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Terras de Azurara e Tavares - Dr. Alexandre Alves

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TERRAS DE AZURARA E DE TAVARES Iv ALEXANDRE ALVES O REAL MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE MACEIRA DAO (CONCELHO DE MANGUALDE) . EDICAO CAMARA MUNICIPAL DE MANGUALDE DUAS PALAVRAS Com a publicagao da presente monografia, dedicada ao Real Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dio, prossegue a digna Camara Municipal de Mangualde, sob a dindmica presidéncia do Excelentissimo Senhor Dr. Mario Videira Lopes, na concretizacdo do seu programa cultu- ral, em boa hora denominado Terras de Azurara e Tavares. Trata-se, neste caso, da reedigdo, tanto quanto possivel melhorada, de um texto inserto, primitivamente, nas paginas da Revista "Beira Alta", dredo cultural da antiga Junta Distrital de Viseu, nos volumes XX e XXI, respeitantes a 1961 e 1962. Fez-se na altura wna separata de 50 exemplares, mimero reduzi dissimo que de imediato se esgotou. Profundamente sensibilizado, cumpre-me agradecer, em primeiro lugar, ao Excelentissimo Senhor Dr. Mario Videira Lopes o seu vivo empe- nho na reimpressdo de wm trabalho que, embora sem pretensoes, julgo de inegdvel thteresse para um methor conhecimento da histéria deste verusto concetho de Mangualde. Para 0 Excelentissimo Senhor Dr. Anténio Bernardo Marques Marcelino, da Associagéo Cultural Azurara da Beira —ACAB e bairrista até mais ndo, vai um simples Bem-Haja, dado que nao encontro methor expressiio que traduza 0 meu reconhecimento sem limites. Agradeco, de igual modo, a todos quantos, de uma maneira ou de outra me nao faliaram com o seu apoio e incitamento, ndo esquecendo 0 inteligente empresdrio, Senhor Manuel da Conceigao Maio, proprietario da Tipografia viseense "Eden Gréfico", cujo disponibilidade e amizade nunca é de mais encarecer Por fim, beijo as méos a Minha Muther, a cuja dedicagdo, compre- enséio e carinho se deve em boa parte este modesto trabalho. AA. NTRODUCAO Foi hd 25 anos — ou, talvez, mais... — que os meus oll pela primeira vez, a pedraria escura das venerandas ruinas do t&o falado € tao antigo Mosteiro de St.* Maria de Maceira Dao. Corria 0 més de Maio. Era o dia da romaria de Quint: Ascensdo; e nessa tarde jd quente e pesada, 0 povo das vizinhang rera a animar aquela soliddo, enchendo de bultcio 0 adro da capel Senhora da Cabeca, invadindo as dependéncias do Mosteiro, saboreando, aqui e além, & sombra das drvores ou sob as arcarias do velho cla: farnel adrede preparado. Escondido, como estd, nas dobras da serrania, apenas no final da ingreme descida de Tabosa — no ponto onde 0 desmantelado caminho medievo desemboca no adro da Senhora — é que foi posstvel descortinar, em baixo, assente na margem de um ribeirito esperto, 0 conjunto impo- nenté dos edificios mondsticos. Entao, nem sei 0 que senti; apenas confesso que foi tao entranhada- mente profunda a emogdo desse instante que, resistindo aos anos a tudo, ainda hoje vive na minha alma com a incisiva nitidez do choque inicial. Mal consegui olhar para o interior do pequenino templo @ roda do qual, penosamente, mulheres de joelhos em sangue cumpriam as suas pro- messas, pois que, atratdo irresistivelmente pelas ruinas do Mosteiro, desci, pressuroso, a escadaria larga, segui ao longo da veia de agua e penetrei, enfim, no claustro. Vi tudo, enquadrinhei todos os recantos e, misturado nos ranchos do