Praticas Criticas em Psicologia Escolar e Educacional - 2023
Praticas Criticas em Psicologia Escolar e Educacional - 2023
Praticas Criticas em Psicologia Escolar e Educacional - 2023
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Frente à pandemia, “[...] as sociedades se adaptam a novos
modos de viver quando isso é necessário e sentido como correspon-
dendo ao bem comum [...]” (SANTOS, 2020, p. 30), surgindo novas
alternativas para lidar com o novo, como as medidas de isolamento
social. Por outro lado, Agamben (2020) questiona as consequências
do estado de confinamento por questões de segurança e ressalta que
nossa sociedade vive um estado perene de emergência, no qual tive-
mos que sacrificar a nossa liberdade, o que nos condenou a viver em
um estado permanente de medo e de insegurança. Sob este enfoque,
convidamos o/a leitor/a a refletir sobre a situação de adolescentes que
precisaram se reinventar face às restrições da liberdade de ir e vir, da
redução dos contatos físicos, tão caros a elas/es, das dúvidas, aspi-
rações e ansiedades tão comuns a este público, agora estendidas a
um nível macrossocial. Algumas perguntas nos impõem: como estarão
as/os nossas/os adolescentes durante esses tempos obscuros? Como
têm percebido suas experiências emocionais neste novo contexto de
inseguranças e incertezas?
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variando conforme a classe social, o gênero, a raça, o contexto sócio-
-histórico no qual os sujeitos se situam.
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ligadas ao distanciamento físico, não sendo este considerado obstá-
culo para a socialização. Contudo, quais cenários têm sido descorti-
nados e construídos pelas/os adolescentes face a tantas mudanças?
DESENVOLVIMENTO
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todos seus aspectos, bem como desconhecendo as singularidades
dos sujeitos envolvidos. Neste enfoque, as experiências vividas pelos
adolescentes e jovens, embora apresentem alguns elementos comuns
entre elas, ocorrem no nível singular da experiência.
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em salas de aula, na modalidade online, com estudantes de sextos,
sétimos e oitavos anos e percebemos que a apropriação de elementos
deste novo cenário ocorreu de forma distinta para cada estudante.
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estudantes expressassem a sua compreensão sobre ela. Dissemos:
“Alguém poderia explicar esta frase? Poderiam dizer se concordam ou
não com a frase e explicarem os motivos?”.
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de um aspecto negativo para que buscassem sintetizar e eleger o que
fosse mais significativo para elas/es e para que todas/os tivessem a
chance de se manifestar durante a aula.
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Tendo em vista a grande influência da internet na vida das/os
adolescentes (BASMAGE, 2010), as redes sociais têm se constituído
em espaços de intensa troca entre elas/es que, muitas vezes, pas-
sam muitas horas permutando mensagens, compartilhando ideias,
sentimentos e emoções. Tais configurações virtuais produzem novas
formas de relacionamento (MASCAGNA, 2009), mas as amizades se
apresentam em destaque, sendo fundamental no desenvolvimento psí-
quico das/os adolescentes (DRAGUNOVA, 1980).
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Segundo Scherer (apud CHAGAS-FERREIRA, 2014, p. 248), as/
os jovens e as/os adolescentes se utilizam das várias tecnologias digi-
tais de informação e comunicação com diferentes propósitos, e elas/
es são denominadas/os de habitantes, visitantes e transeuntes digitais.
São chamadas/os habitantes digitais aquelas/es que se responsabi-
lizam pelas suas ações no meio virtual e pelas das/os parceiras/os,
sendo participantes ativas/os de todo o processo. Muitas/os delas/es
não tiveram problemas ou dificuldades de “habitarem” novas platafor-
mas criadas para o ambiente virtual de aprendizagem e, por sua vez,
professoras/es não tiveram grandes dificuldades com a adaptação
destas/es alunas/os.
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Desse modo, buscou-se a inclusão digital para que todas/os
as/os alunas/os tivessem acesso aos equipamentos e à internet ade-
quada ao ensino. Mesmo assim, observamos que algumas/ns estu-
dantes não conseguiram participar plenamente das aulas pois, muitas
vezes, a internet oscilava e a qualidade da participação nas aulas era
comprometida. Algumas/ns delas/es, mesmo com todo o instrumental
adequado, apresentaram baixa participação nas aulas, o que nos le-
vou a considerar cada vez mais a importância das nossas intervenções
em sala incentivando a expressão das/os estudantes acerca de suas
percepções sobre a nova realidade que enfrentavam e como elas/es
estavam lidando com as mudanças.
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mediadores na constituição da/o adolescente, tendo em vista a ex-
pansão da rede de comunicação e o domínio destes instrumentos nas
inter-relações das/os adolescentes.
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com o isolamento social, o ambiente virtual e a casa têm sido os es-
paços de maior ocupação, sendo que o virtual tem sido ocupado por
muito mais tempo pela juventude. Mais tempo de conexão virtual, mais
propensos ao adoecimento, em um mundo vivido “[...] sem profundi-
dade, devido ao espaço vazio e experienciado no distanciamento de
outrem e de si.” (MACÊDO; SOUZA, 2021, p. 313).
