Diogo Brandao
Diogo Brandao
Diogo Brandao
vora.
Levanta-se, contudo, um problema no que diz respeito ao corpus
lrico atribuvel a Diogo Brando no interior do Cancioneiro Geral.
Garcia de Resende, na Tavoada que precede o conjunto de
textos do seu cancioneiro, anuncia que as trovas de Diogo Brando
vo da folha 90 at folha 97. Tambm o cabealho destas folhas
leva a inscrio De Diogo Brando . Mas na E. 94v aparece uma
trova De Rui Gonalves de Castel Branco a ele, com relativa
15 RAU 1 959.
1
6
SENA 1980, p. 59.
17 BRAGA 1871, p. 308: informao, provavelmente, tirada por sua vez de LEI
TO MANSO DE LIMA 1928 (o ms. remonta ao sc. XII).
1
8
O trecho encontra-se publicado no Arq/livo Histrico Porfllg/ls, II, 1904, p. 90.
19 Este cancioneiro foi estudado por Aida Fernanda Dias: DIAS 1966. CICERI
1993 duvida, porm, que o cancioneiro de Chantilly seja efectivamente cpia do de
Resende.
1 2
I NTR O DUO
Reposta: seguem-se a esta 8 composies20 com a simples rubrica
Outra s ua, ou Cantiga sua . Ora, at 1978 -isto , at publi
cao do estudo de Aida Fernanda Dias, O Cancioneiro Geral e a Poe
sia Peninsular de Quatrocentos 21 -, em nenhum repertri022, em ne
nhuma edio do Cancioneiro Geral estas oito composies eram
atribudas a outrem seno a Diogo Brand023.
Aida Fernanda Dias, no livro citado, atribui-as, pelo contrrio, a
Rui Gonalves de Castel Branco, considerando, ento, a rubrica
Outra sua ou Cantiga sua como directamente ligada Pergunta
deste poeta e no Reposta de Diogo Brando.
A estudiosa parece basear a sua concluso no facto de encontrar no
manuscrito CX/1-41 de
frica.
13- 14: tambm aqui itera o topos do Nessun maggior dolore (d. 21, 23-25)
17: gr II/: multido.
21 : de IIIl1itos: o complemento de agente podia-se construir, naquela poca, com a pre
posio dc (d. SILVA DIAS 1970, 1 70d).
22: iI/figos: inimigos.
65
OB R AS P O TI C AS - 2 2
Por meu enxempro tomavam castigo, 25
j uravam que nunca mais damas servissem,
mas eu dizia falando comigo
qu'aquilo seria se nunca vos vissem.
E lhes afirmava que tanto sintissem
vendo a vossa mui gr perfeio,
3
0
que de cuidados com muita paixo
todas sas vidas jamais se partissem.
Dali me parti dond'eles estavam
ou me levavam aqueles com qu'ia,
se nesse caminho alguns me falavam 35
bem sem prepsito lhes respondia.
Muitos daquestes estremos fazia,
em s sos pirar descanso tomava,
no era tamanha a dor que mostrava
como a grande que dentro sintia.
4
0
Meus olhos mais gua que fontes lanavam,
mui grandes gemidos a voltas saam,
meus tristes sentidos jamais repousavam
mas antes seus males dobrados sintiam.
Prazer e descanso de mi se partiam,
a conta daquestes comigo ficava
se minha firmeza esperana me dava,
vossos desfavores matar me queriam.
A pena crecida maior se fazia
por ver to incerta minha esperana,
menos mil vezes a morte temia
que nom a graveza de sua tardana.
4
5
50
25: e/Ixelllfro: forma atestada no portugus arcaico por exell/pro (exemplo). CE.
NUNES 1981, p. 1 1 7 e HUBER 1 986, 213, 1 .
25-28: a mesma atitude est na base d a elaborao d o Fil/gill/e/Ito de AII/or (23).
37 (e 46, 84, 85): (d)aqllestes: d. 19, 10.
37 -40: curioso notar como Brando, geralmente partidrio do cuidar, da atitude
de no mostrar a dor de que se padece (d. 1 9), aqui nestas estrofes, mais realistica
mente, descreve a postura oposta: quem sofre paixo, manifesta-a.
41 : a comparao entre olhos e fontes (e at rios) pertence ao rico caudal da imag
tica petrarquista - como bem documenta MANERO SOROLLA 1990, pp. 620-624 e
625-626.
46: coI/ta: a metfora financeira frequentemente usada para exprimir o balano dos
sofrimentos de que o enamorado padece (sobre o motivo, d. MICHAELIS DE VAS
CONCELOS 1 922, pp. 86-89 e AGUIAR E SILVA 1971, p. 371 , nota 1 72).
6 6
OB RA S P O t TI C AS - 2 2
A razo me d mui gr confiana
de minhas tristezas haverem j fim,
mas a ventura que contra mim
5 5
jamais no me deixa haver segurana.
Resestir meu cuidado com pena quiria
buscando maneiras d'amor apartar-me,
estonces mais preso, tomado me via
quando buscava razes de livrar-me. 60
S' achava confortos alguns de salvar-me,
achava mil males que me condenavam,
assi qu' em lugar de fugir me levavam
meus grandes desejos a mais cativar-me.
Comparao
Assi como quando se sentem tomar 6
5
as aves nos laos e redes armadas,
quando trabalham por mais se soltar
acham-s'ento mui mais enlaadas,
desta maneira sento tomadas
toda-las foras com todo poder,
7
0
que, se me no vaI quem me pode valer,
sero minhas dores per morte acabadas.
Este desejo sem mais dilatar
porque se acabem meus tristes cuidados,
no quer minha dita em tal outorgar
75
porque os tenha, vivendo, dobrados.
Sero meus sentidos por sempre penados
pois contra mim o mal se concerta,
a morte queria, pois muito certa,
folgana daqueles que so tribulados. 80
Impossvel seriam as dores contadas
que passei nestes dias de grandes tormentos,
foram mal dormidas e bem sospiradas
as noites daquestes, com mil pensamentos.
56: ja|||a|s |to mais um uso expressivo da dupla negao.
59: cs|o||:cs. forma arcaica de ento, derivada de ex + |||||::c (NUNES 1 975, p. 345).
81 : fI. 96r.
6 7
OB RA S P O T I C A S - 2 2
Com a morte e vida naquestes tormentos, 8
5
guerra rompida, cruel padecia
com a morte, senhora, que no me queria
e eu menos a vida com tais sintimentos.
Ganhando mais males, perdend'alegria,
fizeram fim as tristes joradas, 90
mas no as tristezas e grand'agonia
que sempre me foram per vs ordenadas.
Nem podem por tempo ser remediadas
como mil outras doenas que vem,
porque o s remdio que tem 9
5
pola causa que foram causadas.
Fim
E pois o poder em vs de salvar-me,
querei haver j de mim compaixo,
no levs gosto assi de matar-me
pois moiro por vs com tal devaoi roo
havei piadade de tal perdio,
querei dar remdio a to triste vida
porque vos no hajam por desconhecida
e eu que no moira to sem galardo.
6 8
OB R A S P O T I C A S - 2 3
23
Fingimento d/amores feito per Diogo Brando
Eram da sombra da terra
as nossas terras cubertas,
quando parecem desertas
as habitaes sem guerra:
ao tempo que repousam
os coraes descansados
e os malfeitores ousam
cometer mores pecados .
Os nove meses do ano
eram j quase passados,
quando eram meus cuidados
crecidos por mais meu dano.
E assi com mal to forte,
mais crecendo minha f,
vi passar alm do p
as Guardas do nosso Norte.
Se dormia, no sei certo,
se velava, muito menos:
com meus males no pequenos
nem durmo nem so desperto.
No m'estrevo de torvado
diz-lo, nom sei se cale:
dali me senti levado
e posto num fundo vale.
Oh, divina sapincia,
de todos to desejada
e de mim pouco gostada
23. Composio formada por 27 copIas castelhanas, fls. 96r-97r.
10
1
5
20
2
5
5: verso muito parecido com o v. 5 da Qllerella rle Ali/ar de Santillana, aI tiempo que
reposava.
15: alll/ rio p: provavelmente com o sentido de ao longe .
16: as Gllardas do 1/0550 Norte: isto , as Ursas.
17 -18: o estado confusional tpico neste tipo de composies, pois deste que se
gera a viso.
21 -22: eSlrevo: forma arcaica de atrever-se (NUNES 1975, pp. 126-127). Entenda-se:
no me atrevo a diz-lo de to perturbado que estou, mas tambm no sei se consigo
calar-me.
69
O B RA S P O T I C AS - 2 3
por nom ter suficincia,
faze-me to sabedor
que possa dizer aqui,
com favor de teu favor,
as grandes cousas que vi.
Por este vale corria
a to funda ribeira
que estando junto da beira
escassamente se via.
Tanta tormenta soava
naqueste lugar eterno,
que se me representava
quanto dizem do inferno.
De mui escura neblina
era o ar todo cuberto:
devia ser dali perto
o lugar de Proserpina.
O fogo sem s'apagar,
o mal sem comparao
podiam bem demostrar
o domnio de Pluto.
Nom vi cmaras pintadas
com ricos patins de fundo
dos ricos daqueste mundo
por demasia buscadas;
nem vi suaves cantores
com vozes mui acordadas,
mas mui discordes clamores
das almas atormentadas.
3
5
45
55
28: suficincia: o lexema frequentemente usado para exprimir o to
os da falsa mods
tia, tanto
q
ue se tornou caracterstico nesse tipo de locues (cf. MAZZOCCHI 1990,
pp. 256-257).
37 -40: comparem-se estes versos com os vv. 401-404 do Iufiemo de los EUall/orados de
Santilana: Entramos por la escureza / de! triste lugar etero / a do vi tanta graveza /
/ como dentro en e! infierno.
38 (e 51, 1 24) (I/)aqueste: cf. 19, 10.
41 : f 96v.
44: Prose/pil/a: a deusa do infero latino.
48: Pluto: o deus grego do alm-tmulo.
49: NOII/ vi: caracterstica das vises a chamada descrio ao negativo, tradicio
nalmente utilizada para restituir a imagem do Paraso (cf. PATCH 1950, p. 237). Os
elementos apontados como inexistentes no lugar onde Brando se encontra so, j us
tamente, os pertencentes iconografia ednica.
50: patins: diminutivo de ptio.
7 0
OB RA S P O T I C A S - 2 3
Nom vi aves mui suidosas
que cantassem docemente,
mas bradavam fortemente
serpentes mui espantosas .
Ali prazer nom senti,
antes descontentamento:
todas cousas qu'ali vi
era para dar tormento.
Dali quisera salvar-me
do que via temeroso,
e das armas do medroso
j untamente proveitar-me.
Mas achar no pude via
pera me poder salvar,
ento mostrei valentia
para mais me condenar.
E sem fazer a vontade
nem esperar por sade,
quis ali fazer vertude
da minha necessidade.
E tambm por ser sem falha
esta verdade que digo:
qu'os que fogem na batalha
passam sempre mar perigo.
E como faz quem peleja
vendo-se desesperado,
por honra tomar forado
a morte que j deseja,
as si me fui juntamente
donde o fogo mais ardia,
por viver honradamente
ou morrer como devia.
Assi de todo mudado
ali junto me cheguei
e neste modo falei
assaz bem temorizado:
60
7
0
75
80
59-60: tambm na Viso de Truda/o o protagonista ouve no Inferno os brados das
serpentes (cf. ESTEVES PERIR 1 895, p. 108).
7 1
OB R AS P O TI C AS - 2 3
Oh, gentes atribuladas,
porque razo de vs d,
dizei a causa porqu
sois assi atormentadas !
logo de todo cessaram
daqueles grandes tomultos
e com mui disformes vultos
para mi todos olharam.
E logo s'alevantou
dantre todas a delas
e sem culpar as estrelas
desta maneira falou:
Este pranto to durido
de tantas tribulaes
so os justos galardes
dos sequaces de Cupido.
Que, por lhe sermos leais
tantas mortes nos perseguem
que nossas dores mortais
som mui mais das que se seguem.
Penamos polas folganas
que vivendo procurmos,
qu' impossvel que hajamos
duas bemaventuranas:
que seria grand'estria
e j uzo mui profundo
levar l prazer no mundo
e nestoutro tambem grria.
Somos passados de frio
em grandssima quentura,
a vida no tem segura
quem bebe daqueste rio.
Que neste fogo penados
93: discutimos o valor deste verso na III /rcduc, ponto 4.
9
5
100
lIO
120
125
1 1 2: 50/11: aqui no valor de sc (cE. HUBER 1986, 378, 24) como no v. 156.
1 1 3: [c/gaaas. a folgana indicava, nesta tradio, o prazer ertico (cE. WINNOM
1981).
121- 1 22: este castigo preponderante na \'|sc dc 7|||da/c (cE. ESTEVES PEREIRA
1895, pp. 103, 1 05, 1 07, 1 08).
7 2
OB R AS P O TI C AS - 2 3
sejamos sem esperana,
mata-nos mais a lembrana
dos prazeres j passados.
Palo qual, se tu quiseres
ser livre de nosso mal,
trabalha quanto poderes
por fugir caminho tal.
Sempre te guie razo,
governe como cabea,
a vontade lh'obedea
sem outra contradio.
E se quereis saber mais
porque ds conta de mi,
so um dos que decendi
nos abismos infernais.
E fui l com tal ventura
que quando quis acabei,
mas depois me condanei
por nom guardar apostura.
E por mais certos signais
d' Emrudice fui marido,
por ela mesma perdido
nestas penas imortais.
Eu fui aquele qu' ouvistes
que na mseca soube tanto
que fiz com meu doce canto
nom penar as almas tristes .
Aquessas outras campanhas,
que penam nessas cavernas
antigas, tambm modernas,
1
3
0
1
35
1
45
1
55
127-128: mais uma vez, o topos do nessun maggior dolare (d. 21, 23-25).
134: COII/O cabea: entenda-se COII/O colI/al/dall/e, COII/O gllia SlIVfCll/O.
140: pelas indicaes que esta alma atribulada fornece, percebe-se que se trata de
Orfeu, que desceu ao Inferno procura de Eurdice.
146: EII/rtlrlice: por Eurdice. Sobre o fenmeno, comum na poca, de estropiar os
n<mes de personagens clssicas, cf. LIDA DE MALKIEL 1 950, pp. 276-286 e
LAZARO CARRETER 1979.
150: verso hipermtrico.