garotio dgil, subi ao alto da torre, caminhei sobre os tijolos da abdbada da igreja. alvoroco inicial cedia, a passos largos, perante a mégoa que, a cada instante, mais e mais me enegrecia 0 coragéio. Recusava-me a acre- ditar que "aquilo" fosse posstvel, que a indiferenca dos homens — ou ld 0 que é — deixasse chegar a tal estado o histérico monumento cuja filnda- ¢do se seguira, de muito perto, a da nacionalidade portuguesa. Foi entdo que, num auténtico impulso de revolta, prometi a mim proprio recolher 0 material disperso e reerguer, pedra a pedra, tudo quanto 0 tempo e os viram, Feira da USTTO, O homens tinham derribado. Mais do que isso, propus-me, em verdade, fazer reviver 0 quadro da vida dos monges antigos entre aquelas paredes velhi- nhas, os seus problemas, as suas virtudes e — Porque ndo? — ressuscitar, também, os seus humanais defeitos. Decorrido um quarto de século sobre aquele dia de Maio, é posst- vel trazer, enfim, para a praca pitblica, o fruto de tal decisdo. Nao foi tarefa facil, de modo nenhum. Primeiramente, bem cedo tive de reconhecer que a inabilidade das minhas mdos nao consentiria obra de jeito; depois, muitas vezes desfaleci, desanimei perante os quase nulos resultados das exaustivas pesquisas que teimava em empreender. Recordava, a propésito, o incéndio do Semindrio de Viseu, onde — é a voz corrente... — se teria consumido, irremediavelmente, 0 valioso arquivo do Mosteiro, ali guardado desde 1834. Por outro lado, pergun- tava--me que fora feito daqueles "preciosos elementos hist6ricos" que 0 Pe. Henrique de Matos Cid encontrara, em Fornos de Azurara, "..em uma arca de madeira apodrecida, em himida, escura e soturna loja da casa da senhora D. Maria Clara de Faria Pinto", no dizer do Sr. Dr: José Coelho, nas "Memérias de Viseu". — E a monografia "daquele convento" — baseada nos referidos documentos do Pe. Cid — que 0 Dr. Maximiano de Aragdo tencionava publicar, "na devida altura"?... Nada disto vi nem sei de alguma coisa que ande guardada — ou perdida — em presumtvel escano poeirento. Os elementos aproveitados para este trabalho foram rebuscados, aqui e ali, em obras manuscritas ou impressas, oportunamente menciona- das nas notas do texto. Embora, para alguns, nem tudo seja novidade, ndo hesito, contudo, em afirmar que muito do que vem & luz constitui matéria até hoje completamente desconhecida, Ao dar por findas estas leves consideragdes cumpre-me exprimir 0 mais vivo reconhecimento pelo apoio e pelos conselhos que, generosa- mente, recebi da parte de algumas distintas pessoas, no nimero das quais se contam os Ex."" Srs. Dr. Alexandre Vale, Dr. José Coelho, Pe. Siilio Norte, Abel Rosado e Tenente Manuel Joaquim. Ainda — e sem melindre para ninguém — publicamente agradego a minha cunhada Dr." Maria Anténia Dionisio Alves — do Arquivo 10 Historico do Ministério das Finangas — e a meus irmaos Jodo Maria e Anténio José o interesse que sempre Ihes mereceu a elaboracao deste modesto trabalho. Viseu, Junho de 1961. NOTA: Em 1966, cinco anos, aproximadamente, depois da publi sente trabalho, fui encontrar no Porto, em casa do Dr. Amindio Marques advogado naquela cidade e muito prezado Amigo, jé falecido, a mor Maximiano Aragio, acima referida, baseada nas "investigagies” do P. Hearig Matos Cid, em Fomos do Dao. Tomando por guia, quanto &s origens do Mosteiro, 0 cronista Bernardo de Brito, prosseguia o P. Cid na sua "narrativa’, constituida sio de factos de tal modo estranhos, inverosimeis e anacrdnicos. que I a imaginagao fértil, mas irresponsavel, do seu autor. Por conscguinte nada nela havia de aproveitével. Nao obstante, o dr. Aragio, trés meses antes da sua morte, iniciava no semandrio "Noticias de Viseu" (Ano XI, N.