Livro violencia contra idoso oms

1. .. Vini nsia. xgelnjneintie ! desse

2. Presidncia da Repblica Secretaria Especial dos Direitos Humanos Esplana dos Ministrios, Bloco
T, Anexo Il, 2 andar, sala 209 70064-900 - Braslia DF e-mail: direitoshumanos@sedh. gov. br Site:
www. presidencia. gov. br/ sedh Copyrigth: 2005 Secretaria Especial dos Direitos Humanos ( SEDH)
Permitida a reproduo total ou parcial da publicao, devendo citar a fonte de referncia. Os conceitos
e opinies nesta obra so de exclusiva responsabilidade do autor. Impresso no Brasil/ Printed n Brazil
Distribuio Gratuita Tiragem: 10.000 exemplares Assessoria Tcnica: Jurilza Maria Barros de
Mendona Texto: Maria Ceclia de Souza Minayo Colaborao: Maria Spnola, Valria Tavares Rabelo,
Joana Cristina Serra Gedeon Normalizao: Maria Amlia Elisabeth C. Verssimo Ficha catalogrfica:
305.26 Minayo, Maria Ceclia. M663V jiolncia contra Idosos: O avesso do respeito experincia e A
sabedoria / Texto: Maria Ceclia de Souiza Minayo - Braslia: Secretaria Especial dos Direitos
Humanos, 2g edio, 2005 | .ldosos 2. Idoso, Violncia 3. Direitos Humanos, Idoso I. Minayo, Maria
Ceclia Il. BrasiI. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. III. Ttulo: O avesso do respeito
experincia e sabedoria CDD - 305.26
3. 10 13 16 19 26 29 37 43 SUMRIO APRESENTAO Violncia contra a pessoa idosa: problema
srio e quase-desconhecido A populao idosa cresce aceleradamente no Brasil Violncia contra os
idosos uma questo nova para a conscincia nacional Definao dos termos referentes violncia
contra os idosos Dados epidemiolgicos sobre violncia contra idosos: a ponta do iceberg De que causas
violentas morrem os idosos brasileiros? Que causas violentas levam os idosos a se internarem em
hospitais do SUS? A violncia que no chega s estatsticas Concluses Bibliografia
4. APRESENTAO No mbito da Politica Nacional do Idoso, permeiam diretrizes que se consubstanciam
em propostas de aes que nas suas implementaes se caracterizam como estratgias que viabilizam um
conjunto de atividades norteadoras para a garantia da melhoria da qualidade de vida desta populao. Seja
no centro de atuao indireta, seja pelo prprio protagonismo da pessoa idosa, na luta pela conquista de seus
direitos, os cenrios sempre se configuram como foras de desenvolvimento para o fortalecimento e
empoderamento da participao, do envolvimento e do grau de comprometimento das instituies e dos
cidados na busca da causa comum. A busca pela garantia dos direitos fundamentais da populao idosa,
mediante a adoo de mecanismos e instrumentos insttucionalizados, tem sido o esforo depreendido tanto
pelas organizaes governamentais como pela sociedade, buscando em conjunto esta consolidao de
propsitos focados nos direitos humanos. Logo, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos com a 2
edio do documento Violncia Contra Idosos - O Avesso do Respeito Experincia e Sabedoria, busca
consolidar todo um processo dinmico no exercicio de seu papel na garantia dos direitos humanos no que
diz respeito s questes de violncia contra a pessoa idosa seja na forma fisica, psicolgica, financeira,
emocional, independente da classe social a qual pertence. Como resultado deste trabalho, espera-se que a
partir da viso conceitual e da prtica do cotidiano aqui tratada em relao aos rgos do poder pblico e da
sociedade civil, venham a utilizar como meio de pesquisa e de orientao para as suas aes no
fortalecimento da poltica social para a pessoa idosa. MRIO MAMEDE Secretrio Especial dos Direitos
Humanos
5. Violncia contra idosos O avesso do respeito experincia e sabedoria Maria Ceclia de Souza
Minayo' Violncia; contra : a pessoa idosa: problema srio e quase desconhecido Os profissionais e os
militantes da rea do direito, da assistncia social e da sade encontraro neste guia a discusso de um
assunto muito pouco tratado, que fere fundo a alma do pas: os maus tratos, as agresses, as vrias
formas de violncia contra os idosos. Mas esses fatos e comportamentos negativos no so fenmenos
que ocorrem s com os idosos e s no Brasil: fazem parte da violncia social em geral e so universais.
Em muitas sociedades, diversas expresses dessa violncia, freqentemente, so tratadas como uma
forma de agir "normal" e "naturalizada" ficando ocultas nos usos, nos costumes e nas relaes entre as
pessoas. Tanto no Brasil como no mundo, a violncia contra os mais velhos se expressa nas formas
como se organizam as relaes entre os ricos e os pobres, entre os gneros, as raas e os grupos de idade
nas vrias esferas de poder politico, institucional e familiar. Neste guia busca-se tirar o vu desse mal

que est presente na sociedade e nos indivduos, pretendendo-se, com isso, estar contribuindo para o
crescimento do respeito nas relaes entre as geraes, a favor da cidadania e da democratizao do
Brasil. Entende-se que tratar o problema da violncia contra os idosos significa tratar tambm o seu
contexto. Ou seja, e preciso compreender as relaes entre as vrias etapas do ciclo de vida e o papel do
Estado na organizao desses ciclos, os preconceitos sociais contra o envelhecimento e a funo das
instituies na repetio desses preconceitos ou nas mudanas positivas que possam ocorrer. " Quando
se olha mais profundamente o problema social da violncia contra os idosos, observam-se duas
dimenses muito fortes que convivem. Uma coletiva e que conforma o imaginrio popular, constituindo
uma viso negativa do envelhecimento. A sociedade mantm e reproduz a idia de que a pessoa vale o
quanto produz e o quanto ganha e por isso, os mais velhos, fora do mercado de trabalho e quase sempre,
ganhando uma pequena l Professora e pesquisadora titular da Fundao Oswaldo Cruz; pesquisadora de
carreira do CNPQ. Coordenadora Cientfica do Centro Latino Americano de Estudos sobe Violncia e
Sade (CIaves/ Fiocruz); Editora Cientfica da Revista Cincia & Sade Coletiva.
6. aposentadoria, podem ser descartados: so considerados inteis ou peso morto. A segunda dimenso,
aquela que vem da convivncia com as pessoas idosas e do conhecimento de sua histria considera que
h idosos e idosos, distintos em suas caracteristicas e em suas necessidades. Embora a sociedade adulta
seja a grande responsvel pelo imaginrio sobre a velhice, tambm os prprios velhos esto imbricados
na produo da ideologia que sobre eles produzida. Muitos no se conformam com a perda de poder,
outros que s viveram para o trabalho, sentem-se perdendo a identidade quando se retiram das
atividades profissionais, outros, ainda, se isolam do mundo da vida, enclausurando-se numa solido
desnecessria. "A fragilidade dos velhos muitas vezes suficiente para separar os que envelhecem dos
vivos. Sua decadncia os isola. Podem tornar-se menos sociveis e seus sentimentos menos calorosos,
sem que se extinga sua necessidade dos outros. Isso o mais difcil: o isolamento tcito dos velhos, o
gradual esfriamento de suas relaes com pessoas a quem eram afeioados, a separao em relao aos
seres humanos em geral, tudo o que lhes dava sentido e segurana" (Norbert Elias, 2002, 8) A
importncia deste guia seu propsito de colaborar para que se construa "um Brasil mais sbio e mais
experiente" como escreveram Jos Sarney e Joo Paulo Cunha, respectivamente presidentes do Senado
Federal e da Cmara dos Deputados, na apresentao do Estatuto do Idoso que se tornou a Lei no.
10.741 de 2003. Este guia, porm, va em busca das lacunas na conscincia social brasileira e do avesso
do "direito" que se expressam nas vrias formas de violncia, trazendo dados, informaes cientficas e
anlises sobre o assunto. Ao faz-lo, lana luz sobre a dinmica de desrespeito, de preconceitos e de
crueldades que precisam ser superadas. Tambm evidencia que possvel prevenir, que importante
mudar e, para isso, imperativo ampliar e aprofundar as aes afirmativas e positivas que j esto sendo
realizadas. Este pequeno livro se organiza em trs sentidos: (1) apresenta uma anlise descritiva sobre os
dados de morbidade e de mortalidade por violncias e acidentes nesse grupo populacional (2) discute e
analisa estudos nacionais e internacionais e vrias fontes de denncias, visando a aumentar a
compreenso do problema; (3) prope algumas aes.
7. Pretende oferecer uma viso ampliada das principais questes relacionadas ao assunto. Algumas so
consideradas universais, pois, os estudos existentes mostram que elas ocorrem na maior parte do mundo.
Outras so especificas da realidade brasileira, ou, pelo menos, no so pontuadas pela literatura
internacional. As violncias contra pessoas idosas sero tratadas neste guia a partir de alguns aspectos
que ajudam a contextualizar o envelhecimento na sociedade brasileira: mudanas demogrficas, sentidos
scio- antropolgicos e informaes epidemiolgicas. Tendo em vista as diferentes interpretaes sobre
quando se comea a considerar uma pessoa como velha, neste guia considera-se como idosa, a
populao brasileira com 60 anos ou mais. Entende se que o limite de idade uma deciso quase sempre
estabelecida pelo Estado quando normatiza sobre aposentadorias, penses e concesso de benefcios, ou
por organizaes internacionais que estabelecem comparaes de indicadores de desenvolvimento. O
parmetro aqui adotado usado por vrios outros rgos nacionais e internacionais.
8. O Brasil apresenta hoje um acelerado crescimento nas propores de idosos. Isso ocorre tambm no
mundo inteiro, com pequenas excees. Tal fenmeno coloca vrios dilemas para todas as sociedades e
para seus governos. Entre eles, ressalta-se a necessidade de se rever: _ as divises entre os ciclos de vida
tradicionalmente usadosz; o perodo adotado at hoje para definir a insero das pessoas nas atividades
produtivas; os limites de idade para aposentadoria; a organizao dos servios de sade para que passe a

contemplar em seu planejamento e praticas, as necessidades especificas deste grupo; a formao de

