Tabela 2.
Dosagem de colesterol e suas frações séricas, hemograma, eletrólitos são itens
controversos e, provavelmente, a indicação deverá ser individualizada.
Tabela 2. Exames de laboratório na AGA
Intervalo
Exame Objetivo Intervenção Comentários
(anos)
Hemograma Anemia Específico por 5-10
_______
patologia
Bioquímica Múltiplos Específico por 5-10
_______
sérica patologia
Estudos de Aterosclerose Farmacológica ou 5-10 Caros, controversos
lipídios dietética com cuidados
Glicemia de Diabetes Dietas, fármacos se 5 Mais importante em
jejum, mellitus necessários pacientes de risco
hemoglobina (obesos, outros riscos
glicosilada cardiovasculares,
história familiar)
Hormônio Hipo ou Específico por 5 Especialmente em
estimulante da hipertireoidismo patologia mulheres
tiroide Controverso em
homens
Urinálise Infecção, Específico por 3-5 Mais útil em pessoas
patologia renal patologia de risco (história
pregressa, procedi-
mento invasivo)
Antígeno Câncer Específico por 5 Altamente controverso
específico da patologia Individualizar a
próstata necessidade
Fonte: Applegate (1995).
AVALIAÇÃO MÉDICA 57

►► Imunizações
O envelhecimento do sistema imune promove modificações que sensibili-
zam o idoso a certas infecções, especialmente virais, por germes encapsula-
dos, como o pneumococo e o Haemophilus influenzae, e micobactérias.
No que tange às imunizações em idosos, a primeira grande recomendação
foi dada em 1994, quando vários países iniciaram imunizações nesta popula-
ção visando à influenza. Entretanto, as políticas de imunização na faixa etária
mais velha não têm conseguido alcançar objetivos mínimos de segurança, por
conta da veiculação ineficiente das inúmeras evidências apoiando este tipo de
intervenção. A administração regular de algumas destas vacinas são atualmen-
te consideradas indispensáveis para o idoso (Tabela 3).
Tabela 3. Plano de imunizações periódicas para o idoso
Intervalo
Vacina Objetivo Intervenção Comentários
(anos)
Influenza Prevenção Específico por 1
patologia
Pneumococo Prevenção Específico por Uma dose de PCV-13
patologia _____ seguida de uma dose de
PPV-23 2-6 meses mais tarde
Tétano Prevenção Farmacológica ou 10 Vacina trivalente tétano,
dietética com cuidados difteria pertussis
recomendada
Varicela/zoster Prevenção Dietas, fármacos se 5 Parece ser mais efetiva na
necessários faixa 60-69 anos
Pertussis Prevenção Específico por Vacina trivalente tétano
patologia _____ difteria pertussis
recomendada
Fonte: SBGG (2016).

A influenza é uma causa importante de óbitos, hospitalizações, exacerba-


ção de doenças cardiopulmonares e pneumonia bacteriana secundária, prin-
cipalmente no período do inverno. As taxas de mortalidade em idosos au-
mentam de forma significativa com a idade. Dados internacionais apontam
variações de 6,3 por 100.000 em adultos mais jovens que 65 anos, até 358
por 100.000 em adultos com mais de 85 anos. Também, a taxa de hospitali-
zação relacionada varia de 85 por 100.000 a 1.195 por 100.000, entre estas
faixas etárias. Esta infecção é altamente contagiosa e muitos sorotipos têm
se mostrado particularmente resistentes aos antivirais disponíveis, incluindo
oseltamivir. Além disso, várias metanálises recentes que incluíram ensaios
clínicos randomizados e controlados indicaram resultados muito relevantes
no que tange à imunização em idosos e diminuição de complicações rela-
cionadas à influenza, incluindo mortalidade geral (27-68%), hospitalização
58 PROTOCOLO 4

(50-61%), doença respiratória (27-53%) e pneumonia (48-56%). A maior par-


te das vacinas é de vírus inativados, todas são trivalentes (dois tipos de influen-
za A e um de influenza B).
De modo semelhante, a imunização para o pneumococo em idosos tem
sido apoiada por evidências, no sentido de diminuição de hospitalizações por
pneumonia (20%), infecção de corrente sanguínea pelo pneumococo (37%),
infecções invasivas por pneumococo (20%), meningite pneumocócica (50%),
especialmente relacionadas à diminuição dos sorotipos incluídos na vacina
23-valente de polissacarídeos (PPV-23). Entretanto, as taxas de cobertura su-
geridas não têm sido alcançadas (qual seja, 90% dos indivíduos em risco),
com números nos Estados Unidos na América, onde a política de vacinação
para pneumococo é mais efetiva que no Brasil, em torno de 66,5% para os
adultos acima de 65 anos. As recomendações atuais sugerem vacinar todos os
indivíduos acima dos 65 anos, possivelmente apenas uma vez, já que níveis
séricos protetores de anticorpos têm sido encontrados para além de 10 anos
após a imunização. Evidências recentes também sugerem que a imunização
com a vacina conjugada 13-valente (PCV-13), 6 meses antes da PPV-23, pode
aumentar os níveis de anticorpos protetores em adultos. Em pacientes que já
tenham usado a PPV-23, deve-se aguardar 12 meses, pelo menos, para a imu-
nização com PCV-13.
A infecção pelo vírus varicela-zoster é frequente e sua recorrência como
herpes zoster pode ser devastadora para o indivíduo idoso. Infecções secun-
dárias, ceratite, neuropatia pós-herpética são alguns exemplos, este último
com risco 15 a 27 vezes maior em indivíduos com mais de 50 anos. Algumas
evidências apontam para a probabilidade de 10 a 30% dos indivíduos idosos
terem recorrência da infecção ao longo de sua vida. Nesse sentido, estudos
com a vacina de zoster atenuado em milhares de indivíduos com mais de 60
anos indicou uma redução significativa (48-61%) de casos desta afecção nos
indivíduos imunizados. A eficácia da vacina parece ser maior nos indivíduos
na faixa de 60 a 69 anos (64% versus 38% naqueles com mais de 70 anos). Os
benefícios da imunização parecem persistir por 5 anos.
No que tange à vacina para coqueluche, evidências apontam para o au-
mento desta infecção em idosos, sobretudo por diminuição de anticorpos pro-
tetores. Esta faixa etária também parece ser especialmente sensível à infecção
pela Bordetella pertussis, mormente em instituições de longa permanência,
com consequentes aumentos de taxas e períodos de hospitalização mais pro-
longados. Desse modo, também levando em conta o aumento de risco por
difteria e tétano, a vacina mais eficiente deve ser a tríplice (TDaP), por ser
imunogênica e com bom perfil de segurança. A recomendação do Center for
Disease Control, nos Estados Unidos, é que todo paciente acima de 60 anos
AVALIAÇÃO MÉDICA 59
receba esta vacina o mais cedo possível. Ainda em relação ao tétano, esta
patologia tem sido chamada de “a doença sem desculpas”, pela grande efeti-
vidade da imunização do tétano em prevenir este agravo potencialmente fatal
e prevalente entre idosos, especialmente aqueles mais frágeis, com feridas de
pele e contaminação com fezes.

I REFERÊNCIAS
APPLEGATE, W. B. The Medical Evaluation. In: Geriatric Assessment Technology: State
of The Art. Rubenstein LZ, Wieland D, Bernabei R. Kurtis-Milano, 1995. p. 41-50.
BRADLEY, S. F. Vaccinations for Older Adults, An Update. Curr. Geri. Rep., v. 3, p. 66-
72, 2014.
ELSAWY, B.; HIGGINS K. E. The geriatric assessment. Am. Fam. Physician, v. 83, p. 48-
54, 2011.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA (SBGG); Sociedade Brasi-
leira de Imunizações (SBim). Guias. Guia de Vacinação Geriatria 2016/2017. Guias
pdf, 2016. Disponível em: http://sbim.org.br/images/files/guia-geriatria-sbim-sbgg-3a-ed-
-2016-2017-160525-web.pdf. Acesso em: 30/abr/2017.
Protocolo 5
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Glaucia Cristina de Campos

I INTRODUÇÃO
A avaliação nutricional do idoso é composta por vários métodos e é comple-
xa, pois abarca não somente métodos tradicionais, mas informações relaciona-
das à saúde biopsicossocial que podem levar a situações de risco nutricional e
desnutrição. A avaliação é essencial para o diagnóstico nutricional e deve ser
realizada no início da internação de modo que a desnutrição, ou o seu risco,
seja precocemente diagnosticada, permitindo a adoção de medidas eficazes
para reversão deste quadro. A avaliação nutricional foi definida por Jelliffe como
“a medida das variações das dimensões físicas e da composição total do corpo
humano nas diferentes idades e nos diferentes níveis de nutrição”.
A realização da avaliação nutricional do idoso é determinante na assistência
nutricional, pois a institucionalização e a hospitalização são condições que
podem contribuir para situações de risco nutricional devido às diversas co-
morbidades, incapacidade funcional, medicamentos que podem causar efei-
tos colaterais e restrições alimentares.
Neste contexto os principais objetivos na avaliação nutricional são:
• Realizar a triagem nutricional e identificar os indivíduos em risco nutri-
cional e desnutrição.
• Concretizar o diagnóstico nutricional através da antropometria e medi-
das de composição corporal para identificação precoce da pré-sarcope-
nia, sarcopenia, obesidade e obesidade sarcopênica.
• Aplicar a intervenção nutricional com o plano de cuidados nutricionais
para a promoção da saúde, prevenção e controle das patologias e moni-
torar periodicamente o estado nutricional do idoso.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 61

I ROTINA DA AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: AMBULATÓRIOS, HOSPITAIS E


INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA
A rotina de avaliação nutricional do idoso é apresentada na Figura 1.
Figura 1. Avaliação e monitoramento nutricional do idoso

Fonte: Autoria própria (2017).


Legenda: MNA: miniavaliação nutricional.

I TRIAGEM NUTRICIONAL: APLICAÇÃO DA MINIAVALIAÇÃO NUTRICIONAL


A Miniavaliação Nutricional Ampla (MNA) (geronlab.com) é utilizada para
avaliação do estado nutricional na sua aplicação integral, e a forma reduzida
é restrita para triagem nutricional. Deverá ser aplicada até dois dias após sua
admissão no hospital ou instituições de longa permanência (ILPI), pois identi-
fica o risco de desnutrição antes da ocorrência de mudanças no peso ou nos
níveis de proteína sérica. Para instruções detalhadas da aplicação do MNA,
ver na Seção 2 as Instruções para o Protocolo 5.
A versão reduzida da MNA (geronlab.com) é um instrumento de triagem
nutricional e pode ser preenchido periodicamente nas avaliações no domicí-
lio, ambulatórios, hospitais e em instituições de longa permanência.
62 PROTOCOLO 5

I AVALIAÇÃO NUTRICIONAL: ANTROPOMETRIA


►► Peso corporal
• Expressa a dimensão da massa ou volume corporal, constituída pelos
tecidos adiposo, muscular e ósseo.
• Para a pesagem o idoso deve manter-se em pé, descalço e com o míni-
mo de roupas possível.
• O idoso deve se posicionar no centro da plataforma da balança, com o
peso distribuído uniformemente entre os dois pés, mantendo-se ereto,
sem se movimentar e com os braços estendidos ao longo do corpo.
►► Estatura
• O idoso deverá ficar em pé descalço, encostando nuca, nádegas e cal-
canhares em uma barra ou parede vertical fixa, inextensível e graduada
em centímetros.
• A cabeça deve ficar ereta e o olhar fixo à frente.
►► Índice de massa corporal
É calculado pela fórmula: peso/altura2. A classificação do estado nutricional
pode ser verificada na Tabela 1.
Tabela 1. Classificação do estado nutricional de idosos com base no índice de massa corporal
Índice de Massa Corporal Classificação
IMC < 23 Baixo peso
23 < IMC < 28 Peso normal
28 ≤ IMC < 30 Sobrepeso
IMC ≥ 30 Obesidade

Fonte: OPAS (2002).


Legenda: IMC: índice de massa corporal.

►► Perda ponderal
Fórmula para calcular a velocidade da perda de peso (VPP):
VPP (%) = peso habitual (kg) – peso atual (kg) x 100/peso habitual (kg).
A classificação da velocidade de perda de peso consta na Tabela 3.
Tabela 2. Classificação da velocidade de perda de peso
Tempo Perda de peso significante (%) Perda de peso grave (%)
1 semana 1a2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 5a7 >7
6 meses 10 > 10

Fonte: Blackburn (1977).


AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 63

►► Estimativa da estatura e do peso corporal


Em situações nas quais os idosos não consigam ficar em pé ou estejam aca-
mados, sugere-se estimar a massa corporal e a estatura usando equações que
estimem o seu valor (Tabela 3).
A altura pode ser estimada a partir do comprimento da perna (altura do
joelho) e possibilita estimar a altura de pacientes acamados e deitados, quando
utilizadas as equações de Chumlea et al. (1985).
Medida da altura do joelho
Com a perna flexionada, formando com o joelho um ângulo de 90 graus,
deve-se posicionar a base da régua em baixo do calcanhar do pé e a haste
pressionando a cabeça da fíbula. Pode ser feita também com o idoso deitado
em posição supina. A leitura da régua ou paquímetro ósseo deve ser feita no
décimo de centímetro mais próximo.
Tabela 3. Equações de predição da estatura e do peso estimados

Estatura estimada (cm)


Homem = [64,14 – (0,04 x idade em anos) + (2,02 x AJ)]
Mulher = [84,88 – (0,24 x idade em anos) + (1,83 x AJ)]
Peso estimado (kg)
Homem = (0,5759 x CB) + (0,5263 x CA) + (1,2452 x CP) – (4,8689 x 1) – 32,9241
Mulher = (0,5759 x CB) + (0,5263 x CA) + (1,2452 x CP) – (4,8689 x 2) – 32,9241

Fonte: Rabito et al. (2006).


Legenda: AJ: Altura do joelho; CB: circunferência do braço (cm); CA: circunferência abdominal (cm); CP:
circunferência da panturrilha (cm).

►► Perímetro da cintura
A medida do perímetro da cintura tem sido recomendada como um dos
melhores preditores antropométricos de gordura visceral. Essa medida deve
ser verificada entre as costelas inferiores e as cristas ilíacas. A leitura é feita no
momento da expiração. A Tabela 4 apresenta os valores de circunferência da
cintura considerados como risco para doenças associadas à obesidade.
Tabela 4. Valores de circunferência da cintura considerados como risco para doenças asso-
ciadas à obesidade
Risco elevado Risco muito elevado
Mulheres ≥ 80 cm ≥ 88 cm
Homens ≥ 94 cm ≥ 102 cm
Fonte: OMS (1995).

►► Circunferência do braço
A medida da circunferência do braço (CB) estabelece o padrão muscular. Para
realizar a medida, o braço deve pender relaxado ao longo do corpo. A circunfe-
rência é medida no ponto médio entre o processo acromial da escápula e o ole-
64 PROTOCOLO 5

crano da ulna com uma fita métrica inelástica no braço não dominante flexionado
formando um ângulo reto.
• Padrão de normalidade de CB para homens:
◦◦ 55 a 69,9 anos = 31,7 cm;
◦◦ 65 a 74,9 anos = 30,7 cm.
• Padrão de normalidade de CB para mulheres:
◦◦ 55 a 69,9 anos = 30,3 cm;
◦◦ 65 a 74,9 anos = 29,9 cm.
►► Prega cutânea tricipital
A prega cutânea tricipital é utilizada para monitorar e avaliar a reserva do
tecido adiposo. É considerado o local mais representativo da camada subcutâ-
nea de gordura. A prega cutânea tricipital deve ser aferida com um adipômetro
no braço não dominante relaxado e estendido ao lado do corpo, com o idoso
na posição vertical. Inicialmente, deve-se identificar o ponto médio entre o
acrômio e o olécrano, na região posterior, com o braço flexionado, formando
um ângulo de 90 graus.
O examinador deve segurar a prega firmemente entre o polegar e o dedo
indicador da mão esquerda 1 cm acima do local a ser medido. Posteriormente,
com a mão direita, o adipômetro deve estar posicionado perpendicularmente
à dobra, exatamente no local marcado, permanecendo a pinçada por 4 segun-
dos para a leitura, expressa em milímetros.
►► Circunferência da panturrilha
A circunferência da panturrilha (CP) fornece a medida mais sensível da mas-
sa muscular. Para medir a CP, o avaliador deverá posicionar a fita métrica
inextensível na perna esquerda, no perímetro mais protuberante. Deve-se con-
siderar normal a circunferência maior ou igual a 31 cm para ambos os sexos.

I AVALIAÇÃO DIETÉTICA
Avaliar a ingestão alimentar do idoso em algumas situações é um exercício
difícil, principalmente se o idoso estiver com comprometimento cognitivo.
Assim, na avaliação dietética, caso haja inconsistência das respostas, deve-se
aplicar o instrumento com o cuidador ou familiar. As recomendações para a
dieta do idoso podem ser vistas na Tabela 5.
Tabela 5. Principais recomendações para a dieta do idoso
Características Metas nutricionais* Obs.*
Número de refeições 4 a 6/dia
Intervalo entre refeições 3 horas
Quantidade ≥ 75% do volume dos alimentos/dia
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 65
Tabela 5. Principais recomendações para a dieta do idoso (cont.)
Características Metas nutricionais* Obs.*
Consistência Dieta normal
Ingestão de líquidos 25 a 30 mL/kg atual/dia ou 8 copos/dia
Qualidade da dieta* Leite e derivados ≥ 2 porções/dia
Leguminosas ≥ 2 porções/dia
Carnes (bovinas, aves, peixes) ou ovos 2 porções/dia
Legumes e verduras 3 porções/dia
  Frutas 3 a 5 porções/dia
Fonte: Najas (2011) e Brasil (2009).
* Porções e agrupamento conforme proposto por Guigoz et al. (1994).

I AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA
Os marcadores bioquímicos compreendem mais uma etapa da avaliação
do estado nutricional. Através deles é possível avaliar a condição de reserva
de proteínas viscerais e proteína somáticas, entretanto existem condições e
fatores que limitam a utilização, como algumas drogas, estado fisiológico, es-
tresse, injúria, inflamação e presença de algumas doenças, como neoplasias,
doenças renais e hepáticas (Tabela 6).
Tabela 6. Principais marcadores bioquímicos utilizados na avaliação do estado nutricional de
idosos hospitalizados
Proteínas Depleção Depleção Depleção
Referência Vida média
totais leve moderada grave
Albumina 3-3,5 2,4-2,9 < 2,4 ˃ 3,5 mg/dL 14-21 dias
Transferrina 150-200 100-149 < 100 > 200 mg/dL 7 - 8 dias
Pré-albumina 11-15 5-10 <5 > 15 mg/dL 2 dias
≥ 160 mg/dL
Colesterol
e < 200
Fonte: Sampaio, Mannarino (2007).

Cabe ressaltar que na avaliação bioquímica nutricional do idoso é primor-


dial avaliar os níveis séricos de vitamina D, vitamina B12, zinco e cálcio para
complementar o diagnóstico nutricional.

I AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL


Através da avaliação da composição corporal é possível identificar indiví-
duos com redução de massa muscular em idosos obesos e eutróficos. Além
disso, pode-se identificar com mais precisão e com maior sensibilidade a re-
66 PROTOCOLO 5

dução de massa muscular em idosos quando comparados à antropometria


(Thinbault et al., 2012).
►► Bioimpedância elétrica
Trata-se de um método que se baseia na passagem de uma corrente de bai-
xa voltagem e frequência fixa (50 kHz) pelo corpo do avaliado nas diferentes
resistências oferecidas pelos tecidos distintos do organismo com o objetivo de
estimar os compartimentos corpóreos. Um pressuposto é que todos os teci-
dos possuem características de condutividade elétrica identificáveis. A partir
dos valores de resistência e reactância obtidos no aparelho de bioimpedância
(BIA), são realizados os cálculos dos percentuais de gordura e água corporal,
além de massa magra com auxílio do software fornecido pelo fabricante. Tam-
bém existem aparelhos que imprimem, imediatamente, os valores de compo-
sição corporal.
Protocolo de preparação para o exame de BIA
• Jejum mínimo de 4h.
• Não consumir bebida alcoólica por 48h.
• Não praticar atividade física intensa 24h antes.
• Urinar pelo menos 30 min. antes da medida.
• Evitar o consumo de cafeína 24h antes.
Contraindicações para o exame
• Situações patológicas ou uso de medicamentos que produzem retenção
hídrica, por exemplo: edema, ascite. O teste fica prejudicado, pois pode
superestimar as reservas de massa magra.
• Impeditivo absoluto: portadores de marcapasso ou desfibrilador implan-
tado e gestantes.
Padronização da avaliação
• Realizar a calibração do aparelho com resistor de 500 Ω que acompa-
nha o aparelho, que deverá acusar resistência de 490 Ω e 510 Ω.
• O ambiente da coleta deve ser climatizado para evitar transpiração do
idoso.
• Verificar a bateria pela luminosidade da tela do aparelho.
• Explicar o procedimento ao idoso.
• O idoso deve retirar sapato e meia e deitar em decúbito dorsal sobre a
maca; não deve haver lençol ou cobertor sobre o corpo.
• O idoso deve deitar com o corpo relaxado, os braços estendidos ao lado
do corpo, sem tocar no tronco e as pernas em ligeira abdução.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 67
• Não deve haver ponto de contato entre os braços e o tronco ou entre as
pernas. Em idosos com obesidade impedidos de afastar as coxas, usa-se
uma toalha posicionada entre as pernas como isolante.
• Limpar com algodão e álcool, as regiões em que estarão fixados os ele-
trodos para melhor aderência.
• Fixar um adesivo na superfície dorsal da mão, na altura do terceiro me-
tacarpo distal e outro, entre as proeminências ósseas distais da ulna e
rádio, do lado dominante.
• Fixar um adesivo na superfície dorsal do pé, na altura do terceiro meta-
tarso distal e outro entre as proeminências ósseas distais, entre o maléolo
medial e distal do tornozelo, do lado dominante.
• Colocar os eletrodos vermelhos nas regiões proximais da mão e do pé,
do lado dominante.
• Colocar os eletrodos pretos nas regiões distais da mão e do pé, do lado
dominante.
Instruções para realização do exame
• Ligar o aparelho e seguir as instruções para leitura dos dados.
• Anotar o valor mostrado.
• Em caso de oscilação entre os valores, verificar: movimentação do ido-
so, elevação da cabeça durante a leitura e existência de ponto de con-
tato entre os membros.
►► Absorciometria radiológica de dupla energia
Método considerado padrão-ouro para avaliação da composição corporal.
Para a realização do procedimento, os idosos devem ser cuidadosamente posi-
cionados em decúbito dorsal sobre o equipamento de forma a permanecerem
totalmente centralizados em relação às laterais da mesa. Após a análise de
toda a área corporal, o exame de absorciometria radiológica de dupla energia
(DXA) possibilita determinar a densidade mineral óssea e dos tecidos.
Através das medidas estimadas obtidas pelo DXA pode-se calcular o índice
de massa muscular apendicular (IMMA), que é a soma da massa muscular dos
membros superiores e inferiores dividido pela altura ao quadrado (Baumgart-
ner et al., 2004). Algumas medidas e métodos de avaliação nutricional usados
para o diagnóstico de sarcopenia, obesidade e obesidade sarcopênica em ido-
sos estão na Tabela 7.
68 PROTOCOLO 5

Tabela 7. Principais medidas e métodos de avaliação nutricional usados para o diagnóstico


da sarcopenia, obesidade e obesidade sarcopênica em idosos
Medidas Métodos Diagnóstico
Adiposidade Obesidade
Índice de massa corporal Antropometria ≥ 30 kg/m²
≥ 102 cm – homens
Circunferência abdominal Antropometria
> 88 cm – mulheres
> 28% – homens
Percentual de gordura DXA e BIA
> 40% – mulheres
Massa muscular Sarcopenia
< 7,26 kg/m² – homens
Índice de massa muscular DXA e BIA
< 5,45 kg/m² – mulheres
Índice de massa muscular < 7,26 kg/ m² – homens
DXA
esquelética < 5,45 kg/m² – mulheres
Força
Força de preensão manual Dinamômetro < percentil 20

Fonte: Autoria própria (2017).


Legenda: DXA: absorciometria radiológica de dupla energia; BIA: bioimpedância.

I CONDUTAS NUTRICIONAIS GERAIS NOS PRINCIPAIS AGRAVOS NUTRICIONAIS


• Traçar o plano de cuidados nutricionais após o diagnóstico nutricional
do idoso.
• Iniciar a terapia nutricional precoce quando houver baixa ingestão
calórica causada pela inapetência ou disfagia, doenças consumptivas,
ingestão oral inferior a 75% da oferta alimentar, presença de perda
ponderal involuntária superior a 5% em três meses, no risco nutricional
e desnutrição.
• Modificar o cardápio e a consistência para cada estágio das demên-
cias para promover segurança alimentar e adesão dietética. Monitorar o
estado nutricional periodicamente. Quando houver ingestão alimentar
inferior a 70%, iniciar terapia nutricional com suplementos. Avaliar o
cuidado nutricional em cada fase da demência.
• Realizar, na presença de sarcopenia, adequação na suplementação de
proteínas, que deverá ser distribuída igualmente entre as refeições. Pro-
mover uma combinação de aminoácidos essenciais com mais de 10 g e
uma densidade calórica: 32 a 38 kcal/kg/peso.
• Recomendar ingestão proteica de 1,0 a 1,5 g/kg/dia para manutenção
do equilíbrio de nitrogênio em idosos e para aumentar a eficiência da
síntese pelo músculo.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 69
• Distribuir proteínas ao longo do dia nas principais refeições – 25 a 30 g
de proteínas por refeição.
• Realizar, na presença de sarcopenia e deficiência de vitamina D, doses
de vitamina D de 50.000 UI por semana. A suplementação de vitamina
D promove benefícios sobre os parâmetros da função neuromuscular,
aumenta a força e reduz as quedas em idosos.
• Ter como meta nutricional manter ou atingir estado nutricional eutrófico.
• Promover a vigilância alimentar e nutricional interdisciplinar.

I REFERÊNCIAS
NAJAS, M. (Coord.). I Consenso Brasileiro de Nutrição e Disfagia em Idosos
Hospitalizados. Barueri: Minha Editora, 2011.
MIRANDA, D.E.G.A. et al. Manual de Avaliação Nutricional do adulto e do idoso.
Editora Rubio, 2012.
SAMPAIO, A. R. D.; MANNARINO, I. C.; DUARTE, A. C. Medidas bioquímicas de avaliação
do estado nutricional. In: DUARTE, A. C. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e
laboratoriais. São Paulo: Atheneu, p. 69-76, 2007.
VALENTIM, Andréa Abdala. Nutrição no envelhecer. 2a. ed. São Paulo: Atheneu, 2012.
THIBAULT, R.; GENTON, L.; PICHARD, C. Body composition: why, when, and for who?
Clinical nutrition, v. 31, n. 4, p. 435-447, 2012.
WHO, World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthro-
pometry. WHO technical Report Series, Geneva, 1995. 854p.
Protocolo 6
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Flávia Moura Malini
Drummond
Simone da Costa Mazzei
Vânia Otero Bombinho
Cezario

I INTRODUÇÃO
A avaliação funcional e física tem como objetivo mensurar o desempenho
nas atividades de vida diária. Para que o idoso tenha sua capacidade funcional
preservada, deve haver interação das dimensões física, cognitiva, clínica, nutri-
cional, econômica, espiritual, ambiental e condições de suporte social. Esta in-
teração é mediada pelas habilidades e competências desenvolvidas e adquiridas
ao longo da vida.
O domínio físico e funcional compreende a avaliação da mobilidade, da
força muscular e do equilíbrio e da marcha. Este domínio deve ser avaliado
por fisioterapeuta treinado para a utilização correta de instrumentos validados
e confiáveis.
A avaliação é um método de mensuração sistematizado e objetivo dos ní-
veis funcionais de um indivíduo, por meio de medidas objetivas e padroniza-
das, que servem para classificá-lo. Os resultados obtidos devem favorecer e
permitir uma boa comunicação entre os membros da equipe interdisciplinar.
Esta avaliação é realizada através da observação direta, quando o idoso reali-
za as tarefas solicitadas pelo examinador, e possui as vantagens de ter melhor
reprodutibilidade, maior sensibilidade para detectar mudanças, além de pos-
sibilitar a avaliação de indivíduos analfabetos, ou aqueles com alteração cog-
nitiva e visual. As desvantagens são a demanda maior de tempo e necessidade
de examinadores treinados.
Por meio da avaliação por observação direta, devemos mensurar o real es-
tado físico do idoso, permitindo uma análise qualitativa e quantitativa do qua-
dro. Esta avaliação deve ser minuciosa e individualizada, pois fornecerá subsí-
dios para a identificação de incapacidades e de riscos à saúde, será preditora
de desfechos negativos, como hospitalização, quedas e institucionalização,
indicará efetividade de intervenções terapêuticas e fornecerá parâmetros de
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 71
admissão e alta dos serviços, sejam ambulatoriais, hospitalares ou domicilia-
res.
Na avaliação de desempenho físico e mobilidade, deve-se avaliar o nível
estrutural dos sistemas musculoesqueléticos e o mais importante, como estes
sistemas se comportam no desempenho de atividades e na participação social.
Esta avaliação pode estar baseada nos conceitos e domínios propostos pela
Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF): funções e estruturas cor-
porais, atividades, participação e também os fatores pessoais e ambientais.
Figura 1. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)

CIF Estado de Saúde


OMS
2001 (disfunção/doença)

Estruturas e Atividades Participação


funções corporais (Limitação) (Restrição)
(Deficiência)

Fatores Fatores
ambientais individuais

Fonte: OMS (2001).

