Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o papel da economia na gestão ambiental através dos métodos de valoração como suporte à formulação de políticas públicas ambientais. A dissertação discute a evolução do pensamento econômico sobre o meio ambiente, o funcionamento do sistema econômico de mercado e a relação entre desenvolvimento econômico e políticas públicas ambientais. Por fim, analisa os métodos de valoração econômica como instrumentos para o planejamento de políticas públicas ambientais, especificamente os métodos
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o papel da economia na gestão ambiental através dos métodos de valoração como suporte à formulação de políticas públicas ambientais. A dissertação discute a evolução do pensamento econômico sobre o meio ambiente, o funcionamento do sistema econômico de mercado e a relação entre desenvolvimento econômico e políticas públicas ambientais. Por fim, analisa os métodos de valoração econômica como instrumentos para o planejamento de políticas públicas ambientais, especificamente os métodos
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o papel da economia na gestão ambiental através dos métodos de valoração como suporte à formulação de políticas públicas ambientais. A dissertação discute a evolução do pensamento econômico sobre o meio ambiente, o funcionamento do sistema econômico de mercado e a relação entre desenvolvimento econômico e políticas públicas ambientais. Por fim, analisa os métodos de valoração econômica como instrumentos para o planejamento de políticas públicas ambientais, especificamente os métodos
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre o papel da economia na gestão ambiental através dos métodos de valoração como suporte à formulação de políticas públicas ambientais. A dissertação discute a evolução do pensamento econômico sobre o meio ambiente, o funcionamento do sistema econômico de mercado e a relação entre desenvolvimento econômico e políticas públicas ambientais. Por fim, analisa os métodos de valoração econômica como instrumentos para o planejamento de políticas públicas ambientais, especificamente os métodos
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAP
PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO
MESTRADO EM DIREITO AMBIENTAL E POLTICAS PBLICAS
ROSILENE DE OLIVEIRA FURTADO
O PAPEL DA ECONOMIA NA GESTO AMBIENTAL: OS MTODOS DE VALORAO COMO SUPORTE FORMULAO DE POLTICAS PBLICAS AMBIENTAIS
MACAP 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAP PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO MESTRADO EM DIREITO AMBIENTAL E POLTICAS PBLICAS
O PAPEL DA ECONOMIA NA GESTO AMBIENTAL: OS MTODOS DE VALORAO COMO SUPORTE FORMULAO DE POLTICAS PBLICAS AMBIENTAIS
Mestranda: Rosilene de Oliveira Furtado
Dissertao apresentada banca examinadora da Universidade Federal do Amap como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Direito Ambiental e Polticas Pblicas, sob orientao do Prof. Dr. Joo Roberto Pinto Feitosa.
MACAP 2010
ROSILENE DE OLIVEIRA FURTADO
O PAPEL DA ECONOMIA NA GESTO AMBIENTAL: OS MTODOS DE VALORAO COMO SUPORTE FORMULAO DE POLTICAS PBLICAS AMBIENTAIS.
Banca examinadora:
______________________________ Prof. Dr. Joo Roberto Pinto Feitosa Universidade Federal do Amap UFPA Orientador
______________________________ Prof. Dr. Joselito Santos Abrantes NAEA Membro externo
______________________________ Prof. Dr. Ricardo ngelo Pereira Universidade Federal do Amap UNIFAP
______________________________ Prof. Dr. Raul Jos de Galaad Oliveira Universidade Federal do Amap UNIFAP
Aprovado em: Data: 30/09/2010
Ao Deus Todo-Poderoso, que me concedeu o dom da vida; aos meus queridos pais que me apoiaram sempre e me conduziram numa formao tica e honesta; ao meu marido e filha (minha preciosidade), s minhas irms (sempre e muito presentes); aos meus familiares e amigos, pela fora, compreenso e pacincia durante essa caminha to rdua, mas muito significativa.
Agradeo queles que, direta ou indiretamente, contriburam e acreditaram na construo da minha ideia, como os professores do curso, os colegas de turma (em especial ao Paulo Melo, presente no corao), aos funcionrios da Unifap, com carinho especial Neura, ao meu orientador que mesmo nas adversidades, esteve sempre comigo. A todos o meu muito obrigada.
While there may be no right way to value a forest or a river, there is a wrong way, which is to give it no value at all
Robert Constanza
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo discutir o papel da economia na gesto ambiental atravs da utilizao dos mtodos de valorao como suporte no planejamento de polticas pblicas ambientais. Para isso, feita primeiramente uma abordagem acerca da evoluo do pensamento das cincias econmicas em relao ao Meio Ambiente e para melhor compreenso do tema em questo apresentado tambm o funcionamento do sistema econmico de mercado, visto a partir da teoria microeconmica com anlise das funes oferta e demanda. Um estudo sobre o desenvolvimento econmico e sua relao com as polticas pblicas ambientais, est sendo enfocado, a fim de demonstrar o papel da economia na formulao dessas polticas, tomando por base os princpios do direito ambiental. Ao final da pesquisa esto sendo demonstrados e analisados os mtodos de valorao econmica como instrumentos de suporte para o planejamento de polticas pblicas ambientais, mais especificamente os mtodos de Valorao Contingente e mtodo Custo Viagem, partindo do conceito da anlise custo-benefcio, considerando a necessidade da internalizao das externalidades que surgem do processo produtivo. O intuito promover a discusso e o entendimento de que a relao desenvolvimento econmico e meio ambiente imprescindvel para a continuidade da vida, em todas as suas formas.
Palavras-chave: Meio Ambiente; sistema econmico; polticas pblicas ambientais; valorao econmica.
ABSTRACT
This paper aims to discuss the importance of economy in environment management by the use of value methods as a support in the environment public politics plan. So, first, an approach about the evolution of economic science in relation environment is done and to comprehend better this issue, is presented the economic system function by the microeconomic theory with supply and demand analyses. A study about economic development and its relation with environment public politics is highlighted trying to demonstrate the economic function in the creation of this politics, based in environment law principles. In the end of this paper, the economic value methods are being analyzed specifically Contingent Method Value and Travel Cost, as an analytic instrument in the environment public politics plan, using the cost- benefit analyze concept, considering the need of internalizing the externality that appear in productive process. The objective is to promote the discussion and comprehension that the relation between economic development and environment is essential to the life, in any way.
Keywords: Environment, economic system, environment public politics, economic value.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACB- Anlise custo-benefcio ANA Agncia Nacional das guas CTFlor - Cmara Tcnica de Florestas COEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente DAP Disposio a pagar DAC Disposio a aceitar DNPM Departamento Nacional de Produo Mineral EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecurias GEA Governo do Estado do Amap IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBDF- Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IMAP Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Estado do Amap IN Instituio Normativa SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente MVC Mtodo de Valorao Contingente MCV Mtodo Custo de Viagem MPH Mtodo Preo Hednico MCR Mtodo Custo de Reposio MDR Mtodo Dose-resposta MCE Mtodo Custos Evitados ONGs- Organizaes no governamentais PMFS-PPR - Plano de Manejo Florestal Sustentvel para Pequenas Propriedades Rurais SUDAM - Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia SUDEPE- Superintendncia do Desenvolvimento da Pesca VET Valor econmico total VUD Valor de uso direto VUI Valor de uso indireto VO Valor de opo VE Valor de existncia
CAPTULO 1 ECONOMIA E MEIO AMBIENTE 1.1 A evoluo do pensamento das Cincias Econmicas sobre o Meio Ambiente............................................................................................................ .........14 1.2 O Sistema Econmico luz da Teoria Microeconmica: uma compreenso acerca do funcionamento de mercado.......................................................................23
CAPTULO 2 O DESENVOLVIMENTO ECONMICO E AS POLTICAS PBLICAS NO CONTEXTO AMBIENTAL
2.1 A relao Desenvolvimento econmico e Polticas Pblicas...............................33 2.2 Os princpios do Direito Ambiental e sua relao com a nova economia .........40
CAPTULO 3 INSTRUMENTOS ECONMICOS PARA A FORMULAO DE POLTICAS PBLICAS AMBIENTAIS.
3.1 Os Mtodos de Valorao Econmico-ambiental: um estudo conceitual............................... ........48 3.2 Os mtodos de valorao econmica como suporte formulao de polticas pblicas ambientais .. ........................81
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................108 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................113
10 INTRODUO
Entender a relao entre atividade econmica e natureza, e usar esse conhecimento para tomar decises melhores e mais inteligentes, torna-se cada vez mais relevante. A partir da percepo das limitaes dos recursos naturais fez-se necessrio desenvolver novos instrumentos para incorporar os efeitos das atividades de produo e consumo sobre o meio ambiente. A contribuio das cincias econmicas nesse processo fornecer instrumentos analticos que ajudem a explicar as interaes entre mercado e meio ambiente, as implicaes dessas relaes e as oportunidades de solues efetivas. Para compreender o mercado, necessrio entender os fundamentos do seu funcionamento, bem como a relao entre atividades mercadolgicas e natureza. A economia, mesmo sendo uma cincia social, usa equaes para explicar as tomadas de deciso estratgicas e as condies econmicas que definem o mercado. Isso quer dizer que os instrumentos econmicos podem estar presentes no momento em que j houve um problema ambiental ou tambm na formulao de polticas que possam evitar ou minimizar um dano. Este estudo se deu a partir da observao do problema de que a no utilizao de instrumentos capazes de avaliar e diagnosticar atividades econmicas potencialmente degradadoras e/ou poluidoras podem inviabilizar a formulao de polticas pblicas ambientais exeqveis. Para tanto, o objetivo central nesta pesquisa, apresentar atravs de uma abordagem terico-analitica os mtodos de valorao econmica que podem servir como suporte na formulao de polticas pblicas ambientais exeqveis. Demonstrando atravs de uma abordagem terica, porm com possibilidades de serem colocados em prtica nos processos de tomada de deciso, como as ferramentas das cincias econmicas, mais especificamente os mtodos de valorao, podem ser usadas para avaliar problemas ambientais, formulando e julgando as melhores polticas para suas solues. Fazendo especificamente uma reviso de tpicos da microeconomia que se relacionam com a questo ambiental, bem como, analisando de que forma os mesmos podem influenciar na tomada de deciso da gesto ambiental na empresa. 11 Uma poltica ambiental exeqvel no pode estar dissociada dos fundamentos econmicos que regem o mercado. E uma poltica econmica conseqente no ignora a necessidade de uma poltica de proteo dos recursos naturais, pois o que est em jogo no s a otimizao do uso privado de recursos, mas as externalidades decorrentes e o modo de como esses recursos so apropriados. Para isso, h estratgias que podem ser eficazes no desenvolvimento das polticas ambientais, e entre elas a anlise custo - beneficio que sustenta grande parte da teoria econmica, cuja funo avaliar os ganhos e as perdas associados sociedade. A finalidade com o uso da anlise custo beneficio orientar as decises dos formuladores e fiscalizadores de polticas pblicas ambientais que precisam quantificar os benefcios e custos sociais a elas vinculados. O processo no fcil, nem simples, mas decisivamente importante. Inerente ao processo de anlise custo-benefcio est o mtodo de valorao econmico-ambiental. De uma maneira geral, tais mtodos so utilizados para estimar os valores que as pessoas atribuem aos recursos ambientais, com base em suas preferncias individuais. A compreenso desse ponto fundamental para perceber o que os economistas entendem por valorar o meio ambiente. Com a incorporao da dimenso ambiental na anlise econmica, nas ltimas dcadas vem aumentando os estudos sobre a valorao monetria de bens e impactos ambientais. A valorao econmica do meio ambiente constitui-se em um conjunto de mtodos e tcnicas que buscam estimar valores para os ativos ambientais e para os bens e /servios por eles gerados. Busca-se tambm estimar valores aos danos ambientais causados por empresas que desenvolvem atividades potencialmente poluidoras. Mediante uma poltica econmica pode-se empreender macroplanejamentos que coordenem interesses privados e coletivos, evitando que a realizao de um seja a negao do outro, fazendo com que a finalidade da produo constitua a riqueza social, voltando-se a melhoria da vida em sociedade. A preocupao com os problemas ambientais aparece como um elemento importante a respeito do crescimento econmico e da qualidade de vida, pois, o meio ambiente considerado uma dimenso do desenvolvimento e deve ento ser internalizado em todos os nveis de deciso. 12 por isso que a relevncia da pesquisa e estudo sobre a valorao econmico-ambiental se justifica neste trabalho, por perceber uma lacuna acerca do entendimento deste assunto e principalmente da aplicabilidade do mesmo em problemas ambientais to evidentes. O intuito demonstrar o papel da economia na formulao de polticas pblicas ambientais, fazendo uma anlise acerca dos mtodos de valorao sendo utilizado como suporte no planejamento ambiental; e assim contribuir para a construo de uma teoria consistente que possa se tornar pragmtica no contexto brasileiro e mais especificamente, amapaense. E para alcanar o objetivo geral proposto se fez necessrio levantar e analisar um arcabouo terico que basilar para a compreenso do tema em questo. Por isso, que um dos objetivos especficos foi demonstrar a evoluo do pensamento das cincias econmicas na seara ambiental. Outro objetivo foi compreender o papel das polticas pblicas ambientais para o desenvolvimento das atividades econmicas de forma sustentvel. E concluindo a idia do trabalho se fez necessrio selecionar e sistematizar os mtodos de valorao exeqveis na formulao de polticas pblicas ambientais. vlido ressaltar que este estudo no traz um detalhamento de procedimentos economtricos ou estatsticos, pois, para cada caso, atividade ou situao, um modelo especfico deve ser elaborado. Assim, busca-se aqui esclarecer a fundamentao terica dos mtodos de valorao no sentido de instrumentalizar o analista a avaliar quando e como tais mtodos podem auxiliar no processo de valorao. A metodologia utilizada foi fundamentalmente bibliogrfica, atravs de investigao e consulta a pesquisas referendadas, bem como trabalhos cientficos que apresentam resultados relacionados utilizao de mtodos de valorao na formulao de polticas pblicas ambientais. Tambm foi realizada uma entrevista informal, no estrutura com os responsveis pela elaborao de polticas pblicas da Secretaria Estadual de Meio ambiente do Estado do Amap no intuito de verificar como se d o processo de formulao destas polticas no Amap. A valorao do meio ambiente tem como propsito incorporar os custos e benefcios gerados pelas atividades econmicas, para que os agentes econmicos possam tomar decises mais coerentes no que diz respeito utilizao dos recursos naturais. Busca ainda obter uma melhor alocao dos recursos disponveis visando 13 sustentabilidade do desenvolvimento. A incorporao da sustentabilidade representa uma mudana de conduta dos agentes econmicos. O propsito perceber que o meio ambiente importante tanto para a economia quanto para o bem estar das pessoas. Para melhor compreenso acerca do tema proposto, esta pesquisa apresenta em seu primeiro captulo a evoluo do pensamento das cincias econmicas em relao ao Meio Ambiente, demonstrando a mudana de comportamento e o avano da economia a respeito das questes ambientais. feita tambm uma abordagem acerca do entendimento sobre o funcionamento do sistema econmico de mercado, visto a partir da teoria microeconmica com anlise das funes oferta e demanda. No segundo captulo realizado um estudo sobre o desenvolvimento econmico e sua relao com as polticas pblicas ambientais, sendo enfocado o papel da economia na formulao dessas polticas, bem como os princpios basilares do direito ambiental. Por fim, esto sendo demonstrados e analisados os mtodos de valorao econmica como instrumentos analticos para o planejamento ambiental, intrnsecos ao conceito da anlise custo-benefcio, considerando a necessidade da internalizao das externalidades que surgem do processo produtivo. Para facilitar a compreenso dos temas em questo est sendo apresentado, um roteiro que auxilia na escolha do mtodo mais apropriado para a valorao dos recursos ambientais e um exemplo aplicado demonstrando a utilizao dos mtodos de valorao como suporte s polticas pblicas. O principal enfoque est relacionado apropriao do valor econmico da natureza, bem como seu reconhecimento na formulao e implementao de polticas pblicas no intuito de conciliar desenvolvimento econmico com a sustentabilidade ambiental.
14 CAPTULO I - ECONOMIA E MEIO AMBIENTE
1.1 A evoluo do pensamento das Cincias Econmicas sobre o Meio Ambiente
A economia como cincia tem desenvolvido, ao longo dos anos, diversas formas de anlise relacionada ao ambiente natural. Esta anlise pode ser dividida em trs fases: Economia de Recursos Naturais, Economia Ambiental e Economia Ecolgica. A economia dos recursos naturais, difundida nas dcadas de 60 e 70, do sculo XX, tinha sua nfase na forma de utilizao dos recursos naturais. O objetivo era alcanar o uso timo de recursos renovveis e no-renovveis, porm no se conseguiu evitar a degradao ambiental. Assim, nesta fase correu-se o risco de levar os recursos naturais completa exausto ou extino. A Economia do Meio Ambiente mais recente e utiliza um conjunto de conceitos em torno dos quais nem sempre h absoluta concordncia quanto aos seus significados. O interesse em assumir os recursos naturais como parte integrante e necessria para o desenvolvimento das atividades econmicas, surgiu do desdobramento de um corpus terico alimentado por diferentes contribuies da histria do pensamento econmico. Na teoria clssica da economia, os recursos naturais eram considerados o cerne da produo, tanto na indstria como na agricultura. Para os clssicos, havia uma distino entre o que pertence natureza e o que pertence ao econmico. O ncleo de anlise econmica dos recursos naturais e do meio ambiente fundamentalmente neoclssico. A economia neoclssica, baseada nas teorias da utilidade e do bem-estar, fez nascer na teoria econmica discusso a respeito da questo ambiental. No seio da economia ambiental est a internalizao das externalidades e a definio dos direitos de propriedade. A economia neoclssica apresenta duas perspectivas para tratar as questes ambientais: a primeira refere-se economia dos recursos naturais, que percebe o patrimnio natural enquanto fonte provedora de matrias-primas, as quais so processadas nas diferentes atividades econmicas ou consumidas in natura (funo 15 ambiental source); a segunda, economia do meio ambiente, v o patrimnio natural enquanto fossa receptora de dejetos advindos dos processos produtivos e de consumo (funo ambiental sink).. Neste sentido Alier e Jusmet (2000) afirmam que a atividade econmica representada atravs de um sistema fechado, no qual participam famlias e empresas.
Fonte: TIETENBERG (1994) O Sistema Econmico e o Meio Ambiente
Nesse sistema, as empresas vendem seus bens e servios e, com isso, remuneram os fatores de produo (terra, capital e trabalho), existindo um fluxo circular do dinheiro. Essa escola preocupa-se com o que de utilidade direta para os seres humanos, valorvel e produtvel. Essas duas subdivises podem ser melhor visualizadas atravs da explicao elaborada por Daly (1991), o qual separa a economia, a economia do meio ambiente, a economia dos recursos naturais e a ecologia, atravs das relaes entre os setores humano e no humano.
Fonte: Daly/1991 16 As relaes de produo interna ao setor humano (de humano para humano) so tratadas pelo campo da economia convencional, local onde se desenvolvem as atividades produtivas primrias, secundrias e tercirias. Ressalta-se que esse quadrante no interage com os demais, ou seja, os inputs primrios no so os recursos naturais, mas, sim, o trabalho humano, bem como os outputs no so os dejetos despejados no meio ambiente, mas o consumo final. As interaes entre o setor no humano (inputs) com o setor humano (de no humano para humano) so tratadas pela economia dos recursos naturais. Esta ltima estuda a extrao e exausto dos recursos naturais no renovveis, bem como o manejo dos recursos naturais renovveis. A economia do meio ambiente, por seu turno, mostra as relaes entre o setor humano com o no humano (de humano para no humano). Seu objeto de estudo consiste em avaliar os impactos econmicos oriundos dos despejos de dejetos, outputs, no meio ambiente. Por fim, as relaes do setor humano com o no humano o campo tradicional da ecologia. Nessa perspectiva, a funo do capital natural evidenciada a funo ambiental sink. O meio ambiente atua como fossa receptora de dejetos e todo tipo de energia que so gerados pelas atividades humanas, as quais so depositadas de forma controlada ou no (disperso e diluio das emisses atmosfricas pelo ar, absoro de dejetos industriais pelos rios etc.). O meio ambiente absorve-os, neutraliza-os e recicla-os. A economia do meio ambiente tem como principal objeto de estudo a internalizao (monetria) das externalidades (custos externos) via o mercado. As externalidades so geradas quando a produo ou consumo de um agente econmico, seja produtor ou consumidor, perturbada ou beneficiada pelas atividades de outro agente. Tanto a Economia de Recursos Naturais quanto a Economia Ambiental, segundo Merico (1996), mostraram-se insuficientes para produzir uma ampla introduo do ambiente natural na anlise econmica, dado que no discutiam uma escala adequada das atividades econmicas em relao aos ecossistemas e em relao prpria biosfera. O desenvolvimento e o meio ambiente esto indissoluvelmente vinculados e devem ser tratados mediante a mudana do contedo, das modalidades e das 17 utilizaes do crescimento. Trs critrios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente: eqidade social, prudncia ecolgica e eficincia econmica. A economia atual do meio ambiente procura uma abordagem preventiva contra as catstrofes ambientais iminentes, pregando a conservao da biodiversidade mediante uma tica que considere as necessidades potenciais das geraes futuras. Isso pressupe que os limites ao crescimento fundamentados na escassez dos recursos naturais e sua capacidade de suporte so reais e no necessariamente superveis por meio do progresso tecnolgico. Neste sentido surge a economia ecolgica que, de acordo com Constanza (1994), uma nova abordagem transdisciplinar (que vai alm das concepes tradicionais das disciplinas cientficas, procurando integrar e sintetizar muitas perspectivas disciplinares diferentes) que contempla toda a gama de inter- relacionamento entre os sistemas econmico e ecolgico. A economia ecolgica, por sua vez, distingue-se da economia ambiental por apresentar uma viso mais holstica das relaes entre o homem (sistema econmico) e a natureza (ecossistemas). Alm disso, v a economia como sendo um subsistema aberto inserido num amplo ecossistema, que finito, no crescente e materialmente fechado. Daly (1999) corrobora afirmando que tal ecossistema aberto para um fluxo contnuo de energia solar, o qual finito e no crescente Para a economia ecolgica, o capital natural, alm de prover matria, energia e atuar como fossa receptora de dejetos, prov tambm importantes servios ecossistmicos, os quais no podem ser substitudos pelo capital econmico (capital manufaturado). Segundo Buarque (1994), a economia ecolgica dever incorporar todas as relaes da vida como parte de seu estudo. Exigindo no apenas a incorporao da dimenso ecolgica, como tambm a considerao do longo prazo. O espao fsico da economia dever ir alm dos limites das empresas e da nao, abrangendo toda a ecologia; o tempo das anlises no poder ficar restrito ao curto prazo, devendo incorporar todo o futuro no quais os efeitos das decises econmicas se fazem sentir. Isto significa que ao lado dos mecanismos tradicionais de alocao e distribuio geralmente aceitos na anlise econmica, a economia ecolgica acrescenta o conceito de escala, no que se refere ao volume fsico de matria e 18 energia que convertido e absorvido nos processos entrpicos da expanso econmica. A aposta em um desenvolvimento econmico e social contnuo, harmonizado com a gesto racional do ambiente, segundo Sachs (2007), passa pela redefinio de todos os objetivos e de todas as modalidades de ao. At recentemente acreditava-se que deveria se buscar prioritariamente o conforto e a segurana da humanidade, atravs do domnio e utilizao das foras e matrias disponveis na natureza. O Meio Ambiente era considerado como fonte inesgotvel de recursos a serem explorados e como receptculo de resduos com capacidade inesgotvel. Derani (2008: 87) corrobora afirmando:
No momento em que se procura normatizar a utilizao do meio ambiente, trabalha-se com dois aspectos de sua realidade. O primeiro considera o meio ambiente enquanto elemento do sistema econmico, e o segundo considera o meio ambiente como stio, um local a ser apropriado para o lazer ou para as externalidades da produo, tornando-se depsito dos subprodutos indesejveis desta produo.
Sendo assim, na percepo humana a natureza apresenta duplo sentido, pois, pode ser concebida como fonte de produo e reproduo econmica, e tambm como fator de bem-estar. Sobre a natureza como fonte de reproduo econmica concentra-se a grande maioria das preocupaes, a residindo as contribuies da economia ambiental ou economia de recursos. A economia ambiental focaliza o papel da natureza como fornecedora de matria-prima ou como receptora de materiais danosos. Assim, meio ambiente se deixa conceituar como um espao onde se encontram os recursos naturais, inclusive aqueles j reproduzidos (transformados) ou degenerados (poludos), como no caso do meio ambiente urbano. Importante ressaltar que este conceito de meio ambiente no se reduz a ar, gua, terra, mas deve ser definido como um conjunto das condies de existncia humana, que integra e influenciam o relacionamento entre os homens, sua sade e seu desenvolvimento. Segundo Derani (2008), o conceito de meio ambiente deriva do movimento da natureza dentro da sociedade moderna, como recurso-elemento e como recurso- local, e tem sua base na contempornea relao social com a natureza. 19 J Costanza (1998), por seu turno, refere-se aos recursos naturais como sendo o estoque de matria ou informao disponvel em determinado momento do tempo. O uso desse capital, individualmente ou em conjunto, possibilita um fluxo de servios que pode ser empregado na transformao de materiais para aumentar o bem-estar da sociedade. O fluxo de servios proveniente do uso do capital pode ou no deixar o estoque inicial intacto. O estoque de capital de uma sociedade compreende o capital natural (florestas, minerais, gua etc.), o capital manufaturado (mquinas, estradas, fbricas etc.), o capital cultural (viso de mundo, tica etc.) e o capital cultivado (reflorestamentos, plantaes etc.). O subsistema econmico necessita de um fluxo contnuo de matria e energia para garantir seu funcionamento. Tais inputs produzem, segundo Alier e Jusmet (2000), dois tipos de resduos: calor dissipado (energia degradada) e resduos materiais, os quais podem voltar a ser utilizados, parcialmente, nos processos produtivos mediante a reciclagem. A partir do exposto, evidenciam-se os dois papis clssicos do capital natural (ecossistemas) que so: funo source (cuja funo ofertar recursos para a atividade econmica) e a funo sink (receber dejetos oriundos dos processos produtivos e de consumo). Alm das funes relatadas, Alier (1998) menciona que cabe tambm ao capital natural prover servios indispensveis para a manuteno da vida na Terra, que vo desde o desfrute de uma bela paisagem at a proteo da vida por intermdio da camada de oznio. Esses servios podem ser agrupados em dois grupos de funes ambientais: a) Life-support (funes de suporte vida) - funes que contribuem para manter os diferentes ecossistemas e a biosfera enquanto um todo, ou seja, servem de suporte para o desenvolvimento de comunidades humanas e no humanas. So essas funes que tornam a Terra capaz de suportar a vida; b) Human Health & Welfare (sade e bem-estar humano) que se constituem de funes que provem servios (por exemplo disponibilidade de um espao para a cultura e lazer) que contribuem diretamente para a sade e o bem estar da sociedade sob diferentes formas. No que tange ao objeto de estudo da economia ecolgica, Alier e Jusmet (2000) mencionam que uma das principais preocupaes da escola a (in)sustentabilidade ecolgica da economia. Tal preocupao aparece tambm em 20 Hauwermeiren (1998), o qual menciona que a economia ecolgica a cincia da gesto da sustentabilidade. Os autores evidenciam que a abordagem do tema sustentabilidade deve ser feita sem se restringir somente a um tipo de valor, expresso em unidades monetrias, como fazem os neoclssicos. Alier e Schllpmann (1991) mencionam que a economia ecolgica questiona o imperialismo crematsitco presente na economia neoclssica em dois pontos particulares, porm significativos. O primeiro refere-se formao dos preos dos recursos naturais renovveis e exaurveis; o outro consiste nas inseres humanas sobre o meio ambiente. Os autores questionam, por exemplo, se o preo de um recurso bem valorado pelo mercado. Se o preo do recurso est subestimado, seu consumo ser elevado repercutindo em menores quantidades para as geraes futuras. Alm disso, indagam tambm se o preo pago pelas indstrias por despejarem dejetos no meio ambiente est correto e quais seriam os preos adequados. A economia ecolgica, segundo Daly (1991), incorpora muitas caractersticas da economia neoclssica, porm possui uma postura mais questionadora. Ao se retornar a explicao feita por Daly (1991) observa-se que a economia ecolgica abrange as quatro divises: a economia, a economia dos recursos naturais, a economia do meio ambiente e a ecologia. Isso significa que as funes ambientais source (inputs) ou sink (outpts) no so tratadas isoladamente, mas se relacionam por meio da conservao da matria e da energia. Para uma anlise desta natureza, o ponto central so os throughputs, que so definidos por Daly (1991), como:
[...] o fluxo de recursos naturais de baixa entropia (inputs),que sofre as transformaes da produo e do consumo e volta natureza sob a forma de resduos (outputs), seja para a se acumularem, seja para ingressarem em ciclos biogeoqumicos e, atravs da energia solar, voltarem a fazer parte de estruturas de baixa entropia que podem novamente ser teis economia.