pessoas para lidar com as necessidades prprias desta populao; a organizao dos espaos, dos
equipamentos e dos materiais dentro das moradias familiares, nas instituies sociais e nas ruas, para
que os idosos possam viver protegidos, minimizando-se os riscos evitveis de quedas e de outros
agravos. mudanas culturais relativas viso do envelhecimento e a incluso dos idosos como atores
sociais. Esses so alguns pontos de uma agenda nova que as transformaes na expectativa de vida vo
colocando para a sociedade brasileira. Eles no podem ser tratados de forma desleixada e irresponsvel,
pois no momento atual, a presena indiscutvel dos idosos nos mais diferentes espaos sociais repercute
nas formas de interao de todos os outros grupos de idade e nas expresses de suas necessidades
(Organizao das Naes Unidas, 2003). O fenmeno do envelhecimento no Brasil impressionante. A
esperana de vida ao nascer mais que dobrou do inicio (33 anos) ao final do sculo XX (quase 70 anos).
De 1991 a 2000, a populao brasileira com mais de 60 anos aumentou duas vezes e meia a mais (35%)
do que a populao mais jovem que cresceu 14% (LIMA-COSTA et al, 2002). A Sntese dos Indicadores
Sociais do IBGE (2003) assinala que havia 16.022.231 pessoas com 60 anos ou mais no pas em 2002,
representando 9,3% do total dos habitantes. Na regio Sudeste e Sul, a proporo de idosos em relao
populao geral j passa de 10%. No ano 2020 espera-se que o nmero de pessoas acima de 60 anos
atinja 25 milhes e represente 11,4% do total dos brasileiros. Ou seja, o pas est num caminho sem
volta, embora seja ainda jovem, como lembra Veras em seu livro: Pasjovem de cabelos brancos (1994).
Hoje h pelo menos uma pessoa idosa em 26% dos lares brasileiros e h mais de 130 mil pessoas com
mais de 100 anos no pas. -- _f-rrar-r--g : __, -- . ..i- -_-: -_: .: --_- n:
9. Comparando os dados do Brasil com outras regies, constata-se que o envelhecimento populacional
aqui ocorre numa velocidade muito maior que a dos pases europeus, os quais levaram cerca de 140
anos para envelhecer. No entanto, h grandes diferenas do Brasil em relao realidade europia: l o
grupo que mais cresce tem mais de 80 anos. Aqui, a faixa de 60 a 69 anos a que aumenta mais
rapidamente. Na Europa, a longevidade atribuda s confortveis condies de vida e de bem estar
social e de sade. No Brasil, elas tm a ver tambm com as melhorias nas condies sanitrias e de vida,
mas, se devem principalmente queda tambm acelerada nas taxas de fecundidade e de natalidade.
Infelizmente o pas no tem conseguido dar uma velhice tranqila a seus cidados: boa parte dos idosos
sofre muitos e profundos problemas sociais, como evidenciam os indicadores sociais do IBGE (2003)
para 2002: 43% dos que tm 60 anos ou mais tm renda per capita abaixo de um salrio minimo. E
4.870.336 deles (30,4%) continuam a trabalhar, seja para se manter seja para auxiliar a subsistncia de
sua familia. Portanto, internacionalmente e tambm no Brasil, a populao idosa no homognea nem
do ponto de vista da distribuio de renda e nem por faixas etrias. Apenas 25% das pessoas acima de
60 anos ganham 3 salrios mnimos ou mais. Ou seja, cerca de 75% pobre, existindo um_a boa parcela
na faixa de miserabilidade (43%), necessitando de assistncia dos servios pblicos. importante
assinalar que as desigualdades sociais tambm indicam riscos diferenciados de sofrer violncia e os
mais pobres so especialmente vulnerveis. Atualmente, em todo os pases em que a populao idosa
parte significativa da populao geral estabelece-se uma classificao interna ao prprio grupo, visando
atuao das polticas sociais. O grupo dos que tm de 60 a 69 configura o que tradicionalmente se
denomina terceira idade: nele h menos pessoas fsica e mentalmente dependentes, grande parte delas
trabalha e est ativa. Geralmente, desse segmento at 75 anos que surgem as denncias de maus tratos
e violncias, uma vez que o grupo dispe de mais autonomia. e de condies para buscar ajuda. Acima
dessa faixa os velhos sentem muito mais dificuldades de reagir a agresses fisicas, econmicas e
psicolgicas. O segmento dos idosos de 70 a 80 anos chamado da _quarta idade e j se usa a
classificao guinta idade para a populao acima de 80 anos (PEIXOTO, 2000). O crescimento de
todos esses segmentos, principalmente os de quarta e de quinta idade, exige uma preparao cuidadosa,
principalmente das reas de sade e de assistncia social. fundamental ter pessoas preparadas,
equipamentos e recursos, dentro de uma concepo de promoo, de preveno e de assistncia.
10. "llia" contra os idosos ; uma questo nova para a: ~ I - = - ~ '- conscincia nacional _ Lim_ . . _
V_ - . __ Do ponto de vista antropolgico e cultural, a violncia contra os velhos um problema que
vem junto com a elevao da conscincia de direitos. a partir dos vrios momentos e movimentos em
que se proclamam e se reafirmam os direitos individuais, sociais, coletivos, politicos e de grupos
especficos que a questo da cidadania se coloca, independentemente de idade, de sexo, de raa ou etnia
ou de condio social. Nessa dinmica de crescimento da conscincia social, a idade cronolgica, em

suas diferentes etapas, passa a ser ressignificada como um princpio norteador de novos direitos e
deveres, sobretudo no caso de grupos mais vulnerveis. Isso ocorreu primeiro com as mulheres, em
seguida com as crianas e com os adolescentes (Promulgao do ECA, 1990) e, agora, com os idosos
(Estatuto do Idoso, 2003). Embora no imaginrio social, a infncia, a adolescncia, a vida adulta e a
velhice costumam ser pensadas apenas como etapas biolgicas da vida, na verdade, isso no o que
ocorre em nenhuma sociedade. Pelo contrrio, como se pode ler neste encaixe: O processo biolgico,
que real e pode ser reconhecido por sinais externos do corpo, apropriado e elaborado simbolicamente
por todas as sociedades, em rituais que definem, nas fronteiras etrias, um sentido poltico e organizador
do sistema social" (Minayo & Coimbra Jr, 2002, 14). Geralmente, nos diferentes contextos histricos
das sociedades, h uma atribuio de poderes para cada ciclo da vida e em quase todas, observa-se um
"desinvestimento" poltico e social na pessoa do idoso. A maioria das culturas tende a separar os velhos
e a segreg-Ios e, real ou simbolicamente, a desejar sua morte. No verdadeira a crena,
freqentemente veiculada, de que os antigos tratavam de forma melhor seus idosos, cultuando sua
presena na comunidade. Isso pode ter ocorrido em alguma cultura especfica, assim como hoje
acontece tambm, em relao a alguns idosos.
11. A idia de um passado idlico em relao velhice no encontra respaldo em nenhum estudo
cientfico comparativo. Uma pesquisa antropolgica realizada por Riffiotis (2000) sobre diferentes
etnias africanas mostra como, nessas tribos onde impera uma rgida diviso de funes entre os grupos
de idade, a inteno de aniquilamento politico dos velhos real e ritualizada. Numa determinada fase da
vida, os socialmente considerados velhos so levados para morrer em cavernas distantes dos seus
povoados. Obedecendo a seus costumes, os adultos assumem o comando da sociedade. E quando esses
no conseguem gerenciar bem os problemas, as necessidades e os conflitos em suas tribos, os novos
chefes acabam por buscar a ajuda de algum idoso que havia sido descartado, trazendo-o de volta ao
convivio da comunidade. Porm, no existe um reconhecimento da sabedoria de todos e nem todos so
convocados a retornar para cumprir um papel poltico importante nas suas aldeias. A deciso politica de
universalizar direitos e proteger a todos os idosos uma atitude nova, prpria deste momento histrico
da conscincia nacional. um avano do pensamento que precisa ser concretizado na prtica. Nas
sociedades ocidentais, o desejo social de morte dos idosos se expressa, sobretudo, nos conflitos
intergeracionais, nas vrias formas de violncia fsica e emocional e nas negligncias de cuidados. As
manifestaes culturais e simblicas desse desejo de se liberar dos mais velhos se diferenciam no
tempo, por classes, por etnias e por gnero. No caso brasileiro, os maus-tratos e abusos so os mais
variados. Cometidos em grande maioria pelas familias, eles vo desde os castigos em crcere privado,
abandono material, apropriao indbita de bens, pertences e objetos, tomada de suas residncias,
coaes, ameaas e mortes. Das instituies pblicas e privadas de proteo e da sociedade em geral, os
idosos se queixam de maus tratos, desrespeito e negligncias. Muitos abusos contra esse segmento da
populao, na conjuntura atual, so agravados pela situao de desemprego, levando a que o grupo
familiar se apodere dos parcos benefcios da aposentadoria do idoso, relegando-o a uma vida de
pobreza, de dependncia ou de internao em asilos para indigentes. Nos asilos, freqentemente, eles
padecem de isolamento social, problemas de sade no atendidos e de desnutrio (Guerra et al, 2000).
Os estudos do passado e do presente mostram, no entanto que, mesmo quando as sociedades os
destinam ao esquecimento, ao isolamento, perda de influncia, ao perceberem isso os velhos no se
conformam, buscando restabelecer seu lugar na diviso de poder e de prestgio 11
12. social. Tais expectativas tambm so universais e se tornam evidentes quando os mais velhos tm
oportunidade de se expressar, como revela o clssico estudo do antroplogo Leo Simmons (1945). Esse
autor fez uma vasta pesquisa com velhos em 71 sociedades indgenas, buscando levantar o que
esperavam das suas tribos de origem. Tal investigao, ainda no replicada, mostra que em todos os
grupos pesquisados, os seguintes desejos foram encontrados: viver o mximo possivel; terminar a vida
de forma digna e sem sofrimento; encontrar ajuda e proteo para a sua progressiva diminuio de
capacidades; continuar a participar das decises da comunidade; prolongar, ao mximo, conquistas e
prerrogativas sociais como propriedades, autoridade e respeito. Hoje, em todo o mundo e tambm no
Brasil, cada vez mais os idosos continuam a mostrar seus anseios de viver saudavelmente, de contribuir
com a sociedade, de participar ativamente nas esferas polticas, econmicas, culturais e de defender seus
direitos, exigindo reconhecimento, proteo e espao de atuao (Uchoa et al, 2002; Motta, 2002; Lins e
Barros, 2000; Minayo & Coimbra Jr, 2002; 2002a; Minayo & Souza, 2003). No Brasil, movimentos de

