Dicionario Morais Silva
Dicionario Morais Silva
Dicionario Morais Silva
Cf. Fernando Carmino Marques, Le Thtre au Portugal 1800-1822 Catalogue des pices
dites, manuscrites et reprsentes, in Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, Paris-
Lisboa, 1999, Vol.XXXVIII p.373-467. Aqui se d notcia de 318 peas teatrais manuscritas, 129
editadas e 212 ou 211 representadas, durante este perodo de 22 anos.
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Respondendo a uma crtica, numa nota final, em Narcticos, escreve Camilo:
2. acusao: Confundo cartas com mapas que galicismo torpe.
Galicismo! e demais a mais torpe. Deixe-se disso, e abra o seu Dicionrio de Morais. Veja: carta
geogrfica, em que est afigurada a terra arrumada (de rumo): Carta nutica, carta de marear.
Abra o seu padre A. Vieira, tomo 2., pg. 138, 3 92, 8. 157. A ver que farte cartas
geogrficas. Nesta acusao, portanto, se alguma cousa h torpe, no o galicismo.
Camilo, Obras Completas (Narcticos), Porto, Lello, 1993, vol.XV, p.924, Ver tb., p.786, 798,
883.
No Cancioneiro Alegre, Falando do Poeta Donas Boto:
Conheci-o em Coimbra em 1846 quando a minha batina esfrangalhada abria as suas trinta bocas
para admirar e engolir o latim dum padre que no sei se era Simes. Devia ser. Coimbra a terra
dos Simes. como em Braga os Gaspares antigos. Mal diria eu que homem era aquele por
Uma observao desprevenida desta pgina de rosto tem levado alguns leitores a
levantar dvidas sobre a atribuio da autoria da obra. Na histria da dicionarstica so frequentes
dentro, quando o vi por fora, com os seus culos de oiro, no livreiro Posselius! Eu comprara o
DICIONRIO de Morais, e ele, com uma gravidade protectora e paternal, disse-me: Fez bem,
seu caloiro. Manuseie o bom Morais com mo diurna e nocturna. Gaste assim as suas economias,
no as malbarate em fofas novelas gafadas de galicismos...
Camilo, Obras Completas (Cancioneiro Alegre), Porto, Lello, 1998, vol.X, p.1185-6
O reconhecimento do autor pelo simples nome de Morais poder remontar aos seus tempos de
estudante. Lembramos o testemunho de Filinto Elsio, que o sada, quando se encontravam
exilados em Paris j se teriam conhecido em Lisboa nos versos de uma Ode gratulatria:
Como foge, Morais, o veloz tempo, / nico bem, que no sustm resgate: / Das asas s lhe trava
quem se arroja / Da honra o aspro cume / S dele tira lucro / Quem, como tu, em srio estudo o
emprega. A relao com Francisco Manuel do Nascimento ganha especial sentido se
considerarmos o pensamento normativo e vernaculista que se depreende dos prefcios de Morais.
O Prlogo ao Leitor da 1 ed. um texto em que parece repercutir-se a obsessiva doutrinao de
Filinto Elsio.
3
Justamente em maio de 1789 foi preso, no Rio de Janeiro, Jos Joaquim da Silva Xavier o
"Tiradentes" - nome destacado da Inconfidncia Mineira - juntamente com outros, mais
conhecidos pelo seu nome literrio, como Cludio Manuel da Costa e Toms Antnio Gonzaga.
Vrias razes podero ter induzido Antnio de Morais Silva a optar pelo nome de Bluteau para a
representao da autoria, entre elas dever citar-se a ponderao da conjuntura poltica
portuguesa, e provavelmente a inteno de no agravar a inospitalidade do Santo Ofcio j
anteriormente experimentada por parte de Morais Silva. O prestgio de Bluteau serviria de
recomendao favorvel.
5
Mot desprit atribudo a C. Nodier Les dictionnaires sont des plagiats par ordre
alphabtique, citado por Kurt Baldinger in Introduction aux dictionnaires les plus importants
pour l?histoire du franais, Strasbourg, Klincksieck, 1974, p.21.