Os economistas ecolgicos utilizam o termo throughput, que significa ciclo de produo, porque lhes interessa avaliar todo o processo produtivo, no somente os insumos que ingressam no sistema produtivo e sofrem transformaes. 21 Os throughputs, segundo Alier (1998), no so um motor-contnuo; trata-se, mais propriamente, do reconhecimento explcito do papel da entropia, uma vez que os materiais no so totalmente reciclados e a energia no pode ser reciclada. Para avaliar o impacto da extrao e reinsero da matria e da energia dos ecossistemas, faz-se necessrio recorrer s leis da termodinmica. A primeira lei, conservao de matria e energia explicita que a retirada de matria e energia dos ecossistemas dever romper seu funcionamento, mesmo que nada seja feito com elas. Apenas as suas ausncias devero causar impactos, bem como sua insero. Quanto segunda da lei, a transformao de energia e materiais, no permite sua volta ao estgio inicial. A partir dessa lei, pode-se dizer que a energia dissipada no processo de produo, indo de uma fase mais organizada (baixa entropia, ordem) para uma fase mais desorganizada (alta entropia, desordem), no retornando a sua forma original (ALIER e JUSMET, 2000; DALY, 1991). Por tradio, os economistas neoclssicos preocupam-se com mais nfase com a alocao dos recursos e menos com a distribuio. Porm, se considerarmos a economia como um subsistema aberto de um sistema fechado e finito, algumas questes, segundo Daly (1991), devem ser colocadas. Assim, os economistas ecolgicos incluem um terceiro elemento de significativa importncia em suas anlises: a escala. A escala da atividade econmica torna-se relevante tendo em vista que os ecossistemas (a base fsica), que ofertam bens e servios ecossistmicos, so finitos. A alocao, segundo Daly (1992), a diviso do fluxo de recursos entre os diferentes setores produtivos, por exemplo: quanto de recursos ser destinado produo de roupas, automveis etc. Uma alocao eficiente aquela que consegue canalizar recursos de acordo com as preferncias individuais e possibilidades de compra dos agentes econmicos. Salienta-se que a alocao determinada pelos preos e tal determinao se d sob uma dada escala de produo e sob uma dada distribuio. Distribuio, por seu turno, a diviso do fluxo de recursos personificada em produtos, entre as pessoas, ou seja, consiste na distribuio dos recursos entre os atores sociais de maneira justa (eqitativa), coisa que o mercado no faz. Porm, quando se pensa em distribuio, deve-se pensar quanto sobra para as geraes futuras, bem como quanto sobra para as outras espcies que habitam o planeta (DALY, 1992). 22 Por fim, escala o volume fsico de throughput, fluxo de matria e energia retiradas do meio ambiente como matrias-primas de baixa entropia que retornam como resduos de alta entropia. Daly (1992) menciona que a escala o resultado (produto) da populao multiplicado pelo uso per capita de recursos naturais, o que consiste no total de recursos naturais utilizados em determinado perodo de tempo. A escala tima seria aquela que tem por objetivo a sustentabilidade e, para atingi-la, h necessidade de controle no uso de throughputs. A definio de uma escala da economia em relao ao ambiente natural fundamental porque a biosfera, da qual a economia um subsistema, finita. Portanto, para Daly (1992) o subsistema econmico no pode romper e degradar o ambiente natural indefinidamente, haja vista que apresenta uma capacidade de suporte. Daly (1992) ainda destaca que h por parte dos economistas o reconhecimento da independncia e diferena dos objetivos de uma alocao eficiente e de uma distribuio justa, porm a questo relativa a uma escala tima para a economia negligenciada. Os ecossistemas, que so a base fsica, limitam a escala da economia. O que podemos inferir que a economia dos recursos naturais v o capital natural como fonte provedora de recursos (matria e energia), os quais so utilizados nos processos produtivos ou consumidos in natura. J a economia do meio ambiente, por seu turno, v a natureza enquanto fossa receptora de dejetos oriundos dos processos produtivos ou de consumo. Na perspectiva da economia ecolgica, o capital natural, alm de prover matria e energia e ser fossa receptora de dejetos, provedor de importantes servios ambientais, destacando-se os de suporte vida humana e no humana. Para a economia do meio ambiente e dos recursos naturais o capital natural e o capital manufaturado so altamente substituveis. O progresso tcnico o responsvel pela superao dos limites fsicos que impedem o crescimento econmico impostos pela escassez de recursos. Portanto, para os neoclssicos, o capital natural no um empecilho, pois visto como um capital qualquer, altamente substituvel. Sendo assim a economia poder crescer indefinidamente. Para a economia ecolgica, o capital natural e o capital manufaturado so fundamentalmente complementares, impondo limites ao crescimento econmico 23 atravs da escassez de recursos, bem como devido capacidade de suporte do planeta. Para os economistas ecolgicos, pouco provvel que tais limitaes fsicas sejam superadas pelo progresso tcnico. Alm disso, a partir das leis da termodinmica fica evidente que a economia no poder crescer indefinidamente j que a base fsica um fator restritivo. Mais cedo ou mais tarde, o uso do meio ambiente enquanto fonte de recursos e escoadouro de dejetos ter de ser reavaliado. A escala da atividade econmica ter de ser repensada no intuito de no se explorar os recursos naturais acima de sua capacidade de regenerao nem emitir resduos acima de sua capacidade de assimilao. Logo, para que a escala econmica continue crescendo custa de um estoque de capital natural, que, ao contrrio, est diminuindo, faz-se necessrio investir em capital natural. Porm, como a capacidade humana de recriar capital natural muito limitada, tais investimentos tero de ser indiretos, ou seja, preciso conservar o capital natural existente, expandir o capital natural cultivado e utilizar os recursos naturais eficientemente.
1.2 O Sistema Econmico de Mercado Luz da Teoria Microeconmica: uma compreenso acerca do funcionamento de mercado
A economia est inserida no campo das cincias sociais, ou seja, estuda fenmenos inerentes a sociedade, focalizando as relaes e as atividades decorrentes da escassez relativa dos bens. Tudo isso ocorre dentro de um mercado, cujo entendimento definido como a interao entre consumidores e produtores com o propsito de troca de um produto. Como bem assegura Gonalves (2008: 17)
Numa definio bastante geral, o objeto de estudo da economia so as relaes materiais entre as pessoas, especialmente as realizadas nos mercados. Um fato bsico para a cincia econmica que os desejos materiais das pessoas so mais amplos do que a disponibilidade de recursos. Ou seja, no h um limite definido para os desejos materiais, mas existem limitaes claras produo dos bens e servios necessrios ao seu atendimento.
24 Por isso, compreender o funcionamento do mercado essencial para identificar e analisar problemas ambientais. A anlise ou teoria econmica no fundo uma caixa de ferramentas constituda de um arcabouo terico e um conjunto de modelos aplicveis conforme as necessidades. Mas, definir a economia como uma cincia preocupada com a escassez e o funcionamento dos mercados resulta em um vasto campo de estudo. Ento, esse campo costuma ser dividido em duas partes: a microeconomia e a macroeconomia. Neste contexto podemos considerar que os fundamentos da teoria microeconmica, regida pela lei da oferta e da demanda, servem como base para essa compreenso, pois, busca estudar o comportamento de empresas e consumidores, fazendo a anlise dos mercados onde elas operam. Garfalo e Carvalho (1980) asseguram que a microeconomia como cincia de carter terico ou dedutivo, no deve ser subestimada em relao a sua utilidade na explicao dos fatos do mundo real. E complementam:
Efetivamente o papel desempenhado pela Microeconomia em pouco difere do de um mapa rodovirio que, embora no descreva toda a imperfeio fsica ou o acidente geogrfico de uma rodovia, de utilidade inconteste ao motorista que dele se venha a utilizar.
A microeconomia trata do comportamento das unidades econmicas individualizadas e tomadoras de deciso, sendo que tais unidades abrangem os consumidores, empresas, investidores, proprietrios de fatores de produo, dentre outros. A ocupao principal desta rea da teoria econmica o estudo do agente econmico individualmente considerado. De uma forma geral, consideram-se os agentes famlia como os responsveis pela demanda de bens e servios; e empresas que respondem pela oferta dos mesmos. Soma-se a eles o agente governo que pode tanto demandar como ofertar produtos dentro do ambiente econmico. Estes agentes interagem-se de forma efetiva e potencial em um ente maior denominado mercado. Para Gonalves (2008) ao estudar o comportamento dos agentes econmicos nos mercados, a microeconomia adota a perspectiva de otimizao dos objetivos, sintetizada por ele da seguinte forma:
() Supe que os consumidores procuram maximizar sua satisfao ao optar por comprar determinados bens e servios, orientados pelas suas 25 preferncias e limitados pelos preos e a renda disponvel. E as empresas buscam maximizar seus lucros, limitadas pela tecnologia de produo (os custos decorrentes de seu uso), a demanda e o ambiente de mercado (a concorrncia). Combinando essas decises otimizadoras, a microeconomia procura explicar como os preos se formam, qual o nvel de produo de cada empresa, qual o montante de investimento e assim por diante. (2008: 18,19)
Diante do exposto, torna-se importante analisar e discutir teorias econmicas e adapt-las como base para o processo decisrio, pois os problemas de alterao ambiental podem ser abordados quantitativamente de modo concreto no nvel da microeconomia. Denominamos problema econmico, a situao vivida por toda sociedade de limitao de recursos para o atendimento de necessidades sem limite previsvel de crescimento. Tal problema pode ser sintetizado por trs questes bsicas: o que produzir; como produzir e para quem produzir. Para resolver esse problema econmico, as sociedades organizam-se institucionalmente, e a essa organizao d-se o nome de sistema econmico, cujo objetivo estabelecer um conjunto orgnico de instituies, por meio das quais ocorrer um processo coerente e concatenado de decises sobre a utilizao dos seus recursos. Os problemas ambientais surgem, na verdade, de decises tomadas tanto por cidados comuns como por empresas. Tais problemas podem ser evitados ou mitigados a partir da aplicao da teoria econmica. O sistema econmico destina-se a cumprir trs funes precpuas que so: permitir critrios coerentes para a tomada de decises; estabelecer mecanismos aptos concatenao dessas decises; e por fim, estabelecer uma forma de controle das mesmas decises, visando impedir ou eliminar as decises desalinhadas ou discrepantes. Consumo e produo utilizam-se dos recursos naturais fornecidos pelo planeta. Alm disso, ambas as atividades geram subprodutos que podem contaminar o meio ambiente. Isso significa que as decises fundamentais que orientam uma atividade econmica esto diretamente conectadas aos problemas ambientais. Atualmente, a evoluo da questo ambiental e suas implicaes nos processos de tomada de deciso e produo da empresa, permitiram o surgimento de uma nova abordagem da teoria microeconmica: a microeconomia ambiental. 26 Reconhecendo assim, que o fator recursos naturais no infinito, mas est constantemente sendo esgotado, verifica-se que o processo de produo deve levar em conta a capacidade de carga do planeta. Essa nova abordagem, que podemos chamar de microeconomia ambiental, aponta questes analticas importantes como: mensurao de custos e benefcios externos: estimativa de dano ambiental, custos de mitigao, internalizao das externalidades negativas, etc.; valorao dos recursos naturais e do meio ambiente como bens, seja de propriedade privada ou pblica; balano dos custos e benefcios atravs de alguma forma de anlise custo/benefcio na tomada de deciso sobre: construo de resorts, hidroeltricas, parques elicos, valores de no-mercado de beleza natural e biodiversidade. Trata-se, portanto, de incorporar a varivel ambiental na modelagem e anlise microeconmica da teoria da empresa. As decises sero tomadas dentro de um contexto de racionalidade de mercado sem isolar o meio ambiente e os recursos naturais. E para isso devem-se utilizar certos fundamentos microeconmicos bsicos. A base para modelar a relao entre atividade econmica e meio ambiente a mesma que fundamenta toda a teoria econmica o modelo de fluxo circular. Ao analisar como o fluxo circular opera e como o tamanho de uma economia pode mudar, entendemos o funcionamento bsico de um sistema econmico e as relaes do mercado entre famlias e empresas.
Fonte: Thomas, Janet M. em Economia Ambiental/2010
27 Observando o modelo acima, podemos perceber como este fluxo opera. No sentido anti-horrio, compreendido como fluxo real (no monetrio) est relao entre os dois setores do mercado, famlias (consumidores) e empresas (produtores). Famlias fornecem recursos ou fatores de produo para o mercado de fatores, onde so demandados pelas empresas para produzir bens e servios. Esses produtos ento so colocados no mercado de produtos, onde h demanda pelas famlias. No sentido horrio est o fluxo do dinheiro. A troca de insumos no mercado de fatores gera um fluxo de renda para as famlias, e esse fluxo representa custos incorridos pelas empresas. Analogamente, o fluxo do dinheiro por intermdio do mercado de produtos mostra como despesas assumidas pelas famlias que adquirem bens e servios so receitas para as empresas. Ao observarmos este fluxo, percebemos de que forma ele opera e como o tamanho de uma economia pode mudar, pois vrios fatores podem influenciar o comportamento do mercado, dentre eles, o crescimento demogrfico, mudanas tecnolgicas, fenmenos naturais e outros. Por outro lado, este modelo no mostra explicitamente a ligao entre atividade econmica e meio ambiente. Para ilustrar essa interdependncia, o modelo do fluxo circular deve ser expandido para permitir uma representao do funcionamento dos mercados como parte de um paradigma mais amplo, chamado modelo do balano de materiais. No modelo chamado balano de materiais, o fluxo real do modelo fluxo circular est inserido num esquema mais amplo, mostrando dessa forma, a conexo entre tomada de deciso econmica e o ambiente natural. Esse fluxo descreve como a atividade econmica explora o estoque de recursos naturais do planeta.
Fonte: Thomas, Janet M. em Economia Ambiental/2010 28 Como podemos perceber h dois fluxos de sada de resduos, cada qual vindo de um dos setores do mercado, demonstrando que resduos surgem de ambas as atividades: consumo e produo. So esses conjuntos de fluxos as principais preocupaes da economia ambiental. Precisamos reconhecer que todo e qualquer recurso transformado pela atividade econmica termina como resduo e tem potencial para degradar o meio ambiente. O processo pode ser retardado por meio da recuperao de materiais, mas no interrompido. Outra constatao que a habilidade da natureza em converter recursos em outras formas de matria e energia limitada. E, somando os fatos, essas afirmaes permitem uma clara perspectiva dos problemas ambientais e as importantes conexes entre atividade econmica e natureza. Segundo o modelo do balano de materiais, os problemas ambientais esto diretamente ligados ao funcionamento dos mercados, na medida em que as decises tomadas pelos consumidores e empresas afetam a abundncia e a qualidade dos recursos naturais da terra. Por definio, uma transao comercial de qualquer produto admite dois grupos independentes de tomada de deciso: compradores e vendedores. Cada um motivado por diferentes objetivos, e cada objetivo influenciado e mesmo restringido por diferentes fatores. As decises dos produtores so modeladas por meio de uma funo de oferta; enquanto que para os consumidores so modeladas por uma funo demanda. Quando considerados simultaneamente, os modelos resultantes de oferta e demanda de mercado determinam produo e o preo de equilbrio. O principal objetivo desse modelo facilitar uma anlise das condies de mercado e de quaisquer mudanas observadas no preo. Uma investigao detalhada na movimentao do preo pode identificar escassez ou excedentes, a existncia de m alocao de recursos e as implicaes das polticas governamentais. Nas cincias econmicas, relevante avaliar os ganhos e as perdas para a sociedade associados a qualquer acontecimento que altere o preo de mercado. Por meio de anlise microeconmica, podemos entender o comportamento de consumidores e empresas e as decises que definem o mercado. Para isso, torna- 29 se basilar dominar as condies que fundamentam as funes Oferta e Demanda, bem como o mecanismo formador de preos. Nesse sentido, demanda, segundo Nusdeo (2008) a quantidade de um bem ou servio que o individuo est disposto e capaz de adquirir a um dado preo, em um determinado perodo de tempo. Refere-se resposta dos consumidores ao mercado, que ajustam suas decises de consumo com o objetivo de maximizar sua satisfao, ou o que os economistas chamam de utilidade. Vrios so os fatores que influenciam a deciso do consumidor. Dentre eles, o principal o fator preo e por isso que a funo demanda compreendida como sendo a relao ente a quantidade demandada e o preo, mantendo constante todas as outras variveis. Outro fator relacionado demanda diz respeito renda do consumidor. A capacidade de pagar do consumidor refere-se restrio da renda que limita sua escolha. A disposio a pagar o valor ou beneficio que o consumidor espera receber ao consumir um produto. De fato, essa disposio, ou esse preo de demanda, considerado uma medida de benefcio marginal, associada ao consumo de uma unidade adicional daquele bem. A riqueza e a renda do consumidor, os preos dos produtos, as preferncias e expectativas, so as principais variveis econmicas mantidas constantes, quando a demanda definida. Uma mudana em qualquer uma dessas variveis altera completamente a relao preo-quantidade, que representa uma mudana na demanda. Sob circunstncias normais, a relao entre quantidade demandada e preo inversamente proporcional, e conhecida com Lei da Demanda. Isso significa que um aumento de preo est associado a uma queda na quantidade demandada. Devido a esse entendimento, a demanda uma funo decrescente, pois quando uma varivel cresce, a outra decresce quanto menor o preo, maior a quantidade demandada e vice-versa. Isso demonstra que o consumidor soberano nas suas escolhas, pois, mediante o conhecimento do preo de um bem ou servio, este poder definir sua demanda. Por isso, sabendo que os recursos naturais possuem uma limitao e que sua utilizao, tanto no presente quanto no futuro, depende das escolhas que fazemos enquanto cidado, o consumidor capaz de tomar suas prprias decises. 30 Um dos pontos fundamentais para a valorao dos recursos naturais, de acordo com a teoria neoclssica, a escolha do consumidor, pois, para esta teoria o consumidor soberano no seu processo de consumo e ao mesmo tempo exerce essa soberania com base nas suas preferncias individuais, ordenando-as conforme a utilidade dos bens ou servios e sujeitando-as a sua restrio de renda. A utilidade o grau de satisfao alcanado por um indivduo ao suprir uma necessidade. Esta necessidade nem sempre se refere a algo indispensvel, por vezes ela esta relacionada a um apelo comportamental ou sentimental. E isso pode interferir de negativamente no processo de avaliao para tomada de deciso. Montoro Filho (2004) sintetiza a teoria da demanda afirmando que ela derivada de hipteses sobre a escolha do consumidor entre diversos bens que seu oramento permite adquirir. E o que se almeja explicar o processo de escolha do consumidor perante as diversas alternativas existentes. Tendo um oramento limitado, isto , um determinado nvel de renda, o consumidor procurar distribuir esse seu oramento (renda) entre os diversos bens e servios de forma a alcanar a melhor combinao possvel, ou seja, aquela que lhe trar maior nvel de satisfao. Sachs (2007) afirma que a demanda a varivel mais decisiva e mais difcil de ser politicamente administrada, o modelo de consumo que resulta do estilo de desenvolvimento adotado. Segundo ele, para efetivar a economia dos recursos, a gesto da demanda requer algumas solues como: uma disciplina mais rgida por parte dos consumidores; uma reduo dos nveis de consumo; a substituio do consumo material pelo no-material e a reduo do uso de automveis. O autor ainda corrobora dizendo que se os principais obstculos estiverem concentrados na esfera poltica, a gesto efetiva da demanda depender, em grande parte, da possibilidade de se colocar em prtica solues tcnicas engenhosas, em vez de receitas tecnolgicas isoladas dos contextos culturais, ticos, institucionais e polticos. Nusdeo (2008) entende a funo oferta como sendo a quantidade de um bem que um conjunto de produtores est disposto e apto a colocar no mercado a um dado preo, em um determinado perodo de tempo. Refere-se, portanto, a uma relao de oferta baseada nas decises dos produtores que so motivados pelo lucro. Ainda que outros fatores influenciem a funo oferta, a questo preo basilar para as tomadas de decises no mercado. 31 Dentre as variveis que afetam potencialmente a deciso sobre o nvel de oferta de uma empresa esto tecnologia de produo, preos de insumos, impostos, subsdios e as expectativas de preos. Analogamente ao lado da demanda de mercado, mudanas nesses fatores afetam por inteiro a relao preo-quantidade, causando uma mudana na oferta, enquanto que uma modificao do preo est associada a uma mudana na quantidade ofertada. Neste caso, entende-se que a relao preo-quantidade diretamente proporcional, pois quanto maior for o preo do bem no mercado, maior ser a quantidade ofertada. Por isso, a chamada funo oferta representada por uma curva crescente. A premissa convencional de que as empresas so orientadas para maiores lucros sugere que um alto preo seja um incentivo para que produzam cada vez mais. Em contrapartida, ao aumentar sua oferta o produtor (empresrio) est elevando seu custo de produo. Conforme a empresa aumenta a produo seu custo total aumenta proporcionalmente mais rpido, significando que a razo entre a mudana na relao custo total e produo est aumentando. Esta razo define o custo marginal de produo da empresa, isto , um custo adicional para produzir uma unidade adicional daquele bem. Num regime de mercado, o que ir determinar a deciso da empresa por uma ou outra maneira de produzir ser o preo dos fatores que, no fundo, representam o seu custo. No podemos esquecer que o objetivo alcanar a maximizao da diferena residual entre preo e custo para assim obter o lucro desejado. Portanto, caso o custo da recuperao ou reparao de um dano causado ao meio ambiente afete o lucro da empresa, certamente o empresrio buscar adequar sua atividade a um nvel aceitvel de utilizao dos recursos naturais, para que assim alcance um equilbrio entre os custos e o lucro. Vimos ento cada lado do mercado (demanda e oferta) separadamente para desenvolver modelos distintos de tomada de deciso econmica. Mas, para desenvolver um modelo de determinao de preo e assim permitir a interao de consumidores e produtores no mercado, precisamos consider-los simultaneamente. A teoria formal em que preo simultaneamente determinado pela oferta e demanda, uma das mais importantes em toda a anlise econmica. 32 Da interao entre as curvas de demanda e oferta, surge o preo de mercado, bem como a quantidade transacionada (simultaneamente ofertada e demandada). Um mercado competitivo tende a uma situao de equilbrio. justamente a situao de equilbrio que busca o mercado convencional, guiado pela oferta e demanda, que tambm almejado pela relao entre desenvolvimento econmico e meio ambiente. Sachs (2007) assegura que o processo de produo combina, num dado local, os recursos e a energia com o trabalho e os equipamentos disponveis, criando, desta forma, fluxos de bens que sero lanados no mercado e de males que so restitudos a uma natureza que funciona como um esgoto. O problema que se coloca na dinmica do mercado no consiste na escolha entre crescimento e qualidade do ambiente, mas sim em se tentar harmonizar as relaes com objetivos socioeconmicos e ambientais, mediante a redefinio das modalidades do crescimento e da utilizao dos recursos.
