Compreender Spinoza - Resumo
Compreender Spinoza - Resumo
Compreender Spinoza - Resumo
Ronaldo Ferreira
Marcelo Marques Duarte
Vitor Luiz Rigoti dos Anjos
Compreender Spinoza
CURITIBA / PR
2010
Ronaldo Ferreira
Marcelo Marques Duarte
Vitor Luiz Rigoti dos Anjos
Compreender Spinoza
CURITIBA / PR
2010
ndice
Introduo.............................................................................................................................4
Biografia e Introduo ao pensamento de Spinoza.........................................................4
O status de falsidade...........................................................................................................5
O indivduo............................................................................................................................6
O esprito como ideia do corpo..........................................................................................6
Fsica da individualidade....................................................................................................7
A afirmao ontolgica do indivduo.................................................................................8
A Tenso da Experincia: As paixes e o poder..............................................................9
Uma lgica passional: a imitao afetiva..........................................................................9
Uma histria passional do poder.....................................................................................11
O Imaginrio e a Razo: A consistncia do imaginrio.................................................12
Status da Revelao e do conhecimento proftico.......................................................12
O mtodo de interpretao da Escritura.........................................................................13
Teoria do imaginrio religioso..........................................................................................13
A Lei e a obedincia...........................................................................................................14
A Poltica e a Potncia.......................................................................................................15
O Direito e a Potncia........................................................................................................15
Os limites da problemtica jurdica do pacto social......................................................15
A emergncia do poder poltico e a constituio de um direito comum.....................16
Comunicao dos afetos e instituies polticas: a individualidade composta do
Estado.................................................................................................................................16
A Virtude e a Beatitude......................................................................................................17
A crtica dos valores..........................................................................................................17
O modelo da natureza humana como princpio de seleo..........................................18
O devir ativo do indivduo.................................................................................................18
O desejo racional e o til prprio.....................................................................................19
O universal concreto.........................................................................................................19
A experincia da necessidade como libertao.............................................................19
A virtude, o tempo e a eternidade....................................................................................20
Concluso...........................................................................................................................20
Introduo
Este trabalho dedicado a mostrar em poucas pginas a vida e a obra de Baruch
(Bento) de Spinoza, seus principais pensamentos e os conceitos que derivam de uma
leitura de suas obras feita por Hadi Rizk, autor do livro Compreender Spinoza, de onde
foram tiradas as informaes contidas nas pginas a seguir.
Ele se forma no ofcio de lapidador de vidros de tica para ganhar a vida, mas
ajudado, financeiramente, por amigos ou personagens influentes.
Ele escreveu o tratado sobre a reforma do entendimento, sobre o qual ele leciona a
um crculo de amigos e de amadores da nova prtica da filosofia. Em 1663, publica
os princpios da filosofia de Descartes, seguidos de pensamentos Metafsicos.
Em sua obra tica segundo a ordem geomtrica, ele fala de Deus como potncia
infinita de produzir, da natureza verdadeira do esprito, da teoria do indivduo, das
paixes e, enfim, do itinerrio suscetvel de conduzir os homens beatitude.
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Para Spinoza, s uma substncia pode existir, e essa substncia deve ser Deus; a
matria e o esprito no devem ser considerados substncia, mas sim atributo
(manifestaes) da nica substncia. Spinoza d a definio de Deus como
substncia (aquilo que no precisa de nada para existir) e faz uma srie de
consideraes: Deus nico, perfeito, auto-suficiente, dotado de infinitos atributos,
que s em parte os homens conseguem perceber e compreender.
Enfim, o convite leitura de Spinoza requer que o leitor abandone todos os seus
O status de falsidade
Nada existe de positivo nas ideias que constitua a forma de falsidade. Ora, a
falsidade no pode consistir numa privao absoluta (no so, com efeitos, os corpos,
mas as almas que erram e se enganam); nem tambm numa ignorncia absoluta; com
efeito, ignorar ou enganar-se so as coisas diferentes. Consiste, portanto, numa privao
de conhecimento que est envolvida num conhecimento inadequado das coisas, isto ,
nas ideias inadequadas e confusas.