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Verney louva muito enfaticamente o Vocabulrio de Bluteau, mas no deixa de lhe dedicar uma
apreciao crtica, em que destaca os defeitos que quereria ver ausentes no dicionrio que devia
servir para o ensino da lngua portuguesa. Alm de propor a reduo, o redimensionamento e a
simplificao dos dez volumes de Bluteau, acrescenta um conjunto de sugestes e preceitos que
tiveram em grande parte acolhimento no trabalho de Morais Silva, nomeadamente: o deitar fora
tantos latins e citaes suprfluas, o distinguir as palavras boas, de algumas plebeias e antigas,
propondo que se fizesse parte um dicionrio das vozes antigas e baixas; e tambm se deveria
emendar a ortografia de Bluteau, que variante, e estabelecer uma certa, e sempre a melhor .
Lus Antnio Verney, Verdadeiro Mtodo de Estudar, ed. Antnio Salgado Jnior, Lisboa, S da
Costa, 1949, vol. I. p.128-134.
Verney. Recriou a partir dos 10 imponentes volumes barrocos, uma obra com originalidade,
coerncia e sentido prtico, em que, aps uma elaboradareciclagem ter sido aproveitada cerca
de 30% da informao do texto do Vocabulrio Portuguez e Latino.
Entre outras assinalveis diferenas, poderemos observar as seguintes, j por ns
compendiadas em um trabalho anterior:7
Morais acrescenta aproximadamente 22.000 entradas inteiramente novas, ou seja,
cerca de um tero da nomenclatura total, que anda volta de 70.000 palavras.
Elimina totalmente cerca de 16.000 entradas de Bluteau. Este nmero deve
corresponder ao "corpus" enciclopdico, onomstico e histrico do grande Vocabulario.8
No conjunto, cerca de 50%, ou mesmo um pouco mais, do texto que se encontra no
Dicionario de Morais de 1789 pode dizer-se que recuperado do Vocabulrio de Bluteau. Mas
este texto sofreu uma laboriosa reviso. Assim, apenas 5%, ou talvez menos, dos artigos do
Dicionrio so integralmente retomados de Bluteau. O restante "corpus" retextualizado,
reduzido, aumentado ou parcialmente reescrito.
Morais alivia o seu Dicionario de qualquer informao bilingue e de toda a erudio
translingustica, de mbito histrico ou enciclopdico.
O Dicionrio oferece ainda uma procurada simplificao e regularizao ortogrfica
e uma observao crtica e actualizada do lxico contemporneo.
Alm destes aspectos, a obra dos dois grandes dicionaristas distingue-se sobretudo pela
modernizao
da
tcnica
lexicogrfica.
Morais
introduz
toda
uma
instrumentao
R. Bluteau:
"ACANHAR. No deixar medrar. Ser causa que
huma cousa no crea. A sombra acanha as plantas.
Umbra non patitur plantas succrescere. Ex Columel.
Fazendolhe sombra a Acanha, & faz que no crea,
Costa, Georgic. de Virg. 68. vers. Falla em certa
7
A. Morais Silva:
"ACANHAR, v .at. no deixar crescer; no dar a
proporcionada grandeza e altura. f. Abater, v.g. a
authoridade, os espiritos: a pobreza acanha. Eufr.1.3.
f.32, e 2. 5. Diminuir v.g. o esforo Palm. 3.f. 128.v.
Deprimir desgabando, Castanh. l.3. prol. Acanhar
arvore.
Acanhar, em sentido moral. Abater. Acanhar a
authoridade. Auctoritatem minuere, ou deprimere.
Dandolhe os convidados to estreito lugar, que
Acanhava sua authoridade. Lobo, Corte na Aldea,
Dial.4.pag.85.
Acanhar. Desanimar. Intimidar. Alicujus animum
frangere, & demittere. Cic.7. Tam il.9. Alicujus
animos minuere, infirmare, infringere, Tit.Liv.
Alicujus animum, vel virtutem debilitare. Cic. Para
Acanhar & rebotar os espiritos aos Portuguezes.
Lemos, cercos de Malaca, 48.