33 CAPTULO II O DESENVOLVIMENTO ECONMICO E AS POLTICAS PBLICAS NO CONTEXTO AMBIENTAL
2.1 A relao Desenvolvimento econmico e Polticas Pblicas
Poltica a arte de governar que deve ter como princpio o atendimento aos anseios da populao. Ela deve emergir de um problema e sua construo pode ser expressa atravs de conceitos, grficos e outros, cuja funo descrever, explicar, construir ou monitorar o seu curso de ao. Assim, no so descries exatas de uma situao-problema, mas constituem-se em planos artificiais que procuram aproximar resultados projetados da realidade. A Poltica Pblica uma rea relativamente nova da cincia poltica que surge a partir da percepo de que as anlises tradicionais, bem como as decises realizadas pelo governo no eram suficientes e por vezes representavam srios riscos ao bem-estar social. Nessa perspectiva as polticas pblicas devem ser a expresso do interesse geral da sociedade, bem como devem representar as suas demandas. Elas se tornam teis e necessrias, pois so sistemas simplificados de problemas, que subsidiam os gestores na tomada de deciso. Buscando analisar as polticas pblicas sob um novo enfoque, Lindomar Boneti (2006) em sua obra Polticas Pblicas por Dentro procura discutir essa temtica apontando trs aspectos que considera relevante, que so: a complexidade que envolve a elaborao das polticas pblicas; sua operacionalizao e o que vem a ser o seu carter. Isso significa que a dinmica desse processo vai desde sua elaborao at sua efetivao, o que de certa forma percorre um caminho difcil e burocrtico. Para ele, toda poltica pblica originada de uma idia e esta de um princpio, de uma pressuposio ou de uma vontade. Por isso, podemos interpretar polticas pblicas como sendo a arte de lidar com um pblico que pblico. Segundo Poulantzas (apud Boneti,1990) no possvel se construir uma anlise da complexidade que envolve a elaborao e a operacionalizao das 34 polticas pblicas sem se levar em considerao a existncia da relao intrnseca entre o Estado e as classes sociais, em particular entre o Estado e a classe dominante. De fato o debate acerca da elaborao e efetivao das polticas pblicas realizado pelos agentes do poder tanto nas esferas global e nacional, quanto na esfera local. Por isso, Boneti (2006) afirma que o poder de barganha depende da fora poltica e econmica de interesse existente no mbito daqueles que detm o poder de deciso e execuo. Por isso, o entendimento de polticas pblicas advm da dinmica do jogo de foras constitudo por grupos diferenciados e constitudos de idias e interesses dicotmicos, em que assistiremos sempre a prevalncia daqueles que compem as classes poltica e econmica dominante. Boneti (2006) busca explicar o que vem a ser polticas pblicas atravs do novo contexto social, poltico e econmico que surgiu a partir do processo da globalizao, configurando-se ento uma nova relao entre Estado e sociedade civil. Como esse entendimento parte do princpio de que h um jogo de foras que se estabelece no mbito das relaes de poder, o Estado se apresenta apenas como agente repassador sociedade civil das decises sadas do mbito da correlao de foras travadas entre agentes do poder. Desta forma, podemos afirmar que o papel do Estado na sociedade contempornea de homogeneizador dos sujeitos sociais. Tomando como parmetro a questo das diferenas existentes entre os indivduos. A sociedade moderna apresenta dois tipos de Estado que rege as desigualdades: a Estado-providncia que tem como funo regular o papel da distribuio e gerao de riquezas, como tambm deve organizar as prticas sociais, objetivando torn-las eficientes. claro que o interesse em organizar e oferecer servios que beneficiam principalmente os ditos diferentes est ligado manuteno do poder. O outro tipo de Estado o Liberal, que pretende assegurar a competitividade, acreditando que o mercado se auto-regula principalmente nas esferas econmicas e sociais. A nova configurao mundial de padro de sociedade, fora ao investimento em tecnologia e esta tecnologia por sua vez pode ser impactante ao meio natural, 35 bem como do ser social, pois o principal objetivo alcanar o a satisfao econmica. Elosa Hofling (2001) faz aluso necessidade de compreenso da concepo de Estado e de poltica social que sustentam as aes e programas de interveno, para que ento possamos avaliar as polticas pblicas implementadas por este. Segundo Hofling (2001), relevante conhecer o que chama de questes de fundo que so basicamente, as decises tomadas, as escolhas feitas, os caminhos de implementao traados e os modelos de avaliao aplicados, em relao a uma estratgia de interveno governamental. Ressalta ainda que vrios fatores sejam importantes para a avaliao e anlise das polticas implementadas, principalmente se estas polticas dizem respeito s polticas sociais. Quando falamos em polticas sociais envolvemos as necessidades bsicas dos indivduos de uma forma geral, como: educao, sade, habitao, saneamento bsico e outros. E para aferir o sucesso ou fracasso de tais aes envolvemos uma maior complexidade. fato que ao questionarmos aes e polticas que beneficiem a sociedade outorgamos direitos e deveres ao Estado associando-o ao Governo. Hofling (2001) diz que importante que haja uma diferenciao entre um e outro, pois, segundo essa autora, compreende-se Estado como um conjunto de instituies permanentes que possibilitam a ao de governo. E a concepo de Governo diz respeito ao conjunto de programas e projetos que parte da sociedade. Por isso, Hofling diz que polticas pblicas so entendidas como o Estado em ao, o Estado implantando um projeto de governo, atravs de programas, de aes voltadas para setores especficos da sociedade. A partir destas concepes podemos avaliar que o Estado tem a responsabilidade de determinar um padro de proteo social, redistribuindo benefcios para diminuir desigualdades estruturais. E isso s possvel com implementao e manuteno de polticas pblicas que advenham de um processo de tomada de deciso envolvendo a sociedade e as instituies pblicas. A administrao pblica tem papel preponderante em face das responsabilidades decorrentes do uso sustentvel do meio ambiente, no s pelo dever de defend-lo e proteg-lo para as presentes e futuras geraes, mas de 36 relativizar, como ao prevalente ligada ao interesse pblico os mais variados interesses individuais diante da complexidade de regulao das atividades humanas visando ao bem comum. Neste sentido, buscando conciliar desenvolvimento econmico e preservao ambiental, se fez necessrio a criao de polticas pblicas voltadas a esse fim, denominadas de polticas pblicas ambientais. O surgimento das polticas ambientais pode ser compreendido em uma linha de tempo com recortes da evoluo econmica e poltica e sua interao com as respectivas polticas ambientais. Na evoluo econmica partimos da atividade de extrao de recursos naturais do Brasil colnia caracterizada por pas agrcola. Em seguida, temos o fim do Imprio, na dcada de 30 do sculo XX. Da dcada de 40 dcada 60 do sculo XX, temos a industrializao, urbanizao e tecnificao da agricultura. E nas ltimas dcadas do sculo XX at hoje, vivemos a urbanizao metropolitana e o desenvolvimento das atividades econmicas e servios. A evoluo poltica compreende a seguinte ordem: Brasil colnia; imprio ps- colonial; repblica velha; era Vargas; Governo democrtico (Dutra, Juscelino e Jango); ditadura militar e nova democracia. Nesta ordem histrica podemos fazer uma avaliao geral da evoluo das polticas e legislaes brasileiras em recursos naturais e assim perceber uma transformao dos conceitos e concepes que moldam suas caractersticas principais. Em geral, passa-se de uma normatizao de acesso e utilizao dos recursos, onde a natureza apropriada como recurso econmico, para uma normatizao onde a questo ambiental comea a se fazer presente, transformando aquela concepo antiga para uma nova que encara os insumos naturais como recursos econmicos ambientais. A sua apropriao no processo produtivo deve ser feita a partir de consideraes econmicas, mas no exclusivamente por elas, e as consideraes ambientais (impactos, recuperao, no exausto, etc.) comeam a fazer parte do clculo de produtores e do governo. Essa mudana refletir-se- na prpria institucionalizao administrativa dos setores florestais, minerais, hdricos e de pesca. 37 Pode-se retroagir at o Brasil Colnia para verificar uma srie de legislaes que buscavam regulamentar o acesso ao recurso natural, por exemplo, as diversas legislaes dos reis portugueses (Ordenaes Filipinas e Manuelinas) que estabeleciam procedimentos para aqueles que queriam explorar determinados recursos naturais. No entanto, na Repblica com as preocupaes de consolidao do Estado Nacional, e especialmente no Governo Vargas, que as regulamentaes sobre os recursos tornam-se marcadas por procedimentos que buscavam, em primeiro lugar, definir o domnio dos recursos (do Estado; bem comum de todos ou de ningum (res nullius), mas sujeito regulao estatal) e depois as formas e regimes de acesso e as condies para a explorao dos recursos. So exemplos claros dessa concepo os Cdigos de 1934: de guas, de Minerao e Florestal. Juntos com esses cdigos foram criados departamentos setoriais para cuidarem das relaes do empreendedor privado e do governo na explorao desses recursos: nas guas, o Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica; nos minrios, o Departamento Nacional de Produo Mineral e nas florestas, o Servio Florestal Federal. Refletindo a economia predominantemente agrcola da poca todos esses departamentos subordinavam-se ao Ministrio da Agricultura. Com a evoluo econmica e poltica esses cdigos de recursos naturais sofrero adaptaes refletindo novos enfoques. Assim, durante os Governos militares todos esses Cdigos sero atualizados para incorporarem uma viso ainda mais economicista e, em alguns casos, voltados para a exportao (nas justificativas do Cdigo de minerao de 1968 explicitamente nomeava-se a questo exportadora como causa para a modificao do cdigo). Os Cdigos sero atualizados em 1965 (Cdigo Florestal, Lei n. 4771, de 18/09/1965); em 1968(Cdigo de Minerao, Decreto-Lei 227, de 28/02/1965) e o de guas (Lei n. 4904, de 17/12/65 e Decreto n. 58076, de 24/03/66). Durante o regime militar os rgos administrativos gestores dos recursos naturais sofrero reformas administrativas e se criaro rgos ou empresas paralelas para agilizar procedimentos e desemperrar as burocracias pblicas (na minerao, por exemplo, cria-se a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais para agilizar o mapeamento geolgico e a prospeco mineral no Brasil). 38 A Constituio de 1988 colocou, atravs do artigo 225, a questo ambiental como um dos fundamentos da estruturao das polticas pblicas brasileiras e no tema dos recursos naturais enfatizou a questo da dominialidade da Unio sobre esses recursos, mas, pelo vis ambiental, institucionalizou complementarmente, aos Estados e municpios, a possibilidade de legislarem sobre essas matrias. Na democratizao do pas e nas discusses sobre a reforma do Estado o papel dos rgos administrativos ligados aos recursos naturais foi profundamente questionado. Assim, no Governo Collor, a criao do IBAMA d-se pela incorporao de rgos setoriais como o IBDF e a SUDEPE passando-se de uma concepo baseada no recurso para outra em que os recursos passam a ser percebidos com econmico ambientais como j mencionamos anteriormente. As resistncias a essas incorporaes alm dos aspectos funcionais tinham um componente cultural e organizacional de manuteno da viso economicista dos rgos setoriais. No setor mineral, o DNPM, em crise permanente desde o final dos anos 70, foi transformado em autarquia, mas esse arranjo administrativo no solucionou os problemas crnicos de falta de verbas e emperramentos burocrticos. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso foram propostas modificaes do Cdigo de Minerao com a criao de novos procedimentos para a concesso de reas para a minerao e a transformao do DNPM em Agncia Nacional de Minerao. Nos recursos hdricos, criou-se a Agncia Nacional de guas ANA e, em todo pas dezenas de iniciativas estaduais de legislaes sobre os recursos hdricos com solues compartilhadas de gesto atravs dos Comits de Bacia Hidrogrfica. Uma outra mudana significativa, mais recente, e que tem impactado as polticas a mudana do referencial nacional para um referencial global do mundo do capitalismo financeiro mundializado, em que atores multinacionais (empresas, rgos de financiamento, ONGs internacionais, regimes legais internacionais...) pressionam por decises , em nvel nacional, como partes de polticas internacionalizadas. Todas essas modificaes encontram resistncias e so objeto de intensa disputa poltica entre aqueles que advogam uma maior ambientalizao na gesto desses recursos e os que preferem a continuao da gesto setorializada. 39 O processo de formulao de polticas pblicas, com o advento da sociedade moderna, tornou-se essencial, pois envolve a tomada de deciso na rea ambiental com vistas a preservao/conservao de recursos naturais, as necessidades da sociedade e das atividades econmicas, bem como a antecipao de evento e/ou elementos de irracionalidade. Isso quer dizer que uma poltica pblica ambiental uma tomada de deciso sobre a gesto dos recursos naturais, combinando aes e compromissos em que esto envolvidos a sociedade em geral e os poderes legalmente constitudos. Nesse contexto, alguns componentes so objetos de anlises nas polticas pblicas ambientais tais como a formulao de uma agenda pblica; os atores que apresentam, interpretam, respondem e participam dos pontos dessa agenda; os recursos naturais afetados; os recursos materiais, humanos e financeiros necessrios; as instituies que tratam da agenda; os instrumentos econmicos aplicados e as ferramentas de avaliao das polticas da agenda (GERSTON apud MOTA, 2001). Sendo assim, podemos dizer que para a formulao de uma poltica pblica so necessrios: o conhecimento do assunto, a formulao do problema, a identificao da necessidade, a fixao do objetivo, a considerao das opes, a interveno e a avaliao das conseqncias. Tambm devem ser considerados os agentes formadores de polticas, as regras para tomada de deciso, bem como os agentes externos que influenciam o seguimento das decises. Por isso, Mota (2001: 88) afirma que:
A formulao de uma poltica pblica ambiental mais problemtica do que outras questes. Primeiro, porque os impactos ambientais no respeitam os direitos de propriedade, nem as divises territoriais. Segundo, porque a formulao de uma poltica deve envolver rgos de governo e organizaes civis. Terceiro, porque na formulao de uma poltica sempre h debates acalorados sobre a questo de julgamento de valor.
Portanto, podemos dizer que a criao e escolha de polticas pblicas ambientais, baseiam-se em aes de grupos distintos, mas, sobretudo devem considerar mtodos que analisam custos e benefcios a serem alcanados por essas decises.
40 2.2 Os princpios do Direito Ambiental e sua relao com a nova economia
Entende-se por princpios do direito ambiental, segundo Derani (2008), as construes tericas que visam melhor orientar a formao do direito ambiental, procurando denotar-lhe certa lgica de desenvolvimento. Hoppe apud Derani (2008) diz que estes princpios de proteo ambiental so concepes bsicas, instrues para aes polticas visando a uma poltica ambiental racional. Buscando fundamentar as discusses acerca da valorao econmico- ambiental, prope-se uma anlise a respeito da teoria que rege os seguintes princpios: Poluidor-usurio pagador, preveno, precauo, ubiqidade e desenvolvimento sustentvel.
2.2.1 Princpio do Poluidor Pagador O mecanismo econmico desenvolvido pelo direito internacional e internalizado no Brasil pela Lei 6.938/81 foi o chamado princpio do poluidor/ pagador, no qual o poluidor est obrigado a repara e indenizar os danos causados. Mas, importante esclarecer que no se deve confundir tal princpio com a idia que pagando, poder poluir, e sim, caso tenha poludo irregularmente, ir indenizar, sem prejuzo de outras sanes cabveis. A conduta de "poluir irregularmente", tem pertinncia uma vez que se conceba qualquer alterao no meio como poluio. Com efeito, algum regularmente autorizado, ao desenvolver suas atividades, ao alterar as caractersticas do meio, mesmo que de forma sustentvel, estar poluindo regularmente. A adoo internacional e seu reflexo nas legislaes nacionais transmitem a impresso de que o princpio do poluidor/pagador se aproxima muito da taxa pigouviana da dcada de 20, ou seja, trata-se de uma reparao em busca do custo timo da poluio. Entretanto, deve se fazer um exerccio de interpretao extensiva ao princpio, considerando tanto a tica ambiental, que leva em conta aspectos da natureza que no ostentam (ao menos na atualidade) condio de fruio e valorao econmica, como o carter intergeracional da sustentabilidade. Significa dizer que, o princpio do poluidor/pagador deve incluir o usurio/pagador, considerando a escassez dos recursos e a preocupao com as geraes futuras, propondo-se, tambm, difcil tarefa de valorar a vida e o bem-estar dos demais 41 seres que habitam o meio. vlido ressaltar, que se deve ampliar o princpio para que se contemple no s a reparao, mas a preveno. A reparao do dano no pode minimizar a preveno do dano. importante salientar esse aspecto. H sempre o perigo de se contornar a maneira de se reparar o dano, estabelecendo-se uma liceidade para o ato poluidor, como se algum pudesse afirmar "poluo, mas pago (Machado 1991, p.197). Esta ampliao tambm defendida por Benjamin (1993): O princpio poluidor-pagador no um princpio de compensao dos danos causados pela poluio. Seu alcance mais amplo, includos todos os custos da proteo ambiental, quaisquer que eles sejam, abarcando, a nosso ver, os custos de preveno, de reparao e de represso do dano ambiental. O princpio do poluidor/pagador (PPP) segundo Antunes (2008) busca exatamente, eliminar ou reduzir custos a valores insignificantes. Para ele, este princpio transformou-se em um dos princpios jurdicos ambientais mais importantes para a proteo ambiental. Leite e Ayala (2004) entendem este princpio pela tica do poluidor primeiro pagador, considerando que o poluidor , antes de poluir, pagador. Pagador dos custos relativos s medidas preventivas e precaucionais, destinadas a evitar a produo dos resultados proibido ou no pretendido, ou seja, primeiro pagador, porque paga, no porque poluiu, mas paga justamente para que no polua.
2.2.2 Principio da Preveno
A preveno do dano envolve os custos dos estudos e levantamentos, bem como, demais medidas que municiem a administrao de informao suficiente e critrios tcnicos para auferir a viabilidade ou no do empreendimento. Por essas razes bvias, devem preceder a essas atividades. Leite e Ayala (2008) dizem que o contedo cautelar do princpio da preveno dirigido pela cincia e pela deteno de informaes certas e precisas sobre a periculosidade e o risco fornecido pela atividade ou comportamento. Segundo eles, o objetivo fundamental deste princpio a proibio da repetio da atividade de que j se sabe perigosa. 42 Milar (2007) corrobora com esta idia dizendo que o princpio da preveno se aplica quando o perigo certo e quando se tem elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade efetivamente perigosa. A incluso da preveno, com todos os mritos de tentar criar limites seguros aos efeitos da atividade, ainda esbarra nos limites dos estudos apresentados, raramente satisfatrios numa projeo futura. Por esta razo, desenvolveu-se o princpio da precauo que, diferentemente da preveno, que trabalha com instrumentos de anlise palpveis, a precauo reconhece a obscuridade do futuro e possveis danos no perceptveis ao homem, podendo, inclusive, abranger a tica ambiental.
2.2.3 Princpio da Precauo
A precauo tem sido associada a uma forma de entrave ao desenvolvimento econmico, por consubstanciar um subterfgio da administrao ou organizaes ambientalistas em barrar determinadas atividades sem a necessidade de fundamentaes to concretas. Ainda que se reconhea a possibilidade de barganhas polticas com fundamento numa pseudo-precauo e suas bases inslitas, tem o mrito de elevar a negociao ambiental a nveis mais relevantes, levando-se em conta geraes futuras, potencialidade de danos ainda insensveis e controle de riscos. Basta dizer que a precauo que orienta a legislao no carter provisrio das autorizaes ambientais. Segundo Milar (2007) a invocao do princpio da precauo uma deciso a ser tomada quando a informao cientifica insuficiente, inconclusiva ou incerta e haja indicaes de que os possveis efeitos sobre o ambiente, a sade das pessoas ou dos animais ou proteo vegetal possam ser potencialmente perigosos e incompatveis com o nvel de proteo escolhido. Antunes (2008) diz que parece evidente que a falta de consenso sobre o princpio da Precauo uma questo grave e que precisa ser enfrentada de forma concreta, com vistas ao estabelecimento de um conceito que seja operacional. Portanto, a aplicao do recurso econmico, como o princpio poluidor pagador, desde que acompanhado da preveno e precauo pode ampliar e 43 aprimorar os debates ambientais sem, no entanto, engessar as atividades econmicas.
2.2.4 Princpio da Ubiqidade
Este princpio, segundo Fiorillo (2010) vem evidenciar que o objeto de proteo do meio ambiente, localizado no epicentro dos direitos humanos, deve ser levado em considerao toda vez que uma poltica, atuao, legislao sobre qualquer tema, atividade, obra etc. tiver que ser criada e desenvolvida. Isso porque, na medida em que possui como ponto cardeal de tutela constitucional a vida e a qualidade de vida, tudo que se presente fazer, criar ou desenvolver deve antes passar por uma consulta ambiental, enfim, para saber se h ou no a possibilidade de que o meio ambiente seja degradado. Em outras linhas, visa demonstrar qual o objeto de proteo do meio ambiente, quando tratamos dos direitos humanos, pois toda atividade, legiferaste ou poltica, sobre qualquer tema ou obra deve levar em conta a preservao da vida e, principalmente, de sua qualidade. De fato, no h como pensar no meio ambiente dissociado dos demais aspectos da sociedade, de modo que ele exige uma atuao globalizada e solidria, at mesmo porque fenmenos como a poluio e a degradao ambiental no encontram fronteiras e no esbarram em limites territoriais.
2.2.5 Princpio do Desenvolvimento Sustentvel
Segundo Leff (2006) o princpio da sustentabilidade emerge no discurso terico e poltico da globalizao econmico-ecolgica como a expresso de uma lei-limite da natureza diante da autonomizao da lei estrutural do valor. Ela surge, portanto, como uma espcie de critrio normativo para a reconstruo da ordem econmica e consequentemente como condio para a sobrevivncia humana. A idia de sustentabilidade foi pela primeira vez introduzida na discusso ambiental em 1987, no documento Nosso Futuro Comum ou relatrio Brundtland. Neste documento, a sustentabilidade considerada a chave para a resoluo de problemas ambientais, na medida em que fomenta estratgias qualitativas e quantitativas para modificar o processo de destruio em que a natureza se encontra. 44 A Comisso Brundtland (1991) definiu o desenvolvimento sustentvel como um novo caminho de progresso social e econmico que: (...) procura atender as aspiraes do presente sem comprometer a possibilidade de atend-las no futuro. A partir desse consenso global, devemos formular e implementar alternativas de gesto para superar os obstculos a sustentabilidade do meio ambiente, superando a lgica tradicional de subjugar a natureza ao nosso bel prazer e a reduzida situao de mera mercadoria para especulao a curto prazo, pois, na verdade, como sabemos, ela uma condio indispensvel e indissocivel da existncia e da sobrevivncia humana e, os recursos so finitos. A legislao ambiental brasileira apresenta o conceito de desenvolvimento sustentvel na lei 6.938/81 Poltica Nacional do Meio Ambiente, a qual em seu art. 2 dispe: A Poltica Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida, visando assegurar, no Pas, condies ao desenvolvimento scio-econmico, aos interesses da segurana nacional e a proteo da dignidade da vida humana. E no art. 4: A Poltica Nacional do Meio Ambiente visar: I compatibilizao do desenvolvimento econmico-social com a preservao da qualidade do meio ambiente e do equilbrio ecolgico. Em 1988 a Constituio Federal em seus artigos170 e 225 abraaram o conceito desenvolvimento sustentvel dado pela Lei 6.938/81. O primeiro artigo est inserido no Captulo que trata da Ordem Econmica e Financeira e o segundo no captulo do Meio Ambiente, ambos referem-se ao desenvolvimento econmico e social desde que observada a preservao e defesa do meio ambiente para as presentes e futuras geraes. A idia de desenvolvimento sustentvel tem sido construda a partir de distintas perspectivas, em contraponto viso tradicional de desenvolvimento herdada do sculo XIX, que privilegia o crescimento econmico e a industrializao como sinnimos de desenvolvimento, desconsiderando o carter finito dos recursos naturais. Nesse sentido, o desenvolvimento sustentvel resgata as premissas de eqidade social, responsabilidade ecolgica e a participao cidad como partes indissociveis do desenvolvimento. Nessa perspectiva, a participao cidad uma possibilidade para a gesto das polticas pblicas direcionadas ao desenvolvimento economicamente vivel, socialmente justo e ecologicamente equilibradas. 45 Um consenso bastante propagado nos ltimos anos o da necessidade de metodologias pragmticas capazes de avaliar o impacto social dessas novas orientaes sobre o modelo de desenvolvimento convencionado e que vem sendo adotado nas ltimas dcadas, pois as discusses so muitas, todavia existem grandes dilemas no aspecto de avaliar os resultados das experincias realizadas at agora nos pases, regies e municpios. Existe uma grande distncia entre o discurso propagado acerca do desenvolvimento sustentvel que vem acontecendo mais significativamente a partir da publicao do Relatrio Brundtland em 1987 e reforado pelos inmeros tratados e convenes das Naes Unidas e, a forma de implementao dessas resolues. Diante dos conceitos apresentados podemos sintetizar que o desenvolvimento sustentvel formado pelo trip econmico/social/ambiental, sendo que todos esses fatores se equivalem. Busca-se o crescimento econmico, o desenvolvimento social e paralelamente, a defesa e proteo do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Esses trs fatores genricos so especificamente formados pela dignidade da pessoa humana. Desta forma, Fiorillo (2009: 141) afirma :
O princpio do desenvolvimento sustentvel tem por contedo a manuteno das bases vitais da produo e reproduo do homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma relao satisfatria entre os homens e destes com o seu ambiente, para que as futuras geraes tambm tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje a nossa disposio.
Em linhas gerais, o princpio do desenvolvimento sustentvel colima compatibilizar a atuao da economia com a preservao do equilbrio ecolgico. Infere-se, portanto, que seu escopo equalizar, conciliar, encontrar um ponto de equilbrio entre atividade econmica e uso adequado, racional e responsvel dos recursos naturais, respeitando-os e preservando-os para as geraes atuais e subseqentes. A prudncia ecolgica significa poupar recursos naturais administrados com a preocupao de garantir a continuidade e a regularidade da atividade econmica e a qualidade do ambiente, condio para a qualidade de vida; eficincia econmica representa a capacidade de produzir mais e melhor com economia de recursos, 46 capital e trabalho, particularmente; e justia social significa oportunidades semelhantes para a populao. A partir dessas atribuies, as diversas agendas pblicas e acordos internacionais impulsionaram novas demandas e responsabilidades aos pases em relao s suas estratgias polticas para o desenvolvimento. Em linhas gerais, o projeto de uma sociedade sustentvel aponta para uma justia com eqidade, distribuio das riquezas, eliminando as desigualdades sociais; para o fim da explorao dos seres humanos; para a eliminao das discriminaes de gnero, raa, gerao ou qualquer outra; para garantir a todos o direitos vida, sade, educao, moradia, cultura, emprego e a envelhecer com dignidade; para o fim da excluso social, para a democracia plena. Estes novos princpios para uma sociedade sustentvel entram em choque com os modelos tradicionais da sociedade. Estes princpios aliados necessidade de um processo endgeno de mudana a partir do mbito local praticamente um consenso entre os que discutem o desenvolvimento sustentvel. A proposta desse tipo de processo de gerar inovaes adequadas s necessidades especficas de cada lugar e, na mesma medida, dar respostas aos problemas globais da cidade, do municpio ou do espao de vida local, tendo como parmetros, princpios sustentveis. Sachs (2007) usa a expresso ecodesenvolvimento em lugar de desenvolvimento sustentvel e identifica no modelo cinco dimenses de sustentabilidade de que, segundo ele, todo planejamento de desenvolvimento precisa levar em conta: 1) a sustentabilidade social, que se entende como criao de um processo de desenvolvimento que seja sustentado por um outro crescimento e subsidiado por uma outra viso do que seja uma sociedade boa. A meta construir uma civilizao com maior eqidade na distribuio de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padres de vida dos ricos e dos pobres; 2) a sustentabilidade econmica, que deve ser tornada possvel atravs da alocao e do gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos pblicos e privados. Nessa dimenso, a eficincia econmica deve ser avaliada em termos macrossociais, sistmicos na relao com as partes, e no apenas atravs do critrio da rentabilidade empresarial de carter microeconmico; 3) a sustentabilidade ecolgica, que pode ser melhorada se seguidos os seguintes 47 princpios: ampliar a capacidade de renovao dos ciclos ecolgicos da Terra, intensificando o uso do potencial de recursos dos diversos ecossistemas, com um mnimo de danos aos sistemas de sustentao da vida; limitar o consumo desordenado dos recursos naturais e respeito biodiversidade ecolgica; intensificar a pesquisa para a obteno de tecnologias de baixo teor de resduos e eficientes no uso de recursos para o desenvolvimento urbano, rural e industrial; definir formas de uma adequada proteo ambiental; 4) a sustentabilidade espacial, que deve ser dirigida para a obteno de uma configurao rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuio territorial dos assentamentos humanos e das atividades econmicas; e 5) sustentabilidade cultural, incluindo a procura de razes endgenas de processos de modernizao e de sistemas agrcolas integrados, processos que busquem mudanas dentro da continuidade cultural e que, traduzam o conceito normativo de ecodesenvolvimento como conjunto de solues especficas para o ecossistema, a cultura e o espao de vida local, respeitando a diversidade biolgica e cultural. A noo de desenvolvimento sustentvel no apenas uma nova forma de adjetivao, mas implica considerar e assumir novos padres de competitividade e eqidade, significando uma nova racionalidade pragmtica de gesto, incluindo a incorporao no processo de desenvolvimento daquilo que pblico e no somente estatal.
