TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e Sua Influência Na Sociedade Do Rio de Janeiro.
TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e Sua Influência Na Sociedade Do Rio de Janeiro.
TCC - Projeto Unidade de Polícia Pacificadora e Sua Influência Na Sociedade Do Rio de Janeiro.
Trabalho de concluso de curso apresentado as Faculdades Integradas Simonsen como requisito parcial para obteno de titulo de licenciatura em geografia Prof. Orientador: Eliane Borba
Dedicado aos irmos inclusos, guerreiros incansveis, com a difcil misso de nos trazer a paz.
AGRADECIMENTOS
A meus pais pela confiana e investimento depositados em meu potencial. A Minha Esposa Dbora que amo, por compreender a importncia de todo este trabalho. Ao Sr. Nelson Machado irmo querido, desde o incio meu grande incentivador . Ao Sr. Major Fafalat, mentor intelectual, deste projeto. A Professora e Coordenadora Eliane Borba, por seu entusiasmo e devoo. Aos Professores pela ateno e dedicao a toda essa vereda. Aos colegas de curso pelo apoio desde o primeiro dia. Aos colegas de trabalho pela determinao e coragem.
preciso ter um caos dentro de si, para dar luz uma estrela cintilante. Friedrich Nietzsche
RESUMO
GUIMARES, Hugo Alexandre. Projeto Unidade de Polcia Pacificadora e sua influncia na sociedade do Rio de Janeiro. Professora Orientadora: Eliane Borba; Rio de Janeiro, 30 folhas, Trabalho de Concluso de Curso. A cidade do Rio de Janeiro encontra-se em um processo de ocupao em comunidades dominadas por faces criminosas, atravs de um projeto da Secretaria de Segurana Pblica do Estado do Rio de Janeiro denominado Unidade de Polcia Pacificadora, tambm conhecido pela sigla UPP. Segundo o Governo do Estado do Rio de Janeiro, este projeto pretende erradicar as quadrilhas que agem margem da lei em todas as comunidades existentes no Estado, recuperar estes territrios dominados por narcotraficantes e milicianos por dcadas e devolver estes espaos a sociedade. Justificando a busca em entender esta nova realidade do universo scio espacial carioca, que est modificando o comportamento populacional dos espaos segregados pelo Estado de Direito, que este trabalho pretende demonstrar os benefcios para as comunidades contempladas com o projeto do atual governo e as mudanas comportamentais da sociedade atingida por este novo projeto de segurana pblica implementado pelo atual Governo Estadual, no deixando de relatar os problemas no relacionamento entre moradores e policiais, enfatizar as consequncias para outras reas da cidade e do Estado no contempladas pela implantao deste novo modelo de policiamento, e esclarecer o fenmeno da migrao da criminalidade causada pela implantao das Unidades Pacificadoras.
ABSTRACT GUIMARES Hugo Alexandre. Project Pacification Police Unit and its Influence in the Society of Rio de Janeiro. Advisor teacher: Eliane Borba, Rio de Janeiro, 30 Sheets, End of Course Work. The city of Rio de Janeiro, is in the process of occuping communities dominated by gangs, through a project of the Department of Public Security of the State of Rio de Janeiro called Pacification Police Unit, also known by the acronym UPP. According to the Government of the State of Rio de Janeiro, this project aims to eradicate the gangs who act out law in all communities of the State, by recovering these areas dominated by drug traffickers and militia and return to decades these spaces to society. Justifying the quest in understand this new reality of the socio-spatial universe carioca, who is modifying the behavior of the population segregated spaces for the rule of law, that this paper seeks to demonstrate the benefits to the communities dealt with the design of current government and the behavioral changes society affected by this new public safety project implemented by the current State Government, not forgetting to report problems in the relationship between residents and police, to emphasize the consequences for other areas of the city and the state not covered by the implementation of this new model of policing, and clarify the phenomenon of migration of crime caused by the deployment of Peacekeeping Units.
LISTA DE TABELAS
1 Tabela estatstica de homicdios em reas com UPP. Fonte: www.isp.gov.com.br. 2 Tabela estatstica de homicdios em reas sem UPP. Fonte: www.isp.gov.com.br. 3 Tabela de produo Policial da UPP Cidade de Deus no Ano de 2010.Fonte: www.isp.gov. com.br 4 Tabela de produo Policial da UPP providncia no Ano de 2010. Fonte: www.isp.gov.com .br. 5 Tabela de ocorrncias de maior poder ofensivo da 8 AISP. Fonte: www.isp.gov.com.br. 6 Tabela de ocorrncias de maior poder ofensivo da 12 AISP. Fonte: www.isp.gov.com.br.
AISP: reas Integradas de Segurana Pblica BPM: Batalho de Polcia Militar Del: Delegado DP: Delegacia de Polcia Dr: Doutor ISP: Instituto de Segurana Pblica LCP: Leis de Contravenes Penais Pol: Polcia UPP: Unidade de Polcia Pacificadoras Var: Variao
SUMRIO
1 INTRODUO................................................................................................................11 2 AS AES DO ESTADO DENTRO DAS COMUNIDADES PACIFICADAS.............13 2.1 A operao que antecede a pacificao das comunidades...............................................13 2.2 A relao de conflitos entre a Polcia e a populao das comunidades pacificadas........14 3 A MIGRAO DO CRIME ORGANIZADO..................................................................15 3.1 A permuta de territrios criminalizados...........................................................................15 3.2 A expanso dos territrios dominados pelo crime organizado........................................16 3.3 A disputa dentro dos territrios conflagrados..................................................................16 3.4 Consequncias para as reas no pacificadas..................................................................17 4 AO POLICIAL NAS COMUNIDADES OCUPADAS...............................................18 4.1 A corrupo policial dentro das comunidades pacificadas..............................................18 5 DADOS DAS REAS INTEGRADAS E DAS COMUNIDADES PACIFICADAS......19 6 ANLISE DA INFLUNCIA DO PROJETO UPP NA SOCIEDADE CARIOCA.........24 7 CONSIDERAES FINAIS.............................................................................................25 8 GLOSSRIO......................................................................................................................28 9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..............................................................................29
11 OBJETIVOS Objetivo geral Analisar a Unidade de Policia Pacificadora, e seu impacto na Sociedade do Estado do Rio de Janeiro. Objetivos especficos Este trabalho tem como objetivos: Analisar do projeto Unidade de Policia Pacificadora, seu efeito na sociedade e a relao de conflito com a populao. Demonstrar as consequncias para a sociedade direta e indiretamente atingida pelo projeto Unidade de Polcia Pacificadora. Esclarecer a teoria de migrao da criminalidade, e propor uma concluso para o analisado problema.