Os componentes da CIF auxiliam o fisioterapeuta na elaboração de um pla-


no de tratamento. Por meio da avaliação, identifica-se quais estruturas e fun-
ções estão deficientes, como, por exemplo, a força muscular e o equilíbrio di-
nâmico. Assim, consegue-se avaliar em quais atividades o idoso está limitado
(por ex.: não consegue alcançar objetos, subir e descer escadas com seguran-
ça) e qual o resultado disto na participação social (não realizar visitas a casa
de parentes ou não utilizar transporte público). Adicionalmente, verificam-se
os fatores ambientais, que podem ser facilitadores ou barreiras arquitetônicas,
e os fatores individuais, como idade, sexo, etc.
Esta avaliação tem uma abordagem ampla, na qual se estipulam metas a
curto, médio e longo prazo para cada um destes itens. O foco está na condição
funcional do indivíduo e não em suas morbidades.
Os itens que devem constar na avaliação de desempenho são:
• mobilidade;
• força muscular;
• equilíbrio estático e dinâmico;
• coordenação;
• marcha;
• uso de dispositivos de auxílio à marcha.
72 PROTOCOLO 6

O profissional inicia a avaliação a partir de uma observação direta desde


o momento em que o idoso se encontra na sala de espera e é chamado, até a
aplicação das escalas e testes (Tabela 1).
Tabela 1. Resumo dos testes e escalas realizados na avaliação da fisioterapia
Funções e estruturas Avaliar

Prognóstico de aderência Condições de frequentar o Serviço duas vezes por semana

Inquérito de quedas, medo de Histórico de quedas no último ano e a presença do medo de


quedas e prática de exercícios cair
físicos

Mobilidade Atitude ao se levantar da cadeira para a postura ortostática, de-


ambulação, trocas de decúbito, transferências

Amplitude de movimento Passivo e ativo – presença de limitações

Força muscular Teste muscular manual


Força de preensão manual – uso do dinamômetro do tipo
JAMAR

Desempenho físico funcional Short Physical Performance Battery (SPPB)

Equilíbrio Escala de Equilíbrio de Berg (EEB)

Marcha Performance-Oriented Mobility Assessment (POMA II)

Fonte: Autoria própria (2017).

I FUNÇÕES E ESTRUTURAS
►► Prognóstico de aderência
Inicia-se a avaliação com o prognóstico de aderência para verificar a possi-
bilidade de começar o tratamento fisioterapêutico, que deve ser continuo por,
no mínimo, duas vezes por semana, até o momento da reavaliação (aproxima-
damente 20 sessões) e possível alta. São inseridos no Serviço aqueles indiví-
duos que poderão frequentar a fisioterapia no mínimo duas vezes por semana.
Aqueles que não podem, porém necessitam de tratamento fisioterapêutico,
devem ser encaminhados para serviços próximos de seu local de residência e/
ou receber orientação para exercícios domiciliares.
►► Inquérito de quedas, medo de cair e exercício físico
Avalia-se o histórico de quedas no último ano, através da pergunta: “Houve
alguma queda nos últimos 12 meses?” Caso a resposta seja positiva, continuar
o inquérito seguindo o roteiro:
• Número de quedas.
• Local em que ocorreu (quedas mais recentes ou a que o idoso lembrar).
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 73
• Sintoma que apresentou no momento da queda, como por exemplo:
tonteira, desequilíbrio, tropeço, perda de consciência.
• Questionar se o idoso conseguiu levantar sozinho ou se necessitou de
ajuda.
• Consequências pós quedas, por exemplo, uso de bengala ou andador,
precisou ir ao médico ou serviço de saúde, se houve fratura ou não.
• Perguntar ao idoso se ele tem medo de cair.
• Verificar se o idoso tem a sensação de desequilíbrio.
Observação: Caso a resposta ao medo de cair seja positiva, será aplicada
uma escala para mensurá-lo, aplicando a Escala de autoeficácia de quedas
(FES-I-BR) (geronlab.com).
A FES-I-BR mensura o medo de cair na realização de 16 atividades do co-
tidiano. Possui pontuação que é graduada de 1 a 4, na qual 1 significa que o
indivíduo não está preocupado e 4 significa que ele está extremamente preo-
cupado em cair ao realizar determinada atividade. O escore total é de 64
pontos. A pontuação de 23 ou mais pontos indica medo de cair.
Prática de exercício físico
Deve-se verificar se o idoso pratica algum tipo de exercício físico regular, qual
modalidade e frequência. Além disso, é importante saber se ele realiza tratamen-
to fisioterapêutico em outro serviço e, em caso positivo, para qual problema.
►► Amplitude de movimento
Analisa-se a amplitude de movimento articular (ADM) dos membros infe-
riores e superiores, com objetivo de avaliar se há presença de encurtamen-
tos, deformidades ou restrições articulares. A avaliação tem início na posição
decúbito dorsal em posição anatômica. Inicia-se com a ADM ativa, para ser
avaliado o padrão do movimento, presença de dor, quando ocorre o início da
dor e presença de restrição. Após o movimento ativo, deve-se avaliar de forma
passiva, ou seja, sem o auxílio do idoso. Estes movimentos fornecem infor-
mações sobre a integridade das superfícies articulares, cápsulas, ligamentos,
músculos e a sensação final do movimento.
►► Força muscular
Força muscular global
É analisada pelo Teste Muscular Manual.
• Cada grupamento muscular é avaliado e classificado em seis categorias:
◦◦ Grau 0: ausência de movimento, paralisia.
◦◦ Grau 1: esboço de contração.
◦◦ Grau 2: incapaz de mover contra a gravidade, mas realiza o movi-
mento.
74 PROTOCOLO 6

◦◦ Grau 3: vence a força da gravidade sem resistência.


◦◦ Grau 4: vence a força de gravidade com uma pequena resistência.
◦◦ Grau 5: vence a força de gravidade com uma grande resistência.
Observação: Ao ser realizada a avaliação da amplitude de movimento e da
força muscular, deve-se observar o padrão de movimento, presença e local de
dor, intensidade da dor e possíveis alterações que podem estar comprometen-
do a função e/ou dificultando a realização dos testes e escalas. Pode-se com-
plementar a avaliação de acordo com a necessidade e a condição do idoso.
Por exemplo, avaliar o tônus muscular, a propriocepção, a postura, a dor, a
coordenação e outras características (Tabela 2).
Tabela 2. Resumo dos testes complementares após realização da avaliação para início do
tratamento fisioterapêutico
Funções e estruturas Avaliar

Arco de movimento articular Passivo e ativo – uso de goniômetro para verificação do grau de
amplitude

Força muscular Carga máxima (RM)

Tônus muscular Hipotonia


Hipertonia (elástica, plástica)

Propriocepção Cinestesia e artrestesia

Postura Avaliação postural, deformidades

Dor Escala Analógica Visual, Escala de Faces,


Questionário de dor MacGill

Coordenação Índex-índex, índex-nariz, calcanhar-joelho e


diadococinesia

Fonte: Autoria própria (2017).

O teste de carga máxima (1RM) é utilizado para mensurar o máximo de car-


ga em que o idoso pode realizar um movimento concêntrico completo. O teste
consiste na estimativa de uma carga que o idoso conseguiria executar em um
movimento completo. No caso de ele realizar dois movimentos completos, ou
de ele não conseguir realizar o movimento proposto, a carga deve ser alterada
entre 1 e 5 kg visando adequar a sobrecarga. Para ser encontrado o 1RM são
efetuadas no máximo três tentativas com intervalos de 3 a 5 minutos.
O tônus muscular é avaliado verificando a resistência sentida quando uma
determinada parte é movida passivamente. Na hipotonia encontra-se pouca
ou nenhuma resistência e na hipertonia, a resistência encontra-se aumentada
ao movimento passivo.
A propriocepção é a capacidade em reconhecer a localização espacial do
corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição
de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Os testes
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 75
consistem no senso de posição (cinestesia) e movimento (artrestesia) do seg-
mento.
A avaliação postural tem o objetivo de mensurar os desequilíbrios muscu-
lares e articulares que comprometem a postura. Esta avaliação é objetiva, por
meio de raios X e/ou fotografias, e subjetiva, por meio da observação do idoso
na posição ortostática na visão posterior, anterior, perfil e anteroflexão. O ido-
so é avaliado de forma global, pois um desequilíbrio na postura não se apre-
senta de forma isolada, portanto, deve-se verificar critérios de adaptação mor-
fológica e funcional quanto ao equilíbrio e a coordenação dos movimentos do
corpo. A análise do plano deverá estar associada sempre à linha de gravidade.
Os segmentos que não estiverem compatíveis com o eixo perpendicular ao
solo estarão em desequilíbrios. Para a realização desta avaliação o idoso de-
verá estar com trajes de banho, para facilitar a observação.
A dor está presente em grande parte dos idosos e é um fator extremamente
limitante na capacidade funcional.
Roteiro de avaliação da dor:
• duração;
• localização;
• fator desencadeante;
• caráter (queimação, pontada);
• intensidade/gravidade;
• evolução;
• efeito sobre as atividades funcionais;
• fatores agravantes;
• relações com o horário;
• efeitos sobre o sono;
• necessidade do uso de medicamentos.
Pode-se utilizar a escala analógica visual, a escala de faces e o questionário
de dor Macgill (elaborado em 1975 por Melzack).
Força de preensão manual
• Obtida com dinamômetro hidráulico manual do tipo JAMAR. O indiví-
duo deve estar sentado em uma cadeira, com os ombros posicionados
em posição neutra, uma das mãos apoiadas na coxa enquanto o coto-
velo do membro a ser medido é mantido em flexão em 90 graus com o
antebraço em rotação neutra.
• Realizam-se três medidas e calcula-se a média, o resultado considera o
índice de massa corporal e o sexo.
Desempenho físico-funcional
Avaliado pelo Short Physical Performance Battery (SPPB):
76 PROTOCOLO 6

• Instrumento criado nos Estados Unidos por Guralnik, em 1995.


• Composto por três testes que avaliam, na sequência:
◦◦ Equilíbrio estático em pé.
◦◦ Velocidade de marcha em passo habitual, medida em dois tempos
em determinado percurso de ida e volta.
◦◦ Força muscular dos membros inferiores por meio do movimento de
levantar-se da cadeira e sentar-se nela cinco vezes consecutivas e
sem o auxílio dos membros superiores.
Trata-se de um teste objetivo, padronizado e multidimensional, utilizado
para o rastreamento de idosos com risco de desenvolver incapacidades fu-
turas. Possui um escore que varia de 0 a 4, no qual 0 representa o pior e 4 o
melhor desempenho. Para a realização do teste utiliza-se uma cadeira sem
braços e um cronômetro.
O SPPB fornece o tempo de percurso em 4 metros. Como a velocidade da
marcha é um parâmetro importante na avaliação funcional do idoso, aprovei-
ta-se para realizar o cálculo da distância sobre o tempo e assim obter o valor
da velocidade da marcha.
►► Equilíbrio
Pode-se utilizar a Escala de Equilíbrio de Berg para avaliar o equilíbrio pos-
tural. Esta escala procura determinar o desempenho funcional do equilíbrio
postural através de 14 tarefas que envolvem o equilíbrio estático e dinâmico.
A avaliação é feita por meio de observação, e o escore varia de 0 a 4, com
um total de até 56 pontos. De acordo com Shumway-Cook e Woollacott, na
amplitude de 56 a 54 cada ponto a menos é associado a um aumento de 3%
a 4% no risco de quedas; de 54 a 46, a alteração de um ponto é associada a
um aumento de 6% a 8%; e abaixo de 36 pontos, o risco de quedas é quase
de 100%.
É uma escala que atende a várias propostas:
• Descrição quantitativa da habilidade de equilíbrio funcional.
• Acompanhamento do progresso.
• Avaliação da efetividade das intervenções na prática clínica e em pes-
quisas.
Para a aplicação da escala utiliza-se caneta, duas cadeiras sem braços, fita
métrica, fita crepe, degrau ou banquinho e cronômetro.
►► Marcha
Performance-Oriented Mobility Assessment
Trata-se do instrumento mais utilizado para avaliação do equilíbrio e da
marcha de idosos. A avaliação é feita por meio da análise das mudanças de
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 77
posição, das respostas a perturbações e dos movimentos da marcha realizados
durante as atividades do dia a dia.
Caso o idoso apresente alteração de equilíbrio e marcha, a avaliação é com-
plementada após a Avaliação da Fisioterapia com a aplicação de novos testes
e equipamentos, descritos na Tabela 3.
Tabela 3. Testes e equipamentos complementares aplicados mediante alterações de equilíbrio
e marcha
Nomes dos testes e escalas

Timed Get UP and Go (TGUG)


Teste de Alcance Funcional (Functional Reach Test)
Parâmetros espaço-temporais da marcha (GAITRite®)
Índice de marcha dinâmica (DGI)
Baropodometria computadorizada

Fonte: Autoria própria (2017).

Timed Get Up and Go


O TGUG avalia a mobilidade e o equilíbrio. É amplamente utilizado por ser
de fácil aplicação. O teste quantifica, em segundos, a mobilidade funcional
para o indivíduo realizar a tarefa, ou seja, em quantos segundos ele levanta de
uma cadeira, caminha 3 metros, vira, volta rumo à cadeira e senta novamente.
Teste do Alcance Funcional
É uma ferramenta para identificar idosos que apresentam risco de quedas.
O teste é empregado para avaliar a estabilidade antero-posterior, medindo o
deslocamento máximo anterior com o braço estendido, sem mover os pés.
Valores menores que 15 cm representam risco de queda.
Passarela eletrônica GAITRite®
A passarela eletrônica GAITRite® é um sistema de avaliação que automatiza
a medida temporal (tempo) e espacial (distância) dos parâmetros da marcha
através de uma passarela (tapete) conectada a um computador. Contém um
total de 16.128 sensores na sua largura e comprimento, é portátil e pode ser
colocada sobre qualquer superfície plana; requer configuração e tempo de tes-
te mínimo e não exige a colocação de quaisquer dispositivos sobre o paciente.
Índice de Marcha Dinâmica
Este teste avalia o equilíbrio durante a marcha em diferentes contextos. É
constituído de 8 tarefas funcionais que incluem: superfície plana, mudanças
na velocidade da marcha, movimentos horizontais e verticais da cabeça, pas-
sar por cima e contornar obstáculos, giro sobre seu próprio eixo corporal, subir
e descer escadas. O escore máximo é de 24 pontos. O escore menor que 19
indica risco de quedas.
78 PROTOCOLO 6

Baropodometria computadorizada
É um equipamento que realiza uma avaliação biomecânica dos pés identi-
ficando as alterações em repouso e durante a marcha. Avalia também a distri-
buição das pressões do contato do pé com o solo, pressões máximas, medidas
estabilométricas para análise das oscilações corporais e consequente distúr-
bios de equilíbrio.

I CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se considerarmos o fato de que as atividades diárias são determinadas pela
integração de diversas capacidades e habilidades físicas, há muitos testes úteis
como ferramentas para determinar o perfil de funcionalidade do idoso. Além
da possibilidade de predizer possíveis alterações nesse perfil, podem também
ser utilizados para avaliar os efeitos causados por intervenções baseadas em
programas de exercícios.
Após reunir todas as informações necessárias obtidas na avaliação fisiote-
rapêutica funcional do idoso, consegue-se identificar os aspectos referentes
a mobilidade e desempenho, condições primordiais e foco de interesse do
fisioterapeuta.
Adicionalmente ao uso de instrumentos, deve-se ter um roteiro de avaliação
sistematizado, no qual serão coletadas informações da avaliação da fisiotera-
pia que poderão subsidiar as intervenções.
Aspectos importantes na avaliação:
• sexo;
• idade;
• se vive só ou com parentes;
• estado civil;
• escolaridade;
• se trabalha ou se é aposentado;
• história patológica pregressa;
• história da doença atual;
• história social;
• queixa principal;
• presença de dor;
• uso de medicamentos;
• realização de tratamentos fisioterapêuticos anteriores e resultados;
• cognição;
• estado nutricional;
• exames anteriores;
• histórico de quedas;
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 79
• uso de dispositivos de auxílio à marcha e risco de quedas.
Alguns aspectos podem interferir nos resultados do processo de avaliação
do idoso:
• motivação;
• estado de fadiga;
• audição;
• visão;
• ambiente apropriado com poucos ruídos e poucas demandas competi-
tivas;
• cognição;
• treinamento e habilidade do examinador;
Este processo de avaliação inclui:
• explicar os objetivos da avaliação ao idoso e cuidadores/familiares;
• analisar expectativas e resultados prévios do idoso;
• obter as informações, coletar os dados;
• analisar os resultados dos testes;
• explicar o resultado final para o idoso e familiares/cuidadores;
• planejar o plano de tratamento;
• definir tempo e metas para reavaliações.

I REFERÊNCIAS
MOREIRA, V. G.; LOURENÇO, R. A. Prevalence and factors associated with frailty in an
older population from the city of Rio de Janeiro, Brazil: the FIBRA-RJ Study, Clinics, v. 68,
n. 7, p. 979-985, 2013.
PAIXÃO, C. P.; REICHENHEIM, M. E. Uma revisão sobre instrumentos de avaliação do es-
tado funcional do idoso. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 7-19, jan-fev,
2005.
RAMOS, L. R. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em
centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n.
3, p. 793-798, mai-jun, 2003.
ROSA, T. E. C. et al. Fatores determinantes da capacidade funcional entre idosos. Ver.
Saúde Pública, v. 37, n. 1, p. 40-8, 2003.
SHUMWAY-COOK, A, W. Controle motor: teoria e aplicações práticas, 2a ed. São
Paulo: Manole, 2003.
Protocolo 7
AVALIAÇÃO NEUROCOGNITIVA Maristela Vômero Dias
Alina Lebreiro Guimarães
Teldeschi

I INTRODUÇÃO
A Neuropsicologia Clínica pode ser definida como uma ciência aplicada
destinada ao estudo das disfunções cerebrais, por meio de sua expressão com-
portamental. O método investigativo utilizado é a avaliação neuropsicológica,
cuja importância para o entendimento do funcionamento cerebral, da cogni-
ção e do comportamento já está bem estabelecida. (Lezak, et al., 2012)
O escopo da avaliação neuropsicológica é amplo, como se pode observar,
na Tabela 1.
Tabela 1. Objetivos da avaliação neuropsicológica
Para quê? Como?

• Investigando a cognição, o humor e o comportamento, através de


instrumentos padronizados e normatizados.
• Contribuindo para a detecção de deficit cognitivos sutis.
Auxiliar no diagnóstico • Indicando as funções cognitivas, tanto preservadas quanto preju-
dicadas, e o grau de comprometimento cognitivo.
• Detalhando um perfil neuropsicológico, contribuindo para a inves-
tigação e diferenciação das possíveis etiologias.

• Analisando o impacto das alterações identificadas no funciona-


mento diário do paciente.
Acompanhar a evolução
• Monitorando longitudinalmente o funcionamento cognitivo e a
do paciente
funcionalidade do paciente, através de avaliações repetidas, per-
mitindo verificar a eficácia de intervenções realizadas.

• Por meio da escuta do paciente e de informantes próximos, que


convivem com ele.
• Auxiliando o processo de tomada de decisão dos familiares e cui-
Identificar demandas de dadores, passando, de maneira clara e acessível, explicações so-
tratamento e fornecer bre o quadro apresentado e orientações sobre condutas a serem
orientações tomadas no dia a dia.
• No diálogo com profissionais de outras áreas que lidam com o
paciente, visando à manutenção de um acompanhamento/trata-
mento integrado.
AVALIAÇÃO NEUROCOGNITIVA 81
Tabela 1. Objetivos da avaliação neuropsicológica (cont.)
Para quê? Como?

Subsidiar o planejamento • Fornecendo um perfil neuropsicológico detalhado do paciente,


e execução de programas indicando suas capacidades e limitações.
de reabilitação neuropsi-
cológica

• Investigando o funcionamento cognitivo e suas relações com dife-


rentes manifestações clínicas e com as atividades básicas, instru-
Realizar pesquisas mentais e avançadas de vida diária.
• Contribuindo para o desenvolvimento e aprimoramento dos ins-
trumentos e técnicas de avaliação.

Fonte: Autoria própria (2017).

I MÉTODOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA


• Entrevistas.
• Escalas.
• Observações.
• Questionários.
• Instrumentos neuropsicológicos.
A avaliação neuropsicológica utiliza-se de variados instrumentos padroni-
zados para avaliar os diferentes domínios cognitivos (Figura 1), a fim de verifi-
car o funcionamento cerebral de maneira objetiva. Alguns destes instrumentos
serão detalhados mais a frente.
Figura 1. Domínios cognitivos geralmente avaliados

Memória

Velocidade de Funções
processamento execu vas

Inteligência
Praxias Atenção

Percepção Linguagem

Fonte: Autoria própria (2017).


82 PROTOCOLO 7

Vale destacar que a avaliação neuropsicológica é muito mais do que co-


nhecer e aplicar corretamente instrumentos. Distingue-se pelo criterioso racio-
cínio clínico que fundamenta a análise dos dados obtidos à luz da biografia,
história clínica e observação de indivíduo. Tem como alicerce um sólido ar-
cabouço teórico.

I A AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DO IDOSO EM UM CONTEXTO AMBULATORIAL


DE SERVIÇO PÚBLICO

►► Perfil do público atendido


A população direcionada ao ambulatório, em sua maioria, é de idosos frágeis.
O nível socioeconômico e a escolaridade, de modo geral, são baixos.
Encaminhamento
O critério para encaminhamento à avaliação neuropsicológica é clínico e
emerge de consenso entre o médico-assistente e o supervisor, após a realiza-
ção da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Geralmente, são encaminhados
idosos:
• Cujo desempenho nos testes de rastreio iniciais se mostra alterado, mas
com condições de participação em uma avaliação mais abrangente.
• Com alta escolaridade e perda funcional, sem alterações significativas
nos testes de rastreio cognitivo.
• Com queixa subjetiva de declínio cognitivo, corroborada por um infor-
mante colateral de seu convívio.
A avaliação neuropsicológica do idoso deve contemplar:
• A realização de minuciosa entrevista, permitindo a formulação de hipó-
teses diagnósticas iniciais, que ajudem a nortear a escolha dos testes e a
análise dos resultados.
• O uso de instrumentos que possibilitem a investigação do estado mental
e dos diferentes domínios e subdomínios cognitivos.
• O uso de inventários padronizados, voltados para a investigação de sin-
tomas neuropsiquiátricos, queixa de memória, mudanças no funciona-
mento cognitivo e uso de substâncias que possam gerar efeitos adversos
na cognição.
• O uso de inventários padronizados desenvolvidos para a investigação
da funcionalidade do idoso no exercício das atividades de vida diária,
em seus diferentes níveis de complexidade.
É importante destacar que a avaliação do idoso tem as especificidades ine-
rentes à faixa etária e é importante considerar todas as variáveis potencialmen-
AVALIAÇÃO NEUROCOGNITIVA 83
te intervenientes em sua condição atual e que podem, mediante olhar afoito,
sugerir inferências precipitadas e equivocadas em um processo de avaliação.
►► Detalhamento das etapas da avaliação neuropsicológica
É importante considerar que, em um contexto ambulatorial multidisciplinar
de geriatria (Figura 2), a AGA, normalmente, é a primeira a ser realizada. Por-
tanto, instrumentos de rastreio cognitivo, escalas comportamentais e funcio-
nais, dentre outros, muitas vezes são aplicados por outros profissionais. Deste
modo, o neuropsicólogo, antes de receber um idoso encaminhado para a ava-
liação neuropsicológica, deverá ter realizado minuciosa consulta ao prontuá-
rio, a fim de direcionar sua prática.
Figura 2. Etapas da avaliação neuropsicológica no ambulatório
Análise dos dados da avaliação geriátrica ampla, dos
testes de rastreio cognitivo, das escalas funcionais,
comportamentais e do questionário do informante

Entrevista

Avaliação neuropsicológica breve: aplicação do Br-


CAMCOG-R

Correção e análise dos resultados

Discussão do caso com a equipe multidisciplinar

No caso de dúvidas na etapa anterior, o paciente é


chamado de volta para uma avaliação neuropsicológica
complementar

Fonte: Autoria própria (2017).

►► Leitura do prontuário do idoso


• Perguntas que direcionam a busca de informações no prontuário:
◦◦ Porque o idoso foi encaminhado para avaliação?
◦◦ Qual o perfil do idoso?
◦◦ Há alguma suspeita específica?
◦◦ Por quais especialidades médicas ele já passou?
◦◦ Ele já recebeu algum diagnóstico de Transtorno Neurocognitivo e/ou
Neuropsiquiátrico em outro serviço?
Informações a serem coletadas no prontuário:
• idade;
• sintomas neuropsiquiátricos;
• descrição do início e evolução dos sintomas;
84 PROTOCOLO 7

• deficit sensoriais, linguísticos ou motores;


• escolaridade;
• comorbidades clínicas;
• medicamentos em uso;
• uso de álcool e/ou substâncias ilícitas;
• nível socioeconômico;
• envolvimento em atividades sociais;
• contexto e histórico familiar;
• ocupação prévia.
►► Entrevista
• Neste primeiro contato com o idoso, o neuropsicólogo deve:
◦◦ Esforçar-se para estabelecer uma atmosfera agradável, buscando
amenizar angústias e ansiedades que situações de avaliação costu-
mam gerar, para que o examinando se sinta confortável para relatar
as questões que o preocupam.
◦◦ Ser capaz de explicar de maneira clara os objetivos da avaliação e
os procedimentos a serem realizados, procurando usar outros termos
para referir-se a estes, como tarefas e atividades, dado o impacto ne-
gativo que o uso de alguns (técnicos) pode gerar.
◦◦ Demonstrar empatia e disponibilidade para esclarecer qualquer tipo
de dúvida que surja.
Por meio da entrevista clínica, o neuropsicólogo pode investigar a capaci-
dade do idoso de transmitir seu histórico com riqueza de detalhes. Os dados
colhidos na interlocução com o idoso fornecem um norte para todo o desen-
rolar do processo.
Listamos a seguir exemplos de perguntas que podem ser feitas durante a
entrevista para auxiliar a investigação de aspectos cognitivos e comportamen-
tais, capacidades prévias e juízo de morbidade, atentando para os aspectos
listados:
◦◦ O que você sentia, quando procurou o médico? Qual era a sua queixa?
◦◦ Como isso tem impactado sua vida? [É importante investigar a forma
como os sintomas aparecem no cotidiano. Verificar se a evolução é
rápida ou lenta, pois a cronologia dos eventos que motivaram a busca
de atendimento é muito importante. Receitas e resultados de exames
solicitados, com suas respectivas datas, podem ajudar a reconstruir o
histórico dos acontecimentos, na ausência de dados precisos.]
◦◦ Houve alguma mudança de hábito?
◦◦ Sente-se mais irritado, sem paciência ou com o “pavio curto”?
AVALIAÇÃO NEUROCOGNITIVA 85
◦◦ Como é a sua rotina? Que atividades você costuma realizar ao longo
de um dia?
◦◦ Qual o tipo de ocupação exercida durante a vida?
◦◦ Parou de trabalhar por tempo de serviço ou porque estava apresen-
tando alguma dificuldade?
◦◦ Possui educação formal? [É preciso explorar a qualidade do processo
de escolarização, pois muitos dos deficit apresentados podem ser se-
cundários à precariedade desse processo ou mesmo à sua ausência.
Vale lembrar que a taxa de analfabetismo na população idosa brasi-
leira é elevada].
◦◦ Apresenta dificuldades relacionadas à memória e atenção? [Se sim,
peça exemplos, pergunte qual foi a época em que surgiram e se a
frequência está aumentando.]
◦◦ Consegue fazer um acompanhamento adequado dos gastos mensais?
Houve alguma mudança no padrão de gastos e controle financeiro?
[Funções executivas]
◦◦ Consegue planejar viagens ou atividades de lazer? [Funções execu-
tivas]
◦◦ Tem dificuldade para se lembrar de eventos futuros, como por exem-
plo, data e horário de consultas, data de aniversário de parentes e
amigos? [Memória prospectiva]
◦◦ Tem dificuldade para lembrar o nome de coisas e pessoas? [Memória
e evocação lexical]
◦◦ Já apresentou dificuldades para se localizar em um local conhecido?
Já precisou pedir ajuda para voltar para casa? [Orientação visoespa-
cial]
◦◦ Já apresentou dificuldades para reconhecer pessoas conhecidas?
[Gnose]
◦◦ Tem dificuldade de manusear utensílios/instrumentos/aparelhos que
costumava usar? Para se vestir ou para combinar as peças do vestuá-
rio? Tem dificuldade para se maquiar? [Praxia]
Aspectos que podem ser observados durante a conversação:
• organização do pensamento;
• parafasias semânticas ou fonêmicas;
• compreensão;
• dismnésia;
• fluxo de ideias;
• prosódia;
• perseveração;
• dispersão;
86 PROTOCOLO 7

• coerência;
• circunstancialidade;
• tangencialidade;
• deficit auditivos;
• anomia;
• circunlóquio;
• lentidão;
• pausas na fala.

I AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA BREVE


Nesta etapa, é aplicada a versão brasileira do Cambridge Cognitive Exami-
nation Revised (Br-CAMCOG-R), instrumento de avaliação cognitiva inserido
no Cambridge Examination for Mental Disorders of the Elderly (CAMDEX-R).
Esta bateria neuropsicológica breve fornece uma medida sumária da cognição
global (Tabela 2), avaliando funções como orientação, atenção, linguagem,
memória, praxia, abstração, percepção, cálculo e funções. (Paradela, et al.,
2009)
Tabela 2. Funções avaliadas pelo Br-CAMCOG-R
Br-CAMCOG-R

Temporal Data, estação do ano; local, cidade, duas ruas próximas,


Orientação
Espacial estado.

Balançar a cabeça, tocar a orelha, tocar os ombros; lei-


Compreensão
Linguagem tura, conceituar ponte e opinião, fluência verbal cate-
Expressão
goria animais, copiar um nome e endereço.