Da se segue que o esprito humano uma parte da inteligncia infinita de Deus; e,
consequentemente, quando dizemos que o esprito humano percebe tal ou tal coisa, no
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dizemos que Deus, no enquanto infinito, mas enquanto se exprime pela natureza do
esprito humano, ou seja, enquanto constitui essncia do esprito humano, tem tal ou tal
ideia, no somente enquanto constitui a natureza do esprito humano, mas enquanto tem
tambm, simultaneamente como esprito humano, a ideia de outra coisa, ento dizemos
que o esprito humano concebe essa coisa parcialmente, ou seja, inadequadamente.
Ora o conhecimento adequado dos corpos exteriores, do mesmo modo que o
conhecimento das partes que compem o corpo humano, existe em Deus enquanto ele
considerado no como afetado pelo esprito humano, mas por outras ideias dessas
afeces, consideradas nas suas relaes apenas com a alma humana, so como
consequncias sem as suas premissas, isto (o que evidente por si), ideias confusas.
O status da falsidade com ideia inadequada revela, pois, uma dificuldade de que se
encontra no prprio corao da definio do Esprito humano: de fato, o esprito humano
no somente uma parte do entendimento divino e um modo do pensamento, mas
tambm uma ideia do corpo.
O indivduo
A compreenso da individualidade necessria para explicar a estrutura das ideias
inadequadas no seio do entendimento humano.
Para conhecer a existncia do homem, preciso mudar de campo e estudar certas
modificaes dos atributos de Deus.
Fsica da individualidade
O indivduo uma realidade constituda pela unio de corpos que concorrem entre
eles, segundo leis mecnicas. Por coisas singulares Spinoza entende as coisas que so
finitas e que tm uma existncia determinada. Se acontecer que vrios indivduos
concorrem para uma mesma ao, de tal modo que todos em conjunto sejam a causa de
um mesmo efeito, considerando-os, ento, todos juntos como constituindo uma mesma
coisa singular.
O corpo em geral uma parte da extenso, cuja identidade numrica alterada se
uma parte da matria que o compe subtrada; em compensao, o corpo do homem
est unido a uma alma cuja unidade indivisvel se aplica realidade psicofsica assim
formada: o corpo do homem evolui durante a existncia, partes suas so retiradas, outras
so acrescentadas a ele, por exemplo, durante o crescimento, mas sua unidade de
conjunto permanece apesar de tais variaes.
Isto quer dizer que o indivduo deve ser compreendido como uma realidade
composta, que s vezes segundo as relaes mecnicas da matria e como afirmao
de uma potncia de ser. Tal fora a expresso, nesse ser singular, da causalidade do
infinito, imanente a todas as coisas. preciso acentuar que a essncia do corpo, assim
como o corpo existe atualmente, depende de Deus; ela no se produz por ela mesma,
mas possui em Deus, a sua causa. A essncia mantm no atributo uma relao qualitativa
de comunidade com todas as outras essncias singulares.
Na realidade, Deus, ou o infinito, sempre causa prxima do finito; a prpria
produtividade do infinito que se compreende no atributo, onde as essncias de modo
constituem intensidades singulares, na extenso modal, onde se manifestam corpos
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distintos uns dos outros, tendo a existncia de cada um deles por condio, em parte, a
ao de outros corpos. Do finto ao indivduo, o ser da substncia se exprime na potncia
singular como potncia do mltiplo.
Os corpos simples se distinguem entre eles pelo movimento e pelo repouso, pela
velocidade e pela lentido. No formam um indivduo distinto seno sob a nica condio
que um, por exemplo, se desloca, enquanto o outro permanece imvel, ou se movem a
velocidades diferentes; seu contato limita-se ao princpio da inrcia.
Assim fica claro que a identidade individual no pode ser concebida fora das
relaes que o indivduo suscetvel de manter com o mundo exterior. O corpo humano
, por conseguinte, um indivduo marcado pela riqueza de suas afeces, quer dizer, das
suas relaes com o mundo exterior. Ele pode modificar o mundo e ser modificado ele em
razo de sua aptido a ser afetado, que ao mesmo tempo ampla e est em condies
de evoluir.
A Tenso da Experincia:
As paixes e o poder
A antropologia das paixes um ponto privilegiado entre a metafsica e a poltica. A
unidade do indivduo no explicada pela unidade substancial de alma e corpo vindo a
alma garantir uma individuao do corpo composto , mas por relaes invariantes de
movimento e de repouso.
Tal ligao modal entre os corpos determina as paixes como relaes fsicas de
troca de potncia; o jogo das paixes apresenta assim uma amplitude infinita que
comporta relaes interindividuais de harmonia e de unidade como relaes de divises e
de oposio.
