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Concerto Campestre

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CONCERTO CAMPESTRE

MATEUS PEREZ – MAJOR


BRUNA - CLARA VITÓRIA
CÁSSIO - MAESTRO
SIMONE - DONA BRÍGIDA
DJULIE – SIÁ GONÇALVES
MATHEUS CASTRO – SILVESTRE
FERNANDA – VIGÁRIO/ROSSINI
THIAGO - NARRADOR

Luzes do auditório totalmente apagadas. Capa do livro em projeção, seguido de quatro fotos
sobre a história.

NARRADOR: Um Grande livro! Concerto Campestre de Luís Antônio de Assis Brasil. Um tempo:
meados do século passado. Um lugar: as fronteiras vazias dos pampas. O Rio Grande do Sul
após a Guerra dos Farrapos. Decadência moral, social e política. A alma humana sangra.

Música número 1. Início – entrada do Major.

NARRADOR: O tempo sai das páginas na fala de seus personagens.

Abrem-se as cortinas. A música suaviza. Foto do Major em projeção. Major começa sua fala, a
música para.

MAJOR: Buenos dias! Antônio Eleutério Fontes é meu nome. Major Eleutério! Por força e por
graça, por merecimento e por doação... Tenho três paixões: o dinheiro, o poder e a música! Ah,
a música! Minha glória e minha ruína!

NARRADOR: Há os nascidos ali e os intrusos, todos giram à volta do Major que cansado de
mandar e ser obedecido delega na sua esposa, Dona Brígida, a sua prepotência para se dedicar
ao mecenato da música.

Música número 2. Entrada de Brígida e Siá. Foto de Brígida na projeção. Brígida começa sua
fala, música para.

BRÍGIDA: Sou Brígida, a única pessoa em sã consciência nessa casa. Planejo um futuro
descente para minha filha, afinal casar-se é tornar-se digna. Mas enquanto isso o louco do meu
marido Eleutério só pensa na sua merda de música tocada por aquela gente vagabunda. Tudo
por causa do tal de Maestro! Não confio nesse negro... Ah! E essa é Gonçalves, minha fiel
governanta.

Música número 3. Apresentação da Siá. Foto de Siá na projeção. Siá começa sua fala, música
para.

SIÁ GONÇALVES: (apresentação)

NARRADOR: Com dois filhos boçais e uma filha bonita, Clara Vitória, o Major transfere para a
sua orquestra grande parte do seu afeto e do seu dinheiro, para desespero silencioso de D.
Brígida, que não se conforma que se gaste tanto dinheiro com música, mas que não pode, por
dever social, hostilizar o marido. A parte doce dessa história está em Clara Vitória.

Música número 4. Entrada de Clara Vitória. Foto de Clara em projeção. Clara começa sua fala,
música para.

CLARA: (apresentação)

NARRADOR: Assim tudo parece correr sobre as rodas: há dinheiro, a orquestra já toca afinada
e até há um fazendeiro rico e de boa figura para casar com Clara Vitória, e há um padre que
abençoa.
Música número 5. Entrada do Vigário. Foto do Vigário em projeção. Vigário começa sua fala,
música para.

VIGÁRIO: À música, à felicidade, ao amor, ao bem-viver, à boa comida. AMÉM. Bom dia meus
fiéis. Eu sou o Vigário dessa estância, ou padre, como quiserem. Agora só me resta abençoar,
pois as confissões já me foram feitas e agora é rezar para que não chovam lágrimas da alma
desses pobres pecadores.

NARRADOR: Se a parte triste e doce fica com Clara Vitória, é Silvestre quem faz de cômica a
trágica história.

Música número 6. Entrada de Silvestre. Foto de Silvestre em projeção. Silvestre começa sua
fala, música para.

SILVESTRE: Meu nome é silvestre, noivo, ou melhor, ex-noivo de Clara Vitória... Ninguém
imaginava que por trás daquela virgindade imaculável estava uma criatura capaz de trair os
valores de sua própria família, de sua época. Fui traído, humilhado... Mas não culpo ninguém...
Vou-me embora para minhas terras em Alegrete e São Gabriel, vou em paz

(apresentação)

NARRADOR: E como vocês podem perceber, tudo SÓ parecia estar bem, porque um temporal
estava se armando naquela estância.