Diante do quadro atual de caos social e de cobrana popular por uma poltica de segurana eficaz, o Governo Estadual deu inicio ao projeto Unidade de Polcia Pacificadora, considerada por este, como a soluo do problema da segurana pblica no Estado do Rio de Janeiro. Segundo a Secretaria de Segurana Pblica, a Unidade de Polcia Pacificadora um novo modelo de segurana, um policiamento moldado nos princpios da Polcia Comunitria, que tem como base a integrao entre a populao e as instituies pblicas, aliado ao fortalecimento das polticas sociais nas comunidades. Um dos objetivos do projeto UPP a construo de um cinturo de segurana estrategicamente localizado na Zona Norte da cidade, nas imediaes do complexo do
12 Maracan, principal palco da Copa do mundo em 2014, e ativamente utilizado nas Olimpadas de 2016, com a funo de afastar a criminalidade do centro das atenes do evento, e evitar constrangimentos polticos, prejudicando sua organizao e a imagem da administrao da cidade e do estado. A primeira unidade pacificadora instalada foi a do Morro Santa Marta, inaugurada no dia 20 de novembro de 2008, posteriormente outras unidades foram instaladas priorizando a inaugurao das comunidades localizadas na Zona Sul da cidade, atendendo aos anseios da classe nobre da sociedade em reduzir a criminalidade nos bairros mais ricos, porm no os mais violentos, sendo semelhante a dificuldade geogrfica e a necessidade de efetivo policial para a implantao do projeto entre comunidades localizadas na Zona Sul como Pavo Pavozinho e Santa Marta de comunidades como Salgueiro e Formiga localizadas na Zona Norte da cidade. Para exemplificar esta afirmao usaremos a UPP Cidade de Deus, que conta com um efetivo policial de 344 policiais para uma populao de aproximadamente 45 mil indivduos, esta comunidade teve sua unidade pacificadora instalada antecipadamente devido a presso exercida pela populao da Barra da Tijuca, bairro nobre da cidade do Rio de Janeiro, devido a sua proximidade da comunidade da Cidade de Deus. Outras localidades tambm tiveram privilgios na instalao do projeto UPP, mesmo que inicialmente estando fora dos planos da Secretaria de Segurana Pblica, porm a opinio pblica e a forte interveno da mdia fez com que estas comunidades entrassem para o planejamento atual. A comunidade do Batam uma destas comunidades, localizada em Realengo, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, a nica de todas as ocupaes que era dominada por uma milcia, seu projeto deu inicio aps um fato ocorrido no dia 14 de maio de 2008 quando uma equipe de jornalistas sofreu um sequestro e foram torturados dentro da comunidade por 7 horas, este acontecimento mobilizou a mdia e pressionou a administrao pblica a incluir a comunidade nos planos de instalao de uma unidade pacificadora, sendo inaugurada no dia 18 de fevereiro de 2009. A Unidade de Polcia Pacificadora uma resposta do governo para todos os eventos que trazem transtorno a cidade e que toma proporo na mdia fazendo o clamor pblico exigir as devidas providencias tendo como objetivo calar a opinio pblica. sem sombra de dvidas um projeto bem volvel, que flexibiliza seu cronograma em prol de uma inesperada emergncia, trata-se de uma interveno policial que cobre as lacunas na ao de preveno abandonada por sucessivos governos, e uma forma de oferecer populao a resposta que desejam. A questo principal desta forma de administrao so as consequncias para o
13 territrio do Estado que tais medidas acarretam, as mudanas abruptas de comportamentos da sociedade, a migrao do organizao criminal, os abusos perpetrados pelas foras de segurana, a mudana do eixo de exportao do trfico de drogas, so todos resultados das transformaes territoriais em reas militarizadas, a grande questo destas mudanas, no so a base concreta e os bons atributos do projeto UPP, mas a forma com que ele implementado e as circunstancias que levam administrao a dar inicio a este processo. 2 AS AES DO ESTADO DENTRO DAS COMUNIDADES PACIFICADAS 2.1 A operao que antecede a pacificao das comunidades A operao policial uma das principais aes executadas pelo Estado em uma comunidade antecedendo a instalao da unidade pacificadora, entretanto, essa incurso informada com antecedncia o que impede os confrontos entre as foras de seguranas e os narcotraficantes dispostos dentro de sua fortaleza, essa medida tambm evita um cerco por tempo demasiado, o que obrigaria a utilizao de um grande efetivo e de uma grande despesa excedente, esta medida foi usada em todas as ocupaes at o momento, de outra forma seria improvvel que uma operao sbita de qualquer corporao policial, no deixassem varias baixas de ambos os lados, o que poderia por a perder todo o planejamento e investimento, porm esta medida traz consequncias trgicas para as reas no ocupadas. Aps sucessivos governos que erguiam a bandeira da guerra contra o crime organizado, o projeto UPP tenta inverter este histrico de incontveis operaes para combater a violncia atravs da truculncia, por uma poltica de pacificao das comunidades, com o propsito de erradicar os confrontos entre a polcia e traficantes, as foras de segurana tentam incursionar sem um traumatizante confronto, trazendo para esta comunidade uma falsa sensao de segurana. As ocupaes obedecem a um plano organizado pela Secretaria de Segurana Pblica para conter o crescimento da incidncia criminal nas reas prximas aos locais mais visveis da cidade do Rio de Janeiro, os bairros tursticos da cidade e as localidades que sero utilizadas nos eventos agendados no calendrio esportivo da cidade at 2016, aps esta data passam a ser uma incgnita a sua continuidade, devido as mudanas de governo, deixando outras localidades da cidade invisveis ao Estado, porm so esses territrios que aps a migrao de criminosos abrigaro os elementos evadidos das reas pacificadas e que mais tarde tero posio de destaque dentro do organograma da faco criminosa e que possivelmente