aposentados e de idosos_vo se organizando, dando visibilidade aos problemas que lhes dizem respeito
e buscando espao de protagonismo, ao e ateno. Esse fenmeno de mobilizao crescente sinaliza
para a sociedade brasileira que os idosos no querem ser apenas "objeto" de politicas, querem poder
pensar, dizer o que pensam, ter seus direitos respeitados e contribuir com a fora de sua experincia e de
sua sabedoria acumulada.
13. Definio d_os termos referentes a violencia contra os idosos Nos estudos epidemiolgicos, o
conceito no qual as violncias se incluem "causas externas". No entanto, as duas expresses (causas
externas e violncia) no se equivalem. "Causas externas" uma categoria estabelecida pela
Organizao Mundial de Sade para se referir s resultantes das agresses e dos acidentes, dos traumas
e das leses. "Violncia" uma noo referente aos processos e s relaes sociais interpessoais, de
grupos, de classes, de gnero, ou objetivadas em instituies, quando empregam diferentes formas,
mtodos e meios de aniquilamento de outrem, ou de sua coao direta ou indireta, causando-lhes danos
fisicos, mentais e morais. Segundo a Rede Internacional para a Preveno dos Maus Tratos contra o
Idoso que adotou a definio elaborada em 1995 na Inglaterra: "O maltrato ao idoso um ato (nico ou
repetido) ou omisso que lhe cause dano ou aflio e que se produz em qualquer relao na qual exista
expectativa de confiana". O sentido desta definio ser tratado a seguir. O termo maltrato que tambm
considerado sinnimo de abuso, ser usado neste texto para designar as vrias formas de violncia
contra idosos, embora vrios estudos tericos procedam a distines relativas a cada um deles. As
violncias e os maus tratos contra os idosos se referem a abusos fsicos, psicolgicos e sexuais; a
abandono, negligncias, abusos financeiros e auto-negligncias. A partir da literatura internacional se
sabe que a violncia contra a populao idosa tambm problema universal. Estudos de diferentes
culturas e de cunho comparativo entre paises tm demonstrado que pessoas de todos os status scioeconmicos, etnias e religies so vulnerveis aos maus tratos que ocorrem de vrias formas: fsica,
sexual, emocional e financeira. Freqentemente, uma pessoa de idade sofre, ao mesmo tempo, vrios
tipos de 13
14. maus tratos, mostram Wolf (1994); Chavez (2002) e Menezes (1999) Bernal & Gutierrez (2004).
Todos os pesquisadores que tm analisado arquivos de Emergncias Hospitalares e de Institutos
Mdico-Legais comprovam, historicamente, a existncia de aes violentas contra idosos, como bases
de leses e traumas fsicos, mentais e emocionais. (Chavez, 2002; Pavlik et al. 2001; Menezes, 1999;
Ministrio da Sade, 2001) dentre outros. Assim como em muitos paises do mundo, no caso brasileiro,
as violncias contra a gerao idosa se manifestam em maneiras de trat-la e represent-Ia, cujo sentido
se pode resumir nos termos 'descartvel' e 'peso social'. Essa discriminao tem vrios focos de
expresso e de reproduo. A natureza das violncias que a populao idosa sofre coincide com a
violncia social que a sociedade brasileira vivencia e produz nas suas relaes e introjeta na sua cultura.
As violncias contra idosos se manifestam de forma: (a) estrutural, aquela que ocorre pela desigualdade
social e naturalizada nas manifestaes de pobreza, de misria e de discriminao; (b) interpessoal nas
formas de comunicao e de interao cotidiana e (c) institucional, na aplicao ou omisso na gesto
das polticas sociais pelo Estado e pelas instituies de assistncia, maneira privilegiada de reproduo
das relaes assimtricas de poder, de domnio, de menosprezo e de discriminao. Na cotidianidade, as
marcas estruturais so a base naturalizada de atualizao das vrias formas de violncia que se
expressam entre e intraclasses e segmentos sociais e, sobretudo, nas relaes familiares e
intergeracionais. Nas instituies, as burocracias que se investem da cultura do poder sob a forma da
impessoalidade, reproduzem e atualizam, nos atos e nas relaes, as discriminaes e os esteretipos
que mantm a violncia. Existem idosos violentos e, nas delegacias especializadas para atend-los, os
servidores constatam que h, tambm, queixas e denncias contra eles. Porm suas reaes, em muito
menor proporo do que os agravos que sofrem, se devem sua fragilidade frente ao poder dos adultos
que comandam a sociedade. A vulnerabilidade prpria da idade e do lugar social que ocupam torna os
pobres e miserveis as maiores vitimas da violncia. internacionalmente se estabeleceram algumas
categorias e tipologias para designar as vrias formas de violncias mais praticadas contra a populao
idosa:
15. . Abuso fsico maus tratos fsicos ou violncia fsica so expresses que se referem ao uso da fora
fisica para compelir os idosos a fazerem o que no desejam, para feri-los, provocar-lhes dor,
incapacidade ou morte. . Abuso psicolgico. violncia psicolgica ou maus tratos psicolgicos

correspondem a agresses verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar os idosos, humilh-los,

restringir sua liberdade ou isol-Ios do convvio social. . Abuso sexual violncia sexual so termos que
se referem ao ato ou jogo sexual de carter homo ou hetero-relacional, utilizando pessoas idosas. Esses
abusos visam a obter excitao, relao sexual ou prticas erticas por meio de aliciamento, violncia
fsica ou ameaas. . Abandono uma forma de violncia que se manifesta pela ausncia ou desero ,
dos responsveis governamentais, institucionais ou familiares de prestarem socorro a uma pessoa idosa
que necessite de proteo. . Negligncia refere-se recusa ou omisso de cuidados devidos e
necessrios aos idosos, por parte dos responsveis familiares ou institucionais. A negligncia uma das
formas de violncia contra os idosos mais presente no pais. Ela se manifesta, freqentemente, associada
a outros abusos que geram leses e traumas fsicos, emocionais e sociais, em particular, para as que se
encontram em situao de mltipla dependncia ou incapacidade. . Abuso financeiro e econmico
consiste na explorao imprpria ou ilegal dos idosos ou ao uso no consentido por eles de seus
recursos financeiros e patrimoniais. Esse tipo de violncia ocorre, sobretudo, no mbito familiar. . Autonegligncia diz respeito conduta da pessoa idosa que ameaa sua prpria sade ou segurana, pela
recusa de prover cuidados necessrios a si mesma. A classificao e a conceituao aqui descritas esto
oficializadas no documento de Poltica Nacional de Reduo de Acidentes e Violncias do Ministrio da
Sade (2001).
16. 16 Dados epidemiolgicos sobre violncia contra idosos: a ponta do iceberg A epidemiologia
evidencia os indicadores com os quais o sistema de sade mede a magnitude das violncias que ocorrem
no cotidiano da vida privada, no espao pblico e no interior das instituies e que se transformam em
informaes quantificveis. Ou seja, sua reflexo parte dos dados sobre leses, traumas e mortes que
chegam a ser notificados pelo Sistema de Sade. Seus limites so dados por vrios fatores. O primeiro
a disposio ou a conscincia de tornar pblicos os abusos e maus tratos de forma que sejam relatados
s autoridades de sade ou de segurana pelas vtimas, pelos agressores ou por terceiros. Outro
problema a capacidade e a sensibilidade dos operadores de notificao e de cuidados para notificarem
as causas bsicas dos traumas, leses e mortes e no apenas os sinais visveis da vitimizao. Por
depender dessas circunstncias cruciais, as informaes epidemiolgicas precisam ser sempre
relativizadas, sobretudo quando se referem magnitude de um problema to complexo. A violncia
contra idosos um fenmeno de notificao recente no mundo e no Brasil. A vitimizao desse grupo
social, no entanto, um problema cultural de razes seculares e suas manifestaes so facilmente
reconhecidas desde as mais antigas estatsticas epidemiolgicas. Neste momento histrico, a quantidade
crescente de idosos oferece um clima de publicizao e de politizao das informaes sobre maus
tratos de que so vitimas tornando este problema uma prioridade na pauta de questes sociais. Pela
primeira vez, em 1975, os abusos de idosos foram descritos em revistas cientificas britnicas como
"espancamento de avs" (Baker, 1975). No Brasil, a questo comeou a ganhar visibilidade na dcada
de 90 (Machado et al 1997; 2001 ; Machado, 2002; Souza et al, 1998; Menezes, 1999; Souza et al,
2002; Minayo & Souza, 2003) bem depois que a preocupao com a qualidade de vida dos idosos
entrou na agenda da sade pblica brasileira (Veras, 1994). Essa contextualizao do avano. da
conscincia social fundamental por vrios motivos, dentre os quais, relativizar a crena de que os
abusos e os maus tratos esto aumentando.
17. A idia, freqentemente transmitida pela midia e reproduzida pelo senso comum de que a violncia
contra idosos est aumentando no encontra respaldo cientfico, pois no h dados consolidados que
permitam fazer sries histricas e produzir comparaes. As tentativas de sistematizao, realizadas nos
ltimos anos, permitem apenas apontar algumas tendncias, assim mesmo nos casos de morte, das
leses e dos traumas que exigiram internaes. Por isso, ainda que as informaes quantitativas e
circunstanciadas se avolumem a partir de agora, por causa da obrigatoriedade da notificao de maus
tratos prevista a partir do Estatuto do Idoso (Lei no. 10.741 de 1 de outubro de 2003), recentemente
aprovado, o que se poder comprovar que a magnitude de tal fenmeno muito mais extensa do que
se previa. E se crescerem muito os dados estatsticos, ainda assim, h que perguntar se aumentou a
violncia ou se melhorou o processo de notificao. Os dados quantitativos sobre a mortalidade e a
morbidade da populao idosa brasileira, aqui referidos, dizem respeito ao perodo de 1991 a 2000 e
tiveram como fonte os bancos do Sistema de Informao de Mortalidade (SIM), do Ministrio da Sade
que renem as informaes sobre mortes que ocorrem no pais ano a ano. E o Sistema de Informaes
Hospitalares (SIH-SUS) a partir do documento denominado "Autorizao de Internao Hospitalar" que