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O Imaginrio e a Razo:
A consistncia do imaginrio
A imaginao no contm, como tal, nenhum erro e no , portanto, um mal; a
falsidade consiste somente em que o esprito est privado do conhecimento de uma ideia
que exclui a presena das coisas que a imaginao representa como atuais.
2.
O sinal;
3.
sinal, ligado ao temperamento e s crenas do profeta, persuade este ltimo, bem como
aquele que os escutam.
Podemos adiantar assim que a realidade do imaginrio de fato a realidade do
pensamento que imagina e a do objeto imaginado, em relao com uma existncia que
experimenta corporalmente as coisas do mundo.
comuns, a saber, uma forma de comunicao intersubjetiva est presente nas avaliaes
feitas das afeces de bom e de mau.
A teoria do imaginrio religioso compreende uma parte explicativa, que explica a
lgica afetiva. completada com uma interpretao que prope um comentrio prtico e
normativo do sentido desse discurso. Por isso necessrio pr em evidncia as crenas
e estudar os significados que elas esto em condies de desenvolver: afeces
partilhadas, esperana e medo, valores como justia e a piedade.
O imaginrio transforma completamente a abordagem da religio. No deixa de ser
indispensvel contestar a aparncia de transcendncia que o poder poltico, tambm,
procura dar a si mesmo, ao dissimular o fato que todo poder procede da prpria potncia
dos indivduos.
A Lei e a obedincia
A palavra lei, tomada de modo absoluto, aplica-se todas as vezes que os
indivduos, tomados de um a um, quer se trate de totalidade dos seres ou de alguns da
mesma espcie, se conformam com uma s e mesma regra de ao bem determinada;
por outro lado, uma lei depende ora de uma necessidade da natureza, ora de uma
deciso dos homens.
O homem pertence natureza e no pode formar algo como um Estado no Estado,
que escaparia s leis gerais da natureza; na realidade, porque o homem uma parte da
natureza, portanto uma parte de sua potncia, que certas leis so explicadas por
decises humanas, que so as causas prximas.
A transformao metafrica da lei como relao de necessidade numa lei que
exprime o mandamento de um legislador tem por origem o fato de que os homens
desarrazoveis tem necessidade de representar-se uma ligao em exterioridade entre as
regras de uma conduta racional e os efeitos gerados por uma ao esclarecidas. Em
contrapartida, a educao do homem entregue as paixes necessita que a lei esteja
ligada a uma recompensa ou a uma punio.
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A Poltica e a Potncia
... o direito natural da Natureza inteira, e consequentemente de cada indivduo,
estende-se at onde vai a sua capacidade ... pois ... a prpria potncia da
natureza a mesma potncia de Deus, que tem sobre todas as coisas um direito
soberano.
A potncia infinita no depende de um poder, no deve ser imaginada como uma
liberdade em funo de um modelo exterior.
A substncia existe como ... aquilo cujo conceito no carece do conceito de outra
coisa do qual deva ser formado.
A causa infinita imanente a seus efeitos, age nela mesma, sobre ela mesma e
no sai de si: Deus a potncia infinita de existir.
O Direito e a Potncia
O direito soberano de Deus a sua potncia infinita, em ato e cheia de efeitos que
dela decorrem.
O homem parte da natureza, seu direito exprime a potncia de agira e produzir,
decorrente de sua essncia particular; assim. todos os seres tm um direito natural
que depende de sua potncia.
Direito ou potncia de uma indivduo o desejo ou esforo que ele faz para
perseverar no seu ser no uma faculdade subjetiva, uma fora ilimitada, mas
finita.
A poltica uma interveno de todos sobre a relao de poder para que haja
ordem e unio das potncias de agir dos indivduos no pode limitar-se
instaurao voluntria da soberania.
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No se renuncia ao direito natural; apenas certos desejos do indivduo encontramse determinados pelos de outrem.
Spinoza lembra que s o til prprio pode determinar o nosso agir; adeso lei do
soberano segundo seu decreto prprio; no pode haver abandono total de
soberania pelos indivduos.
Existem limites da religio na constituio da ordem poltica: a fico teocrtica
torna frgil a unidade poltica cabe ento ao poder poltico criar e reforar as
instituies pelas quais os mandamentos e as leis chegam a ser desejados e
seguidos.