153: aqllessas: de eCC/lm ou ecce + ipsa (d. NUNES 1975, p. 247, que, porm, deve
achar esta forma feminina uma mera suposio, j que lhe antepe um asterisco).
colI/pmJilas: arcasmo, por colI/pal/lrias. lexema frequente na Viso rle Tll/rlalo.
7 3
O B RA S P O T I C A S - 2 3
som de mil terras estranhas,
que jamais se passa dia
qu' aqui no sejam trazidos:
mui espaosa via
a que seguem nos perdidos.
lnda bem nom acabou
de dizer estas razes
' quando com lamentaes
longe de mim s'apartou.
Ouisera ser enformado
daquela gente que vira,
mas dali fui rebatado
e posto donde partira.
A manh escrarecia
quando com cantos suaves
nossas domsticas aves
do sinais de craro dia.
Polas cousas qu'ali vi,
de que nada fui contente,
o meu cuidado presente
de deix-lo pormeti.
Comparao
Mas fui tal dali passando
como homem que prometera
mui grandes mas tos de cera
em fortuna navegando
que, vendo-se daquela fora,
tornado j em bonana,
do que passou naquel'hora
nom lhe fica mais lembrana.
159-160: eco de Mt. , 7, 13.
160
170
1
75
180
1 60: seguem 1/05: seguem os -note-se a nasalao do artigo depois de uma consoante
nasal.
1 65: aqui Brando evita o que era tpico neste tipo de composies, isto , o desfile
de casais clebres, como, por exemplo, faz Duarte de Brito no seu infernol! (fls. 37v
-40v).
1 67: rebatarlo: no OL, l-se relatado. Rebatar a forma arcaica de arrebatar.
169: fI. 97r.
1 81 : o verso hipermtrico. Poder-se-ia restaurar a isometria substituindo rlaquela
com o simples dela.
7 4
O B RAS P O f T I C A S - 2 3
E como faz o doente
a morte vendo adiante
que promete d'i avante
viver muito continente,
mas o medo j passado
do que viu esquecido,
assi me vejo perdido
mais agora enamorado.
E bem como tem o norte
firmeza sem se mover,
espero firme de ser
na vida tambm na morte.
Assi como cai direito
o dado quando se lana
assi minha mal-andana
no me muda doutro j eito.
E bem com'gua do mar
no muda jamais a cor
nem perde nunca sabor
por quantas nele vo dar,
assi eu triste no posso
com mil males destes tais
deixar nunca de ser vosso
em que sejam muitos mais.
Fim
E pois com tanta verdade
vos sirvo com f, senhora,
havei por Deus algum hora
de meus males piadade.
Que se deste mal profundo
eu no so remediado,
so perdido neste mundo
e no que vi condenado.
195: note-se o hiprbato.
195
200
20
5
210
21
5
208: pode-se emendar o verso supondo uma falha tipogrfica: lIem qlle sejam mlli/os
mais (subentendido os males).
2 1 1 : algllm /rora: entenda-se: um momento.
7 5
O B RAS P O t T I C AS - 2 4
24
Vilancete seu a Nossa Senhora
Rainha celestrial,
repairo de nossas dores,
grandes so os teus louvores.
Senhora como naceste
tua vertude foi tanta
qu'aquela embaxada santa
com grande f mereceste;
to continente viveste
que nom bastam oradores
recontar os teus louvores.
A merc que percalaste
nossa vida repairou
pois com teus peitos criaste
aquele que te criou;
foste causa que mudou
o gr senhor dos senhores
em prazer as nossas dores.
Por em ti ser encarnado
e por seres sua madre,
o nosso primeiro padre
foi dos tormentos livrado;
somos livres de pecado
quando queres dar favores
s que so teus servidores.
Oh, fonte de piadade,
madre de misericrdia
quem de ti no faz memria
vai mui longe da verdade;
24. Vilancete com seis voltas, fls. 94v-95r.
10
1
5
20
2
5
1 : celes/ria/: forma antiga, com introduo de um r, por falsa etimologia. O adjectivo
foi usado tambm, por exemplo, por Lus Amigues no seu louvor de Nossa Sei/hora
(fls. 99v-1 00r), mas referido a Deus: "Rei celestriaJ",
2: repa ir (e v. 12 repairoa) variante atestada de reparo (e reparou).
4: COIIIO: latinismo, no sentido de quaudo.
6: elllbaxarla sall/a: a do Anjo Gabriel.
7 6
O B RAS P O T I C AS - 2 4
es chea de caridade
e de tamanhos primores
que so grandes teus louvare?
Mitiga nossos tormentos
que com tantos males crecem
pois nossos merecimentos
sem os teus nada merecemi
socorro dos que padecem,
que sejamos pecadores
faze-nos merecidores.
E assi por teu respeito
dina virgem e decora,
faze que hajam efeito
Fim
as nossas preces, senhora.
Que, se nos deixas ua hora
a nossos persiguidores,
no teremos valedores.
37: qlle com valor concessivo.
38: fI. 95r.
3
0
35
39: decora: formosa, honesta, latinismo de decortllll, a, 11111 (MORIS 1889).
42: qlle com valor causal.
7 7
O B RAS P O TI C AS - 2 5
25
De Diogo Brando mone d/e/-rei Dom Joo o segundo que em santa grria
1 Todos atentos na morte cuidemos
2
na qual duvidamos por mais nosso mal
que dela sabendo ser cousa geral
mais nos espantamos do que nos provemos:
os bens temporais por alheos deixemos
pois mais nos provocam a mal que no bem,
os quais cuidando nos outros que temos
eles com fortes cadeas nos tem.
Os bens que so d'alma, aqueles sigamos
pois neles consiste o vero proveito,
os de fora busquemos havendo respeito
a quo brevemente por eles passamos.
Riquezas, favores qu' aqui percalamos
assi como passam se perde a memria,
se bem neste mundo fazemos, obramos
vive pera sempre no outro per grria.
3 Nesta fim logo sejamos prudentes
pois toda grria naquela se canta,
e com boas obras e vida mui santa
!O
15
devemos na morte mui bem parar mentes; 20
4
e se polas cousas que vemos presentes
nom bem conhecemos o gr poder dela,
lembrana tenhamos de quo eixcelentes
prncepes, reis, passaram por ela.
Dizer dos antigos que so consumidos
no quero em gregos falar nem rom os,
25
25. Quarenta e duas oitavas de arte maior, fls. 9Ov-92r. Discutimos a composio
inteira na |||cd|o, ponto 5.
23-24 o motivo do poder igualizador da morte, muito iterado a todos os nveis cul
turais (lembre-se, por exemplo, as Da:as dc /a ||||c|c medievais), encontra o seu
modelo culto no Dc .as|/||s .|ot||t |//|st|o||| de Boccaccio, conhecido, com certeza,
tambm em rea portuguesa.
23 c|:.c/c/cs note-se a ditongao da vogal de ex-latino. Sobre o fenmeno, d.
NUNES ! 9/5, p. ! 25 e HUBER 986, 2!3, 1, que d outra explicao. Nos dois
manuais, porm, no se encontra registada a oscilao evidente entre c|x:- e c|:-
vejam-se os casos nos vv. 64, ! 4, 29, 29O, 3O5.
26 ottos forma antiga atestada por romanos (MORAIS ! 889).
7 8
5
6
O B RAS P O T I C A S - 2 5
mas nos que nos caem aqui dantr'as mos
vistos de ns e de ns conhecidos;
despertemos de todo os nossos sintidos
pois este mundo to inconstante, 30
creamos dos mortos que no so perdidos
mas que so idos um pouco adiante.
No pode ser pouco pois muito certo
que hoje se pode fazer esta via
e se este nom o derradeiro dia
sabei qu'ele est de ns muito perto;
todos nacemos com este concerto
que quem tiver vida, tem certo perd-la
e pois o viver nos to incerto,
35
vivendo na morte, cuidemos bem nela. 40
E pois to aberta est esta via
por ordem daquele que a todos nos fez,
no nos espantemos de vir a vez
quilo que nos pode vir cada dia:
assi cada um ordenar-se devia,
como se fosse morte chegado
e, desta maneira, nos no enganaria
se tivssemos dela na vida cuidado.
4
5
7 E de tal maneira devemos trat-la
8
que pois assi , sem mais duvidar, 50
que ela nos espera em todo lugar,
devemos ns-outros tambm d'esper-Ia:
devemos, s vezes, per ns desej-la
conformes com Deus, em nossa desculpa
porque a longa vida sem mais aprov-la 55
pola maior parte tem sempre mais culpa.
Que sendo compostos daqueste metal
que sempre desejamos o qu' sem midida,
nunca tanto bem fazemos na vida
que mais no faamos naquela de mal. 60
28 (e 313): de I/S: sobre esta construo, cf. 22, 2l .
31-32: sobre a fonte directa destes versos, cf. II/traduo, ponto 5.
57: que com sentido causal.
daqueste (e vv. 65, 179, 318, 333): cf. 1 9, 10.
7 9
9
O B RA S P O T I C AS - 2 5
Crece naquesta cobia mortal
raiz e comeo de todo-los vcios,
abre-se mais o caminho infernal
quando se sarram os bons eixerccios.
Tornando pois logo questa certeza
que todos ua vez morrer nos convm,
esforar-nos devemos faz-lo to bem
que a morte sintamos com menos tristeza:
esta tomemos com toda firmeza,
pois h-de vir de necessidade,
7
0
10
menos sintiremos a sua crueza
quando a recebermos com boa vontade.
Antigos enxempros a parte deixados,
sem os alheos querer memorar,
os mortos em Canas deixemos estar
com outros mil contos que so j passados;
deixem de ser aqui relatados,
abaste falar nos possuidores
desta nossa terra, que dela abaixados
foram assi coma pobres pastores.
1 1 Que se fez daquele que Ceita tomou
por fora aos mouros com tanta vitria,
o intitulado da Boa Memria
qu'a si e aos seus to bem governou?
75
80
As cousas to grandes que vivend'acabou, 8
5
12
afora nas batalhas mostrar-se to forte,
com outras faanhas em que s' esmerou
nunca poderam livr-lo da morte.
Seu filho primeiro, bom rei Dom Duarte
que foi to perfeito e to acabado,
61 -62: Diogo Brando repete aqui o conceito expresso por S. Paulo na 1. ' carta a
Timteo: Radix enim omnium maio rum est cupiditas (1 Tim., 6, 10) - porque o
amor ao dinheiro a raiz de toda a espcie de males.
73 (e vv. 170, 178): e/IXe/lI/rS: d. 22, 25.
75: Cal/as: cidade da Aplia, teatro da batalha que viu ganhar Atbal contra os Roma
nos (216 a. c.)
80 (e 295) C111a: d. 9, 7.
81 -88: refere-se ao rei D. Joo 1. O mestre de Avis tomou Ceuta em 1415.
83: f 91 r.
86: ajotu. cf. 4, 4.
8 0
OB R AS P O T I C AS - 2 5
reinando mui pouco, da morte levado
foi como quis Quem tudo reparte.
Seus irmos, os ifantes, que tanta de parte
na vertude teveram palo bem que obraram,
tendo nas vidas trabalhos que farte
9
5
13
14
15
com tristes socessos alguns acabaram.
o sobrino destes, ifante de grria,
progenitor de quem nos governa,
que foi de virtudes to crara lu cerna
tambm houve dele a morte vitria.
Contado, nom pde tirar-lh'a memria
de ser esforado e forte na f,
tomou este prncepe dino d'estria
per fora os mouros o grand'Anaf.
o quinto Afonso no quero calar
que assi como teve vitria crecida,
tantos trabalhos sosteve na vida
que lhe causaram mais ced'acabar.
Tambm acabou o filho de dar
fim esta vida de tanta misria,
no qual determino um pouco falar
posto qu'emprenda mui alta matria.
Este foi aquele bom rei Dom Joo
o mais eicelente que houve no mundo,
rei destes reinos, deste nome o segundo,
humano, catlico, sojeito razo,
do qual mui bem creo sem contradio
j ulgando sas obras e como morreu
que deve bem certo de ter salvao
pois to j ustamente sempre viveu.
100
no
120
93: os irmos de D. Duarte eram D. Henrique, Navegador; D. Joo, mestre de San
tiago; D. Pedro, Duque de Coimbra e regente nos anos 1 441- 1448; e D. Fernando,
mestre de Avis. A forma ifallte atestada, como arcasmo, ao lado de illfallte.
Note-se o hiprbato do sintagma tanta de parte".
96: evidentemente h aqui uma aluso trgica emboscada de Alfarrobeira, na qual
foi morto D. Pedro, Duque de Coimbra, em 1449.
97: sobril1ho destes: D. Fernando, pai de D. Manuel.
104: Al1af: cidade da costa marroquina, conquistada em 1449.
1 10: esta: transcreve-se assim a forma eesta, evidentemente crase da preposio a com
o demonstrativo.
8 1
O B RA S P O TI C AS - 2 5
1 6 Foi e m vertudes to escrarecido
que mui defcil poderem s' achar
louvores que possam cos seus igualar
to grandes assi como tem merecido.
Mas, posto que fosse de todo comprido 12
5
de grandes bondades em que froreceu
algum louvor seu direi no fingido
que ser mais baixo do que mereceu.
17 Teve nas cousas de Deus eicelncia:
aquelas amava, honrava, temia 1
3
em fbricas santas mui bem despendia
assaz largamente, co magnificncia;
com j usta medida e gr providncia,
suas esmolas mui bem repartia,
quem se prezava de Santa Cincia 13 5
muito por certo ant'ele valia.
1 8 Nom sei com que lngua dizer-se podia
como era grande e em todo manfico,
desejava ter mais o seu povo rico
que dele de o ser prezar-se quiria; 1
4
por estas tais obras que sempre fazia
a sua nobreza bem crara se v,
havia por perda passar-s'algum dia
sem que naquele fezesse merc.
19 Jamais nos antigos, modernos que leo 1
45
s'achou outro tal em liberalidade,
partia com todos com tanta vontade
que nunca em nobreza mundo tal veo.
Segue-se logo daqui, como creo,
que havendo-se nisto assi grandemente 1
5
que mal poderia tomar o alheo
pois o seu dava de to boa mente.
122-124: Brando exprime aqui o topos caracterstico do panegrico e ponto fulcral de
todos os "poemas de muertos (sobre este aspecto, d. II/traduo, ponto 5), segundo o
qual todos os elogios so insuficientes para descrever a grandeza do homem que se
quer homenagear.
8 2
OB RA S P O TI C AS - 2 5
20 Era um mesmo no prazer e na sanha,
das cousas virtuosas havia cobia,
a todos igualmente fazia j ustia, 1
5 5
sem se lembrarem as teas d'aranha.