14 passaro a comandar outras reas conflagradas pelo trfico de drogas. Segundo o Major Rafael Fernandes Fafalate:
A pacificao das comunidades uma utopia, algo inalcanvel, com a substituio constante dos principais elementos do trfico de drogas, e a interligao entre as favelas comandadas por faces aliadas, para cada comunidade pacificada cria-se outro territrio segregado, nas reas do Estado que no foram contempladas com o projeto UPP. ( Major Fafalate)
2.2 A relao de conflitos entre a Polcia e a populao das comunidades pacificadas Aps a inaugurao da unidade pacificadora, o Estado comea a aproximao com a populao da comunidade, em alguns casos essa integrao bem realizada, porm na maioria das ocasies essa relao de grande desconfiana e insegurana, resultada de dcadas de domnio do crime organizado sobre estas comunidades, e de operaes desastrosas executadas pela Policia, gerando uma averso as foras de segurana pblica. Segundo o Major da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Sr. Rafael Fernandes Fafalate: Alguns moradores das comunidades tem uma certa averso a polcia e v as foras de segurana como inimigas da comunidade, criando uma situao conflitante, muitas vezes uma averso gratuita, quase uma inverso de valores. ( Major Fafalate ) A maioria das localidades ocupadas registra um grande histrico de confrontos e rejeies, como o caso mais recente, da comunidade do Turano onde a ocupao foi atribulada e enfrentou a resistncia de uma parcela da populao. Segundo relato de moradores, a operao para sua instalao no Turano, foi truculenta e traumatizante, os moradores deixaram suas casas fugindo da represso policial, o que foi chamado por eles de poltica de represso contra o povo pobre do Rio de Janeiro. Podemos entender que como a comunidade nunca consultada sobre as medidas tomadas em seu territrio, o projeto colocado em prtica em uma atitude antidemocrtica, quase sempre traumatizante para a populao, no s pela ao policial, mas pela mudana de rotina da comunidade, passando a conviver diariamente com a presena policial. Nas ocupaes foram constatados vrios relatos de abusos por parte da polcia, como humilhaes e arbitrariedades nas abordagens policiais, porm, cabe salientar que a populao
15 da comunidade onde a unidade pacificadora recm inaugurada no est acostumada com as sucessivas abordagens em seu transito pela comunidade, o que gera a maior parte dos conflitos, os moradores sentem seus direitos cerceados, a militarizao no bem aceita desta forma, quando imposto de uma maneira repentina, sem a preparao necessria e a ingresso gradual do brao do Estado, trazendo desconforto no relacionamento entre os envolvidos. As populaes das comunidades possuem seus prprios hbitos e comportamentos, criados por dcadas de histrico descaso por parte do Estado, negando-lhes sua prpria cidadania, algumas regras bsicas no so bem aceitas, pois so divergentes a sua cultura. Usaremos um evento ocorrido na comunidade do Turano como exemplo. Policiais da UPP Turano terminaram uma festa que gerou uma revolta deixando 3 (trs) policiais feridos e cerca de 13 (treze) pessoas detidas, aps moradores reclamarem do alto volume do som de uma festa na quadra da comunidade no final da noite do dia 14 de agosto de 2011, que infligia a lei de perturbao do trabalho ou do sossego alheios, Decreto lei 3688/41, do LCP, Art. 42. Segundo o Tenente Eduardo Souza, supervisor de Coordenao das UPPs: A festa foi encerrada por no ter sido previamente autorizada (Fonte, Jornal O DIA). O presidente da associao de moradores do Morro do Turano, Gilberto Rodrigues tentou justificar tal revolta instaurada: A comunidade est revoltada com o rigor dos horrios determinados para eventos na comunidade. O pessoal tinha uma cultura no passado, temos que mudar essa cultura, no discordo(Fonte, Jornal O DIA). Esta afirmao corrobora com a idia de conflito civil e com o desprezo ao direito alheio dentro dos territrios segregados por dcadas de excluso social, essa cultura no pode ser mudada de uma hora para outra, a fragmentao da sociedade uma possvel causadora da criao desta cultura singular, e de mudanas de caractersticas para uma poro da populao carioca, dessemelhante da existente na sociedade. 3 A MIGRAO DO CRIME ORGANIZADO 3.1 A permuta de territrios criminalizados Segundo Luke Dowdney no livro Crianas do trfico:
Em razo de suas redes de becos, de pontos de acesso restritos, e do fato de que muitas esto localizadas em morros, as favelas so geograficamente convenientes do ponto de vista da defesa militar. (DOWDNEY, 2004, p.76)
16 Antes da operao que antecede a ocupao nas comunidades, muitos traficantes abandonam seu reduto, devido ao aviso prvio dado pelo comando das foras de segurana, e obrigado a procurar abrigo em outros territrios da mesma faco criminosa de onde se originou, isto ficou claro na fuga dos traficantes da Vila do Cruzeiro, para o Complexo do Alemo, transformando o local em uma imensa fortaleza do crime, a Secretria de Segurana Pblica estimou um nmero de cerca de 600 homens bem armados, com fuzis e metralhadoras na comunidade do Alemo. A chegada de elementos oriundos de outros locais, que se concentram em um s territrio faz exceder o efetivo na organizao criminosa. No trfico de drogas como no comrcio informal a uma procura por mercado e por local de venda e estoque, como o territrio j est ocupado, o excesso de contingente obrigado a procurar novos locais para moviment-la seu comrcio sem que entrem em concorrncia com os elementos de sua prpria organizao, esse deslocamento causador de dois efeitos, a expanso de territrios e a disputa por territrios. 