A Virtude e a Beatitude
O ser individual chamado a juntar-se ao modelo que ele fixou para si mesmo e a
atingir seu destino, a perfeio visada: de um si-mesmo inacabado a um si-mesmo
realizado.
Spinoza busca uma maneira de viver e existir, uma afirmao espontnea e
reflexiva, normativa e imanente, do desejo como fora de ser e do ser como
potncia desdobrada, real e atuante.
Tal maneira de viver reflete-se na potncia tica: a afirmao da fora e da
razo, realizao do desejo e do universal concreto, exaltao do til prprio e da
aliana com os outros.
A tica subverte a preocupao mortal em proveito da virtude como conhecimento
e apropriao reflexiva pelo ser singular de sua prpria essncia.
A noo de fim uma fico com a qual se alimentam todas as morais, e que pode
aparecer como um operador da realidade.
O aumento da potncia de agir se torna o horizonte de existncia do indivduo
concebido como realidade finita, inscrito no tecido da natureza, exposto a ser
arrastado numa direo.
O universal concreto
Spinoza conceitua a virtude como o desejo de ser, cada vez mais atuante, como
um conhecer e uma prtica da necessidade, que coordena a experincia segundo
o til prprio aberto, pela razo, em direo do outro.
Cabe a cada um exprimir essa natureza, inventando-a como um universal concreto:
Nada mais til ao homem que o homem sugere o esforo conjunto de todos em
conservarem seu ser, em concrdia.
O universal e a unio de foras vo lado a lado ningum pode desejar: possuir a
beatitude [felicidade], agir bem e viver bem, sem desejar ser, agir e viver, isto ,
existir em ato.
O homem racional deseja um bem comum a todos: o bem supremo daqueles que
seguem a virtude comum a todos, e todos podem igualmente alegrar-se com ele.
o conhecimento de Deus, o qual a razo visa como objeto supremo, aquilo que
pode libertar-nos de toda a iluso dos outros mundos: quem conhece a si mesmo
e suas afeces clara e distintamente ama a Deus [...] este amor para com Deus
deve ocupar o Esprito acima de tudo.
A razo exprime a potncia do Esprito sobre as afeces e fundamenta ao mesmo
tempo a liberdade humana.
Concluso
precisamente o ser infinito e eterno que determina a experincia. Esta exprime,
em sua prpria atualidade, a potncia do ser, atravs do tempo e das relaes que se
estabelecem entre os seres finitos. Tambm a prpria eternidade achar-se- de alguma
maneira produzida, como a adequao progressiva a ela mesma da potncia do
indivduo, no prprio campo da experincia.
A experincia aparecer como o trabalho em curso de uma tenso que afeta o
prprio tempo. A durao de manifesta, por conseguinte, na sua prpria continuidade
como o excesso da presena com relao sua reduo a um agora pontual e repetido.
Spinoza nos dispe assim a uma destinao ainda indita de um poder-ser da
singularidade relativa potncia.
Nada pode libertar o indivduo da experincia, toda operao inventada e
realizada nela. E se evidente que nenhuma mudana da essncia de um ser
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concebvel, h certamente uma adequao maior ou menor dessa essncia, quer dizer, o
aumento ou a diminuio da potncia de agir do ser modal.
Spinoza registra a autonomia ontolgica da deciso humana em matria de leis,
reiterando que o homem no poderia formar um Estado no Estado que fugisse das leis
gerais da natureza. Para permitir a associao dos homens e uma vida pacfica, existe o
regime social, no qual a multido deve esforar-se para desenvolver as paixes, dentre as
que so comuns a todos os membros, que so suscetveis de fundamentar uma
apropriao do poder que atravessa as relaes interindividuais.
Spinoza continua nico na sua demonstrao da pertena plena, inteira e no
acessria das coisas realidade. Sua interrogao racional da finitude e da potncia o
leva a reconhecer que a determinao finita igualmente infinita, porque exprime a
potncia do infinito, imanente em todas as coisas. No faz sentido separar ou opor a
potncia infinita de Deus potncia singular das coisas naturais.
Mais do que um sistema, o Spinozismo uma atitude intelectual. Alm de toda
questo especfica de doutrina, Spinoza tomou da tradio hebraica, particularmente,
essa atitude mental, essa maneira de considerar o problema mais geral, o problema da
vida em si.
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