Era timido e amado em Espanha
e tal que no sendo pera rei nacido
segundo a sua vertude tamanha,
devera pera isso de ser escolhido. 160
21 Que desta maneira est confirmado
que o rei e o prncepe que h-de mandar,
pera os outros saber emendar
deve primeiro de ser emendado.
Este na vida foi to acabado 16
5
que ele s era a prpia lei
pera cada um viver castigado
sem mais outra regra, nenhua de rei.
22 Os prncepes bons por seu bom viver
enxempro tomavam do bem que faziam, 1
7
0
os maus isso mesmo por ele sabiam
as cousas que bem deviam fazer;
deste devemos por certo de crer
que ainda que c muitos anos vivera,
na fora do corpo podia envelhecer, 1
75
mas nunca na d'alma velhice tevera.
23 Os reis que vierem para bem reger
tomar devem deste enxempro geral
pois muito certo que aqueste foi tal
qual prometiam os outros de ser; 180
os seus sditos por seu merecer
a Deus por ele somente rogavam,
sendo mui certos qu' em no as si fezer
por si, por seus filhos, por todos oravam.
24 Era em sas obras to bem temperado 18
5
que o que per palavra ua vez pormetia,
de tal maneira com f o compria
154: Itavia: em lugar de ti/llta.
1 69: fI. 91 v.
1 83: em /lO: em o.
8 3
OB R AS P O T I C AS - 2 5
como se fora por ele j urado;
no se groriava de ter alcanado
por favor de fortuna nenhum bem temporal: 190
toda sua grria era t-lo ganhado
por alga vertude e bem divinal.
25 Com lijonjeiros mui pouco folgava,
eram os seus conselhos mui sos,
mostrava-se human's qu' eram meos, 19
5
os grandiosos e vos despreava,
a vertude per obra mais exercitava
que nom por palavras nem outras maneiras:
as cousas do mundo as si as amava
que no s' esquecia das mui verdadeiras. 200
26 Tinha prudncia, tambm fortaleza,
amava justia com gr temperana,
f, caridade, tambm esperana
nele moravam com toda firmeza:
ornaram-no estas de grande riqueza 20
5
27
e nunca jamais o deixaram na vida,
na morte lhe deram tamanha franqueza
que grria por sempre recebe comprida.
Estas que digo vertudes gerais
as si assomadas um pouco deixemos
porque j usta cousa tambm que falemos
nas particulares e mais especiais;
as quais conhecidas por muitos reais
sendo a todos assi manifestas,
ainda fez outras mui grandes e mais
que eram maiores por serem secretas.
28 Daqui se consire na ordem que dava
em pagar dvedas que seu pai devia,
pois como as suas j mal pagaria,
210
21
5
193: iljol/jeiros: forma atestada de lisonjeiros , com palatalizao de s intervoclico
(d. NUNES 1975, p. 104).
195: lIIeos: medianos, que ocupam uma posio intermdia.
1 97: exercitava: no original l-se exercitada: claramente erro tipogrfico, pois esta
forma rompe a rima.
214: note-se a rima imperfeita com o v. 21 6: lIIal/irestas -secretas.
217: cOl/sire: de co//sirar, forma arcaica de coI/siderar (VIEIR 1871- 1874).
8 4
OB R AS P O T I C AS - 2 5
quem to grandemente as alheas pagava? 220
Jamais dele rfo nenhum se queixava,
a todos por inteiro mui bem se pagou,
com pagas dobradas vi eu que pagava
a prata das igrejas qu'ento se tomou.
29 Pois em Castela a nessa guerra, 22
5
se foi esforado, mui bem se mostrou
depois da batalha no campo ficou
os mortos naquela metendo s terra;
tambm nessas pazes, s'a pena no erra,
foi mui prudente e mui sabedor, 2
3
os meos tomando dos vales e serra,
que nestes consiste vertude maior.
30 No menos no reino por este teor
no tempo que foi aquela discrdia,
usou mais com eles de misericrdia 2
35
do que nisso fez com j usto rigor.
Era temido dos seus com amor
e a Deus temia com todo querer
que quando o rei de Deus tem temor
ento o soemos mui mais de temer. 2
4
31 Com nimo grande d' esperas reais
abriu o caminho de todo Guin,
mais por crecer a catlica f
que no por cobia dos bens temporais;
com ela fez ricos os seus naturais, 2
45
os infis trouxe a ver salvao,
pois obras to justas e to devinais
sero sempre vivas, segundo razo.
225: refere-se guerra, originada pelo "caso da Beltralleja, que acaba na batalha de
Toro (1476) e no tratado de Alcovas (1 479).
228: s: d. 12, 3.
229: pazes: o tratado de Alcovas.
233: refere-se provavelmente grande conspirao urdida contra D. Joo I I pela casa
de Bragana.
242: na altura "Guin definia todo o territrio para sul do Cabo Bojador.
245: rics: no original, l-se ric: emendmos para restabelecer a concordncia do plural.
246: a ver: no or., l-se atler - o que levou DIAS 1 990, n.O 333, a transcrever haver. Seja
a nossa transcrio que a dela, .no afecta o sentido do verso.
8 5
32
33
34
35
OB RA S P Of T I C AS - 2 5
5' em todo ponente se sente gr grria
por serem as
ndias a ns descubertas,
ele foi causa de serem to certas
e to manifestas por nossa vitria,
pois sua fama a todos notria,
culpem-me muitas e mais da vez
se dele no fao aquela memria
que j usta merecem os feitos que fez.
A fim j chegada de sua partida,
sendo de todas a cousa mais forte,
j muito cerca da hora da morte
no s' esqueceu das obras da vida.
Tendo a candea j quase pedida,
a pena na mo tremendo tomava
e com moderada justia de vida
tenas, mercs, padres assinava.
Seus males e culpas gemendo com dor,
partiu desta vida na f esforado
palo qual creo que outro reinado
possui l com Deus muito milhar.
Fez fim no Algarve na vila de Alvor
no dcimo ms fim j propinco
sendo da era de Nosso Senhor
catorze centenas noventa mais cinco.
Com gr cirimnia a Silves levado
dali foi dos seus que o muito sentiam,
quem antes um pouco as gentes seguiam
ali ficou s, de todos deixado.
Oh, morte que matas quem prosperado
sem de fermoso curar nem de forte
e deixas viver o mal-aventurado
porque vivendo receba mais morte.
36 Dali a trs anos nom bem precedentes
foi com gr festa daqui trespassado
250: a I1S: forma latina do agente da passiva.
257: f. 92r.
2
5 5
260
2
75
280
261: o verso indica que o rei se encontrava mesmo na hora da morte: ter a candea
na mo , de facto, significa estar prestes a morrer (d. MORIS 1889).
8 6
O B RA S P O TI C AS - 2 5
e posto no lugar qu'est deputado
em ser manseolo dos nossos regentes.
Quer Deus dali dar a muitos doentes
comprida sade tocand'onde jaz,
em serem os anjos com ele contentes
nos manifesto nas obras que faz.
37 Fez isto por ele o mui poderoso
rei eicelente Manuel o primeiro
quem ele deixou socessor verdadeiro
como rei justo e mui vertuoso.
Soube este prncepe mui animoso
que hoje govema com tanta medida,
pagar-lhe na morte coma piadoso
o bem recebido daquele na vida.
38 Se honras, riquezas, vertude, poder
poderam algum da morte livrar
este j usto rei sem mais altracar
nunca jamais podera morrer.
Mas, pois qu'assi que os bons ho-de ser
tambm sepultados, a vida deixando,
quanto mais devem os maus de temer
que sempre jamais viveram pecando.
39 A grria de Deus de tanta eixcelncia
no busca ningum sendo to preciosa,
mas a do mundo que to enganosa
buscam nos homens com gr diligncia.
Oh, como de gr priminncia
quem pe em s Deus seu amor e querer,
284: !I/al/seolo: forma estropiada de lIlausolu.
299: altracar: forma atestada de altercar.
28
5
290
29
5
30
35
3
10
300: !10dera: DIAS 1990, n. O 333, transcreve !oder - tempo inadequado construo
hipottica em questo (se !1uderlll. . lio !1udera). A este respeito, lembramos que o
mais-que-perfeito podia ter valor de condicional (SILVA DIAS 1970, p. 191).
Note-se o uso pleonstico do advrbio de tempo (como no v. 328).
302: deixa/Ido: no original, l-se deixado. Emenda-se por concordncia de rima.
304: selll!1re jalllais: pleonasmo. O uso de jalllais no sentido de selll!1re considerado
galicismo (MORAIS 1 889).
308: buscalll llos: buscam os - note-se a nasalao do artigo depois de consoante nasal.
8 7
40
41
42
OB R A S P O T I C A S - 2 5
quem o mundo nom ama com toda crncia,
no tem nele cousa que possa temer.
Seja nossa culpa de ns conhecida,
enquanto vivemos faamos pendena
que sem na fazermos, segundo sentena,
haveremos na morte perdo se duvida.
Por santos Doutores mui repitida
aquesta doutrina que ver nos convm:
que quem sempre mal viveu nesta vida,
muito defcil poder morrer bem.
o etero Deus com j usta balana
permite com grande rigor e mui forte
que s' esquea de Si na hora da morte
quem Dele na vida no teve lembrana.
No bem que fazemos tenhamos fiana
que per suma j ustia est ordenado
que sempre carea de toda folgana
quem nunca jamais careceu de pecado.
Fim
Pois desprezemos o breve prazer
que logo se converte em grave tristeza,
que mui facilmente o mundo despreza
aquele que cuida que h-de morrer;
quem firmamente aquesto tever
nas cousas de Deus ser mui costante,
por bem-aventurado se deve d'haver
aquele que a morte tem sempre diante.
3
1
5
320
33
335
311: crl/eia: o mesmo que crwa, do lato credwtia. O sufixo latino -wtia desenvolve-se por
via erudita em -meia, ao lado de -ena (d. HUBER 1986, p. 275). No encontrmos atesta
da a forma crl/eia, mas jul
g
amos que o seu uso aqui possa ser tanto um preciosismo quanto
uma exigncia da rima. E lcito, todavia, interrogar-se sobre a hiptese de que este sin
tagma possa ser a realizao de querl/eia (de querer, portanto, e no de crer), pois, na altura,
qu- ainda podia ser escrito c-, e caracterstica do portugus a sncope das vogais tonas.
313: d. supra, V. 28.
314: peudeua: evoluo regular do latim poeuitelllia - penitncia, castigo, trabalho
(MCHAO 1977).
315: sem l1a: sem a.
316: haveremos: no ar. havermos - poder ser considerada, esta, uma realizao grfica
do hbito de comer" as vogais tonas, caracterstico do portugus?
Uma parfrase do V. 31 6, seria: duvida-se que poderemos ter perdo na morte.
31 9-320: sobre a fonte directa destes versos, d. II/traduo, ponto 5.
8 8
OB RA S P O TI C AS - 2 6
26
De Diogo Brando ao Bispo do Porto sobre quatro mi/ reis que tinha
prometidos a um escravo de Martinho da Mota para ajuda de sua a/forria
o cativo meo forro
fusco dantre lobeco
nom se diz em m teno
vos pede, senhor, socorro
pera sua rendeo.
Livrai-o de cativeiro
per inteiro
sem minguar nenhGa j ota
porque Martinho da Mota
j nom quita mais dinheiro. 10
26. Uma dcima real 2x5, com o stimo verso de p quebrado, f. 1 1 1 r.
O Bispo do Porto a que se refere deve ser D. Diogo de Sousa.
Rubrica: a/fonia: era a libertao da condio de escravo, quase sempre obtida me
diante resgate.
1: lIIeo forro: pois o escravo tinha pago s metade da sua alforria.
2: {ISCO: escuro; /obeco: animal meio lobo, meio co. O escravo negro no podia ser
nem uma coisa nem outra, uma vez que no tinha comprado por completo a sua
liberdade.
8 9
O B RA S P O T I C AS - 2 7
27
De Diogo Brando estando ausente de sua dama,
endereadas a Anrique de S
Depois, Senhor, que forado
me trouxeram c cativo,
ando to desesperado
que no vivoj
e sabs bem que conforto
se m'ordena:
que por ser mor minha pena
no so morto.
Se o fosse, acabariam
minhas dores mais que fortes
e meus olhos nom veriam
tantas mortes.
Mas pois deste bem careo
sem ventura,
vers nestas a trestura
que padeo.
Mas naqueste triste canto
tende vs certo por f
que no posso dizer tanto
como j
e pois tero do que sento
no diria,
julgue vossa fantesia
meu tormento.
Que nenhum no foi tamanho
de passado nem presente,
um grande mal estranho
ser ausentej
10
15
20
25
27. A composio de Brando formada de vinte e duas copIas castelhanas, com p
quebrado no 4., 6. e 8. versos, fls. 92v-93r.
Tambm estas trovas se inserem no gnero das partidas (cf. l/ltrod/lo, ponto 3).
17: /laq/leste (e v. 37): cf. 19, 1 0.
25: /leu/UIIII /Io: repare-se no uso pleonstico de /Io depois de /leu/llllll. Mais adiante
encontraremos outra realizao deste fenmeno (v. 39).
9 0
O B RA S P Of T I C AS - 2 7
que com este qu'em mim jaz
me comporia
se eu visse cada dia
quem mo faz.
E com este apartamento
sem s'apartar minha vida
o meu padecimento
sem medida.
E aquesta dor presente
que m'aqueixa
jamais viver no me deixa
antre gente.
E vou-me por esses montes
desastrado, sos pirando,
os meus olhos coma fontes
vo chorando;
das lgrimas desmedidas,
verdadeiras,
vo as guas das ribeiras
mui crecidas.
Depois me dexo nos vales
com teno que me descansem
mas antes crecem meus males
que s'amansem.
Os doces cantos das aves
mui suidosos
assi me so amargosos
como graves.
30
35
4
0
45
55
30: o verso s resulta isomtrico se se aplicar a "lei de compensao com o verso
precedente (d. BAEHR 1984, p. 52).
39: d. supr, v. 25.
43: collla: d. 9, 7.
51 : o motivo do contraste entre o tormento interior do amante e a harmonia da natu
reza circunstante, que acaba por exacerbar o sofrimento ntimo, encontra-se j na
poesia provenal. Duarte de Brito, nas trovas elll que coI/ta o que a ele e a outro !/,e acon
teceu . . . (8s. 37r-40v), diz, a propsito do canto de um rouxinol: "Ns ouvindo sa
doura / por um contraponto manso, / dezia de nossa ventura / que nossa sobeja tris
tura / era j sem ter descanso (vv. 12-16).