3.2 A expanso dos territrios dominados pelo crime organizado A expanso tem seu inicio quando o territrio j ocupado pelo trfico existente recebe esse novo efetivo expulso de seu antigo reduto, este excesso de contingente, desempregado por assim dizer, precisa produzir seu prprio sustento, obrigando a expanso de seus domnios para as imediaes da comunidade que os abrigou. As cercanias que antes no presenciavam a ostentao de armas e a passagem frequente de criminosos, passam a conviver com estes eventos, com o comrcio ilegal de drogas e com outras atividades ilegais da rede criminosa, fazendo esta rea ser efetivamente parte do territrio da faco criminosa, trazendo para a localidade uma mudana imediata de qualidade de vida. Os moradores passam a conviver com o medo e a clausura, reprimidos pela onda aterrorizante de crimes e pela nova ordem do poder paralelo, que expandir o territrio, crescer, e multiplicar sua renda para abrigar os elementos oriundos de outras comunidades recm ocupadas pelo Estado. 3.3 A disputa dentro dos territrios conflagrados O segundo episdio iniciado quando a faco criminosa no tem mais como expandir seu territrio sem esbarrar nos domnios de outra faco rival, este o principal piv dos confrontos entre faces criminosas. O trfico de drogas como uma instituio capitalista tem suas atividades baseadas na busca de lucro incessante e na tomada de mercado rival, para a
17 prpria sobrevivncia da firma, mesmo que inconsciente o trfico de drogas resgata o conceito de territrio inserido na proposta de geografia poltica, esta busca por territrios no somente uma mera rivalidade, um ato planejado com a inteno de abrir seu mercado, e como a probabilidade de encontrar resistncia, h uma grande corrida armamentista por ambas as partes, aquecendo este comrcio ilegal. Essa organizao tem caractersticas de Estado, a comunidade obtm lucro com a venda de mercadoria, expande seus domnios, compra produtos necessrios a sua sobrevivncia e defende seu territrio. Como afirma Milton Santos em seus Novos Rumos da Geografia Brasileira: Quando uma sociedade se organiza para defender seu territrio, ela transforma-se em Estado (Santos,1982, p.123). inevitvel a analogia deste conceito com as aes do trfico de drogas. A distribuio espacial da criminalidade no respeita uma organizao territorial, e sim, uma busca por mercado comercial afim de aumentar a demanda e entendendo que quanto mais expandir seu territrio, mais riquezas pode angariar e mais mercado consumidor pode agregar visando sempre o crescimento de sua organizao. 3.4 Consequncias para as reas no pacificadas As consequncias para as localidades onde o trfico de drogas no atuava so to abruptas quanto as mudanas para as comunidades onde as UPPs so instaladas, por no ser cultural de esta populao conviver com o crime organizado, estes locais outrora pacficos entram na zona de conflito, e passam a dar abrigo a indivduos que para fixar seus alicerces definitivos, expulsam antigos moradores e passam a habitar em suas residncias, como acontecido na localidade conhecida como Parque Esperana, no inicio do ano de 2011, situada nos acessos das ruas Alcobaa e Javat no Bairro de Anchieta. A ocupao do trfico veio sobrevir logo que foram inauguradas as UPPs na zona norte, forando centenas de criminosos a refugiar-se em comunidades de mesma faco, uma delas a denominada Chapado, no bairro de Costa Barros, prximo a Anchieta, a faco inflou de tal forma que seu excedente foi obrigado a expandir seu territrio at o ento tranquilo Parque Esperana, fazendo do local uma colnia da comunidade do Chapado e um novo reduto do trfico, o mesmo aconteceu em bairros residenciais de So Gonalo como o Jquei, e em Campo Grande como o Vilar Carioca que se tornaram comunidades criminalizadas. A rota de fuga desses criminosos vem se desenhando para a Baixada Fluminense, So Gonalo e Zona Oeste onde uma destas comunidades a da Vila Kennedy entrou em confronto com traficantes da Vila Aliana pelo
18 domnio do comrcio ilegal de drogas na localidade conhecida como Malvinas, transformando essa local na maior rea conflagrada do Estado, os moradores desses locais denunciam que aps a pacificao das comunidades na zona norte o nmero de criminosos nesta regio aumentou muito, deixando estes moradores na linha de confronto. Essa nova onda de crimes acarretou consequncias econmicas trgicas para essas regies como a desvalorizao dos imveis, por estarem localizados em reas de confrontos e onde os ndices de criminalidades no param de crescer, a falncia do comrcio local, por sofrerem interferncia direta do trfico, o aumento de alguns produtos de consumo e do transporte pblico, devido a explorao do trfico de drogas tambm nestas atividades e o aumento nos preos dos seguros, residenciais e automotivos, diferentemente do que ocorre em regies prximas a comunidades pacificadas. 4 AO POLICIAL NAS COMUNIDADES OCUPADAS 4.1 A corrupo policial dentro das comunidades pacificadas O maior motivo de desgaste e de crticas sofrida pela UPP so os novos casos de corrupo policial dentro das comunidades, dificultando ainda mais a integrao entre Segurana Pblica e sociedade, como o recente caso de envolvimento dos policiais lotados na UPP Fallet localizado no charmoso bairro turstico de Santa Tereza, regio do centro da cidade do Rio de Janeiro, em um esquema de propinas pagas por traficantes para agir livremente na regio. Esta relao de arrego pago por traficantes, comprova que mesmo nas comunidades onde esto instaladas as unidades pacificadoras, ainda existem atividades criminosas executadas por traficantes locais, o que coloca em risco a credibilidade do projeto UPP. Os traficantes de certa forma desfrutam de um esquema de proteo, atravs das propinas pagas a policiais para no atuar, por estarem dentro de uma comunidade onde a segurana pblica pode ser comprada e ser uma segurana privada do prprio trfico de drogas, que mantm seu comrcio, sem serem importunados por traficantes rivais ou por incurses policiais, uma tima convenincia e um bom negcio para os traficantes de drogas. No incio do projeto UPP, os policiais recm-formados eram os principais responsveis pela defesa da comunidade e por exercer seu poder de polcia dentro deste territrio, nas buscas e apreenses, porm apenas estes policiais, sem a experincia necessria para o andamento do servio, no so suficientes para o exerccio da funo policial.