° 526, de 6 de Abril de 1929) a publicago da pretensa monografia, a que pds o prolixo titulo Azurara da Beira. O Mosteiro de Maceiradao. Fagilde. Histéria e Lenda. Prossez of mais seis ntimeros do mesmo hebdomadiéio, tratando 0 tiltimo aris da Virgem Cétia, uma pura invengao do cérebro do P. Cid. Com a morte do Dr. M. Aragio, ocorrida a 22 de Julho, foi = publ texto suspensa temporariamente, para ser retomada depois, porém mente. Nao sei se teria chegado ao fim, mas suponho que néo, dada 2 milhanga do assunto. b inverosi- int I OS MONGES EM MOIMENTA. REEDIFICACAO DA IGREJA PAROQUIAL. AS RELACOES DOS FRADES COM OS MORADORES DO LUGAR 1 —Diz Viterbo (1) que D. Soeiro se fez monge e fundou, seguida- mente, um pequeno mosteiro na igreja de Santa Maria de Moimenta de ‘Azurara — que era herdade sua — o qual D. Afonso I Ihe coutou em 1161 Dando crédito 4 carta de Couto de Moimenta, Mestre Soeiro ‘Tedoniz teria abandonado a vida do século pouco depois de 1154, ano em que o primeiro rei de Portugal Ihe doou, reconhecido, os cinco casais em Travanca (2), com isengao de todos os direitos da Coroa. A carta de couto de St." Maria de Moimenta, na douta opinigo de Rui Pinto de Azevedo, nao sera mais do que um documento forjado mais tarde; no passard de uma falsificagdo gritante, atendendo a "inverosimi- Ihanga da data textual, em face de outros dados cronolégicos do docu- mento", Efectivamente, tudo leva a crer que assim seja; porém, o que é verdade & que, desde bem cedo, a legalidade da existéncia do Couto de Moimenta de Frades a ninguém oferecia dividas. Em 1162 — pelo preco de 80 morabitinos e em remissdo dos seus pecados — 0 Bispo de Viseu D. Odério, com 0 consentimento do seu Cabido, entregou a D. Soeiro a igreja de Moimenta, livre de "todos os tri- butos ou direitos, de dizimos, de lutuosas e de oblatas” (3). Além das compras de D. Soeiro, as doagées e testamentos dos devotos multiplicaram-se de tal maneira que, num tombo do séc. XV (4), se Ié 0 seguinte, a respeito do lugar de Moimenta: '... 6 Couto e Jurisdigdéo do Mosteiro de Maceira Déo, e é limite e termo sobre si, onde outrem ninguém ndo tem nenhuma coisa, e tudo inteiramente é do Mosteiro...” Segundo o mesmo tombo, os limites do Couto — ponto por ponto coin- cidentes com os da pretensa Carta de 1161 —eram, textualmente, como segue: comeca logo entre o termo de Lobelhe do Mato e 0 de Moimenta onde chamam 0 Fojo do Lobo, e dat vai-se & Pedra da Cruz onde chamam 0 Castelo do Vale de Mendo, e dat onde cha- mam as Guardizelas, e dat vai-se ao marco que esté & parede de Pao e Agua; e dai & Pedra da Sovereira, e dat vai-se ao marco que est @ Pedra do Mirar, e dat vai-se pela parede do Vale de Joao Farinha que parte com uma herdade da Quinta de Gondufe, € dat vai-se d Pedra de Estévao Lourengo, e dat vai-se ao ribeiro que vem de Moimenta onde jaz uma herdade de Gongalo Domingues onde chamam os Castinheiros da Vetha /¢ dat vai-se ao padrao que estd as pedras de Marinha Barrela onde estdé uma cruz /e dat vai- se @ Pedra do Barroquil, e dat ao Porto de Gondufe, e dat vai-se pela metade da veia de dgua do ribeiro que vem de Agua Levada e de Pinheiro, até onde se mete o ribeiro que vem de Cées, e