Dizer datas da 1ª e 2ª Guerras, nomear pessoas impor-


Remota
tantes, dizer nomes do presidente atual e antecessor e
Memória Recente
do governador atual, dizer uma notícia recente, reco-
Aprendizagem
nhecimento e evocação de figuras.

Atenção − Contagem regressiva de 20 até 1.

Cálculo − Subtrações de 7, contar dinheiro.


AVALIAÇÃO NEUROCOGNITIVA 87
Tabela 2. Funções avaliadas pelo Br-CAMCOG-R (cont.)
Br-CAMCOG-R

Construtiva Desenho do relógio; cópia do pentágono, da espiral e


Praxia
Cópia da casa em 3 dimensões.

Pensamento abstrato
Funções Fluência ideacional Semelhança entre objetos, utilidades diferentes para
executivas Fluência verbal uma garrafa, teste com formas geométricas coloridas.
Raciocínio visual

Reconhecer pessoas famosas e fotos de objetos em ân-


Percepção Visual
gulos não usuais.

Fonte: Adaptado de Paradela et al. (2009).

I CORREÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


É importante ressaltar que os escores obtidos devem ser analisados e inter-
pretados de maneira integrada, frente ao comportamento observado durante
a avaliação e aos dados colhidos nas entrevistas que precedem a avaliação
neuropsicológica.
A correção dos instrumentos deve ser realizada com bastante atenção, sem-
pre levando em consideração os critérios disponíveis nos manuais originais.
Tendo em mãos os escores brutos totais dos índices avaliados, será feita uma
comparação com uma tabela normativa, na qual todos os escores de um ins-
trumento são distribuídos por níveis de desempenho, em geral de acordo com
variáveis como idade e escolaridade. Desta forma, é possível saber se o de-
sempenho de um indivíduo se encontra dentro dos limites de variação da
normalidade ou não, ao compará-lo com um grupo definido.
A escolha da norma a ser utilizada é de extrema importância. O neuropsicó-
logo deve ser capaz de avaliar se o grupo normativo possui características so-
ciodemográficas compatíveis com o idoso avaliado, já que fatores como nível
socioeconômico e grau de escolaridade costumam apresentar forte correlação
com o desempenho em testes neuropsicológicos.
Comparar, pois, o desempenho de um indivíduo, com o da média de uma
população é uma das formas para se determinar se uma função cognitiva está
preservada ou comprometida. Entretanto, pode-se comparar, longitudinalmen-
te, também, o próprio desempenho do paciente – se progrediu, regrediu ou
está estável.
88 PROTOCOLO 7

Embora seja imprescindível a utilização de instrumentos padronizados na


avaliação, sua interpretação deve ser feita à luz da biografia do indivíduo ava-
liado, integrando dados quantitativos e qualitativos. Jamais se deve esquecer
de que o ser humano é mais complexo do que os dados que produz, não de-
vendo ser reduzido a eles.
É importante considerar:
• A validade ecológica do processo de avaliação: o grau em que os resul-
tados obtidos na clínica estão correlacionados com a vida real.
• A realização de uma nova avaliação neuropsicológica deve respeitar um
intervalo mínimo de 6 meses a 1 ano, a fim de minimizar um possível
viés de aprendizagem.

I DISCUSSÃO DO CASO COM A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR


A compreensão da complexidade e multiplicidade de disfunções que po-
dem acometer o idoso, a detecção precoce e a formulação de um diagnóstico
diferencial requerem a participação de uma equipe multidisciplinar integrada.
Nesta etapa os profissionais podem fazer as seguintes perguntas:
• Ainda há dúvidas sobre o quadro clínico?
• Existem fatores de confusão que deixam dúvidas sobre as possíveis ori-
gens dos deficit apresentados? Se sim, o que pode ser feito? Solicitar exa-
mes laboratoriais e de imagem? Aplicar novos testes? Entrar em contato
com familiares?

I APROFUNDAMENTO DA AVALIAÇÃO
Nesta etapa, algumas funções cognitivas podem ser avaliadas de maneira
mais aprofundada.
Vale frisar que, em um contexto de saúde pública, em geral, a escassez
de recursos inviabiliza a utilização de instrumentos neuropsicológicos comer-
cializados. A reprodução desses materiais, sem autorização, caracteriza ação
ilegal, violando direitos autorais. Dessa forma, o neuropsicólogo deve recorrer
ao uso de instrumentos padronizados de domínio público para realizar seu
trabalho (Tabela 3), complementando-o com outras atividades que permitam
uma avaliação ecológico-qualitativa do paciente.
AVALIAÇÃO NEUROCOGNITIVA 89
Tabela 3. Alguns instrumentos utilizados para aprofundar a investigação
Domínios cognitivos Subdomínios Instrumento

Atenção Atenção dividida Trilhas parte B

Memória de curto prazo, aquisição Teste de aprendizagem auditivo-


(aprendizagem), memória de longo verbal de Rey (RAVLT); Bateria Bre-
Memória prazo, retenção e reconhecimento ve de Rastreio Cognitivo

Memória incidental Bateria Breve de Rastreio Cognitivo

Flexibilidade cognitiva Trilhas parte B e FAB

Ativação, automonitoramento, me-


Teste de Fluência verbal com as le-
Funções executivas mória operacional, Inibição, elabo-
tras F-A-S; FAB
ração de estratégias

Abstração FAB

Teste de Fluência verbal com as le-


Acesso lexical
Linguagem tras F-A-S

Nomeação Teste de nomeação de Boston

Destreza visomotora - Trilhas parte A

Fonte: Autoria própria (2017).


Legenda: FAB: Bateria de Avaliação Fontal.

Como outros exames, a avaliação neuropsicológica também tem limites;


por conseguinte, uma postura humilde do profissional que a realiza é bem-
vinda, buscando formação permanente e tendo ciência de que se trata de um
exame complementar cujos resultados devem ser interpretados em conjunto
com outras informações e exames do paciente.

I REFERÊNCIAS
CAIXETA, L.; TEIXEIRA, A. L. (Org.). Neuropsicologia geriátrica: neuropsiquiatria cog-
nitiva em idosos. Porto Alegre: Artmed, 2014.
CHAVES, M. L. F. et al. Doença de Alzheimer: avaliação cognitiva, comportamental e fun-
cional. Dement. Neuropsychol., São Paulo, v. 5, Suppl 1, p. 21-33, jun. 2011.
DE PAULA, J. J. et al. Screening for executive dysfunction with the frontal assessment bat-
tery: psychometric properties analysis and representative normative data for Brazilian older
adults. Psicologia em Pesquisa UFJF, v. 7, n.1, p. 89-98, jan/jun. 2013.
LEZAK, M. D. et al. Neuropsychological Assessment. 5. ed. New York: Oxford Univer-
sity Press, 2012. E-book.
PARADELA, E. M. P.; LOPES, C. de S.; LOURENCO, R. A. Adaptação para o português do
Cambridge Cognitive Examination-Revised aplicado em um ambulatório público de geria-
tria. Cadernos de Saúde Pública, v. 25, n. 12, p. 2562-2570, dez. 2009.
SEÇÃO 2
MANUAL DE INSTRUÇÕES DOS
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
APRESENTAÇÃO DA SEÇÃO

Esta seção tem como objetivo apresentar instruções que orientem o leitor a
seguir um padrão para a realização de um atendimento sistematizado. O pre-
sente trabalho serve como eixo das atividades e guia das rotinas específicas,
sendo o ponto de referência no expediente diário de uma equipe. Este guia
contém os instrumentos utilizados na avaliação que ocorre quando o idoso
tem seu primeiro atendimento no ambulatório, bem como aqueles utilizados
nas consultas sequenciais do Serviço de Geriatria Professor Mario A. Sayeg de
Cuidado Integral à Pessoa Idosa (CIPI).
O Serviço de Geriatria é uma unidade de atenção secundária que funciona
na Policlínica Piquet Carneiro (PPC) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) e tem como objetivos fazer o rastreio de deficit funcionais e
cognitivos a partir de uma avaliação geriátrica ampla, realizar o diagnóstico e
mapear os principais problemas, bem como estabelecer um plano terapêutico
voltado para a reabilitação da capacidade funcional.
A sequência do processo de trabalho foi elaborada a partir de uma avalia-
ção inicial com a aplicação dos instrumentos que analisam brevemente as
atividades de vida diária, o estado cognitivo, o humor e o estado nutricional.
Tais avaliações podem ser realizadas por qualquer membro da equipe multi-
disciplinar, desde que tenha passado por treinamento para a padronização da
aplicação. Após esta etapa inicial, o idoso segue para consultas mais acuradas
que são realizadas por uma equipe mínima.
Como toda prática interdisciplinar pressupõe o envolvimento de todos os
integrantes da equipe com decisões consensuais, esse conjunto de dados co-
letados são sintetizados e levados para uma discussão de caso, quando outros
profissionais se incorporam para a inserção de avaliações complementares
que assegurem um diagnóstico preciso e um plano de cuidados adequado à
singularidade de cada indivíduo em acompanhamento no serviço.
Instruções do Protocolo 1
TRIAGEM Maria Angélica dos Santos
Sanchez

I INTRODUÇÃO
A triagem é parte da avaliação multidisciplinar inicial (AMI). Esta consiste na
avaliação por instrumentos de rastreio, aplicados por um integrante da equipe,
independente de sua área profissional, visto que se trata do uso de instrumen-
tos de domínio público, não sendo da alçada específica de determinada área
de atuação. Os resultados destes testes servem para avaliar a capacidade fun-
cional do indivíduo que será acompanhado no serviço e assim direcionar o
rumo das condutas posteriores.
Antes de iniciar a aferição por instrumentos, é necessário preencher uma fi-
cha de identificação contendo dados sociodemográficos e outras informações
que servirão para um perfil inicial do usuário.

I IDENTIFICAÇÃO DO USUÁRIO
O idoso ingressa no serviço por meio de consulta agendada e fornece infor-
mações para um profissional administrativo. Trata-se da folha de rosto com os
itens 1 a 10.
TRIAGEM 95

Data: _____/ _____/ _____ Nº do prontuário CIPI e PPC

I) IDENTIFICAÇÃO, ACOMPANHAMENTO DE SAÚDE E DEMANDAS

1. Nome: ________________________________2. Idade:_________anos

3. Data de nascimento: _____/ _____/ _____ 4. Naturalidade: _____________________________

5. Sexo: ( ) (1) masculino (2) feminino

Endereço: _______________________________________________________________________

CEP:______________8. Bairro:______________________9. Cidade:_________________________



10. Telefones de contato: ___________________________________________________________

Item 1. Preencher com o nome completo sem abreviaturas. Item 2. Indicar


a idade conforme consta no documento de identificação. Item 3. Informar a
data de nascimento que consta no documento. Item 4. Estado onde o idoso
nasceu (utilizar o que consta em seu documento). Item 5. Preencher 1 ou 2 no
campo em aberto. Item 6. Informar o endereço completo (rua, número e com-
plemento, se for o caso). Item 7. Informar o CEP de acordo com o comprovan-
te de residência, bem como o bairro e a cidade, itens 8 e 9, respectivamente.
Item 10. Pedir, além do telefone da casa do idoso, outros telefones de pessoas
que tenham contato diário com ele.
A partir do item 11, o preenchimento deverá ser realizado pelo primeiro
profissional que atender o idoso.

11. Quem informa? ( ) (1) usuário (2) acompanhante (3) ambos

12. Nome do acompanhante:________________________________13. Vínculo:_____________

14. Situação previdenciária: ( ) (1) aposentado (2) pensionista (3) aposentado e pensionista (4) outros

15. Escolaridade: ________ anos

16. Qual o motivo pelo qual o(a) sr.(a) procurou o serviço: _________________________________

17. É acompanhado em algum outro serviço? ( ) (1) sim (2) não

18. Qual especialidade? ____________________________________________________________

19. Tem algum plano de saúde privado: ( ) (1) sim (2) não

20. Qual? _______________________________________________________________________

Item 11. Marcar no campo em aberto quem responde às questões com coe-
rência. Item 12 Preencher com o nome completo do principal acompanhante
96 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 1

do paciente. Item 13. Explicitar qual o vínculo dela com o idoso. Item 14.
Informar a situação de vínculo com a previdência. Item 15. Perguntar durante
quantos anos o idoso estudou. Item 16. Descrever exatamente o motivo ex-
plicitado pelo idoso para procurar o serviço. Item 17. Perguntar se é acompa-
nhado regularmente em outro serviço. Item 18. Destacar a especialidade na
qual tem atendimento regular. Item 19. Perguntar se ele tem plano de saúde.
Item 20. Escrever qual o plano. Nestas duas questões é importante esclarecer
para o idoso que esta informação é para o caso de ele precisar fazer exames
que não estejam sendo feitos no serviço público.
No item 21 o profissional deve anotar todos os escores dos testes aplicados.
Esta parte é imprescindível para dar sequência ao restante da avaliação.

21. Escore dos testes:

a) MEEM _________________ b) ABVD __________________ c) AIVD ___________________

d) EDG ___________________ e) MNA ___________________ f) Velocidade da Marcha


(metros/segundos) _________

Obs: Instruções sobre a MNA e Velocidade da Marcha encontram-se descri-


tas nas instruções dos protocolos 5 e 6 respectivamente.
No item 22 deve-se anotar quais foram os encaminhamentos realizados.
Encaminhado para:

a) Serviço social ( ) _____/______/______

b) Avaliação médica ( ) _____/______/______

c) Avaliação fisioterapêutica ( ) _____/______/______

d) Nutrição ( ) _____/______/______

e) Psicoterapia ( ) _____/______/______

f) Neuropsicologia ( ) _____/______/______

g) Rede de saúde ( ) _____/______/______

h) Outros ( ) _____/______/______
qual: ___________________________________
TRIAGEM 97
Terminada esta entrevista, o profissional deverá aplicar os seguintes testes
na ordem que segue.

I INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL


• ABVD – Escala de Atividades Básicas de Vida Diária de Katz.
• AIVD – Escala de Atividade Instrumentais de Vida Diária de Lawton.
• MEEM – Miniexame do Estado Mental.
• EDG – Escala de Depressão Geriátrica. Esta escala deverá ser aplicada.
somente em idosos cujo escore do MEEM seja superior a 12 pontos.
• MNA – Miniavaliação Nutricional.
• Teste de Velocidade de Marcha.
►► Escala de Atividades Básicas de Vida Diária
Também conhecida como Escala de Katz, é uma das mais utilizadas para
avaliar o desempenho nas atividades de vida diária. Foi desenvolvida para
a avaliação de idosos e para predizer o prognóstico nos doentes crônicos.
Consta de seis itens que medem o desempenho do indivíduo nas atividades
de autocuidado, os quais obedecem a uma hierarquia de complexidade, da
seguinte forma: alimentação, controle de esfíncteres, transferência, higiene
pessoal, capacidade de se vestir e tomar banho (Katz, 1963). No Brasil, após
longo tempo de uso de uma tradução livre, o instrumento teve algumas de
suas propriedades psciométricas estudadas e apresentou uma concordância de
78,9% e o alfa de Cronbach variou de 0,80 a 0,92 (Lino et al., 2008).
Itens da Escala de Atividades Básicas de Vida Diária
Área de funcionamento

1. Tomar banho (leito, banheira ou chuveiro)


(I) Não recebe ajuda (entra e sai da banheira sozinho, se este for o modo habitual de tomar banho)
(I) Recebe ajuda para lavar apenas uma parte do corpo (como, por exemplo, as costas ou uma perna)
(D) Recebe ajuda para lavar mais de uma parte do corpo, ou não toma banho sozinho

2. Vestir-se (pega roupa, inclusive peças íntimas, nos armários e gavetas, e manuseia fecho, inclusive
os de órteses e próteses, quando forem utilizadas)
(I) Pega as roupas e veste-se completamente, sem ajuda
(I) Pega as roupas e veste-se sem ajuda, exceto para amarrar os sapatos
(D) Recebe ajuda para pegar as roupas ou vestir-se, ou permanece parcial ou completamente sem
roupa
98 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 1

3. Uso do vaso sanitário (ida ao banheiro ou local equivalente para evacuar e urinar; higiene íntima
e arrumação das roupas)
(I) Vai ao banheiro ou lugar equivalente, limpa-se a ajeita as roupas sem ajuda (pode ser objeto para
apoio como bengala, andador ou cadeira de rodas e pode usar comadre ou urinol à noite, esvazian-
do-o de manhã)
(D) Recebe ajuda para ir ao banheiro ou local equivalente, ou para se limpar, ou para ajeitar as rou-
pas após evacuação ou micção, ou para usar a comadre ou urinol à noite
(D) Não vai ao banheiro ou equivalente para eliminação fisiológica

4. Transferências
(I) Deita-se e sai da cama, senta-se e levanta-se da cadeira sem ajuda (pode estar usando objeto
para apoio como bengala, andador)
(D) Deita-se e sai da cama e/ou senta-se e levanta-se da cadeira com ajuda
(D) Não sai da cama

5. Continência
(I) Controla inteiramente a micção e a evacuação
(D) Tem “acidentes” ocasionais
(D) Necessita de ajuda para manter o controle da micção e evacuação; usa cateter ou é incontinente

6. Alimentação
(I) Alimenta-se sem ajuda
(I) Alimenta-se sozinho, mas recebe ajuda para cortar carne ou passar manteiga no pão
(D) Recebe ajuda para alimentar-se, ou é alimentado parcialmente ou completamente pelo uso de
cateteres ou fluídos intravenosos

0: Independente em todas as seis funções; 1: Independente em cinco funções e dependente em uma função;
2: Independente em quatro funções e dependente em duas funções; 3: Independente em três funções
e dependente em três funções; 4: Independente em duas funções e dependente em quatro funções; 5:
Independente em uma função e dependente em cinco funções; 6: Dependente em todas as seis funções.
Legenda: I: independente; D: dependente.

►► Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária


Escala criada por Lawton & Brody em 1969, amplamente utilizada, tanto na
prática clínica como em pesquisa em todo o mundo, que avalia sete atividades:
uso do telefone, locomover-se usando um meio de transporte, fazer compras,
realizar trabalhos domésticos, preparo de refeições, uso de medicamentos e
manejo das finanças. Há três opções de resposta: independente, necessida-
de de ajuda parcial ou incapacidade para realização da tarefa. A pontuação
varia de 3 a 1 para cada item, sendo que a independência recebe a maior
pontuação. O escore máximo é 21 pontos quando o indivíduo for totalmente
independente. Não há ponto de corte estabelecido, mas sim uma avaliação
qualitativa da capacidade funcional do idoso e que deve ser acompanhada de
uma avaliação subjetiva que permita analisar as circunstâncias da perda fun-
cional. Não foram encontrados, no Brasil, estudos de adaptação transcultural.
TRIAGEM 99
Itens da Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária
1. Telefone
(3) Capaz de ver os números, discar, receber e fazer ligações sem ajuda
(2) Capaz de ver responder o telefone, mas necessita de um telefone especial ou de ajuda para
encontrar os números ou para discar
(1) Completamente incapaz no uso do telefone
2. Viagens
(3) Capaz de dirigir seu próprio carro ou viajar sozinho de ônibus ou táxi
(2) Capaz de viajar exclusivamente acompanhado
(1) Completamente incapaz de viajar
3. Compras
(3) Capaz de fazer compras, se fornecido transporte
(2) Capaz de fazer compras, exclusivamente acompanhado
(1) Completamente incapaz de fazer compras
4. Preparo de refeições
(3) Capaz de planejar e cozinhar refeições completas
(2) Capaz de preparar pequenas refeições, mas incapaz de cozinhar refeições completas sozinho
(1) Completamente incapaz de preparar qualquer refeição
5. Trabalho doméstico
(3) Capaz de realizar trabalho doméstico pesado (como esfregar o chão)
(2) Capaz de realizar trabalho doméstico leve, mas necessita de ajuda nas tarefas pesadas
(1) Completamente incapaz de realizar qualquer trabalho doméstico
6. Medicações
(3) Capaz de tomar os remédios na dose certa e na hora certa
(2) Capaz de tomar remédios, mas necessita de lembretes ou de alguém que os prepare
(1) Completamente incapaz de tomar remédios sozinho
7. Dinheiro
(3) Capaz de administrar necessidades de compra, preencher cheques e pagar contas
(2) Capaz de administrar necessidades de compra diária, mas necessita de ajuda com cheques e no
pagamento de contas
(1) Completamente incapaz de administrar dinheiro
Total:

Na sequência dos instrumentos, aplica-se o Miniexame do Estado Mental


(MEEM).
►► Miniexame do Estado Mental
Este é o instrumento de rastreio cognitivo mais utilizado em todo o mundo,
validado em diversos países. Foi concebido por Folstein et al., em 1975, para
avaliação cognitiva de pacientes psiquiátricos. Possui dezenove itens distri-
buídos pelos seguintes domínios cognitivos: orientação temporal (5 pontos),
orientação espacial (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos), atenção e
cálculo (5 pontos), evocação das três palavras (3 pontos), linguagem (8 pontos)
e capacidade construtiva visual (1 ponto). O escore do MEEM varia de zero
até o máximo de 30 pontos, que corresponde a melhor capacidade cognitiva.
Sofre influência da escolaridade, sendo a versão utilizada no serviço validada
por Lourenço e Veras, em 2005, com os seguintes pontos de corte: 18/19 para
100 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

analfabetos e 23/24 para indivíduos com mais de 1 ano de escolaridade. O


tempo de aplicação varia entre 10 e 20 min.
Instruções
• Aplicar o questionário abaixo de forma clara e objetiva, conforme as
orientações nele descritas.
Itens do Miniexame do Estado Mental
ORIENTAÇÃO NO TEMPO Cada resposta correta nesta
Em que ano nós estamos? seção vale 1 ponto; total da se-
Em que estação do ano nós estamos? Em que mês nós estamos? ção, 5 pontos.
Em que dia da semana nós estamos? Em que dia do mês nós es-
tamos?

ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO Cada resposta correta nesta


Em que estado nós estamos? Em que cidade nós estamos? seção vale 1 ponto; total da se-
Em que bairro nós estamos? (parte da cidade ou rua próxima) ção, 5 pontos.
O que é este prédio em que estamos? (nome, tipo ou função)
Em que andar nós estamos?

REGISTRO Cada resposta correta desta


Agora, preste atenção. Eu vou dizer três palavras e o(a) sr(a). vai seção vale 1 ponto; total da se-
repeti- las quando eu terminar. Memorize-as, pois eu vou pergun- ção, 3 pontos.
tar por elas, novamente, dentro de alguns minutos. Certo? As pa-
lavras são: REAL [pausa], MALA [pausa], CASA [pausa].
Agora, repita as palavras para mim. [Permita 5 tentativas, mas
pontue apenas a primeira.]
ATENÇÃO E CÁLCULO Respostas corretas: 93; 86; 79;
Agora eu gostaria que o(a) sr(a). subtraísse 7 de 100 e do resul- 72; 65. Cada resposta correta
tado subtraísse 7. Então, continue subtraindo 7 de cada resposta desta seção vale 1 ponto; total
até eu mandar parar. Entendeu? [pausa] Vamos começar: quanto do teste, 5 pontos.
é 100 menos 7? Dê 1 ponto para cada acerto. Se não atingir o Se não atingir o escore máxi-
escore máximo, aplique o teste de soletração da palavra MUNDO. mo, aplique o teste de soletra-
ção da palavra MUNDO. Total
Soletre a palavra MUNDO. Corrija os erros de soletração e então do teste, 5 pontos.
peça: Agora, soletre a palavra MUNDO de trás para frente. [Dê 1 Considere para pontuação des-
ponto para cada letra na posição correta. Cada resposta correta ta seção, o maior resultado ob-
desta seção vale 1 ponto; total da seção, 3 pontos. Considere o tido nos dois testes.
maior resultado.]
MEMÓRIA DE EVOCAÇÃO Respostas corretas: REAL;
Peça: Quais são as 3 palavras que eu pedi que o(a) sr(a). memori- MALA; CASA. Cada resposta
zasse? [Não forneça pistas.] correta desta seção vale 1 pon-
to; total da seção, 3 pontos.
LINGUAGEM Respostas corretas: lápis; reló-
[Aponte o lápis e o relógio e pergunte:] O que é isto? (lápis) gio. Cada resposta correta des-
O que é isto? (relógio) ta seção vale 1 ponto; total da
seção, 2 pontos.
Agora, eu vou pedir para o(a) sr(a). repetir o que eu vou dizer, Esta seção vale 1 ponto.
certo? Então, repita: “Nem aqui, nem ali, nem lá”.
AVALIAÇÃO SOCIAL 101
Itens do Miniexame do Estado Mental (cont.)
Agora, ouça com atenção porque eu vou pedir para o(a) sr(a). fa- Cada tarefa correta desta seção
zer uma tarefa. [pausa] Preste atenção, pois eu só vou falar uma vale 1 ponto; total da seção, 3
vez. [pausa] Pegue este papel com a mão direita [pausa]; com as pontos.
duas mãos, dobre-o ao meio uma vez [pausa] e, em seguida, jo-
gue-o no chão.
Por favor, leia isto e faça o que está escrito no papel. [Mostre ao Esta seção vale 1 ponto.
examinado a folha com o comando]:
Feche os olhos.
Peça: Por favor, escreva uma sentença. Esta seção vale 1 ponto.
Se o paciente não responder, peça: Escreva sobre o tempo.
CAPACIDADE CONSTRUTIVA VISUAL Esta seção vale 1 ponto.
Peça: Por favor, copie este desenho.

TOTAL: Total máximo: 30 pontos.

Nos indivíduos cujos escores forem superiores a 12, aplica-se a Escala de


Depressão Geriátrica
►► Escala de Depressão Geriátrica
A EDG com 15 itens (EDG-15) é uma versão curta da escala original e foi
elaborada por Sheikh & Yesavage15 (1986), a partir dos itens que mais forte-
mente se correlacionavam com o diagnóstico de depressão. Esses itens, em
conjunto, mostraram boa acurácia diagnóstica, com sensibilidade, especifi-
cidade e confiabilidade adequadas. Essa versão reduzida é bastante atraente
para rastreamento dos transtornos do humor em ambulatórios gerais, assim
como em outros ambientes não especializados, pois o tempo necessário para
a sua administração é menor.
Em estudo realizado por Paradela, et al. (2005) foi sugerido o ponto 5/6
como o mais adequado, privilegiando a sensibilidade, a despeito de uma pe-
quena perda de especificidade (Tabela 1).
Tabela 1. Resultados de sensibilidade e especificidade de alguns pontos de corte da EDG-15.
Rio de Janeiro, 2005.
Ponto de corte Sensibilidade Especifidade
(4/5) 86,5% 63,3%
(5/6) 81,1% 71,1%
(6/7) 73,3% 78,3%
Fonte: Paradela, et al (2005).
102 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

Escala de Depressão Geriátrica


Perguntas Respostas

1. O(a) sr(a). está basicamente satisfeito(a) com sua vida? (Não)

2. O(a) sr(a). deixou muitos de seus interesses e atividades? (Sim)

3. O(a) sr(a). sente que sua vida está vazia? (Sim)

4. O(a) sr(a). se aborrece com frequência? (Sim)

5. O(a) sr(a). se sente de bom humor a maior parte do tempo? (Não)

6. O(a) sr(a). tem medo que algum mal vá lhe acontecer? (Sim)

7. O(a) sr(a). se sente feliz a maior parte do tempo? (Não)

8. O(a) sr(a). sente que sua situação não tem saída? (Sim)

9. O(a) sr(a). prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? (Sim)

10. O(a) sr(a). se sente com mais problemas de memória do que a maioria? (Sim)

11. O(a) sr(a). acha maravilhoso estar vivo? (Não)

12. O(a) sr(a). se sente um inútil nas atuais circunstâncias? (Sim)

13. O(a) sr(a). se sente cheio de energia? (Não)

14. O(a) sr(a). acha que sua situação é sem esperança? (Sim)

15. O(a) sr(a). sente que a maioria das pessoas está melhor que o(a) Sr(a).? (Sim)

Total

Avaliação:
0 = Quando a resposta for diferente do exemplo entre parênteses.
1 = Quando a resposta for igual ao exemplo entre parênteses.
Total > 5 = suspeita de depressão

Encerrado este protocolo, o usuário é encaminhado para a segunda etapa da


avaliação multidisciplinar inicial (AMI). Esta é registrada em formulário único
de forma que todos os profissionais tenham acesso às informações previamen-
te colhidas. Ao final é necessário um resumo com as principais impressões e
condutas dos profissionais.
A estruturação de equipe mínima varia conforme a disponibilidade de re-
cursos. A AMI, na proposta apresentada, contempla a avaliação realizada por
uma equipe mínima, seguindo as instruções contidas nos protocolos 2, 4 e 6.
Nesta seção o guia de instruções segue com uma equipe composta por assis-
tente social, médico e fisioterapeuta com o objetivo de elaborar o diagnósti-
co clínico, funcional e cognitivo, além de elencar os principais problemas e
colher as impressões sociais mais relevantes. (Ver Apêndice 1 ― Diagrama da
Avaliação Geriátrica Ampla)
AVALIAÇÃO SOCIAL 103
Ao final da avaliação, é importante fazer um resumo das principais impres-
sões da equipe, bem como estabelecer condutas e padrões de acompanha-
mento que servirão como guia para orientar o fluxo do usuário no serviço.
(Ver Apêndice 2 ― Instruções de impressões, condutas e acompanhamento).
De posse deste conjunto de dados, o caso é discutido com toda a equipe para
a tomada de decisões. (Ver Apêndice 3 ― Elaboração do plano de cuidados)

I REFERÊNCIAS
LAWTON, M. P. et al. Assessment of older people: self-maintaining and instrumental activ-
ities of daily living. Gerontologist, v. 9, n. 3, p. 179-86, 1969.
LINO, V. T. S. et al. Adaptação transcultural da Escala de Independência em Atividades da
Vida Diária (Escala de Katz). Cad. Saúde Pública, v. 24, n. 1, p. 103-112, 2008.
LOURENÇO, R. A. et al. Mini-Exame do Estado Mental: características psicométricas em
idosos ambulatoriais [Mini-Mental State Examination: psychometric characteristics in el-
derly outpatients]. Rev Saúde Pública, v. 40, p. 712-719, 2006.
MACHADO, R. S. P. Validade da versão em português da Mini Avaliação Nutricional /
Renata Santos Pereira Machado; orientação Prof. Dr. Renato Veras, Rio de Janeiro, 2014.
114 p. Tese (doutorado). Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Faculdade de Ciências
Médicas, 2014.
PARADELA, E. M. P.; LOURENÇO, R. A.; VERAS, R. P. Validação da escala de depressão
geriátria em um ambulatório geral. Rev Saúde Pública, v. 39, n. 6, p. 918-923.
YESAVAGE, J. A. et al. Development and validation of a geriatric depression screening
scale: a preliminary report. J Psichiatri Res, v. 17, n. 1, p. 37-49.
Instruções do Protocolo 2
AVALIAÇÃO SOCIAL Maria Angélica dos Santos Sanchez
Débora Regina de Oliveira Silveira

I INTRODUÇÃO
Na avaliação social busca-se, por meio de entrevista, identificar os princi-
pais determinantes que perpassam o processo saúde-doença, e que interferem
na condição de vida dos idosos e suas famílias. A partir daí, são elaboradas es-
tratégias de enfrentamento dos problemas identificados, e o plano de cuidado
é definido em conjunto com a equipe multidisciplinar.
Este também é um momento oportuno para conhecer a rede sociofamiliar e
definir ações que auxiliem na construção e fortalecimento de rede de suporte
social. Este momento requer do profissional um olhar atento não só para as de-
mandas explícitas, mas também para aquelas que nem sempre são esboçadas
claramente, mas que, a partir de uma avaliação social acurada, são possíveis
de serem identificadas.
É necessário, sempre que possível, estabelecer uma dinâmica que estimule a
autonomia do indivíduo, priorizando a realização de entrevista com o idoso e
estabelecendo outros momentos para atendimento aos familiares e aos acom-
panhantes, respeitando o sigilo e garantindo o espaço de fala dos usuários. A
maioria das perguntas da avaliação social deve ser direcionada exclusivamen-
te ao idoso. Por mais que pareçam simples, são pessoais e algumas, subjetivas.
Nos casos em que os idosos estejam impossibilitados de entender as perguntas
ou não tenham condições de se expressarem claramente, deve-se utilizar o ter-
mo “não se aplica”. É importante que o profissional ouça do idoso as respostas
de situações que dizem respeito à própria vida.
A seção de avaliação social tem por objetivo fornecer subsídios para a
análise da realidade sociofamiliar dos idosos, sendo um instrumento facilita-
dor para a compreensão das condições de vida, situações socioeconômicas
e habitacionais que possam interferir no processo saúde-doença. Portanto,
se faz necessário olhar o indivíduo de maneira integral não apenas como
um corpo que precisa de cuidados, mas sim um ser humano intrinsecamente
AVALIAÇÃO SOCIAL 105
ligado ao seu ambiente, que pode influenciar ou ser influenciado por ele.
(Mendes e Oliveira, 2007)

I IDENTIFICAÇÃO
Este é um espaço para fazer uma identificação breve do idoso e de seu
acompanhante.