Acanhar. Desprezar. Abater com palavras.
Aliquid extenuare verbis. Dicendo levare, elevare,
minuere, imminuere.
Aacanharse. Abaterse. Intimidarse. Animum
contrahere, ou demittere. Se abjicere, dejicere.
Animi magnitudinem inflectere. (I.p.61-62).
A redaco dos dois artigos ilustra bem a diferena entre a lexicografia das origens e a
dicionarstica portuguesa moderna iniciada por A. Morais Silva. sistematizao, sobriedade e
pertinncia dos dados coligidos, acrescenta-se uma tcnica metalexical que vai progressivamente
integrando a informao gramatical, a anlise do espectro semntico, o esclarecimento dos usos,
sem deixar de explorar a textualizao autorizada. Em ulteriores edies alarga-se a indicao
sobre linguagens especiais e tecnolectos, amplia-se a lista de autores citados, e acrescenta-se, de
modo sistemtico, uma tentativa de explicao etimolgica.
Observando mais detidamente as diferenas entre estes dois artigos, pode ainda notar-se
uma provvel sensibilidade evoluo diacrnica, por parte de Morais. A substituio de
"medrar" por "crescer", corresponde certamente ao reconhecimento aprofundado e actualizado do
mbito semntico das duas palavras. A forma medrar, mais ligada ao crescimento das plantas e
dos animais, parece sofrer uma conotao arcaizante. A percepo do envelhecimento e da
inovao do lxico, e o reconhecimento dos valores dialectais e diastrticos podero ser aspectos
dos mais interessantes do Dicionrio.
Ao longo de todo o sc. XVIII, houve certamente vrias tentativas de elaborao dicionarstica,
ainda que nos chegaram escassos testemunhos dessa actividade. significativa a este propsito, a
notcia de um texto lexicogrfico perdido provavelmente no terramoto e sequente incndio de
1755, quando se encontrava j em parte impresso. Segundo informao de Inocncio, com base
numa carta de 1755, Jos Caetano (nascido em 1690), gramtico e pedagogo, preparara um
complemento do Vocabulrio Portugus de Bluteau que chegou a ter vrias folhas impressas (I.
Silva, Dicionrio Bibliogrfico, t.IV, p.282).
13
Clotilde Murakawa, numa dissertao de mestrado, com o ttulo O Primeiro Dicionrio da
Lngua Portuguesa de Antnio de Morais Silva, Estudo crtico da edio de 1813, (Araraquara,
1984), ordenou uma lista em que se contam os autores citados com 203 nomes (p. 26 e s.). Alguns
autores tm dois ou mais ttulos, perfazendo assim as cerca de 300 abreviaturas.
Este Catlogo, atribudo a Agostinho Jos da Costa de Macedo (1745-1822), um dos trs
autores efectivos do Dicionrio da Academia, foi objecto de observaes um tanto cidas por
parte de Inocncio Silva (t.II, p.54 e 469 e t. IX, p.55) que lhe censura, para alm de vrios erros e
inexactides, o facto de se limitar a extrair servilmente da Bibliotheca de Barbosa os nomes dos
escriptores e indicaes das obras.
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Alguns desses estudos foram publicados nas Memrias de Litteratura Portugueza, Lisboa,
Academia, 1792 a 1814, 8 tomos. A obra de Francisco Jos Freire (1719-1773) Reflexes sobre a
Lingua Portugueza, foi publicada postumamente em 1842.
de Morais Silva foi um expoente e de certo modo um esteio dessa doutrina que influenciou o
pensamento metalingustico portugus e europeu at aos meados do sculo XX.
dos dicionrios da lngua portuguesa. Entre estes, o mais autnomo e o que mais discretamente
acusou a influncia da obra de Morais foi o Dic. de Fonseca / Roquete que iniciou a sua
publicao em 1848. Todos os outros, nomeadamente o dicionrio de Constncio 1836 acompanharam de forma quase literal o texto instituidor. Num quadro muito esquemtico em que
se regista o aparecimento e a distribuio dos mais importantes dicionrios da lngua portuguesa
ao longo do sculo XIX, podemos facilmente observar a regularidade das suas reedies e a
certeza de que havia um pblico que lhe dava as suas preferncias e que lhe garantiu um lugar
central e um papel predominante na histria da lexicografia contempornea.