dat vai- se pelo ribeiro de Aldonca que vai entre o termo de Pinheiro e de Moimenta, ¢ dat vai-se ao Outeiro das Cabegas, e dat vai-se a bar- roca que vem de Lobelhe de Pedreles; ¢ dat vai-se @ Pedra Aguda, e dat vai-se pela lomba que vai entre o termo de Teivalde e de Moimenta, e dat vai-se d cruz que esta entre o termo de Teivalde e de Lobethe do Mato e de Moimenta, onde chamam 0 Fojo do Lobo, onde primeiramente comecdmos" Os foros e as ragdes que os caseiros de Moimenta pagavam, em cada um ano, ao Mosteiro, eram os seguintes: "De tudo 0 que the Deus der, de cinco um; e de foro, na eira, de eirdidega trés meios de trigo pela nova, ¢ trés meios de centeio, € 1rés meios de milho; e, por Maio, cada um um mamédo, e trés reais de pedida, ¢ uma mosteia de palha, ¢ um molho de linho quanto possam abranger duas feveras de linho, atada wma com a outra; € de vinho, no lagar, de lagarada dois almudes; e, por Natal, wn gorazil irigo limpo @ joeira, pela [medida] nova / E isto disse Afonso Martins e Jodo Martins, por juramento dos Santos Evangelhos e da carta de excomunhdo”. , € dois capées, e vinte avos, e seis jeiras, e trés meios de Por escritura piiblica de 9 de Julho de 1768 (5), 0 D. Abade Frei Jerénimo de Azevedo e o seu Convento arrendaram a Feliciano José da Fonseca, do lugar de Caes de Baixo, "pelo tempo de trés anos e trés novi- 28 dades", a renda de Moimenta. O prego foi de 550 mil reis, a satisfazer em trés prestagOes anuais, pelo Natal, Pascoa e S. Joao Baptista. As rendas de Moimenta, neste tempo, constavam de medidas de pao, milho, vinho, feijao, azeite e forragens — "assim de penso como de dizimos". 2 —O Pe. Carvalho da Costa, no cap. XII da sua "Corografia Portuguesa" diz. que os Abades do Convento de Maceira Dao eram senho- res do Couto de Moimenta, com jurisdigao civel, nele servindo de Capities-mores. A jurisdig&o do crime pertencia ao Juiz de Fora de Azurara. Em 1758, 0 Cura Manuel de Albuquerque, nas "Memorias Paroquiais", informa que em Moimenta havia Juiz Ordindrio e dos Orfaos, eleito pelo Donatério D. Abade, sujeito a0 Corregedor da Comarca de Viseu, Ao mesmo D. Abade competia a apresentagio do paéroco — o Orago da igreja de Moimenta era, e 6, N S.* das Neves — com 6 000 reis de cOngrua e mais 0 que rendesse o pé de altar. Neste tempo — 1767 — tinha a freguesia 75 fogos (6). Num dos livros de registo da Camara Eclesidstica de Viseu (7), a fls. 270-271, encontramos, com data de 2 de Dezembro de 1780, uma peti¢ao do D. Abade e Convento de Maceira Dio, dirigida ao Bispo da Diocese. E a propésito da reedificago da igreja paroquial de Moimenta, e reza desta maneira: "Ex." Rev.” Sr.: Diz 0 D. Abade e mais Religiosos do Governo do Real Mosteiro de S.* Maria de Maceira Dao, deste Bispado, que eles tm mandado fazer de novo a Igreja Paroquial da Freguesia de Moimenta, de que so Padroeiros; e porque the falta benzer-se e esté feita e acabada, com decéncia, para esse fim. Pede a V. Ex." Rew™ seja servido dar-lhe licenca para a dita béngdo, e receberd mercé". Em 15 de Dezembro do dito ano, chegou a informagio do Vigirio coadjutor de Fornos de Azurara, Anténio da Fonseca de Andrade, que, entre o mais, disse: -. vie revi a Igreja de Moimenta deste Bispado, na forma que me determina, Achei-a com os requisitos necessdrios para a celebragdo do Santo Sacrificio da Missa, e tem todos os ornamen- 29 tos suficientes para este fim, suposto ainda continuem as obras, [que] ndo sdo pertencentes ao fim referido, com complemento do piilpito e caixdes..." Foi dada licenga ao Padre Mestre Frei Anténio Machado para ben- zer a igreja, recomendando-se, porém, que a acabassem de compor de todo, no termo da lei, "... pena de ficar suspensa ¢ nela se nao dizer Miss: De 23 de Dezembro de 1780 é uma "Escritura de contrato que fazem o Rev.’ D. Abade e mais Religiosos do Real Mosteiro de Maceira Dao com os Eleitos, Juiz da Igreja de Moimenta e Mordomos da Confraria do S. Sacramento da mesma Igreja" — escritura que ficou sem efeito, como vamos ver: ". que por ndo haver na dita Igreja de Moimenta antiga- mente o Santissimo Sacramento, os moradores do lugar, havera trinta e cinco anos, para ali O terem se obrigaram a toda a despesa que se houvesse de fazer, devida e necesstiria para todos os gastas da Confraria do Senhor; e para este fim, & sua custa, mandaram fazer um altar no corpo da igreja, sem que este dito Mosteiro ficasse obrigado a despesa alguma; porém, que como agora este ‘mesmo Mosteiro mandou fazer de novo a dita igreja, ¢ tinha de mandar fazer 0 mais necessdrio para 0 complemento dela, como também a tribuna da Capela-mor, thes parecia mais decente e ade- quado para o culto divino, que 0 8." Sacramento se colocasse na tribuna que se vier a fazer na dita capela-mor; e, para este efeito, quando o dito Rev. Sr. D. Abade e Religiosos assim 0 hajam por bem, que querem eles ditos Eleitos, Juiz e Mordomos da dita Igrej por si.."" (8). Aqui acaba, bruscamente, a escritura — intempestivo final, assim justificado pelo tabeligo: "Nao teve efeito esta Escritura porque, estando nestes ter- mos, se desavieram os Eleitos, Mordomos e Juiz da Igreja, no que respeita @ hipoteca para a validade do contrato". 3 — Ainda hoje, tanto na toponimia como na tradigdo oral, persis- tem, em Moimenta, testemunhos da remota estadia dos monges naquelas 30 paragens. Por exemplo, em terrenos cultivados conhecidos por "O Mosteiro” e a "Vinha do Mosteiro”, t@m aparecido, com muita frequéncia, restos de construgdes antigas ¢ grande quantidade de telhas ¢ tijolos grossos. Num outro local — "Santa Eugénia” — surgiram luz, ha anos, pedras trabalhadas, uma mina de bocal afunilado e, ainda, um sino. Afirma- se que este sino tinha a inestimédvel virtude de impedir que, durante as tro- voadas, as fafscas cafssem dentro da drea em que o seu toque — "diferente de todos os outros" — se fazia ouvir. As trovoadas, porém, voltaram a fazer estragos na regido de Moimenta, desde que o sino foi levado, para compor, a.uma terra vizinha, onde maldosamente ficou, trocado por outro! Modificada, embora, ainda esté de pé, mesmo no meio da poyoa- co, a velha "Casa da Tulha", onde morava o frade dizimeiro. La esto, nessa casa, os slides arcazes de castanho rijo, a balanga romana de gran- des bragos, ¢ alguns pesos de bronze (9) Fala-se, outrossim, nos "belros” — os novelos da 14 tosquiada — cuja décima se entregava ao Mosteiro; e ainda nao foi esquecida, alusiva ao dizimeiro do Convento, uma daquelas quadras que as raparigas canta- vam, quando, nas longas e frias noites de Inverno, & roda da fogueira de cere, fiavam o linho: "O sono vai-te deitar, deixa fiar as cachopas. Amanha vem 0 dizimeiro digimar as magarocas". Como é€ natural, as relagdes entre os moradores do Couto de Moimenta ¢ 0 Mosteiro nem sempre primaram pela mitua compreenso e pela boa harmonia. De vez em quando surgiam questées azedas, casos tio dificeis que s6 os tribunais tinham competéncia para destringar ¢ para resolver — dando o seu a seu dono. Em 1750, no dia I de Fevereiro, os moradores de Moimenta nomea- ram bastantes procuradores que Ihes recebessem — "todo o dinheiro que tem depositado o Rev.