IDENTIFICAÇÃO

1. Nome: ________________________________ 2. Pront: ________________

3. Quem informa? ( ) (1) usuário (2) acompanhante (3) ambos

4. Idade do idoso: ____________ anos

5. Nome do acompanhante: _______________________________________

6. Idade:________ 7. Vínculo:___________

8. Estado civil: ( ) casado(a) ou união estável ( ) divorciado(a) ( ) viúvo(a) ( ) solteiro(a)

I RELAÇÃO FAMILIAR
Este item avalia o contexto familiar para maior compreensão da sua compo-
sição, dos laços de afetividade e do viver em família. É fundamental verificar a
rede de apoio sociofamiliar dos idosos.
A família é, na maioria das vezes, o contexto social mais próximo dos idosos,
sendo importante verificar quem são as pessoas que convivem com eles e a
forma como esse arranjo familiar está configurado, bem como os aspectos po-
sitivos e negativos que dele decorrem para a elaboração do plano de cuidados.
Aqui se verifica a convivência com outros familiares e a qualidade do rela-
cionamento. Neste momento o profissional pode, por exemplo, perguntar se
ele se sente amparado por todos os membros da sua família, aprofundando os
aspectos considerados relevantes na fala do idoso.
Deve-se anotar o número de parentes que possuem convivência com o ido-
so e verificar como essas relações são construídas. Também é preciso identifi-
car quem ele considera ser referência no seu cuidado e suporte social.
Caso o idoso more sozinho, deve-se registrar há quantos anos ele vive nesta
condição. Do contrário, deve-se descrever a composição familiar considerando
aqueles que residem no mesmo domicílio do usuário, registrando nome, idade,
grau de parentesco e quanto tempo passam no domicílio, especificado por turnos.
106 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

A avaliação desses aspectos é fundamental para perceber se o idoso convive


com uma rede familiar que oferece suporte social ou se ele é responsável por
fornecer ajuda àqueles que convivem com ele. O profissional deve exercitar
o olhar atento para avaliação das relações desses idosos com seus familiares,
considerando não apenas o apoio material, mas também afetivo e emocional,
e de que forma se dá a interação e o apoio social oferecido por familiares,
visto que estas relações exercem grande impacto na saúde, no bem-estar e na
qualidade de vida dos idosos.
A partir dos problemas identificados no âmbito familiar, cabe traçar estra-
tégias em conjunto com a equipe para uma abordagem integral desses pro-
blemas, considerando também a provisão de bens e serviços pelo Estado na
resposta às expressões da questão social.

RELAÇÃO FAMILIAR

Para os casos não previstos, aplicar (9) Não se aplica (1) Sim (2) Não

9. ( ) Cônjuge 10. ( ) Irmãos - quantos?_____________ 11. ( ) Filhos - quantos? ____________

12. ( ) Netos/bisnetos - quantos? _________ 13. ( ) Outros - especificar: ____________________

14. O(A) sr(a). mora sozinho? ( ) (1) sim (2) não 15. Tempo: _______________________

16. Como é sua relação com seus familiares? __________________________________________


________________________________________________________________________________

17. Qual(is) a(s) pessoa(s) de referência para suporte?_____________________________________

18. Composição familiar no domicílio:


Nº Pessoas que residem no mesmo domicílio Idade Grau de parentesco Tempo em casa
1
2
3
4
5

I RELAÇÕES EXTRAFAMILIARES
É importante assinalar que não só a família pode ser uma fonte de apoio
social para o idoso. É necessário ampliar a visão para as relações de amizade
e vizinhança, a fim de identificar como se organiza esta rede fora do âmbito
familiar. Em alguns casos, amigos e vizinhos fornecem um suporte que a fa-
mília não consegue fornecer. Dependendo da situação, eles são as principais
AVALIAÇÃO SOCIAL 107
fontes de apoio emocional, nos casos de conflitos familiares. Muitas vezes,
tais vizinhos e amigos são grandes aliados da equipe de saúde. É importante
verificar qual é a qualidade dessa relação no provimento de suporte social nas
mais variadas situações vivenciadas pelo usuário. O objetivo é identificar e
articular essas redes.

RELAÇÕES EXTRAFAMILIARES

19. O(A) sr(a). tem amigos(as) próximos(as) ou vizinhos com os quais pode contar? ( )

I RELAÇÕES COMUNITÁRIAS
De modo semelhante às relações com vizinhos e amigos, as relações co-
munitárias são fundamentais para uma boa qualidade de vida. A participação
social e comunitária pode favorecer um envelhecimento mais ativo. Portanto,
deve ser avaliada e estimulada pela equipe de saúde.
A fragilidade das relações sociais é fator de risco para o adoecimento. O
engajamento social do indivíduo é fator importante para o não isolamento,
e consequentemente para o não adoecimento, visto que indivíduos com boa
interação com o seu meio social têm maiores possibilidades para o exercício
de sua cidadania. (Buchanan, 2002)
Dentro das limitações e do desejo do idoso, é possível fortalecer as relações
comunitárias de forma a estimular sua socialização.
Outro item a ser analisado é o sistema de crenças e espiritualidade do idoso,
uma vez que a prática religiosa tem impactos na saúde e na qualidade de vida.
É importante verificar como a integração social e emocional da religiosidade
influencia na promoção da saúde do idoso e de que forma auxilia no enfrenta-
mento e amparo no processo de envelhecimento. Diferença de credos religio-
sos no âmbito familiar também precisam ser verificadas pelo profissional, na
medida em que podem culminar em situações de conflito familiar.
Frequentar espaços religiosos e participar de atividades a eles ligadas podem
trazer ao idoso um senso de produtividade e maior sociabilidade. Ao se inda-
gar sobre a não participação nestas atividades, é importante conhecer qual é o
motivo, a fim de identificar elementos que possam dificultar essa participação.
No item “outras inserções comunitárias”, o profissional busca identificar se
o idoso participa de outras atividades como, por exemplo, grupos ou centros
de convivência, associações, grupos de autoajuda. Trata-se de um momento
importante para mostrar ao idoso o leque de oportunidades disponíveis.
108 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

RELAÇÕES COMUNITÁRIAS

20. O(A) sr(a). tem religião? ( ) Qual? ( ) (1) católica (2) evangélica (3) espírita (4) outras___________

21. É praticante? ( ) (1) Sim (2) Não (9) Não se aplica

Em caso afirmativo, especifique:

22. Vai à missa/culto ( )

23. Frequenta grupos ( )

24. Trabalha como voluntário (a) ( )

25. Em caso negativo, explicar o motivo: _______________________________________________

26. Outras inserções comunitárias: ___________________________________________________

I SITUAÇÃO HABITACIONAL
A habitação dever ser considerada como um dos determinantes sociais da
saúde, sendo necessário verificar se oferece condições mínimas que contri-
buam para a saúde e o bem-estar de seus moradores voltando o olhar não
apenas para as condições físicas, mas também econômicas e sanitárias. Con-
dições sanitárias adequadas, tais como rede de esgoto, água encanada e sa-
neamento básico são direitos da população, tendo o Estado o dever de prover
estes serviços. Na identificação desta deficiência, o Estado deve ser acionado
para fazer valer este direito social.
As condições de moradia do idoso requerem cuidados quanto a possíveis
inadequações que possam oferecer riscos de quedas e fraturas, sendo importante
orientar a família no sentido de adotar algumas medidas necessárias para tornar
o ambiente mais seguro, levando em consideração as possibilidades da família
e do idoso em prover as devidas adaptações. Neste contexto, é importante
que o profissional verifique também como se dá a acessibilidade à moradia,
analisando as circunstâncias que possam dificultar o acesso, detalhando-as no
campo específico.
A dependência habitacional do idoso também deve ser avaliada, verifican-
do se esta relação de dependência gera algum prejuízo ou conflito familiar.
Todas as observações extras devem ser anotadas no item “observação”. Isto
facilita a tomada de decisões pela equipe.
AVALIAÇÃO SOCIAL 109

SITUAÇÃO HABITACIONAL

Para os casos não previstos, aplicar (9) Não se aplica (1) Sim (2) Não

27. O(A) sr(a). reside em: ( ) (1) casa térrea (2) casa duplex (3) apartamento (4) instituição

28. A sua moradia é: ( ) (1) própria (2) alugada (3) cedida (4) outros: ______________________

29. Há saneamento básico no local? ( ) (1) Sim (2) Não

30. O acesso à moradia é difícil? ( ) Causa? _________________________

Observação: _______________________________________________________________

I SITUAÇÃO TRABALHISTA/PREVIDENCIÁRIA/ASSISTENCIAL
O processo de ajuste e reestruturação produtiva dos últimos anos vai agra-
var o quadro social do Brasil e trazer fortes impactos sobre a organização e
as condições de vida das famílias, assim como sua capacidade de atender às
necessidades básicas de seus membros. Com isso, ao mesmo tempo em que se
reduz o tamanho das famílias, aumenta-se o número de dependentes da renda
da família devido ao aumento do desemprego e da vulnerabilidade entre os
diversos segmentos da população. Neste contexto, muitas vezes o idoso acaba
se tornando o principal provedor da subsistência da família, sendo necessário
avaliar como se dá o nível de dependência financeira da família, pois a preca-
riedade de renda e condições de subsistência trazem impactos negativos para
a saúde.
A definição de um plano de cuidados para o idoso requer uma avaliação
das suas reais condições econômica e financeira, bem como de sua família
para que este seja traçado de forma adequada a essa realidade social. Neste
item é possível avaliar se o idoso atende a critérios para a concessão de bene-
fícios assistenciais e previdenciários que possam compor sua renda e favorecer
maiores níveis de saúde e qualidade de vida. Neste eixo, é possível identificar
outras situações de vulnerabilidade social no âmbito familiar, como desem-
prego, pobreza, baixa renda, relações de dependência financeira, situações de
violência financeira e patrimonial, entre outros.
É importante não destacar apenas a renda do usuário, mas os gastos relevan-
tes que comprometem a vida financeira, como por exemplo, gastos com saú-
de, subsistência familiar, empréstimos consignados e situações de violações de
direitos como a apropriação indevida de seus recursos por terceiros.
110 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

A informação sobre o exercício de atividade remunerada atual é importan-


te, pois este pode ser um fator que favorece maior autonomia e qualidade de
vida do idoso, sendo um fator importante no sentido de um “envelhecimento
ativo”. Porém, esta inserção pode se dar por imperiosa necessidade de com-
plementação de renda, ainda que o tipo de atividade exercida seja inadequado
para a sua saúde e o seu bem-estar. Essas informações devem ser registradas
no campo de observações e avaliadas com cuidado pelo profissional e pela
equipe de forma a construir estratégias que garantam o acesso a maiores níveis
de renda, a direitos, benefícios sociais e proteção social por parte do Estado.
SITUAÇÃO TRABALHISTA/PREVIDENCIÁRIA/ASSISTENCIAL

31. O(A) sr(a). exerceu atividade remunerada ao longo da sua vida? ( ) 32. Qual? ________________

33. Caso tenha exercido atividade remunerada ao longo da vida, há quanto tempo parou de
trabalhar? ____________________________

34. Motivo: ___________________________

35. Situação socioeconômica:


Nº Ocupação Vínculo Renda Situação previdenciária Assitência social
(1) Com carteira (1) Não segurado (1) Bolsa família
(2) Sem Carteira (2) Ativo (2) Passe-livre idoso
(3) Autônomo (3) Inativo (3) RioCard especial/
(4) Aposentado Vale social
(5) Pensionista (4) BPC
(5) Outros
1
2
3
4
5

36. Renda Familiar: _________________________


Observação: _______________________________

Legenda: BPC: benefício de prestação continuada.

I OUTRAS SITUAÇÕES DE RISCO SOCIAL


Este é o item no qual o profissional avalia a ocorrência de eventos que
possam repercutir negativamente na vida do idoso e que possam ser impulsio-
nadores de problemas que causem isolamento, solidão, angústia, desespero,
perda financeira e quadros depressivos.
AVALIAÇÃO SOCIAL 111
Morte de pessoa próxima – indagar sobre a ocorrência de falecimento
recente de alguma pessoa importante para o idoso. Situações de luto podem
ser trabalhadas junto a outros profissionais da equipe.
Mudança de casa – verificar se houve mudança de casa por algum motivo
contra a vontade do idoso. Idosos, em geral, sofrem ao ter que deixar espaços
que construíram ou onde viveram a maior parte da vida.
Separação conjugal na família – indagar sobre separação de pessoas im-
portantes na vida do idoso. Pais costumam sofrer com o rompimento das re-
lações de seus filhos, avós, de igual modo. Além disso, uma separação pode
significar um retorno a casa, ocasionando uma condição de dependência.
Perdas financeiras – identificar se houve perdas financeiras importantes
que possam estar causando problemas na vida do idoso.
Cuida de familiar dependente – identificar se cuida de pessoa doente ou
em condição que cause sobrecarga e estresse.
Uso abusivo de álcool ou drogas – identificar se existe algum familiar que
faz uso de álcool ou de drogas, gerando situações de risco ou de estresse e vio-
lência contra o idoso. Ou se tal situação gera ônus financeiro ou emocional.
Em cada uma destas situações, caso haja alguma repercussão negativa na
vida do idoso, o profissional deve descrever, no campo, observações de modo
a contribuir com os demais membros da equipe. Nos casos em que o idoso
pede sigilo, o profissional deve apenas mencionar a existência de situações
que afetam a vida do idoso.

OUTRAS SITUAÇÕES DE RISCO SOCIAL (1) Sim (2) Não

Identificar a ocorrência das situações abaixo que tenham repercussão no momento atual.

37. ( ) Morte de pessoa próxima

38. ( ) Mudança de casa

39. ( ) Separação conjugal na família

40. ( ) Perdas financeiras

41. ( ) Cuida de familiar dependente

42. ( ) Uso abusivo de álcool ou drogas

Em caso afirmativo, descrever as reações:


_______________________________________________________________________________

Observação:______________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
112 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

I OUTRAS INFORMAÇÕES DE SAÚDE


Neste eixo o assistente social pode avaliar o estado atual de saúde do idoso
e de que forma está sendo realizado o tratamento. É possível também identi-
ficar situações que demandem uma frequência maior ao serviço, o que onera
ainda mais o idoso e sua família, sendo uma informação importante para o
plano de cuidado. Além disso, esta etapa permite o profissional conhecer a
inserção do idoso em outros serviços de saúde e tratamentos, bem como as
dificuldades no acesso a medicamentos e a sua garantia.

OUTRAS INFORMAÇÕES DE SAÚDE Para casos não previstos (9) não se aplica (1) Sim (2) Não

43. Diagnóstico:___________________________________________________________________

44. Frequência de tratamento: _______________________________________________________

45. Medicamentos utilizados:________________________________________________________

46. Encontra alguma dificuldade na aquisição dos medicamentos: ( )

47. Em caso afirmativo, explicar o motivo:______________________________________________

48. Realiza outro tratamento de saúde? ( )

49. Local: ______________________________________________

I IMPRESSÕES (SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL)


Este é um campo cuja responsabilidade de resposta é do profissional e não
do usuário. Os apontamentos são feitos com base nas impressões do profissio-
nal ao longo processo de avaliação. Ao final deste processo, o assistente social
tem oportunidade de obter o retrato das características social, familiar, econô-
mica e cultural dos idosos, podendo identificar situações de vulnerabilidade
que possam ser prejudiciais para a saúde. Estas são informações fundamentais
no momento da discussão interdisciplinar. No caso de idoso sem problemas
identificados, o profissional deve informar que não foram identificados pro-
blemas sociais que possam interferir nas condições de saúde neste momento.
IMPRESSÕES (situações de vulnerabilidade e risco social)
( ) Baixa renda ( ) Situação de extrema pobreza ( ) Isolamento social ( ) Fome
( ) Moradia precária ( ) Suporte familiar precário ou ausência de suporte
( ) Fragilidade ou ausência de rede de apoio social ( ) Violência intrafamiliar
( ) Uso abusivo de álcool e outras drogas ( ) Desnutrição
( ) Pessoa com deficiência ( ) Idoso dependente e/ou fragilizado
AVALIAÇÃO SOCIAL 113

I INSTRUMENTOS COMPLEMENTARES
A Avaliação Geriátrica Ampla pressupõe participação de uma equipe mul-
tidisciplinar para atender às demandas dos usuários inseridos em serviços am-
bulatoriais e hospitalares.
Outros instrumentos estão disponíveis para utilização em unidades geriá-
tricas. Tais ferramentas são usadas em vários países para a avaliar o suporte
social, uma das variáveis mais importantes na manutenção da saúde do idoso,
bem como para avaliar o cuidador familiar. Este, por ser a pessoa mais próxi-
ma do idoso, quando ocupa a função de provedor de todo o cuidado, também
necessita de atenção especial e não deve ficar de fora do olhar profissional.
No Brasil, existem alguns instrumentos que foram validados para a avalia-
ção do suporte social. No Serviço de Geriatria, além da clássica avaliação
social realizada através de uma entrevista como processo de escuta acurada
optou-se também pelo uso do APGAR da família para avaliar o nível de su-
porte social. E, para avaliar os familiares, optou-se pela escala de sobrecarga
em decorrência do cuidado, a Escala de Rastreio de Sintomas Depressivos e
a Escala de Rastreio da Violência. Estes instrumentos servem como um roteiro
padronizado para que o profissional organize sua proposta de intervenção.
►► APGAR da família
Para avaliar a satisfação com o suporte que é destinado ao idoso, o profissio-
nal pode utilizar o APAGAR. A denominação APGAR é uma sigla das dimen-
sões avaliadas pelo instrumento: Adaptation, Participation, Growth, Affection
e Resolution
O APGAR tem como vantagens o número reduzido de itens e a facilidade
na aplicação. Trata-se de um instrumento para ser respondido exclusivamente
pelo idoso com o objetivo de avaliar o seu grau de satisfação com a família.
É constituído por cinco perguntas, cada uma com três opções de respostas, e
pontuação que varia de 0 (zero) a 2 (dois) pontos. O somatório poderá ser de
0 (zero) a 10 (dez) pontos e o nível de satisfação com a família pode variar de:
totalmente satisfeito (7-10) e insatisfeito (< 6). A insatisfação ainda pode ser
classificada em leve (> 2 e < 7) e totalmente insatisfeito (≤ 2)
114 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

Itens do APGAR da família


Quase Algumas
Itens Nºs Sempre Raramente Nunca
sempre vezes
1. Estou satisfeito(a), pois pos-
so recorrer a minha família em
busca de ajuda quando alguma 4 3 2 1 0
coisa está me incomodando ou
preocupando.
2. Estou satisfeito(a) com a ma-
neira pela qual minha família e
eu conversamos e compartilha- 4 3 2 1 0
mos os problemas.

3. Estou satisfeito(a) com a ma-


neira como minha família aceita
e apoia meus desejos de iniciar
ou buscar novas atividades e 4 3 2 1 0
procurar novos caminhos ou
direções.

4. Estou satisfeito(a) com a ma-


neira pela qual minha família
demonstra afeição e reage às 4 3 2 1 0
minhas emoções, tais como rai-
va, mágoa ou amor.
5. Estou satisfeito(a) com a ma-
neira pela qual minha família
4 3 2 1 0
e eu compartilhamos o tempo
juntos.
Total:
Fonte: Vera, et al. (2002).
Escore: sempre=4; quase sempre=3; algumas vezes=2; raramente=1; nunca=0.

Interpretação do escore total


> 11 Totalmente satisfeito
7-10 Um pouco satisfeito
5-6 Um pouco insatisfeito
0-4 Totalmente insatisfeito

Quando os resultados sugerem insatisfação com o suporte, cabe ao profis-


sional se reunir com a família do idoso, para identificar as possibilitas e limites
desses familiares, e pensarem juntos em estratégias que possam colaborar com
o desenvolvimento de afetos positivos ou com a inserção de outros membros
da família que possam destinar um suporte satisfatório.
AVALIAÇÃO SOCIAL 115

I ESCALA DE SOBRECARGA DO CUIDADOR


A análise da sobrecarga é uma interessante medida tanto na avaliação do
idoso quanto na avaliação de seu acompanhante. Um indivíduo sobrecarre-
gado pela tarefa de cuidar pode perder o equilíbrio emocional, pode maltratar
e pode até adoecer em decorrência dos problemas gerados pelo seu estado. É
grande o número de idosos que demanda cuidados de terceiros, e o número de
idosos cuidando de seus familiares aumenta gradativamente. A Escala de So-
brecarga de Zarit é o instrumento mais utilizado para a aferição da sobrecarga.
Ela comporta 22 itens com quatro opções de respostas que avaliam a so-
brecarga objetiva e subjetiva por meio do relato do cuidador de idosos com
dependência. Até o item 21, as opções de resposta se apresentam como:
0 = nunca; 1 = raramente; 2 = às vezes; 3 = frequentemente e 4 = sempre.
No item 22, as opções se apresentam da seguinte forma: 0 = nada; 1 = muito
pouco; 2 = um pouco. O escore final varia de 0 a 88, sendo considerado sem
sobrecarga o(s) indivíduo(s) com escores que variam de 0 a 20; sobrecarga leve
de 21 a 40; sobrecarga moderada de 41 a 60 e sobrecarga alta aqueles com
escores maiores que 61.
Itens da Escala de Sobrecarga do Cuidador
1. O(A) sr(a). sente que S* pede mais ajuda do que ele(a) necessita?
2. O(A) sr(a). sente que por causa do tempo gasto com S, o(a) sr(a). não tem tempo sufi-
ciente para si mesmo(a)?
3. O(A) sr(a). se sente estressado(a) entre cuidar de S e suas outras responsabilidades
com a família e o trabalho?
4. O(A) sr(a). se sente envergonhado (a) com o comportamento de S?
5. O(A) sr(a). se sente irritado(a) quando S está por perto?
6. O(A) sr(a). sente que S afeta negativamente seus relacionamentos com outros mem-
bros da família ou amigos?
7. O(A) sr(a). sente receio pelo futuro de S?
8. O(A) sr(a). sente que S depende do(a) sr(a)?
9. O(A) sr(a). se sente tenso(a) quando S está por perto?
10. O(A) sr(a). sente que sua saúde foi afetada por causa de seu envolvimento com S?
11. O(A) sr(a). sente que não tem tanta privacidade como gostaria por causa de S?
12. O(A) sr(a). sente que sua vida social tem sido prejudicada porque o(a) sr(a). está cui-
dando de S?
13. O(A) sr(a). não se sente à vontade de ter visitas em casa por causa de S?
14. O(A) sr(a). sente que S espera que o(a) sr(a). cuide dele(a) como se o(a) sr(a). fosse a
única pessoa de quem ele(a) pode depender?
116 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

Itens da Escala de Sobrecarga do Cuidador (cont.)


15. O(A) sr(a). sente que não tem dinheiro suficiente para cuidar de S, somando-se às suas
outras despesas?
16. O(A) sr(a). sente que será capaz de cuidar de S por mais tempo?
17. O(A) sr(a). sente que perdeu o controle de sua vida desde a doença de S?
18. O(A) sr(a). gostaria de simplesmente deixar que outra pessoa cuidasse de S?
19. O(A) sr(a). se sente em dúvida sobre o que fazer por S?
20. O(A) sr(a). sente que poderia estar fazendo mais por S?
21. O(A) sr(a). sente que poderia cuidar melhor de S?
22. De maneira geral, quanto o(a) sr(a). se sente sobrecarregado (a) por cuidar de S?
Total
Fonte: Scazufka (2002).
Escores: Nunca (0); Raramente (1); Às vezes (2); Quase sempre (3); Sempre (4).
Para o item 22: Nada (0); Muito pouco (1); Um pouco (2).
Legenda: S* se refere ao idoso sob os cuidados do familiar.

Cuidadores sobrecarregados necessitam de apoio para que possam exercer


essa tarefa com equilíbrio. Uma vez identificados altos níveis de sobrecarga, o
profissional deverá recorrer a outros integrantes da família com o objetivo de
otimizar o cuidado, buscando inclusive, outros parceiros capazes de desem-
penhar tal tarefa. Além disso, o cuidador deve ser orientado para grupos de
orientação e suporte.

I ESCALA DE RASTREIO DE VIOLÊNCIA


O CASE é um instrumento de rastreio da violência doméstica contra idosos,
de fácil aplicação. Desenvolvido no Canadá, contém oito itens que abarcam
as dimensões de violência física, psicossocial, financeira e negligência, sem
que seja necessário arguir diretamente sobre comportamentos ou atos violen-
tos. Mesmo sem a apresentação de um ponto de corte que possa sugerir per-
petração de maus-tratos, a escala é bastante útil para subsidiar uma entrevista
subjetiva para o rastreio da violência e, acompanhada de outros instrumentos,
como a avaliação da sobrecarga do cuidador e a escala de rastreio de sintomas
depressivos do cuidador, ajuda a fornecer um retrato da relação de cuidado.
Itens da Escala de Rastreio de Violência
Perguntas: Sim Não
1. O(A) sr(a). às vezes encontra dificuldade em fazer com que S* controle sua
irritação ou agressividade?
2. O(A) sr(a). muitas vezes se sente forçado(a) a agir contra sua própria natureza
ou fazer coisas que lhe desagradem?
3. O(A) sr(a). acha difícil controlar o comportamento de S*?
AVALIAÇÃO SOCIAL 117
Itens da Escala de Rastreio de Violência (cont.)
4. O(A) sr(a). às vezes se sente forçado a ser bruto com S*?
5. O(A) sr(a). às vezes sente que não consegue fazer o que necessário ou o que
deve ser feito para S*?
6. O(A) sr(a). às vezes que tem de rejeitar ou ignorar S*?

7. O(A) sr(a). muitas vezes se sente tão cansado(a) e exausto(a) que não consegue
dar conta das necessidade de S*?
8. O(A) sr(a). muitas vezes acha que tem que gritar com S*?

Fonte: Paixão Junior (2006).


Legenda: S* se refere ao idoso sob os cuidados do familiar.

O Case deve ser aplicado sempre que o idoso sinalizar que está sofrendo al-
gum tipo de violência, ou quando o profissional perceber um comportamento
hostil e/ou identificar situações que possam sugerir violência. Caso a maioria
das respostas seja positiva, cabe ao profissional realizar uma avaliação mais
detalhada, buscando conhecer a motivação para tais atos, informar sobre os
direitos da pessoa idosa, refletir sobre as penalidades que podem ser impostas
a quem comete maus-tratos e buscar alternativas para mudanças de comporta-
mento, substituição da pessoa que cuida. Uma vez comprovada a perpetração
da violência, cabe ao profissional notificar, em formulário próprio, à Vigilância
em Saúde e encaminhar para o CREAS da região para análise da situação e
possível trabalho de fortalecimento de vínculos.