1 1789 Silva, Antnio de Morais, Diccionario da Lingua Portugueza composto pelo padre D. Rafael Bluteau,
reformado e accrescentado por Antonio de Moraes Silva, natural do Rio de Janeiro, Lisboa, na Of. de Simo
Thaddeo Ferreira.
1789 Sousa, Fr. Joo de, Vestgios da lngua arbica em Portugal, Lisboa, Acad. Real das Cincias.
1793 ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, Diccionario da Lingoa Portugueza, Lisboa.
1794 S, Joaquim J. Costa e, Dicionario Portuguez-Francs -e-Latino, Lisboa, Of. de Tadeo Ferreira.
1798-1799 Viterbo, Frei Joaquim de Santa Rosa de, Elucidario das palavras, termos e frases 2 vol., Lisboa, na
Officina de Simo Thaddeo Ferreira
1806 Novo Diccionario da Lingua Portuguesa, Lisboa, Typ. Rollandiana.
2 1813 Silva, Antnio de Morais, Diccionario da lingua portugueza recopilado dos vocabulrios impressos at
agora, e nesta segunda edio novamente emendado, e muito acrescentado, por Antonio de Moraes Silva,
Lisboa, Typographia Lacerdina.
1817 Enciclopedia Portuguesa por O.P.O.S.D.E.S (Nicolau Peres), Lisboa, Imprensa Rgia
1818-1821 Diccionario Geral da Lingoa Portugueza de algibeira: por tres litteratos nacionaes. 3 vol., Lisboa, Impr.
Rgia.
3 1823 Silva, Antnio de Morais, Diccionario da lingua portugueza recopilado de todos os impressos at o
presente, Lisboa, Tip. M.P. deLacerda.
1824 So Lus, Fr. Francisco de, Ensaio sobre alguns synonymos, Lisboa, Acad. das Sciencias.
1825 Viterbo, Fr Joaquim de Santa Rosa de, Diccionario portatil das palavras, Coimbra, Impr. da Universidade.
1829 Fonseca, Jos da, Novo diccionario da lingua portugueza, Paris: J. P. Aillaud
4 1831 Silva, Antnio de Morais, Diccionario da lingua portugueza composto por... Lisboa, na Impresso
Regia.
1833 Fonseca, Jos da, Novo diccionario da lingua portugueza seguido de um diccionario completo dos synonymos
portuguezes, Paris: J. P. Aillaud
1836 Constncio, Francisco Solano, Novo Diccionario Critico e Etymologico da Lingua Portugueza, Paris, Angelo
Francisco Carneiro Junior Tip. de Casimir. In 4, LII-976p.
1840 Fonseca, Jos da, Novo diccionrio da lngua portugueza recopilado de todos os que at o presente se teem
dado luz seguido de um dicionrio completo dos synnymos portuguezes, Paris, J. P. Aillaud.
1842 Couto, Antnio Maria do, Diccionario da Maior Parte dos Termos Homonymos, Equivocos da Lingua
Portugueza, Lisboa: Typographia de Antonio Joze da Rocha.
1844 Diccionario Universal da Lingua Portugueza: por uma Sociedade de Litteratos, Lisboa: Typographia de A.J.
da Rocha
5 1844 Silva, Antnio de Morais, Diccionrio da lingua portugueza, Lisboa, tip. Antnio Jos da Rocha.
1848 Fonseca / Roquete, Diccionario da Lingua Portugueza de Jos da Fonseca, feito inteiramente de novo e
consideravelmente augmentado por J. I. Roquete, Pariz: Va. J. P. Aillaud, Guillard E.Ca.
1848 Fonseca / Roquete, Diccionario dos Synonymos, Poetico e de Epithetos da Lingua Portugueza, Paris, Aillaud.
1848 1849 Faria, Eduardo Augusto de, Novo Diccionario da Lingua Portugueza ..., seguido de um Diccionario de
Synonymos, Lisboa: Tip. Jos Carlos de Aguiar Vianna.