Se o futuro do projeto UPP depende da distino entre membros da prpria corporao, a questo como separar os policiais antigos, que em tese teriam desvios de conduta, dos policiais recm incorporados? Dificilmente a resposta, pelo simples fato de todos serem membros da mesma corporao, de haver uma intensa permuta entre batalhes, uma intensa troca de informaes, e tambm pelo fato de que estes recrutas sem a orientao de policiais graduados e mais experientes dificilmente conduziriam ocorrncias mais expressivas e com maior grau de dificuldade, o que traria ineficincia para o servio. Muitos policiais recm formados esto insatisfeitos em servir em uma Unidade de Polcia Pacificadora, por aspiraes pessoais na procura de desafios na prpria polcia em outros batalhes fora das unidades pacificadoras e em batalhes de elite, pelos baixos salrios pagos pelo governo estadual, e pela falta de estrutura para executar o servio, como armamento, viaturas, e at mesmo falta de fardamentos, obrigando estes policiais a comprarem seus prprios equipamentos. 5 DADOS DAS REAS INTEGRADAS E DAS COMUNIDADES PACIFICADAS As UPPs so elogiadas pelas baixas dos ndices de criminalidades, portanto iremos analisar tais dados e assim concluir se os mesmos so realmente relevantes, porm cabe ainda salientar que, o ISP, Instituto de Segurana Pblica, divulgador dos dados oficiais usados pelo governo vem sofrendo questionamentos pela forma como estes so coletados, ocultando informaes que deveriam constar nas estatsticas divulgadas. Segundo Doriam Borges, ex-coordenador de pesquisas de vitimizao do ISP: No existe uma poltica aplicada de reduo de homicdios. Pode haver fatores externos que justifiquem tais quedas. O problema pode estar no registro e no na anlise de dados. Os dados das tabelas no distinguem os fatos ocorridos dentro das comunidades dos ocorridos fora da comunidade, o que torna estes nmeros pouco significativos, porm so os dados em que so baseados as analises e os planos do governo. A seguir est a tabela estatstica de homicdios das reas que possuem pelo menos uma Unidade de Polcia Pacificadora.
-18.2 3.804
4.11 -50.2
A tabela abaixo mostra dados referentes a reas que no possuem sequer uma Unidade de Polcia Pacificadora e demonstra a mesma tendncia analisada nas reas que possuem pelo menos uma UPP em sua rea de atuao. Estatstica de homicdios em reas que no possuem Unidades de Polcia Pacificadora
AISP 06 05 06 14 18 02 23 DP 18 01 20 34 41 09 15 DPS S/ UPPS 18 a. DP 01 a. DP 20 a. DP 34 a. DP 41 a. DP 09 a. DP 15 a. DP SOMA VAR. ANUAL 2004 08 04 07 134 32 11 17 213 2005 13 05 14 117 40 07 25 221 3.755 2006 08 01 19 142 23 15 12 220 2007 14 06 35 88 26 08 11 188 2008 10 05 16 95 11 07 10 154 -18.0 2009 05 04 13 86 09 13 08 138 -10.3 2010 07 03 06 59 11 06 12 104 -24.6 VAR 04/10 -12.50 -25.00 -14.28 -55.97 -65.62 -45.45 -29.41 -51.17
-0.45 -14.5
21 As tabelas acima demonstram que o ndice de homicdios vem caindo gradualmente desde 2005, antes do projeto UPP, e que a baixa demonstrada nas tabelas so praticamente as mesmas, desta forma podemos concluir que cada UPP uma pequena poro em um universo muito mais extenso e podemos usar como exemplo a comunidade do Batam localizada no bairro de Realengo que abriga uma UPP desde 18 de fevereiro de 2009, vizinha da comunidade do Conjunto gua Branca, conhecida tambm como Fumac, e localizada a 100 metros de distancia da mesma, divididas apenas pela Avenida Brasil, portanto, crimes como roubo de veculos, roubo a transeuntes e homicdios ocorridos nas imediaes da comunidade do Fumac interferem diretamente nas estatsticas da UPP Batam, localidade bem distante do bairro da Sulacap, onde est localizada a 33 Delegacia de Policia Civil, responsvel pela jurisdio e pelos registro de ambos os bairros. Torna-se pouco provvel uma relao entre os nmeros das estatsticas, com a real atuao da criminalidade local. As Unidades de Polcia Pacificadoras mostram-se apenas coadjuvantes no efeito de queda nas estatsticas de crimes em seus respectivos bairros, no evitando a atuao do crime organizado nas imediaes de suas jurisdies e em alguns casos at mesmo dentro das comunidades atendidas por estas unidades pacificadoras. constatado at hoje em algumas comunidades atendidas pelas UPPs, ocorrncias de apreenses de materiais, de entorpecentes e de armamentos, deixando clara a atuao de uma organizao criminosa na esfera de domnio das Ocupaes como podemos ver abaixo na tabela de produo policial do ano de 2010. Tabela de Produo Policial da UPP Cidade de Deus no Ano de 2010
Produo policial Apreenso de Drogas Armas Apreendidas Recuperao de Veculos Cumprimento de Mandado Ocorrncias com Flagrante Jan 26 03 01 03 21 Fev Mar Abr Mai 31 01 07 15 33 02 04 15 17 01 15 35 01 03 13 Jun 17 02 03 02 11 Jul Ago Set Out Nov Dez Soma 33 02 19 16 04 03 15 15 01 01 01 17 23 25 22 01 01 20 15 13 02 01 17 14 281 09 17 61 195
Tambm na comunidade da Providencia continuam a serem apreendidas armas de fogo, e entorpecentes, sinais de resistncia de traficantes em deixar as comunidades ocupadas pelo Estado, no pelo alto escalo da organizao criminosa, mas talvez por algumas pequenas