registra a situao em que a pessoa se internou num hospital do SUS e o tratamento oferecido para as
doenas, leses e agravos que apresenta. A causa bsica das mortes foi avaliada segundo a Classificao
Internacional de Doenas (CID), documento oficial da Organizao Mundial de Sade. Nela, a categoria
"causas externas" recobre cdigos para a informao de homicdios, os suicdios e bitos por acidentes
em geral. As leses e os traumas provocados pelas violncias, pelos acidentes e pelos envenenamentos
tambm so contemplados na CID, permitindo comparaes entre a maior parte dos pases do mundo.
Dentro desses parmetros nacionais e internacionais apresentam-se os dados a seguir. Neste texto as
informaes so olhadas de vrias formas. Por taxas: calculam-se quantas pessoas morreram por
100.000 nos mesmos grupos de idade, por determinada causa. Em proporo: as propores so olhadas
no total da mortalidade dos idosos (por exemplo, 17
18. em relao aos bitos por doenas cardiovasculares, por cncer, por doenas respiratrias) e entre cada
uma das causas especificas, por exemplo, os acidentes de trnsito, as quedas, os homicdios, os suicdios.
Essas informaes so tratadas em trs faixas de idade: de 60 a 69; de 70 a 79 e de 80 anos e mais; por sexo
e de forma bem sinttica, por distribuio em todas as capitais do pas. r__. ... ... .?-_-_--- ___. _-_
19. De que causas violentas morrem os idosos brasileiros? Olhando-se todas as causas de bito de idosos no
Brasil, no perodo de 1991 a 1998, as violncias e os acidentes representaram 3,5% da mortalidade geral. Os
dados indicam, felizmente, uma tendncia de queda, pois em 2000, constituram 2,8% do total (MINAYO &
SOUZA, 2003) quando se comparam todas as causas de doenas ou outros agravos responsveis pelas
mortes da populao de 60 anos ou mais. As violncias e acidentes ocupam atualmente o sexto lugar nessa
mortalidade geral. No conjunto dos bitos, as doenas do aparelho circulatrio, as neoplasias, as
enfermidades respiratrias, as digestivas e as endcrinas ocupam os cinco primeiros lugares. Em 2000,
morreram 13.436 idosos por acidentes e violncias no pas, significando, por dia, cerca de 37 bitos, dos
quais 8884 (66,12%) foram de homens e 4552 (33,87%) de mulheres. O grfico abaixo mostra uma pequena
tendncia de queda. As taxas de mortalidade por acidentes e violncias que vitimaram os idosos cairam de
104,2/ 100.000 em 1991 para 92,4/100.000 em 2000. Nesse ltimo ano corresponderam a 136/ 100.000
bitos de homens e 56,9/100.000 de mulheres, confirmando um padro brasileiro e internacional que
evidencia maior risco de mortalidade por causas violentas para as pessoas do sexo masculino em todas as
idades e tambm na velhice. Os fatores considerados acidentais so os que mais tm pesado nesse quadro,
embora apresentem tendncia a diminuir tambm. Os acidentes de transportes e as quedas, em 1991,
somavam 54,6% e, em 2000, 39,40% de todas as mortes. 19
20. 20 Taxa de mortalidade por causas externas em idosos segundo sexo. Brasil 1991 a 2000 @ E Taxa de
mortalidade por causas externas especficas em idosos, Brasil 1991 a 2000 *Demais causas Homicdio
Leses ignoradas . ._ Quedas . . . _ . . _ . _ _ . , . . . e . 'Suicdio 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
1999 2000
21. Essas duas causas (acidentes de trnsito e quedas) fazem um ponto de confluncia entre violncias e
acidentes, pois, as quedas podem ser atribudas a vrios fatores: fragilidade fsica, uso de medicamentos
que costumam provocar algum tipo de alterao no equilbrio, na viso, ou esto associadas presena
de enfermidades como osteoporose. Mas costumam tambm ser fruto da omisso e de negligncias dos
que deveriam prestar assistncia nas casas, nas instituies e nas comunidades em que vivem. Nas
residncias, onde hoje vivem mais de 95% dos idosos, para se evitar quedas preciso que as familias
cuidem de colocar dispositivos em banheiros, nos pisos e ao lado do leito, tenham a preocupao de
melhorar a iluminao desses ambientes, retirem tapetes ou os mantenham de forma segura. Essas
simples medidas poderiam evitar ou reduzir boa parte das ocorrncias de quedas. Nas instituies de
internao por motivos de sade e nas instituies de longa permanncia, negligncias como as
apontadas acima tambm so freqentes e preciso levar em conta que a maioria das leses e trauma
evitvel. Nas ruas, sobretudo nas travessias, o risco de atropelamentos e quedas muito grande,
exigindo-se compreenso e respeito de motoristas e transeuntes em relao s limitaes que muitos
idosos tm. Seu apoio fundamental para que possam gozar do direito de ir e vir em segurana.
22. No trnsito, os idosos no Brasil passam por uma combinao de desvantagens: dificuldades de
movimentos, prprias da idade, se somam a muita falta de respeito e mesmo a violncias impingidas por
motoristas e a negligncias do poder pblico. Uma das grandes queixas dos idosos se refere s longas

esperas nos pontos de nibus e aos arranques desferidos por motoristas que no os esperam se acomodar
em assentos. Estudo qualitativo realizado por Machado (2002) mostra que uma das formas de violncia
social e relacional da qual as pessoas mais velhas mais se ressentem no Rio de Janeiro, por exemplo, a
forma como so tratadas nas travessias e nos transportes pblicos, tornando o privilgio da "gratuidade
do passe", a que tm direito por lei nos meios de transporte, em humilhao e discriminao. As mortes,
as leses e os traumas provocados pelos meios de transporte e pelas quedas, dificilmente podem ser
atribudos apenas a causas acidentais. Pelo contrrio, precisam ser includos em qualquer politica
pblica que busque superar as violncias cometidas contra idosos. Acidentes de trnsito: dentre as
violncias a que mais mata as pessoas idosas no Brasil. H algumas diferenciaes importantes por
fraes de idade e por sexo nessa vitimizao. Tomando como exemplo o ano 2000, no grupo de 60-69
morreram mais mulheres (37,2%) que homens (31,8%). A partir dos 70 anos o quadro se inverte. Os
homens de 70 a 79 anos corresponderam a 31% e as mulheres, a 27,1%. A partir de 80 e mais anos,
22,3% dos bitos foram de homens e 9,8% de mulheres. A segunda grande causa de morte violenta so
as quedas. Em 2000 elas corresponderam a 8,9% dessas mortes. As mulheres so as principais vitimas e
ficam sempre em desvantagem com o passar da idade: em 2000 elas corresponderam a 33,6% das
mortes de mulheres com 80 anos ou mais. Os homicdios tambm tm alta significncia na vitimizao
dos idosos, vindo a seguir dos acidentes de transporte e das quedas. No ano de 1991, essas trs
causasjuntas representaram 62,30% do total dos bitos por violncias e acidentes de homens e 69% das
mortes de mulheres idosas. Mostrando uma tendncia de queda, mas sendo ainda muito representativas,
no ano 2000 elas somaram 54,84% e 49,30% respectivamente. A diminuio
23. progressiva dos percentuais devidos a esses trs fatores no total das mortes por violncias e
acidentes em idosos no ano de 2000 precisa ser olhada, no entanto, tendo em vista a m qualidade das
informaes. Em relao a 1991, aumentaram as mortes classificadas como "demais causas': passaram
de 14,5% para 20,19% nas estatisticas. E as "leses ignoradas" de 9,1% chegaram a 12,38% do inicio
para o final da dcada de 90. Os problemas de informao prejudicam muito uma viso mais apurada
dos problemas, embora os indicadores existentes permitam confirmar quais so as principais causas de
morte de idosos por violncia: acidentes de trnsito, quedas e homicdios. A ocorrncia de vitimizao
por homicdios em idosos segue o padro brasileiro dos outros grupos de idade, quando observado a
partir da perspectiva de gnero: morrem mais homens que mulheres. H tambm diferenciaes por
estratos de idade: 18,0/100.000 homens para 7,0/100.000 mulheres na faixa de 60 a 69 anos. No ano
2000, nas faixas de 70 a 79, as taxas foram 10,2/100.000 homens e 4,9/100.000 mulheres e,
respectivamente, nos grupos de 80 anos ou mais, 6,2/100.000 homens e 2,0/100.000. Tambm so
elevadas as taxas de suicdio de idosos: muito mais significativas do que a mdia para a populao
brasileira. Enquanto para o Brasil em todas as idades as taxas foram de 3,5/100.000 em 1991 e de
4,00/100.000 em 2000, para o grupo acima de 60 anos, elas so de 6,87/100.000 em 1991 e sobem para
7,49/100.000 em 2000. Como nos homicdios, os homens se suicidam mais, embora haja diferenciaes
de comportamento nos estratos de idade. No conjunto das causas externas em 2000, as propores dos
suicdios foram de 9,7% para homens e 7,6% para mulheres nas faixas de 60 a 69 anos; de 10,0% para
4,5%, respectivamente, no grupo de 70 a 79 anos e de 6,4% para 1,0% na faixa de 80 anos e mais.
Analisando-se de forma desagregada por capitais brasileiras, as dez nas quais foram mais elevadas as
taxas de mortes violentas de idosos no ano 2000 foram, pela ordem: Porto Velho com 272,29 por
100.000 habitantes; Boa Vista, 194,58/100.000; Cuiab, 138,69/ 100.000; Campo Grande,
136,89/100.000; Palmas, 134,37/100.000; Macap, 127,79/100.000; Rio de Janeiro,125,73/100.000;
Brasilia, 124,96/100.000; Natal, 120,85/100.000; Salvador, 116,34/100.000. Entre as 10 que
apresentaram menos mortes violentas, no mesmo ano, esto Joo Pessoa, com 65,75 mortes por 100.000
habitantes; Belm, com 72,02/100.000; Rio Branco, com 80,03/100.000; Porto Alegre, com 81 ,60/1
00.000; Aracaj, com 86,52/100.000; Manaus, 23
24. 24 com 86,72/100.000; Florianpolis, 86,76/100.000; Macei, com 89,11/100.000; So Luiz, com
90,88/100.000; Curitiba, com 95,05/100.000. As outras capitais esto em posio intermediria. Taxas de
mortalidade por causas externas em idosos. Capitais, 2000 Porto Velho Macap Rio de Janeiro Brasilia
Natal Salvador tria Goinia Teresina Recife Belo Horizonte So Paulo Curitiba Brasil E' So Luls Macei
Florianpolis Manaus Aracaju Fortaleza Porto Alegre Rio Branco Belm Joo Pessoa 0 50 100 150 200 250
300 350 Fonte: SIIVVDATASUS Vale a pena comentar algumas informaes positivas sobre vrias
capitais, tomando por base o ano 2000. Em Florianpolis e em Natal no foi notificado nenhum homicdio