48 CAPTULO III INSTRUMENTOS ECONMICOS PARA A FORMULAO DE POLTICAS PBLICAS AMBIENTAIS.
3.1 Os Mtodos de Valorao Econmico-ambiental: um estudo conceitual
Os mtodos de valorao econmica ambiental so instrumentos analticos que contribuem para uma tcnica de avaliao de projetos mais abrangente, a conhecida anlise custo-benefcio (ACB). Originalmente, a anlise custo-benefcio foi desenvolvida para tratar da avaliao de projetos relacionados com recursos hdricos para aproveitamento energtico nos Estados Unidos e por ter alcanado um resultado positivo, esta prtica foi aplicada a outros problemas. Da em diante, comeou a surgir os primeiros mtodos de valorao ambiental. O uso da anlise de custo-benefcio est se tornando um fator de prevalncia para tomada de decises, pois, sua utilizao importante tanto na concepo, formulao, quanto na implementao de polticas pblicas ambientais. Embora apresente algumas lacunas ou falhas, a anlise custo beneficio ainda a abordagem mais usada no processo de planejamento ambiental. A converso dos custos e benefcios ambientais em valores monetrios uma tentativa de fornecer uma linha orientativa imparcial ao administrador de riscos. A proposta nesta dissertao fazer uma reviso da literatura sobre os mtodos de valorao econmica ambiental demonstrando de que forma eles podem ser usados como instrumentos analticos para uma avaliao mais abrangente, analisando os aspectos fortes, bem como as fragilidades da aplicabilidade desses mtodos na busca de uma melhor eficincia alocativa dos recursos ambientais. Nesse sentido, compreender a diferena entre valor e preo, se faz necessrio, pois a questo da precificao dos recursos naturais alvo de discusses e controvrsias de estudiosos, tanto da seara ambiental quanto nas demais reas. Em geral, todas as mercadorias tm valor econmico porque tm preo fixado no mercado; j os recursos naturais no tm preo fixado no mercado, mas nem por 49 isso deixa de ter valor. Pelo contrrio, a utilizao de tais recursos indispensvel para o desenvolvimento econmico e consequentemente, para o bem-estar social. Historicamente temos diversas correntes que conceituam valor. Para tericos da escola clssica, como Adam Smith, por exemplo, h uma distino entre valor de uso e valor de troca, pois, o mesmo em um determinado momento designa a utilidade de um objeto; e em outro momento demonstra o poder de compra que o mesmo possui. Nesse sentido, o valor seria ento uma medida para significar o preo natural das mercadorias. J na viso de David Ricardo, mesmo que a mercadoria tenha utilidade, o seu valor de troca advm de sua escassez e da quantidade de trabalho necessria para obt-la. Para Marx, o preo de uma mercadoria no mercado corresponde ao seu preo natural, isto , ao seu valor, que determinado pela respectiva quantidade de trabalho necessria para a sua produo. Para ele, o preo de uma mercadoria apenas o mecanismo de se converter o valor do trabalho em dinheiro. A economia neoclssica entende que o preo de uma mercadoria igual ao seu valor. Alfred Marshall, por exemplo, explica que o valor dos bens e servios tem relao com as necessidades dos indivduos em um dado momento. Da vem teoria da utilidade marginal, em que a economia passa a ser considerada uma tcnica para a alocao tima de recursos escassos. Entendida como economia do bem-estar, as bases intelectuais dessa anlise encontram-se na teoria neoclssica. Sendo assim, a funo de bem-estar da sociedade tem conexo direta com as preferncias dos indivduos, renda disponvel e utilidade de uma cesta de bem e servios. Para expressar sua vontade de compra em relao a um determinado bem, o individuo precisa saber quanto deve pagar por ele, para ento tomar sua deciso, considerando claro, fatores como: preo, renda, disponibilidade e tempo. justamente por no possuir preo no mercado que h dificuldades, tanto da sociedade em geral como da comunidade acadmica, em estabelecer um valor aos recursos naturais, pois, as funes ecolgicas dos ativos ambientais ainda so desconhecidas ou de difcil compreenso. A tarefa no simples, mas a proposta da economia neoclssica estimar, dentro de uma limitao, o preo dos ativos ambientais, pois necessrio que se 50 estabelea um valor para esses bens, calculando uma importncia que simbolize um sinal de preo. Sendo assim, podemos entender que preo e valor so diferentes, mas dentro da discusso ambiental, precificar ativos ambientais poder sinalizar valor a algo que considerado intangvel. De qualquer forma, o valor do meio ambiente transcende a abordagem mecanicista dos economistas neoclssicos, j que o termo valor tem uma dimenso metafsica, pois est inserido no contexto comportamental do ser humano. A corrente que corresponde economia ecolgica prope incluir os princpios da economia neoclssica e os estudos de impactos ecolgicos, estimulando novas maneiras de ligao entre os sistemas ecolgicos e econmicos. Diante do exposto necessrio compreendermos a valorao pelo enfoque ecolgico e econmico, buscando subsidiar a gesto ambiental a partir de dados concretos que sirvam como suporte no processo de tomada de deciso. Sob o enfoque ecolgico Daly (2005) argumenta que o debate sobre o valor monetrio do meio ambiente adquiriu importncia vital, pois possibilita sinalizar o impacto que as atividades econmicas e humanas causam no suporte e na resilincia dos ativos naturais, assim como podem ser utilizadas no sentido de precaver a degradao desses ativos, por meio de medidas mitigadoras. Para Alier apud Mota (2001) a capacidade de suporte definida em funo da perecibilidade dos recursos naturais e de sua perpetuidade para as futuras geraes. Ele ainda enfatiza que essa capacidade de suporte se refere tanto a vida humana quanto a vida animal e vegetal. Considera tambm que o problema no pode ser enfocado somente pela anlise da capacidade de suporte do ecossistema, mas, sobretudo, pela capacidade de regenerao, pois, a degradao/exausto dos recursos naturais afeta tanto a quantidade quanto a qualidade dos servios ambientais, prejudicando a capacidade de resilincia de todo o sistema. Est claro que o sistema econmico de mercado no capaz de alcanar o ponto timo no que se refere alocao dos recursos naturais. E isso ocorre devido s falhas de mercado, como tambm pelo fato de que os mercados convencionais no contemplam os ativos naturais. 51 Diante disso, a valorao destes ativos de grande importncia, pois permitem analisar as questes de mercado, as externalidades de projetos de investimentos e de problemas que envolvem danos ao meio ambiente e a terceiros. Isso quer dizer que a valorao dos recursos naturais enfocada por aspectos econmicos engloba: estimao de preos, mensurao monetria das externalidades, internalizao de custos ambientais e indenizaes judiciais. Antes de conhecer os mtodos de valorao e de que forma eles podem ser usados como instrumentos analticos para o planejamento ambiental, necessrio entender o que so externalidades e como elas surgem. Ao se tratar o meio ambiente como aspecto relevante e indispensvel para o desenvolvimento econmico, tem-se como foco de preocupaes efeitos externos causados natureza no momento de sua apropriao. Quando um agente, intencionalmente ou no, gera benefcios (ganhos de bem-estar, aumento de rendimentos) para outro, sem receber uma compensao monetria em troca, diz-se que est gerando uma externalidade positiva. Externalidades negativas, ao contrrio, ocorrem quando um agente impe custos (perda de bem-estar, reduo de rendimentos) a terceiros e no os recompensa monetariamente. Para que ocorra a internalizao monetria das externalidades, segundo Alier (1998), dois aspectos devem ser levados em considerao: como valorar monetariamente os custos externos e quais instrumentos de poltica econmica devem ser utilizados para atingir o nvel timo de poluio, timo social. Por isso, a economia do meio ambiente tem como principal objeto de estudo a internalizao (monetria) das externalidades (custos externos), via mercado. Segundo um conceito desenvolvido em 1920 pelo economista ingls Arthur Pigou, a externalidade, na economia, refere-se ao que um determinado sistema de produo causa em outros sistemas externos.
(...) estabeleceu que existe uma externalidade quando a produo de uma empresa (ou um consumo individual) afeta o processo produtivo ou um padro de vida de outras empresas ou pessoas, na ausncia de uma transao comercial entre elas. (PIGOU apud MOURA, 2006).
52 Normalmente, esses efeitos no so avaliados em termos de preos. As externalidades podem ser tanto positivas, quanto negativas. Seja qual for, a soluo hoje preconizada e que elas sejam internalizadas, ou seja, que sejam identificados os custos decorrentes do empreendimento e que estes custos sejam imputados ao projeto. Leff (2006) afirma que a natureza concebida como um bem abundante e gratuito, sendo capaz de se regenerar, independente do comportamento econmico. A natureza remetida a um campo de externalidade do sistema econmico. Ele ainda conclui dizendo:
A externalizao da natureza do sistema econmico , justamente, o efeito do desconhecimento da entropia (a segunda lei da termodinmica), que estabelece os limites impostos pela natureza ao crescimento econmico, ocultando as causas da crise ambiental e da insustentabilidade ecolgica da economia. (LEFF, 2006: 174)
A internalizao desses efeitos refere-se s aes que as empresas podem tomar no sentido de eliminar as externalidades, ou no mnimo reduzi-las para nveis aceitveis. Busca-se com isso, incorporar o meio ambiente ao mercado, adotando, segundo Pigou (1920), a via de correo do mercado, ou seja, apostando na revalorizao das preferncias individuais por intermdio do Estado, visando o uso racional dos recursos naturais. Face economia convencional que pretende internalizar as externalidades atravs da atribuio de direitos de propriedade e preos a bens e servios ambientais, Leff (2001) assegura que a economia ecolgica reconhece a distribuio econmica (da riqueza e da renda) como determinante da valorizao da natureza. A existncia de bens livres pode conduzir a determinadas falhas de mercado, que so chamadas de externalidades negativas ou deseconomias externas; estas correspondem a custos econmicos que circulam externamente ao mercado e, portanto, no so compensados pecuniarimente. Embora no haja essa compensao, os fatos ocorridos no se deram fora das unidades de produo, mas, so efeitos do processo econmico ocorridos fora ou paralelo ao mercado. Este processo consiste na apropriao dos bens da natureza, tomados pela economia como bens livres, na medida em que no recebe no mercado sua devida traduo em valor monetrio e so inseridos de maneira sempre crescente no processo produtivo. Estes bens livres, segundo Derani (2008) no entram na 53 contabilidade do produto social, embora tenham sido at o momento, ou sero oportunamente, na sua forma natural, apropriados para o uso coletivo ou individual. Sendo alguns desses recursos ambientais de livre acesso, os agentes econmicos tendem a impor aos demais usurios um custo externo representado por uma perda no compensada em seu bem-estar. Isso ocorre porque a produo objetiva a troca de bens por dinheiro, gerando lucro ao empresrio. Porm, a produo de um determinado bem ou servio no est isenta de custos, de tal modo que o produtor deve assegurar que a soma do dinheiro recebido seja maior do que os custos envolvidos na produo, isto , ele deve maximizar a diferena residual entre preo e custos, para que possa auferir lucros e continuar atuando em seu segmento no mercado. Neste entendimento, Carneiro (2003) corrobora dizendo que como os bens livres no so vendidos nos mercados, no h um preo a pagar pela utilizao do meio ambiente e consequentemente nem custos a serem compensados, inexistindo uma razo econmica suficientemente forte que incentive, ou at mesmo obrigue, o produtor a investir ou adotar medidas que eliminem ou minimizem os impactos ambientais causado por sua atividade. Sendo assim, alheio aos efeitos externos de sua atividade produtiva, isto , no internalizando suas externalidades, o poluidor transfere para a sociedade um custo que deveria ser privado, ou seja, transforma o custo privado em custo social. Partindo desta compreenso, podemos entender que as externalidades ambientais negativas surgem em funo da inexistncia ou indefinio de direitos de propriedade, tornando complexo o estabelecimento de mercados e de sistemas de preos que permitam o uso eficiente do meio ambiente. importante ressaltar que os sistemas de cobrana de uso de recursos ambientais, tanto quanto os mecanismos de tributao ecolgica, representam manifestaes do chamado princpio do poluidor pagador, cujo objetivo principal que os agentes responsveis pelas externalidades devem internalizar os custos sociais de suas atividades econmicas.
Produtos no considerados no clculo econmico emisses de poluente e lixo - so interiorizados no tempo e espao. A produo de hoje certamente traz custos maiores que a mesma produo de vinte anos atrs, porque, dentre outros fatores, precisa contar com recursos naturais mais escassos e com investimento em recomposio de fatores ambientais, que sejam imprescindveis nova produo. (DERANI, 2008:87) 54 A partir de uma perspectiva econmica, poluio ou degradao ambiental caracterizada como uma falha de mercado. Se a falha de mercado for identificada, os incentivos podem ser restaurados por meio de uma poltica ambiental. Se o mercado for definido como o bem cuja produo ou o consumo gera prejuzo ambiental, a falha de mercado ser em funo de uma externalidade, isto , a produo ou o consumo geram danos ambientais fora da transao do mercado. A teoria microeconmica argumenta que o preo o mecanismo mais importante de sinalizao nos mercados. O preo de equilbrio comunica o valor marginal que os consumidores designam para um bem e os custos marginais incorridos pelas empresas que o produziram. A partir de uma perspectiva econmica, a soluo geral para as externalidades, incluindo aquelas que afetam o meio ambiente, a internalizao da externalidade, isto , forar os participantes do mercado a absorver os custos ou benefcios externos. O fato de existir essas externalidades negativas provocou uma mudana de paradigma na sociedade capitalista com relao busca de uma manuteno do sistema sem impactos destrutivos sobre o meio ambiente. Isto ocorre, como explica Motta (2006), pelo fato de que na presena de externalidades, os clculos privados de custos ou benefcios diferem dos custos ou benefcios da sociedade. necessrio caracterizar adequadamente o objeto de valorao para que no surjam equvocos quanto interpretao dos dados, das anlises e dos clculos. Essa caracterizao, geralmente, envolver informaes sobre localizao, pocas, perodos, porte, abrangncia, unidades de medida e elementos. O processo de valorao consiste basicamente no estabelecimento de uma relao entre um agente valorador (indivduo), que geralmente uma equipe multidisciplinar, que se vale de um suporte valorativo, constitudo de mtodos e tcnicas disponveis; e um bem ou fenmeno a ser valorado (objeto). 55
Fonte: Adaptado de Motta 1997
Uma das maiores dificuldades ao se estudar economia ambiental o estabelecimento de valor biodiversidade, e por isso, representa um assunto polmico na literatura terica e aplicada na economia de recursos naturais e do meio ambiente. Esta polmica prolifera no incio dos anos 90, com a ampliao das preocupaes nas cincias biolgicas quanto velocidade da extino de espcies provocada pelas aes do homem. A economia utiliza modelos distintos e relevantes para explicar as falhas de mercado e as polticas usadas para solucion-las. Com esses modelos, aes prticas do planejamento ambiental podem ser elaboradas, processo pelo qual o governo identifica riscos ambientais, os prioriza e responde com um plano de ao. O processo de planejamento envolve decises difceis, em que se devem estabelecer objetivos e quais instrumentos de controle devem ser usados. Essas decises so orientadas por ferramentas analticas destinadas a analisar os riscos ambientais e a avaliar os custos e benefcios para minimiz-los. Inicialmente, pressupe-se que existe a deciso poltica e administrativa de instrumentar entidades e rgos governamentais a procederem valorao. A crescente conscientizao geral a respeito da acelerada degradao do meio ambiente, bem como, a exausto de recursos naturais, serve como base para essa deciso. DECISO DE VALORAO ECONMICA DO MEIO AMBIENTE AGENTE VALORADOR OBJETO A SER VALORADO SUPORTE VALORATIVO
MEIO AMBIENTE IMPACTOS AMBIENTAIS MEDIDAS MITIGADORAS/COMP. PRODUTOS AMBIENTAIS
CUSTOS BENEFCIOS PATRIMNIO CONTABILIDADE BALANO CONTAS REGIONAIS 56 Nas diferentes perspectivas conceituais de tratamento econmico da questo ambiental, h um sentido comum subjacente relativo ao reconhecimento da necessidade e legitimidade de alguma forma de valorao ambiental, em virtude do reconhecimento da existncia de valores associados conservao e uso sustentvel dos recursos ambientais que, em larga medida, no so expressos pelo sistema de preos de mercado, ou seja, so externos a tal sistema, embora no dissociados deste.
A economia parte da dominao e transformao da natureza e por isso dependente da disponibilidade de recursos naturais. Esta dominao/transformao est direcionada obteno de valor, que se materializa em forma de dinheiro, riqueza criada. (DERANI, 2008: 95)
Reconhece-se assim a existncia de valores ambientais que, sendo externos ao conjunto dos valores econmicos expressos monetariamente pelo mercado e/ou demais instituies econmicas, so entendidos como "valores" no no sentido econmico estrito, mas sim, valores enquanto pertencentes ao conjunto dos valores humanos, ou seja, pertencem ao conjunto valorativo humano tico normativo, que transcende a valorizao econmica estrita. O aspecto relevante a se destacar que tais valores no-econmicos, apesar de no serem valores econmicos no sentido estrito, podem possuir dimenso econmica, medida que a busca da realizao destes implicar em interao com as variveis econmicas. Na questo ambiental, diversos valores relacionados ao uso dos recursos ambientais so de motivao no-econmica (como a tica de preservao e respeito vida), mas com importante dimenso econmica. Com isso, a tarefa da Valorao Econmica Ambiental consiste na identificao de tal dimenso econmica destes valores sociais no-econmicos relativos ao ambiente, para que, exercendo em seguida sua internalizao na institucionalidade econmica concreta estes possam ser realizados. Assim, podemos considerar que a valorao econmica ambiental lida com diferentes instncias de valores. Uma delas diz respeito ao conjunto dos valores econmicos correntes, especialmente os de mercado, que, como sabido, por si s no conduzem ao uso sustentvel dos recursos ambientais. 57 A outra se refere aos valores sociais no-econmicos relativos conservao e/ou uso sustentvel dos recursos ambientais; por conseguinte, os valores econmicos derivados da apreenso de tais valores sociais no-econmicos e da internalizao destes no conjunto das variveis econmicas. Dessa forma, a relevncia da valorao ambiental no se manifesta unicamente na determinao de um preo que expresse o valor econmico do meio ambiente. Ela pode ser analisada sob diversos aspectos. E neste estudo, ser vista sob a tica da economia ecolgica e sob aspectos econmicos relevantes para a gesto ambiental. Os mtodos de valorao econmica ambiental so, de forma geral, tcnicas especficas para quantificar (em termos monetrios) os impactos econmicos e sociais de projetos cujos resultados numricos vo permitir uma avaliao mais abrangente. De posse desses resultados, expressos na mesma unidade de medida (unidades monetrias) podem-se fazer uma avaliao da preponderncia de um ou de outro fator (benefcio ou custo) e ter subsdios tcnicos para escolher a melhor opo, inclusive em termos sociais. Economistas e estudiosos de diversas reas (como bilogos, fsicos, matemticos, socilogos dentre outros) vm elaborando ferramentas analticas que auxiliam no processo de tomada de deciso, no intuito de instrumentalizar as polticas ambientais, buscando internalizar as externalidades. Os instrumentos de mercado destinam-se a retornar os custos externos dos danos ambientais para a tomada de deciso de empresas e consumidores. Fundamentando-se na teoria das falhas de mercado, a abordagem de mercado tenta restaurar incentivos econmicos atribuindo um valor qualidade ambiental, ou, de forma equivalente, estabelecendo um preo poluio. Embora seja estabelecido um preo poluio, no significa dizer que pelo fato de, a empresa ou indivduo pagar, estes possam poluir livremente ou de forma descontrolada. Ao contrrio, o estabelecimento de um valor aos ativos ambientais justamente para deixar claro ao poluidor-usurio-pagador que os recursos naturais no podem ser usados de forma indiscriminada. A literatura econmica neoclssica sugere que o valor de um bem ou servio ambiental possa ser mensurado atravs da preferncia individual pela preservao, conservao ou utilizao desse bem ou servio. 58 Pearce (1992) afirma que, o que valorado no o meio ambiente ou a vida, mas a preferncia das pessoas em relao ao uso ou manuteno dos recursos naturais. Segundo ele, a valorao econmica do meio ambiente pode ser dividida em quatro elementos importantes, compreendidos em valor de uso direto, indireto, opo e existncia. Nesta mesma linha de pensamento Motta (1997) ratifica dizendo que o valor econmico dos recursos ambientais derivado de todos os seus atributos e que tais atributos podem ou no estar associados a um uso, ou seja, o consumo de um recurso se realiza via uso ou no uso. Vejamos a seguir.
TABELA 01: Taxonomia Geral do Valor Econmico do Recurso Ambiental Valor Econmico do Recurso Ambiental Valor de Uso Valor de No-Uso Valor de Uso Direto Valor de Uso Indireto Valor de Opo Valor de Existncia Bens e servios ambientais apropriados diretamente da explorao do recurso e consumidos hoje Bens e servios ambientais que so gerados de funes ecossistmicas e apropriados e consumidos indiretamente hoje Bens e servios ambientais de usos diretos e indiretos a serem apropriados e consumidos no futuro Valor no associado ao uso atual ou futuro e que reflete questes morais, culturais, ticas ou altrusticas Fonte: Adaptado do Manual de Valorao Econmica, de Ronaldo Sera da Motta (1997). O valor de uso direto refere-se ao uso efetivo ou potencial que o recurso pode prover, isto , tem como caracterstica o uso direto do recurso ambiental como matria-prima, de produtos medicinais e cientficos, de lazer, de recreao ou satisfao. O valor de uso indireto est relacionado com a funo ecolgica do ativo ambiental, por armazenar vrias espcies que contribuem para a manuteno da biodiversidade. Por exemplo, o valor de existncia da Floresta Amaznica poderia ser estimado a partir da disposio dos pases desenvolvidos de trocar parte da dvida dos pases que tm a propriedade da floresta por compromisso de preservao. O valor de opo refere-se ao valor da disponibilidade do recurso ambiental para uso futuro. Diz respeito, por exemplo, a disposio a pagar dos indivduos para conservar uma determinada floresta, cuja substituio seria difcil ou impossvel. A finalidade conservar o recurso ambiental, evitando riscos e disponibilizando seu uso para o futuro. 59 O valor de existncia, por outro lado, independe do seu uso presente ou futuro, pois o mesmo tem valor pelo simples fato de existir. Pode tambm ser valorado por considerar uma hiptese de crescimento, desenvolvimento, conhecimento cientfico, tcnico, econmico ou social sobre as possibilidades presentes e futuras do recurso ambiental sob investigao. Muitas variantes dessa classificao existem, mas nesta pesquisa est sendo usado o modelo definido por Pearce (1992) que resumidamente podemos observar no quadro abaixo. A composio deste modelo serve como instrumento analtico de bens e servios ambientais usados para o desenvolvimento econmico. (1)
Como j citado anteriormente, caracterizar adequadamente o objeto de valorao imprescindvel, para que no haja equvocos quanto interpretao dos dados, anlises e clculos. O agente valorador utiliza um suporte valorativo, constitudo de mtodos e tcnicas disponveis. Esses mtodos no so necessariamente distintos, mas o objeto a ser valorado de natureza diversa, isto , h uma srie de fatores que diferem por diversos motivos (como tempo, espao, cultura e outros), embora a atividade econmica seja a mesma. Certamente, os principais resultados obtidos atravs da valorao econmica do meio ambiente so as estimativas dos custos e benefcios ambientais que se configuram de grande valia para o desenvolvimento sustentvel. Na perspectiva ecolgica, ela maximiza o bem estar total, minimiza os custos de oportunidade e distributivos, utilizando preos de mercado sem subsdios e outras distores de mercado, ajustando estes com pesos distributivos para incorporar questes de eqidade e incluindo a valorao monetria de externalidades ambientais. Os prejuzos econmicos causados pela degradao do meio ambiente refletem diretamente na economia das pessoas, empresas e administrao pblica. Os conhecimentos tcnicos e cientficos disponveis atualmente para avaliao monetria dos danos ambientais ainda so limitados. Para se determinar o valor dos danos ambientais previstos ou constatados necessrio identificar e valorar a perda de biodiversidade, como por exemplo, os VET = valor de uso direto + valor de uso indireto + valor de opo + valor de existncia 60 danos causados flora e fauna pela derrubada da mata, alterao da cadeia alimentar e fixao de gases, entre outros servios que ainda no tm valor de mercado estabelecido. Assim, Motta (2001) aborda o aspecto da valorao ambiental de modo integrativo e sistmico, em que so apresentadas questes relacionadas sustentabilidade biolgica e ecolgica dos recursos naturais, estratgia de defesa do capital natural, subsdio gesto ambiental e aspectos econmicos. Para subsidiar o estudo acerca da valorao econmico-ambiental, se fizeram necessrios o estudo e elaborao de mtodos que servem como parmetros para anlise das atividades econmicas potencialmente poluidoras. Tais mtodos, apresentados a seguir, variam de acordo com o objeto de estudo que est sendo avaliado. Os estudiosos nesta rea sabem que valorar o meio ambiente no tarefa fcil, mas, sabem tambm que a no valorao pode trazer ao meio ambiente conseqncias irreversveis. Por isso, Constanza (1997) afirma que enquanto no houver uma forma de valorar um rio ou uma floresta, certamente o meio ambiente ser tratado como algo sem valor. Mota (2001) corrobora dizendo que a valorao dos recursos naturais nas perspectivas da economia ecolgica e da economia ambiental no uma tarefa trivial para a pesquisa ambiental. Diz ainda que seja necessrio conhecer antecipadamente aspectos tericos e tcnicos dos limites da valorao, bem como os elementos que caracterizam o objeto de estudo e os mecanismos metodolgicos que do suporte coleta, tabulao, estimao do valor integrado do ativo natural e as suas interpretaes. Segundo Mota (2001) a valorao integrada permite mensurar o valor monetrio do recurso natural pelas ticas do valor instrumental (econmico) e do valor intrnseco (ecolgico). Em relao ao valor instrumental, que de ordem econmica, Mota o descreve como valor de uso, dentro de uma abordagem antropocntrica, de contedo puramente utilitarista do recurso natural. J o valor intrnseco, cujo foco ecolgico, est intimamente ligado tica do usurio em relao ao meio ambiente. Nesse sentido podemos considerar que o valor intrnseco tem forte ligao com a percepo e as atitudes das pessoas em relao sustentabilidade do ativo 61 natural, suscitando uma preocupao de conservao/preservao para as futuras geraes. De uma maneira geral, os mtodos de valorao econmica ambiental so utilizados para estimar os valores que as pessoas atribuem aos recursos ambientais, com base em suas preferncias. Os mtodos de valorao monetria tentam integrar mtodos que incorporam com maior acuidade os aspectos ecolgicos s anlises do tipo custo/beneficio. Esses mtodos podem ser classificados em Funo Produo e Funo Demanda. Os mtodos baseados na Funo Produo (Oferta) consideram o meio ambiente e os recursos associados como insumos para a produo. J os que utilizam a Funo Demanda assumem que a mudana na disponibilidade de recursos naturais modifica a disposio de consumidores ou produtores (tomadores de deciso) a pagar por esses recursos ou bens complementares. Na funo produo os custos ou benefcios so calculados a partir da alterao dos recursos utilizados e das conseqncias destes para a sociedade. Podemos tomar como exemplo a eroso do solo que pode ser valorada a partir da diminuio da produtividade agrcola, resultante da degradao do solo e das conseqncias do assoreamento de rios. Na funo demanda a anlise baseada no excedente do consumidor. Dessa forma, os mtodos calculam os custos ou benefcios de mudanas na disponibilidade de recursos naturais a partir da sua demanda no mercado de bens ou servios ou ainda a partir de mercados hipotticos construdos para a valorao. Para aplicar os mtodos de valorao ambiental, pesquisadores da rea de economia ambiental neoclssica tm sugerido vrias tcnicas, baseadas nos princpios da economia neoclssica, cujo objetivo mensurar os benefcios auferidos pelos usurios dos recursos naturais, por meio da estimao de suas disposies a pagar. Nogueira e Medeiros (1998) observam que no existe uma classificao universalmente aceita sobre os mtodos de valorao econmica. Alm disso, destacam a dificuldade de se adotar uma abordagem metodolgica capaz de responder a realidades distintas. Para eles, os mtodos de valorao do meio ambiente so utilizados para estimar valores com base nas preferncias individuais. As literaturas que discutem sobre os mtodos de valorao econmica apresentam diferenas e divergncias, mas de uma forma geral convergem para o 62 mesmo foco. Valorar, nesse sentido, tornar possvel o uso dos recursos naturais para as presentes e futuras geraes, reconhecendo a necessidade de limitao de seu uso. No intuito de demonstrar o pragmatismo dos mtodos de valorao econmica este estudo apresenta a classificao desenvolvida pelos estudiosos Baterman e Turner (1992) e Pearce (1993) considerando ainda o estudo e anlise de Seroa da Motta (1997) em seu manual para valorao econmica de recursos ambientais. Baterman e Turner (1992) dividem esses mtodos dentro de uma abordagem com e sem curva de demanda. Na abordagem com curva de demanda encontramos os mtodos chamados de valorao contingente, mtodo do custo de viagem e mtodos de preos hednicos. Na abordagem sem curva de demanda, tais mtodos so divididos em dose-resposta, custo-reposio e custos evitados. Conforme representado a seguir.