22 fraes de resistncias que mantm a atividade criminosa com certa discrio, o que pelos criminosos so denominadas como esticas, que uma colnia desta organizao criminosa. Demonstraremos na tabela a seguir a produo policial do ano de 2010 na comunidade da Providncia, onde constatada a existncia dessas chamadas esticas. Tabela de Produo Policial da UPP Providncia no Ano de 2010
Produo policial Apreenso de Drogas Armas Apreendidas Recuperao de Veculos Cumprimento de Mandado Ocorrncias com Flagrante Jan 01 03 01 Fev Mar Abr Mai 03 01 02 01 01 04 01 01 04 01 01 02 01 Jun 03 01 01 Jul Ago Set Out Nov Dez Soma 06 02 01 03 02 02 02 03 02 03 01 01 29 04 05 03
Verificando a tabela da 8 AISP a seguir, podemos constatar que esta rea integrada que abrange o interior do Estado cuja maior cidade elencada Campo vem apresentando um crescimento significativo das atividades criminosas, e um assustador aumento de ocorrncias de grande porte, causadas pela migrao de criminosos, oriundos das comunidades da Capital do Estado, estes dados foram divulgados pelo prprio instituto de pesquisa do governo estadual, sendo a estatstica dos anos de 2010 e 2011 proporcionais de janeiro a junho dos respectivos anos. Tabelas de ocorrncias de maior poder ofensivo da 8 AISP
Tipos de crimes Homicdio doloso Encontro de cadver Tentativa de Homicdio Roubo de veculo Roubo a residncia Roubo a transeunte Roubo a est. comercial 2009 271 29 291 237 97 1170 134 2010 233 30 221 145 73 944 96 Dif. -38 01 -70 -92 -24 -266 -38 Tipos de crimes Homicdio doloso Encontro de cadver Tentativa de Homicdio Roubo de veculo Roubo a residncia Roubo a transeunte Roubo a est. comercial 2010 124 13 132 80 37 454 52 2011 116 09 144 68 25 404 62 Dif. -08 -04 12 -12 -12 -50 10
23 Analisando os referidos dados, conclumos que os crimes de maior potencial ofensivo esto ganhando mais espao nas regies do interior como observado na notcia exibida no tele jornal RJ TV primeira edio no dia 23 de setembro de 2011 na cidade de Campos, a apreenso recorde de pasta base de cocana, a polcia acredita que a refinaria teria a funo de preparar a pasta base de cocana para o consumo local e para as cidades prximas. possvel duas hipteses capaz de causar a magnitude desta ocorrncia; A primeira diz respeito ao aumento da demanda por drogas ilcitas na regio devido ao crescimento da cidade de Campos causado pela maior explorao petrolfera na regio; A segunda influenciada diretamente pelo projeto UPP, devido maior fiscalizao nas comunidades pacificadas, a refinaria do trafico teria se transferido para cidades menos policiadas como Campos, para distribuio do material entorpecente na localidade em constante crescimento, e uma mudana da rota de exportao de entorpecentes por portos menos congestionados, chamando menos a ateno das autoridades. Verificamos tambm o crescimento das estatsticas em So Gonalo, um dos principais locais da migrao do crime organizado, esta cidade classificada na 12 AISP e influencia diretamente os nmeros das estatsticas da citada rea integrada. comprovadamente preocupante o xodo da criminalidade das regies centrais para as periferias de cidades de perfil residencial e tranquilo sem a incidncia criminal vista nos dias atuais. Vide a tabela de crimes de maior potencialidade ofensiva dos ltimos anos abaixo, sendo os anos de 2010 e 2011, proporcionais aos meses de janeiro a junho dos respectivos anos. Tabelas de ocorrncias de maior poder ofensivo da 12 AISP
Tipos de crimes Homicdio doloso Encontro de cadver Tentativa de Homicdio Roubo de veculo Roubo a residncia Roubo a transeunte Roubo a est. comercial 2009 201 14 165 1100 101 3405 253 2010 176 20 198 837 132 2.851 255 Dif. -25 06 33 -263 31 -554 2 Tipos de crimes Homicdio doloso Encontro de cadver Tentativa de Homicdio Roubo de veculo Roubo a residncia Roubo a transeunte Roubo a est. comercial 2010 89 11 86 406 61 1.462 117 2011 81 20 104 410 60 1.545 132 Dif. -8 9 18 4 -1 83 15
24 6 ANLISE DA INFLUNCIA DO PROJETO UPP NA SOCIEDADE CARIOCA Fazendo uma anlise fria quanto implantao deste projeto de segurana pblica, vale a pena destacar que a euforia da populao diretamente atingida pelo projeto UPP no totalmente infundado, de fato vrios relatos de moradores onde essas unidades esto instaladas so de entusiasmo quanto as melhorias obtidas aps a inaugurao de suas instalaes, e realmente podemos destacar alguns pontos positivos, embora seja uma realidade muito recente para uma anlise mais profunda, destacamos que nos locais onde esto instaladas, h uma relevante baixa nos ndices de criminalidade divulgados pelo governo, embora ainda existam atividades criminosas nestas regies, porm sem a incidncia de crimes mais violentos, tambm no so mais encontrados elementos armados pela comunidade, bem como os famigerados confrontos armados entre faces criminosas e entre criminosos e a polcia, o que aumenta a sensao de segurana da populao. Sem a influncia mtica