de idosos. Em algumas delas as taxas esto muito abaixo da mdia nacional: Salvador, 1,82/ 100.000;
Belm, 3,8/100.000; Joo Pessoa, 4,11/100.000 e Curitiba, 5,99/100.000. Outras apresentam taxas de
acidentes de transporte tambm bastante baixas comparativamente: Salvador, 9,09/100.000; So Paulo,
11,52/100.000; Natal, 14,22/100.000 e So Luiz, 16,16/ 100.000. No foi notificada nenhuma morte por
queda em Palmas; e proporcionalmente as taxas so baixas em Fortaleza, 4,99/100.000; em Rio Branco,
7,28/100.000; em So Paulo,
25. 8,08/100.000; em Joo Pessoa, 8,22/100.000 e em Natal, 8,89/100.000. As taxas de suicdio esto
bastante abaixo da mdia nacional em Boa Vista, Belm, Macap, Palmas, Natal, Joo Pessoa, Macei,
Salvador, Vitria e Cuiab, todas com taxas de 0,6/100.000. Ressaltam-se tambm algumas informaes
negativas que se destacam dos dados. Foram muito elevadas as taxas de mortes de idosos por acidentes
de transporte no ano 2000 em Porto Velho, 136,15/100.000; em Boa Vista, 80,80/100.000 e em Palmas,
80,62/100.000. No mesmo ano, as taxas de homicdios se apresentaram muito mais altas que a mdia do
pais para essa faixa de idade em Cuiab, 54,75/100.000, em Porto Velho, 34,04/100.000; em Palmas,
26,87/100.000; em Boa Vista, 25,94/100.000 e em Macap, 25,52/100.000. Nos bitos por quedas,
destacaram-se Vitria com taxas de 61,20/100.000; Porto Velho com 54,46/ 100.000 e Rio de Janeiro
com 40,71/100.000. Em relao aos suicdios, em 2000 foram mais elevadas as taxas em Teresina
(18,0/100.000); Campo Grande (14,5/100.000); Porto Alegre (12,5/100.000), em Florianpolis
(10,4/100.000) e em Belm (13,0/100.000). Em todos os subgrupos de causas externas, menos em
suicdios, evidencia-se a situao de Porto Velho como a capital mais violenta para os idosos, fato que
merece especial ateno dos gestores pblicos. 25
26. 26 Que causas violentas levam os idosos a se internarem em hospitais do SUS? No Brasil, as
informaes sobre doenas, leses e traumas provocadas por causas violentas em idosos ainda so pouco
consistentes, fato observado tambm na literatura internacional que ressalta uma elevada subnotificao em
todo o mundo. preciso ressaltar que as nicas informaes que, no momento presente, permitem obter
estatisticas e construir indicadores de doenas, leses e traumas provocadas por violncias contra idosos, em
nvel nacional, so os dados do Sistema de Informaes Hospitalares (SIH) do SUS. Eles so insuficientes
para dimensionar o problema. Esse , tambm, um problema internacional citado por alguns autores como
Chavez (2002) que, realizando investigaes com trabalho de campo e busca ativa, estimou que cerca de
70% das leses e traumas sofridos pelos velhos no comparecem s estatisticas. Considerando essa
limitao, entende-se que as notificaes existentes no permitem informaes conclusivas sobre a
magnitude dos agravos por violncia. Apenas ajudam a perceber a gravidade dos problemas e observar onde
devem ser realizados investimentos de preveno e de cuidados, por parte do sistema de sade e das
polticas sociais de proteo. A anlise do Sistema de Informaes Hospitalares do SUS revela que no ano
2000 foram realizadas 92.796 internaes por violncias e acidentes, sendo que 52,1% se deveram a quedas;
19,1%, a acidentes de trnsito, sobretudo a atropelamentos; 3,0%, a agresses e 0,8% a leses autoprovocadas. Desse conjunto, 63,2% causaram fraturas; 19,7% provocaram leses traumticas; 6,3%
ferimentos; 3,5%, luxaes; e 3,1%, amputaes. Numa classificao por sexo, mais mulheres (50.013)
utilizaram os servios por motivos de sade provocados por violncias e acidentes, do que os homens
(42.783). Nas internaes femininas pesa o grande nmero de quedas. A procura dos servios hospitalares
foi maior entre os homens com 60 a 69 anos (52,28%), que so logo ultrapassados pelas mulheres a
27. partir de 70 anos. Eles configuraram 43,58% da demanda na faixa de 70 a 79 anos e 34,55%, no grupo
de 80 anos ou mais, quando comparados com as mulheres. O custo mdio pago pelo SUS pelas internaes
hospitalares de idosos por causas relacionadas a acidentes e violncias em 2000 foi de C$ 706,04 por pessoa
(setecentos e seis reais e quatro centavos). E o tempo mdio de internao foi de seis a sete dias. As cifras e
a mdia de dias de hospitalizao esto muito acima do que o SUS gasta com os tratamentos de seqelas de
acidentes e violncias da populao em geral: C$ 516,45 (quinhentos e dezesseis reais e quarenta e cinco
centavos) e 5 dias de internao. A mortalidade dos velhos que se internam em conseqncia de acidentes e
violncias tambm muito mais elevada (5,29/ 100.000) do que na populao em geral, (2,6/100.000).
Alm dos dados hospitalares, os registros policiais dos diferentes estados brasileiros mostram que pessoas
idosas so vtimas de seqestros, roubos, assaltos, invaso de domiclio, roubo de propriedade e de veculos,
em proporo menor, mas da mesma forma que outros grupos populacionais (Souza et al, 2001). Estudos
nacionais e internacionais (Payne et al, 1992; Souza et al 1998; Souza et al, 2001) referem que, enquanto os
acidentes de trnsito e de transporte so a primeira causa externa especfica de mortes de idosos, as quedas

so o principal tipo de agravo que leva internao desse grupo populacional e o mais importante motivo
pelo qual os velhos procuram os servios de emergncia. Freqentemente, as leses e os traumas
provocados por quedas em pessoas idosas, ocorrem em casa, entre o quarto e o banheiro; ou nas vias
pblicas, nas travessias das ruas; ao subir nos nibus ou ao se locomoverem dentro deles. Associam-se, na
maioria das vezes, a enfermidades como a osteoporose, instabilidade visual e postural tipicas da idade e a
negligncias de que so vitimas (Souza et al, 1998; 2001; MINAYO, 2003). Esses autores ressaltam a
existncia de urna razo de 03 (trs) quedas no fatais para cada queda fatal. E observam que a elevada
relao entre mortes e leses tambm costuma ser uma expresso de vrios tipos concomitantes de maus
tratos por parte dos familiares ou dos cuidadores, dentro dos lares ou nas instituies de abrigo. 27
28. 28 (Um _tero do _grupo idosos acima de 60 anos que vive em casa e a metade dos que vivem em
instituies sofrem pelo menos uma queda anual. A fratura de colo de fmur a principal causa de
hospitalizao e metade dos idosos que sofrem esse tipo de leso, falece dentro de um ano. Grande parte
dos que sobrevivem fica totalmente dependente dos cuidados de outras pessoas. Isso representa altos
custos financeiros e sociais (Sijawade,1995; Kleinschimdt,1997).
29. A violncia que no chega s estatsticas Por mais que impressione a magnitude dos nmeros
relativos aos 13.436 idosos mortos por violncias e acidentes (cerca de 37 pessoas por dia! ) em 2000 e
os 92.796 (cerca de 255 por dia! ) que-foram internados por leses e envenenamentos no mesmo
perodo, a violncia contra os idosos muito mais intensa, muito mais disseminada e muito mais
presente na sociedade brasileira que os referidos nmeros revelam. Pois, como j foi dito, os registros de
morte e de morbidade se referem, exclusivamente, aos casos de leses, traumas ou fatalidades que
chegam aos servios de sade ou de segurana pblica. Por isso, os dados estatsticos se constituem na
ponta do iceberg de uma cultura relacional de dominao, de conflitos intergeracionais, de negligncias
familiares e institucionais. Freqentemente, a violncia estrutural, a violncia institucional e a violncia
familiar, das quais os velhos so vitimas, ocorrem simultaneamente, pois assim como as crianas e os
adolescentes, os idosos constituem um grupo muito vulnervel, sobretudo nos casos de mltiplas
dependncias e incapacidades (Ramos, 2002). Eis alguns tipos de abuso mais comuns: Pela ordem de
relevncia, importante assinalar que os abusos econmicos e financeiros, hoje no pas, no s
expressam e sintetizam a simultaneidade das vrias formas de violncia. Quem os comete consciente ou
inconscientemente decreta a morte e a excluso social do idoso. (1) Abusos financeiros e econmicos Pesquisa do Instituto Brasileiro de Cincias Criminais, consolidando dados da Delegacia Especializada
de Proteo ao Idoso de So Paulo comprova que mais de 60% das queixas desse grupo polcia se
referem a disputas dos familiares pela posse de seus bens ou por dificuldades financeiras das famlias
em arcar com a sua manuteno (IBCCRIM, 2004). A mesma relevncia foi observada por Costa e
Chaves no estudo das denncias na Delegacia de Belo Horizonte que tambm atende aos idosos. Os
abusos analisados pelo lBCCRlM (2004) geralmente foram cometidos por familiares, em tentativas de
forar procuraes que lhes dem acesso a bens patrimoniais dos velhos; na 29
30. 30 realizao de vendas de bens e imveis sem o seu consentimento; por meio da expulso deles do
seu tradicional espao fsico e social do lar ou por seu confinamento em algum aposento minimo em
residncias que por direito lhes pertencem, dentre outras formas de coao. Tais atos e atitudes dos
filhos e de outros parentes visam, quase sempre, toma de bens, objetos e rendas, sem o consentimento
dos idosos (Silva, 2004). As queixas de abuso econmico e financeiro se associam a vrias formas de
maus tratos fsicos e psicolgicos que produzem leses, traumas ou at a morte. Mas no apenas a
partir das familias que os abusos econmicos e financeiros contra idosos se realizam. Eles esto
presentes tambm nas relaes do prprio estado frustrando expectativa de direitos ou se omitindo na
garantia dos mesmos. Ocorre, freqentemente nos trmites de aposentadorias e penses e, sobretudo,
nas demoras de concesso ou correo de benefcios devidos, mesmo quando desde 1994, a Lei 8.8.42
lhe garanta prioridade no atendimento em rgos pblicos e privados, dos prestadores de servios e nas
necessidades assistenciais. Nas delegacias de ateno e proteo ao idoso e nos ncleos de atendimento
do Ministrio Pblico, uma das solicitaes mais reincidentes que os agentes colaborem na soluo de
problemas com aposentadorias e penses. Diferentes formas de violncia econmica e financeira,
combinadas com discriminaes e maus tratos, so praticadas tambm por empresas, sobretudo, por
bancos e lojas. E os campees das queixas dos idosos e de seus familiares so os planos de sade por
aumentos abusivos e por negativas de financiamento de determinados servios essenciais. Os velhos so