9 1
OB R AS P O T I C A S - 2 7
Os frescos prados e rios
que mil vidas a mi ventam,
muito mais meus desvarios
acrecentam:
que minas desaventuras
lastimeiras
no se curam com frescuras
das ribeiras.
Nem as tristezas s pares
que meu viver desajudam,
por mudar muitos lugares
no se mudam.
Porqu'amor qu'assi me trata
vai comigo
que m' to cruel imigo
que me mata.
Bosques que se vo cu
em grandeza e crecimento
me causam beber um vu
por tormento:
pois as fontes que manavam
dos roquedos
minhas sospeitas e medos
mais dobravam.
Arvoredas qu'eixcediam
grandes alturas e costas
de donde os deuses soam
dar repostas,
sendo muito graciosas
e prazentes
em as ver vejo serpentes
espantosas.
60
7
0
75
80
60: vel/lam: de ventar, favorecer, dar nimo, foras (MORIS 1 889).
67: os pares: no original, l-se dos pares. Interpretmos desta maneira, supondo uma
falha tipogrfica. Poder-se-ia, talvez, corrigir tambm com dispares, forma antiga, ates
tada por mpares (MORIS 1 889): de qualquer modo, o sentido no sofria alterao.
77: beber til/I vu: no encontrmos atestada esta expresso, nem se percebe pelo con
texto o que querer indicar.
83: eixcediam: veja-se a nota relativa a 25, 23.
arvoredas por arvoredos. No conhecemos outra atestao da fora feminina. Ser gralha?
86: dar: no original, l-se daa. Emendmos o erro tipogrfico.
9 2
O B R AS P O TI CAS - 2 7
Par'os desertos fugia
bradando com meus cuidados
e eu s me respondia
a meus brados:
oh, quem das lteas guas
se fartara,
porque mais se no lembrara
destas mgoas .
Dos olhos e corao
gr demanda nom se parte:
ambos bem culpados so
que lhes farte.
Quem foi disto ocasio
bem se viu,
pene pues que consentiu
com razo.
Mil desatinos no digo
que neste tempo fazia,
s'algum topava comigo
m'avorreciai
simulava em nos vendo
meu morrer
e fingia ter prazer
no no tendo.
Mas era bem conhecida
minha dor que no tem cura:
que nunca cousa fengida
muito dura.
E nos sinais que fazia
de mortal,
viam bem o grande mal
que padecia.
Grande compaixo e d
haviam de mi aqueles
95: lleas guas: as guas do Lete, o rio do esquecimento.
109: verso hipermtrico.
1 10: elll 1105: em os.
1 13: lio 1 10: no o.
121: verso hipermtrico, emendvel por compensao.
9 3
9
5
roo
lIa
1I5
120
O B RA S P O T I C AS - 2 7
mas eu folgava mais s
que co eles.
Em seus conselhos prudentes
e no vos
vi que bem conselham sos
os doentes.
E querem que coma bem
com confortos que me do,
mas mui mal come ningum
com paixo;
e pior dorme sintindo
tantos danos,
parecem-m'as noites anos
no dormindo.
Trabalho nestes casais
por dormir de quebrantado,
e isto tenho de mais:
vilar cansado.
Desvelado de tal sorte
ando assi
que s' espantam mais de mi
que da morte.
Esta no me satisfaz
por ser to desordenada
que toda cousa que faz
vai errada;
que mata com mal sobejo
quem a nom quer
e a mim deixa viver
que a desej o.
Por aqui pods j ulgar
a vida que tenho agora,
bem ma podia mudar
1 26: f. 93r.
12
5
130
135
1
45
155
132: lIillgum: note-se o uso particular do indefinido negativo, como em 6, 13.
1 41 : viar: o mesmo que velar. Poderemos supor uma realizao grfica da pronuncia
o do e tono?
Tem que se aplicar a compensao para reestabelecer a isometria do verso.
1 51 : verso hipermtrico.
9 4
O B RAS P O TI C AS - 2 7
mina senhora.
Ajudai-me palo amor
qu' em vs fica,
pois sabs bem como pica
esta dor.
E pois a teno crecida
algum remdio se cate:
esta seja dar-m'a vida
ou me mate.
E se mais com morte dar
se contenta
outra vida m'acrecenta
em me matar.
E, desta sorte, de c
Fim
me parto sem meus sentidos,
que todos me ficam l
bem perdidos.
Hajam de vs gasalhado,
pois so vosso,
mais do que dizer no posso
de penado.
160
170
175
Reposta d'Anrique de S s trovas de Diogo Brando que comeam
depois, senhor, que forado me trouxeram c cativo)
Estando bem namorado
da senhora que pena
minha vida e desordena
meu cuidado,
180
157: o verso seria hipermtrico se no se aplicasse a lei de compensao.
1 69: obtm-se a isometria por sinafia, isto , a sinalefa aplicada entre a vogal final da
ltima palavra de um verso e a vogal inicial da primeira palavra do verso que segue.
174: gasal//ado: bom acolhimento.
178-273: A reposta (mais propriamente uma ajuda) de Amique de S encontra-se
a muitas folhas de distncia, e compe-se de doze copIas castelhanas, com p quebrado
no 4., 6. e 8. versos (com excepo da ltima estrofe, que no contm quebrados). Tal
como a rubricl indica, foi escrita justamente em consequncia da composio de Bran
do: pois, como nos outros casos do mesmo gnero, considermos estas duas compo
sies como um nico acto potico, e numermos os versos como se fosse uma s com
posio. Fls. 1 10r-v.
95
O B RA S P O T I CA S - 2 7
vossas trovas me chegaram
to doridas
que se tivera mil vidas
mas tiraram.
Mas eu nom tenho seno
a s, mais que perdida
porque sempre minha vida
d paixo.
Sem querer nunca mudar
por outra via
seno sempre a fantesia
em me matar.
Por esta tenho crecida
tristeza que nom tem par,
por esta nom posso dar
minha vida
consolao nem prazer
como saa,
antes crece cada dia
em padecer.
Por esta so mais que morto
pois vivo vida penando,
sem saber como nem quando
terei conforto.
Ouerendo-lhe grande bem
desordenado,
so dela mais desamado
que ningum.
Por esta, noites e dias
me vejo sempre penado,
19
5
200
20
5
210
Muitos so os versos de p quebrado em relao aos quais preciso aplicar a lei de com
pensao ou a sina fia (cf. BAEHR 1984, p. 52), para que a contagem mtrica seja corecta
(v. 191, 193, 197, 199, 201, 207, 215, 217, 225, 229, 231, 233, 245, 253, 255, 257, 261, 263).
Sobre Amique de S, cf. [//traduo, nota 74.
1 84: se tiver: note-se a prtase do perodo hipottico construda com o mais-que-per
feito (SILVA DIAS 1970, p. 1 91).
//Iii vidas: o motivo foi muito glosado na tradio palaciana. Pense-se, por exemplo, em
Aires Teles, no louvor a D. Joana de Mendona (fls. 150r-v): Se eu podesse ganhar /
/ doutra parte cem mil vidas / seria por vo-las dar / pera as ver por vs perdidas.
203: vivo vida: acusativo do objecto interno.
205: verso hipermtrico.
9 6
OB RA S P O T I C AS - 2 7
desta so mais namorado
que Mancias.
Desta s me cativei
t minha fim,
que j doutra, nem de mim
nunca serei.
Esta faz que vos nom possa
ajudar como desejo
porqu'a dor em que me vejo
desapossa
de maneira e de tal sorte
meu poder,
qu' estou j por nom na ver
perto da morte.
Mas pois que de mi quereis
ajudar vossa requesta,
nesta trova e deps esta
atentareis;
nom ters em pouca estima
o que vos digo,
d-me Deus tal par consigo
a vossa prima.
Dizei-me senhor quem possa
conselhar-me como viva,
que me no'mat'est'esquiva
mais qu'a vossa.
Porqu' a vossa nunca perde
neste mundo
quem nom leixa ir fundo
quem na serve.
215
220
225
2
3
5
213: JIallcias: Macas, o poeta galego do sculo XIV, que se tomou o enamrado" por
antonomsia, pois reza a lenda que um amor infeliz o conduziu more. E invocado
muitas vezes pelos poetas do Callciolleiro Geral, que at o fazem intervir nas trovas sobre
o cuidar e suspirar com composies em favor do cuidar" (f. 12r). Sobre este enigm
tico personagem, cE. DLMGP 1993, pp. 429-430. Saiu recentemente uma nova edio das
composies do galego (d. ZINATO 1996).
215: verso hipermtrico.
21 6: fI. 1 1 0v.
224: 110111 lia: 10m a.
228: de/s: forma atestada por devo is (HUBER 1986, 201, 3) . .
236: desenvolvendo todas as elises, o verso seria: que me nom mate esta esquiva.
241 : quelll lia: quem a.
97
O B R AS P O T I C AS - 2 7
E co esta confiana
deveis de ledo viver
se vos der algum prazer
ter esperana.
Porqu' eu nunca d'esperar
pude ver
como nom visse crecer
meu pesar.
Que quanto mais esperava
sem d'esperana ver fim
tanto mais ver-me sem mim
se me dobrava.
E pois isto h sempre dor
d' acrecentar,
ver-me bem desesperar
vi por milhor.
6 menos nom sintirei
quanta dor sinto esperando
sem saber, em certo, quando
acabarei
este to triste fadairo
em que me vejo,
pois sabs que o que desejo
fi' contrairo.
Fim
Senhor, estas trovas vossas
e esta reposta delas
parecem Cento Novelas
de finas mentiras grossas.
Se o juizo nom perdi
ponde-vos mui bem oposto
onde falais em agosto
e vers logo qu' assi.
2
45
2
5 5
260
262: fadairo: vida trabalhada, afanosa. Note-se a mettese do nexo -a rio.
268: CeI/to Nove/as: por este ttulo era conhecido o Decalllerol/ de Boccaccio e outras
coleces de histrias e contos (como o Novel/il/o, por exemplo).
9 8
OB RAS P O TI C AS - 2 8
28
De Diogo Brndo [a] Anrique de S, sobre que chegando a um mosteiro
lhe veio tia freira beijar a capa sem lhe dizer outra cousa
Sem vida fazer em lapa
as vossas amigas, tanto
me tem por homem to santo
que me vem beijar a capa.
Mas por mais minha sade
desejo saber, em cabo,
se ma beijam por diabo,
se por homem de vertude.
Reposta d'Anrique de S
De diabo, vos seguro,
antes por homem de bem
estas senhoras vos tem,
pois nunca trepaste muro.
E por isso, ao que sento,
a beijam por ter sade
que ho que tendes vertude
para dor d' esquentamento.
28. A pergunta de Diogo Brando uma copia castelhana, fi. 97r.
10
15
1 : lapa a furna, a caverna. Existe a expresso lapa de penitente" que significa
ermo". O provvel significado deste verso o seguinte: sem viver em clausura, sem
transformar a sua vida numa eremitagem.
9-16: tambm a resposta de Anrique de S uma copia castelhana, mas no pelos
consoantes".
Sobre Anrique de S, d. fI/traduo, nota 74.
12: evidente referncia aos chamados amores freirticos", que tanto deviam ser con
denados nos sculos XI e XII. Diogo Brando era tido por homem de bem , pois
nunca tentou estabelecer uma relao sentimental com uma freira - nunca trepou" o
muro" do mosteiro.
15: dilogia: o primeiro que relativo, o segundo causal.
16: dor d'esquelltal/1e11to: doena venrea. Brando jocosamente considerado uma
panaceia contra a dor de esquentamento".
9 9
O B RAS P O T I C AS - 2 9
29
Pregllnta de Diogo Brando [a Al1riqlle de S]
So sepultados em corpos de mortos
quando se fundam matar aos vivos
e nunca cativam sem serem cativos
nem usam dereito seno sendo tortosj
dos cinco sentidos humanos os portos
dos quatro se sanam em sua conquista
a qual j nom sendo, ento bem vista
quand'os sepultados se tornam abortos.
Reposta
Dos quatro elementos num deles so ortos
5
os que nos trs no so sensetivos 10
em outro daqueles depois d'alertivos
se poem os tomados com fios retortosj
o homem recebe assaz de reportos
quando picando vitria s'aquista
tambm doutrina qu'a boca resista 15
pois eles por ela da vida so cortos.
29. Duas oitavas de arte maior, fi. 1 1 2r.
No conseguimos desvendar o enigma (tratar-se- de mexericos, de maldicn
cias ?). DIAS 1990, n.O 439, pensa que esta perguula faa parte das Trovas que fez Auri
que r/e S a lia swlrora . . . wdereadas a Femo Bral/do (fls. 1 1 1 v-1 12r), que a precedem
imediatamente no Cal/ol/eiro de Reswde. Mas essas trovas tm em comum com a
vergllllla em questo s o facto de serem compostas em arte maior. De facto, elas tra
tam de coitas de amop" e sobretudo tm uma estrutura prpria e acabada: so cinco
copias de Amique de S e cinco de Ferno pelos consoantes (Ferno acrescenta
mais uma de introdio).
Sobre Anrique de S, cf. !tllrorllo, nota 74.
5: subentendido o verbo ser.
9: so orlas: orla quer dizer nascimento, princpio, origem (de ortus: cf. MORAIS 1889)
-neste caso, so nascidos. DIAS 1990, n.O 439, l salll 11101'105.
1 1 : a/ertivos: forma no atestada do adjectivo, construda sobre o substantivo alerta.
13: reporIas: MORAIS 1 889 indica signo incerta, cita este verso e acrescenta ser
obsquios, favores; e vir do V. reporlar?. VIEIRA 1 871- 1874 d Termo antiquado.
Obsquios, favores.
1 0 0
OB RAS P O TI C AS - 3 0
30
Pregul1ta de Duarte da Gama a e/e
Pois que todo-los nacidos
somos sojeitos nacendo
de ns e doutrem vencidos
sem querer, nada querendo:
pregunto qual sojeio
maior das sojeies
e qual d maior paixo,
e se podem ser ou no
num corpo trs coraes.
Reposta sua
Sojeio dos some tidos
s estrelas em vivendo
maior qu' a dos perdidos
que d'amores vo gemendo;
a natural condio
custumada em afries
causa menos afrio
e j vi d'emprenhido
parir dous filhos bares.