Tabela 02: Abordagem com e sem curva de Demanda Abordagem com curva de Demanda Abordagem sem curva de Demanda Valorao Contingente Dose-resposta Custo de Viagem Custo-reposio Preo Hednico Custos Evitados Fonte: Adaptado de Baterman e Turner (1992)
Pearce (1993) por sua vez, estabelece uma diviso que considera abordagem de mercado convencional, funes de produo, mtodos de preos hednicos e mtodo experimental. Na abordagem de mercado convencional, Pearce apresenta os mtodos dose-resposta e custos de reposio. Na funo produo esto os gastos evitados e custos de viagem. O mtodo experimental compreende a valorao contingente. E para melhor compreenso veremos essa diviso de forma sistematizada na tabela a seguir.
Podemos observar ento que embora a classificao se diferencie, os mtodos citados so os mesmos. Motta (1997) tambm utiliza esses e outros estudos como parmetros para analisar propostas de modelo de integrao para valorao dos recursos naturais, no intuito de demonstrar sua aplicabilidade. Sero apresentados e analisados neste trabalho um estudo acerca dos mtodos Valorao Contingente (MVC) e Custos de Viagem (MCV), pois, suas caractersticas so as que mais se aproximam das necessidades bsicas para a formulao de polticas pblicas ambientais. Embora os demais mtodos no sejam explorados nesta pesquisa est sendo apresentada uma breve explanao sobre cada um deles. A base do Mtodo dos Preos Hednicos (MPH) a identificao de atributos ou caractersticas de um bem composto privado cujos atributos sejam complementares a bens ou servios ambientais. O preo de propriedades o exemplo mais associado valorao ambiental. Este mtodo permite avaliar o preo implcito de um atributo ambiental na formao de um preo observvel de um bem composto. Este mtodo utiliza apenas os valores de uso direto, indireto e de opo, no considerando os valores de no uso. Segundo Pearce (1993), o mtodo tem aplicao apenas nos casos em que os atributos ambientais possam ser capitalizados nos preos de residncias ou imveis. Na literatura pesquisada, realmente s foram encontrados estudos associados a imveis e suas caractersticas ou valorao dos riscos de morbidade e mortalidade associados a atividades profissionais. Talvez o Mtodo de Custos de Reposio (MCR) apresente uma das idias intuitivas mais claras quando se pensa em prejuzo, isto , reparao por um dano 64 provocado. Assim, o MCR se baseia no custo de reposio ou restaurao de um bem danificado e entende esse custo como uma medida do seu benefcio (Pearce 1993). Sua estimao utiliza preos de mercado (ou preo-sombra), no considerando a estimativa da curva de demanda. Tem-se como exemplo os custos de reflorestamento em reas desmatadas para garantir o nvel de produo madeireira, custos de reposio de fertilizantes em solos degradados para garantir o nvel de produtividade agrcola, entre outros. A operacionalizao desse mtodo feita pela agregao dos gastos efetuados na reparao dos efeitos negativos provocados por algum distrbio na qualidade ambiental de um recurso utilizado numa funo de produo. O Mtodo Dose Resposta (MDR) um mtodo que trata a qualidade ambiental como um fator de produo. Assim, mudanas na qualidade ambiental levam a mudanas na produtividade e custos de produo, os quais levam por sua vez a mudanas nos preos e nveis de produo, que podem ser observados e mensurados. Segundo Nogueira et al. (2000) o MDR utiliza preos de mercado, consistindo em considerar como uma aproximao do valor dos ativos ambientais, os custos gerados para que sua degradao seja controlada, evitando que seja um obstculo obteno de nveis satisfatrios de produtividade. Pearce (1993) afirma que este mtodo teoricamente correto, mas ele identifica que h incertezas, principalmente nos possveis erros dos relacionamentos da dose-resposta. Segundo Pearce (1993) a idia subjacente ao Mtodo dos Gastos Defensivos (Custos Evitados) de que gastos em produtos substitutos ou complementares para alguma caracterstica ambiental podem ser utilizados como aproximaes para mensurar monetariamente a percepo dos indivduos das mudanas nessa caracterstica ambiental. A caracterstica dessa abordagem que a motivao para os gastos a necessidade de substituir por outros insumos (ou melhorar os existentes) devido mudana na qualidade do recurso anteriormente utilizado no processo produtivo. Como citado anteriormente os dois mtodos a serem apresentados a seguir so aqueles que embasaram de forma veemente a discusso acerca do tema proposto e por isso, mereceram maior ateno. 65 O Mtodo de Valorao Contingente (MVC) foi originalmente proposto por R. Davis em 1963 num estudo relacionando economia e recreao. Esse mtodo consiste na idia bsica de que as pessoas tm diferentes graus de preferncia ou gostos por diversos bens ou servios e isso se manifesta quando elas vo ao mercado e pagam quantias especficas por eles (NOGUEIRA et al., 2000). O MVC se baseia na construo de um mercado hipottico, buscando atravs de entrevistas (surveys) pessoais, captar a disposio a pagar DAP (ou a disposio a aceitar - DAC) em face de alteraes na disponibilidade de recursos ambientais. o nico mtodo capaz de estimar o valor econmico total (VET), ou seja, alm de calcular os valores de uso e opo, o faz tambm com o valor de existncia. O MVC mais aplicado para mensurao de recursos de propriedade comum ou bens cuja excludibilidade do consumo no possa ser feita, tais como qualidade do ar ou da gua; recursos de amenidades, tais como caractersticas paisagstica, cultural, ecolgica, histrica ou singularidade ou outras situaes em que dados sobre preos de mercado estejam ausentes. O mtodo de valorao contingente consiste em se estimar o valor da disposio a pagar dos usurios de recursos para recreao por meio de surveys, em que as pessoas revelam suas preferncias pelo recurso natural, construindo, assim, um mercado hipottico para bem/servio natural. A mensurao dos benefcios proporcionados por esses recursos captada por entrevistas a pessoas sobre sua disposio a pagar para assegurar um benefcio; disposio a aceitar a abrir mo de um benefcio; disposio a pagar para evitar uma perda e disposio a aceitar uma perda (PEARCE, TURNER, 1990). Este mtodo est alicerado na teoria neoclssica e do bem-estar e parte do principio de que o individuo racional no processo de escolha, maximizando sua satisfao, dados o preo do recurso natural e a sua restrio oramentria. Ento, a disposio a pagar de um individuo por um recurso natural uma funo de fatores socioeconmicos em que: DAP= disposio a pagar, R= renda do usurio, I= idade, G= grau de instruo e S= sexo do usurio. O mtodo de valorao contingente tem a finalidade de estimar a disposio a pagar ou aceitar dos benefcios ou danos oriundos de planos, programas e polticas ambientais. 66 A simulao dos mercados hipotticos realizada em pesquisas de campo, com questionrios que indagam ao entrevistado sua valorao contingente em face de alteraes na disponibilidade de recursos ambientais. Neste sentido, busca-se simular cenrios, cujas caractersticas estejam o mais prximo possvel das existentes no mundo real, de modo que as preferncias reveladas nas pesquisas reflitam decises que os agentes tomariam de fato caso existisse um mercado para o bem ambiental descrito no cenrio hipottico. As preferncias, do ponto de vista da teoria econmica, devem ser expressas em valores monetrios. Estes valores so obtidos atravs das informaes adquiridas nas respostas sobre quanto os indivduos estariam dispostos a pagar para garantir a melhoria de bem estar, ou quanto estariam dispostos a aceitar em compensao para suportar uma perda de bem-estar. A grande vantagem do MVC, em relao a qualquer outro mtodo de valorao, que ele pode ser aplicado em um espectro de bens ambientais mais amplos. A grande crtica, entretanto, ao MCV a sua limitao em captar valores ambientais que indivduos no entendem, ou mesmo desconhecem. Enquanto algumas partes do ecossistema podem no ser percebidas como geradoras de valor, elas podem, entretanto, ser condies necessrias para a existncia de outras funes que geram usos percebidos pelo indivduo. Nestes casos, o uso de funes de produo e de danos poderia ser mais apropriado, embora com as limitaes j assinaladas. Se as pessoas so capazes de entender claramente a variao ambiental que est sendo apresentada na pesquisa e so induzidas a revelar suas verdadeiras DAP ou DAA, ento este mtodo pode ser considerado ideal. Existem vrios fatores, entretanto, que podem levar discrepncia entre as preferncias reveladas nas pesquisas e as verdadeiras preferncias. Este tipo de problema ser descrito com maior preciso na anlise das questes metodolgicas. O interesse pelo mtodo da valorao contingente tem crescido bastante ao longo da ltima dcada. Entre outros motivos, destaca-se o prprio aperfeioamento das pesquisas de opinio e, principalmente, o fato de ser a nica tcnica com potencial de captar o valor de existncia. Por outro lado, a aplicao do MVC no trivial e tambm envolve custos elevados de pesquisa. Quanto a uma demonstrao da adequao do MVC aos princpios da teoria econmica e sua relao com outros mtodos. 67 Tendo em vista a originalidade e importncia do esforo de pesquisa de campo na aplicao do MVC, Motta (1997) em seu manual de valorao apresenta uma seqncia de procedimentos requeridos para aplicao deste mtodo. Este procedimento dividido em dois estgios que so:
1 Estgio: Definindo a Pesquisa e o Questionrio (a) Objeto de Valorao - determinar qual o recurso ambiental a ser valorado e que parcela do valor econmico est se medindo. importante especificar com clareza o bem ou servio Ambiental para que o entrevistado entenda, com maior preciso possvel, qual a alterao de disponibilidade (qualidade ou quantidade) do recurso que est sendo questionada. Para tal, preciso tambm determinar quem utiliza o recurso e quem deve pagar ou ser compensado. (b) A Medida de Valorao - decidir qual ser a forma de valorao entre as duas variaes bsicas: disposio a pagar (DAP) - como um pagamento para medir uma variao positiva de disponibilidade, ou disposio a receber (DAA) - como uma compensao por uma variao negativa. A escolha entre DAA e DAP deve ser criteriosa, pois cada estimativa pode resultar em valores bastante diferentes. A divergncia entre DAA e DAP no se deve somente utilidade marginal decrescente da renda das curvas de demanda DAA. DAA pode ser muitas vezes superior a DAP quando o indivduo, frente a uma possvel reduo da disponibilidade do recurso ambiental, percebe que so reduzidas as possibilidades de substituio entre o recurso ambiental altamente valorado e outros bens e servios a sua disposio. Dessa forma, com possibilidades reduzidas de substituio do recurso, os indivduos tendero a exigir compensaes mais elevadas. Neste sentido, na literatura tem-se preferido DAP como uma mensurao conservadora, embora nada justifique o abandono de DAA quando compensaes forem realmente pretendidas. (c) A Forma de Eliciao - definir a forma de eliciao do valor. As principais opes so: Lances livres ou forma aberta (open-ended) - onde o questionrio apresenta a seguinte questo: quanto voc est disposto a pagar?. Esta forma de pergunta produz uma varivel contnua de lances (bids) e o valor esperado da DAA ou DAP pode ser estimado pela sua mdia. Para verificao dos resultados em relao a variveis explicativas que influenciam a resposta dos indivduos, utilizam- se geralmente tcnicas economtricas de regresso. 68 Esta foi a forma pioneira do MVC, mas, que tem sido abandonada em favor de outras formas abertas de eliciao que incluem mecanismos como os cartes de pagamento ou os jogos de leilo (bidding games) onde valores iniciais so sugeridos e, dependendo da resposta, estes valores so alterados at serem aceitos pelo entrevistado. Referendo (escolha dicotmica) - onde o questionrio apresenta a seguinte questo: voc est disposto a pagar R$ X? A quantia X sistematicamente modificada ao longo da amostra para avaliar a freqncia das respostas dadas frente a diferentes nveis de lances. Esta forma de eliciao a mais usada atualmente e considerada prefervel em relao eliciao aberta porque permite menor ocorrncia de lances estratgicos dos entrevistados que procuram defender seus interesses ou beneficiarem-se da proviso gratuita do bem (o problema do carona) e aproxima- se da verdadeira experincia de mercado que geralmente define suas aes de consumo frente a um preo previamente definido. Entretanto, esta aproximao produz um indicador discreto de lances e o valor esperado da medida monetria (DAA ou DAP) tem que ser estimado de forma bastante mais complexa com base em uma funo de distribuio das respostas sim e sua correlao com uma funo de utilidade indireta, geralmente assumida como logstica, conforme ser analisado mais adiante. Referendo com acompanhamento (mais de um valor) - recentemente, observa-se a utilizao de outra forma mais sofisticada de escolha dicotmica. Conforme a resposta dada pergunta inicial, acrescida uma segunda pergunta iterativa. Por exemplo, se o entrevistado responde que est disposto a pagar R$ X ser perguntado em seguida se pagaria R$ 2X (ou R$ 0,5X se respondeu no na pergunta inicial). Entretanto, argumenta-se que este processo iterativo apresenta uma tendncia a induzir respostas na medida em que o entrevistado pode se sentir obrigado aceitar os valores subseqentes (vis de obedincia) ou neg-los por admitir que o primeiro valor o correto (vis do ponto de partida). d) O Instrumento (ou veculo) de Pagamento - definir o instrumento (ou veculo) de pagamento ou compensao com que a medida de DAP ou DAA ser realizada , por exemplo: DAP: novos impostos, tarifas ou taxas, ou maiores alquotas nos existentes; cobrana direta pelo uso; ou doao para um fundo de caridade ou 69 uma organizao-no governamental. DAA: novos subsdios ou aumento no nvel dos existentes; compensaes financeiras diretas; ou aumento de patrimnio via obras ou reposio. (e) A Forma de Entrevista - definir como ser a aplicao do questionrio. Recomenda-se que as entrevistas sejam pessoais e que permitam um controle amostral das entrevistas, alm de uma fiel compreenso do questionrio e suas respostas. Dessa forma, pesquisas domiciliares so mais recomendveis, embora geralmente mais custosas, que o uso de telefone ou correio. Em alguns casos, certos locais (por exemplo, porta de entrada de parques, orla de praias, etc) oferecem pontos de entrevistas especficos para certos tipos de usurios. (f) O Nvel de Informao - determinar qual o contedo das informaes que devem ser prestadas no questionrio de forma a transferir, realisticamente, a magnitude das alteraes de disponibilidade do recurso ambiental em valorao. Neste caso, h que se definir formas de apresentao que podem ser desde um texto lido pelo entrevistador at ao uso de fotos e desenhos ilustrativos das alteraes. (g) Os Lances Iniciais - no caso do mtodo referendo, ou mesmo para os outros de carto de pagamentos e leilo, preciso determinar um intervalo de valores monetrios que variem do mximo ao mnimo da DAA ou DAP. Por exemplo, a DAP na qual 100% dos entrevistados rejeitariam e a DAP que 100% dos entrevistados aceitariam. Estes pontos seriam os dois extremos da curva de demanda e um conjunto de valores intermdios entre eles seria utilizado na pesquisa. Especificamente para o mtodo referendo divide-se a amostra em torno de dez a doze grupos, onde cada um questionado com um valor entre (e inclusive) estes dois extremos. (h) As Pesquisas Focais - o modo mais prtico e eficiente para estabelecer estes pontos extremos de mximo e mnimo da demanda a adoo de pequenas pesquisas de eliciao abertas, realizadas em alguns grupos focais que representem uma parcela do universo a ser questionado. Estas pesquisas focais so tambm uma oportunidade para testar ou avaliar todos os itens anteriores acima. Dessa forma, o analista poder verificar o grau de conhecimento do recurso ambiental, a rejeio ou aceitao de certos instrumentos de pagamentos, a percepo dos indivduos entre pagar ou ser compensado e outras questes que podero ajudar no melhor julgamento quanto ao desenho do questionrio. 70 (i) O Desenho da Amostra - a definio de uma amostra deve obedecer a certos procedimentos estatsticos padres que garantam sua representatividade. Todavia, aconselhvel tomar cuidado com a atualidade e acuidade das informaes da qual a amostra definida.
2 Estgio: Clculo e Estimao (j) Pesquisa-Piloto e Pesquisa Final - sempre que possvel, deve-se proceder a uma pesquisa piloto antes da pesquisa final para testar o questionrio desenvolvido. Sugere-se, que nesta pesquisa sejam testadas algumas alternativas que dependem, significativamente, da percepo dos entrevistados (por exemplo: contedo e apresentao de informao, instrumento de pagamento, etc) e outras questes que afetam a logstica da pesquisa (por exemplo: a dificuldade de acesso aos entrevistados, a confiabilidade dos dados amostrais, etc). Na pesquisa final, todo cuidado deve ser tomado no treinamento dos entrevistadores, com vistas obteno de um procedimento comum e uniforme de entrevistas. Conferncia de questionrios e controle de amostra obviamente essencial. A avaliao de aceitabilidade das estimativas de DAP ou DAA estar concentrada nas questes tericas e metodolgicas do MVC. Estas questes podem ser divididas nas categorias: validade, confiabilidade e vises. A Validade refere-se ao grau em que os resultados obtidos no MVC indicam o verdadeiro valor do bem que est sendo investigado, enquanto a confiabilidade analisa a consistncia das estimativas. importante ter em mente que validade e confiabilidade no so sinnimos. Existem casos em que o MVC alcana estimativas consistentes, mas sujeitas a presena de vises. Nesta hiptese, os resultados so julgados no vlidos. A confiabilidade, conforme j assinalado, est associada ao grau em que a varincia das respostas DAP pode ser atribuda ao erro aleatrio. Assim, quanto menos aleatria for a amostra, menor ser o grau de confiabilidade. A varincia depende basicamente de trs elementos: (a) da verdadeira natureza do erro aleatrio; (b) do prprio processo de amostragem; e (c) da forma como foram elaborados os questionrios. O erro aleatrio inerente a qualquer pesquisa estatstica e pode ser minimizado atravs da utilizao de uma amostra estatisticamente grande. 71 Outra questo importante que afeta a varincia o grau de realismo dos cenrios construdos no MVC e a familiaridade dos entrevistados com estes cenrios. Assim, para assegurar a confiabilidade utiliza-se um teste de confiana baseado na repetio do mesmo experimento com diferentes amostras, o que permite observar se existe uma correlao entre as variveis coletadas. Entretanto, devido aos elevados custos envolvidos na elaborao desse tipo de teste, poucas aplicaes foram feitas at hoje. Podem ser identificados, pelo menos, dez importantes tipos de vises que afetam a confiabilidade e que devem ser minimizados com o desenho do questionrio e da amostra, conforme descritos a seguir. 1) Vis Estratgico - este certamente um dos problemas que mais preocupa os economistas. O vis estratgico est relacionado fundamentalmente percepo dos entrevistados acerca da obrigao de pagamento e s suas perspectivas quanto proviso do bem em questo. Se o indivduo tiver a sensao de que realmente pagar o valor por ele citado na pesquisa, tender a responder valores abaixo de suas verdadeiras preferncias. Isto decorre do fato de que o usufruto dos bens ambientais, em muitos casos, no est vinculado ao pagamento, ou seja, a partir do momento que algum pagou pelo bem ambiental pode ser extremamente difcil, ou impossvel, a excluso do consumo de outras pessoas. Frente a esta situao, o indivduo, partindo do pressuposto que outros estaro dispostos a pagar o suficiente para garantir a proviso do bem, tende a ter um comportamento de carona, estipulando, assim, sua DAP abaixo do valor real. Uma outra forma de vis estratgico ocorre quando o indivduo sente que, ao invs do preo estar vinculado a sua verdadeira DAP, a sua resposta poder influenciar a deciso sobre proviso do bem, mas no sofrer os custos associados a ela. Neste caso, poder revelar valores elevados quanto a sua DAP e, assim, garantir o aumento no bem estar conseqente da proviso daquele bem ambiental. Com vistas a minimizar a ocorrncia do comportamento estratgico, recomenda-se ateno com a estrutura das perguntas para que estas no sejam indutoras desse tipo de comportamento. Uma maneira usada para diminuir o vis estratgico fazer as perguntas utilizando trs cenrios distintos: somente os entrevistados que apresentarem os maiores lances tero acesso ao bem; todos tm acesso ao bem se a DAP for acima de um determinado nvel; e todos com uma DAP 72 positiva tero acesso. O primeiro cenrio parece revelar a verdadeira DAP, o segundo, um fraco comportamento estratgico e o ltimo um forte. Evidncias empricas sugerem que, nos resultados obtidos nas perguntas com formato dicotmico, observa-se uma incidncia do comportamento caronista menor que nas perguntas do tipo aberto (contnua). Em se tratando de bens pblicos ambientais, o valor de existncia e o sentimento de altrusmo atuam como um desincentivo para o carona. Na realidade, o vis estratgico no tem se mostrado um problema significativo nas aplicaes do MVC. 2) Vis Hipottico - o fato do MVC estar baseado em mercados hipotticos pode levar a valores que no refletem as verdadeiras preferncias. Como no se trata de um mercado real, os indivduos vem que no sofrero custos porque so simulaes, diferentemente de quando o indivduo erra o valor dado a um bem num mercado real onde ter de arcar com este erro. Alguns pesquisadores colocam que o vis hipottico induz a um aumento da varincia e, conseqentemente, a uma baixa confiabilidade do modelo. As pesquisas elaboradas sobre o vis hipottico demonstram que este tipo de problema bastante significativo em estudos baseados na DAA e que pode se tornar insignificante nos estudos baseados na DAP. Normalmente, o teste realizado atravs da comparao entre os lances hipotticos e os lances obtidos em simulaes de mercados onde se utiliza transaes reais de dinheiro. A divergncia entre a verdadeira DAP e DAP hipottica muito menor que na referente a DAA. Uma razo para este fenmeno deve-se ao fato de que os entrevistados esto muito mais familiarizados na vida real com o ato de fazer pagamentos do que o de receber compensaes. Para minimizar o vis hipottico, a credibilidade dos cenrios e proximidade destes com a realidade so fundamentais. Alm disto, deve-se utilizar perguntas do tipo DAP. 3) Problema da Parte-Todo (embedding/mental account) - as questes ambientais so capazes de sensibilizar, profundamente, s pessoas cuja viso adquirida sobre a natureza est associada a crenas morais, filosficas e religiosas. Esta caracterstica faz com que surja o chamado problema da Parte-Todo, onde o entrevistado tende a interpretar a oferta hipottica de um bem especfico ou servio ambiental, apresentada na pesquisa, como algo mais abrangente. Trata-se da dificuldade de distinguir o bem especfico (parte) de um conjunto mais amplo de bens (todo). Neste sentido, o problema se manifesta quando a 73 agregao dos valores referentes a DAP de um indivduo, obtida em vrias aplicaes do MVC para distintos bens, expressa um valor maior que o total da renda deste disponvel para melhoria dos bens e servios ambientais em geral. 4) Vis da Informao - certamente a qualidade da informao dada nos cenrios dos mercados hipotticos afeta a resposta recebida. O fato que a informao atinge praticamente todos os bens, no apenas a DAP por bens ambientais, sejam eles transacionados ou no no mercado. Portanto, a questo passa a ser a de garantir a veracidade da informao, verificando se esta foi elaborada para induzir um determinado resultado e tambm se a informao se modifica ao longo da amostra. Os cenrios hipotticos apresentados no MVC incluem no apenas o bem ambiental (melhoria na qualidade da gua, criao de reas florestais, etc.), mas tambm o contexto institucional em que poderia ser provido e a forma que seria financiado. 5) Vis do Entrevistador e do Entrevistado - a forma como o entrevistador se comporta, ou aparenta ser, pode influenciar as respostas. Por exemplo, se o entrevistador descreve o bem ambiental como algo moralmente desejado, ou se o entrevistador extremamente bem educado (ou atraente), ento a pessoa que est sendo entrevistada pode se sentir inibida a declarar um lance de baixo valor. Uma forma de minimizar este tipo de problema usar pesquisas por telefone ou pelo correio, ao invs de entrevistas cara-a-cara. Mas este procedimento tende a causar uma perda na qualidade da informao e, talvez, a um aumento do vis hipottico. Outro fator negativo que pesquisas pelo correio apresentam taxas mdias de respostas menores. Uma soluo possvel a utilizao de entrevistadores profissionais que transmitam a informao exatamente como est apresentada nos questionrios, bem como adotar respostas j preparadas a serem escolhidas pelos entrevistados (escolha dicotmica). 6) Vis do Instrumento (ou Veculo) de Pagamento - os indivduos no so totalmente indiferentes quanto ao veculo de pagamento associado DAP. Dependendo do mtodo de pagamento a DAP pode variar. Um aumento de R$1 no imposto de renda pode ser visto como mais custoso do que R$1 pago numa taxa de entrada associada ao uso. Se a mdia dos lances no difere quando so usados veculos distintos, ento este tipo de vis considerado irrelevante. 7) Vis do Ponto Inicial (ou ancoramento) - a sugesto de um ponto inicial nos questionrios do tipo jogos de leilo (bidding games) pode influenciar 74 significativamente o lance final. Observa-se que os questionrios com um baixo (alto) ponto inicial levam a uma baixa (alta) mdia da DAP. Apesar da utilizao de pontos iniciais reduzir o nmero de perguntas sem resposta e a varincia nos questionrios tipo aberto, existe um consenso de que o ponto inicial acaba por desestimular o entrevistado a pensar seriamente sobre sua verdadeira DAP. Uma alternativa para fugir deste problema a utilizao de cartes de pagamento, onde o entrevistado escolhe um lance, entre vrios apresentados, numa escala de valores. Infelizmente, este caminho cria um ancoramento (vinculao a priori) dos lances escala sugerida no carto de pagamento, fazendo com que a maioria dos entrevistados acredite que aquela escala contm o valor correto. Este problema tambm se manifesta no mtodo referendo com acompanhamento, onde se tentam valores subseqentes a um valor inicial que o entrevistado acaba julgando o correto, tendendo a rejeitar outros. No existe uma soluo para este problema, a no ser o cuidado de observar tal vis e tentar reduz- lo por meio de estimaes mais precisas sobre os pontos mximos e mnimos da DAP ou DAA. 8) Vis da Obedincia ou Caridade (warm glow) - este vis se manifesta pelo constrangimento das pessoas em manifestar uma posio negativa para uma ao considerada socialmente correta, embora no o fizessem se a situao fosse real. No mtodo referendo com acompanhamento, por exemplo, o entrevistado tende a aceitar todos os valores subseqentes para manter uma disposio anteriormente manifestada. Uma soluo criar mecanismos que forjem um comprometimento real do entrevistado como, por exemplo, um termo de compromisso assinado. 9) Vis da Subaditividade - este vis tem sido apontado pelo fato de algumas pesquisas com MVC terem estimados valores de DAP para servios ambientais que, quando estimados em conjunto, apresentam um valor total inferior soma de suas valoraes em separado por servio. Este vis, entretanto, decorrente das possibilidades de substituio entre estes servios e no de qualquer procedimento inadequado de pesquisa. Sua observncia est de acordo com o contexto econmico da mensurao e, portanto, sua minimizao depender da capacidade da pesquisa em identificar estas possibilidades de substituio. 75 Com base nesta percepo, o analista deve decidir se as alteraes de disponibilidade sero por variao de conjunto ou em separado, explicitando-as nas informaes do questionrio. 10) Vis da Seqencia de Agregao - este outro vis inerente ao contexto econmico da mensurao, quando a medida de DAP ou DAA de certo bem ou servio ambiental varia se mensurada antes ou depois de outras medidas de outros bens ou servios que podem ser seus substitutos. Para contornar este problema, o analista deve julgar um critrio que defina a seqencia de mensurao, de acordo com sua possibilidade de ocorrncia, ou especificar no questionrio, com clareza, que outros recursos ambientais substitutos continuaro em disponibilidade. No que diz respeito Validade, existem trs categorias em estudos do MVC que so: do contedo, do critrio e do construto, como podemos observar de forma mais detalhada a seguir.