vitimas tambm de estelionatrios e de vrias modalidades de abuso financeiro cometidos por

criminosos que tripudiam sobre sua vulnerabilidade fsica e econmica em agncias bancrias, caixas
eletrnicas, nas lojas, na rua, nas travessias ou nos transportes. Os policiais das delegacias de proteo
ao idoso assinalam a freqncia de suas queixas sobreroubo de cartes, cheques, dinheiro e objetos, de
forma violenta ou sorrateira. (2) A violncia estrutural rene os aspectos resultantes da desigualdade
social, da penria provocada pela pobreza e pela misria e a discriminao que se expressa de mltiplas
formas. No Brasil, apenas 25% dos idosos aposentados vivem com trs salrios mnimos ou mais.
Portanto, a maioria deles pobre e miservel, fazendo parte de familias pobres e miserveis. Embora a
questo social seja um problema muito mais amplo do que o que aflige os mais velhos, eles so o grupo
mais vulnervel (junto com as crianas) por causa das limitaes impostas pela idade, pelas injunes
das histrias de perdas e por problemas de sade e de dependncia, situaes que na velhice so
extremamente agravadas.
31. Estudos de Lima-Costa et al (2002) analisam essa questo evidenciando as dificuldades de acesso
aos servios de sade e os problemas de desnutrio, e Silva (2004) se refere, particularmente, ao
desamparo e ao abandono que vivenciam em asilos e nas ruas. Silva (2004) lembra que h centenas de
idosos dormindo nas caladas e debaixo dos viadutos: "A oferta de vagas em albergues muito inferior
demanda (2004: 2). bem verdade que h um esforo governamental para criar uma
institucionalizao do Estatuto do Idoso e oferecer condies mnimas de sobrevivncia para os mais
desvalidos. Contudo, a maioria das leis e das polticas formuladas ainda est no terreno das palavras. (3)
A violncia institucional que, em geral, tambm ocorre em todo o mundo, no Brasil ocupa um capitulo
muito especial nas formas de abuso aos idosos. Ela se realiza como uma agresso politica, cometida
pelo estado, em nvel macro-social. E de maneira mais particular, atualizada e reproduzida nas
instituies pblicas de prestao de servios e nas entidades pblicas e privadas de longa permanncia.
O aparato do Estado um grande regulador do curso da vida. E, no caso brasileiro, a posio oficial dos
governos em relao aos velhos aberta e avanada. Existem muitas leis a favor deles. Numa recente
publicao que abrange informaes sobre atos legislativos de 1917 a 2001, Barroso (2001) compilou
53 Leis, Decretos, Resolues e Portarias, dispositivos nos quais os idosos so mencionados como
sujeito de direitos e de proteo social. Atualmente est em elaborao um Plano Nacional de
Enfrentamento da Violncia contra os Idosos. No entanto, falta ainda muito a fazer, no plano da
implementao concreta de dispositivos que assegurem os direitos desse grupo social. No nvel das
instituies de prestao de servios, as de sade, assistncia e previdncia social (as que pela
Constituio configuram os instrumentos da seguridade social) so campes de queixas e reclamaes,
nas delegacias de proteo aos idosos. Os servios so exercidos por uma burocracia impessoal, que
reproduz a cultura de discriminao por classe, de gnero e de idade, causando imenso sofrimento
maioria dos idosos, sobretudo aos pobres que no tm condies de optarem por outros servios. Muitos
idosos verbalizam a idia de que ser aposentado significa ser maltratado pelo sistema social de
assistncia pblica. As longas filas de que so vtimas, a falta de comunicao ou a comunicao
confusa e a ausncia de uma relao pessoal compreensiva por quem precisa dos cuidados, constituem
uma forma de violncia das quais os idosos mais se queixam. Apesar dos xitos localizados que vm
ocorrendo no Programa Sade da Famlia ainda imenso o fosso entre a lei e a prtica social. Numa
nota tcnica para a Cmara dos Deputados Malagutti assim se refere: O servio de sade pblica o
principal pesadelo desse contingente, que tambm o mais penalizado pelos preos absurdos dos planos
de sade (2003: 3). 31
32. 32 Uma terceira forma de expresso relevante da violncia institucional ocorre nas relaes e formas
de tratamento que as entidades (asilos e clinicas) de longa permanncia mantm" com os idosos. Ali,
freqentemente se perpetram e se reproduzem abusos, maus tratos e negligncias que chegam a produzir
mortes, incapacitaes e a acirrar processos mentais de depresso e demncia. Orientado para fiscalizar
casas de repouso, o Grupo de Atuao Especial de Proteo ao Idoso (GAEPI) do Ministrio Pblico de
So Paulo fechou 48 desses estabelecimentos entre 1994 a 1997 e Silva ressalta que existem muitos
idosos abandonados em hospitais e asilo "quanto mais renda tem o idoso, mais a familia tem pressa em
coloc- lo em algum asilo para dispor de seus bens" (2004,3). Hoje, h no pas cerca de 2% da
populao idosa internada em asilos e clinicas. Um caso que chama ateno para a sinergia que acontece
entre a violncia estrutural, institucional e familiar no Brasil e serve como referncia do que ocorre de
forma menos noticiada o da Clnica Santa Genoveva no Rio de Janeiro. Nela morreram 156 pacientes

em 1996, em conseqncia de problemas nutricionais e de falhas na assistncia mdica. A anlise dos

dados de internao hospitalar nessa Clnica, realizada por Guerra et al (2000), revelou que o excesso de
mortalidade verificada em 1996 j vinha ocorrendo desde 1993 e poderia ter sido detectado e talvez at
prevenido, se as informaes houvessem sido devidamente avaliadas pelas instncias pblicas de
fiscalizao. Nesse caso paradigmtico, a violncia institucional da clnica que pode ser qualificada
como negligncia e abandono se aliou negligncia e Ienincia do poder pblico e ao abandono e ao
descaso das famlias para com seus parentes idosos doentes e indefesos. Nas crnicas que se seguiram
denncia do excesso de mortos, evidenciou-se que a maioria dos velhos no recebia visitas de parentes e
alguns que compareciam Clnica de vez em quando no tinham coragem de denunciar os maus tratos e
as negligncias que presenciavam por medo de ter que levar seu familiar de volta para a casa (Souza et
al, 2002). Em muitos asilos e clinicas, mesmo nos estabelecimentos pblicos ou conveniados com o
Estado, freqentemente, as pessoas so maltratadas, despersonalizadas, destitudas de qualquer poder e
vontade, faltando-lhes alimentao, higiene e cuidados mdicos adequados. Idosos so vistos, em
muitos casos, como ocupantes de um leito. Infelizmente, embora seja um problema pblico e notrio, os
desmandos das clnicas e asilos no esto devidamente dimensionados, pois faltam investigaes sobre a
magnitude e a complexidade do fenmeno. E principalmente, quase inexiste a necessria vigilncia e
fiscalizao desses estabelecimentos, como observam Guerra et al (2000), a no ser quando ocorre um
escndalo ou alguma denncia intensamente alardeada pela imprensa (Souza et al, 2002).
33. (4) Violncia familiar - Embora a familia deva ser classificada como instituio e, portanto, o correto
seria tratar a violncia que ocorre na sua dinmica como institucional, pela relevncia do seu espao no
tema aqui tratado, ela ser analisada separadamente. A violncia familiar contra idosos um problema
nacional e internacional. Pesquisas feitas em vrias partes do mundo revelam que cerca de 2/3 dos
agressores so filhos e cnjuges (Reay & Browne, 2001; Williamson & Schaffer, 2001). So
particularmente relevantes os abusos e negligncias que se perpetuam por choque de geraes, por
problemas de espao fisico e por dificuldades financeiras que costumam se somar a um imaginrio
social que considera a velhice como 'decadncia' e os idosos como "passado" e "descartveis" (Minayo
& Coimbra Jr, 2002; Debert, 1999). Todos os estudos existentes ressaltam a relevncia de tocar nesse
tema, pelo fato de que os cuidados com a pessoa idosa continuam a ser, na maioria das sociedades,
responsabilidade das familias. No Brasil, mais de 95% das pessoas acima de 60 anos esto morando
com seus parentes ou vivem em suas prprias casas. A violncia familiar enfatizada nos estudos
internacionais como a mais freqente forma de abuso contra os idosos. Chavez (2002) e Kleinschmidt
(1997) mostram que 90% dos casos de violncia e de negligncia contra as pessoas acima de 60 anos
ocorrem nos lares. Para o Brasil essa afirmao seria prematura, pois as pesquisas existentes no
permitem explicitar a proporo em que incidem os abusos dos parentes prximos, os que ocorrem fora
dos lares e dentro das instituies. No entanto, ainda que no haja pesquisas sobre a magnitude nacional
do problema, estudos focalizados comprovam a gravidade da violncia familiar contra idosos no pas.
possivel dizer que as agresses e negligncias esto presentes e configuram um srio problema social.
Na consolidao de dados da Delegacia de Proteo ao Idoso em So Paulo, o Instituto Brasileiro de
Cincias Criminais, tendo como base 1.500 notificaes feitas no perodo de 1991 a 1998, comprovou
que 40% das queixas dos velhos so contra filhos, netos ou cnjuges e outros 7% se referem a outros
parentes. Cerca de 13% das denncias so de agresso fisica e mais de 60% de abusos econmicos ou
de recusa dos familiares em dar- Ihes proteo como j foi mencionado acima (IBCCRIM, 2004). Outra
sistematizao de dados importante, que evidencia os mesmos problemas, foi realizada por Costa e
Chaves (2003) a partir da Delegacia Especializada de Proteo ao Idoso de Belo Horizonte. Foram
analisados 1388 casos registrados nos "Termos Circunstanciados de Ocorrncia" (TCO) relativos aos
idosos, vtimas de violncia, no perodo de 1998 a 2001. Do total, 1007 (72,5%) das vitimas que deram
queixa, eram mulheres e 381 (27,5%) eram 33
34. homens, reafirmando-se a tese de que, no Brasil e em muitas outras sociedades, elas so mais
vitimizadas que seus companheiros. Dos agressores, os filhos correspondem a 45,3% do total, vindo a
seguir, companheiros e cnjuges, 15,4% e noras e genros, 8,2%. Nos trs anos analisados, constata-se,
tambm, elevado percentual de denncias de violncias praticadas por vizinhos (12,2%), sobretudo,
relacionadas a questes econmicas como pagamento de aluguel. Das vrias formas de abuso, as
principais, correspondendo a cerca de 40%, so queixas sobre ameaas e perturbaes da tranqilidade.
As ameaas esto relacionadas, principalmente, a violncia sexual e a abusos econmicos. Nesse ltimo