10
1
5
30. A composio formada por duas intervenes com o mesmo tipo de rimas,
cada uma composta de uma quadra e uma quintilha, fls. 94 r-v.
Sobre Duarte da Gama, d. II//rod/lo, nota 76.
De facto, as perguntas postas por Duarte da Gama so trs (vv. 5-6i v. 7 e VV. 8-9).
1: fl. 94v.
3: de I/S: d. 22, 21 .
10-18: Diogo Brando responde s trs questes: os vv. 10- 13 respondem aos vv. 5-
-6, os vv. 14- 16 ao v. 7, e os vv. 17- 1 8 aos vv. 7-8.
10-1 1 : sOllfe/idos s es/relas: submetidos ao destino determinado pela conjuntura astral.
1 0 1
O B RA S P O TI C AS - 3 1
31
De Rui Gonalves de Castel Branco a ele
Sem vossa galantaria
esta corte estava s
qu' era para haverem d
de tanta sensaboria.
Da noite se torna dia
pola vs alumiardes
qu'abasta, para a salvardes,
s vossa sabedoria.
E pois vossa perfeio
perfeita e acabada,
a esta pregunta errada
dai, senhor, a concruso:
porque com rei j usto e santo
medram os que tais no so
e os dessa condio
muito menos e no tanto?
Vai assi d'altenaria
to sobido vosso v
Reposta
que no sei quem sendo J
em saber responderia;
10
15
20
31. 1-16: Pergunta de Rui Gonalves formada por duas copias castelhanas, f. 94v.
Sobre Rui Gonalves de Castel Branco, cE. l/ltroduo, nota 29.
5: o verso no faz sentido: poder-se-ia pensar num erro devido atraco do de do
verso precedente, pelo qual o impressor marcou da /loite, em lugar de a /loite.
13-16: evidentemente h nestes versos uma aluso s prticas financeiras de Diogo
Brando, julgadas, ao que parece, ilcitas. Veja-se tambm a composio n. o 32.
17 -32: resposta de Diogo Brando "pelos consoantes, isto , com o mesmo tipo de
estrofes e o mesmo tipo de rimas.
17-18: estes versos corroboram a interpretao da pergunta de Rui Gonalves acima
referida. Lemos aqui uma ironia de Diogo Brando, que se sentiu atingido pela insi
nuao do outro poeta.
18: v: o mesmo que voo, com a contraco das vogais idnticas, provavelmente cau
sada por exigncias de versificao, j que Diogo tinha de compor "pelos consoan
tes, e neste lugar era obrigado a usar uma rima em -.
1 9: j: o bblico profeta Job.
1 0 2
O B RAS P O TI C AS - 3 1
sem falar lijunjaria
como vs em me louvardes,
naceste s para dardes
os remdios desta via.
Mas pois temos a rezo
de Doutores aprovada
que tem Deus, sem arrar nada,
o corao do rei na mo;
desta concrudo qu'enquanto
de Deus a permisso
o rei no faz sem razo,
conquanto nos faz espanto.
21 : lijlllljaria: d. 25, 1 93.
27: arrar: o mesmo que errar.
25
30
29-32: Brando conclui recorrendo ao princpio da origem divina do poder real. Em
consequncia disso, tambm os casos sobre os quais Castel Branco se debrua, per
tencendo ao desgnio de Deus manifestado atravs da aco do rei, so de aceitar
incondicionalmente, mesmo que nos causem estranheza.
1 03
O B R AS P O TI C AS - 3 2
32
De Joo Rodriguez de S a Diogo Brando, mandando-lhe um mandi!
Ouando o genro dum tetrarca
no desdanha de peitar,
que se deve d' esperar
dum contador de comarca
eleito pera medrar?
E por isso esse mandil
que vem da regio da China,
no mandil mas doutrina
para vs que sois sotil.
Reposta de Diogo Brando palas consoantes
o presente foi de marca
para tropo s'estimar,
no mais no h que falar
que quem quer encher sua arca
parte dela h-de vazar.
Siguirei se no for vil
senor que to bem ensina,
que sendo to j uvenil
nos feitos de cousa dina
Nestor e la ora mi!.
10
15
32. 1 -9: Composio de Joo Rod
.
rigues de S, formada de uma quintilha e uma qua
dra, fl. 95r.
Sobre Joo Rodrigues de S, d. ll/trodllo, nota 31 .
Rubrica: lIIal/di/: neste caso, uma das peas dos arreios do cavalo (uma espcie de
gualdrapa).
1: gwro dllll/ tetrarca: interpretamos aqui este sintagma como sendo uma afirmao
genrica no sentido de uma pessoa de muito alta posio. Mas no se pode excluir
a possibilidade de que Joo se queira referir a algum em concreto.
2: desdal/fla: no or., l-se s'esdallfla, forma que no encontrmos atestada.
peitar: subornar.
4: co'tlador da cOlI/arca: seria o prprio Diogo Brando.
6-9: interpretamos estes versos como uma tentativa de suboro de Rodrigues de S a
Diogo Brando: o lIIal/di! que lhe oferece serviria para cair nas boas graas do col/tador.
10- 19: a resposta de Diogo pelos consoantes, mas, em lugar de uma quintilha e de
ura quadra, tem duas quintilhas (a segunda rima C no existe, na composio de
Rodrigues de S).
1 1 : tropa: galicismo, do francs trop -assaz (MORAIS 1889 cita justamente estes ver
sos para atestar o emprego deste advrbio).
13: qlle com valor causal.
19: Nestor: o personagem da Ilada e da Odisseia, por antonomsia o velho sbio.
1 0 4
O B RA S P Ot T I C AS - 3 3
33
De Duarte de Lemos a Diogo Bral1do, sobre ta cadea
d'ouro que tinha sua que lhe l1o quis mandar
mal1dal1do-lha ele pedir
Senhor, vossa merc crea
que despachei maI o moo,
por no tirar a cadea
do pescoo.
Por isso dexai andar,
de a vender sois seguro,
no quereis mais razo dar
per' arrancar
porque som das presas duro.
Nem gastemos mais candea,
nem vena c mais o moo,
qu' eu afirmo qu'a cadea
eu a trarei pescoo.
Reposta de Diogo Bral1do
Senhor, dais-me to m vida
que no fao dela conta,
pola cadea que monta
tanto coma ser vendida.
10
33. 1 -13: Cantiga de Duarte de Lemos com mudana de 5 versos de p quebrado no
4. e 8. versos, fI. 97r. Sobre Duarte de Lemos, cf. IlItrodllo, nota 73.
Rubrica: cadea: colar.
2: o 1II0O: evidentemente mandado por Brando para pedir a Duarte de Lemos o
colar.
8: verso isomtrico s por compensao.
10: gastar calldea: note-se o jogo paronomstico entre calldea (<<gastar candea = per
der tempo) e o sUQentendido cadea de ouro, o objecto em questo.
14-26: resposta de Diogo Brando em forma de cantiga, com mudana de 5 versos,
que no apresenta nem os mesmos consoantes nem os ps quebrados.
Parece que Diogo Brando teria uma dvida para com Duarte de Lemos, ficando o
colar como penhor. Brando tentaria, em vo, recuperar a jia para a poder vender
e, provavelmente, com a quantia resultante dessa venda, saldar a dvida que tinha
com Lemos.
17: collla: cf. 9, 7.
1 0 5
O B RA S P O TI C AS - 3 3
o ouro que jaz em poo
a ningum no presta nada,
cadea dependurada
se no no meu pescoo,
pior que rematada.
S'esperana j perdida
eu tevesse desta conta,
no sintiria a que monta
tanto como ser vendida.
1 0 6
20
2
5
O B RA S P O: TI C AS - 3 4
34
D'Anrique de S a Diogo Brando mandando-lhe um presente de vinho
Senhor, protesto
qu'inda que vos saiba bem
que a vs nem a ningum
no convide mais co resto.
Porque vejais como presto
melhor do que mo fazeis
vos mand'esse que proveis,
do que fica no cureis
porqu'a ele me memfesto.
Reposta de Diogo Brando polos consoantes
Eu contesto
palo qu'a vasilha tem
mas eu queria porm
o vendedor manifesto
para ser na compra lesto,
que deste sempre gosteis
e tenhais muito que deis
isto s me decrareis
e vereis como m'atesto.
10
1
5
34. Estrofe de nove versos, composta por uma quadra e uma quintilha com trs
rimas e o primeiro verso de p quebrado (alis hipermtrico), fI. 1 1 1 v.
Sobre Amique de S, d. Introdno, nota 74.
4: isto : no quero dividir com ningum o que me resta.
9: memfesto de memfestar, dar ao manifesto, confessar-se (MORAIS 1899): Amique
querer afirmar que vai beber sozinho o que lhe fica.
10-18: resposta de Diogo Brando, em que usa as mesmas rimas da composio de
Amique de S: aqui , porm, o primeiro verso de p quebrado metricamente cor
recto.
Diogo solicita a Amique de S que lhe revele a identidade do vendedor do vinho,
para poder comprar mais e beber vontade.
1 0 7
OB R AS P O TI C AS - 3 5
35
D'Anrique de S a Diogo Brando sobre um homem que disse que se
por fidalguia fosse, queJesu d'Abreu lhe deviam de chamar, o qual nome
lhe fcou e quando morreu o conde de Portalegre e/1sarrou-se por ele
no tendo com ele nenhum parentesco
Mandai-me senhor dizer
s' j l desensarrado
o vosso Deus anojado.
Ou' eu tambm senhor estou
de loba, mas no na friso
e porm morto de riso
porque se Deus ensarrou;
fazei-me logo saber
se j desensarrado
o nosso crucificado.
Reposta de Diogo Brndo
Ant'ontem saiu tarde,
guedelha mais que ningum
e Nosso Senhor me guarde
deste filho que c tem:
nunca j ouvi dizer
antes de ramos passado
ser Cristo ressuscitado.
35. Vilancete em forma de cantiga de Amique de S, fI. 1 1 3v.
Sobre Amique de S, cf. IlItrodllo, nota 74.
O Conde de Portalegre, D. Diogo da Silva Meneses, morre em 1504.
10
15
Rubrica: eI1sarrOIl-se por ele: encerrar-se por algum significa ocultar-se, no sair de
casa em sinal de luto ou angstia (MORAIS 1889).
4-5: estoll de loba: a loba era o vestido de d, ou luto, usado nesta poca.
5: lio lia: no a.
friso: de frisar. Entenda-se: no o evidencio.
1 1-17: a resposta de Diogo Brando representa mais uma mudana e uma volta do
vilancete de Amique de S.
12: glledelha: substantivo adjectivado de glledelha, no sentido de confiana, espe
rana: portanto, confiado.
1 0 8
OB R AS P O TI C AS - 3 6
36
De Dom Antonio de Valhasco estando el-rei nosso senhor em Saragoa
a tias ceroilas de chamalote que fez Manuel de Noronha, fl/tO do
capito da Ilha da Madeira
[ . . . ]
o coudel-mor Francisco da Silveira estando em Portugal a estas
ceroilas de Manuel de Norol1ha, as quais mal1dou a Castela
Rifo
Grande corte de Castilha
no hajais por maravilha
Manuel calar-se mal
que no de Portugal
mas da Ilha.
Enganou-se por Vero
e foi l em forte ponto
cuidando qu' em Arago
no havia corteso
que de rir viesse a conto.
Mas de l, ou de Sevilha,
parece por maravilha,
acertou algum ser tal
que quis rir de Portugal
e riu da Ilha.
Com' ele da Ilha veo
se soube c por seu sino
que de chamalote fino
!O
20
36. Transcrevemos tambm a rubrica dos motejos contra Manuel de Noronha elabo
rados em Castela (este grupo de trovas foi publicado por CICERI 1993). A longa can
tiga do Coudel-mor d continuao, em Portugal, invectiva l comeada. Sobre a
datao das trovas e as personagens envolvidas, d. fl/trodllo, ponto 6.
A composio de Francisco da Silveira d o tema e a forma mtrica a uma srie de
intervenes em que as rimas do mote so retomadas completamente ou, como no
caso de Dio
g
o Brando, apenas na rima A, fls. 162v-1 63r.
preciso aplicar a lei de compensao nos vv. 5, 20, 39, 68, 78.
Participam: Jorge d'Aguiar, Duarte da Gama, Jorge da Silveira, Diogo Brando e Joo
Gomes d'Abreu.
Rubrica: arai/as de c/lall1a/ote: pea que, geralmente, se trazia debaixo das calas. Nor
malmente eram de algodo, linho, seda ou flanela, e no de l de plo de camelo.
10: vir a COI/to: vir a propsito.
1 0 9
OB RA S P Of T I C AS - 3 6
faria calas d'arreo.
Mas h-se por maravilha
serem feitas em Sevilha
e culpar-se em Portugal,
pague l, pois fez o mal
em Castilha.
Cuidaro nos castelhanos
que nos tenham j na rede,
ora crede
que somos c to oufanos
que no calamos tais panos:
em caotes, em fraldilha
em j ubes, em tabardilha,
em outros deste metal
se gastam e no to mal
como em Castilha.
A quem tais calas fez
se devera perdoar
por esta primeira vez
e dando-Ih'este lugar
em outra o foreis tomar:
dig' Conde de Tendilha
e a senhora Bobadilha,
se da Ilha do Funchal
foi homem, to por seu mal,
a Castilha.
Estava fora do rol
e destes motes isento
e meteu requerimento
com que no fez sua prol,
2
5
3
0
35
4
45
5
0
24: calas d'arreo: MRAS DE FREITAS 1947, p. 76, indica calas de luxo? .
30: Cuidaro I/OS: cuidaro os - note-se a nasalao do artigo depois de uma vogal
nasal.
33: oufal/os: forma are. por IIfa/los.
35: caote: saio de pano groSSO (MRlAS DE FREITAS 1947, p. 75), e MORAIS
1 889, acrescenta talvez era talar e fraldado.
fralil/la: diminutivo de fralda.
36: jllbes: casacos largos (MRAS DE FREITAS 1 947, p. 85).
tabardillta: capa, casaco ou capote com capuz e mangas (MORAIS 1 889).
37: deste lIIetal: isto , deste gnero.
1 1 0
O B RAS P O T I C AS - 3 6
mas antes seu corrimento.
Compoer, senhor, da Ilha
pois por fora na quadrilha
vos fostes de Portugal
a envencionar mal
a Castilha.
Compre que vos desculpeis
tomando a culpa por vossa,
sem s'haver nada por nossa
pois que s a mereceis.
E compre que Caladilha
no sermo diga em Castilha
em voz alta, especial
que no sois de Portugal
mas sois da Ilha.