1) Validade do Contedo - analisa se a medida da DAP estimada na aplicao do MVC corresponde precisamente ao objeto que est sendo investigado (o construto). As especificidades que envolvem grande parte dos bens ambientais tornam a avaliao da validade do contedo bastante subjetiva. No existe uma regra pr-determinada para a verificao se, num particular questionrio MCV, as perguntas certas foram formuladas da maneira apropriada e, se a medida da DAP expressa realmente o quanto o entrevistado pagaria pelo bem ambiental, caso existisse em mercado para ele. O teste da validade do contedo mostra-se fundamental em muitos aspectos, mas sua formalizao, no estgio em que se encontram os estudos sobre o MVC ainda no foi alcanada, constituindo, assim, uma importante meta a ser perseguida. 2) Validade do Critrio - neste caso, as estimativas obtidas no MVC so comparadas com o verdadeiro valor (o critrio) do bem em questo. Experimentos comparando a DAP hipottica e a verdadeira DAP obtida pela simulao de mercados com a utilizao de pagamentos reais em dinheiro mostram que a DAP hipottica vlida como estimativa da verdadeira DAP. Alm disso, a razo para a aplicao do MVC justamente quando esta comparao no possvel. 3) Validade do Construto - uma forma de testar a validade consiste em examinar se o valor encontrado na valorao contingente est intimamente 76 correlacionado com os valores obtidos para o mesmo bem usando outras tcnicas de valorao. Existem dois tipos bsicos de validade do construto: a validade terica e a validade de convergncia. O teste da validade terica concentra-se na anlise das funes da curva de lances para verificar se atendem s expectativas tericas, observando, por exemplo, como se manifesta o sinal e a significncia estatstica das variveis explicativas nas funes de distribuio ou de regresso da DAP ou DAA. Enquanto o MVC capaz, do ponto de vista terico, de mensurar valores de uso e no-uso. Os outros mtodos captam apenas os valores de uso. Alm disto, o MVC produz medidas ex-ante da DAP, expressando assim graus de desejabilidade, enquanto as anlises dos preos hednicos e do custo de viagem apresentam estimativas referentes a um contexto ex-post, portanto a uma situao j verificada. Tais fatores tornam questionvel a utilidade de se comparar os resultados obtidos com diferentes mtodos, na medida em que se comparam noes de desejabilidade com o que foi realmente realizado e que pode no estar estritamente relacionado com o que se desejava. Embora capaz de medir valor de existncia, a aplicao do MVC no trivial e pode gerar resultados bastante enviesados caso certos procedimentos no sejam corretamente obedecidos. Dessa forma, recomenda-se seu uso em duas situaes distintas que so: (a) quando a determinao dos valores de uso por outros mtodos no satisfatria, ou a determinao do valor de existncia faz-se necessria; (b) quando possvel definir com clareza os bens e servios ambientais a serem hipoteticamente valorados, o que inclui o conhecimento sobre a relao entre o uso destes e os impactos na economia, bem como nas funes ecossistmicas. Como concluses desta parte referente ao MVC so apresentadas as principais recomendaes do Painel do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), rgo americano designado para definir critrios e procedimentos para mensurao dos danos ambientais causados por derramamento de leo. Este painel foi uma conseqncia imediata da necessidade de se definir judicialmente a compensao dos danos causados no Alaska pelo derramamento do petroleiro Exxon Valdez. O Painel reconheceu a validade do mtodo da valorao contingente como o nico mtodo capaz de captar valores de existncia, mas incluiu diversas 77 recomendaes para sua elaborao. As mais importantes esto relacionadas a seguir: 1. Amostra probabilstica essencial. 2. Evitar respostas nulas. 3. Usar entrevistas pessoais. 4. Treinar o entrevistador para ser neutro. 5. Os resultados devem ser apresentados por completo com desenho da amostra, questionrio, mtodo estimativo e base de dados disponvel. 6. Realizar pesquisas-piloto para testar questionrio. 7. Ser conservador adotando opes que subestimem a medida monetria a ser estimada. 8. Devido a recomendao anterior, usar DAP ao invs de DAA. 9. Usar mtodo referendo. 10. Oferecer informao adequada sobre o que est se medindo. 11. Testar o impacto de fotografias para avaliar se no esto gerando impactos emocionais que possam enviesar respostas. 12. Identificar os possveis recursos ambientais substitutos que permanecem inalterados. 13. Identificar com clareza a alterao de disponibilidade do recurso. 14. Administrar tempo de pesquisa para evitar perda de acuidade das respostas. 15. Incluir qualificaes para respostas sim ou no. 16. Incluir outras variveis explicativas relacionadas com o uso do recurso. 17. Checar se as informaes do questionrio so aceitas como verdadeiras pelos entrevistados. 18. Entrevistados devem ser lembrados da sua restrio oramentria, i.e., que sua DAP resulta em menor consumo de outros bens. 19. O veculo de pagamento deve ser realista e apropriado as condies culturais e econmicas. 20. Questes especficas devem ser includas para minimizar o problema da Parte-Todo. 21. Evitar o uso do ponto inicial em jogos de leilo e no carto de pagamento. 78 22. Nos questionrios com formato do tipo escolha dicotmica, o lance mais alto deve alcanar 100% de rejeio e o lance mais baixo deve ser aceito por todos (100% de aceitao). 23. Ter cuidado no processo de agregao para considerar populao relevante. Conforme podemos observar, estas recomendaes requerem um esforo de pesquisa significativo. Entretanto, advoga-se tambm que uma pesquisa realizada adequadamente para certo benefcio em certa regio pode ser transferida para outra regio, caso o benefcio a ser medido seja idntico. Dado que no MVC utilizam-se funes com variveis scio-econmicas, ento possvel captar as particularidades regionais ao introduzirem-se estas variveis relativas outra regio.
O outro mtodo de relevante discusso neste estudo o Mtodo Custos de Viagem (MCV) que segundo Pearce (1993), aquele cujos gastos efetuados pelas famlias para se deslocarem a um lugar, geralmente para a recreao, podem ser utilizados como uma aproximao dos benefcios proporcionados por essa recreao. O mtodo estimaria a demanda por um ativo ambiental, podendo a curva de demanda ser construda com base nos custos de viagem ao ativo ambiental (incluindo-se gastos no preparativo e durante a estada no local). Atravs de entrevistas realizadas no prprio local, com a amostra selecionada, possvel levantar informaes sobre os custos da viagem e outras variveis socioeconmicas que possam ser teis para a determinao da demanda do indivduo pelo ativo ambiental. O mtodo custo de viagem visa estabelecer uma curva de demanda pelo ativo ambiental e a estimar o excedente do usurio. Para Motta (1997) este mtodo estimado com base na demanda de atividades recreacionais, associadas complementarmente ao uso de um stio natural. A curva de demanda destas atividades pode ser construda com base nos custos de viagem a este stio. Basicamente, o custo de viagem representar, assim, o custo de visitao do stio natural. Quanto mais longe os visitantes deste stio vivem, menos uso deste (menor nmero de visitas) esperado que ocorra porque aumenta o custo de viagem para visitao. Aqueles que vivem mais prximos tendero a us-lo mais (maior nmero de visitas), at pelo fato do preo ser menor, pois o custo de viagem diminui. 79 Zonas residenciais so, assim, definidas por distncias ao stio natural e, neste sentido, deve ser conhecida a populao e outras variveis scio-econmicas zonais como: renda per capita, distribuio etria, perfil de escolaridade, e outros. Atravs de uma pesquisa de questionrios realizada no prprio stio natural, possvel levantar estas mesmas informaes em uma amostra de visitantes. Assim, cada entrevistado informa seu nmero de visitas ao local, o custo de viagem, a zona residencial onde mora e outras informaes scio-econmicas. Com base neste levantamento de campo estima-se a taxa de visitao de cada zona da amostra (por exemplo, visitas por cada mil habitantes) que pode ser correlacionada estatisticamente com os dados amostrais do custo mdio de viagem da zona (CV) e outras variveis scio-econmicas zonais. A incluso de variveis scio-econmicas servir para reduzir o efeito de outros fatores que explicam a visita a um stio natural. O escopo deste conjunto de informaes depender, entretanto, da significncia dos resultados economtricos. Esta funo permite, ento, determinar o impacto do custo de viagem na taxa de visitao. Assim, a partir da formulao de uma funo possvel inferir a taxa de visitao esperada de cada zona com base nas informaes zonais. Com esta taxa de visitao zonal estimada, podemos, ao multiplic-la pela populao zonal, conhecer o nmero esperado de visitantes por zona. Deste modo o MCV pode ser igualmente utilizado para estimativas de receitas relativas visitao do parque e uso das suas instalaes comerciais. O mtodo do custo de viagem, pela suposio de complementaridade, no contempla custos de opo e de existncia dado que somente capta os valores de uso direto e indiretos associados visita ao stio natural. Note que indivduos que no visitam o stio, mas apresentam valor de opo ou existncia, no so considerados. Dado o nvel atual de servios ambientais oferecidos num stio natural especfico, o mtodo do custo de viagem busca estimar o excedente do consumidor associado ao usufruto destes servios. Neste contexto, o valor do excedente do consumidor depende da condio de que a oferta de servios ambientais no stio e nos outros stios substitutos no se altere. Caso esta condio no possa ser garantida, a variao da oferta destes servios teria que ser calculada com base numa funo para diversos stios naturais 80 com distintos servios ambientais. Obviamente, esta uma tarefa que exigiria um imenso esforo de pesquisa e transformaes economtricas com significativos problemas de especificao. Qualquer que seja a abordagem importante que os recursos ambientais analisados em cada local sejam bem especificados e possam refletir um especfico servio ambiental. A maior crtica ao mtodo do custo de viagem diz respeito prpria mensurao deste custo. Dada uma determinada distncia, custos para certos meios de transporte so mais baixos do que para outros, mas, podem requerer tempos de viagem maiores. Da mesma forma, o tempo da visita no local tambm mantm uma relao direta com distncia. Assim, comum na literatura o uso de medidas de custo do tempo somadas aos custos de transporte e outros gastos que reflitam o consumo dos servios ambientais. A valorao do tempo, por outro lado, no trivial. A taxa de salrio representa um bom indicador para o custo de oportunidade do lazer. Entretanto, distores no mercado de trabalho sugerem que taxas de salrios podem superavaliar o custo do lazer. Dessa forma, a determinao do custo de viagem com base no tempo poder afetar sensivelmente as estimativas deste mtodo. Outra restrio mensurao do custo de viagem refere-se possibilidade do visitante aproveitar a viagem para visitar outros stios com finalidades distintas. Detectar tal comportamento na pesquisa de campo importante e pode permitir ajustes nas estimativas. Este mtodo, embora teoricamente consistente, apresenta algumas restries nos seus resultados, conforme relacionadas a seguir. (a) Deve ser observado que as estimativas derivadas do MCV so especficas para o valor de uso direto e indireto de certo local. Portanto, a transferncia de estimativas de uma pesquisa de certo local para outro no recomendvel; (b) As hipteses assumidas para determinar os custos de viagem, que devem incluir tempo e excluir o consumo de outros servios no associados ao local, certamente afetam as magnitudes das medidas de variao de bem-estar. Portanto, para contornar ou minimizar estes problemas o analista deve seguir algumas orientaes observadas no manual de valorao econmica elaborado por Motta (1997) que so: 81 1. Realizar um levantamento de dados bastante abrangente e dispor de instrumental economtrico sofisticado; 2. Utilizar o mtodo do custo de viagem somente para a estimao de valores de uso de stios naturais, embora quase sempre restrito ao objetivo de avaliar os benefcios recreacionais; 3. Observar que, embora esta seja uma cobertura bastante restrita das estimativas do valor econmico, o MCV um instrumento valioso para definir e justificar aes de investimentos em stios naturais, inclusive para orientar formas de contribuio, tais como, taxas de admisso, servios de alimentao e outros; 4. Avaliar, antes de aplicar o MCV, se as informaes disponveis permitem captar todos os fatores que esto influenciando as visitas ao parque; 5. Cuidar para que a apresentao dos resultados explicite as hipteses de valorao do custo/tempo de viagem e tambm as hipteses utilizadas para mensurar o excedente do consumidor. Mais uma vez, estimativas alternativas sob outras hipteses devem, sempre que possvel, ser apresentada.
3.2 Os mtodos de valorao econmica como suporte formulao de polticas pblicas ambientais
Ao analisarmos as teorias apresentadas at aqui podemos perceber que a utilizao dos mtodos de valorao como instrumento analtico para a formulao de polticas pblicas ambientais se tornou, nas ltimas dcadas, uma ferramenta essencial para a gesto ambiental. A esse respeito Mota (2001: 45) afirma:
As medidas mitigadoras como instrumento de polticas pblicas ambientais, referem-se s aes fsicas que visam preveno, evitando ou minimizando os efeitos adversos e potenciais de um projeto. Objetivam evitar um impacto no meio ambiente, abandonando ou modificando uma poltica, reparando ou reabilitando o meio ambiente afetado e reduzindo ou eliminando um impacto pela manuteno adequada de procedimentos eficientes.
O mesmo ressalta que pelo fato dos bens e servios ambientais no serem comercializados nas estruturas de mercados competitivos, a formulao de polticas pblicas capazes de abranger os efeitos da degradao das atividades econmico- 82 humanas uma forma de podermos alcanar a eficincia no que tange as decises de cunho ambiental. Isso porque as intervenes feitas pelas polticas pblicas nesses mercados possibilitam eliminar ou mitigar falha de mercado no intuito de criar um modelo que possa servir de incentivo ou parmetro para o comportamento dos agentes econmicos. Devido interdisciplinaridade dos problemas ambientais, a formulao de polticas ambientais deve considerar, necessariamente, os problemas setoriais e locais. Por isso as instituies que lidam com a formulao de polticas pblicas ambientais precisam estar estruturadas no sentido de se adaptar aos novos tempos, isto , as mutaes que tm ocorrido no ambiente devem refletir os anseios em transformar modelos arcaicos de gerir interesses coletivos em novas abordagens, com potencial terico e prtico capaz de captar essas mudanas e propor solues pontuais. Embora os mtodos de valorao econmico-ambiental sejam modelos previamente estruturados, eles podem ser adaptados a situaes e localizaes distintas, ou seja, sua escolha e aplicao dependem da anlise que se pretende realizar, bem como do empreendimento em questo. A valorao dos ativos ambientais relevante porque permite analisar questes de mercado que no se encontram em um mercado convencional, bem como as externalidades de projetos de investimentos e dos problemas judiciais que envolvem os danos ao meio ambiente e a terceiros. Os instrumentos econmicos constituem-se em uma categoria de polticas de controle ambiental, destinada a manter o meio ambiente urbano e a preservar os ecossistemas. A finalidade desses instrumentos proporcionar os melhores resultados em termos de eficcia ambiental e de eficincia econmica, tendo como objetivo assegurar um preo apropriado para os recursos ambientais, de forma a promover seu uso e alocao, o que permite garantir aos ativos/servios ambiental tratamento similar aos demais fatores de produo. Nessa tica podemos dizer que os instrumentos econmicos so compreendidos como redutores de conflitos entre o desenvolvimento econmico e proteo ambiental. 83 A mitigao pode ser conseguida pela imposio de instrumentos econmicos ao mercado, incentivando-o a atingir metas ambientais e facilitando a convivncia entre a economia e o meio ambiente. As polticas pblicas, cuja anlise necessita de instrumentos econmicos, devem se pautar por cinco critrios, segundo OCDE (1991), que so: eficcia ambiental, eficincia econmica, princpio de justia, viabilidade institucional e concordncia das partes. A eficcia ambiental est baseada em uma poltica que deve ser definida em funo de padres ambientais almejados, e o julgamento de sua eficcia leva em conta esses padres, isto , compara seus resultados com os objetivos ecolgicos estabelecidos. J a eficincia econmica s pode ser alcanada atravs da alocao tima de recursos, considerando-se, portanto, o menor custo para a poltica com a obteno de melhores resultados. Assim, sua eficincia pode ser avaliada pela anlise custo-benefcio. O principio da justia alcanado desde que gere justos efeitos distributivos, com uma distribuio equnime de custos para os degradadores do meio ambiente e benefcios para os usurios. Para que se tenha viabilidade institucional a estrutura organizacional essencial, pois, a escolha de qualquer instrumento econmico envolve uma resposta imediata e agilidade no processo decisrio. Por isso, deve ser considerado um arcabouo institucional que possa responder aos problemas de forma imediata. O critrio que diz respeito concordncia das partes enfatiza a relevncia da aceitao de comum acordo em cumprir o instrumento estabelecido, pois, caso isso no ocorra pode acarretar na ineficincia de tal instrumento. No contexto econmico, social e poltico, a poltica ambiental brasileira apresenta um conjunto de temas que, ao longo da histria, tm formado ncleos de decises polticas, bem como uma agenda nacional de regulaes das interaes sociedade e natureza no Brasil. Neste contexto esto inseridas: a regulao dos recursos naturais (florestais, minerais, hdricos e animais); as questes de controle da poluio advindas da urbanizao, industrializao e agricultura tecnificada; a conservao da natureza; o planejamento territorial (questes de regulao de espaos geogrficos 84 determinados); a regulao da natureza como um todo (legislaes gerais) e as questes ambientais globais. Mota (2001) afirma que as medidas mitigadoras, como instrumentos de polticas pblicas ambientais, referem-se s aes fsicas que visam preveno, evitando ou minimizadas os efeitos adversos e potenciais de um projeto. Nesse caso, as polticas pblicas funcionam como medidas preventivas e sua interveno no mercado possibilitam ganhos de eficincia com a eliminao ou mitigao de falhas de mercado. Essas polticas devem ser formuladas por gestores calcadas nas necessidades advindas da sociedade local objetivando garantir a sustentabilidade dos recursos naturais. Na formulao das polticas pblicas ambientais, os aspectos ambientais, assim como o papel da valorao econmica, devem ser levados em considerao, pois, tanto as instituies e agncias burocrticas ligadas s questes ambientais esto envolvidas, quanto os interesses dos atores sociais. Em seu manual para valorao econmica de recursos ambientais Seroa da Motta (1997) enfatiza que os mtodos de valorao so uma tentativa de contribuir para a melhor compreenso acerca das questes ambientais, para a tomada de deciso e gesto ambiental. Desta forma Motta (1997:44) apresenta um resumo organizado em um roteiro com doze principais procedimentos que o analista poder utilizar para orientar um estudo de valorao econmica de um recurso ambiental. Consiste, portanto, num instrumento para ajudar o analista a selecionar o mtodo teoricamente mais apropriado para o processo de valorao desejado. Neste trabalho como o objeto de estudo a utilizao dos mtodos de valorao como instrumento analtico para formulao de polticas pblicas ambientais, os formuladores e tomadores de decises dessas polticas podem usar esse roteiro como um recurso j previamente elaborado e embasado teoricamente. Essa organizao considera etapas que distinguem um segmento exclusivo de valorao; hipteses que definem a correlao entre a variao da disponibilidade do recurso ambiental e o resto da economia; situaes que definem a disponibilidade de informaes que restringem o uso de cada mtodo; procedimentos que indicam os mtodos apropriados para cada situao. O que diz respeito s etapas, trs foram definidas. A Etapa 1 corresponde a identificao dos valores econmicos do recurso ambiental. Esta etapa bsica 85 para o processo de valorao e requer dois procedimentos admitindo que variaes na disponibilidade do recurso ambiental afeta o bem-estar dos indivduos. A Etapa 2 consiste na estimao dos valores de uso. E indica hipteses do funcionamento do mercado apresentando seis situaes de possibilidade e os oito procedimentos resultantes. J na Etapa 3 temos a estimao dos valores de existncia. E esta se restringe ao procedimento de uso do mtodo de valorao contingente, que teoricamente o nico que poder captar o valor de existncia na situao onde um mercado hipottico pode ser construdo. Veremos ento de forma detalhada como esse roteiro deve ser usado partindo do objeto de valorao que representado pela variao na quantidade (ou qualidade) de um recurso ambiental E (QE). Na etapa 1 com a identificao de valores econmicos de E, a primeira hiptese que (QE) afeta o bem estar dos indivduos, ento o primeiro procedimento identificar as parcelas de valor econmico geradas por E. Os valores econmicos que sero identificados dizem respeito ao valor de uso direto (VUD) e corresponde aos benefcios atuais gerados por E pelo seu uso como insumo de produo de um bem ou servio privado e/ou como objeto de consumo final pelos indivduos. O valor de uso indireto (VUI) que so os benefcios atuais derivados das funes ecossistmicas, como, por exemplo, a proteo do solo e a estabilidade climtica decorrente da preservao das florestas; O valor de Opo (VO) que aquele quando o indivduo atribui valor em usos direto e indireto que podero ser optados em futuro prximo e cuja preservao pode ser ameaada; E o valor de existncia (VE) que so aqueles cujos benefcios gerados por E dissociado do uso (embora represente consumo ambiental) e relativos a uma posio moral, cultural, tica ou altrustica em relao aos direitos de existncia de espcies no-humanas ou preservao de outras riquezas naturais, mesmo que estas no representem uso atual ou futuro para o indivduo. O segundo procedimento ainda na etapa 1 identificar as alteraes esperadas em VU e VE decorrentes de (QE) . 86 Na etapa 2, que corresponde a estimao dos valores de uso, a segunda hiptese levantada que variaes na proviso do recurso E (QE) afetam mercados de bens e servios privados. Ento o terceiro procedimento deve selecionar quais bens e servios privados afetados sero analisados. J o quarto procedimento deve estimar a correlao entre (QE) e (VU) e se possvel construir uma funo dose-resposta. Na terceira hiptese os preos de equilbrio dos bens e servios afetados por (QE) no variam. Surge ento a primeira situao 1 em que a funo dose-resposta(DR) e funo de produo do bem ou servio X (Fx), afetado por (QE), podem ser estimadas. E o quinto procedimento calcular (VU) utilizando o mtodo da produtividade marginal. Na segunda situao a funo dose-resposta pode ser estimada, mas a funo de produo no pode. O sexto procedimento calcular (VU) utilizando o mercado de bens substitutos quando: 1- gastos em outros bens e servios privados (S) para compensar (QE) podem ser estimados: utilizar mtodo dos gastos defensivos estimando (qs . ps) que corresponde a (QE); 2- gastos em outros bens e servios privados (S) para repor (QE) podem ser estimados: utilizar mtodo de custo de reposio estimando (qs . ps) que corresponde a (QE); 3- gastos em outros bens e servios privados (S) que seriam evitados se (QE) no ocorresse podem ser estimados: utilizar mtodo dos gastos defensivos estimando (qs . ps) que corresponde a (QE); 4- gastos em outros bens e servios privados (S) em atividades de controle que evitem (QE) podem ser estimados: utilizar mtodo de custos de controle estimando (qs . ps) que corresponde a (QE); 5- produo de outros bens e servios privados (S) seria sacrificada, caso (QE) no fosse evitado, pode ser estimada: utilizar mtodo do custo de oportunidade estimando (qs . ps) que corresponde a (QE). A quarta hiptese corresponde aos preos e quantidades de equilbrio dos bens e servios afetados por (QE) que variam significativamente, mas afetam somente estes bens e servios. J a terceira situao complementar aos bens e servios afetados por (QE). 87 No stimo procedimento deve ser calculada a variao do excedente do consumidor utilizando mercado de bens complementares quando os preos de propriedades ou outro bem composto variam por causa de (QE) e o funcionamento do mercado conhecido (utilizar mtodo do preo hednico); e ainda quando (QE) afeta a visitao a um stio natural e a mensurao do custo de viagem a este stio pode ser realizada consistentemente (utilizar mtodo do custo de viagem). Na quarta situao o mercado de bens complementares no existe ou de difcil determinao. E o oitavo procedimento deve calcular a variao do excedente do consumidor utilizando mtodo de valorao contingente. A quinta hiptese est relacionada a preos e quantidades de equilbrio dos bens e servios afetados por (QE), variam significativamente e afetam toda a economia. Na quinta situao o modelo de equilbrio geral pode ser estimado com pleno conhecimento das funes de produo e dose-resposta relativas E. O nono procedimento deve calcular variaes do excedente do consumidor utilizando modelos de equilbrio geral para determinar novos preos e quantidades de equilbrio. E na sexta situao a estimao do modelo de equilbrio geral no possvel ou torna-se bastante complexo. O dcimo procedimento avalia se uma valorao parcial com os procedimentos de 5 a 8 seriam suficientes para ajudar no processo de deciso. A etapa 3, que corresponde estimao dos valores de existncia traz a sexta hiptese afirmando que variaes na proviso de E (QE), independentemente de qualquer forma de uso atual ou futuro, afetam o bem estar dos indivduos. Na stima situao o mercado hipottico pode ser construdo para captar (VE) decorrente da (QE). O procedimento 11 deve calcular a variao do excedente do consumidor utilizando mtodo de valorao contingente. J na oitava situao o mercado hipottico no pode ser construdo devido a problemas: de informao, incerteza de impactos, desenho de amostra ou escassez de recursos humanos e financeiros. Por fim, o procedimento 12 avalia a importncia relativa de VE no total do valor econmico de E, e analisa se estimativas isoladas de VU para (QE) podem ajudar o processo de deciso. E para melhor compreenso o organograma a seguir demonstra de forma resumida todos as etapas, hipteses, situaes e procedimentos j explanados 88 ALGARISMOS DE DECISO METODOLGICA