Música número 7. Entrada do Maestro. Foto de Maestro em projeção. Maestro começa sua fala,
música para.

MAESTRO: (apresentação)

NARRADOR: Porém, havia esse senão: um Maestro arranjado pelo padre que o Major instalou
no quarto de hóspedes, ao lado do quarto da filha. O resultado dessa vizinhança será
catastrófico.

BRÍGIDA: Você está grávida!! (empurrar) Miserável!! (tapa) Era isso! Enquanto eu ficava aqui
como uma boba vocês se refestelavam como cachorros! Você e Silvestre!

SIÁ GONÇALVES: PARA DONA! Assim você mata a menina!

BRÍGIDA: É isso que ela merece! Alguém que eu pari, criei, agora me faz isso! Eleutério, nossa
filha grávida! GRÁVIDA!

MAJOR: É a última vez na vida que tu me vê. Vais para o boqueirão! Leve-a Gonçalves! E não
permito mais nem sequer a citação dessa vagabunda nessa casa!

BRÍGIDA: O que vais fazer?

MAJOR: O que devo.

Todos saem de cena.

NARRADOR: Tudo se transtornou. D. Brígida não sabe o que faz da vida, o Major passa os dias
solitário, tendo inclusive desativado a orquestra. O Maestro, na impossibilidade de ver Clara
Vitória, abandona a estância e vai a Porto Alegre.

MAESTRO: Não agüento essa situação! Sei que o Major está definhando, já perdendo a razão.
E Clara Vitória vive solitária, exilada no boqueirão, abandonada, vivendo consigo mesma, com
a natureza que a cerca e com o fruto do nosso amor. (partitura) A música que fiz para ela! Vão
agüento, vou voltar!
NARRADOR: E vocês querem saber o final dessa história? O Maestro retorna com Rossini e
outros músicos para estância do Major, que está perturbado, sozinho pelas barbaridades fez.
Delirante!

MAJOR: Boa tarde seus cretinos! Vieram ouvir da minha boa música seus porcos?

Música número 8. Entrada de Maestro e Rossini – Morte do Major.

MAJOR: Sabem quem é o culpado disso? Deus que os fez tão medíocres, mesquinhos... Seus
porcos imundos!

BRÍGIDA: E tu esperavas que viesse alguém depois das coisas que fez?

MAJOR: Olha quem está falando! Deixe-me só!

BRÍGIDA: Vou mesmo embora, seu louco!

MAJOR: Vamos, toquem! Vai ter concerto!

(Major tira Siá Gonçalves para dançar a força.)

MAJOR: Estão gostando seus cretinos? Podem dançar seus porcos!

(Major dá-se um tiro. Dar pause na música!)


ROSSINI: (aplausos espaçados) Final feliz! Vá meu amigo, antes que as cortinas desse amor
acabem por se fechar!

Fecham-se as cortinas.

Música número 9. Maestro e Clara se encontram.

NARRADOR: Quando sentiu que alguém vinha em sua direção Clara Vitória logo soube quem
era, sempre saberia dali por diante, pelos anos a fora apenas abriu os braços e entregou-se ao
primeiro beijo de todos os beijos de sua longa vida.

Fecham-se as cortinas. A música aumenta, torna a ficar fraca, narrador começa a falar. Pause
na música.

NARRADOR: A história da moça abandonada no boqueirão me foi contada por uma amiga, a
escritora Hilda Simões Lopes, e aconteceu no século passado, nos campos de sua família. É,
portanto uma história real, o que lhe dá certa nota picante; mas aqui, como em todas as
realidades, a fantasia ocupa lugar do trivial e do desconhecido – e isso é apenas uma
homenagem a literatura.

Play na música, bem alto. Abrem-se as cortinas e a gente agradece.

Eeeeito! Acabou!

OBS: Tudo que está sublinhado refere-se ao som.

Disposição em palco na primeira cena

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