I ESCALA DE DEPRESSÃO DO CENTER FOR EPIDEMIOLOGICAL STUDIES – RASTREIO


DE SINTOMAS DEPRESSIVOS
A Escala de Depressão do Center for Epidemiological Studies (CES-D) é uma
escala para avaliar a frequência de sintomas depressivos vividos na semana
anterior à entrevista. Foi descrita originalmente por Radolf, em 1977. Contém
20 itens escalares sobre humor, sintomas somáticos, interações com os outros
e funcionamento motor. As respostas são em escala Likert (nunca ou raramente
= 0; às vezes = 1; frequentemente = 2; sempre = 3). O escore final varia de 0
a 60 pontos. O único estudo brasileiro em população idosa foi o de Batistoni
et al. (2007). Esses autores compararam o CES-D com a Escala de Depressão
Geriátrica e obtiveram um alfa de Cronbach de 0,86 na avaliação da consis-
tência interna; sensibilidade (74,6%) e especificidade (73,6%), para nota de
corte > 11.
118 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 2

Itens da Escala de Depressão do Center for Epidemiological Studies


1. O(A) sr(a). sentiu-se incomodado com coisas que habitualmente
0 1 2 3
não o incomodam?
2. O(A) sr(a). não teve vontade de comer ou teve pouco apetite? 0 1 2 3
3. O(A) sr(a). sentiu não conseguir melhorar seu estado de ânimo
0 1 2 3
mesmo com a ajuda de familiares e amigos?
4. O(A) sr(a). sentiu-se, quando comparado a outras pessoas, tendo
0 1 2 3
tanto valor quanto a maioria delas?
5. O(A) sr(a). sentiu dificuldade de se concentrar no que fazia? 0 1 2 3
6. O(A) sr(a). sentiu-se deprimido 0 1 2 3
7. O(A) sr(a). sentiu que teve que fazer esforço para dar conta das
0 1 2 3
suas tarefas habituais?
8. O(A) sr(a). não se sentiu otimista sobre o futuro? 0 1 2 3
9. O(A) sr(a). considerou que sua vida tinha sido um fracasso? 0 1 2 3
10. O(A) sr(a). sentiu-se amedrontado(a)? 0 1 2 3
11. Seu sono não foi repousante? 0 1 2 3
12. O(A) sr(a). não esteve feliz? 0 1 2 3
13. O(A) sr(a). falou menos que o habitual? 0 1 2 3
14. O(A) sr(a). sentiu-se sozinho(a)? 0 1 2 3
15. As pessoas não foram amistosas com o(a) sr(a).? 0 1 2 3
16. O(A) sr(a). não aproveitou a vida? 0 1 2 3
17. O(A) sr(a). teve crises de choro? 0 1 2 3
18. O(A) sr(a). sentiu-se triste? 0 1 2 3
19. O(A) sr(a). sentiu que as pessoas não gostavam do(a) sr(a).? 0 1 2 3
20. O(A) sr(a). não conseguiu levar adiante suas coisas? 0 1 2 3

Fonte: Batistoni, et al. (2010).

Nos casos em que os escores da escala indiquem possibilidade de episó-


dio depressivo, o familiar deve ser encaminhado a um serviço médico para
avalição e acompanhamento, em situações que o diagnóstico seja positivo. O
encaminhamento para atendimento psicoterápico também é uma alternativa
importante.
AVALIAÇÃO SOCIAL 119

I REFERÊNCIAS
BATISTONI, S. S. T.; NERI, A. L.; CUPERTINO, A. P. F. B. Validade da escala de depressão
do Center for Epidemiological Studies entre idosos brasileiros. Rev. Saúde Pública, v. 41,
n. 4, 2007.
BUCHANAN, A. A legitimidade interna de interação humanitária. Artigo publicado on line:
16 de dezembro de 2002. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1467-
9760.00066/abstract.
KANE, R. A. Assessment of social function: recomendations for comprehensive geriatric
assessment. In: RUBENSTAIN, L. Z; WIELAND, D.; BENRNABEI, R., editors. Geriatric As-
sessment Tecnology: The state of the Art. New York: Spring Publish, 1995. p. 91-110
MENDES, A.O.; OLIVEIRA, F.A. de. Visitas domiciliares pela equipe de saúde da família:
reflexões para um olhar ampliado do profissional. Rev Bras Med Fam e Com. Rio de
janeiro, v. 2, n. 8, jan-mar 2007.
PAIXÃO JR., C. M.; REICHENHEIM, M. E.; MORAES, C. L. Adaptação transcultural para o
Brasil do instrumento Caregiver Abuse Screen (CASE) para detecção de violência de cuida-
dores contra idosos. Cad. Saúde Pública, v. 23, n. 9, p. 2013-2022, 2007.
SANCHEZ M. A. S., MOTA, G. M. S. A entrevista social no processo de avaliação geriátrica
ampla. Rev Bras Geriatr Gerontol., v. 12, n. 1, p. 25-33.
SCAZUFCA, M. Brazilian version of the Burden Interview scale for the assessment of bur-
den of care in carers of people with mental illnesses. Rev Bras Psiquiatr., v. 24, n. 1, p.
12-7, 2002.
VERA I., et al. Índex APGAR de Família na avaliação de relações familiares do idoso: revi-
são integrativa. Rev Bras Psiquiatr., v. 24, n. 1, p. 12-7, 2002.
Instruções do Protocolo 4
AVALIAÇÃO MÉDICA Ariette Rolli
Ana Cristina Canêdo Speranza
Mariângela Perez
Eduardo Magalhães Costa
Roberto Alves Lourenço

I INTRODUÇÃO
Os principais diagnósticos em geriatria são pautados nos aspectos clínicos
do paciente, considerando-se que os marcadores biológicos não estão dispo-
níveis para grande parte das doenças mais prevalentes no idoso. Portanto, a
anamnese cuidadosa e o exame físico criterioso e atento constituem o alicerce
para o sucesso diagnóstico. A seguir serão descritos os aspectos mais impor-
tantes de cada etapa da avaliação médica.

I ANAMNESE
►► Queixa principal e história da doença atual
Diferente do que em geral acontece durante consultas com adultos não
idosos, é comum que o paciente geriátrico venha à consulta por inúmeros
motivos e não por uma única queixa principal.
Por outro lado, o paciente pode estar assintomático, caso esteja à procura
apenas de um acompanhamento preventivo. Sendo assim, deve-se iniciar o
atendimento retomando o motivo pelo qual o paciente procurou o serviço e
verificar se esta foi uma iniciativa da família ou do próprio paciente.

Queixa principal:
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________

Caso o paciente tenha muitas queixas, peça que ele inicie a consulta des-
crevendo o sintoma que mais o incomoda e, caso seja assintomático, iniciar
pela história patológica pregressa (listar as comorbidades e medicações).
Se o motivo da consulta for alteração da memória, descrever em detalhes
quando iniciou, se houve relação com algum evento (internação, morte na fa-
AVALIAÇÃO MÉDICA 121
mília, uso de nova medicação, etc.), solicitar exemplos de episódios de esque-
cimento, das atividades prejudicadas pela cognição e pesquisar por alterações
do humor e do comportamento associadas.
Mesmo que o paciente procure o geriatra por uma queixa específica (p. ex.
memória), a avaliação deverá ser sempre global e, durante a revisão de siste-
mas, deve-se sempre identificar novos problemas.
Além disso, é importante averiguar se o paciente faz acompanhamento re-
gular com outros especialistas, pois isto vai interferir na estratégia de acompa-
nhamento.

HDA: ___________________________________________________________________________

►► História patológica pregressa


Todas as patologias deverão ser detalhadas nos espaços específicos de cada
item, incluindo o tempo aproximado de diagnóstico, o tratamento implemen-
tado e se há acompanhamento e tratamento regulares.
Registrar as datas aproximadas das cirurgias e especificar as alergias. Per-
guntar também sobre internações prévias e se houve intercorrências no último
ano (p. ex. quedas, admissão em emergência, etc.). Sobre as medicações, re-
gistrar a posologia exata com o horário das tomadas e verificar se o paciente
está tomando regularmente ou se esquece por vezes. Verificar se há automedi-
cação (p. ex. medicações para dormir, anti-inflamatórios, etc.).
HPP (1) sim (2) não

( ) HAS ( ) Hipotireoidismo ( ) Neoplasias


( ) Doença cardiovascular ( ) Demência ( ) Alergias
( ) Doença cerebrovascular ( ) Depressão ( ) Órteses e próteses
( ) Diabetes mellitus ( ) Doença de Parkinson ( ) Cirurgias
( ) Dislipidemia ( ) DPOC ( ) Transfusão de sangue
( ) Insuficiência renal crônica ( ) Doença osteoarticular ( ) Outros

Legenda: HAS: hipertensão arterial sistêmica; DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica.
122 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 4

►► Uso de medicações
Avaliar o uso de medicações nos últimos três meses:
Faz uso de medicação (em uso corrente nos 3 últimos meses) ( ) (1) Sim (2) Não
Quais:______________________________

( ) Polifarmácia ( 1 ) Sim ( 2 ) Não Total de medicações em uso:

( ) Anti-hipertensivo ( ) Insulina ( ) Antiparkinsonismo


( ) Antiarritmico ( ) Hormônio tireoide ( ) Benzodiazepínico
( ) Antiagregante plaquetário ( ) Anticolinesterásico ( ) Indutor do sono
( ) Anticoagulante ( ) Memantina ( ) Vitaminas
( ) Hipolipemiante ( ) Antipsicótico ( ) Bisfosfonato
( ) Hipoglicemiante ( ) Antidepressivo ( ) Outros

►► História social
Neste tópico o profissional deve investigar sobre etilismo e tabagismo.

Tabagismo ( ) (1) tabagista (2) ex-tabagista (3) não tabagista

Quantos/dia __________________ Parou há quanto tempo? __________________________

Etilismo ( ) (1) etilista (2) ex-etilista (3) não etilista

Dose/dia________________________Parou há quanto tempo?________________________

►► História familiar
Deve-se investigar sobre doenças crônicas (principalmente: hipertensão
arterial sistêmica, diabetes mellitus, doença coronariana, cerebrovascular e
doenças neurodegenerativas, como demências e Parkinson) e neoplasias. Per-
guntar, especificamente, sobre pais, irmãos e filhos.

( ) Cardiopatia ( ) Neoplasia ( ) Demência ( ) Outros______________________________

►► História fisiológica
Checar a história vacinal especificamente para o calendário do idoso. Para
as mulheres, registrar a data da menopausa e se fez terapia de reposição hor-
monal.
AVALIAÇÃO MÉDICA 123

VACINAÇÃO: ( )
(1) em dia (2) atrasada (3) não sabe informar
VACINAÇÃO PERIODICIDADE DATA DA ÚLTIMA VACINAÇÃO

Influenza Reforço anual

Antitetânica (dT) Reforço a cada 10 anos

Hepatite B -

Pneumococo Reforço em 5 anos

Zoster -

Idade da menopausa: ____________________anos


Reposição hormonal ( ) (1) Sim (2) Não Há quanto tempo: _______________________

►► Revisão de sistemas
A revisão de sistemas é crucial para a identificação de novos problemas.
Durante a avaliação inicial, devemos pesquisar por todos os itens descritos
na lista e, a cada item identificado, detalhar nas linhas abaixo para que sejam
abordados e tratados.
Roteiro para revisão de sistemas
SISTEMAS SINAIS E SINTOMAS
( ) Cefaleia
Olhos
( ) Diminuição de visão ( ) Prótese ocular
Ouvidos
( ) Diminuição de audição ( ) Zumbido
Cabeça
( ) Déficit auditivo
Boca
( ) Prótese/dentadura ( ) Perda do paladar
( ) Boca seca ( ) Halitose
( ) Dor ( ) Queimação
( ) Aumento de volume ( ) Disfagia
Pescoço
( ) Rouquidão
( ) Dor torácica ( ) Tosse
Tórax e pulmões ( ) Hemoptise ( ) Dispneia
( ) Dispepsia ( ) Constipação
( ) Dor abdominal ( ) Diarreia
Gastrintestinal ( ) Flatulência ( ) Incontinência fecal
( ) Náuseas ou vômitos ( ) Sangramento
124 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 4

Roteiro para revisão de sistemas (cont.)


( ) Incontinência urinária ( ) Prurido
Genitourinário ( ) Redução do jato urinário ( ) Leucorreia
( ) Impotência ( ) Sangramento
( ) Artralgia ou dor na coluna ( ) Mialgia
Osteomioarticular
( ) Tremor ( ) Diminuição de força
Neurológico ( ) Vertigem ou tonteira ( ) Dormência
( ) Convulsão ( ) Alteração do humor
Psíquico ( ) Distúrbio do sono ( ) Alteração do comportamento
( ) Esquecimento
( ) Varizes ( ) Edema
Membros inferiores
( ) Úlceras ( ) Dor
( ) Pele ressecada ( ) Unhas
Pele e fâneros
( ) Queda de cabelo

I O EXAME FÍSICO
O exame físico completo é determinante para vários diagnósticos do pa-
ciente idoso, uma vez que a maioria das doenças neurodegenerativas não pos-
sui marcadores a serem medidos por exames complementares. Grande parte
das condições que acometem o paciente idoso tem a sua detecção apoiada
na anamnese e no exame físico. Portanto, ser minucioso e perspicaz e saber
o que se está procurando é fundamental na avaliação. Deve-se ter em mãos
os instrumentos pessoais de consulta, como o estetoscópio, o esfignomanô-
metro, o martelo neurológico e o otoscópio. Ter diapasão e oftalmoscópio é
recomendável.
Para iniciar o exame físico, avalie todos os itens listados na seção corres-
pondente e assinale (1) em caso de alteração e faça a descrição objetiva desta
no espaço abaixo; (2) se normal e (3) no caso de impossibilidade de avaliação
do item e justifique. A ectoscopia oferece muitas informações sobre o estado
de saúde do idoso. Abaixo estão algumas orientações sobre o exame físico do
idoso.
AVALIAÇÃO MÉDICA 125
EXAME FÍSICO (1) alterado (2) normal (3) não se aplica
( ) Vestimentas/higiene ( ) Fácies ( ) Dentes
Ectoscopia
( ) Estado geral ( ) Cabelo ( ) Unhas
Pele ( ) Coloração ( ) Hidratação ( ) Integridade
Mucosas ( ) Coloração ( ) Hidratação ( ) Integridade
( ) Orofaringe ( ) Carótidas ( ) Tireoide
Pescoço
( ) Gânglios ( ) Jugular
Mamas ( ) Pele ( ) Simetria ( ) Nódulo
Aparelho ( ) Ritmo ( ) Sopros ( ) Pulsos periféricos
cardiovascular ( ) Bulhas ( ) Ictus
Aparelho respiratório ( ) Murmúrio vesicular ( ) Ruídos adventícios
( ) Volume ( ) Palpação ( ) Aorta
Abdome ( ) Peristalse ( ) Fígado ( ) Hérnia
( ) Timpanismo ( ) Baço ( ) Ânus
( ) Coluna ( ) Cotovelo ( ) Joelho
Osteoarticular ( ) Cintura scapular ( ) Punho e mão ( ) Tornozelo e pé
( ) Cintura pélvica ( ) ATM
( ) Interação ( ) Coordenação ( ) Sensibilidade
( ) Consciência ( ) Tônus ( ) Reflexos superficiais
Neurológico
( ) Postura e marcha ( ) Movimento ( ) Reflexos profundos
( ) Equilíbrio ( ) Força ( ) Pares cranianos
Legenda: ATM: Articulação Temporomandibular.

►► Ectoscopia
Estado geral – observe se o paciente parece bem cuidado, ou não, e se apre-
senta aspecto robusto ou frágil.
Higiene – observe se as roupas estão limpas e adequadas e a presença de
odores.
Cabelos – observe a presença de alopecia, coloração e lesões em couro
cabeludo.
Dentes – observe a presença, ou não, das unidades dentárias, a sua higiene,
a língua, a presença de cáries e inflamação nas gengivas. Se houver dentadura,
se está bem adaptada e em bom estado.
Fácies – veja a expressão facial do idoso, se tem depressão ou apatia.
Unhas – observe o estado das unhas, sua integridade, presença de lesões e
a coloração.
►► Pele
Investigue a presença de lesões hipo ou hipercrômicas, de úlceras por pres-
são, especialmente sacra, trocantérica ou nos calcâneos; dermatoftoses, úlce-
126 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 4

ras de origem vascular, equimoses, hematomas, lesões traumáticas. Observe o


estado de hidratação.
►► Mucosas
Mucosa oral – verifique se o idoso está hidratado. Caso haja dentadura, reti-
re-a para avaliar a integridade da mucosa ou a presença de lesões tipo úlceras,
de hiperemia ou placas esbranquiçadas (monilíase). Veja o estado das papilas
gustativas.
►► Conjuntivas
Verifique se estão coradas ou ictéricas e se há presença de secreções.
►► Pescoço
Examine a tireoide em busca de nódulos ou bócio; pesquise os pulsos caro-
tídeos bilateralmente e a presença de frêmitos; observe se há turgência jugular.
Pesquise a presença de gânglios, veja a sua mobilidade, consistência e dor. A
orofaringe deve ser examinada na procura de lesões. Veja a mobilidade.
►► Mamas
As mamas devem ser examinadas quanto à presença de retrações ou cicatri-
zes; a palpação deve pesquisar nódulos e suas características.
►► Aparelho cardiovascular
Na ausculta cardíaca, deve-se observar a regularidade de ritmo; a frequên-
cia – se há bradi/taquicardia; sopros – sua localização e intensidade. A palpa-
ção dos pulsos periféricos, especialmente os radiais, femurais, tibiais posterio-
res e pediosos, quanto à amplitude e simetria.
►► Aparelho respiratório
Verifique a frequência respiratória, veja se há taqui/bradipneia ou dispneia.
Na ausculta, verifique se os pulmões estão bem ventilados e pesquise os ruídos
adventícios – estertores, roncos, sibilos.
►► Abdome
Inicie observando o volume do abdome – grande, escavado, etc. Veja se há
dor à palpação, se há massas palpáveis e, caso haja, se são móveis, pulsáteis,
dolorosas e consistentes. Observe a presença de hepato/esplenomegalia; as-
cite.
►► Aparelho osteoarticular
Investigue se há deformidades, tanto na coluna – cifose, desvios, etc. –
quanto nos dedos das mãos e pés. Cintura escapular – observe a mobilidade e
amplitude do movimento. Joelhos – pesquise edema, crepitação, dor e limita-
ção do movimento. Cintura pélvica – veja a força e simetria.
AVALIAÇÃO MÉDICA 127

►► Exame neurológico
Esse é um momento de especial atenção no exame físico do idoso e deve
ser priorizado. Deve-se reservar um tempo da consulta para fazer o exame
detalhado. Inicia-se observando a marcha – se atípica (normal) ou se alterada
– cambaleante, atáxica, com pequenos passos, etc., ou se o paciente se apre-
senta em cadeira de rodas. Faça isso no momento em que estiver realizando o
teste de velocidade da marcha. Descreva o que observou. Analise o equilíbrio.
Em seguida, observe o estado mental do idoso e a sua linguagem: se fluente e
coerente.
Tônus – investigue a presença de rigidez nos quatro membros e também no
tronco. Observe se a força está presente e sua simetria.
Reflexos profundos – use o martelo neurológico para pesquisar os reflexos
bilateralmente – biciptal, triciptal, patelar, aquileu. Pesquise hipo/hiperreflexia
e simetria.
Reflexos superficiais – avalie o reflexo cutâneo abdominal.
Sensibilidade – veja se há hiper/hipoestesia cutânea. Pesquise a sensibilida-
de tátil.
Movimento – observe se há movimentos anormais como tremor. Caso haja,
descreva a sua característica – de repouso ou movimento, qual o seguimento
corporal atingido e a sua simetria. Observe se há discinesia, balismo, atetose
ou tiques e descreva.
Pares cranianos – examine os pares cranianos com especial atenção para o
movimento ocular. Pesquise a mobilidade, a presença de nistagmo e a aco-
modação.
Utilizando um oftalmoscópio, examine o fundo de olho.
►► Toque retal
Na anuscopia, observe a presença de hemorroidas, fissuras ou outras lesões.
No toque retal, pesquise massas, fecaloma, presença de sangue na luva e, no
caso de paciente masculino, veja o tamanho e a consistência da próstata.

Toque retal: ______________________________________________________________________

►► Otoscopia
Avalie se há presença de rolhas de cerume e de lesões no canal auditivo.
Anote.

Otoscopia: _______________________________________________________________________
128 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 4

I MEDIDAS OBJETIVAS
Medida da pressão arterial – verifique a pressão arterial em ambos os braços,
com o paciente sentado. Verifique se há diferença. Quando houver diferença,
use o braço que tiver o maior valor de pressão para verificar nas posições dei-
tada e em pé. Observe se há hipotensão postural, que é a diferença maior ou
igual a 20 mmHg na pressão arterial na mudança da posição deitada para a
supina. Anote.
Verifique a frequência cardíaca através do pulso radial e a frequência respi-
ratória. Anote.

Medidas Objetivas:

P.Asent(be): ___________________ mm Hg FC.: ___________________ bpm


P.Asent(bd): ___________________ mm Hg FR.: ___________________ irpm
P.Adeitada: ____________________ mm Hg
P.Aem pé:_____________________ mm Hg

Legenda: be: braço esquerdo; bd: braço direito; FC: frequência cardíaca; FR: frequência respiratória; bpm:
batimentos por minuto; irpm: incursões respiratórias por minuto.

I INSTRUMENTO COMPLEMENTAR PARA A O DIAGNÓSTICO DA DEPRESSÃO


►► Structured Clinical Interview for DSM Disorders
A Structured Clinical Interview for DSM Disorders (SCID) é uma entrevista
clínica estruturada do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Men-
tais publicado pela Associação de Psiquiatria Americana (APA), que se destina
à elaboração diagnóstica.
A SCID tem diferentes versões para uso clínico em pesquisa conforme atua-
lização da versão do DSM. Ainda não há SCID para versão do DSM-5, embora
sua publicação seja esperada em breve.
O índice de confiabilidade Kappa para adaptação em português entre o
SCID e o DSM-4 foi de 0,93 (maior que 0,75 é considerado excelente).
Quanto à aplicação, a codificação quanto à ausência ou presença de crité-
rios de sintomas diagnósticos é de julgamento clínico e não necessariamente
pela resposta do entrevistado. Todas as fontes de informação (familiares, ami-
gos, profissionais de saúde) são úteis para o julgamento.
A aplicação do instrumento é simples, mas necessita do conhecimento
aprofundado do DSM-4 e da própria estrutura da SCID.
O manual de aplicação da SCID versão clínica encontra-se no link: http://
files.getaufc.webnode.com.br/200000214-2b2742c211/entrevistaSCID.pdf
AVALIAÇÃO MÉDICA 129

I REFERÊNCIAS
DEL-BEN, C. M. et al. “Confiabilidade de” Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV-
--Versão Clínica” traduzida para o português.” Revista Brasileira de Psiquiatria, 2001.
GALLO, J. J.; FULMEN, T.; PAVEZA G. J., REICHEL W. Handbook of Geriatric Assessment.
Gaithrsburg, Maryland: Aspen, 2000.
MOREIRA, V. G.; LOURENÇO, R. A. Prevalence and factors associated with frailty in an
older population from the city of Rio de Janeiro, Brazil: the FIBRA-RJ Study. Clinics. v. 68,
n. 07, p. 979-985, 2013.
NIH, Geriatric Assessment Methods for Clinical Decisionmaking, NIH Consensus State-
ment, v. 6, n. 13, p. 1-21, 1987.
PFEIFER, E. Some basic principles of working with older patients. J Am Geriatr Soc., v. 33,
n. 1, p. 44-7, 1985.
STUCK, A. E.; ILIFFE, S. Comprehensive geriatric assessment for older adults. BMJ, v. 343,
2011.
Instruções do Protocolo 5
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL Verônica Costa Melo

I INTRODUÇÃO
A antropometria é um método simples, não invasivo, de rápida aplicação e
baixo custo. Para esta avaliação são utilizados o índice de massa corporal, a
circunferência do braço, a prega cutânea triciptal e o perímetro da cintura. A
descrição dos métodos de aferição destes indicadores encontra-se na Seção 1,
Protocolo 5.
As instruções abaixo referem-se a três outros itens: a anamnese alimentar, a
avaliação do consumo alimentar, a orientação nutricional e a Miniavaliação
Nutricional.

I ANAMNESE ALIMENTAR
A anamnese alimentar é um processo fundamental na avaliação nutricional.
Trata-se de uma entrevista para o registro de informações junto ao paciente
com o propósito de obter dados necessários para análise e assim definir metas
para o tratamento.
A anamnese é dividida em:
• Dados pessoais (nome, gênero, estado civil, idade, ocupação ou apo-
sentadoria).
• Dados clínicos (queixa principal, história da doença e evolução, uso de
medicamentos, função intestinal).
• Dados sobre o estilo de vida (tabagismo, etilismo, religião, prática de
atividade física).
• Aspectos físicos (alteração de peso, condições sobre dentição, mastiga-
ção e deglutição, capacidade funcional).
Aspectos dietéticos (alergia, intolerância e aversões alimentares, hidratação).
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 131
As perguntas devem ser claras, de fácil entendimento e sempre que ne-
cessário complementadas com questões que nem sempre estão presentes em
roteiros previamente definidos.

I AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR


A avaliação do consumo alimentar de idosos pode apresentar grandes de-
safios. A escolha do método é muito importante e as condições de cognição,
visão, audição e o grau de escolaridade do paciente devem ser considerados.
A ajuda de um familiar e/ou cuidador pode complementar o relato do idoso.
Como métodos de avaliação do consumo alimentar estão:
• Recordatório de 24h: método quantitativo que consite em entrevista
realizada pelo nutricionista, no qual o entrevistado relata e descreve
o consumo de alimentos e bebidas nas últimas 24h. Não depende da
escolaridade, mas exige boa memória do paciente (em alguns casos, é
necessária a ajuda de um familiar).
• Registro Alimentar: método quantitativo que consiste em relato por es-
crito do consumo de alimentos e bebidas ao longo do dia (2 dias da
semana e 1 dia de final de semana), contendo medidas caseiras, uni-
dades e porções. Não exige da memória do paciente, mas do grau de
escolaridade deste, assim como interesse no resultado e disponibilidade
de tempo.
• Questionário de Frequência Alimentar: consiste em uma lista previa-
mente definida de alimentos na qual o paciente deve informar a freqü-
ência de consumo em um período determinado. Não é descrita a quan-
tidade, mostra apenas o consumo ou não e sua freqüência
• Historia Alimentar: consiste no levantamento de hábitos alimentares du-
rante o ciclo de vida; pode abranger um dia, um mês ou um período
maior. Exige boa memória do paciente e pode ser necessário relato de
um familiar.
Depois do atendimento nutricional, todos os dados serão analisados e o
diagnóstico nutricional será realizado, seguido de intervenção nutricional,
caso seja necessário.
132 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 5

I ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL
A orientação nutricional deve abordar todos os pontos da anamnese e ser
realizada de forma gradual, seguindo estratégias de vivência, dificuldades e
dúvidas do paciente. A linguagem adotada é de grande importância, a fim de
favorecer a compreensão das informações. As orientações devem ser orais e
escritas. Além das orientações, o paciente deve receber a prescrição dietética
com lista de substituição de alimentos, com objetivo de variar a dieta proposta.
O trabalho de uma equipe interdisciplinar torna-se necessário para recu-
peração e manutenção do estado nutricional, com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida dessa população.

I MINIAVALIAÇÃO NUTRICIONAL
A Miniavaliação Nutricional (MAN) tem sido fortemente utilizada para iden-
tificar risco de desnutrição. No serviço este instrumento tem sido utilizado
no momento da avaliação inicial para ingresso no programa. Na sequência
apresentamos as orientações sobre a aplicação deste instrumento. Geralmen-
te, nos processos de triagem se usa a versão reduzida e, na dependência dos
resultados, amplia-se para a avaliação global.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 133
Miniavaliação Nutricional (versão reduzida)
Nome:____________________________________________________

Sexo_____ Idade:______ Peso: ______ Altura: _______ Data:_______

A) Nos últimos três meses houve diminuição da ingestão alimentar devido à perda do apetite, pro-
blemas digestivos ou dificuldade para mastigar ou deglutir?
Caso haja dificuldade de entendimento do item, usar as seguintes perguntas: “Você comeu menos
do que o normal nos últimos três meses? ”
“Isso se deve à falta de apetite ou dificuldade para mastigar ou engolir?”
0 = diminuição severa da ingestão
1 = diminuição moderada da ingestão
2 = sem diminuição da ingestão

B) Perda de peso nos últimos 3 meses


Caso haja dificuldade de entendimento do item, usar as seguintes perguntas:
“Você perdeu peso sem querer nos últimos três meses? ”
“Você sentiu que a roupa está mais larga? ”
0 = superior a três quilos
1 = não sabe informar
2 = entre um e três quilos
3 = sem perda de peso

C) Mobilidade
Para este item usar as seguintes perguntas:
“Você consegue sair da cama atualmente? ”
“Você consegue sair de casa sozinho”
0 = restrito ao leito ou a cadeira de rodas
1 = deambula, mas não é capaz de sair de casa
2 = normal

D) Passou por algum estresse psicológico ou doença aguda nos últimos três meses?
Na dificuldade de entendimento, usar como exemplo:
“Sofreu a perda de um ente querido recentemente”
0 = sim 1 = não
E) Problemas neuropsicológicos
O cuidador do paciente e a história clínica podem oferecer informações sobre a severidade dos
problemas neuropsicológicos do paciente. Por exemplo, por perguntar:
“Algum médico já deu um diagnóstico de demência ou depressão?”
0 = demência ou depressão grave
1 = demência leve
2 = sem problemas psicológicos

F1) Índice de Massa Corporal (IMC= peso [kg] / estatura {m²})


0 = IMC < 19
1 = 19 ≤ IMC < 21
2 = 21 ≤ IMC < 23
3 = IMC ≥ 23
134 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 5

Miniavaliação Nutricional (cont.)