ETAPA I IDENTIFICAO DOS VALORES ECONMICOS DO RECURSO AMBIENTAL E HIPTESE I VARIAO DE E AFETA BEM-ESTAR PROCEDIMENTO 1 IDENTIFICAR AS PARCELAS DE VALOR ECONMICO (VU e VE) GERADAS POR E PROCEDIMENTO 2 IDENTIFICAR ALTERAES EM VU e VE DECORRENTES DE VARIAES EM E ETAPA 2 ESTIMAO DE VALORES DE USO HIPTESE 2 VARIAO DE E AFETAM MERCADOS E BENS E SERVIOS PRIVADOS PROCEDIMENTO 3 SELECIONAR BENS E SERVIOS QUE SERO ANALISADOS HIPTESE 3 PREOS DE BENS E SERVIOS NO VARIAM COM E HIPTESE 4 PREOS DE BENS E SERVIOS VARIAM COM E E AFETAM SOMENTE ESTES MERCADOS HIPTESE 5 PREOS DE BENS E SERVIOS VARIAM COM E E AFETAM TODA A ECONOMIA PROCEDIMENTO 4 ESTIMAR CORRELAES ENTRE Q I e VU SE POSSVEL ESTIMAR FUNO DR 89
Fonte: Seroa da Motta (1997) HIPTESE 3
PREO DE BENS E SERVIOS NO VARIAM COM E SITUAO 1
FUNO DOSE- RESPOSTA E FUNO DE PRODUODO BEM OU SERVIOS AFETADO PODEM SER ESTIMADAS PROCEDIMENTO 5
CALCULAR O VALOR DE USO (VU) UTILIZANDO O MTODO DE PRODUTIVIDADE MARGINAL SITUAO 2
FUNO DOSE- RESPOSTA PODE SER ESTIMADA FUNO DE PRODUODO NO PODE SER ESTIMADAS PROCEDIMENTO 6
CALCULAR O VALOR DE USO (VU) UTILIZANDO O MTODO DE MERCADO SUBSTITUTIVO HIPTESE 4
PREO DE BENS E SERVIOS VARIAM COM E E AFETAM SOMENTE ESTES MERCADOS SITUAO 3
RECURSO AMBIENTAL E COMPLEMENTA R A BENS E SERVIOS PRIVADOS PROCEDIMENTO 7
CALCULAR EXCEDENTE DE CONSUMO UTILIZANDO O MTODO DE CUSTO DE VIAGEM OU PREOS EDNICOS SITUAO 4
MERCADO DE BENS COMPLEMENTA RES NO EXISTE OU DE DIFCIL DETERMINAO PROCEDIMENTO 8
CALCULAR EXCEDENTE DE CONSUMO UTILIZANDO O MTODO DE VALORAO CONTINGENTE HIPTESE 5
PREOS DE BENS E SERVIOS VARIAM COM E E AFETAM TODA A ECONOMIA SITUAO 5
PODE SE ESTIMAR MODELO DE EQUILBRIO GERAL COM AS FUNESDOSE- RESPOSTA E DE PRODUO PROCEDIMENTO 9
CALCULAR VARIAES DO EXCEDENTE DO CONSUMO UTILIZANDO MODELO DE EQUILBRIO GERAL SITUAO 6
ESTIMAO DO MODELO DE EQUILBRIO GERAL NO POSSVEL OU TORNA-SE BASTANTE COMPLEXA PROCEDIMENTO 10
AVALIAR SE UMA VALORAO PARCIAL COM PROCEDIMENTO S DE 5 8 SUFICIENTE PARA AJUDAR NO PROCESSO DE DECISO ETAPA 3 ESTIMAO DOS VALORES DE EXISTNCIA HIPTESE 6 VARIAES DE E INDEPENDENTE DO USO, AFETAM BEM-ESTAR SITUAO 7 MERCADO HIPOTTICO PODE SER CONSTRUDO PROCEDIMENTO 11 CALCULAR VARIAO DO EXCEDENTE DO CONSUMO UTILIZANDO MTODO DA VALORAO CONTINGENTE SITUAO 8 MERCADO HIPOTTICO NO PODE SER CONSTRUDO PROCEDIMENTO 12 AVALIAR IMPORTNCIA DE VE NO VALOR TOTAL DO RECURSO AMBIENTAL E SE ESTIMATIVAS ISOLADAS DE VU AJUDAM TOMADA DE DECISO 90 Aps conhecer este modelo construdo por Motta (1997) tornou-se evidente a necessidade de verificar qual o rgo responsvel no Estado do Amap, pela formulao de polticas pblicas voltadas s questes ambientais, pois a partir deste rgo que novas polticas podero ser criadas considerando o modelo apresentado. Neste sentido, apresenta-se a Secretaria de Estado do Meio Ambiente SEMA cuja funo formular e a coordenar as polticas de Meio Ambiente, as polticas fundirias e as polticas de ordenamento territorial do Estado, bem como deve apoiar e supervisionar as atividades desenvolvidas pelas suas entidades e exercer outras atribuies correlatas. Antes de assumir o status de secretaria, a SEMA passou por diversas transformaes no que diz respeito as suas competncias e questes legais. Inicialmente sendo aprovado o regulamento da Coordenadoria Estadual do Meio Ambiente atravs do decreto N. 0304 de 1991 e a CEMA passou a ter a funo de Coordenadoria Estadual do Meio ambiente. Em 1996, atravs da lei N. 0267 de 09 de abril criada a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e no seu art. 2 dispe que ela compete, na forma do regulamento, propor e executar polticas de meio-ambiente, cincia, tecnologia e desenvolvimento sustentvel; coordenar, fiscalizar e controlar as aes institucionais dos rgos que lhe so vinculados. Em seu art. 3 fica criada a Agncia de Desenvolvimento Sustentvel do Amap - ADAP, rgo autnomo, sem personalidade jurdica, vinculada Secretaria de Estado do Meio Ambiente, qual compete captar recursos internos e externos, assessorar diretamente a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, na elaborao de Planos de Fomento dentre as diretrizes propostas, como tambm executar as aes que lhe forem delegadas pelo titular da SEMA. O decreto n. 5304, de 07 de novembro de 1997, regulamenta o artigo 34 e seus pargrafos, da Lei n.0338 de 16 de abril de 1997, que organiza a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Cincia e Tecnologia e dispe no seu art. 2 que Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Cincia e Tecnologia compete a formulao e a coordenao das polticas de Meio Ambiente, Cincia e Tecnologia do Estado; apoiar e supervisionar as atividades desenvolvidas pelas suas entidades vinculadas e exercer outras atribuies correlatas. 91 A lei n. 1073, de 02 de abril de 2007 altera dispositivos da Lei n. 0811, de 20 de fevereiro de 2004, que dispe sobre a Organizao do Poder Executivo do Estado do Amap e d outras providncias. E dispe na Seo VI em seu art. 56 que a Secretaria de Estado do Meio Ambiente tem por finalidade formular e coordenar as polticas de meio ambiente, as fundirias e as de ordenamento territorial do Estado do Amap. Ento, a lei n. 1176, de 02 de janeiro de 2008, nos anexos V e VI da Lei n. 1.073, de 02 de abril de 2007, alteram e dispe sobre a organizao do Poder Executivo do Estado do Amap e no seu art. 1 ficam alterados os que tratam respectivamente da estrutura organizacional bsica e da estrutura de cargos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SEMA. A estrutura organizacional que veremos a seguir aquela que est diretamente relacionada formulao e coordenao das polticas de meio ambiente.
Fonte: Adaptado de documentos SEMA/2010
A partir da observao e compreenso desta estrutura, bem como do conhecimento acerca da funo de cada unidade, fez-se necessrio verificar os instrumentos utilizados por elas para a execuo de suas competncias. Isso porque COORDENADORIA DE NORMAS E POLTICAS AMBIENTAIS ASSESSORIA PARA MUNICIPALIZAO ASSESSORIA DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
GABINETE CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE- COEMA
SECRETRIO ASSESSORIA JURDICA
NCLEO DE AGENDA AZUL NCLEO DE AGENDA MARROM
NCLEO DE AGENDA VERDE 92 este estudo tem como objetivo a demonstrao dos mtodos de valorao como suporte formulao de polticas pblicas ambientais. Sabendo que a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), atravs de sua unidade de Execuo Programtica, e mais especificamente, da Coordenadoria de Polticas e Normas Ambientais, tem a funo de coordenar as aes das agendas marrom, azul e verde e junto com elas elaborar as polticas e normas de meio ambiente, articular com as instituies nos diversos nveis estratgias relacionadas poltica, normas e gesto ambiental, foi realizada uma pesquisa na SEMA, bem como anlise em documentos normativos e administrativos acerca de como realmente se d a elaborao dessas polticas. E para melhor compreenso sobre o trabalho executado sobre as polticas de meio ambiente, foi realizada uma entrevista no estruturada com os responsveis pelo gerenciamento das agendas. Como vimos a Coordenadoria de Polticas e Normas Ambientais est dividida em ncleos representados por cores (azul/marrom/verde) e cada cor corresponde a uma agenda. Essas agendas tm competncias distintas, mas o objetivo o mesmo, isto , elaborar e gerenciar polticas ambientais. Agenda Azul compete o gerenciamento dos recursos hdricos superficiais e subterrneos e para isso utiliza o Plano Estadual de Recursos Hdricos como um dos instrumentos de gesto. O gerenciamento dos ecossistemas urbano como a poluio industrial, o saneamento bsico, a produo e a destinao de resduos e a conservao de energia competncia da Agenda Marrom e seus instrumentos de gesto ainda esto em fase de criao e implementao. A Agenda Verde uma das mais avanadas no que diz respeito elaborao e execuo de suas aes. A ela compete gerir polticas voltadas para a gesto florestal, das reas protegidas, da biodiversidade e dos recursos genticos, bem como a Integrao com as polticas de Governo: Amap Produtivo e Corredor da Biodiversidade; e incentivo a valorizao e utilizao dos recursos florestais (madeireiro e no madeireiros) de maneira sustentvel. Esta agenda cita como exemplos as seguintes polticas j criadas: Cmara Tcnica; recuperao de reas degradadas; unidade de Conservao; biodiversidade; manejo Florestal e servios ambientais. 93 As estratgias de ao utilizadas pela agenda verde dizem respeito implementao da Cmara Tcnica de Florestas (CTFlor), que segundo os responsveis por essa ao, tem sido o brao direito desta Agenda, pois a mesma, versou sobre assuntos importantes para a gesto dos recursos florestais madeireiros e no madeireiros. Outra ao diz respeito implantao e implementao do Grupo de Trabalho da Pesca (GT Pesca). Este grupo ter a incumbncia de versar sobre a Poltica e Normas de Proteo Fauna Aqutica e de Desenvolvimento da Pesca e da Aqicultura no Estado. Outros documentos tambm j foram concludos e publicados pela (CTFlor) como: a IN/SEMA n 04 que dispe sobre Plano de Manejo Florestal Sustentvel para Pequenas Propriedades Rurais PMFS-PPR, publicada dia 18 de novembro de 2009 (IMAP); a IN/SEMA n 03 que dispe sobre Plano de Limpeza de Aaizais - PLA , publicada 18 de novembro de 2009 (IEF) e a Resoluo n 013/2009 COEMA, que dispe sobre Plano de Manejo de Cips dos gneros Heterpsis (titica) e o Clsia (cebolo), principalmente, publicada no dia 04 de agosto de 2009 (SEMA). Alm desses documentos ainda est em andamento a instituio normativa que dispe sobre Reposio Florestal RF (IFR) e o prximo documento a ser tratado a IN que versar sobre as Diretrizes Tcnicas para Planos de Manejos Florestais Madeireiros e no Madeireiros (SEMA). Embora esta agenda em particular j esteja avanando, os tcnicos responsveis pela criao e execuo das polticas ambientais apresentam entraves operacionais que prejudicam o alcance do melhor resultado do trabalho. Dentre os entraves esto: corpo tcnico especializado; demandas do IMAP e SEMA; capacitao e treinamento para o grupo de trabalho; espao fsico limitado; e a falta de equipamentos e recursos financeiros. Para solucionar esses entraves uma das sugestes feitas pelos prprios tcnicos a integrao das coordenadorias nos planejamentos e execuo das aes. Nesse sentido, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) com a funo de formulao e coordenao das polticas pblicas ambientais, no utiliza como instrumento de suporte para a elaborao dessas polticas, os mtodos de valorao econmica. A no utilizao de tais mtodos se d, por vezes, pela falta de conhecimento acerca destes mtodos, como tambm pela falta de profissionais especializados para o cumprimento de funes especficas. 94 Essa realidade no apenas no Estado do Amap, ou mais especificamente, em Macap. Na verdade, a valorao econmica dos recursos naturais ainda um tema que gera dvidas e controvrsias no cenrio internacional (j mais avanado) e principalmente nacional. Por isso, cada vez mais latente a necessidade de estudo e discusso de algo to relevante, que atribuir valor aos bens ambientais. Embora no possam ser comercializados no mercado convencional, essencial tanto para a manuteno da vida humana e no humana, como para o crescimento e desenvolvimento da economia. De fato, sendo afetado pelas atividades econmicas e humanas, necessrio que se d a devida ateno valorao econmica dos recursos naturais como estratgia de defesa da natureza. O apropriao do valor econmico da natureza e seu reconhecimento na formulao e implementao das polticas pblicas uma das recomendaes apresentadas para conciliar o aproveitamento econmico com a sustentabilidade ambiental. A isto se segue a importncia de introduzir instrumentos apropriados de gesto institucional para dar eficcia s polticas assim concebidas. Os mtodos de valorao econmica no esto atrelados a uma atividade econmica especfica, pois no correspondem a um modelo fixo ou fechado, pelo contrrio, so mtodos dinmicos que podem ser adaptados e utilizados de acordo com as necessidades de cada projeto. Visando demonstrar a aplicabilidade da relao entre os mtodos de valorao econmica e as polticas pblicas apresentado neste estudo como exemplo, o caso do Balnerio Municipal de Bonito MS, cujo estudo expe a valorao econmica como suporte a formulao de Polticas Pblicas Ambientais para esta regio. vlido ressaltar que no est sendo demonstrado nenhum caso ocorrido no estado do Amap porque no existe projeto de polticas pblicas, nem do setor pblico e nem do setor privado, que utiliza os mtodos de valorao ambiental como suporte formulao dessas polticas. O desenvolvimento do turismo em Bonito/MS e em toda regio da Serra da Bodoquena conduz a uma reestruturao desse espao, transformando a natureza em uma mercadoria peculiar. E para ser consumida, torna-se necessria a produo 95 de meios de acesso e permanncia, expressos nas vias de transporte, alojamentos, servios de alimentao, dentre outros. Entretanto, as peculiaridades naturais dessa regio, de relevante diversidade biolgica vm sendo expostas a riscos e agresses que preocupam os diversos segmentos da sociedade, no s sul-mato-grossense, mas brasileira. Desse modo, os custos da m utilizao de um determinado recurso acabam gerando prejuzos s comunidades que dele se utilizam ou a outras que, embora no se beneficiem de sua explorao, direta ou indiretamente, tambm contabilizam os custos de sua recuperao, quer seja pelo pagamento de impostos quer seja pela perda da qualidade ambiental. Neste contexto, o ecoturismo ou turismo ecolgico, quando realizado apenas como estratgia de marketing, ou seja, sem o embasamento terico calcado nos princpios da sustentabilidade, conduz a um turismo desordenado, intenso (de massa), que em curto espao de tempo colapsa todo sistema scio-economico- ambiental. O fato que o sistema ecolgico e os recursos naturais so indispensveis para a produo de bens de consumo e servios, porm sua excessiva utilizao inviabiliza o desenvolvimento sustentvel. inegvel a importncia que o turismo desempenha na contemporaneidade, quer como elemento de satisfao de parte das necessidades bsicas do homem moderno, quer como gerador de renda e emprego, circunstncias pelas quais o municpio de Bonito/MS vem despontando como um dos principais plos de importncia regional, e mesmo nacional. Diante do exposto, e considerando o estudo realizado no Balnerio Municipal Bonito/MS, veremos de que forma os mtodos de valorao econmica foram utilizados servindo como suporte formulao de polticas pblicas ambientais para esta regio. Nessa perspectiva, a estimativa do valor de uso dos recursos naturais do Balnerio Municipal, explorados pela atividade de recreao, foi considerada como fundamental para subsidiar as aes de manejo e o planejamento turstico da rea em questo, ao mesmo tempo em que serviu de parmetro para a determinao do valor de multas (ou outro tipo de compensao/punio) por danos ambientais causados ao ecossistema, caso eles venham a acontecer. 96 Dessa forma, a dificuldade na estimativa desses valores acaba gerando uma super-explorao e um uso pouco eficiente dos recursos, j que o aumento na quantidade demandada de um bem para finalidade de recreao pode causar seu congestionamento, provocando uma reduo na qualidade da atividade, bem como na qualidade fsica do meio ambiente. Nessa vertente, os estudos em economia ambiental despontam na busca de metodologias para estimar os valores referidos. Inmeros so os mtodos de valorao ambiental que permitem captar direta ou indiretamente o valor econmico de determinado recurso ambiental, que definido como a soma do valor de uso, opo e do valor de existncia desse recurso. Um dos mtodos utilizados na literatura para a valorao de recursos ambientais explorados pela atividade de recreao o Mtodo do Custo de Viagem, que foi utilizado neste estudo com o objetivo de captar de forma indireta o valor de uso do recurso do Balnerio Municipal bem como estimar os benefcios dessa atividade. O conhecimento desse valor foi de fundamental importncia para subsidiar as decises de manejo e o estabelecimento de polticas tarifrias na cobrana de ingresso da rea de recreao, na medida em que o modelo de demanda dos custos de viagem usa os custos incorridos pelos indivduos, quando viajam para determinado local de recreao, como substituto do preo do bem ou servio. Os objetivos desse estudo foram: estimar os benefcios gerados pela atividade de recreao do Balnerio Municipal de Bonito/MS; estimar e avaliar a demanda turstica para o Balnerio Municipal de Bonito/MS. A metodologia esteve alicerada em trs partes. Na primeira foram apresentados os mtodos de valorao de reas de recreao que so: Mtodo do Custo de Viagem e o Mtodo de Valorao Contingente. Na segunda parte foram apresentados os procedimentos adotados na pesquisa de campo; e finalmente, na terceira foram descritas as variveis que foram utilizadas na estimativa da funo de demanda turstica para o Balnerio Municipal de Bonito/MS. O objetivo do mtodo de custo de viagem estimar uma curva de demanda para a recreao, onde o nmero de visitas funo dos custos de viagem e demais variveis socioeconmicas. 97 De acordo com a teoria econmica neoclssica, esta curva de demanda representa o possvel valor agregado recreao, proporcionado pelo recurso natural em questo. Alm disso, deve estimar a disponibilidade do usurio a pagar para quantidades especificas de recreao. O mtodo de custo de viagem busca estimar os benefcios auferidos pela referida atividade recreativa, a partir dos custos efetivados pelos indivduos at o local de recreao Para o clculo desses benefcios, estimam-se a regresso mltipla utilizando os indivduos ou zonas como observaes. A escolha entre individuo ou zona depende exclusivamente da varivel que for considerada dependente na especificao do modelo. De acordo com Freeman (1979), alguns procedimentos devem ser adotados na utilizao do Mtodo do Custo de Viagem, so eles: dividem-se as reas circunvizinhas ao local de recreao em zonas com o objetivo de estimar os custos de viagem de cada zona ao local de recreao; define-se a taxa de visitao como dias de visita per capita ou freqncia de vista e calcula-se esta taxa para cada zona; calcula-se o custo de viagem de cada zona ao local de recreao; faz-se uma regresso mltipla da taxa de visitao com os custos de viagem e outras variveis socioeconmicas e finalmente encontra-se o melhor modelo que ajuste os dados. De maneira simplificada, o mtodo baseia-se em entrevistas realizadas com os visitantes no local da recreao a fim de coletar informaes sobre os custos de viagem, freqncia de visitas, caractersticas socioeconmicas, tempo de estadia, tempo gasto com a viagem e etc. A partir desses dados possvel estimar a curva de demanda bem como calcular o excedente do consumidor que representa o valor econmico da rea em questo. Ento para cada zona (i) estima-se uma funo do tipo: TVi = f (Ri,CVi, Si, Vqai) (2) Onde: TVi = taxa de visitao da zona i Ri = renda mdia da zona i CVi = custos de viagem da zona i at o local de recreao Si = as demais variveis socioeconmicas Vqai = varivel de qualidade ambiental atribuda pela zona i
98 Esse estudo ainda ressalta a vantagem da utilizao do mtodo de custo de viagem quando permite ao pesquisador testar e inferir hipteses a cerca dos modelos de comportamento dos visitantes que freqentam o local de recreao, o que pode subsidiar os rgos gestores nas aes de manejo e formulao de polticas pblicas para esta rea. Outro mtodo tambm bastante utilizado para valorar reas de recreao o Mtodo de Valorao Contingente (MVC) que permite captar atravs de entrevistas realizadas com os visitantes no local de recreao os valores pessoais para bens sem preo criando para isso um mercado hipottico. Assim, este mtodo permite captar o valor de uso, o valor de existncia e ainda o valor de opo de recurso ambiental na medida em que capta a disposio a pagar das pessoas para assegurar um benefcio, a disposio a aceitar a abrir mo do benefcio, a disposio a pagar para evitar uma perda e ainda disposio a aceitar uma perda. (PEARCE e TURNER, 1990). No entanto, para que o mercado hipottico seja criado o mais prximo do real, informaes sobre as funes do recurso, seus substitutos, a forma de pagamento e o simbolismo do mtodo aplicado devem ser fornecidas aos visitantes. Estes cuidados com o delineamento da pesquisa so fundamentais, na medida em que se no forem considerados, o mtodo de valorao contingente pode apresentar um conjunto de vieses de mensurao associados ao seu uso, o que pode comprometer a tomada de decises em polticas pblicas ambientais. Segundo Abelson (1996) e Bowers (1997) as principais fontes de erro deste mtodo so classificados por: vis estratgico, vis de informao, vis de instrumento e vis hipottico. O vis estratgico ocorre quando os entrevistados percebem que as suas respostas podem influenciar o resultado da pesquisa de tal maneira que os seus custos iro diminuir ou os seus benefcios iro aumentar em relao ao esperado num mercado normal. Numa situao em que perguntado ao indivduo sobre a sua disposio a pagar por uma melhoria da qualidade visual de uma rea prxima de sua casa e ele sabe que no ir pagar, mas que o projeto ser financiado por outras pessoas, estar propenso a declarar um alto valor de disposio a pagar. No entanto, se considerado o caso contrrio, o valor que ele ir declarar ser muito menor. 99 O vis de informao resulta principalmente do nvel da qualidade da informao dada aos entrevistados a cerca do recurso a ser valorado, visto que a natureza hipottica do mtodo exige informaes detalhadas deste recurso. Desse modo, este vis pode ser reduzido se no desenho da pesquisa for utilizado recursos visuais, como fotografias, principalmente para os que no conhecem o recurso que est sendo valorado. J o vis de instrumento resulta da escolha do modo de pagamento da disposio a pagar (DAP), na medida em que algumas taxas so mais onerosas que outras e o uso delas influenciaro a resposta dos entrevistados. Este vis pode ser neutralizado se forem oferecidos aos entrevistados outras maneiras de administrao da DAP, que, por exemplo, poderia ser realizada por intermdio de uma Sociedade de Protetores da Natureza ou alguma associao com o mesmo fim atravs de pagamento de carn mensal. E finalmente, mas no menos importante, o vis hipottico resultante das prprias diferenas entre o mercado real e o mercado hipottico construdo para a aplicao do mtodo. No mercado real os indivduos se sujeitam a maiores custos quando erram o preo de um bem o que no ocorre quando se trata de um mercado hipottico j que o entrevistado atribui um valor simblico para DAP. A partir da descrio das caractersticas principais dos mtodos do Custo de Viagem e Valorao Contingente possvel justificar a escolha do primeiro para a realizao desta pesquisa. De fato, apesar do mtodo de valorao contingente captar os valores de uso, de opo e de existncia dos recursos ambientais, conforme explanado acima, este mtodo requer um alto custo para a sua aplicao considerando neutralizar os seus potenciais vieses. Devido a isso, nesta pesquisa optou-se pela utilizao do mtodo do Custo de Viagem pela facilidade de sua aplicao e principalmente pelo fato deste mtodo permitir estimar a funo de demanda por turismo e a partir dela mensurar de forma indireta o valor de uso da atividade recreativa do Balnerio Municipal atendendo ao objetivo desta pesquisa. Neste sentido, a pesquisa de campo esteve estruturada da seguinte forma: elaborao dos Questionrios; estimativa da amostra; aplicao dos questionrios; Tabulao e Anlise dos dados, conforme demonstrado a seguir.