1852 Fonseca / Roquete, Diccionario da lingua portugueza, feito inteiramente de novo e consideravelmente
augmentado, Pariz, Em casa de J. L. Ailland.
1858 Dantas, Miguel Martins, Novo Diccionario Portatil da Lingua Portugueza, Paris, Aillaud/Guillard.
1858-1859 Lacerda, Jos Maria de Almeida e Araujo Correia de, Diccionario da Lingua Portugueza de Eduardo de
Faria, 4 edicin,... refundida, correcta e augmentada..., seguido de um Diccionario de Synonymos, 2 vol.,
Francisco Artus da Silva.
6 1858 Silva, Antnio de Morais, Diccionrio da lingua portugueza
1871-1874 Vieira, Frei Domingos Lus, Grande Diccionario Portuguez ou Thesouro da Lingua Portuguesa, 5 vol.,
Porto, Ernesto Chardron e Bartolomeu H. de Moraes.
1877 Carvalho, Antnio Jos de e Ramos, Joo de Deus, Dicionrio prosdico,Lisboa, Pacheco e Barbosa.
7 1877-78 Silva, Antnio de Morais, Diccionario da lingua portugueza, Lisboa, Tip. Joaquim Germano de
Sousa Neves - Editor.
8 1889 Silva, Antnio de Morais, Diccionario da lingua portugueza, Lisboa, Editora - Empreza Litteraria
Flminense de A.A. da Silva Lobo. Sede - Rio de Janeiro, Sucursal - Lisboa.
??? 1891 (cf. Notcia da 10. Ed. 1949)
9 ? Silva, Antnio de Morais, Diccionario da lingua portugueza, Lisboa, Editora - Empreza Litteraria Flminense
de Santos, Vieira & Commandita.
5. O percurso editorial
A sequncia das vrias edies, especialmente das seis primeiras, distribudas quase
pontualmente de dcada em dcada (2. 1813, 3. 1823, 4. 1831, 5. 1844, 6. 1858), preenche um
dos captulos mais interessantes da dicionarstica portuguesa. A sequncia editorial de dcada em
dcada, tinha j sido percorrida pela Prosodia de Bento Pereira, condicionada pelas licenas rgias
por dez anos, sobretudo nas edies do sculo XVIII (1697, 1711, 1723, 1732, 1741, 1750), e sem
dvida podem observar-se algumas analogias entre entre estes dois monumentos instituidores.
Todavia, as edies da Prosodia, a partir de 1697, foram meras repeties mecnicas, sem
alteraes nem inovaes. De modo bem diferente, as edies do Morais foram todas objecto de
renovado tratamento editorial, com sobreposio de mais informaes lexicogrficas, como com
veemncia se declara nas vrias pginas de rosto:
2- novamente emendado, e muito accrescentado
3-mais correcta e accrescentada
4- Reformada, emendada, e muito accrescentada posta em ordem, correcta, e enriquecida
5- Modificado, reformado
6- Melhorada e muito acrescentada
7- Melhorada e muito acrescentada de termos novos usados no Brasil e no Portuguez da
India
8- "Nova edio revista e melhorada"
Descendo a uma leitura mais recorrida das vrias reedies, podemos confirmar que
efectivamente houve sempre um esforo de actualizao, mais ou menos sistemtico e
aprofundado, conforme as edies.
As duas primeiras edies so obra exclusiva de Antnio de Morais Silva. A segunda
apresenta uma efectiva e notria ampliao. Observa-se a adio de novas entradas, sobretudo
com mais advrbios em -mente e outras formas criadas por derivao, e ainda com a duplicao de
entradas com variantes ortogrficas (DESACCORDO, s.m. V. Desacordo); nota-se o
alargamento de muitos artigos com novas acepes e com mais e mais longas citaes. Neste
mbito, parece notar-se uma certa distenso ideolgica, encontram-se referncias crticas em
relao Inquisio, anteriormente omitidas. Como acontece, mais ou menos com todos os
dicionrios, estamos perante um excelente documento para a histria das mentalidades e das
ideologias.