caso, concordando com o que foi descrito a respeito da situao de So Paulo, as denncias se referem a
tentativas de apropriao dos bens do idoso ou a abandono material cometido contra ele. Os autores
evidenciam que a maioria das violncias fsicas cometidas pelos filhos est associada a alcoolismo:
deles prprios ou dos pais idosos (Costa & Chaves, 2003). Wolf (1995), em sua reviso de vrias
pesquisas canadenses, ressaltou que, em seu pas, os abusos mais freqentes so tambm os de origem
financeira (12,5%); as agresses verbais (1,4%) e as agresses fsicas (0,5%). Apesar de escassos,
estudos nacionais (Menenzes, 1999) e internacionais (Anetzberger et al. 1994; Ortmann et al. 2001;
Wolf, 1995) ressaltam que existe um perfil do abusador familiar: por ordem de freqncia costumam
ser, em primeiro lugar, os filhos homens mais que as filhas; em segundo lugar, as noras e os genros e,
em terceiro, o cnjuge. Sanmartin et al. (2001), numa amostra de 307 idosos espanhis maltratados e
acima de 70 anos, encontraram o mesmo perfil de agressores: 57% eram filhos e filhas; 23% eram
genros e noras: 8%, um dos cnjuges. Anetzberger et al (1994) tambm evidenciaram como principais
agressores, filhos homens em 56,5% das ocorrncias e filhos homens solteiros com idade menor que 49
anos, em 78,3% dos casos, num estudo qualitativo realizado com abusadores e no-abusadores, nos
Estados Unidos. A caracterizao do agressor foi mais aprofundada por alguns investigadores brasileiros
e estrangeirosque se perguntaram pelas situaes de risco que os idosos vivenciam nos lares. Os
pesquisadores Menezes (1999), Ortmann et al. (2001), Wolf (1995); Sanmartin et al (2001), Costa &
Chaves (2002), Reay & Browne (2001), Williamson & Schaffer (2001), Lachs et al (1998), Anetzberger
et al (1994) encontraram os seguintes sinais de vulnerabilidade e risco: . o agressor viver na mesma casa
que a vtima; o fato de filhos serem dependentes financeiramente de seus pais de idade avanada; . os
idosos dependerem da familia de seus filhos para sua manuteno e sobrevivncia; #-777735. . o abuso de lcool e drogas pelos filhos, por outros adultos da casa ou pelo prprio idoso; . os
vnculos afetivos entre os familiares serem frouxos e pouco comunicativos; . o isolamento social dos
familiares ou da pessoa de idade avanada; . o idoso ter sido ou ser uma pessoa agressiva nas relaes
com seus familiares; . haver histria de violncia na famlia; . os cuidadores terem sido vitimas de
violncia domstica, padecerem de depresso ou de qualquer tipo de sofrimento mental ou psiquitrico.
violncia familiar, a grande maioria dos estudiosos ressalta a forte associao entre maus tratos e
dependncia qumica. Segundo Anetzberger et al (1994), 50% dos abusadores entrevistados por seu
grupo tinham problemas com bebidas alcolicas. Esses autores e Chavez (2002) assinalam que os
agressores fsicos e emocionais dos idosos usam lcool e drogas numa proporo trs vezes mais
elevada que os no- abusadores. Isso foi tambm assinalado no estudo de Chaves e Costa (2003).
Alguns pesquisadores vm desmistificando a idia de que os cuidadores familiares (entendendo-se aqui
que nem todos os familiares ocupam o lugar de cuidador) seriam os mais previsveis agressores e que as
situaes de maus tratos e negligncias por parte deles de ateno e dedicao. Estudos de Kleinschmidt
(1997) e Reay & Browne (2001) constataram que o cuidador s se transforma em maltratante e abusador
em determinadas circunstncias: . quando se isola socialmente; 35
36. Dizem Williamson & Schaffer (2001), usando anlises multivariadas e reafirmando o que foi referido
anteriormente, que a qualidade da relao pr-enfermidade ou anterior ao estado de dependncia do idoso
o principal fator que determina a forma positiva ou negativa com que tratado pelo cuidador. Ou seja, nos
casos de relaes violentas e muito conflituosas anteriores, a tarefa de cuidar pode se tornar um castigo e
preditiva de estados de depresso e de possveis comportamentos violentos. Mas, ao contrrio e apesar de
ser estressante, o cuidado pode ser considerado um ato de dedicao amorosa quando no decorrer da vida
houve uma interao afetuosa e respeitosa entre o idoso e seu familiar. No que concerne especificidade de
gnero, todas as investigaes mostram que, no interior da casa, as mulheres, proporcionalmente, so mais
abusadas que os homens; e ao invs, na rua, eles so as vitimas preferenciais. Em ambos os sexos, os idosos
mais vulnerveis so os dependentes fsica ou mentalmente, sobretudo quando apresentam problemas de
esquecimento, confuso mental, alteraes no sono, incontinncia, dificuldades de locomoo, necessitando
de cuidados intensivos em suas atividades da vida diria. Em conseqncia dos maus tratos muitos idosos
passam a sentir depresso, alienao, desordem ps-traumtica, sentimentos de culpa e negao das
ocorrncias e situaes que os vitimam e a viver em desesperana (Menezes, 1999; Minayo, 2002; 2003;
Wolf, 1995). __
37. Concluses Toda a reflexo colocada neste texto visou a mostrar o avesso dos direitos. E a inteno
no foi enfatizar fatos, atitudes e sentimentos negativos. Buscou-se mostrar que preciso investir, e

muito, na efetivao da conscincia social que valoriza a experincia e a sabedoria dos mais de 16
milhes de pessoas com mais de 60 anos hoje vivendo no pas. Ningum duvida que o Estatuto do Idoso
um excelente dispositivo legal, por meio do qual, a sociedade d um passo decisivo no
reconhecimento da cidadania desse grupo social, do seu protagonismo e de sua contribuio passada e
atual. ' Ao aprovar o Estatuto do Idoso, os brasileiros redefinram o lugar das pessoas acima de 60 anos
no ciclo da vida comunitria, chamando-as a se integrarem na esfera poltica, no mundo do trabalho, na
produo da cultura e da vida social. Ou seja, o Brasil deu passos importantissimos para que nova
mentalidade e novas prticas venham a se estabelecer nas familias, nas instituies e na sociedade em
geral. A atual legislao garante: o envelhecimento um direito personalissimo (Brasil, 2003). Como
pessoa humana e sujeito de direitos, aos velhos brasileiros so assegurados respeito, liberdade e
dignidade. O Plano de Ao de Enfrentamento da Violncia contra a Pessoa Idosa aprofunda e focaliza
as diretrizes para atuao do poder pblico nos casos de abusos, maus-tratos e negligncias,
responsveis por provoca r-lhes mortes, leses, traumas e muito sofrimento fisico e emocional. O
documento da Poltica Nacional de Reduo de Acidentes e Violncias do Ministrio da Sade (2001)
tambm prev aes concretas do setor para a proteo e preveno dos abusos contra os idosos no pas.
Ou seja, existem hoje suficientes dispositivos legais e normativos para o enfrentamento da violncia
contra o idoso. Esses dois textos, junto com o Estatuto do Idoso mostram a viso positiva de um pais
que, nos prximos anos, ter uma das maiores populaes acima de 60 anos no mundo. Existem,
tambm, algumas estratgias de proteo aos idosos, vtimas de violncias, sendo implantadas: os
Conselhos Nacionais e Locais de Direitos dos Idosos, os SOS-Idoso; os Ligue- 37
38. 38 Idoso muitos outros. Essas so iniciativas prticas e pontuais que poderiam ser, dentro das
condies de cada lugar, replicadas. Por exemplo, tm cumprido um papel importante as Delegacias
Especializadas de Atendimento e Proteo aos Idosos (as denominaes dessas unidades variam) como
as implantadas em So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e, mais recentemente, em Joo Pessoa.
Tem sido importante a criao de setores especificos nas Delegacias comuns de Braslia. Os ncleos de
atendimento do Ministrio Pblico e das Defensorias Pblicas como os de So Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Santa Catarina, Maranho, Par, Pernambuco, Esprito Santo e Distrito Federal (Brasilia)
tambm vm cumprindo um papel de defesa de direitos desse grupo social, sobretudo, para os estratos
de baixa renda, para a populao de rua e miserveis e em relao aos desmandos de asilos e clnicas.
Em So Paulo, desde o inicio de 2004, tornou-se obrigatria a notificao pelos profissionais de sade
ao Conselho Municipal do Idoso dos casos de violncia, incluindo-se dados sobre a gravidade da leso,
a idade do agressor e do idoso, a relao existente entre os dois e dados sobre a condio social da
pessoa. Todas essas iniciativas implantadas em vrios estados do pas evidenciam uma ampliao da
conscincia social a esse respeito e a necessidade de garantir direitos e proteo aos idosos brasileiros.
No entanto, existe uma imensa distncia entre as leis e portarias e sua implementao, no Brasil. E como
dizem os humanistas, "ns somos nossos prprios atos". O Estatuto. que prev um pas generoso com os
seus velhos tem problemas com a prtica: na destinao de recursos, na disponibilizao de
equipamentos e na construo de instrumentos concretos de atuao. Isso dificulta a responsabilizao
dos diferentes atores no enfrentamento das violncias estruturais, institucionais e sociais de que eles so
vtimas. bem verdade que muitas transformaes previstas pelo Estatuto do Idoso e pelos documentos
citados so do mbito dos hbitos, dos usos e dos costumes. Remetem a mudanas culturais que
ocorrem lentamente. No entanto, mesmo essas necessitam da interveno poltica e gerencial para que
se acelerem. Mas, lembra o prprio Estatuto, elas s acontecero com a garantia de participao dos
atores sociais interessados, os prprios idosos.
39. Citam-se aqui algumas urgncias para as quais os gestores pblicos e a sociedade deveriam estar
atentos, levando-se em conta os diferentes espaos de vitimizao: mbito familiar, instituies pblicas
de prestao de servios, instituies de longa permanncia, clnicas e outros contextos comunitrios e
sociais. : :DO ponto de vista governamental muito importante que se promova ampla divulgao do
Estatuto do Idoso que consagra o reconhecimento de seus direitos, de seu protagonismo e de sua
importncia. O maior antdoto da violncia a ampliao da incluso na cidadania. ; fundamental que
se promova a implantao de servios especficos de denncia contra violncia como as diversas formas
de SOS, assim como os mecanismos de encaminhamento e de soluo dos problemas, que permitam
lhes dar proteo e punam os agressores. De nada adiantaria acumular denncias que, no mximo,
dariam visibilidade ao problema, sem implantar servios que possam responder aos apelos e s