SE O CALCULO DO IMC NÃO FOR POSSIVEL, SUBSTITUIR A QUESTÃO F1 PELA F2
NÃO PREENCHER A QUESTÃO F2 SE A QUESTÃO F1 ESTIVER COMPLETA
F2) Circunferência da Panturrilha (CP) em cm
0 = CP menor que 31
3 = CP maior ou igual a 31

Ténica para aferição da circunferência da panturrilha:


A pessoa deve estar sentada, com o joelho dobrado em um ângulo de 90°
O profissional deve posicionar a fita métrica horizontalmente na área de maior diâmetro da pan-
turrilha.

Valores menores que 31 cm indicam depleção de massa muscular


Escore de Triagem
(Máximo de 14 pontos)
12-14 pontos estado nutricional normal
8-11 pontos sob risco de desnutrição
0-7 pontos desnutridos

Fonte: Instituto Nestlé (2017).

I REFERÊNCIAS
FRANCO, F. S. et al. Processos de Cuidados em Nutrição. In: TINÔCO, A. L. A., ROSA, C.
O. B. Saúde do Idoso - Epidemiologia, Aspectos Nutricionais e Processo de Envelhe-
cimento. 1ª edição, Rio de Janeiro: editora Rubio, 2015. p.395-422.
NESTLÉ® NUTRITION INSTITUTE. Um Guia para completar a Mini Avaliação Nutricional®.
Disponível em: http://www.mna-elderly.com/forms/mna_guide_portuguese.pdf. Acesso
em: 31/07/17.
TOASSA, E. C.; Leal, G. V. S. Atendimento ao Idoso em Consultório. In: SILVA, M. L. N.;
Marucci, M. F. N.; Roediger, M. A. Tratado de Nutrição em Gerontologia. Barueri, São
Paulo: Editora Manole, 2016. p. 312-326.
SILVA, E. C. Goulart; R. M. M.; Aquino, R. C. Atendimento ao Idoso em Ambulatório. In:
SILVA, M. L. N., Marucci, M. F. N., Roediger, M. A. Tratado de Nutrição em Gerontologia.
Barueri, São Paulo: Editora Manole. 2016. p. 327-340.
Instruções do Protocolo 6
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA Flávia Moura Malini
Drummond

I INTRODUÇÃO
A avaliação funcional realizada pela equipe de fisioterapia tem como objeti-
vo fornecer informações importantes sobre a mobilidade, equilíbrio, marcha e
risco de quedas dos idosos. Também é necessária para auxiliar na elaboração
de condutas, avaliar a eficácia das intervenções e evolução longitudinal dos
idosos. Através do diagnóstico cinético-funcional, juntamente com as informa-
ções obtidas pelos outros profissionais, o fisioterapeuta poderá elaborar seus
objetivos e condutas de tratamento.

I PROGNÓSTICO DE ADERÊNCIA
Para avaliar o prognóstico de aderência ao tratamento, devemos iniciar a
avaliação fisioterapêutica com uma pergunta simples. Esta pergunta deve ser
respondida pelo próprio idoso ou pelo acompanhante/familiar.
Caso a resposta seja “sim”, ao final da avaliação, se o paciente apresentar cri-
térios para acompanhamento regular, deve ser inserido no Serviço, para aten-
dimento no mínimo 2 vezes por semana. Este atendimento pode ser feito de
forma individual ou em grupo, de acordo com as necessidades apresentadas.
Em caso de resposta negativa, se o idoso tiver necessidade de atendimento,
deve ser elaborado um relatório com os resultados dos testes e encaminhado
para tratamento fisioterapêutico em outro local.
Esta pergunta visa adequar a necessidade e condição do idoso e do Serviço,
otimizando as orientações e evitando filas de espera desnecessárias.

ADERÊNCIA
Se o tratamento de fisioterapia for necessário, o(a) sr(a). pode comparecer ao serviço 2x/
semana? ( )

(1) sim (2) não


136 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

I INQUÉRITO DE QUEDAS
Avalia-se o histórico de quedas no último ano com uma pergunta sim-
ples: “Houve alguma queda nos últimos 12 meses?”. Esta pergunta deve ser
respondida pelo próprio idoso, reforçando, se necessário, sobre quais meses
estamos falando. Por exemplo: “De julho do ano passado até julho deste ano,
houve alguma queda?”. Esta pergunta é altamente influenciada pela memória
do indivíduo, e muitas vezes, pode ser subestimada. Podemos confirmar esta
resposta perguntando também ao acompanhante/familiar.
O número de quedas também deve ser questionado, assim como o local
onde cada uma ocorreu, em quais circunstâncias, quais foram os sintomas
apresentados no momento da queda, como por exemplo, tonteira, tropeços,
desequilíbrios, desmaios, etc.
É de suma importância perguntar se ele conseguiu se levantar sozinho ou
se precisou de ajuda. E também quais foram as consequências da queda: se
precisou procurar algum serviço de saúde/emergência, se houve alguma lesão,
local da lesão, se houve fratura e em que local.
Estas perguntas são avaliadas de forma aberta, visando coletar o maior nú-
mero de informações possíveis.
Em seguida, avaliamos a presença de medo de cair através de uma pergunta
simples: “O(A) sr(a). tem medo de cair?”. Esta pergunta deve ser feita inclusive
para aqueles que nunca caíram.
Avaliamos a percepção do indivíduo quanto ao seu equilíbrio com a se-
guinte pergunta: “O(A) sr(a). acha que tem problema de equilíbrio?”. Caso
haja dificuldade de compreensão, podemos explicar como: “Acha que anda
com dificuldade?”, ou: “Acha que tem desequilíbrio, parece que vai cair?”.
Esta avaliação é considerada importante preditora de quedas, mesmo com os
resultados de testes de equilíbrio e marcha normais.
Perguntamos quanto à prática de exercício físico regular, qual modalidade
e frequência. Devemos diferenciar aqui a prática de exercícios físicos, que
seriam exercícios programados e sistematizados com algum objetivo especí-
fico, de atividade física de forma ampla e geral, como por exemplo: limpar e
arrumar a casa, andar até o ponto de ônibus, etc. Com esta pergunta, quere-
mos obter a informação sobre exercícios físicos diferenciando das atividades
de rotina.
Também é importante avaliar se o idoso está em tratamento fisioterapêutico
no momento e para qual problema.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 137

HISTÓRICO DE QUEDAS

Houve alguma queda nos últimos 12 meses?: ( ) (1) Sim (2) Não

Número de quedas: ( )

Local em que ocorreu:______________________________________________________________

Sintomas ao cair:__________________________________________________________________

Conseguiu levantar sozinho(a)? ( ) (1) Sim (2) Não

O que mudou após a queda? ________________________________________________________

O(A) sr(a) tem medo de cair? ( ) (1) Sim (2) Não

O(A) sr(a) acha que tem problema de equilíbrio? ( ) (1) Sim (2) Não

Faz algum exercício físico regular? ( ) (1) Sim (2) Não

Qual: ___________________________________________________________________________

Quantas vezes por semana?

Encontra-se em tratamento com fisioterapia em outro local? ( ) (1) Sim (2) Não
Se sim, para qual problema? ________________________________________________________

I AVALIAÇÃO MIOARTICULAR GERAL


►► Força de preensão palmar
A força de preensão palmar (FPP) é medida por meio de um teste com
um dinamômetro. O aparelho do tipo JAMAR, desenvolvido por Bechtol
no ano de 1954, é um instrumento recomendado pela American Society of
Hand Therapists (ASHT) para medir a FPP, considerado o padrão-ouro. Ele
contém um sistema hidráulico fechado que mede a quantidade de força de
preensão manual produzida por uma contração isométrica aplicada sobre as
alças, que podem ser ajustadas em cinco posições diferentes, e essa força é
registrada em quilograma-força (kgf) e pelo método da média de três medidas.
Este instrumento é considerado o mais aceito por ser relativamente simples e
fornecer leitura rápida e direta.
A posição ideal que a ASHT recomenda para a avaliação da FPP é que o
avaliado esteja confortavelmente sentado, posicionado com o ombro leve-
mente aduzido, o cotovelo fletido a 90 graus, o antebraço em posição neutra
e a posição do punho pode variar entre 0 e 30 graus de extensão (Figura 1).
138 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Figura 1. Posição recomendada pela ASHT para utilização do dinamômetro JAMAR.

Fonte: Google imagens. Acesso em 09/10/2017.

Além disso, a ASHT recomenda que seja utilizada a segunda posição da ma-
nopla do dinamômetro do tipo JAMAR por ser a posição da alça mais eficiente
para realização da medida. Outros autores recomendam que a segunda posição
da alça seja utilizada para mulheres e a terceira posição para homens. Porém,
caso o idoso tenha a mão anatomicamente maior ou menor em relação à média
das pessoas, pode-se utilizar em outra posição acima ou abaixo dessas marcas.
Durante a realização das medidas de FPP, as instruções específicas são im-
portantes, assim como o volume em que são transmitidas. Por isso, é importan-
te uniformizar os comandos dados aos avaliados, como também usar o mesmo
tom de voz durante as instruções. A medida é realizada no membro superior
dominante, solicitando para o avaliado aplicar a força mais elevada possível
nas três tentativas. A contração máxima pode ser mantida por 3 ou 6 segundos,
sendo suficientes para fornecer a leitura da FPP, e o tempo ideal de descanso
para realização de uma nova medida pode ser em torno de 60 segundos.
A FPP fornece uma aproximação da força muscular global e está fortemente
ligada à funcionalidade. Os idosos que geralmente apresentam FFP reduzida
são sedentários, possuem redução de massa corporal, problemas de saúde e
limitações funcionais em atividades que precisem da utilização dos membros
superiores e inferiores.

FORÇA DE PREENSÃO MANUAL

(Dinamômetro JAMAR)
1ª medida de força de preensão kgf
2ª medida de força de preensão kgf
3ª medida de força de preensão kgf
Média: 1ª+ 2ª + 3ª/ 3 kgf

►► Força muscular
A avaliação da força muscular deve ser realizada através do Teste Muscular
Manual. Deve ser realizado nos grupamentos musculares de membros supe-
riores e inferiores, de acordo com os movimentos.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 139
O idoso deve estar na posição sentada, de maneira confortável, e deve ser
realizado e anotado o grau de força dos seguintes movimentos:
Membros superiores:
• flexão e abdução de ombros;
• flexão e extensão de cotovelos;
• flexão e extensão de punhos.
Membros inferiores:
• flexão de quadril;
• flexão e extensão de joelhos;
• abdução e adução de quadril;
• dorsiflexão e plantiflexão de tornozelos.
Cada grupamento muscular é avaliado e classificado em 6 categorias:
Grau 0: ausência de movimento, paralisia.
Grau 1: esboço de contração.
Grau 2: incapaz de mover contra a gravidade, mas realiza o movimento.
Grau 3: vence a força da gravidade sem resistência.
Grau 4: vence a força de gravidade com uma pequena resistência.
Grau 5: vence a força de gravidade com uma grande resistência.

Observação:
Ao realizar a avaliação da amplitude de movimento e força muscular, o pro-
fissional deve observar o padrão e a qualidade de movimento, presença, local
e intensidade da dor. A avaliação pode ser complementada de acordo com a
necessidade específica e a condição do idoso. Por exemplo, avaliar o tônus
muscular, coordenação, goniometria, etc.

Análise da força muscular por grupamento-chave

Comentários: _____________________________________________________________________

►► Amplitude de movimento
A avaliação da amplitude de movimento deve ser realizada na postura em
decúbito dorsal, preferencialmente, ou na postura sentada. Deve-se avaliar a
amplitude de movimento articular (ADM) dos mesmos movimentos citados
acima para avaliação da força muscular.
Inicia-se com a ADM ativa, ou seja, pedindo ao idoso que realize o movi-
mento completo, ou até o limite. A avaliação do movimento ativo é importan-
te para que se avalie padrão, ritmo e qualidade do movimento, presença de
dor, em qual amplitude ocorre o início da dor, se a intensidade aumenta com
o movimento e presença de restrição ou bloqueio.
140 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Após o movimento ativo, deve-se avaliar de forma passiva, ou seja, sem o


auxílio do idoso. Estes movimentos fornecem informações sobre a integridade
das superfícies articulares, cápsulas, ligamentos e músculos e a sensação final
do movimento (end-feel).
Esta avaliação deve ser anotada de forma qualitativa, se as ADM passiva e
ativa estiverem completas, ou, caso não esteja, anotar detalhadamente quais
movimentos estão restritos.

Análise do arco de movimento articular (ADM)

Comentários:____________________________________________________________________

I AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO FÍSICO-FUNCIONAL ATRAVÉS DO SHORT PHYSICAL


PERFORMANCE BATTERY
O Short Physical Performance Battery (SPPB) é um instrumento criado em
1995. É composto por três testes que avaliam, na sequência:
• o equilíbrio estático em pé;
• a velocidade de marcha em passo habitual, medida em dois tempos em
determinado percurso de ida e volta;
• e, indiretamente, a força muscular dos MMII por meio do movimento de
levantar-se da cadeira e sentar-se nela cinco vezes consecutivas e sem o
auxílio dos membros superiores.
O teste possui uma pontuação que é graduada de 0 a 4, na qual 0 representa
pior e 4 melhor desempenho. Para a realização do teste utiliza-se uma cadeira
sem braços e um cronômetro.
Para a realização do teste de marcha usa-se o percurso de 4 metros, sendo
necessário um espaço equivalente a 6 metros, onde se deixa um metro antes
do ponto zero para aceleração e um metro após o ponto 4 para desaceleração.
O cronômetro deve ser acionado no momento em que o idoso pisa na mar-
cação inicial ou quando o pé tocar o solo imediatamente após o ponto zero.
E travado quando o pé tocar o solo antes da marcação ou pisar na marcação
final. Devem ser realizadas duas tentativas e anotada a de melhor tempo.
Observação:
O SPPB nos fornece o tempo de percurso em 4 metros, como a velocidade
da marcha é um parâmetro importante na avaliação funcional do idoso, pode-
se aproveitar o tempo para realizar o cálculo da distância sobre o tempo para
se obter o valor da velocidade da marcha.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 141
Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery
Todos os testes devem ser realizados na ordem em que são apresentados neste protocolo. As ins-
truções para o paciente a para o avaliador estão separadas nos quadros abaixo. As instruções aos
pacientes devem ser dadas exatamente como estão descritas aqui.
1. TESTES DE EQUILIBRIO
A. POSIÇÃO COM OS PÉS JUNTOS
Instruções para o(a) avaliador(a) Instruções para o(a) paciente
O paciente deve conseguir ficar em pé sem utili- a) Agora vamos começar a avaliação.
zar bengala ou andador. Ele pode ser ajudado a b) Eu gostaria que o(a) sr(a). tentasse realizar vá-
levantar-se para ficar na posição. rios movimentos com o corpo.
c) Primeiro eu demonstro e explico como fazer
cada movimento.
d) Depois o(a) sr(a). tenta fazer o mesmo.
e) Se o(a) sr(a). não puder fazer algum movimen-
to, ou se não estiver seguro para realizá-lo, avise-
-me e passaremos para o próximo teste.
f) Vamos deixar bem claro que o(a) sr(a). não
tentará fazer nenhum movimento se não se sen-
tir seguro.
g) O(a) sr(a). tem alguma pergunta antes de co-
meçarmos?
Agora vou mostrar o 1o movimento. Depois o(a)
sr(a). fará o mesmo.
1. Demonstre a) Agora fique em pé, com os pés juntos, um en-
costado no outro por 10 segundos.
b) Pode usar os braços, dobrar os joelhos ou
balançar o corpo para manter o equilíbrio, mas
procure não mexer os pés.
c) Tente ficar nesta posição até eu falar ‘‘pronto’’.
2. Fique perto do(a) paciente para ajuda-lo(a) a
ficar em pé com os pés juntos.
3. Caso necessário, segure o braço do(a) pacien-
te para ficar na posição e evitar que ele(a) perca
o equilíbrio.
4. Assim que o(a) paciente estiver com os pés ‘‘O(a) sr(a). está pronto?’’
juntos pergunte:
5. Retire o apoio, se foi necessário ajudar o(a) ‘‘Preparar, já’’ (disparando o cronômetro).
paciente a ficar em pé na posição, e diga:
6. Pare o cronômetro depois de 10 segundos, ou ‘‘Pronto, acabou.’’
quando o(a) paciente sair da posição ou segurar
o seu braço, dizendo:
7. Se o paciente não conseguir se manter na
posição por 10 segundos, marque o resultado e
prossiga para o teste de velocidade de marcha.
142 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery (cont.)


B. POSIÇÃO EM PÉ COM UM PÉ PARCIALMENTE A FRENTE
Instruções para o(a) avaliador(a) Instruções para o(a) paciente
Agora eu vou mostrar o 2o movimento. Depois
o(a) sr(a). Fará o mesmo.
1. Demonstre. a) Eu gostaria que o(a) sr(a). colocasse um pé um
pouco mais a frente do outro pé, até ficar com o
calcanhar de um pé encostado ao lado do dedão
do outro pé.
b) Fique nessa posição por 10 segundos.
c) O(a) sr(a). pode colocar tanto um pé quanto o
outro na frente, o que for mais confortável.
d) O(a) sr(a). pode usar os braços, dobrar os jo-
elhos ou o corpo para manter o equílibrio, mas
procure não mexer os pés.
e) Tente ficar nesta posição até eu falar ‘‘pronto’’.
2. Fique perto do(a) paciente para ajudá-lo(la) a
ficar em pé com um pé parcialmente à frente.
3. Caso necessário, segure o braço do(a) pacien-
te para ficar na posição e evitar que ele(a) perca
o equilibrio.
4. Assim que o(a) paciente estiver na posição, ‘‘O(a) sr(a). está pronto(a)?’’
com o pé parcialmente a frente, pergunte:
5. Retire o apoio, caso tenha sido necessário ‘‘Preparar, já!’’ (disparando o cronômetro).
ajudar o(a) paciente a ficar em pé na posição, e
diga:
6. Pare o cronômetro depois de 10 segundos, ou ‘‘Pronto, acabou.’’
quando o(a) paciente sair da posição, e diga:
7. Se o paciente não conseguir se manter na
posição por 10 segundos, marque o resultado
e prossiga para o Teste de velociade de marcha.
B. PONTUAÇÃO Manteve por 10 segundos = 1 ponto
Não manteve por 10 segundos = 0 ponto
Não tentou = 0 pontos
Se pontuar 0, encerre os Testes de Equilíbrio e
informe o motivo aqui:____________________
______________________________________.
Tempo de execução quando for menor que 10
seg.: _______segundos.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 143
Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery (cont.)
C. POSIÇÃO EM PÉ COM UM PÉ A FRENTE
Instruções para o(a) avaliador(a) Instruções para o(a) paciente
Agora vou mostrar o 3o movimento. Depois o(a)
sr(a). fará o mesmo.
a) Eu gostaria que o(a) sr(a). colocasse um dos
pés totalmente a frente do outro até ficar com
o calcanhar deste pé encostado nos dedos do
outro pé.
b) Fique nesta posição por 10 segundos.
c) O(a) sr(a). pode colocar qualquer um dos pés a
frente, o que for mais confortável.
d) Pode usar os braços, dobrar os joelhos, ou o
corpo para manter o equilíbrio, mas procure não
mexer os pés.
e) Tente ficar nesta posição até eu avisar quando
parar.
2. Fique perto do(a) paciente para ajuda-lo(la) a
ficar na posição em pé com um pé a frente.
3. Caso seja necessário, segure o braço do(a) pa-
ciente para ficar na posição e evitar que ele(a)
perca o equilíbrio.
4. Assim que o paciente estiver com os pés um ‘‘O(a) sr(a). está pronto(a)?’’
na frente do outro, pergunte:
5. Retire o apoio, caso tenha sido necessário ‘‘Preparar, já’’ (disparando o cronômetro).
ajudar o(a) paciente a ficar em pé na posição, e
diga:
6. Pare o cronômetro depois de 10 segundos, ou ‘‘Pronto, acabou.’’
quando o(a) participante sair da posição ou se-
gurar o seu braço dizendo:
C. PONTUAÇÃO Manteve por 10 segundos = 2 pontos
Manteve por 3 a 9,99 segundos = 1 ponto
Manteve por menos de 3 segundos = 0 ponto
Se pontuar 0, encerre os Testes de Equilíbrio e
informe o motivo aqui:____________________
___________________.
Tempo de execução quando for menor que 10
seg: _______ segundos.
D. Pontuação Total nos Testes de Equilíbrio:
________ (Soma dos pontos)
144 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery (cont.)


2. TESTE DE VELOCIDADE DE MARCHA
(Podem ser utilizados 3 ou 4 metros)
Instruções para o(a) avaliador(a) Instruções para o(a) paciente
Material: fita crepe ou fita adesiva, espaço de 3 Agora vou observar o(a) sr(a). andando normal-
ou 4 metros, fita métrica ou trena e cronômetro. mente. Se precisar de bengala ou andador para
caminhar, pode utilizá-los.
A. Primeira tentativa
1. Demonstre a caminhada para o(a) paciente. Eu caminharei primeiro e só depois o(a) sr(a). irá
caminhar da marca incial até utrapassar comple-
tamente a marca final, no seu passo de costume,
como se estivesse andando na rua para ir a uma
loja.
2. Posicione o(a) paciente em pé com a ponta a) Caminhe até utrapassar completamente a
dos pés tocando a marca inicial. marca final e depois pare.
b) Eu andarei com o(a) sr(a). Sente-se seguro
para fazer isto?
3. Dispare o cronômetro assim que o(a) paciente a) Quando eu disser ‘‘Já’’, o(a) sr(a). começa a
tirar o pé do chão. andar.
4. Caminhe ao lado e logo atrás do(a) participan- b) ‘‘Entendeu?’’ Assim que o paciente disser que
te. sim, diga: ‘‘Então, preparar, já!’’
5. Quando um dos pés do(a) paciente utrapassar
completamente a marca final pare de marcar o
ponto.
Tempo da Primeira tentativa

A. Tempo para 3 ou 4 metros: ________segun-


dos.
B. Se o(a) paciente não realizaou o teste ou fa-
lhou, marque o motivo:
1) Tentou, mas não conseguiu.
2) O(A) paciente não consegue caminhar sem a
ajuda de outra pessoa.
3) Não tentou, o(a) avaliador(a) julgou inseguro.
4) Não tentou, o(a) paciente sentiu-se inseguro.
5) O(A) paciente não conseguiu entender as ins-
truções.
6) Outros (Especifique) ____________________
7) O(A) paciente recusou participação.
C. Com apoios para a primeira caminhada:
□ Nenhum □ Bengala □ Outro
D. Se o(a) paciente não conseguiu realizar a ca-
minhada, pontue:
0 ponto e prossiga para o teste de levantar da
cadeira.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 145
Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery (cont.)
2. TESTE DE VELOCIDADE DE MARCHA
B. Segunda tentativa
Instrução para o(a) avaliador(a) Instrução para o(a) paciente
1. Posicione o(a) paciente em pé com a ponta
dos pés tocando a marca inicial.
2. Dispare o cronômetro assim que o(a) paciente
tirar o pé do chão.
3. Caminhe ao lado e logo atrás do(a) paciente.
4. Quando um dos pés do(a) paciente utrapas-
sar completamente a marca final pare de marcar
o tempo.
Tempo da segunda tentativa
A. Tempo para 3 ou 4 metros: _______ segun-
dos.
B. Se o(a) paciente não realizou os teste ou fa-
lhou, marque o motivo.
1) Tentou mais não conseguiu.
2) O(A) paciente não consegue caminhar sem
ajuda de outra pessoa.
3) Não tentou, o(a) avaliador(a) julgou inseguro.
4) Não tentou, o(a) paciente sentiu-se inseguro.
5) O(A) paciente não conseguiu entender as ins-
truções.
6) Outros (Especifique) _________
7) O(A) Paciente recusou participação.
C. Apoios para a segunda caminhada:
□ Nenhum □ Bengala □ Outro
D. Se o(a) paciente não conseguiu realizar a ca-
minhada, pontue:
- 0 ponto.
PONTUAÇÃO DO TESTE DE VELOCIDADE DE MARCHA
Extensão do teste de marcha: Quatro metros □ ou três metros □
Qual foi o tempo mais rápido dentre as duas caminhadas?
Marque o menor dos dois tempos: __________ segundos e utilize para pontuar.
[Se somente uma caminhada foi realizada, marque esse tempo] ________segundos
Se o(a) paciente não conseguiu realizar a caminhada: 0 ponto.
Pontuação para caminhada de 3 metros Pontuação para caminhada de 4 metros
Se o tempo for maior que 6,52 segundos = 1 ponto Se o tempo for maior que 8,70 segundos = 1 ponto
Se o tempo for de 4,66 a 6,52 segundos = 2 pontos Se o tempo for de 6,21 a 8,70 segundos = 2 pontos
Se o tempo for de 3,62 a 4,65 segundos = 3 pontos Se o tempo for de 4,82 a 6,20 segundos = 3 pontos
Se o tempo for menor que 3,62 segundos = 4 pontos Se o tempo for menor que 4,82 segundos = 4 pontos
146 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery (cont.)


3. TESTE DE LEVANTAR-SE DA CADEIRA
Instruções para o(a) avaliador(a) Instruções para o(a) paciente
Material: cadeira para encosto reto, sem apoio
lateral, com aproximadamente 45 cm de altura,
e cronômetro. A cadeira deve estar encostada à
parede ou estabilizada de alguma forma para im-
pedir que se mova durante o teste.
PRÉ-TESTE: LEVANTAR-SE DA CADEIRA UMA VEZ
1. Certifique-se que o(a) participante esteja ocu- Vamos fazer o último teste. Ele mede a força de
pando a maior parte do assento, mas com os pés suas pernas. O(A) sr(a). se sente seguro(a) para
bem apoiados no chão. Não precisa necessaria- levantar-se da cadeira sem ajuda dos braços?
mente encostar a coluna no encosto da cadeira,
isso vai depender da altura do(a) paciente.
2. Demonstre e explique os procedimentos Eu vou demonstrar primeiro. Depois o(a) sr(a).
fará o mesmo.
a) Primeiro, cruze os braços sobre o peito e sen-
te-se com os pés apoiados no chão.
b) Depois levante-se completamente mantendo
os braços cruzados sobre o peito e sem tirar os
pés do chão.
3. Anote o resultado. Agora, por favor, levante-se completamente
mantendo os braços cruzados sobre o peito.
4. Se o(a) paciente não conseguir levantar-se
sem usar os braços, não realize o teste, apenas
diga:
‘‘Tudo bem, este é o fim dos testes.’’
5. Finalize e registre o resultado e prossiga para a
pontuação completa da SPPB.
RESULTADO DO PRÉ-TESTE:
LEVANTAR-SE DA CADEIRA UMA VEZ
A. Levantou-se sem ajuda e com segurança
□ Sim □ Não
O(A) paciente levantou-se sem usar os braços.
- Vá para o teste levantar-se da cadeira 5 vezes.
O(A) paciente usou os braços para levantar-se.
- Encerre o teste e pontue 0 ponto.
Teste não completado ou não realizado.
- Encerre o teste e pontue 0 ponto.
B. Se o(a) paciente não realizou o teste ou fa-
lhou, marque o motivo.
1. Tentou mais não conseguiu.
2. O Paciente não consegue levantar-se da cadei-
ra sem ajuda.
3. Não tentou, o avaliador julgou inseguro.
4. Não Tentou, o paciente sentiu-se inseguro.
5. O(A) paciente não entendeu as instruções.
6. Outros (Especifique) ____________.
7. O(A) Paciente recusou participação.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 147
Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery (cont.)
TESTE DE LEVANTAR-SE DA CADEIRA CINCO VEZES
Instruções para o(a) avaliador(a) Instruções para o(a) paciente
Agora o(a) sr(a). se sente seguro para levantar-se
da cadeira completamente cinco vezes, com os
pés bem apoiados no chão e sem usar os braços?
1. Demonstre e explique os procedimentos. Eu vou demonstrar primeiro. Depois o(a) sr(a).
fará o mesmo.
a) Por favor, levante-se completamente o mais
rápido possível cinco vezes seguidas sem parar
entre as repetições.
b) Cada vez que se levantar, sente-se e levante-
se novamente, mantendo os braços cruzados
sobre o peito.
c) Eu vou marcar o tempo com um cronômetro.
2. Quando o(a) paciente estiver sentado, ade- ‘‘Preparar, já!’’
quadamente, como descrito anteriormente, avi-
se que irá disparar o cronômetro, dizendo:
3. Conte em voz alta cada vez que o(a) paciente
se levantar, até a quinta vez.
4. Pare se o(a) paciente ficar cansado ou ofegan-
te durante o teste.
5. Pare o cronômetro quando o(a) paciente le-
vantar-se completamente pela quinta vez.
6. Também pare:
- Se o(a) paciente usar os braços
- Após um minuto se o(a) paciente não comple-
tar o teste
- Quando achar que é necessário para a seguran-
ça do(a) paciente.
7. Se o(a) paciente parar e parecer cansado antes
de completar os cinco movimentos, pergunte-
lhe se ele pode continuar.
8. Se o(a) paciente disser ‘‘Sim’’, continue mar-
cando o tempo. Se o(a) paciente disser ‘‘Não’’,
pare e zere o cronômetro.
RESULTADO DO TESTE
LEVANTAR-SE DA CADEIRA CINCO VEZES
A. Levantou-se as cinco vezes com segurança:
□ Sim □ Não
B. Levantou-se as cinco vezes com êxito, registre
o tempo: _________ segundos.
C. Se o(a) paciente não realizou o teste ou fa-
lhou, marque o motivo:
1. Tentou, mas não conseguiu.
2. O(A) paciente não consegue levantar-se da ca-
deira sem ajuda.
3. Não tentou, o(a) avaliador(a) julgou inseguro.
4. Não tentou, o(a) paciente sentiu-se inseguro.
5. O Paciente não conseguiu entender as instruções
6. Outros (Especifique) ___________
7. O paciente recusou participação.
148 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Itens da Versão Brasileira do Short Physical Performance Battery (cont.)