Fostes l muito aram
por vos fazer tal cousa
que a vs dano trar
e que no vos valer
Pereira, Silva nem Sousa.
Milhar vos fora em camilha
jazer curando la asilha
ou vos tornar Funchal
que com trajo to sem sal
ir a Castilha.
[
. .
.
]
55
60
7
75
55: campoer: antiga forma de cOIII
I
0r (MORAIS 1 889). Aqui usado como infinito subs
tantivado.
58: e/Ive/lciollar: ornar com invenes, e adornos galantes (MORAIS 1 889).
64: Caladillta: jogo paronomstico, construdo sobre o eventual antropnimo e o sin
tagma cala d' Ilha .
69: aram: em hora m. Sobre esta palavra, d. TEYSSIER 1959, pp. 495-500.
74: camillta: diminutivo de cama, leito para dormir a sesta.
75: asillta: no encontrmos atestada esta palavra, que, em princpio, deve indi
car uma doena. Os dicionrios (MORAIS 1 889 e MACHADO 1977) j ulgam
-na diminutivo de asa , significando ombro ou omoplata. Talvez se trate, por
tanto, de uma particular afeco dos membros superiores - mas no podemos
garanti-lo.
1 1 1
O B RAS P O T I C AS - 3 6
Diogo Brando
Muito mal se conformou
com cousas de sua terra
quem tais calas enventou
por nossa guerra.
Porque como se criara
em cousas doces comer
desta Ilha,
delas mesmas se calara
e escusara
o zombar e escarecer
de Castilha.
Neste trajo s'afirmou
qu' os da Ilha faro tudo,
que j l outro s'achou
que frisou
duas peas de veludo.
Desta vez foi Ilha,
desembarcou em Sevilha,
sem tocar em Portugal
e por isso o fez to mal
em Castilha.
[ . . . ]
10
15
20
1-21: a participao de Diogo Brando apresenta-se em duas estrofes desiguais: de
onze versos (quintilha e sextina) a primeira, e de dez versos a segunda. FI. 163r.
4: tambm este verso s isomtrico por compensao.
!5. no Ca|:|c||c|tu, a nica meno que encontrmos, relativa ao facto de bordar
alguma pea com veludo, a stira de Sancho de Pedrosa a D. Francisco de Castro,
em que tambm Brando participa (cf. n. o 40).
1 1 2
OB RA S P O TI C AS - 3 7
37
De Duarte da Gama em Lixboa, sendo el-rei em Saragoa, aJoo Gomez
d'Abreu porque estando na costa dos paos andando d'amores, lhe caiu
um cavalo pala costa e morreu logo e a ele no fez nenhum nojo
A morte deste cavalo
me matar de paixo
se vos faz ir a Lorvo.
No teremos c quem ria
nem ns-outros de quem rir
nem quem faa poesia
nem quem ouse cada dia
de cair.
Se quereis, senhor, servir
as damas de perfeio
no vos vades a Lorvo.
Desta morte to honrada
querem as damas saber
qual haveis por mais culpada
ou qual mais magoada
sem no ser.
E pois dela escapastes
ser mui grande rezo
que no vades a Lorvo.
Agora querem saber
em que haveis de cavalgar,
agor' o seu prazer
saberem qu'h i d'haver
IO
15
20
37. O vilancete de Duarte da Gama tem quatro voltas. Este d incio a uma longa
srie de composies. Depois da intereno de Pero Fernandes Tinoco, Diogo Bran
do intervm com uma nova", que determina uma mudana na escolha mtrica das
participaes, fls. 169r-171 v.
Sobre a datao, d. IlIIroduo, ponto 6, e sobre Duarte da Gama e Joo Gomes de
Abreu, a nota 76.
Participam: D. Garcia d
'
Albuquerque, D. Bernaldim de Almeida, Joo Pais, D. Afonso
de Albuquerque, Diogo Brando, Pero Fernandes Tinoco. Nos aditamentos" inter
vm Diogo Brando, D. Garcia de Albuquerque, Duarte da Gama, D. Afonso de
Albuquerque, D. Bernaldim de Almeida, Joo Pais e Pero Fernandes Tinoco.
16: sem //0: sem o.
1 1 3
OB RA S P O TI C AS - 3 7
de que trovar.
Agora vos querem dar,
em qu'andeis, um rocino
por no irdes a Lorvo.
D'hoje mais em mu selado
arraia do de lato
fareis vossa habitao
ou em grande sindeiro
derrabado.
E de como andais honrado
ser bem que vosso irmo
leve as novas a Lorvo.
[
"
.
J
Diogo Brando
Veo mui bem ao rocim
pois h tanto que no come,
ser aquela sua fim
pola no fazer com fome.
Nenhum outro no s'assome
em no fartar rocino
por no morrer de cajo.
Este que no sei se deve,
comprou gordo e anafado,
em trs dias que o teve
o matou d' entresilhado.
24: verso isomtrico por compensao.
25
30
35
! O
26: rocillo: o rocim um cavalo pequeno e fraco (MORAIS 1889), tanto que existia
nos forais antigos a distino entre carga de II/acl/Os e cava/os e carga de rocill/ e aSilo (cE.
SANTA ROSA DE VITERBO, artigo rocilla0.
28: 11//1: do esp. /II/i/o. Macho (MORAIS 1 889).
29: arraiada: o mesmo que arreado, isto , aparelhado com arreios.
32: silldeiro: se/ldeiro o cavalo que no de marca, cavalo ruim (MORAIS 1889).
1 -29: a interveno de Diogo Brando um vilancete com quatro voltas, que repe
tem as rimas do mote de Duarte da Gama, fl. 1 69v.
1 : rocill/: d. mais acima, v. 26 da composio de Gama.
7: cajo (e v. 21): (ant.) Desgraa. lHorrer de cajo: morte acidental (MORAIS 1889).
1 1 : d'e/Ilresilhado: MORAIS 1 889 diz, citando este verso, incerta significao.
Porm, em MACHADO 1 977, aparece o termo e/Ilresilhado, com a definio de
magro, enfraquecido, descarnado (do cast. Ires/fado).
1 1 4
O B RAS P O TI C AS - 3 7
Viu-se to desesperado
que quis mais morrer ento
que viver de sua mo.
Fez-lhe ter to pouca f
o trat-lo de tal sorte,
que polo leixar a p
quis tomar aquela morte.
Sofriam vida to forte
que foi d'ambos redeno
o morrer de tal cajo.
o demo vos deu contenda
com damas e com amores,
no tanta vossa renda
que por perda da fazenda
no sintais algGas dores.
No ds causa a trovadores
que vos falem na feio
polo no saber Lorvo.
[
. . .
]
20
25
Diogo Brl1do porque ouviu dizer que Joo Gomes mal1dara esfolar
o cvalo e vel1der a pele e que um moo seu a dera por quatro vintns
e que ele no contente mandara dizer a quem a comprou que lhe
desse a pele ou mais dinheiro por ela
Sabeis a nova que anda
do cavalo que morreu
que a pele se vendeu
e h sobr'isso demanda ?
A contia recebida
tem Jam Gomes qu' autor
queixa-se de mal vendida,
1-10: estes versos de Diogo Brando impulsionam outras composies dos mesmos
autores, que, porm, j no apresentam o esquema mtrico do vilancete de Duarte
da Gama, como at agora, mas o do vilancete de D. Garcia de Albuquerque que co
menta esta "nova dada por Diogo Brando, e que se lhe segue. FI. 170r.
5: coI/tia: forma arcaica atestada, por qual/tia (MORIS 1889).
6: Jalll: forma por Joo, atestata tambm em Gil Vicente (Farsa de II/s Pereira: Ins:
,, 0 Jesu que Jam das bestas, v. 291).
autor: termo j urdico -quem pe a demanda (processo).
1 1 5
O B RA S P O T I C AS - 3 7
defende-se o comprador:
vai a causa procedida
sendo j a pele cortida.
[ . . . ]
Diogo Brando
Por esta pele busc-lo
ando j de rua em rua,
foi seu pecado ceg-lo
em vender a do cavalo
por lhe falarem na sua,
sendo crua,
lhe foi o rabo cortado
e pentem nele pegado.
No sei porque quer hav-la
tendo o preo por inteiro,
se quer arca fazer dela
o que h-de meter nela,
queria saber primeiro.
Mais verdadeiro
aqueste seu cuidado
que no de ser namorado.
Oh, que manhas de fouveiro,
oh, que fim pera louvar;
milhor foi que ser ligeiro
gastar na vida dinheiro
e i-lo na morte dar.
Foi erro bem de culpar
e condenar
em ser Joo degradado
no sendo nada culpado.
IO
5
10
20
25
1 -33: Oitavas com p quebrado no 6. verso (excepto na ltima estrofe, sendo o v. 14
hipermtrico e o v. 23 isomtrico por compensao). Seguem o esquema das de
D. Garcia de Albuquerque, fI . 170v.
8: pell/ell/: o mesmo que pell/e. Porque faziam cabeleiras com o rabo do cavalo?
15: aques/e: d. 19, 10.
17: (ouveiro: cavalo castanho claro; em sentido figurado, mancebo dado a enfeites e
galanteios (d. MORIS 1889).
1 1 6
OB RAS P O T I C AS - 3 7
A vertude desta pele
rezo que se celebre,
qu'ainda que se querele
no podem dizer por ele
que vendeu gato por lebre.
Que com monjas se requebre,
no nelas to culpado
que merea desterrado.
[
. . .
]
3
30: vwrw gato flor lebre: DIAS 1990, n.
O
61 1 , transcreve \Ie,/de o gato flor lebre.
1 1 7
OB RAS P O T I C A S - 3 8
38
Do Conde de Borba a Francisco d'Anaia que veo a Portugal com grande
dor e trazia um jaez dourado e envernizado posto sobre palto de d
e muito largo com grandes eltxarrafas pretas
Rifo
Que cabeadas, peitoral,
que seu dono
entrado em Portugal
que nos faz perder o sono.
Fez por d este senhor
para si este jaez,
para ns tem mais sabor
e milhar
ca se fora feito em Fez.
No tenhais qu' de metal
seno seu dono
que veo to cordial
que nos faz perder o sono.
[
. . . ]
10
38. Longa invectiva contra os arreios de Francisco d' Anaia, encabeada pela cantiga
do Conde de Borba, de p quebrado no 2., 8., 1 1 . versos (este ltimo, isomtrico
por compensao). As rimas AB so sempre retomadas nas composies que se lhe
seguem. Fls. 171r-v.
O Conde de Borba era D. Vasco Coutinho, alis Conde do Redondo, poeta cujas
composies se encontram nas fls. 71 r-v e passim do Callciolleiro Geral.
Francisco de Anaia era filho de Pedro de Anaia, que estabeleceu a primeira feitoria .
em Sofala, em princpios do sculo XVI.
Participam: Joo Fogaa, Diogo Brando, Sancho de Pedrosa, D. Manuel de Meneses,
D. Joo de Meneses, Ferno Brando, Jorge Vasconcelos. Brando participa tambm
com um fictcio Requerimel/to a Alltllio Carl/eira.
Rubrica: jaez: aparelhos e arreios do cavalo.
e71xarrafas: geralmente so uns ornamentos para a cabea (cE. MRrAS DE FREITAS
1947, p. 1 1 2).
1: cabeadas: correias que cingem a cabea, testa e focinho do cavalo, e lhe seguram
o freio e as rdeas (MORAIS 1 889).
peitoral: correia presa na dianteira das selas, a qual rodeia o peito do cavalo, para que
a sela no corra (MORAIS 1 889).
1 1 8
OB RAS P O T I C AS - 3 8
Diogo Brndo
No m'espanto j da sela
nem das ctaras de fundo
que tudo h em Castela
mas espanto-me ver nela
outro j nom em segundo.
Oh, j aez especial
tu fazes perder o sono,
tu fazes presumir mal
de teu dono.
Requerimento [a] Antnio Careiro
Senhor Antnio Carneiro
porque nisso vai a vida,
vs tomai de ns dinheiro,
alongai esta partida
menos at Natal,
lhe fazeis perder o sono
e se no quiser seu dono
fique c o peitoral.
IO
15
1-17: Diogo Brando participa com duas mudanas e duas voltas, as quais repetem
as rimas do mote da cantiga do Conde de Borba. Fl. 171 v.
2: ctaras: neste contexto, so as gualdrapas (d. MORAIS 1889).
Rubrica: Antnio Carneiro era escrivo da puridade e eminncia parda dos reis
D. Manuel e D. Joo III.
1 1 9
OB RA S P O T I C AS - 3 9
39
Do Conde do Vimioso a um fdalgo que no sero deI-rei se meteu em {ia
chimin e fez os seus feitos num braseiro e diziam que era um dos
capites que iam a Torquia com o Conde de Tarouca.
Foi feito to atrevido
o dest'homem que devia
no parar at Torquia.
Sua
Ser l um Anibal,
far feitos de Pompeo
pois c fez faanha tal
com qu' esqueceu o Cabral
e outros que no nomeo.
Valente e mal sofrido
deve ser quem se vencia
no sero de tal porfia.
Sua
Correu risco o estrado
por ser longe a chemin,
viu-se to afadigado,
o coitado,
que no pde mudar p.
A p quedo e combatido
!O
1
5
39. Cantiga com cabea trstica e trs mudanas: na segunda mudana, o quarto verso
quebrado. Seguem-se 21 composies maneira de lIIudalla. Fls. 175r-1 76r.
Participam: Gonalo Coutinho, Joo da Silveira, Diogo Brando, lvaro Fernandes de
Almeida, Manuel de Goios, Lus Dantas, Duarte da Gama, Diogo de Seplveda,
Afonso de Albuquerque, Garcia de Resende, Mestre Rodrigo, Diogo Fernandes,
D. Afonso de Noronha, D. Duarte de Meneses, e conclui a desculpa de quem cagou .
Sobre a datao destas trovas, d. IlItroduo, par. 6.
Rubrica: Torquia: no original l-se Torqui. Corrige-se por analogia com o v. 3.
Note-se o poliptoto, baseado na dilogia, que liga a rubrica ao v. 1 : feitos (excrementos)
-feito (faanha).
1: fI. 175v.
4-1 1 : Notem-se a estrutura concessiva construda com o futuro, e ainda o jogo de
contraste que l estabelece com c, do v. 6, e o aproveitamento burlesco do clssico
expediente do elogio superlativo.
17: Estar a p quedo, pelejar a p quedo: sem largar o campo ou sem se afastar donde
est (MORAIS 1889).