100 1- Elaborao dos Questionrios: visando responder ao modelo dos Custos de Viagem divididos em quatro blocos especificados abaixo: Bloco 1: Percepo Ambiental O primeiro bloco foi elaborado com o objetivo de captar o nvel de preocupao e esclarecimento dos visitantes a cerca de problemas ambientais globais como os desmatamentos, poluio das guas, etc. Isto mede de certa forma, o quanto os visitantes problematizam o local visitado. Bloco 2: Objetivos da visita Este bloco teve como meta captar o motivo da visita do turista ao Balnerio, os critrios de escolha e principalmente a sua freqncia de visita bem como o tempo de permanncia no local. A varivel tempo de permanncia foi til no clculo do custo de oportunidade de tempo, fundamental no modelo de custos de viagem. Alm disso, procurou-se captar quais outros atrativos do municpio os turistas costumavam visitar, a fim de medir a ordem de preferncia em relao ao Balnerio e sua importncia no total dos benefcios da viagem. Bloco 3: Avaliao do local pelo turista Neste bloco, foi solicitado aos visitantes que avaliassem as estruturas fsicas, a conservao do local e os servios prestados pelo Balnerio numa escala de zero a dez. Esta avaliao permitiu conhecer o grau de satisfao dos usurios em relao ao local visitado e estabelecer os fatores que influenciam no valor de uso do recurso, bem como possibilitar o subsdio ao planejamento da atividade turstica pelos rgos gestores competentes. Bloco 4: Aspectos Socioeconmicos No conjunto dos questionrios, os aspectos socioeconmicos foram inseridos no ltimo bloco, pois de acordo com os resultados obtidos na realizao dos pr- testes, foi identificado que o momento em que os entrevistados respondiam melhor questes a cerca de sua renda familiar, seus custos de viagem e outros, era aps toda a abordagem feita anteriormente devido a segurana que passavam a depositar no entrevistador.
2- Estimativa da amostra Para que a amostra fosse estimada de maneira adequada, primeiramente buscaram-se junto a Secretaria Municipal de Turismo, os dados referentes 101 freqncia de visitao mensal do Balnerio Municipal de Bonito nos ltimos trs anos (96, 97, 98). Decidiu-se concentrar o estudo no perodo de pico (dez, jan, fev) pela maior freqncia de turistas. Com base nesse levantamento e considerando a mdia da populao de 27.206 visitantes neste perodo, a amostra foi calculada com uma confiabilidade de 95% e 4,8% de erro para as suas estimativas, adotando a probabilidade de fracasso igual probabilidade de sucesso.
3- Aplicao dos questionrios Antes de iniciar a coleta de dados, duas acadmicas do 3o ano do Curso de Cincias Habilitao em Biologia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, foram treinadas durante o ms de outubro de 1999, com o objetivo de simular a aplicao dos questionrios e testar a confiabilidade do instrumento. Aps esse treinamento, foram realizados pela equipe de campo (a autora do trabalho e as duas acadmicas) trs pr-testes com uma amostra aleatria de visitantes do Balnerio Municipal, onde se procurou identificar em que momento os entrevistados respondiam melhor as questes referentes aos aspectos socioeconmicos e custos de viagem alm de averiguar possveis ajustes no instrumento. Considerando os resultados destes pr-testes as questes referentes aos aspectos scio-econmicos foram inseridas no ltimo bloco dos questionrios. Dessa forma, foram realizadas 440 entrevistas com os visitantes do Balnerio Municipal. As entrevistas foram realizadas no momento em que os visitantes comeavam a se preparar para sair do local de recreao e apenas um membro da famlia era entrevistado.
4- Tabulao e Anlise dos dados Aps a triagem, 19 questionrios foram descartados da amostra, devido a erros de preenchimento, alm de atitudes displicentes por parte dos entrevistados. Assim sendo, restaram 421 dados que foram tabulados no programa de anlise estatstica SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) verso para Windows. Os dados foram analisados visando responder aos dois objetivos desta pesquisa: avaliao da demanda turstica e a estimativa dos benefcios auferidos pelos visitantes do Balnerio Municipal. 102 O clculo dos custos de viagem e as variveis utilizadas na estimativa da funo de demanda turstica do Balnerio Municipal de Bonito foram organizados da seguinte forma:
1 Custos de Viagem (CV) Para esta varivel foram considerados os gastos do turista na visita ao Balnerio Municipal (Gbaln) incluindo alimentao, ingresso e souvenirs, os gastos com hospedagem (Ghosp), os gastos com transporte (Gtransp) incluindo gastos com combustvel e outros gastos com o veculo como troca de leo, reviso etc, alm do custo de oportunidade do tempo de durao da viagem (COT). Algebricamente o CV pode ser escrito da seguinte forma:
CV = Gbaln + Ghosp + Gtransp + COT (3)
Para o clculo do combustvel foi considerada uma mdia de gasto para o veculo de 10km/l e o valor do litro foi considerado o cobrado na regio. Para os turistas que utilizaram para nibus ou avio, o gasto com transporte foi admitido ser igual ao preo pago pelas respectivas passagens. O custo de oportunidade do tempo (COT) entendido como o valor que o usurio estaria deixando de ganhar ao utilizar o seu tempo numa viagem, apesar de considerado como uma varivel importante na estimativa da funo de demanda de recreao, no est sendo devidamente abordado pela literatura vigente. Existem duas abordagens para o COT, onde na primeira ele considerado como uma varivel independente e a segunda, mais utilizada na literatura, somado aos gastos individuais para gerar os custos de viagem. No entanto, o custo de oportunidade de tempo (COT) para essa pesquisa foi calculado com base nos trabalhos realizados recentemente por NAVRUD & MUNGATANA (1994) e RICHARDS & BROWN (1992) sendo calculado como o produto da soma do tempo gasto na viagem e o tempo de permanncia do visitante no Balnerio pela taxa de salrio temporal. Finalmente, este custo foi somado aos outros gastos para gerar os custos de viagem como descrito acima. Ento COT pode ser escrito algebricamente da seguinte forma:
COT = (Tperm + Tviag)xTst (4) 103 onde:
COT= custo de oportunidade do tempo Tperm = tempo de permanncia do visitante em horas Tviag = tempo de viagem em horas Tst= taxa de salrio temporal ($/h)
Apesar de variar o nmero de horas de trabalho por dia e o nmero de dias de trabalho por ms entre os visitantes, para efeito desta pesquisa considerou-se como sendo os mesmos para todos os entrevistados. Dessa forma, a taxa de salrio temporal ( Tst) foi derivada da renda mensal, admitindo que os visitantes trabalham em mdia 24 26 dias no ms e 8 horas a cada dia. Esta taxa foi calculada ento da seguinte forma:
Tst= Renda 240
2 Variveis Socioeconmicas As variveis socioeconmicas consideradas importantes na estimativa da funo de demanda turstica so: renda familiar mensal, idade e grau de escolaridade. No entanto, a varivel renda foi a que apresentou maior correlao e por esse motivo foi mantida no modelo. Para esta varivel espera-se um sinal positivo para os seus parmetros. Isto porque pessoas com nvel de renda mais elevado tem maior possibilidade de visitar com maior freqncia locais distantes.
3 Variveis qualitativas As variveis qualitativas entendidas como sendo quelas referentes a tempo de permanncia do visitante no local, freqncia de visitao, nvel de preocupao dos visitantes com os problemas ambientais e com a preservao do recurso para as geraes futuras e a avaliao do cuidado da administrao com a conservao do rio foram testadas em ambos os modelos. No entanto, a que apresentou maior correlao foi a avaliao do aspecto cuidado com a conservao do rio, includo como varivel independente no modelo de zonas.
104 Resultados Alcanados Os resultados referentes estimativa e anlise da funo de demanda por turismo no Balnerio Municipal de Bonito, bem como os benefcios da atividade recreativa proporcionada aos seus visitantes, foram apresentados. Tais resultados consideraram os dados agregados em anis e em zonas, conforme descrito na metodologia do trabalho. O primeiro permite estimar, de maneira simplificada, os benefcios auferidos aos visitantes, a partir dos respectivos locais de procedncia delimitados pelas faixas de distncia e o segundo permite mensurar esses benefcios para cada local amostrado. Dos resultados estimados pelas duas funes de demanda, constatou-se que os benefcios da atividade recreativa do Balnerio variam de acordo com o procedimento adotado. A anlise dos benefcios do Balnerio, a partir da estimativa das duas funes de demanda, foi validada na medida em que para os dados agrupados em anis foi possvel verificar, de modo simplificado, os excedentes, de acordo com as respectivas faixas de distncia ao atrativo. Alm disso, a estimativa da funo de demanda, a partir dos dados agrupados em zonas, possibilitou avaliar o excedente de cada local de procedncia dos visitantes. Nesse contexto, o valor econmico do Balnerio Municipal de Bonito, representado pelo excedente anual (R$2,4 a R$2,8 milhes) poder, entre outras coisas, servir aos gestores ambientais como parmetro para cobrana de multas e/ou indenizaes, caso esse local venha a ser degradado. Tambm constatou-se que o excedente mdio per capita por visita pode ser utilizado como indicativo no estabelecimento de polticas tarifrias, na medida em que representa a disposio a pagar das pessoas para usufruir do espao em questo. Analisando os principais resultados referentes anlise da demanda turstica foi possvel constatar ainda que 77% dos visitantes do Balnerio Municipal so provenientes do Estado de Mato Grosso do Sul e que a demanda de outros estados e turistas estrangeiros ainda incipiente. Da amostra pesquisada 54,4% dos visitantes so do sexo feminino e 45,6% do sexo masculino. No que se refere principal ocupao dos visitantes, os 105 resultados apontam que 35% dos visitantes so profissionais assalariados, 22% profissionais liberais, 11% comerciantes e que 32% tm outras atividades. Constatou-se ainda que 64,3% dos visitantes entrevistados permanecem no municpio por um perodo de at 3 dias, 25,6% permanecem de 3 a 7 dias, 7,7% de 7 a 15 dias e apenas 2,4% acima de 15 dias. Em relao faixa de renda familiar mensal dos residentes, constatou-se que 54,8% possuem renda de R$136,00 a R$ 600,00 e que 20,2% de R$600,00 a R$ 1000,00, 15% de R$ 1000,00 a R$ 1600,00 e 10% superior a R$1600,00. J no que se refere faixa de renda familiar dos turistas, constatou-se que a a maioria representada por 43,2% possuem renda superior a R$1600,00, 22,2% de R$1000,00 a R$1600,00, 20% de R$ 600,00 a R$ 1000,00 e 14,6% possuem renda de R$136,00 a R$600,00. Observou-se ainda que 50,5% dos turistas estavam visitando o Balnerio e o municpio pela primeira vez e que tem como principal motivo de viagem a procura de lazer e recreao. E finalmente, foram apresentadas as mdias atribudas pelos visitantes numa escala de 0 a 10 referentes aos quesitos: espao fsico do estacionamento, qualidade das lanchonetes, quantidade e limpeza dos banheiros, rea de churrasqueira, segurana e trabalho dos salva-vidas, quantidade de lixeiras, conservao do rio e da rea do bosque do Balnerio Municipal de Bonito MS. Considerando este estudo e os resultados alcanados, vlido ressaltar que o Estado do Amap no possui nenhum projeto pensado e executado utilizando mtodos de valorao econmica como instrumento de suporte para a formulao de polticas pblicas ambientais. O estudo apresentado sobre Bonito/MS leva em considerao as riquezas e belezas naturais dessa regio, centradas em grande parte nos seus rios de guas cristalina. Nesta perspectiva, e fazendo um comparativo, indubitvel o potencial que o Estado do Amap possui, para o desenvolvimento do turismo ecolgico. Por isso, relevante e necessrio apresentar algumas informaes sobre tais potencialidades. O Amap um dos 26 Estados que integram a federao brasileira. Como Territrio Federal, passou 45 anos sob a jurisdio direta do Executivo Federal. Foi elevado condio de Estado em 1988, por deciso inscrita nas Disposies Transitrias da Constituio. 106 O Amap tem um territrio caracteristicamente tropical (equatorial). Dos Estados litorneos brasileiros, o mais setentrional. A linha do Equador corta o sul do Estado, sendo que a maior parte de suas terras e guas est localizada no hemisfrio norte. o Estado que se localiza margem esquerda do rio Amazonas. A capital Macap est situada sobre a linha do Equador, sendo a nica capital brasileira nessa condio. Juntamente com o Par, o Amap tem, no delta do rio Amazonas, uma combinao nica na Amaznia de litorais marinhos e fluviais. A classificao oficial do clima do Amap tropical supermido. O Estado possui duas regies climticas principais. Uma delas mida com um ou dois meses secos (setembro e outubro), e predomina sobre a maior parte do interior do Estado oeste, sul, norte e toda a parte central. A outra mida com trs meses secos (setembro, outubro e novembro), registrada na maior parte do litoral, a leste. A cobertura florstica nativa do Amap apresenta pelo menos seis grandes tipologias de vegetao (ou comunidades vegetacionais) que so: florestas tropicais midas latifoliadas de folhagem permanente; cerrados; manguezais; restingas costeiras; lagoas e alagados de gua doce ou salgada (ou campos inundados ou campos de vrzea); e as florestas de palmeiras. A vegetao natural do Amap, em seu conjunto, tem ao menos duas caractersticas notveis. Em primeiro lugar, destaca-se o baixo grau de alteraes antrpicas em quase todas as formaes. A nica exceo so os cerrados, principalmente em torno de Macap, que sofreram um elevado nvel de modificao em funo de atividades humanas no passado e ainda comuns no presente. No entanto, muitos campos cerrados mais afastados de Macap ainda parecem conservar quase integralmente as condies florsticas e fitofisionmicas primitivas. Quanto aos campos inundados, ainda relativamente bem preservados, existe a preocupao com os efeitos ambientais da pecuria bubalina, em funo do regime de criao extensiva, de sua resistncia e do grande crescimento que os rebanhos demonstraram nos ltimos anos. Os manguezais do Amap so, alis, considerados os mais preservados de todo o litoral brasileiro. Florestas nativas pouco ou muito pouco alteradas a regra comum no Estado. O Governo do Estado do Amap (GEA), juntamente com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), SUDAM (Superintendncia do 107 Desenvolvimento da Amaznia) e EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecurias), assumiram uma viso bastante parecida em relao vocao presente e futura do Amap, viso essa inserida nos planos, programas e projetos governamentais que enfatizam a importncia das riquezas naturais e o estado de preservao dos ecossistemas amapaenses. O GEA props, com base no conceito de Corredor de Biodiversidade, o uso sustentvel das riquezas naturais, em combinao com tecnologias apropriadas, conservao e preservao da natureza, alm de pesquisa cientfica, educao ambiental e ecoturismo. Diante do que foi apresentado sobre Bonito/MS e considerando as potencialidades do Estado do Amap, este estudo revela que possvel utilizar mtodos de valorao para subsidiar a formulao de polticas pblicas ambientais exeqveis. Tais polticas podem estar pautadas naquilo que configura o grande desafio de qualquer estratgia de desenvolvimento, que segundo Sachs (2007) a busca de harmonia entre: a equidade (cujo tem objetivos sociais); a prudncia ecolgica (considerando as presentes e futuras geraes); e a eficcia econmica (que busca fazer bom uso dos recursos materiais bem como da mo de obra, partindo do ponto de vista macrossocial) Para isso necessrio colimar os conhecimentos acerca dos mtodos de valorao econmico-ambiental, os princpios que regem o direito ambiental, associados s belezas e recursos naturais que o Estado do Amap possui e assim poderemos, de fato, conciliar desenvolvimento econmico garantindo as presentes e futuras geraes um ambiente de qualidade.
108 CONSIDERAES FINAIS
As cincias econmicas tm muito a contribuir para a evoluo do pensamento econmico-ambiental, em grande parte devido interdependncia entre decises de mercado e natureza. Os conceitos fundamentais de preo e comportamento racional podem ser usados tanto para analisar a efetividade das polticas ambientais como para criar solues alternativas. Pensar em proteo do meio ambiente uma clara opo pela continuidade desta sociedade. A aceitao de que a qualidade de vida corresponde tanto a um objetivo do processo econmico, como a uma preocupao da poltica ambiental, demonstra que as normas de proteo do meio ambiente no buscam simplesmente a obstruo de processos econmicos e tecnolgicos, mas sim a compatibilizao do processo produtivo a partir da utilizao dos recursos ambientais. Hoje, praticamente toda deciso sobre meio ambiente guiada pelo que se tornou um objetivo global: qualidade ambiental, desenvolvimento sustentvel e biodiversidade. O desenvolvimento sustentvel tomou o lugar do crescimento econmico e da simples expanso da produo, no sendo apenas mais um modismo, mas uma necessidade para a continuao da vida no planeta. No se trata de impedir o progresso econmico, mas realiz-lo de uma forma que possibilita, ao mesmo tempo, eficcia e eficincia na atividade econmica e manter a diversidade e a estabilidade do meio ambiente. Com isso os gestores podem tomar a deciso de investir na mitigao dos impactos ambientais causados pela empresa at o ponto em que estes diminuram sua capacidade produtiva, a fim de recuperar o potencial de produo perdido. Muitas evolues ainda devero ocorrer para que a gesto ambiental obtenha mais notoriedade em todos os setores e segmentos econmicos, porm, o que se deve ressaltar so as mudanas implementadas na considerao da questo do meio ambiente e de sua importncia para se atingir o desenvolvimento sustentvel. Sendo assim, ferramentas baseadas nas teorias econmicas e administrativas devero ser criadas, adaptadas e praticadas para que estes objetivos possam ser atingidos. O estudo de mtodos capazes de contribuir com toda problemtica ambiental colabora de maneira significativa para que os recursos possam ser utilizados de maneira eficiente e racional. Por isso, a discusso a respeito de mtodos capazes 109 de atribuir valor monetrio ao que at hoje se considera como sem valor, muito significativa. Alm de indicar caminhos, promove a discusso em torno do tema, esclarecendo sociedade a questo. Ressalta-se ainda, a importncia da utilizao dos instrumentos de valorao na formulao de polticas pblicas e na instituio de taxas e multas aplicadas aos usurios dos recursos ambientais que se tornam, nesse cenrio, de vital importncia para a manuteno da vida e das atividades produtivas. Sabemos que o valor de uma externalidade deve ser internalizado de modo que uma soluo eficiente possa ser identificada. Assim, o significado do valor integrado (econmico/ecolgico) adquiriu dimenso holstica e visto como uma das ferramentas teis pra a justificao das polticas pblicas ambientais, por considerar os princpios de economia ecolgica e economia ambiental, usados nos mtodos de valorao. A valorao econmica dos recursos naturais fundamental para elaborao eficaz de planejamento e para a execuo de projetos tambm para fornecer subsdios aos rgos responsveis pela elaborao e execuo de polticas de conservao desses recursos, principalmente no clculo de multas ou outro tipo de punio/compensao por danos ambientais causados aos recursos naturais. De posse do valor estimado os rgos podero estabelecer o valor a ser pago como compensao sociedade. Salienta-se tambm que o valor estimado poder servir de indicador para justificar a solicitao de recursos Pblicos e Privados para manuteno das funes da rea natural valorada, como tambm para o estabelecimento de cobrana de taxas de entrada. Com esse raciocnio, a valorao enfocada de modo integrativo, em que os entes da natureza se integram formando um s elemento, singular, representando a totalidade. moderna gesto do processo decisrio ambiental foram incorporados os instrumentos regulatrios e econmicos. A esses, agregam-se um grupo de providencias, que somente obtm efetividade se a autoridade ambiental tiver sido constituda. O papel da economia contempornea inserir os ativos ambientais no processo de negociao, para garantir a sobrevivncia das espcies e os direitos das futuras geraes. Esses instrumentos, entre outros, tem estas finalidades, pois 110 buscam assegurar o uso disciplinado do meio ambiente e resguardar os interesses de seus entes. O sucesso ou fracasso na deciso de polticas pblicas ambientais depende da inter-relao de vrios fatores (vontade poltica, arcabouo institucional, instrumentos de regulao e instrumentos econmicos). A escolha de um instrumento econmico apropriado depende do prvio conhecimento da realidade ambiental e do entendimento destes fatores. Assim, na mensurao dos danos ou benefcios ambientais, o que se estima o sinal de preo que o usurio est disposto a pagar ou receber pelo seu usufruto do recurso natural, e no o valor, cujo conceito envolve fundamentos que esto alm da teoria econmica neoclssica. Neste contexto, vrios mtodos de valorao so propostos com o objetivo de estimar o valor de danos e benefcios decorrentes das atividades antrpicas, destacando-se, sobretudo, os mtodos de valorao contingente e custo de viagem, cujo foram apresentados neste trabalho. pretensiosa a viso de que a valorao dos ativos naturais pode ser feita somente pela tica dos fluxos econmicos. O termo valorar significa atribuir aos ativos naturais um significado que vai alm da teoria de mercado, pois a esses recursos esto incorporados atribuies ecolgicas que so desconhecidas da cincia. A finalidade dos instrumentos econmicos proporcionar os melhores resultados em termos de eficcia ambiental e de eficincia econmica, tendo como objetivo assegurar um preo apropriado para os recursos ambientais, de forma a promover seu uso e alocao, o que permite garantir aos ativos e servios ambientais tratamento similar aos demais fatores de produo. A utilizao dos mtodos de valorao subsidiando polticas pblicas ambientais demonstra o papel do que podemos denominar nova economia, capaz de agregar desenvolvimento econmico e sustentabilidade ambiental, partindo dos princpios do direito ambiental que foram apresentados neste estudo como basilares para esta relao. As polticas pblicas precisam ser rearranjadas com base em novos paradigmas, para compatibilizar os princpios da economia com a realidade ambiental e social, dentro de uma viso sustentvel de desenvolvimento. 111 Portanto, a valorao deve est presente em todas as decises pblicas ambientais, servindo de subsdios para analisar custos imputados ao meio ambiente, estimar os benefcios dos usurios de recursos naturais e auxiliar o gestor na tomada de deciso. Assim, a idia de sustentabilidade implica na premissa de que preciso definir uma limitao nas possibilidades de crescimento e um conjunto de iniciativas que levem em conta a existncia de interlocutores e atores sociais relevantes e ativos atravs de prticas educativas e de um processo de dilogo informado, o que refora um sentimento de co-responsabilizao e de constituio de valores ticos. Isto quer dizer, que a gesto acima de tudo, um conceito de como deve ser feita a administrao de um sistema, de tal forma que fique assegurado um funcionamento adequado, o seu melhor rendimento, como tambm, sua perenidade e seu funcionamento. A gesto pressupe uma utilizao racional do potencial dos recursos naturais e humanos disponveis, subutilizados ou simplesmente ignorados; bem como, a criao e adaptao de recursos tecnolgicos, metodolgicos e formas de organizao social e poltica. Nesse sentido, a avaliao de polticas pblicas configura-se como um instrumento significativo para a verificao dos resultados de programas e polticas de desenvolvimento local, pois atravs dessas avaliaes que podemos mensurar os custos/benefcios e as causas e conseqncias da efetividade ou no das polticas, bem como o nvel de organizao da sociedade nos diversos segmentos envolvidos e a sustentabilidade desses processos. A avaliao de polticas pblicas em mbito local possibilita, por exemplo, a reflexo sobre qual padro de desenvolvimento vem sendo implementado tais polticas, em uma determinada localidade ou municpio, a partir da obteno de informaes que indiquem quais os objetivos da poltica pblica em questo. Portanto, o desafio desse momento o da implementao de metodologias capazes de garantir a eqidade e sustentabilidade do desenvolvimento, a partir da capacidade de continuidade dos efeitos benficos dos programas e polticas, permitindo tambm, uma distribuio de maneira justa, compatvel e tornando mais sensato e efetivo os gastos pblicos. E a participao de diversos atores sociais uma condio essencial, pois como diz um provrbio africano ns no herdamos o mundo dos nossos pais, mas 112 tomamos emprestado dos nossos filhos. Isto significa dizer, que alm da participao, temos o desafio de sair da esfera do discurso para sermos mais pragmticos, no sentido da implementao de metodologias capazes de possibilitarem o alcance de resultados desejados e que esses resultados sejam aqueles desejados por todas as sociedades presentes e futuras. Por isso a valorao entendida aqui como uma ferramenta de apoio concepo, formulao e deciso das polticas pblicas. Ela se apresenta como uma forma de gerar cientificamente indicadores convincentes para a poltica de conservao das reas naturais, propiciando a realizao de uma anlise social de custo-benefcio para projetos privados e governamentais. O que perceptvel ao final deste estudo que no podemos considerar as metas ecolgicas e econmicas como conflitantes, pois, devemos dar-nos conta de que os sistemas econmicos dependem, para sua sobrevivncia, dos sistemas ecolgicos de sustentao da vida. Incorporando em nosso raciocnio e aes o conceito de complementaridade entre o capital natural e aquele criado pelo homem.
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