PONTUAÇÃO DO TESTE DE LEVANTAR-SE DA CADEIRA
O paciente não conseguiu levantar-se as cinco vezes ou completou o teste em tempo maior que 60 seg = 0 ponto
Se o tempo do teste for 16,70 segundos ou mais = 1 ponto
Se o tempo do teste for 13,70 a 16,69 segundos = 2 pontos
Se o tempo do teste for 11,20 a 13,69 segundos = 3 pontos
Se o tempo do teste for 11,19 ou menos = 4 pontos
PONTUAÇÃO COMPLETA PARA A VERSÃO 1. Pontuação total do teste de equilibrio: _______ pontos
2. Pontuação do teste de velocidade de marcha: _______ pontos
BRASILEIRA DA SHORT PHYSICAL PERFORMANCE 3. Pontuação do teste de levantar-se da cadeira: _______ pontos
BATTERY 4. Pontuação total: ________ pontos (some os pontos acima).

Fonte: Nakano, (2007).

Pontuação do Short Physical Performance Battery


Equilíbrio
Manteve por 10 seg (1)
Pés juntos ( ) Não manteve por 10 seg (0)
Não tentou (0)
Manteve por 10 seg (1)
Semitandem ( ) Não manteve por 10 seg (0)
Não tentou (0)
Manteve por 10 seg (2)
Tandem ( ) Não manteve por 3 a 9,99 seg (1) Manteve por menos de 3 seg (0)
Não tentou (0)
Resultado do teste: ( )

Velocidade de marcha (VM/4 metros)

Tentativas ( ) 1 tentativa (1) 2 tentativas (2)

Tempo:________seg. Velocidade____________m/s

Não conseguiu/recusou caminhar (0) Não consegue


Se tempo > 8,70 seg (1) ≤ 0,46 m/s
Se tempo for 6,21 a 8,70 (2) > 0,46m/s a 0,64m/s
Se tempo for 4,82 a 6,20 (3) > 0,64 m/s a 0,83m/s
Se o tempo for < 4,82 (4) > 0,83m/s

Resultado do teste: ( )

Apoios ( ) nenhum(0) bengala(1) outro(2)


AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 149
Pontuação do Short Physical Performance Battery (cont.)
Teste sentar e levantar

Pré teste: levantou sem usar os braços ( ) (1) Sim (2) Não

Não conseguiu levantar-se 5x ou tempo teste > 60 seg (0)


Tempo de teste 16,70 seg ou mais (1)
Se o tempo de teste for 13,70 a 16,69 seg (2)
Se o tempo de teste for 11,20 a 13,69 seg (3)
Se o tempo de teste for 11,19 seg ou menos (4)

Resultado do teste ( )

Pontuação completa para o SPPB


Pontuação total do Teste de Equilíbrio: ______________ pontos
Pontuação do Teste de Velocidade de Marcha: ______________ pontos
Pontuação do Teste Sentar e Levantar: ______________ pontos
Pontuação total: ______________ pontos (some os pontos acima)

Classificação do desempenho por pontuação


0 a 3 pontos = incapacidade ou desempenho muito ruim
4 a 6 pontos = baixo desempenho
7 a 9 pontos = moderado desempenho 10 a 12 pontos = bom desempenho

I ESCALA DE EQUILÍBRIO DE BERG


A Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) avalia o equilíbrio postural. É um instru-
mento criado (1989) e validado (1992) por Berg e adaptado transculturalmente
para o Brasil por Miyamoto (2004). Esta escala procura determinar o desem-
penho funcional do equilíbrio postural através de 14 tarefas que envolvem
o equilíbrio estático e dinâmico. A avaliação é feita por meio de observa-
ção, e a pontuação varia de 0 a 4, totalizando até 56 pontos. De acordo com
Shumway-Cook e Woollacott, na amplitude de 56 a 54 cada ponto a menos
é associado a um aumento de 3% a 4% no risco de quedas; de 54 a 46, a al-
teração de um ponto é associada a um aumento de 6% a 8%; e abaixo de 36
pontos, o risco de quedas é quase de 100%.
Para a aplicação da escala, utiliza-se caneta, duas cadeiras sem braços,
maca, fita métrica, fita crepe, degrau/banquinho e cronômetro.
150 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Itens da Escala de Equilíbrio de Berg


Tarefas Pontuação
1. Posição sentada para posição (4) capaz de se levantar sem utilizar as mãos e estabilizar-se de
de pé. forma independente
Instruções: Por favor, levante-se. (3) capaz de se levantar de forma independente utilizando as
Tente não usar as suas mãos como mãos
suporte. (2) capaz de se levantar utilizando as mãos após diversas ten-
tativas
(1) necessita de ajuda mínima para se levantar ou estabilizar
(0) necessita de ajuda moderada ou máxima para se levantar
2. Permanecer em pé sem apoio. (4) capaz de permanecer em pé com segurança por 2 minutos
Instruções: Por favor, fique em pé, (3) capaz de permanecer em pé por 2 minutos com supervisão
durante 2 minutos. (2) capaz de permanecer em pé por 30 segundos sem apoio
(1) necessita de várias tentativas para permanecer em pé por
30 segundos sem apoio
(0) incapaz de permanecer em pé por 30 segundos sem apoio
Obs.: Se for capaz de permanecer em pé por 2 minutos sem apoio, registre o número total de pon-
tos no item número 3 e continue com o item número 4
3. Permanecer sentado sem apoio (4) capaz de permanecer sentado com segurança e com firme-
nas costas, mas com os pés apoia- za por 2 minutos
dos no chão ou num banquinho. (3) capaz de permanecer sentado por 2 minutos sob supervi-
Instruções: Por favor, fique senta- são
do sem apoiar as costas com os (2) capaz de permanecer sentado por 30 segundos
braços cruzados por 2 minutos. (1) capaz de permanecer sentado por 10 segundos
(0) incapaz de permanecer sentado sem apoio durante 10 se-
gundos
4. Posição em pé para posição (4) senta-se com segurança com uso mínimo das mãos
sentada. Instruções: Por favor, (3) controla a descida utilizando as mãos
sente-se. (2) utiliza a parte posterior das pernas contra a cadeira para
controlar a descida
(1) senta-se de forma independente, mas tem descida sem
controle
(0) necessita de ajuda para sentar-se
5. Transferências. Instruções: Ar- (4) capaz de se transferir com segurança com uso mínimo das
rume as cadeiras perpendicular- mãos
mente ou uma de frente para a (3) capaz de se transferir com segurança com o uso das mãos
outra para uma transferência em (2) capaz de se transferir seguindo orientações verbais com/
pivô. Por favor, transferir-se de ou supervisão
uma cadeira com apoio de braço (1) necessita de uma pessoa para ajudar
para uma cadeira sem apoio de (0) necessita de duas pessoas para ajudar ou supervisionar
braço e vice-versa. para realizar a tarefa com segurança
6. Permanecer em pé sem apoio (4) capaz de permanecer em pé por 10 segundos com segu-
com os olhos fechados. Instru- rança
ções: Por favor, fique em pé e fe- (3) capaz de permanecer em pé por 10 segundos com super-
che os olhos por 10 segundos. visão
(2) capaz de permanecer em pé por 3 segundos
(1) incapaz de permanecer com os olhos fechados durante 3
segundos, mas mantém- se em pé
(0) necessita de ajuda para não cair
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 151
Itens da Escala de Equilíbrio de Berg (cont.)
7. Permanecer em pé sem apoio (4) capaz de posicionar os pés juntos de forma independente e
com os pés juntos. Instruções: Por permanecer por 1 minuto com segurança
favor, junte seus pés e fique em pé (3) capaz de posicionar os pés juntos de forma independente e
sem se apoiar. permanecer por 1 minuto com supervisão
(2) capaz de posicionar os pés juntos de forma independente e
permanecer por 30 segundos
(1) necessita de ajuda para se posicionar, mas é capaz de per-
manecer com os pés juntos durante 15 segundos
(0) necessita de ajuda para se posicionar e é
incapaz de permanecer nessa posição por 15 segundos
8. Alcançar à frente com o braço (4) pode avançar a frente mais que 25 cm com segurança
estendido permanecendo em pé (3) pode avançar a frente mais que 12,5 cm com segurança
(Teste do Alcance Funcional). Ins- (2) pode avançar a frente mais que 5 cm com segurança
truções: Levante o braço à 900. (1) pode avançar a frente, mas necessita de supervisão
Estique os dedos e tente alcançar (0) perde o equilíbrio na tentativa, ou necessita de apoio ex-
a frente o mais longe possível. (A terno
medida registrada é a distância
que os dedos conseguem alcançar
a inclinação).
9. Pegar um objeto do chão a par- (4) capaz de pegar o objeto com facilidade e segurança
tir de uma posição em pé. Instru- (3) capaz de pegar o objeto, mas necessita de supervisão
ções: Por favor, pegue o objeto (2) incapaz de pegá-lo, mas se estica até ficar a 2-5 cm do obje-
que está na frente dos seus pés. to e mantém o equilíbrio de forma independente
(1) incapaz de pegá-lo, necessitando de supervisão enquanto
está tentando
(0) incapaz de fazer, ou necessita de ajuda para não perder o
equilíbrio ou cair
10. Virar-se e olhar para trás por (4) olha para trás de ambos os lados com uma boa distribuição
cima dos ombros direito e esquer- de peso
do enquanto permanece em pé. (3) olha para trás somente de um lado; o lado contrário de-
Instruções: Por favor, vire-se para monstra menor distribuição do peso
olhar diretamente atrás de você (2) vira somente para os lados, mas mantém o equilíbrio
por cima do seu ombro esquerdo (1) necessita de supervisão para virar
sem tirar os pés do chão. Faça o (0) necessita de ajuda para não perder o equilíbrio ou cair
mesmo por cima do ombro direito.
11. Girar 3600. Instruções: Por fa- (4) capaz de girar 3600 com segurança em 4 segundos ou me-
vor, gire sobre si mesmo (crono- nos
metrar). Faça uma pausa. Gire em (3) capaz de girar 3600 com segurança somente para um lado
sentido contrário. em 4 segundos ou menos
(2) capaz de girar 3600 com segurança, mas lentamente
(1) necessita de supervisão próxima ou orientações verbais
(0) necessita de ajuda enquanto gira
12. Posicionar os pés alternadamen- (4) capaz de permanecer em pé de forma independente e com
te no degrau/banquinho enquanto segurança, completando 8 movimentos em 20 segundos
permanece em pé sem apoio. Instru- (3) capaz de permanecer em pé de forma independente e com-
ções: Por favor, toque cada pé alter-
pletar 8 movimentos em mais de 20 segundos
nadamente no degrau/banquinho
(cronometrar). Continue até que cada
(2) capaz de completar 4 movimentos sem ajuda
pé tenha tocado o degrau/banquinho (1) capaz de completar mais que 2 movimentos com o mínimo
quatro vezes. de ajuda
(0) incapaz de fazer, ou necessita de ajuda para não cair
Total:
152 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Itens da Escala de Equilíbrio de Berg (cont.)


13. Permanecer em pé sem apoio (4) capaz de colocar um pé imediatamente à frente do outro de
com um pé a frente. Instruções: forma independente, e permanecer por 30 segundos
Coloque um pé a frente do outro (3) capaz de colocar um pé um pouco mais a frente do outro e
na mesma linha. Se achar que não levemente para o lado de forma independente, e permanecer
irá conseguir, coloque o pé um por 30 segundos
pouco mais à frente do outro e le- (2) capaz de dar um pequeno passo de forma independente e
vemente para o lado. permanecer por 30 segundos
(1) necessita de ajuda para dar o passo, porém permanece por
15 segundos
(0) perde o equilíbrio ao tentar dar um passo ou ficar de pé
14. Permanecer em pé sobre uma (4) capaz de levantar uma perna de forma independente e per-
perna. Instruções: Fique em pé so- manecer por mais que 10 segundos
bre uma perna o máximo que pu- (3) capaz de levantar uma perna de forma independente e per-
der sem se segurar (cronometrar) manecer por 5-10 segundos
(2) capaz de levantar uma perna de forma independente e per-
manecer por 3-4 segundos
(1) tenta levantar uma perna, mas é incapaz de permanecer
por 3 segundos, embora permaneça em pé de forma indepen-
dente
(0) incapaz de fazer, ou necessita de ajuda para não cair
Total:

AVALIAÇÃO DE EQUILÍBRIO E MARCHA

Escala de Equilíbrio de Berg: __________ pontos


Observações: _______________________________

I O TESTE DE DUPLA-TAREFA
A dupla tarefa (DT) consiste na prática de duas tarefas simultâneas, em que
uma é considerada primária e a outra, secundária, e tem sido utilizada para
avaliar a relação entre cognição, marcha e quedas.
A marcha é tida como evento principal ou tarefa primária e as tarefas secun-
dárias, de um modo geral, são motoras ou cognitivas.
Parte-se da premissa de que duas tarefas realizadas ao mesmo tempo com-
petem por recursos corticais, o que pode interferir, tanto no desempenho de
uma delas, como no de ambas.
No Serviço, optou-se pela utilização do Timed Up and Go (TUG), como
instrumento de avaliação de marcha/equilíbrio e, como tarefa cognitiva, se-
cundária à marcha, adotou-se a fluência verbal semântica (categoria animais).

Dupla-tarefa: ( ) (1) normal (2) alterado (9) não realizado

Resultado sem distrador: __________ Resultado com distrador: __________


AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 153
Na dependência dos resultados desta avaliação inicial da fisioterapia, o ido-
so é inserido em um programa de reabilitação com acompanhamento duas
vezes por semana, com vinte sessões. Outros testes são realizados conforme a
especificidade de cada caso e estão detalhados na Seção 2, nas Instruções do
Protocolo 6.

I INSTRUMENTOS COMPLEMENTARES
Os outros instrumentos utilizados para complementar a avaliação são: a
Escala de Autoeficácia de Quedas (FES-I-BR) e o Índice Dinâmico da Marcha
(DGI).
►► Escala de Autoeficácia de Quedas
Esta escala tem como objetivo avaliar a percepção de autoeficácia nas que-
das, medindo o grau de confiança que o indivíduo tem na realização de deter-
minadas tarefas sem cair ou perder o equilíbrio. Consiste em um instrumento
composto por 16 itens com as seguintes opções de resposta: nem um pouco
preocupado, um pouco preocupado, muito preocupado e extremamente preo-
cupado. O indivíduo é questionado quanto à preocupação em cair ao realizar
as seguintes atividades: limpando a casa, vestindo ou tirando a roupa, preparan-
do refeições simples, tomando banho, indo às compras, sentando ou levantan-
do de uma cadeira, subindo ou descendo escadas, caminhando pela vizinhan-
ça, pegando algo acima de sua cabeça ou do chão, indo atender ao telefone
antes que pare de tocar, andando sobre superfície escorregadia, visitando um
amigo ou parente, andando em lugares cheios, caminhando sobre superfície
irregular, subindo ou descendo uma ladeira e indo a uma atividade social.
Caso o idoso relate que não realiza alguma das atividades, ele deve ser
questionado quanto à possibilidade de realizá-la. O escore total pode variar
de 16 a 64 e, quanto maior a pontuação, maior sua preocupação em relação
às quedas. O ponto de corte utilizado é de 23 ou mais pontos para que seja
considerado um individuo com medo de cair, o que está associado a ocorrên-
cia de quedas.
154 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

Itens da escala de autoeficácia de quedas


Autoeficácia para quedas
Eu vou fazer algumas perguntas sobre qual é sua preocupação a respeito da possibilidade de cair,
enquanto realiza algumas atividades. Se o(a) sr(a). atualmente não faz a atividade citada (por ex.
alguém vai as compras para o(a) sr(a)., responda de maneira a mostrar como se sentiria em relação
a quedas caso fizesse tal atividade.
Nem um pouco Um pouco Muito Extremamente
Atividades
preocupado preocupado preocupado preocupado
1. Limpando
a casa (passar
pano, aspirar o pó (1) (2) (3) (4)
ou tirar a poeira)
1.__________
2. Vestindo ou ti-
rando a roupa (1) (2) (3) (4)
2. __________
3. Preparando re-
feições simples (1) (2) (3) (4)
3. __________
4. Tomando ba-
nho (1) (2) (3) (4)
4.__________
5. Indo às com-
pras (1) (2) (3) (4)
5. __________
6. Levantando ou
sentando de uma
(1) (2) (3) (4)
cadeira
6. __________
7. Subindo ou
descendo escadas (1) (2) (3) (4)
7. __________
8. Caminhando
pela vizinhança (1) (2) (3) (4)
8. __________
9. Pegando algo
acima de sua ca-
(1) (2) (3) (4)
beça ou do chão.
9. __________
10. Ir atender o
telefone antes
(1) (2) (3) (4)
que pare de tocar
10. __________
11. Andando so-
bre superfície es-
corregadia
(1) (2) (3) (4)
(ex.: chão molha-
do)
11. __________
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 155

►► Índice Dinâmico da Marcha versão brasileira


Esta escala avalia qualitativa e quantitativamente a marcha. É composta por
oito itens de deambulação: (1) velocidade e instabilidade da marcha desem-
penhada pelo indivíduo em sua velocidade normal; (2) aceleração e desace-
leração; (3) movimento de rotação cefálica; (4) movimento de flexoextensão
cefálica; (5) movimento de rotação axial do corpo; (6) ultrapassagem de obstá-
culo (caixa de sapato); (7) contornar obstáculos (cones de trânsito) e (8) subir e
descer escadas. A pontuação é considerada de acordo com a disfunção ausen-
te (3 pontos), mínima (2 pontos), moderada (1 ponto) e acentuada (0 pontos).
O escore total varia entre 0 e 24 pontos, e quanto maior o escore, melhor o
desempenho na marcha. Uma pontuação de 19 ou menos está associada a
quedas.
Deve-se avaliar também o risco ambiental para a ocorrência de quedas.
Como o Serviço não dispõe da modalidade de atenção domiciliar, é possível
elaborar uma lista de potenciais riscos e apresentar para o idoso e seus cuida-
dores a importância de identificá-los e minimizá-los. Abaixo seguem os itens
que devem ser minuciosamente observados no domicílio.
• A iluminação é adequada?
• Como está o estado dos degraus, caso existem no domicílio?
• Os pisos são antiderrpantes?
• Existem corrimãos nas escadas?
• Os interruptores são de fácil acesso?
• Existem tapetes soltos?
• Existem móvieis obstruindo a passagem?
• Existem objetos soltos pelo chão?
• Os telefones são acessíveis?
• Os móveis são seguros?
• A altura das cadeiras, cama e vaso sanitário são adequadas à altura do
idoso?
• Como estão as condições das cadeiras de roda, do andador e da ben-
gala?
• A posição de armários é acessível?
• O tamanho de portas é adequado à mobilidade?
• Existem barras de apoio no banheiro?
O uso de calçados adequados e seguros também são avaliados durante todo
o atendimento.
156 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

I PROTOCOLOS PARA INSERÇÃO NOS GRUPOS


►► Grupo de prevenção de quedas
É importante avaliar os diagósticos previamente estabelecidos, os medica-
mentos em uso, o IMC e FPP.
Apesar de o inquérito de quedas ser realizado na AMI, ele é aplicado
novamente com objetivo de colher informações no início da intervenção.
Anamnese: ______________________________________________________
Histórico de quedas: ( ) SIM ( ) NÃO
Número de quedas: _______________________________________________
Local em que ocorreu: ____________________________________________
Sintomas ao cair: _________________________________________________
Sentiu tonteira? ( ) SIM ( ) NÃO
Sensação de desequilibrio? ( ) SIM ( ) NÃO
Conseguiu levantar sozinho(a)? ( ) SIM ( ) NÃO
Consequências das quedas: ________________________________________
Houve alguma lesão? ( ) SIM ( ) NÃO
Procurou serviço de saúde? ( ) SIM ( ) NÃO
Deixou de reealizar atividades rotineiras depois que caiu? ( ) SIM ( ) NÃO
Tem medo de cair? ( ) SIM ( ) NÃO

Muitos idosos apresentam dificuldades em diferenciar os sintomas tonteira e


desequilíbrio. A tonteira ou vertigem tem como característica a sensação rota-
tória, que pode ser do ambiente girando em relação a ele, ou ele girando em
relação ao ambiente. Já a sensação de desequilíbrio pode ser relatada como:
“falta de firmeza para andar”, instabilidade para andar” ou uma sensação de
“quase queda”. Esta diferenciação é muito relevante, pois as causas da insta-
bilidade nas quais poderemos intervir corretamente variam de acordo com o
sintoma apresentado.
É importante avaliar os resultados dos testes de desempenho físico que são
realizados na AMI, e, se necessário, os mesmos devem ser reaplicados.
• Short Physical Performance Battery (SPPB).
• Escala de Equilíbrio de Berg (EEB).
• Timed Up and Go – normal e com dupla tarefa.
• Força de Preensão Palmar (FPP).
É igualmente importante estar atendo aos resultdos das escalas de avaliação
da capacidade funcional, das atividades básicas e instrumentais de vida diária,
além da cognição, para ter a noção clara da possibilidade de o idoso acompa-
nhar o atendimento fisioterapêutico em grupo.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 157

►► Grupo para indivíduos com doença de Parkinson


Para avaliar se o idoso com diagnóstico de doença de Parkinson poderá
iniciar o atendimento em grupo ou individual, é necessário fazer uma ava-
liação específica. Pacientes em estágios iniciais podem se beneficiar bastante
do contato social do ambiente terapêutico em grupo. Porém, deve ser sempre
realizado em local seguro, e, dependendo do número de participantes, com a
supervisão e presença de mais de um fisioterapeuta.
A queixa principal do paciente deve ser abordada, assim como dos fami-
liares e cuidadores. A capacidade de executar suas atividades de vida diária
também deve ser avaliada, lembrando dos sintomas e sinais específicos da
doença: bradicinesia, rigidez, tremor e instabilidade postural. Os episódios
de freezing da marcha devem ser avaliados, bem como sua frequência, cir-
cunstâncias e consequências. O horário da tomada de medicações também
deve ser avaliado, pois pode interferir diretamente em seu desempenho nos
exercícios terapêuticos.
Duas avaliações específicas são realizadas para os pacientes portadores de
doença de Parkinson. Tais instrumentos são importantes para monitorar a evo-
lução da doença e avaliar a efetividade das intervenções realizadas.
►► A Escala de Hoehn e Yahr
Trata-se de um instrumento rápido e prático para indicar o estado geral do
paciente. Utiliza-se a versão modificada, que possui os estágios intermediários.

Itens da Escala de Hoehn e Yahr


Estágios Sintomas
0 Nenhum sinal de doença.
1 Doença unilateral.
1,5 Envolvimento unilateral e axial.
2 Doença bilateral sem deficit de equilibrio.
2,5 Doença bilateral leve, com recuperação no ‘‘teste do empurrão’’.
Doença bilateral leve a moderada; alguma instabilidade postural; capacidade
3
de viver independente.
4 Incapacidade grave, ainda capaz de caminhar ou permanecer de pé sem ajuda.
5 Confinado a cama ou cadeira de rodas a não ser que receba ajuda.
Fonte: Schenkman, et al. (2001).

Para avaliar a instabilidade postural, empurra-se bruscamente o paciente


para trás a partir dos ombros (teste do empurrão). O paciente com resposta
normal recupera o equilíbrio dando três passos ou menos para trás. O paciente
que se recupera do teste do empurrão dá mais do que três passos, mas recu-
158 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 6

pera o equilíbrio sem ajuda (estágio 2,5). Pacientes com instabilidade podem
cair se não foram amparados pelo terapeuta.
►► Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson
A Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson (UPDRS) avalia
os sinais, sintomas e determinadas atividades dos pacientes por meio do autor-
relato e da observação clínica. É composto por 42 itens, divididos em quatro
partes: atividade mental, comportamento e humor, atividades de vida diária
(AVDs), exploração motora e complicações da terapia medicamentosa. Cada
item varia de 0 a 4 pontos. O valor máximo indica maior comprometimento
pela doença e o mínimo indica normalidade.
As outras medidas de avaliação, como velocidade de marcha, Timed Up
and Go, Short Physical Performance Battery (SPPB) não são de uso específico
para doença de Parkinson, mas também são úteis à medida que auxiliam no
uso de estratégias sistematizadas de acompanhamento destes pacientes. Por
ser uma doença progressiva, as avaliações devem ser realizadas de forma roti-
neira e reavaliadas ao longo do tempo e das sessões.
O atendimento fisioterapêutico pode ser realizado por meio de acompanha-
mento individual no qual, incialmente, são realizadas 20 sessões duas vezes
por semana, por 50 minutos, aproximadamente, cada uma, e os grupos são
organizados em sessões realizadas duas vezes por semana. Contudo, podem
variar conforme com a demanda apresentada.

I REFERÊNCIAS
ALENCAR, M. A. et al. Força de preensão palmar em idosos com demência: estudo da
confiabilidade. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 16, n. 06, p. 510-514,
nov./dez. 2012.
CAMARGOS, F. F. O. et al. Adaptação transcultural e avaliação das propriedades psico-
métricas da Falls Efficacy Scale-International em idosos brasileiros (FES-I-BRASIL). Revista
Brasileira de Fisioterapia. v.14, p.237-243, 2010.
DE CASTRO, S. M.; PERRACINI, M. R.; GANANÇA, F. F. Versão brasileira do Dynamic Gait
Index. Rev Bras Otorrinolaringol. v..72, n. 6, p.817-25, 2006.
FERNANDES, A. de A.; MARINS, J. C. B. Teste de força de preensão manual: análise meto-
dológica e dados normativos em atletas. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 24, n.
3, p. 567-578, jul./set. 2011.
FIGUEIREDO, I. A. et al. Teste de força de preensão utilizando o dinamômetro Jamar. Acta
Fisiátrica, v. 14, n. 02, p. 104-110, 2007.
AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 159
GERALDES, A. A. R. et al. A Força de Preensão Manual é Boa Preditora do Desempenho
Funcional de Idosos Frágeis: um Estudo Correlacional Múltiplo. Revista Brasileira de
Medicina do Esporte, v. 14, n. 01, jan./fev. 2008.
GOULART, F.; PEREIRA, L. X. Uso de escalas para avaliação da doença de Parkinson em
fisioterapia. Fisioterapia e Pesquisa, v. 2, Jan-Abril 2005.
MARTIGNONI, E. et al. Psychometric properties of the unified Parkinson’s disease rating
scale and of the short Parkinson’s evaluation scale. Neurol Sci., v. 24, p. 190-1, 2003.
NAKANO, M. M.; DIOGO, M. J. D; FILHO, W. J. Brazilian Version of the Short Physical
Performance Battery SPPB: Cross-Cultural Adaptation and reliability study. Campi-
nas, 2007. Dissertação (Mestrado em Gerontologia) – Faculdade de Educação, Universida-
de Estadual de Campinas – UNICAMP.
SCHENKMAN, M. et al. Lon- gitudinal evaluation of economic and physical impact of
Parkinson’s disease. Parkinson Related Disord., v. 8, p. 41-50, 2001.
Instruções do Protocolo 7
AVALIAÇÃO COGNITIVA Maristela Vômero Dias
Maria Angélica dos Santos
Sanchez

I INTRODUÇÃO
Define-se como cognição a atividade mental capaz de produzir respostas às
solicitações e estímulos externos (Vieira, 1995). É um processo complexo de
aquisição do conhecimento que se dá através da percepção, atenção, associa-
ção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem.
Para uma avaliação adequada da cognição do indivíduo, é fundamental
termos um ambiente propício para concentração e atenção, que inclui tanto
um ambiente com poucos ruídos, como também o uso adequado de órteses,
óculos e aparelho auditivo, além de celulares desligados ou no silencioso.
Ao realizar a testagem, o examinador necessita falar de forma clara e pausa-
da, olhando para o paciente, e com um tom de voz que tenha certeza que es-
teja audível. Não pode dar dicas e não deve confirmar ao paciente se ele está
correto ou não, apenas passando ao próximo item. Não se devem corrigir as
respostas erradas do paciente, ou avaliar positivamente utilizando expressões
como “parabéns”, “muito bem”, etc.
O relato de um informante qualificado também é um dos itens que preen-
chem os critérios estabelecidos por instituições internacionais para o diagnós-
tico da demência (McKhann et al., 1984; APA, 1994). Neste caso, aproveita-se
o momento em que o idoso está realizando os testes neurocognitivos para
realizar a avaliação de seu acompanhante.