Em sntese, entre a primeira e a segunda edio, podemos dizer que houve mais
acrescentos do que alteraes. Adivinha-se uma espcie de culto da acumulao, que uma
tentao primria de todos os lexicgrafos. Alguns acrescentos, nem sempre criteriosos tiveram
que ser emendados em edies ulteriores.
A partir da 3 edio, o Dicionario de Antnio de Morais Silva comeou a ser uma obra
de sucessivas coautorias, que preenchem uma galeria de lexicgrafos pouco conhecidos e entre os
quais possvel recuperar os nomes de
3.Pedro Jos de Figueiredo (1762-1826)
4Theotonio Jos de Oliveira Velho (1776?-1837?)
5Dmaso Joaquim Lus de Sousa Monteiro (1807-c.1842
P. Antonio de Castro (1762-c.1849)
6Agostinho de Mendona Falco de Sampaio Coutinho e Pvoas (1783-1854)
..
10 Augusto Moreno (1870-1955).
Francisco Jos Cardoso Jnior (1884-1969)
Jos Pedro Machado (1914)
A 3. edio (1823) diz-se mais correcta e accrescentada de cinco para seis mil artigos
... extrahidos dos Authores Classicos Portuguezes, com disvello e curiosidade por Pedro Jos de
Figueiredo. Na "Advertencia do Editor" desta 3. edio, alm de repetir a informao j dada na
2 de que tinham sido aproveitados o Dicionrio da Academia e o Elucidrio de Viterbo, entretanto
publicados (1793 e 1798/99), acrescenta-se a meno do Dicionrio portruguez e francez de
Joaquim Jos da Costa e S, entretanto reeditado pelo mesmo editor Borel Borel, em 1809 e 1811).
Pedro Jos de Figueiredo publicou tambm uma gramtica portuguesa vrias vezes reeditada e
elaborou igualmente um dicionario cujo manuscrito se perdeu. Na sequncia da revoluo liberal
de 1820, foi nomeado membro de uma comisso encarregada de ler e apreciar os livros e papis
que houvessem de imprimir-se.18
significado do biblinimo dicionarstico, mas ignorada essa ocorrncia, e vem agora pela
primeira vez registado com a acepo francesa de caderninho de notas ou agenda pessoal:
CALEPINO, s.m. Colleco de notas, de palavras, etc. feita por alguem para seu uso.
(1831, I. 320).
18
Com esta sexta edio conclui-se o ciclo dos grandes editores Borel Borel &
Companhia que, desde 1789 foram proprietrios da edio, e de certo modo conclui-se o ciclo
inicitico do Dicionrio de Morais.19 A 7. edio (1877/78), "melhorada e muito accresentada",
ser publicada sob a chancela do editor Joaquim Germano de Sousa Neves que anuncia. no
"Prefcio", os seguintes melhoramentos:
"Esta septima edio vae consideravelmente augmentada em locues, phrases,
accepes e termos que faltavam nas anteriores. Respeitou-se o texto de Moraes tanto quanto
possvel, corrigindo porm alguns erros que tinham escapado ao sabio auctor e aos dignos
addicionadores das edies 3, 4, 5, e 6.
19
Com boa intuio e fundadas razes Dieter Messner fixou nesta sexta edio do Morais o limite
para uma periodizao da lexicografia histrica portuguesa que vem roteirando, com labor
beneditino, desde 1994, no Dicionrio dos dicionrios portugueses, publicado pelo Institut fr
Romanistik der Universitt Salzburg.
20
Em "Nova edio revista e melhorada" (que ser a oitava), publicada em 1889, pela
Editora - Empreza Litteraria Fluminense de A.A. da Silva Lobo, com sede no Rio de
Janeiro, mas com sucursal em Lisboa (onde a edio ter sido impressa), diz o editor, na
nota introdutria "Ao Pblico": "Fmos ns que ha onze annos, ao comearmos a nossa
casa no Brazil, ahi levmos o Moraes, collocando cinco sextas partes do total da 7
edio, que um nosso amigo fazia em Lisboa a esse tempo."