necessidades de proteo. Portanto, fundamental garantir que todos os movimentos de sensibilizao e

de conscientizao sejam associados a medidas de coibio de abusos e maus tratos. . __Ainda no
mbito governamental, merece ser destacada a necessidade de implantao de um sistema de
acreditao e de fiscalizao das instituies de longa permanncia (de convivncia ou clinicas), tendo
em vista que cerca de 2% brasileiros hoje vivem nessas instituies. Embora esse nmero seja
relativamente pequeno em relao aos que esto nos lares, seus problemas, qualitativamente so muito
prementes e graves. . __ preciso superar a negligncia do poder pblico que, na maioria das vezes,
financia e no sabe nem a qualidade dos servios prestados, nem a magnitude e a profundidade dos
problemas que ocorrem e dos quais os mais pobres, dependentes e abandonados por suas famlias so
vtimas nas instituies de longa permanncia. . __Sendo os acidentes e violncias no trnsito a primeira
causa externa especifica de morte nesse grupo etrio, preciso ter em conta a alta relevncia de preparar
melhor os dispositivos e sinais nas ruas e nas travessias nas cidades. de extrema importncia,
promover campanhas educativas, colocar contedos sobre os direitos dos idosos nas escolas de
formao de motoristas, mobilizar os empresrios do setor e punir os agressores, institucionais e
individuais que os desrespeitam e os penalizam nos transportes pblicos. Diminuir as mortes de idosos
provocadas por violncias no trnsito uma meta que certamente pode ser cumprida sem grande
dispndio de recursos financeiros, se houver vontade poltica e determinao dos gestores em assumi-Ia.
39
40. 40 . __As quedas so a primeira causa externa especfica de internao de idosos. Em 2000 elas
corresponderam a 51,2% de todas as formas de acidentes e violncias responsveis pela internao dessas
pessoas, como j foi descrito. Nas circunstncias . que causam leses e traumas vrios fatores provm das
fragilidades e enfermidades fsicas associadas idade. Mas outros so devidos a negligncias e abusos. Na
sociedade em geral e nos espaos das ruas em particular, h necessidade de educar e sensibilizar motoristas
e pedestres para as dificuldades que os idosos apresentam nas travessias, por causa de seus movimentos
mais lentos, de seus problemas visuais e de audio, dentre outros. Assim como preciso exigir de
condutores e cobradores que respeitem e protejam os que precisam e tm direito de usar os transportes
pblicos. . __Tendo em vista que a maioria das quedas ocorre nos lares no trajeto da cama para o banheiro, e
em menores propores nas outras dependncias, o ambiente familiar deve ser um foco de ateno. Existem
materiais e dispositivos especficos que as familias precisam conhecer e que as industrias de construo
civil, a partir de agora, tero que levar em conta. Das exigncias simples e pouco dispendiosas fazem parte a
colocao de pisos antiderrapantes, retirada de tapetes ou colocao de meios que os fixem ao assoalho,
iluminao adequada, dispositivos de apoio nos banheiros e em outros locais das casas onde os mais velhos
circulam. Essa uma iniciativa que poderia compor campanhas de sensibilizao da populao em geral.
Embora campanhas publicitrias tenham efeito duvidoso quando realizadas isoladamente, elas produzem
efeitos positivos quando combinadas com outras estratgias de informao nos meios de comunicao de
massa. Caso contrrio, como lembra Ecla Bosi "a velhice desgastada, ao retrair suas mos cheias de dons,
torna-se uma ferida no grupo" (Bosi,1983,41). . __ importante criar no setor sade a conscincia da
urgncia que um idoso requer na prestao de servios. Seja na ateno primria seja nas emergncias, nas
reas de tratamento e de reabilitao, a lei da prioridade precisa ser respeitada. uma violncia
inconcebvel o uso da lgica burocrtica e impessoal da marcao de atendimento para intervalos de espera
de trs, seis meses ou mais para pessoas cujos problemas de sofrimento fsico ou mental afligem a elas e
suas familias, em situaes em que, na maioria das vezes, esses cidados no tm condies financeiras de
optar por outras alternativas. . __ preciso estabelecer estratgias que promovam a transformao da
atuao dos servios de sade e de previdncia que atendem aos idosos. necessria uma revoluo na
maneira tradicional e impessoal de tratlos. Exemplos mltiplos de insensibilidade e de desrespeito vm
sendo notificados aos rgos que recebem
41. denncias, evidenciando-se que os servios pblicos de sade (junto com os planos de sade) e de
previdncia so os que provocam maiores sofrimentos aos idosos, pela forma com que os atendem ou
negligenciam ateno. . __No caso dos atendimentos do setor sade aos agravos produzidos pelos
acidentes e pelas violncias que afetam os idosos preciso mais envolvimento dos profissionais no
sentido de irem alm dos problemas fsicos que apresentam nas demandas aos servios. A lgica que
define o no-envolvimento costumeiro vem da considerao dos maus tratos como problema do mbito
privado da familia ou, quando muito, da segurana pblica, portanto, fora da competncia da medicina.
Um texto de Hirsch & Loewy (2001) escrito especialmente para mdicos, alerta-os para a necessidade

de melhorarem seu diagnstico em casos de maus tratos, ensinando- lhes a reconhecerem alguns sinais.
Dizem que preciso prestar ateno aparncia do idoso; ao fato de que procure seguidamente seus
cuidados para o mesmo diagnstico; a suas repetidas ausncias s consultas agendadas; aos sinais fsicos
suspeitos; e s explicaes improvveis de familiares para determinadas leses e traumas. E concluem,
instruindo os mdicos para, no caso de observarem a ocorrncia de abusos ou negligncias,
providenciarem um monitoramento mais cuidadoso. Recomendam visitas domiciliares peridicas dos
servios do hospital nos casos de suspeita e, se for o caso, que os profissionais ou a direo do
estabelecimento de sade denunciem s autoridades competentes, a existncia dos maus tratos, para que
se tomem providncia relativas proteo da pessoa e penalizao dos abusadores. A Politica de
Reduo de Acidentes e Violncias busca comprometer os profissionais de sade com a notificao da
causa bsica e com a denncia de maus tratos. Atingir a meta do engajamento ativo dos
estabelecimentos e dos profissionais em todos os nveis dos servios com a preveno da violncia e
proteo dos mais velhos deve fazer parte de um plano de sensibilizao e de ao do setor. . Pelo fato
da famlia ser, no Brasil e no mundo, o lcus privilegiado de moradia e de cuidado dos idosos de todas
as classes sociais, preciso investir muito na sua competncia para abrig-los com respeito e dignidade,
respeit-los e proteg-los. Embora possa parecer obvio primeira vista, essa no uma tarefa natural.
Prova das dificuldades o fato de que nesse espao que ocorre a maioria das violncias fsicas,
psicolgicas, econmicas e sexuais. Todas as formas de abuso, principalmente os econmicos (os
campees das queixas), precisam ser coibidos e, para isso, as instncias pblicas necessitam se equipar e
ter capacidade de dar respostas. . __Mas, no so apenas os aspectos negativos que devem ser
focalizados. N medida em que a maioria dos idosos brasileiros pobre, vivendo em famlias pobres, a
universalizao dos auxlios pecunirios e a instituio de servios sociais e de sade
42. que atinjam os domiclios precisam ser, desde j, tratadas como aes prioritrias dos governos. No
caso das famlias com idosos dependentes e enfermos, o setor sade est devendo ao pas uma ao
eficiente e eficaz de formao e de apoio a cuidadores (KARSCH, 2003), para que esses, sobretudo os
das famlias de baixa renda, no sucumbam ou cometam violncias, pelo desespero da falta de recursos
tcnicos e financeiros que a prtica do cuidado exige deles. Como prev o Estatuto, todas as formas de
aumentar o respeito, todas as polticas pblicas voltadas para sua proteo, cuidado e qualidade de vida
precisam considerar a participao dos idosos, grupo social que desponta como ator fundamental na
trama das organizaes sociais do sculo XXI. Ricos ou pobres, ativos ou com algum tipo de
dependncia, muitos idosos sustentam famlias, dirigem instituies e movimentam um grande mercado
de servios que vai do turismo, ao lazer, cultura, aos produtos farmacuticos ou estticos e
assistncia mdica e social. Amar, respeitar e contar com os idosos requisito imprescindvel de uma
sociedade inclusiva e saudvel.
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pesquisadora titular da Fundao Oswaldo Cruz; pesquisadora de carreira do CNPQ. Coordenadora
Cientfica do Centro Latino Americano de Estudos sobe Violncia e Sade (Claves/ Fiocruz); Editora
Cientfica da Revista Cincia & Sade Coletiva. 2 Antropologicamente se sabe que os ciclos de vida
-infncia, adolescncia, juventude, adultez e velhice, com a respectiva diviso de idade para cada uma
dessas etapas -so uma construo social e uma construo politica: tm a ver com o poder e a
distribuio do poder. Em todas as sociedades, mesmo nas mais primitivas, existe um grupo de idade
que manda e decide. Na sociedade ocidental so os adultos. Crianas e jovens so considerados seres em
preparao para assumir o comando econmico, social e poltico. Os velhos, implcita ou
explicitamente, so convocados aceder o lugar. S que, com o aumento da expectativa de vida, tornarse-o mais ampliados os intervalos de tempo hoje vi~entes: o da infncia? O da adolescncia e da
juventude? O da vida adulta? So temas que o pais tem que enfrentar desde j.