° Padre D. Abade do Real Mosteiro de St.* Maria de Maceira Do, das custas em que foi condenado 0 Mosteiro, da demanda que Ihe moveu 0 dito Povo" (10). Em 15 de Novembro de 1761, nova procuragéo dos mordomos e eleitos da igreja de Moimenta, em virtude de "... uma causa que correu no Juizo Eclesidstico da cidade de Viseu... com apelagdo para a Relacao de Braga, em que so apelantes os Religiosos do Mosteiro de Maceira Dio e apelados eles, constituintes..." (11). Planta dos edificios do Mosteiro, seg, © Arquitecto Carlos Alberto Almeida Marques, em O Real Mosteiro de Maceira-Dao, publ. na Rev. " Arquitectura’, Ano IIT (4: série) N° 141, Maio 1981 Legendas: 1 — A "Torre" medieval (sécs. XII e XII); 2 — O Claustro e dependa les (sée. XVID; 3 ~ A Portaria (sé. XVII): 4 — A Igreja (séc. XVID cias envolven: Mosteiro de Maceira Dio, Vista de conjunto dos edificios monésticos, colhida do sul. Em pri- meiro plano, a velha ponte sobre 0 ribeiro dos Frades, tributério éo Dao. Segundo D. Maur Cocheril (Notes sur Architecture et le décor dans les abbayes cisterciennes dit Portugal). a igreja do Mosteito "é bizarramente coberta por uma ctipula que evoca a Africa do Norte". (Foto: Prazeres, Mangualde), Aspecto do Mosteir (lado do nascente), tomado do adro da capela da Senhora da Cabera, (Foto Prazeres, Mangualde) 0 Mosteite visto do lado do poente. Nas bases dos pindculos, figuram as datas das sucessivas Fases da construgio (Foto: Prazeres, Mangualde) BIBLIOGRAFIA A—FONTES MANUSCRITAS — Arquive Histérico do Ministério das Finangas (Lisboa) — Inventdrio dos bens dos Mosteiros de Religiososo, extintos por forga do Dec. de 30 de Maio de 1834. Inventdrio N.° 245 — Mosteiro de Santa Maria da Ordem de S. Bernardo (Maceira Dao) I — Biblioteca Nacional de Lisboa —Noticia dos Mosteiros da Congregagam. Ms. 1493 aL — Torre do Tombo (Lisboa) — Meméria Paroquial de Fornos de Maceyra déo,vol. 15, mem: 79. — Meméria Paroquial de Moimenta de Maceira Dao, vol. 25, p. 1913. Iv — Arquivo Distrital de Viseu Pergaminhos: — Carta de alforria dada pelo Abade de Maceira Déo D. Domingos, a escrava Maria Domingues (ano de 1292), M. 25, col. 87; — Escambo entre o bispo D. Egas e 0 Convento de Maceira Dato (A. 1303) — Manda citatoria do abade de Maceira Dao como juiz apostélico em uma causa sobre bens de raiz entre 0 Cabido e certos homens da cidade [de Viseu] (A. 1337). M. 28, n.° 77. — Livros do Cabido da Sé de Viseu, n.° 39 / 54. Béngdo da Capela de N.* Sr.# das Neves, sita no lugar de Moimenta de Maceira Dio, fl. 270- 271 Vv — Biblioteca Municipal de Viseu — Livro dos Traslados, Ul. — Santa Rosa de Viterbo, Joaquim de (Fr.) — Provas ¢ Apontamentos para a Historia de Portugal, 20-1-19. 181 — Sousa, Leonardo de (P.) — Memédrias Historicas e Cronologicas dos Bispos de Viseu, 3 vols. VI — Biblioteca do Museu de Griio Vasco (Viseu) — Previlegios do Cabbido de Vizeu, 4859 3353 vil —B iblioteca do Museu da cidade de Viseu (em organizagao) — Coelho, José, Cadernos de Notas Arqueoldgicas, n.°s 65 € 88. VII — Cartério Paroquial de Mangualde — Documentos da Irmandade das Almas IX — Livraria de Alexandre Alves — Tombo das propriedades do Mosteiro de Sta. 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