I PRINCIPAIS TESTES PARA AVALIAÇÃO COGNITIVA UTILIZADOS NO SERVIÇO DE


GERIATRIA

►► Fluência verbal – categoria animais


O teste de fluência (TFV) categoria animais utilizado no serviço foi estudado
por Goodglass et al. (1983) e Brucki et al. (1997). Avalia os seguintes domínios
cognitivos: linguagem, funções executivas e memória semântica.
AVALIAÇÃO COGNITIVA 161
Sofre influência da escolaridade, sendo os pontos de corte: 8/9 para indiví-
duos com até 8 anos de escolaridade incompletos; 12/13 para indivíduos com
mais de 8 anos de escolaridade completos.
Instruções:
• Para iniciar o teste, pede-se ao idoso que fale nomes de animais durante
um minuto; controla-se o tempo e são registrados, em impresso apro-
priado, todos os animais fornecidos pelo indivíduo.
• Na pontuação final, serão contados todos os nomes de animais produ-
zidos, exceto as repetições e as oposições regulares de gênero e sexo
(p. ex. gato/gata ou pato/pata conta-se 1 ponto; já boi/vaca contam-se 2
pontos). Quando o sujeito recorda uma categoria e depois espécies da
mesma, contabilizam-se apenas os pontos referentes às espécies, não
contando o ponto referente à categoria (p. ex. categoria – pássaro; espé-
cies – gaivota, sabiá, pardal, etc.).
►► Teste do desenho do relógio
Esse teste foi criado em meados do século XX, sendo proposto como rastreio
cognitivo em 1986 por Shulman et al. Avalia os seguintes domínios cognitivos:
habilidades visoespaciais e construtiva e a função executiva.
Apesar de amplamente aceito, é um instrumento cujo método de aplicação
ou pontuação não é único ou padronizado, sendo as principais alterações em
função da instrução dada para realizar a tarefa, da hora a ser marcada ou do
sistema de escore a ser utilizado.
Sofre influência da escolaridade, perdendo acurácia entre os idosos com
menos de 5 anos de escolaridade. O método utilizado no serviço foi proposto
por Manos & Wu (1994), utilizando-se um círculo transparente divido em oito
partes iguais funcionando como uma “máscara”. O ponto de corte é 7/8.
Instruções:
• Para iniciar o teste, ofereça ao idoso um impresso com o desenho de um
círculo de 11 cm de diâmetro.
• Dar a seguinte instrução: “Aqui, temos o mostrador de um relógio. Gos-
taria que o(a) sr(a). colocasse os números dentro dele e depois indique o
horário de 8h20min (oito horas e vinte minutos)”.
• Para avaliar a pontuação do teste, utilize a máscara transparente. Posi-
cione-a de modo que uma das linhas fique colocada a partir do centro
do círculo até o número 12; caso o 12 tenha sido omitido, proceda da
mesma maneira utilizando como base o 1. Dessa forma, as oito fatias da
máscara estarão posicionadas sobre o relógio, para que possa ser pon-
tuado. Será dado um ponto para o posicionamento correto dos seguintes
números: 1, 2, 4, 5, 7, 8, 10 e 11 (será pontuado o número que estiver
162 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 7

até a metade incluída no oitavo correspondente). Um ponto será dado


para o ponteiro pequeno indicando o 8 e um ponto será dado para o
ponteiro grande indicando o 20, totalizando, no máximo, 10 pontos.
►► Cambridge Cognitive Examination-Revised
O Cambridge Cognitive Examination-Revised (CAMCOG-R) é uma bateria
neuropsicológica breve, parte de um instrumento mais amplo utilizado na ava-
liação de transtornos mentais em idosos: Cambridge Examination for Mental
Disorders of the Elderly – revised (CAMDEX-R). Ele permite a verificação de
défices cognitivos em diferentes domínios, quais sejam: orientação, lingua-
gem, memória, atenção, cálculo, praxia, percepção e funções executivas. Os
itens que compõem o CAMCOG-R têm níveis variados de dificuldade, so-
frendo influência da escolaridade. Um estudo de adaptação transcultural do
instrumento foi realizado neste ambulatório, a partir do qual se desenvolveu
a versão brasileira – Br-CAMCOG-R. A pontuação varia de 0 a 105, sendo os
pontos de corte: 50/51 (analfabetos); 60/61 (baixa escolaridade/primário/pri-
meiro segmento do Ensino Fundamental); 69/70 (escolaridade média/ginásio/
segundo segmento do Ensino Fundamental). Os autores do instrumento ori-
ginal, a partir da escolaridade da amostra estudada, propuseram o ponto de
corte 79/80, para indivíduos acima de oito anos (>8) de escolaridade.
O critério para encaminhamento para o Br-CAMCOG-R é clínico, oriundo
de decisão conjunta entre o supervisor e o médico assistente.
É importante considerar:
Queixa subjetiva, independente do teste;
• MEEM alto, mas perda funcional importante;
• Deficit visual, auditivo ou sequelas motoras importantes, que inviabili-
zem a realização da avaliação;
• MEEM < 13, apenas excepcionalmente, caso o médico avalie que o pa-
ciente tem condições de responder.
Outros instrumentos neuropsicológicos de domínio público serão aplica-
dos, caso haja necessidade de aprofundar a investigação.

I INFORMANT QUESTIONNAIRE ON COGNITIVE DECLINE IN THE ELDERLY


O Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly (IQCODE)
foi desenvolvido em língua inglesa e apresenta 26 itens ordinais com cinco
opções de respostas que comparam o desempenho do indivíduo no momento
da entrevista com o desempenho dele nos dez anos anteriores, de maneira que
se pontua com o valor 1, quando a impressão do informante é que o desem-
penho do avaliado está “muito melhor”; com valor 2, quando o desempenho
AVALIAÇÃO COGNITIVA 163
está “um pouco melhor”; valor 3, quando “não houve mudança”; 4, quando
“um pouco pior” e 5, quando o informante julga que o indivíduo está “muito
pior”. O resultado final é obtido pela soma dos valores dos itens, dividida pelo
número total de itens da escala. O escore varia de 1 a 5; os escores menores
ou iguais a três indicam que não está havendo alteração; igual a quatro indica
uma considerável alteração e igual a cinco indica muita alteração. O ponto
de corte obtido no estudo original, a partir do qual o indivíduo é considerado
suspeito de demência, foi de 3,27/3,30. Em 2009 e 2013, Sanchez e Lourenço
estudaram o instrumento em uma amostra de idosos acompanhados no ser-
viço e optaram por utilizar o ponto de corte de 3,51/3,53 como sendo o que
melhor se aplica para uso em ambiente clínico especializado.
O instrumento é de fácil aplicação, com duração média de 10 minutos.
Deve ser aplicado em um parente ou amigo que conheça bem o desempenho
do idoso, nas atividades do dia a dia. É importante que esta pessoa tenha con-
vivido com o idoso por, pelo menos, dez anos.
Instruções para aplicação do Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly

“Agora eu vou fazer outras perguntas que estão relacionados ao comportamento diário do(a) sr(a).
X. Nesta etapa, o(a) sr(a). vai me dizer o que o observa no dia a dia dele.”
Certifique-se de que a pessoa entendeu o que você vai começar a fazer.
“Gostaria que o(a) senhor (a) recordasse o estado em que o(a) sr(a). X (FALAR O NOME DO IDOSO)
se encontrava há dez anos, no ano XXXX (informar ano atual menos dez), e o comparasse com seu
estado atual. Descrevemos abaixo situações em que ele(a) tenha de usar a memória ou o raciocínio
e eu gostaria que o(a) sr(a). dissesse se, nesse aspecto, ele(a) melhorou, piorou, ou permaneceu na
mesma nos últimos 10 anos.
É muito importante comparar o desempenho atual do(a) sr(a). X com o de 10 anos atrás. Deste
modo, se há dez anos ele(a) sempre esquecia onde havia deixado as coisas e isso ainda acontece,
então isto será considerado como “POUCA MUDANÇA”. Diga-me, a seguir, as mudanças que o(a)
senhor(a) observou, apontando no cartão a melhor resposta para cada item.
Comparado com seu estado há dez anos, como está o(a) sr(a). X em...”

Itens do Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly


1. Lembrar-se dos rostos de parentes e amigos 1 2 3 4 5
2. Lembrar-se dos nomes de parentes e amigos 1 2 3 4 5
3. Lembrar-se de fatos relacionados a parentes e
amigos como, por exemplo: suas profissões, aniver- 1 2 3 4 5
sários e endereços
4. Lembrar-se de acontecimentos recentes 1 2 3 4 5
5. Lembrar-se de conversas depois de poucos dias 1 2 3 4 5
6. No meio de uma conversa, esquecer o que ele(a)
1 2 3 4 5
queria dizer.
7. Lembrar-se do próprio endereço e telefone 1 2 3 4 5
8. Saber o dia o mês em que estamos 1 2 3 4 5
164 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 7

Itens do Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly (cont.)


9. Lembrar onde as coisas são geralmente guardadas
1 2 3 4 5
(por exemplo, as roupas e os talheres).
10. Lembrar onde encontrar coisas que foram guar-
dadas em lugares diferentes daqueles em que cos-
1 2 3 4 5
tuma guardar (por exemplo, os óculos, as chaves, o
dinheiro).
11. Adaptar-se a qualquer mudança no dia a dia 1 2 3 4 5
12. Saber utilizar aparelhos domésticos 1 2 3 4 5

13. Aprender a utilizar um novo aparelho existente


1 2 3 4 5
na casa
14. Aprender coisas novas em geral 1 2 3 4 5
15. Lembrar-se das coisas que aconteceram na ju-
1 2 3 4 5
ventude
16. Lembrar-se de coisas que ele(a) aprendeu na ju-
1 2 3 4 5
ventude
17. Entender o significado de palavras pouco utiliza-
1 2 3 4 5
das
18. Entender o que é escrito em revistas e jornais 1 2 3 4 5
19. Acompanhar histórias em livros ou em progra-
1 2 3 4 5
mas de televisão
20. Escrever uma carta para amigos ou com fins pro-
1 2 3 4 5
fissionais
21. Conhecer importantes fatos históricos 1 2 3 4 5
22. Tomar decisões no dia a dia 1 2 3 4 5
23. Lidar com dinheiro para as compras 1 2 3 4 5
24. Lidar com assuntos financeiros, por exemplo:
1 2 3 4 5
aposentadoria e conta bancária
25. Lidar com outros cálculos do dia a dia, por exem-
plo: quantidade de comida a comprar, há quanto 1 2 3 4 5
tempo não recebe visitas de parentes ou amigos
26. Usar sua inteligência para compreender e pensar
1 2 3 4 5
sobre o que está acontecendo
Fonte: Sanchez e Lourenço (2009).

Caso haja algum item que o respondente não esteja entendendo, siga as
instruções que seguem no quadro abaixo. Não crie novas opções de respostas.
Siga exatamente as opções fornecidas.
AVALIAÇÃO COGNITIVA 165
Manual de instruções resumido para aplicação da Versão do IQCODE-BR
1. Lembrar-se dos rostos de parentes e amigos. Pessoas com as quais tenha contato.
2. Lembrar-se dos nomes de parentes e amigos. Pessoas com as quais tenha contato.
3. Lembrar-se de fatos relacionados a parentes e Profissões ou locais onde trabalham, aniversá-
amigos como, por exemplo: suas profissões, ani- rios e onde moram.
versários e endereços.
4. Lembrar-se de acontecimentos recentes. Qualquer evento importante que tenha aconte-
cido nos últimos três meses. (uma festa, nasci-
mento ou morte de algum conhecido, viagem,
hospitalização).
5.Lembrar-se de conversas depois de poucos Qualquer conversa nos últimos três dias.
dias.
6. No meio de uma conversa, esquecer o que Quando a pessoa está conversando, para e es-
ele(a) queria dizer. quece o que estava dizendo e muda de assunto.
7. Lembrar-se do próprio endereço e telefone. Lembrar o nome da rua onde mora e telefone de
sua residência.
8. Saber o dia e o mês em que estamos. Esquecer frequentemente o dia e o mês, suge-
rindo desorientação temporal.
9. Lembrar onde as coisas são geralmente guar- Coisas que são colocadas sempre no mesmo
dadas. lugar.
(Por exemplo, as roupas e os talheres).
10. Lembrar onde encontrar coisas que foram Coisas que não têm lugar fixo e, geralmente, são
guardadas em lugares diferentes daqueles em deixadas em locais diversos. Importante saber se
que costuma guardar. isto acontece com frequência.
(por exemplo, os óculos, as chaves, o dinheiro).
11. Adaptar-se a qualquer mudança no dia a dia. Quando ocorrem mudanças nas ações comu-
mente realizadas, saber se o idoso se adapta
com tranquilidade e apresenta alterações de
comportamento.
12. Saber utilizar aparelhos domésticos. Qualquer aparelho dentro de casa usado diaria-
mente (por exemplo, liquidificador, ferro elétri-
co, fogão, gás).
13. Aprender a utilizar um novo aparelho exis- Aparelho comprado recentemente que exija al-
tente na casa. gum aprendizado para o uso (eletrodoméstico
em geral).
(Algum aparelho novo que tenha comprado re-
centemente).
14. Aprender coisas novas em geral. Capacidade de aprender a manusear algum apa-
relho ou executar uma nova receita.
15. Lembrar das coisas que aconteceram na ju- Lembrar de fatos importantes que aconteceram
ventude. na juventude.
16. Lembrar de coisas que ele(a) aprendeu na Alguma atividade como consertos em casa ou
juventude. qualquer equipamento. Atividades artesanais ou
culinárias.
17.Entender o significado de palavras pouco uti- Palavras que não são utilizadas corriqueiramente.
lizadas. Caso seja incluída uma palavra deste tipo
em alguma conversa, o sentido deixa de ser
entendido.
166 INSTRUÇÕES DO PROTOCOLO 7

Manual de instruções resumido para aplicação da Versão do IQCODE-BR (cont.)


18.Entender o que é escrito em revistas e Ler e entender sobre o que o assunto se refere.
jornais. Isto é percebido quando se tenta conversar so-
bre o que foi lido.
19.Acompanhar histórias em livros ou em pro- Acompanhar a história do início ao fim sem per-
gramas de televisão. der o entendimento. Se consegue, por exemplo,
assistir a uma novela lembrando os detalhes do
capítulo anterior.
20.Escrever uma carta para amigos ou com fins Escrever cartas ou preparar listas. Qualquer ati-
profissionais. vidade que necessite fazer uso da escrita.
21.Conhecer importantes fatos históricos. Falar sobre fatos importantes como, por exem-
plo, quais foram os presidentes da república, ou
fatos importantes que aconteceram neste ou em
outros países.
22.Tomar decisões no dia a dia. É autônomo para decidir quando vai ao médico
ou quando vai comprar algo novo para casa.
23.Lidar com dinheiro para as compras. Manuseia dinheiro sabendo o valor que deve pa-
gar e quanto de troco deve receber.
24.Lidar com assuntos financeiros, por exemplo: Utiliza adequadamente sua conta bancária ou
aposentadoria e conta bancária. recebe sua aposentadoria fazendo uso correto
do dinheiro.
25.Lidar com outros cálculos do dia a dia, por Ao olhar para o armário de compras sabe o que
exemplo: quantidade de comida a comprar, há está faltando. Sabe há quanto tempo, por exem-
quanto tempo não recebe visitas de parentes ou plo, um filho não faz uma visita.
amigos.
26.Usar sua inteligência para compreender e Tem consciência do que está acontecendo ao
pensar sobre o que está acontecendo. seu redor. Quando está no médico, ou em uma
festa, ou na casa de algum parente ou amigo.
Fonte: Sanchez e Lourenço (2009).

I REFERÊNCIAS
LOURENÇO, R. A; VERAS, R. P. Mini-Exame do Estado Mental: características psicométri-
cas em idosos ambulatoriais [Mini-Mental State Examination: psychometric characteristics
in elderly outpatients]. Rev Saúde Pública, v. 40, p. 712-719, 2006.
BRUCKI, S. M. et al. Normative data on the verbal fluency test in the animal category in our
milieu. Arq. Neuropsiquiatr., v. 55, n. 1, p. 56-61, 1997.
MANOS, P. J.; WU, R. The ten-point clock test: a quick screen and grading method for
cognitive impairment in medical and surgical patients. Int J Psychiatr. Med., v. 24, n. 3,
p. 229-44, 1994.
MONTAÑO, M. B. M. M.; RAMOS, L. R. “Validade da versão em português da Clinical
Dementia Rating.” Rev Saúde Pública, v. 39, n. 6, p. 912-7, 2005.
AVALIAÇÃO COGNITIVA 167
PARADELA, E. M. P.; LOPES, C. S., LOURENÇO, R. A. “Reliability of the Brazilian version
of the Cambridge Cognitive Examination Revised CAMCOG-R.” Arquivos de neuro-psi-
quiatria, v. 67, n. 2B, p. 439-444, 2009.
SANCHEZ, M. A. S.; LOURENÇO, R. A. "Informant Questionnaire on Cognitive Decline
in the Elderly (IQCODE): cross-cultural adaptation for use in Brazil." Reports in Public
Health, v. 25, n. 7, p. 1455-1465, 2009.
SANCHEZ, M. A. S.; LOURENÇO, R. A. Screening for dementia: Brazilian version of the
Informant Questionnaire on Cognitive Decline on the Elderly and its psychometric proper-
ties. Geriatr Gerontol Int, v. 13, p. 687-693, 2013.
SHULMAN, K. I.; SHEDLETSKY, R.; SILVER, I. L. The chalenge of time: clock-drawing and
cognitive function in the elderly. Int J Geriatr Psychiatry, v. 1, n. 2, p. 135-40, 1986.
Apêndice 1
DIAGRAMA DA AVALIAÇÃO
GERIÁTRICA AMPLA

Diagrama da Avaliação Geriátrica Ampla

Fonte: Autoria própria (2017).


Legenda: ABVD: atividades básicas de vida diária; AIVD: atividades instrumentais de vida diária; MEEM:
Miniexame do Estado Mental; EDG: Escala de Depressão Geriátrica; MNA: Miniavaliação Nutricional;
VM: Velocidade de Marcha; APGAR: Adaptation, Participation, Growth, Affection e Resolution; CASE:
Caregiver Abuse Sreening in the elderly; BI: Burden Interview; CES-D: Escala de Depressão do Center for
Epidemiological Studies; SCID: Structured Clinical Interview Depression Inventory; SPPB: Short Physical
Performance Battery; EEG: Escala de Equilíbrio de Berg; IQ: inventário de quedas; BIA: bioimpedância
elétrica; DXA: absorciometria radiológica de dupla energia; CAMCOG: Cambridge Cognitive Examination;
IQCODE: Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly.
Apêndice 2
INSTRUÇÕES PARA IMPRESSÕES, Maria Angélica dos Santos
Sanchez
CONDUTAS E ACOMPANHAMENTO Eduardo Magalhães Costa

Finalizada a avaliação multidisciplinar inicial, a equipe responsável pelas


avaliações deverá fazer um pequeno resumo na seção de impressões e condu-
tas de forma a facilitar a discussão do caso.

I IMPRESSÕES
AVALIAÇÃO SOCIAL
1.Principais impressões: ____________________________________________________________
2. Conduta: ______________________________________________________________________

AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
1.Principais impressões: ____________________________________________________________
2. Conduta: ______________________________________________________________________

AVALIAÇÃO MÉDICA
1.Principais impressões: ____________________________________________________________
2. Conduta: ______________________________________________________________________

I CONDUTAS
Uma avaliação extensa e acurada requer a tomada de decisões que possa
proporcionar uma atenção de qualidade objetivando a manutenção e/ou res-
gate da capacidade funcional. A primeira ação a ser feita deve ser a reunião
de equipe para a discussão do caso. Seguido a isso, a decisão de alta também
pode ser uma possibilidade e, nos casos de inserção no Serviço, a reavaliação
anual da AGA.
►► A reunião de equipe
A reunião é o momento em que todos os profissionais da equipe se reúnem
para discutir o caso, inclusive aqueles que não participaram da avaliação ini-
170 APÊNDICE 2

cial. Nesta etapa, os diagnósticos devem ser, na medida do possível, estabele-


cidos e o plano terapêutico elaborado. Para garantir o sucesso desse plano, é
importante que todas as decisões tomadas sejam anotas e seguidas e que cada
profissional se responsabilize por resolver todas as pendências relativas a sua
área profissional.

PROBLEMA/DIAGNÓSTICO PLANO DIAGNÓSTICO PLANO TERAPÊUTICO SITUAÇÃO


( ) Transtorno neurocognitivo maior
(Demência). Qual?
( ) Transtorno neurocognitivo menor
(CCL)
( ) Depressão

( ) Alteração comportamento

( ) Insônia

( ) Doença de Parkinson

( ) Incontinência. Qual?

( ) Alteração ritmo intestinal

( ) Alteração do equilíbrio e/ou marcha


( ) Quedas

( ) Risco nutricional

( ) Inapetência/perda de apetite

( ) Polifarmácia

( ) Dependência funcional

( ) Ausência de rede de suporte

Fonte: Autoria própria (2017).

Decisões:
►► A alta no serviço
A AGA é um instrumento importante para a detecção de fatores que podem
levar à incapicade funcional. Alguns idosos são referenciados ao serviço, po-
rém não apresentam critérios para permanecer. Ainda que estejamos diante de
uma condição que beira a perversidade, é importante ter em mente que diante
da ausência de recursos de toda natureza, é imprescindível prestar um serviço
de qualidade a quem realmente se beneficiará de uma estrutura interdisci-
plinar. Assim sendo, idosos que não preencham os critérios, isto é, aqueles
que não são portadores de síndromes geriátricas, devem ser encaminhados ou
reencaminhados à Rede de Saúde conforme seu perfil. Por exemplo, idosos
INSTRUÇÕES PARA IMPRESSÕES, CONDUTAS E ACOMPANHAMENTOS 171
com capacidade funcional preservada, mas que são acometidos por doenças
crônicas, como o diabetes e a hipertensão sem maiores agravos, podem ser
referenciados para a atenção básica e inseridos em programas de acompanha-
mento, promoção de saúde e prevenção de doenças. Contudo, é importante
enviar os resultados da avaliação explicitando o motivo pelo qual o idoso não
ficará em acompanhamento.

Consulta realizada em: _____/_____/ _____

Nome___________________________________________________________________________

Queixa principal __________________________________________________________________

Resultado da avaliação funcional e cognitiva ____________________________________________

Miniexame do Estado Mental: __________ /30 Escala de Depressão: _________/15

Atividades Instrumentais de Vida Diária


( ) Dependente ( ) Dependência parcial ( ) Independente

Atividades Básicas de Vida Diária


( ) Dependente ( ) Dependência parcial ( ) Independente

Resumo anamnese_________________________________________________________________

Conduta _________________________________________________________________________

I A REAVALIAÇÃO ANUAL DE AGA


Trata-se de uma ficha que ficará com uma cópia arquivada no setor. Isso
ajudará na avaliação subsequente na ausência do prontuário. Além disso, ser-
virá como um resumo para o que profissional não precise manusear todo o
prontuário em busca das primeiras avaliações. Neste impresso, anualmente, o
profissional fará as anotações relevantes e anotará as reavaliações funcionais
e cognitivas.

Nome: ______________________________________ Prontuário PPC: ______________

1 - Data de entrada no serviço: ___________________ 2 - Idade: ___________________

Entender o motivo da avaliação inicial é importante para sabermos se o


problema que trouxe o paciente para o serviço foi resolvido, está em resolução
ou não foi resolvido.
172 APÊNDICE 2

3 - Motivo da AGA: __________________________________________________________________


4 - Diagnósticos:
Neste campo, preenchem-se os diagnósticos do paciente, estando os mais prevalentes como opção
para serem assinalados. Outros podem ser descritos.

Síndrome demencial ( ) Parkinson ( ) Diabetes mellitus ( ) Hipert. arterial sistêmica ( )


Depressão ( ) Desnutrição ( ) Dislipidemia ( ) Dist. comportamento ( )

Outros:
Atualiza-se a lista medicamentosa para sempre tentar a retirada de medica-
ções e evitar iatrogenias.

5 - Medicações em uso: ____________________________________________________________


________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________

Nesta seção, anotam-se intercorrências relevantes ocorridas no último ano,


tanto de cunho orgânico quanto psicológico.

6 - Intercorrências relevantes (internações, cirurgias, perdas, outras):

Internações ( ) Cirurgias ( ) Perdas familiares ( )

Atualizam-se as escalas de avaliação anualmente para um acompanhamen-


to longitudinal do paciente.
7 - Resumo das Escalas de Avaliação
Escala Anterior (Data) Atual (Data)
MEEM
AVD
AIVD
EDG
MNA
INSTRUÇÕES PARA IMPRESSÕES, CONDUTAS E ACOMPANHAMENTOS 173
Antes do exame físico, faz-se uma anamnese dirigida com condições fre-
quentes encontradas na população idosa.

8 - Outras condições:

Quedas no último ano: ( ) sim ( ) não Quantas:_________________

Alterações do sono: ( ) sim ( ) não

Incontinência urinária: ( ) sim ( ) não

Incontinência fecal: ( ) sim ( ) não

Último exame laboratorial em: _____/_____/_________

CAMCOG: ( ) sim ( ) não Data: _____/_____/_________ Escore: _______

Disfagia: ( ) sim ( ) não

Fisioterapia: ( ) sim ( ) não Sessões semanais: _______________

Neste momento há a realização do exame físico completo.


9 - Exame Físico:
_____________________________________________________________________________

Anotam-se a impressão e as hipóteses diagnósticas do médico executante.


10 - Impressão:
_____________________________________________________________________________

A conduta traçada fica registrada neste campo.


11 - Conduta:
_____________________________________________________________________________

Avalia-se a necessidade de encaminhamento para equipe multidisciplinar do serviço.


12 - Encaminhamentos:
( ) Fisioterapia ( ) Nutrição ( ) Psicologia ( ) Serviço Social

__________________________________
Carimbo/ Assinatura
Apêndice 3
ELABORAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS Maria Angélica dos Santos
Sanchez

I INTRODUÇÃO
A Avaliação Geriátrica Ampla fornece um conjunto de informações acerca
do estado funcional, cognitivo e social. Estes dados coletados por uma equipe
multidisciplinar vão permitir o desenvolvimento de um plano de cuidados que
se constitui em um processo de intervenção sistematizada.
A eficiência deste plano vai depender da extensão e acurácia da avaliação.
No momento da discussão de caso, a avaliação é sintetizada e são apresenta-
das a informações que permitam estabelecer disgnósticos, gerenciar prognós-
ticos e prevenir problemas futuros.
O plano de cuidados é um produto da avaliação multidisciplinar. No mo-
mento de sua elaboração é possível delinear que ações são necessárias para o
alcançe de resultados positivos.
Para tanto, a discussão de deve ocorrer com:
• dinâmica participativa;
• decisões consensuais;
• planejamento de intervenções adequado.
Objetivos do plano de cuidados:
• identificar as demandas e os serviços necessários;
• planejar em conjunto a utilização de serviços;
• organizar um cuidado integrado evitando ao máximo a fragmentação
das ações;
• alcançar uma comunicação eficiente;
• analisar as respostas obtidas.
Para elaborar um plano de cuidados se faz necessário identificar:
• os problemas que impactam a saúde e a qualidade de vida;
• os recursos disponíveis e os necessários;
• o responsável pelo cuidado no domicílio do idoso.
ELABORAÇÃO DO PLANO DE CUIDADOS 175
Na hora de executar o plano é imprescindível saber:
• o que fazer;
• que profissionais serão responsáveis;
• quando será iniciada a intervenção;
• que resultados são esperados.

I ROTEIRO PARA A APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO


• Identificação
◦◦ Nome, idade, escolaridade, número de prontuário e data da primeira
avaliação.
• Aspectos básicos do suporte social
◦◦ Tamanho e disponibilidade da rede social.
• Avaliação funcional
◦◦ MEEM, AVD, AIVD, EDG, MNA, VM, CAMCOG e IQCODE.
• Medicações em uso.
• Principais aspectos da história clínica.
• Prinicipais problemas.

I PRINCIPAIS QUESTÕES ANALISADAS


►► Avaliação social
Destacar os aspectos relevantes da avaliação social quando houver pro-
blemas que possam interferir no plano terapêutico ou que estejam causando
impacto nas demandas apresentadas pelo usuário, apresentando as principais
impressões e quais foram as condutas adotadas.
176 APÊNDICE 3

►► Avaliação fisioterapêutica
Destacar somente as anormalidades da avaliação apresentando o resultado dos testes:

Quedas:_______ Medo de cair:_______ Sensação de desequilíbrio:_______

Faz exercício físico?_______

FPP:_______ Muscular manual: ______ Teste articular: _______

SPPB : _______ EQUIL:_______ Tempo de Marcha: _______ VM:_______

TSL: _______ Total:_______ Classificação: _______ BERG:_______

TAF:_______ TUG:_______ Dupla tarefa cognitiva:_______

OBS:
Impressão: ______________________________________________________________________

Conduta: ________________________________________________________________________

►► Avaliação clínica
História da Doença Atual ― em tópicos, escrever os pontos mais relevantes
da história atual.
Exame físico ― em tópicos, sumarizar os aspectos relevantes do exame físico.
Medicamentos em uso ― em tópicos, elencar as medicações em uso.
Hipóstes diagnósticas ― elencar as hipóteses diagnósticas depois de discu-
tidas com o supervisor.
Conduta ― destacar as condutas definidas.
Ao final da apresentação, começa a ser definido o plano de cuidados. É
importante cada profissional sinalizar sua proposta para minimizar os obstá-
culos, buscar adesão ao tratamento e dar resolubilidade ao caso. A execução
do plano de cuidados deve ser clara quanto ao estabelecimento de prioridades
e identificação do profissional que iniciará a intervenção, sempre levando em
consideração o equilíbrio entre os recursos necessários e os disponíveis.

I REFERÊNCIAS
ADLER, S. L. et al. Collaboration: the solution to multidisciplinary care-planing. Orthopae-
dic Nursing, v.. 14, n2, p. 21-29, 1995.
SANCHEZ, M. A. S. O Plano de Cuidados: a avaliação geriátrica ampla como estratégia de
otimização de cuidados. In: Renato Veras; Roberto Lourenço. (Org.). Formação Humana
em Geriatria e Gerontologia: uma perspectiva mulstidisciplinar. Rio de Janeiro: UnA-
TI/UERJ, 2006, p. 98-101.
Texto composto nas fontes das famílias Optima, Futura e Calibri.
Miolo impresso em papel offset 90 g, em sistema de impressão offset, no formato 17 x 25 cm.
Capa impressa em papel-cartão supremo 350 g, em sistema de impressão offset.

Diagramação, impressão e acabamento:

Você também pode gostar