do bandido-heroi, benfeitor da comunidade, ostentador de poder e de credibilidade dentro da comunidade, deixa de existir a cultura do trfico com suas msicas e seus dolos, diminuindo a formao de novos criminosos nas prximas geraes dentro dessa segregada sociedade, porm fundamental deixar claro que apenas uma pequena minoria recrutada pelo exrcito do narcotrfico, mas essa minoria causa um estrago sem precedentes para a sociedade. De qualquer forma as UPPs no diminuem a fragmentao da sociedade em pequenas pores segregadas, e no contribui para sua integrao, basta analisar que as regies indiretamente atingidas pelo projeto, e mais abastadas, embora satisfeitas com as mudanas, no querem uma UPP em seu bairro, mas querem a resoluo do problema criminalstico nas cercanias de suas residncias. O abandono das polticas sociais e servios pblicos nos territrios em decadncia econmica, por no mnimo trs dcadas de descaso e falta de vontade poltica, aliada a posio estratgica do Estado do Rio de Janeiro como rota no circuito mundial de comrcio de drogas, produziu a situao encontrada nos dias atuais, onde os negcios mais rentveis so o trfico de drogas, o comrcio de armas ilegais, e negcios diretamente ligados a rea de segurana, como empresas de segurana privadas e mercado imobilirio dos condomnios de luxo exclusivos, criando a atual situao encontrada em praticamente todo Estado. A desagregao populacional e o controle da criminalidade no Estado so problemas gigantescos, e no sero resolvidos apenas com o projeto UPP. O governo do Estado repete que aps as instalaes a comunidade inundada por servios pblicos, entretanto at o
25 momentos nas comunidades verificadas os servios que chegam primeiro so os privados, j os servios pblicos gratuitos, como a coleta de lixo, a gua, o esgoto, os postos de sade e as creches pblicas ainda esto sendo aguardados, perceptvel o interesse financeiro por traz da instalao do projeto UPPs em locais aonde os servios privados no chegavam e eram obtidos pela comunidade de maneira irregular. Segundo o Dr. Del Pol Hlio Luz:
Quando ocorre esta ao espetacular, (a fuga dos traficantes da Vila do Cruzeiro), voc pensa que o Estado venceu e que ns estamos derrotando um inimigo. Mas eles no so inimigos do Estado, eles so integrantes do Estado, mas foram marginalizados. O Estado criou estes caras. produto direto do que ns fizemos. Num nvel mais direto da segurana resultado da corrupo das polcias do Rio. ( Hlio Luz )
No obstante o fato de existir uma instalao policial ativamente ostensiva nas comunidades, a relao entre o trfico de drogas e a polcia so estreitas, e a corrupo policial colabora para a desordem da administrao da segurana na localidade, devido a atuao de policiais mal remunerados, e explorados pelo esquema de interesses por traz do projeto Unidade de Polcia Pacificadora, no entanto o fator que compromete ainda mais o futuro de um projeto promissor, est diretamente ligado a administrao pblica, os interesses econmicos e os interesses polticos que esto acima do bem estar social. O objetivo real do projeto a promoo pessoal do prprio governo, em uma jogada de marketing poltico, visando divulgar a imagem ilibada de um governo pacificador e prover a manuteno da gesto atual at a realizao dos jogos olmpicos de 2016, o que geraria um gio gigantesco para a atual administrao. 7 CONSIDERAES FINAIS relevante para a concluso desta pesquisa salientar que o projeto Unidade de Policia Pacificadora mostrou elementos que possibilitariam um melhor aproveitamento e maior benfeitoria para a populao carioca, seu problema scio poltico, e controle da criminalidade, resultado que difere da avaliao inicial do projeto, porm os mltiplos interesses envolvidos no desenvolvimento do projeto divergem do que seria a finalidade das UPPs. Ainda considerada prematura qualquer concluso definitiva sobre o projeto, por se tratar de um programa muito recente, mas infelizmente os primeiros indcios conduzem a viso para uma
26 provvel explorao oportuna das favorveis circunstancias atuais por parte do atual governo, aproveitando o apoio da mdia e de parte da populao. fato que h uma demasiada aposta da Secretaria de Segurana nas Unidades de Polcia Pacificadoras, menina dos olhos do governo, criadora de novos espaos segregados com a transferncia da criminalidade, em uma reorganizao espacial do crime, promovida pela administrao pblica, deixando em dvida se esta consequncia era inesperada ou era o objetivo da insero do projeto UPP nas comunidades onde os principais ncleos criminosos estavam agrupados, por puro interesse politico. O projeto Unidade de Polcia Pacificadora demonstra ser apenas uma jogada de marketing do governo estadual, apenas uma promoo particular, nada semelhante a um projeto de segurana social srio, que seria a finalidade deste projeto, o que o governo continua a fazer a populao do Estado acreditar, com grande investimento em infra-estrutura, em servios de incluso social, em educao e em segurana, o projeto transforma o comportamento da sociedade