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Estrutura e Propriedades dos Materiais Estruturas Amorfas

UFPA ITEC FEM Prof. Jorge Tefilo de Barros Lopes



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7 ESTRUTURAS AMORFAS

7.1 Introduo
Tambm chamadas de estruturas vtreas, as estruturas amorfas so formadas por
arranjos atmicos aleatrios e sem simetria ou ordenao de longo alcance.
Esse tipo de estrutura pode ser encontrado em gases, em lquidos e em certos slidos
representados basicamente pelo vidro. Os dois primeiros so fluidos e da maior
importncia em engenharia, j que incluem muitos dos nossos combustveis, o ar
necessrio combusto, e tambm a gua.
Por definio, um material apresenta estrutura amorfa se quando resfriado a partir do
lquido exibir um aumento contnuo de sua viscosidade (Figura 7.1).
Quando o material atinge uma determinada temperatura, definida como temperatura
de transio vtrea, T
v
, o valor da sua viscosidade da ordem de 10
12
e 10
13
P (poise, 1P =
1 g cm
1
s
1
), que semelhante ao valores da viscosidade de materiais no estado slido.
Nesta situao, devido ao limitado movimento atmico, o rearranjo dos tomos no
possvel e a cristalizao do material no ocorre. Por outro lado, se durante tal resfriamento
a cristalizao do material ocorre, a viscosidade do mesmo abruptamente alterada,
atingindo valores prximos de 10
12
P.

Figura 7.1 - Variao da viscosidade com a temperatura para materiais
vtreos e cristalinos (CARAM, 2000).


Cristal
Vidro
Lquido
Cristalizao
Vitrificao
V
i
s
c
o
s
i
d
a
d
e

Temperatura
T
v
T
f
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Outra forma de diferenciar o processo de formao da estrutura cristalina
(cristalizao) da estrutura amorfa (vitrificao) a medida de variao de volume durante
o resfriamento do material lquido (Figura 7.2).
Quando o material cristaliza-se, ocorre uma rpida variao de volume em uma
determinada temperatura, definida como a temperatura de fuso (T
f
). Este fenmeno
resultante da reorganizao dos tomos para formar um cristal do material. Se o material
apresenta o processo de vitrificao durante o resfriamento, a variao de volume
contnua, j que a ordenao dos tomos no ocorre totalmente.


Figura 7.2 - Variao do volume especfico com a temperatura para materiais
vtreos e cristalinos (CALLISTER, 2002).

Portanto, possvel afirmar que o vidro tem estrutura de um lquido congelado.
Este congelamento se d temperatura de vitrificao, que inferior temperatura de
cristalizao.
A estrutura amorfa geralmente observada em materiais que poderiam apresentar
estrutura cristalina se solidificados sob condies especiais. Alguns compostos cermicos
base de xidos, silicatos, boratos e aluminetos formam estruturas vtreas em condies
normais de solidificao.
A slica (SiO
2
) o exemplo clssico de material que em condies especiais pode
exibir o processo de cristalizao e formar o quartzo; entretanto, se o resfriamento da
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slica, a partir do lquido, ocorre em condies normais, a estrutura resultante amorfa
(Figura 7.3).


Figura 7.3 Desenho esquemtico das estruturas da slica
(adaptada de CALLISTER, 2002).

7.2 Metais amorfos
Alm dos vidros, uma classe de materiais slidos que apresenta estrutura amorfa e
destaca-se pelo interesse tecnolgico que desperta, so os metais amorfos, tambm
conhecidos como vidros metlicos.
Os vidros metlicos representam uma nova classe de materiais que comeou a ser
desenvolvida com sucesso na dcada de 60. So obtidos a partir do estado lquido, por
resfriamento ultra-rpido, ou seja, com taxas de resfriamento prximas de um milho de
graus por segundo.
Um material desse tipo foi obtido pela primeira vez no CALTEC (Califrnia Institute
of Technology, EUA), em 1960, a partir da solidificao da liga Au-25%Si. Tal feito
provocou interesse imediato da comunidade cientfica, pois at aquela data sempre se
associava a estrutura atmica perfeitamente organizada (cristal) a um slido metlico.
Embora os metais amorfos apresentem estruturas semelhantes a dos vidros
tradicionais, eles exibem algumas caractersticas bastante diferenciadas destes, destacadas
a seguir:

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Como so constitudos por elementos metlicos, os metais amorfos so ligados entre si
por ligaes metlicas e, portanto, apresentam elevadas condutividades eltrica e
trmica, bem como so dcteis;
Os metais amorfos no so transparentes como os vidros base de xidos, nem so
frgeis;
Geralmente, mostram qualidades particulares como facilidade de magnetizao, elevada
dureza, alta tenacidade, resistncia corroso muito boa e expanso trmica reduzida;
Apresentam propriedades mecnicas bastante interessantes, como elevada resistncia
mecnica (a qual pode chegar prxima do valor terico de monocristais sem
discordncias), podendo ser empregados como elemento de reforo em concreto,
plstico e borracha;
A estrutura amorfa apresenta um arranjo estrutural que, a rigor, no exibe as mesmas
imperfeies observadas em materiais cristalinos; assim, os mecanismos de deformao
plstica em cristais no so observados nos vidros metlicos;
Com relao s propriedades qumicas, vale destacar que a iseno de defeitos
estruturais, como contornos de gro, discordncias, precipitados e segregaes, resultam
em um material com comportamento qumico bastante diferenciado dos metais
cristalinos. Quando constitudos por elementos adequados, como o cromo, os metais
vtreos apresentam resistncia corroso ideal. Dentre as possveis aplicaes dos
metais vtreos, com relao s caractersticas qumicas, pode-se destacar o uso em
lminas de barbear, cutelaria, bioimplantes, eletrodo para clulas eletrolticas e vasos de
reatores qumicos;
Como a resistividade eltrica de um material est relacionada com a desordem de seus
tomos, em metais vtreos este parmetro elevado quando comparado aos cristalinos, e
pouco dependente da temperatura. Isto significa que os metais amorfos exibem baixo
valor do coeficiente de variao de resistividade com a temperatura, podendo ser usados
como resistncia eltrica de preciso, ou ainda como sensores de campos magnticos.
Como possuem alta permeabilidade magntica e alta resistividade eltrica em relao
aos cristalinos, podem ser utilizados na fabricao de transformadores eltricos,
cabeotes de gravadores e transdutores magnticos.



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O Quadro 7.1 apresenta uma comparao de caractersticas e propriedades de metais
tradicionais, vidros tradicionais e metais vtreos

Quadro 7.1 Comparao das caractersticas e propriedades dos materiais amorfos.
Caracterstica/
Propriedade
Metais tradicionais Vidros tradicionais Metais vtreos
Estrutura Cristalina Amorfa Amorfa
Ligao Metlica Covalente Metlica
Tenso de escoamento No ideal Quase ideal Quase ideal
Trabalhabilidade Boa, Dctil Pobre, Frgil Boa, Dctil
Dureza Baixa / Alta Muito alta Muito alta
Resistncia mecnica Baixa / Alta Baixa Alta / Muito alta
Caracterstica tica Opaca Transparente Opaca
Condutividades
eltrica e trmica
Muito boas Pobres Boas
Resistncia corroso Pobre / Boa Muito boa Muito boa
Propriedades magnticas Diversas No existe Diversas


7.3 Referncias bibliogrficas
ASKELAND, Donald R.; PHUL, Pradeep P. The science and engineering of materials.
4
.
ed. California: Brooks/Cole-Thomson Learning, 2003.

CALLISTER JR., William D. Cincia e engenharia de materiais: uma introduo. 5.ed.
Rio de Janeiro: LTC, 2002.

CARAM JR., Rubens. Estrutura e propriedades dos materiais. Apostilha de aula.
Campinas: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 2000.

SMITH, William F. Princpios de cincia e engenharia de materiais. 3.d. New York:
McGraw-Hill, 1998.

VAN VLACK, L.H. Princpios de cincia dos materiais. 3.d. So Paulo: Edgard Blcher,
1977.

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