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com o cachorro, bordar, tocar violão, jogar truco, jogar caixeta, montar
cubo mágico, adotar um gato e ajudar a mãe a cuidar das crianças. Es-
sas informações compartilhadas por nossas/os estudantes ampliaram
a nossa percepção sobre os modos como as/os adolescentes vêm
se reorganizando em meio às novas configurações familiares, escola-
res e sociais. Acreditamos que, ao ouvirem uns aos outros, puderam
se identificar ou se inspirar para realizarem novas atividades, além de
perceberem que os sofrimentos que estavam vivenciando não eram
exclusivamente delas/es.
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número de pessoas nas ruas e, consequentemente, ter menos lixo e
poluição na cidade. Um dos alunos observou uma diminuição da quan-
tidade de queimadas perto de sua casa. Contrariamente e, ampliando
suas avaliações para um contexto internacional, duas alunas assina-
laram como fator negativo desse novo contexto o fato de estar haven-
do muitas queimadas no mundo. Acreditamos que tais apontamentos
possam ter sido feitos devido a um trabalho realizado anteriormente,
no qual desenvolvemos a temática da sustentabilidade permeando a
relação eu-mundo. Percebemos que tais estudantes estavam atentas
à crise ecológica que, segundo Santos (2020), está interligada à crise
pandêmica, uma vez que ambas têm relação com o modelo de produ-
ção capitalista, que se iniciou no século XVIII e, desde então, tem negli-
genciado a capacidade do planeta Terra em se recuperar da utilização
desenfreada de recursos naturais.
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Tais fatores evidenciam o nível de estresse que muitas/os ado-
lescentes têm passado ao longo da pandemia, o que parece estar di-
retamente relacionado à redução significativa do contato com os pares
e da liberdade de ir e vir, e à sensação de aprisionamento dela decor-
rente. Embora tal estado de coisas seja vivenciado de maneira global
e pelas mais variadas faixas etárias, neste trabalho fizemos um recorte
buscando ressaltar que a apropriação das experiências sociais é úni-
ca para cada sujeito e, nesse sentido, destacamos a importância da
mediação de adultos significativos para auxiliarem as/os adolescentes
a lidarem com as experiências emocionais emergentes neste contexto,
tendo em vista que elas são matéria-prima essencial na constituição da
subjetividade, conforme discutiremos, a seguir.
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diferentes, de acordo com a idade em que ocorrem e da forma como o
sujeito se relaciona emocionalmente com os acontecimentos.
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a condição subjetiva do sujeito aprendente, é possível acessarmos as
emoções que são geradas em outros espaços da vida, mas que surgem
em sala de aula. Nesta perspectiva, o sujeito da aprendizagem não se
constitui como mero assimilador de conhecimentos, mas sujeito ativo,
gerador de sentidos na produção do conhecimento.
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Além das intervenções de caráter coletivo, como psicólogas/
os escolares também nos dispusemos a acolher, em caráter particu-
lar, as/os estudantes que manifestaram necessidade de expressarem
suas angústias e anseios, conversando conosco de maneira sigilosa.
Fomos procuradas/os por várias/os alunas/os que nos apresentaram
algumas de suas situações de aflição que, de forma geral, estavam
atreladas aos relacionamentos com os seus pais e mães, a questões
de autoimagem e de autoestima e a sintomas de ansiedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Conforme vimos, as experiências emocionais das/os adolescen-
tes são determinantes na constituição de suas subjetividades e estas
interferem no processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, as/os
profissionais da Psicologia e da Educação podem contribuir efetiva-
mente neste processo, com mediações psicoeducacionais orientadas
para a socialização de experiências e ampliação da compreensão da
realidade a partir de uma perspectiva crítica e, ao mesmo tempo, sen-
sível às singularidades de cada adolescente.
SUMÁRIO 438
Não queremos, com isso, fazer apologia à uma perspectiva de
mundo ingênua e apolítica. Pelo contrário, compreendemos que a ques-
tão que subjaz a todo esse estado de coisas relaciona-se ao modelo
socioeconômico vigente, uma vez que a pandemia e “a quarentena
não só torna[m] mais visíveis, como reforça[m] a injustiça, a discrimi-
nação, a exclusão social e o sofrimento imerecido que elas provocam.”
(SANTOS, 2020, p. 22). Deste modo, precisamos caminhar para uma
“democracia participativa ao nível dos bairros e das comunidades e
na educação cívica orientada para a solidariedade e cooperação, e
não para o empreendedorismo e competitividade a todo o custo.”
(SANTOS, 2020, p. 8).
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, G. Reflexões sobre a peste. São Paulo: Boitempo, 2020.
BASMAGE, D. de F. do A. T. A constituição do sujeito adolescente e
as apropriações da internet: uma análise histórico-cultural. 2010. 151 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências Humanas e
Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010.
BOZHOVICH, L. I. La personalidad y su formación en la edad infantil:
investigaciones psicológicas. La Habana: Pueblo y Educación, 1976.
CHAGAS-FERREIRA, J. F. Cibercultura e nativos digitais. Desafios para
a atuação do Psicólogo Escolar. In: GUZZO, R. S. L. Psicologia Escolar.
Desafios e bastidores na Educação Pública. Campinas: Alínea, 2014.
CHECCHIA, A. K. A. O que jovens alunos de classes populares têm
sobre a experiência escolar na adolescência. 2006. 234 f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/47/47131/tde-03082006-212144/publico/Checchia_tde.pdf.
Acesso em: 18 jan. 2023.
DOMÍNGUEZ GARCÍA, L. (org.). Psicología del desarrollo: adolescencia y
juventud. Selección de lecturas. La Habana: Félix Varela, 2003.
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