de forma abrupta forando a militarizao das comunidades e forando a populao de outras localidades a um convvio desastroso com organizaes criminosas devido a forma com que estas Unidades de Polcia Pacificadoras so instaladas causando a migrao da criminalidade causadora da maior parte das disputas territoriais vistas atualmente no Estado do Rio de Janeiro. Nas comunidades onde j foram instaladas as Unidades Pacificadoras, a corrupo policial continua a fazer parte do cotidiano, assim como nas comunidades sem as UPPs, e este fator no tem como fazer parte dos dados fornecidos pelo Instituto de Segurana Pblica, dados estes to irrelevantes, como j fora demonstrado anteriormente, porm um fator que encobre a realidade dos territrios ocupados, onde polcia e traficante convivem em aparente tranquilidade, desde que cumpridos os devidos acordos por ambas as partes, de outra forma, comeam a ter evidencia, mais casos de confronto entre marginais da lei e a polcia como o ocorrido na comunidade do Fallet. substancial para a populao carioca que o governo exera seu poder pblico e devolva cidadania as comunidades aterrorizadas pela criminalidade, porm fundamental que o Estado esteja presente em todas as reas e nveis da sociedade, sendo necessrio um contingente policial gigantesco a um custo invivel para assegurar a retomada de todas as comunidades dominadas pelo trfico atravs apenas da ocupao policial, so cerca de 811 comunidades subnormais (as denominadas favelas), no Estado de Rio de Janeiro, segundo o IBGE, com uma lotao de 200 policiais em mdia em cada UPP, seria um efetivo aproximadamente quatro vezes maior que o efetivo policial do Estado do Rio de Janeiro atual,
27 para compor todas as unidades pacificadoras em todas as comunidades do Estado do Rio de Janeiro, seria um absurdo acreditar na hiptese de ocupar todas as comunidades cariocas. Portanto, no pode pesar a grande responsabilidade de pacificar o Estado do Rio de Janeiro apenas nos ombros de uma corporao abandonada pelo seu gestor, no s com polcia que se faz segurana pblica. A soluo possivelmente seria iniciada atravs de um macio investimento em infra-estrutura, para dar incio a um processo de resgate da cidadania da populao carente carioca, com a a construo de residncias populares fora das comunidades, e regularizao e restaurao das residncias construdas dentro das comunidades com o objetivo de resgatar a auto-estima desta populao, com a construo e restaurao das escolas pblicas, com a restaurao e construo de hospitais, com a expanso de servios pblicos como esgoto, gua e iluminao pblica, garantir a incluso a cidadania para todos os indivduos sem exceo, atravs de uma inundao de servios pblicos, uma boa vontade poltica gigantesca, com pulso forte para aguentar a presso interna e externa, para agir com energia, porm com humanidade, respeitando a Constituio, a democracia e os direitos humanos sem baixar a guarda para a criminalidade, valorizar o funcionalismo pblico, pois sem estes no possvel fazer funcionar a mquina do Estado e todos os servios param ou funcionam mal, colocando todo o processo de resgate da cidadania a perder, oferecer salrios mais dignos e melhores condies de trabalho, no s para os policiais, mas para todo o funcionalismo pblico, todos os inclusos neste sistema, responsveis pela misso de diria e cotidiana de nos trazer a sensao de segurana que tanto almejamos e a to sonhada paz que precisamos para fazer crescer e evoluir este nosso lindo Pas.
28 8 GLOSSRIO
gio: Lucro resultante. Anttese: O contrrio, o oposto. Arrego: Usado na gria policial como propina. Cercania: Lugares que esto em redor, proximidade, vizinhana, Arredores. Cerceados: Do verbo cercear, restringir, limitar, cortar. Conflagrada: Do verbo conflagrar, Incendiar totalmente, abrasar, diz-se de locais em conflito. Esticas: Comrcio ilegal de drogas praticado por uma pequena quadrilha em uma localidade. Ilibada: Intocada, imaculada, pura. Obstante: Apesar de tudo isso, ao contrrio do que se esperava Organograma: Grfico da estrutura hierrquica de uma organizao social Rentvel: Que produz rendimento satisfatrio Sobrevir: Vir ou acontecer em seguida ou depois de outra coisa. Acontecer inesperadamente
29 9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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30 e-546603280.asp. Acesso em: 05 de Novembro de 2011. O PORTAL JURIDICO JURIS DOCTOR, Lei das contravenes penais Art. 42, Rio de Janeiro, Disponvel em: http://www.jurisdoctor.adv.br/legis/leicontp.htm. Acesso em:14 de Outubro de 2011. POLCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, Unidades de Polcia Pacificadoras, Rio de Janeiro 2011. Disponvel em: www.policiamilitar.rj.gov.br. Acesso em: 14 de Outubro de 2011. SANTOS, Milton. Novos Rumos da Geografia Brasileira. Hucitec, 1982, p 123. SOUZA, Marcelo Lopes. O Desafio Metropolitano - Um estudo sobre a problemtica scia espacial nas metrpoles brasileiras. Bertrand Brasil, 2000, p 191.
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