1 2 0
OB RA S P O T I C A S - 3 9
usou de tal valentia
que saiu como queria.
[
. . .
]
Diogo Brando
o mundo vai de maneira
que j nele tudo achais,
um fez guas na primeira,
outro foi casar na Beira
este descobriu jamais
qu'at'aqui no foi sabido:
qu'em braseiro se podia
fazer tal galantaria.
Outra sua
Se no fora em chemin,
que foi logo polo vo,
pastilhas, lenho lo
nem os cheiros da Guin
no bastaram no sero,
porq'era to desmedido
o gr olor que saa
que por fora recendia.
[
. . .
]
10
1
5
1-16: Diogo Brando compe duas mudanas da cantiga do Conde, em que utiliza as
mesmas rimas AB que l aparecem. FI. 175v.
3: fez gllas: fazer guas tanto pode significar, j que estamos no campo da coprolo
gia, urinar, como, neste contexto, o mesmo que meter gua", falhar.
lia prillleira: no claro o que possa indicar: qui a primeira noite? Ento, o segundo
sentido de fazer guas que indicmos, seria o mais apropriado -para mais o verso
seguinte trata tambm de assuntos matrimoniais".
1 1 : pastilhas: composies aromticas que se queimavam para perfumar o ambiente.
Iel/ha la: lenho aromtico da planta do mesmo nome (hoje alas).
1 2 1
OB R AS P O T I C AS - 4 0
40
De Sancho de Pedrosa a Dom Frncisco de Crasto, porque debrumou
tia camisa de veludo
Um galante se vestiu
d' enveno mui enovada
com camisa debrumada.
De veludo a bordou,
com teno de soportar
quantos motes possam dar
a quem tal enveno sacou.
Mas em lugar a tirou
que ir bem apodada
a camisa debrumada.
Nesta era de quinhentos,
veremos muitos sinais
e aquestes sero tais
que nos dem contentamentos
pera folgarmos e rir
e ser muito apodada,
a quem cuida qu'em vestir
era boa a debrumada.
5
10
De Tristo da Silva em que pede ajuda a Diogo Brando
Senhor, quem tanto cr
em vosso saber e graa
40. O vilancete de Sancho de Pedrosa d o tema a uma composio com seis inter
venientes, que retomam o esquema do mote e da volta. Faz excepo o pedido de
ajuda a Diogo Brando de Tristo da Silva, que tem estrutura prpria (ver mais
adiante). Contudo, o vilancete de Pedrosa tem uma estrutura anmala, pois que, a
seguir primeira mudana e volta regularmente compostas, vm uma mudana e
uma volta em forma de cantiga, Els. 1 8I r-v.
Participam Tristo da Silva, Diogo Brando, Joo Afonso de Beja, Duarte da Gama,
Rui de Figueiredo e Joo Pais.
De Sancho de Pedrosa conhecem-se mais algumas intervenes no cllciolleir (El. 57v e
vassilll).
2: e/lve/lo: no duplo sentido de aco de inventar e de adorno.
13: aqllestes: cE. 19, 10.
1-8: o pedido de Tristo da Silva a Diogo Brando formado por duas quadras, que
no tm as rimas do vilancete de Sancho de Pedrosa.
Tristo da Silva intervm no cancioneiro de Resende tambm nas Els. 135v-136v.
1 2 2
O B RAS P O T I C AS - 4 0
esta gr merc me faa:
qu'aj ude vossa merc.
E depois que vossa mo
for cansada d'escrever,
o senhor vosso irmo
faa nisto o que quiser.
Diogo Brando
Se por contentar alguns
enventou cousas to novas,
deve de sofrer as trovas
pois fez to novos debruns.
E se nisto no viu
quando fez a debrumada
guarde tudo na pousada.
Galante francs nem mouro
nunca tal fez at 'qui,
mas j milhor assi
ca ser lavrada com ouro.
Eu tenho qu'este vestiu
que lhe no falece nada
em fazer a debrumada.
[ . . . )
3-4: note-se o trocadilho baseado no duplo sentido de lIIerc.
10
1
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20
7: o irmo de Diogo Brando Ferno Brando, mas no se percebe aqui a referncia
a ele, pois no participa na composio.
9-22: vilancete em forma de cantiga, com duas voltas, composto por Diogo Brando,
que inclui nas voltas as duas rimas do mote do vilancete de Sancho de Pedrosa.
10: e/lVeIllOIl: joga com o duplo sentido de iuveo: o prprio, de criao original, e o
figurado, de enfeite, ornamento, como j tinha feito Sancho Pedrosa.
12: debm!/S: "fita ou cairei (MORIS 1889).
13: verso hipomtrico.
14: fez: no original, l-se ('ez: emendmos a gralha.
debmlllada (e 22): o debrum.
1 2 3
O B RAS P O TI C AS - 4 1
41
De Ferno Brando
Oas trovas a este vilancete castelhano suas
Para mi triste nacieran
cuidados, desaventura,
para mi naci tristura.
Y las penas quantas san
nesta vida yo las siento
porque nace mi passin
de mui alto pensamiento.
Nacieran triste sem cuento
cuidados, desaventura
para mi naci tristura.
DeI remedia desespero
y de toda esperana
que pues muerte no s'alcana
no pido nada n quiero,
sino la fe con que muero
me queda por mi ventura
para ter mayor tristura.
[ . . . ]
Diogo Brando
Naceran cuando nac,
comigo sempre creceran,
yo triste padec
ms que cuantos padecieran.
EI ms mal que me fizeram
es que sern de ms dura
mis das, por ms tristura.
10
1
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5
41. Ferno Brando compe um vi lancete com duas voltas, a que se seguem mais
quatro voltas de autores diferentes, f. 1 1 4r.
Sobre Ferno Brando, d. llllrorllo, nota 8.
Participam: Amique de S, Diogo Brando, Gaspar de Figueir e Afonso Pires.
Afonso Pires o nico que compe uma volta em portugus.
Sobre os lusismos presentes, d. IlIlrorllo, par. 8.
1 -7: a participao de Diogo repete as rimas BB do vilancete do irmo.
1 2 4
O B RAS P O T I C AS - 4 2
42
Cantiga d'Anrique de S em louvor de sua senhora
Toda fermosa nacida
h-de morrer de tristeza
pois toda arte de lindeza
s de vs possuda.
A vs s quis Deus fazer
desigual em fermosura
por nos dar a ns tristura
e [a
]
nossos olhos prazer.
Morrer toda nacida
dum mal que chamam tristeza
pois toda arte de lindeza
s de vs possuda.
[ o o .
]
De Diogo Brando
Parecer to excelente
no se fez d'humanas artes,
devs de viver contente
pois que tendes j untamente
quanto todas tem por partes.
Senhora, to escolhida
vos fez Deus em gentileza
que por vs serdes nacida
dizem mal a sua vida
as que vem vossa lindeza.
10
10
42. Louvor de Amique de S em forma de cantiga. As rimas da cabea so retoma
das nas participaes de Ferno e Diogo Brando. FI. 1 1 1 r.
Sobre Amique de S, d. Imroduo, nota 74.
4: de vs: d. 22, 2 1 .
6: desigual: d. 7, 9 .
1 -10: a contribuio de Diogo uma dcima 5 + 5 .
9: a sua vida: entenda-se sua vida.
1 2 5
OB RAS P O T I C AS - 4 3
43
Do Conde de Borba senhora dona Lianor Anriques
Eu cuidei em vos louvar
e achei-me to perdido
que perdi todo o sentido
em querer nisso falar.
Ou' em gabar, desgabaria
vosso grande parecer
pois dizendo ficaria
a mor parte por dizer.
No pode ningum tomar
um cuidado to crecido
que nom saia do sentido
se nisso quiser cuidar.
Diogo Brando
Pois tendes na vida nossa
mais poder que ningum teve,
o que louvar-vos s'atreve
que diga mais do que possa
dir menos do que deve.
E pois vos hei-d'anojar,
pesa-me de ser nacido
mas folgo por m'acertar
em tempo, que meu sentido
vos podesse contemprar.
[
. . . ]
10
10
43. As voltas de todas as composies que compem o louvor a D. Lianor Amiques
retomam as rimas A da cantiga do Conde de Borba, apesar de se disporem, s
vezes, de maneira diferente, conforme o tipo de estrofe utilizada (cantigas, dcimas,
dcimas de p quebrado, etc.), EIs. 143v- 144r.
Sobre o Conde de Borba, cE. 37.
Participam: Jorge de Aguiar, Joo Fogaa, Duarte da Cama, Manuel de Coios, D. Joo
de Meneses, Diogo Brando, Duarte de Lemos, Amique Corra, O Conde do
Vimioso, D. Manuel de Meneses, Pero de Sousa Ribeiro, D. Afonso de Noronha, Car
cia de Resende. O fm composto pelo prprio Conde de Borba.
Brando repete os habituais topai dos louvores (cE. IlIIradua, ponto 6.
2: uiugum: cE. 6, 13.
4: que com valor concessivo.
1 2 6
O B RAS P Ot T I C AS - 4 4
44
Do Craveiro Dom Diogo de Meneses senhora Dona Felipa d/Abreu
Rifo
Saiba-se que digo [eu] :
cada dia e cada hora
que no so meu
mas so todo da senhora
Dona Felipa d'Abreu.
Que s' eu tivera poder
em mim e em minha vida
no na tivera perdida
nem me podera perder.
Mas pois triste, no so meu
nem no serei nenhum hora,
saiba-se que digo eu
que so todo da senhora
Dona Felipa d'Abreu.
[
. . . ]
Diogo Brando
Esta tem mais perfeio
de quantas no mundo sento,
10
44. A cantiga do Craveiro o incio de uma srie de voltas em que as rima C e B so
sempre retomadas, fls. 145v-1 47r.
Participam: O Conde de Tarouca, Jorge da Silveira, Sancho de Tovar, D. Francisco
d
'
Almeida, O Craveiro, Joo Amiques, D. Felipe, lvaro Pires de Tvora, Simo de
Sousa, Pero Corra, Vasco Gomes d'Abreu, Pero de Mendoa, Francisco de Mendoa,
Garcia de Resende, Diogo da Silveira, D. Garcia de Noronha, Francisco de Sousa,
D. Rodrigo de Sousa, O Baro, Diogo Brando, D. Francisco de Almada, Francisco da
Silveira, Joo Fogaa, Joo da Silveira.
1: integramos o pronome de primeira pessoa, com vistas a reestabelecer o isossila
bismo e a rima.
3: o verso hipermtrico. Para reestabelecer a isometria bastaria expungir o qlle, sem
que o sentido seja afectado.
8: lio lia: no a.
1 1 : /lel/l /lo: nem o.
/lel/tll/I/la hora: d. 23, 21 1 .
1-20: Diogo Brando compe duas voltas cantiga do Craveiro, com p quebrado
no 8. verso da primeira estrofe e no 3. e 8. da segunda, f. 146v.
1 2 7
OB RAS P O T I C AS - 4 4
polo qual que de paixo
sofrida com rezo
por seu gr merecimento.
E por isso no so eu
pera sempre desd'agora
nada meu,
por ser todo da senhora
dona Felipa d' Abreu.
Outra sua
Nesta vida dama tal
creio que no viu ningum
polo qual
ainda que faa mal,
lhe devem de querer bem.
Pois d'aqui m'afirmo eu,
que tenha mal cada hora
no ser meu
por ser todo da senhora
dona Felipa d' Abreu.
1 2 8
5
10
15
20
OB RA S P O T I C A S - A p n d i c e 1
1
D'Anrique de S a Diogo Bral1do, sobre um hspede que tinha
Hspede que m'avorrece
sem se temer e sem briga
pois eu no sei que lhe diga,
dizei-me que vos parece.
Olhando, vejo mau rosto,
se fala, sensaboria,
faz-me de noite e de dia
estar mais seco qu'Agosto.
Dizei, senhor, que merece
e tambm o qu'eu mereo,
pois que tal vida padeo
com cousa que m'avorrece.
10
1. Cantiga de Amigue de S, fI. 97r. Sobre Amigue de S, cf. II/trodllo, nota 74.
1 2 9
O B RAS P O T I C AS - A p n d i c e 2
2
D'Anrique de S a Diogo Brando mandando-lhe tas trutas de freira
Estas trutas so daquela
a quem vs dizeis a ponto,
levam ovos e canela,
nem co elas nem par' ela
nunca se vos pem em ponto;
isto soube per um conto
qu' ua dona me contou
em que pouco vos gabou.
2. Mais uma composio de Amique de S a Diogo Brando. Trata-se de uma oitava
de heptasslabos, fI. 1 1 0r. Sobre Amique de S, d. II/trodllo, nota 74.
2: a paI/to: estar a ponto equivale a estar disposto (MORAIS 1889).
A estrofe de Amique de S parece ridicularizar as pretensas proezas sexuais de Diogo
Brando.
1 3 0
OB R AS P O T I C AS - A p n d i c e 3
3
Duarte da Gama estando j apousel1lado em sua casa a Diogo Brando
sobre tia carta que lhe mandou de novas da Corte na qual lhe pediu
que lhe mandasse algas trovas
Na carta, senhor, das novas
que da Corte m'escreveis
me mandais e me dizeis
que vos mande algas trovas;
digo que sejam da vida
em que vivo,
pois a isso me convida
meu motivo.
E digo logo primeiro
que vivo naquesta terra
onde nunca tenho guerra
com Diogo nem porteiro,
nem vejo menos agora
estar no centro
quem sabeis qu'estava fora
e ns dentro.
Vivo fora de dizer:
Senhor, dizei l de mim,
nem a Fogaa Chacim
ir pousada requerer.
Nem vivo em tanta mngua
que requeira
a quem j nom tem a lngua
mui inteira.
Tenho mais o que nom tem
quem est l ond'estais,
10
15
20
3. 18 copIas castelhanas, com p quebrado no sexto e oitavo versos, fls. 134r-v.
Sobre Duarte da Gama, cf. II/trodl/o, nota 76.
Estas trovas so de relacionar, pelo seu teor satrico, com as s desorde/ls que se ws//l
lIIalll elll Portugal, do mesmo Duarte da Gama (fls. 134v-135v).
1: desta carta no nos resta documentao.
10: I/aquesta: cf. 19, 1 0.
14: verso isomtrico por sina fia.
1 3 1
O B RAS P O T I C AS - A p n d i c e 3
nunca ver oficiais
a que fale mal nem bem;
nem vejo corregedores
carregados,
nem muito menos doutores
perfilados.
Durmo sono mui inteiro
e mais como quando quero,
dos meus moos no espero
que me peam j dinheiro.
Manj adoiras tenho feitas
bem pregadas,
para nunca ser desfeitas
nem mudadas.
Nunca peo emprestado
sobrescrito nem penhor,
polo qual vivo, senhor,
a meu ver mui descansado.
Tambm tenho j perdido
a lembrana
de quem tem mais de medrana
ca servido.
No me lembra Portalegre,
Vila Real com Valena,
Tentugal com Olivena
qu'estoutros faz vir febre.
Nom me lembra Monsaraz
coa ldanha,
porque Deus quando lh'apraz
tudo apanha.
Alvito com Portimo,
Afonseca com Cascais,
Carneiros, Corte Reais
da memria se me vo.
3
35
4
45
55
60
27: verso hipomtrico. Introduzindo o artigo -definido ou indefinido -reestabele
cer-se-ia a isometria.
32:
f
erflarlos: formados, alinhados.
52: verso hipomtrico. Pode-se introduzir a preposio a antes de estOl/tros, para rees
tabelecer a isometria e tornar mais claro o sentido.
1 3 2
O B RAS P O T I C AS - A p n d i c e 3
L vai a Feira tambm
porque levou
o qu' ele nunca cuidou
nem ningum.
De Sesimbra que direi,
e d'Arruda e de Nisa?
seno que por a guisa
de todos m'esquecerei.
Do gr Castelo Real
no se diga,
pois diz-lo me no vaI
a ter fadiga.
Barretos, Costas e MeIos,
Botelho por esta via,
Marchionio, Atoguia
com mil contos d'amarelos.
Ante mi to esquecidos
todos so,
como se foram nacidos
e eu no.
Mas co este esquecimento
no me leixa de lembrar
que vi Tngere tirar
a quem tem merecimento,
Arzila desta maneira
fez mudana,
polo qual tenho lembrana
verdadeira.
Lembra-me Penamacor
como foi j prosperado
e depois foi desterrado
do reino com tanta dor.
Lembra-me que s'espediu
de Portugal
72: verso isomtrico por compensao.
7
5
80
9
75: Jlarchiollio: alude famlia de armadores italianos, estabelecidos em Lisboa -os
Marchioni.
89: aludir ao Conde de Penamacor envolvido na conspirao contra D. Joo II?
93: s'es
J
ediu: se despediu (ou foi mandado embora?).
1 3 3
OB R AS P O T I C AS - Ap n d i c e 3
o Prior do Esprital,
como se viu.
Por no m'haverdes por peco
lembra-me Martim de Bea
e no quero que m' esquea
tambm
lvaro Pacheco.
Lembra-me que Per'Estao
no tem renda
e que vaI mais a fazenda
que o Pao.
Lembra-me dos que dissestes
qu'a Sofala querem ir,
se o fizestes por rir
merc muita me fizestes;
se o dizeis de verdade
razo
que diga minha teno
e vontade.
Gi l Matoso, Brs Teixeira
muita razo que vo
para ver se perdero
o que houveram da primeira;
se de quo pouco tiveram
se lembraram
co que da mina trouxeram
repousaram.
De Soares, de ReineI
sobretodo mais m'espanto
sem querer haver por tanto
ir Fernandes Manuel.
Estes fazem que riqueza
nom desejo
e mais ter por bem sobejo
a proveza.
9
5
100
lIO
lI5
120
12
5
95: Prior do Esprita/: isto , o mestre dos Hospitalrios, que em Portugal era tambm
designado como prior e, especificamente, Prior do Crato.
97: peco: tolo.
1 13: fI. 134v.
1 28: proveza: pobreza (de prove, forma atestada por pobre - d. MORIS 1889).
1 3 4
OB R AS P O T I C AS - A p n d i c e 3
Dizem c qu'estais eleito
para ir ond'estes vo
do qu'est meu corao
assaz cheio de despeito;
se tendes determinado
tal fazer,
o conselho escusado
deve ser.
Polo qual quero dar fim
processo comeado,
Fim
sem vos dar outro cuidado
se no s que, l por mim,
senhor Conde beijeis,
senhor, as mos,
e que vos aconselheis
co homens sos.
1
3
0
1
35
1 29-130: destes versos deduz-se que tambm Diogo Brando devia embarcar para
Sofala, mas, dos documentos que consultmos, esta notcia no consta.
1 42: verso isomtrico por compensao.
1 3 5
B I B L IOGRA F I A
B I B L I O G RA F I A
As entradas bibliogrficas compem-se do apelido (ou apelidos)
dois autorles e do ano da edio consultada. Se se conseguiu detectar
edio precedente ou posterior quela consultada, indica-se entre pa
rnteses. Ou ando se trata de edies crticas, o nome do organizador
que vai mencionado, e quando se trata de dicionrios ou enciclopdias
de responsabilidade vria, indica-se a sigla do ttulo da obra e o ano da
edio.
A referncia PL est, naturalmente, pela Patrologia Latil1a de Migne.
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Poeti "Cal1ciol1eriles! deI Sec. X, Roma-LAquila, Japadre, 1986.
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1 4 3
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1 4 5
ND I C E DOS
PRI ME IROS V ERS OS
ND I C E D O S P R I ME I R OS V E R S OS
ndice por ordem numrica
1. Que saiba bem na verdade p. 41
2. Que viva neste cuidado p. 42
3. Sempre m' a fortuna deu p. 43
4. Do grande mal que causaram p. 44
5. Pois tanto gosto levais p. 45
6. Vejo tanta pressa dar p. 46
7. No seria to mortal p. 47
8. Vejo tanto desengano p. 48
9. Em esta vida mortal p. 49
10. Tantas novidades tem p. 50
1 1 . Passo secreta tormenta p. 51
12. Pois que tem comigo guerra p. 52
13. Senhora, no vos temais p. 53
14. De tal maneira me sento p. 54
15. Se descanso receberam p. 55
16. O nome da perfeio p. 56
17. No vos engans, senhora p. 57
18. Quem bem sabe navegar p. 58
19. Os que logo decrararam p. 59
20. Pues esperana perdida p
.
60
21 . Foram as nossas jornadas p. 62
22. Meus dias to tristes por esta partida p. 65
23. Eram da sombra da terra p. 69
24. Rainha celestrial p
.
76
25. Todos atentos na morte cuidemos p. 78
26. O cativo meo forro p. 89
1 4 9
N D I C E D O S P R I ME I R OS V E R S OS
27. Depois, Senhor, que forado p. 90
Estando bem namorado (Anrique de S) p. 95
28. Sem vida fazer em lapa p. 99
De diabo, vos seguro (Anrique de S) p. 99
29. So sepultados em corpos de mortos p. l00
Dos quatro elementos num deles so ortos
(Anrique de S) p. l00
30. Pois que todo-los nacidos (Duarte da Gama) p. 101
Sojeio dos sometidos p. l 0l
31. Sem vossa galantaria (Rui Gonalves de Castel Branco) p. l02
Vai assi d'altenaria p. l02
32. Ou ando o genro dum tetrarca (Joo Rodrigues de S) p. 104
O presente foi de marca p. 104
33. Senhor, vossa merc crea (Duarte de Lemos) p. 105
Senhor, dais-me to m vida p. 105
34. Senhor, protesto (Anrique de S) p. 107
Eu contesto p. 107
35. Mandai-me senhor dizer (Anrique de S) p. 108
Ant'ontem saiu tarde p. 108
36. Grande corte de Castilha (Francisco da Silveira) p. 109
Muito mal se conformou p. 1 12
37. A morte deste cavalo (Duarte da Gama) p. 1 13
Veo mui bem ao rocim p. 1 1 4
Sabeis a nova que anda p. 1 15
Por esta pele busc-lo p. 1 1 6
38. Oue cabeadas, peitoral (Conde de Borba) p. 1 1 8
No m'espanto j da sela p. 1 19
Senhor Antnio Carneiro p. 1 1 9
39. Foi feito to atrevido (Conde do Vimioso) p. 120
O mundo vai de m
.
aneira p. 121
Se no fora em chemin p. 121
40. Um galante se vestiu (Sancho de Pedrosa) p. 122
Senhor, quem tanto cr (Tristo da Silva) p. 122
Se por contentar alguns p. 123
1 5 0
41 .
42.
43.
44.
N DI C E D O S P R I ME I R OS VE R S O S
Para mi triste nacieran (Fero Brando)
Naceran quando nac
Toda fermosa nacida (Anrique de S)
Parecer to excelente
Eu cuidei em vos louvar (Conde de Borba)
Pois tendes na vida nossa
Saiba-se que digo [eu) (D. Diogo de Meneses)
Esta tem mais perfeio
Nesta vida dama tal
Apndices
1 .
2.
3.
Hspede que m'avorrece (Anrique de S)
Estas trutas so daquela (Anrique de S)
Na carta, senhor, das novas (Duarte da Gama)
ndice por ordem alfabtica
37. A morte deste cavalo (Duarte da Gama)
35. Ant'ontem saiu tarde
28. De diabo, vos seguro (Anrique de S)
14. De tal maneira me sento
27. Depois, Senhor, que forado
4. Do grande mal que causaram
29. Dos quatro elementos num deles so ortos
(Anrique de S)
9.
23.
Em esta vida mortal
Eram da sombra da terra
44. Esta tem mais perfeio
27. Estando bem namorado (Anrique de S)
Ap. 2. Estas trutas so daquela (Anrique de S)
34. Eu contesto
43.
39.
Eu cuidei em vos louvar (Conde de Borba)
Foi feito to atrevido (Conde do Vimioso)
1 5 1
p. 124
p. 124
p. 125
p. 125
p. 126
p. 126
p. 127
p. 127
p. 128
p. 129
p. 130
p. 131
p. 1 13
p. l08
p. 99
p. 54
p. 90
p. 44
p. l00
p. 49
p. 69
p. 127
p. 95
p. 130
p. l07
p. 126
p. 120
f N DI C E D O S P R I ME I R OS VE R S O S
21. Foram as nossas j ornadas
36. Grande corte de Castilha (Francisco da Silveira)
Ap. 1 . Hspede que m'avorrece (Amique de S)
35. Mandai-me senhor dizer (Amique de S)
22.
36.
Meus dias to tristes por esta partida
Muito mal se conformou
Ap. 3. Na carta, senhor, das novas (Duarte da Gama)
41. Naceran quando naci
38. No m'espanto j da sela
7. No seria to mortal
17. No vos engans, senhora
44. Nesta vida dama tal
26. O cativo meo forro
39. O mundo vai de maneira
16. O nome da perfeio
32. O presente foi de marca
19. Os que logo decrararam
41 . Para mi triste nacieran (Ferno Brando)
42. Parecer to excelente
1 1 . Passo secreta tormenta
12. Pois que tem comigo guerra
30. . Pois que todo-los nacidos (Duarte da Gama)
5. Pois tanto gosto levais
43. Pois tendes na vida nossa
37. Por esta pele busc-lo
20. Pues esperana perdida
32. Quando o gemo dum tetrarca (Joo Rodrigues de S)
38. Que cabeadas, peitoral (Conde de Borba)
1 . Que saiba bem na verdade
2. Que viva neste cuidado
18. Quem bem sabe navegar
24. Rainha celestrial
Sabeis a nova que anda 37.
44. Saiba-se que digo [eu] (D. Diogo de Meneses)
1 5 2
p. 62
p. l09
p. 129
p. l08
p. 65
p. 1 1 2
p. 131
p. 124
p. 1 19
p. 47
p. 57
p. 128
p. 89
p. 121
p. 56
p. 104
p. 59
p. 124
p. 1 25
p. 51
p. 52
p. 1 01
p. 45
p. 126
p. 1 1 6
p. 60
p. 104
p. 1 1 8
p. 41
p. 42
p. 58
p. 76
p. 1 15
p. 127
f N D I C E D O S P R I ME I R OS V E RS O S
29. So sepultados em corpos de mortos p. l00
15. Se descanso receberam p. 55
39. Se no fora em chemin p. 121
40. Se por contentar alguns p. 123
28. Sem vida fazer em lapa p. 99
31 . Sem vossa galantaria (Rui Gonalves de Castel Branco) p. l 02
3. Sempre m' a fortuna deu p. 43
38. Senhor Antnio Carneiro p. 1 19
33. Senhor, dais-me to m vida p. l05
34. Senhor, protesto (Anrique de S) p. l 07
40. Senhor, quem tanto cr (Tristo da Silva) p. 122
33. Senhor, vossa merc crea (Duarte de Lemos) p. 105
13. Senhora, no vos temais p. 53
30. Sojeio dos some tidos p. l 01
10. Tantas novidades tem p. 50
42. Toda fermosa nacida (Anrique de S) p. 125
25. Todos atentos na morte cuidemos p. 78
40. Um galante se vestiu (Sancho Pedrosa) p. 122
31 . Vai a s s i d' altenaria p. l02
6. Vejo tanta pressa dar p. 46
8. Vejo tanto desengano p. 48
37. Veo mui bem ao rocim p. 1 1 4
1 5 3
NDI C E L E X I C A L E TE MTI C O
f N D I C E L E X I CAL E TE MTI C O
A
afora (alm de) 44, 80
agente da passiva
de 65, 79, 88, 101, 125
a 85
albigenses 22
alm do p (ao longe) 69
alertivos 100
alforria 89
alglia(s) 37, 84, 1 15, 131
amores freirticos 21, 99
Amorosa Visiol/e 24n
alllre (entre) -tambm com preposio
-72, 89, 91
aql/essas (essas) 36, 73
aql/este (es I a, as) (este) -tambm com
preposio -36, 59, 64, 66, 67, 68,
70, 79, 80, 83, 88, 90, 91 , 1 1 6, 122,
131
aql/esto (isto) 88
aram (em hora m) 1 1 1
arriado (arreado) 1 14
arrar (errar) 103
asillia 1 1 1
asil/lia (depressa) 52
assi (assim) 37, 44, 49, 51, 55, 62, 65, 67,
68, 69, 71, 72, 75, 77, 78, 79, 80, 81,
82, 83, 84, 87, 91, 92, 94, 98, 1 02, 103
B
Biblioteca LI/sital/a 16
C
ca (do que) 36, 1 18, 123, 132
cabeadas 1 1 8
caote 1 10
cadea (colar) 105
caio (morrer de -) 1 14, 1 1 5
calas d'arreo 1 10
eamal/lo (tamanho) 53
Cal/ciol/eiro COl/d de Cllalllilv 12, 12n
Callciol/eiro de