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Historia Do Jeans

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LISTA DE ILUSTRAES
Fig 1 - 1o Rebite. ............................................................................................. 21
Fig 2 - Multiplicidade de rebites contemporneos. .......................................... 21
Fig 3 - Mineradores americanos. ..................................................................... 21
Fig 4 - Railmens, Farmworkers e prticos Overalls. ........................................ 22
Fig 5 - Cowboys dos filmes de farwest, de John Waine a Brokeback M.. ....... 23
Fig 6 - Jeans Levis 501 de 1922..................................................................... 25
Fig 7 - 1a empresa a adotar o ziper. ................................................................ 25
Fig 8 - Marlon Brando em O Selvagem. ......................................................... 28
Fig 9 - Easy Rider - 1969................................................................................ 30
Fig 10 - Festival de Woodstock. ....................................................................... 30
Fig 11 - Marlin Monroe na dcada de 1960. ..................................................... 31
Fig 12 - Jeans Stretch, 1980. ........................................................................... 31
Fig 13 - Humberto Saad e Luiza Brunet Publicidade Dijon. .......................... 32
Fig 14 - Dcada de 1970. Cala pintada. ......................................................... 34
Fig 15 - Dcada de 1970 Look em Jeans. ..................................................... 34
Fig 16 - Cala em Patchwork. .......................................................................... 34
Fig 17 - Punks em Paris, 1979. ........................................................................ 36
Fig 18 - Beirendonck, 1997. ............................................................................. 36
Fig 19 - Vivienne Westwood, desfile 1980. ...................................................... 37
Fig 20 - Propagandas das 1as calas jeans fabricadas no Brasil...................... 38
Fig 21 - Gisele Bndchen em shorts jeans. ...................................................... 40
Fig 22 - Martin Margiela e o desconstrutivismo no vesturio............................ 43
Fig 23 - Rei Kawakubo em 1981. ..................................................................... 43
Fig 24 - Madonna na dcada de 1980.............................................................. 44
Fig 25 - Brooke Shields, 1981. ......................................................................... 45
Fig 26 - Exibio do corpo atravs do jeans..................................................... 46
Fig 27 - Jeans Fiorucci, final de 1980............................................................... 47
Fig 28 - Calvin Klein, final de 1980. .................................................................. 47
Fig 29 - Forum, 1988. ....................................................................................... 48
Fig 30 - Calvin Klein Jeans. .............................................................................. 48
Fig 31 - Publicid. Jeans, 1990. ......................................................................... 48
Fig 32 - Armani, 2007. ...................................................................................... 48
Fig 33 - Diesel, 2007. ....................................................................................... 48
Fig 34 - Dolce Gabana, 2009. .......................................................................... 49
Fig 35 - Calvin Klein, 2009. .............................................................................. 49
Fig 36 - Relanamento Jeans Levis 501. ........................................................ 49
Fig 37 - Hugo Boss, 1990. ................................................................................ 50
Fig 38 - Estao de tratamento de gua. ......................................................... 51
Fig 39 - Loja Eden 1a em Jeans 100% orgnico no Brasil............................. 51
Fig 40 - Jeans Levis com 115 anos. O mais caro do mundo. .......................... 53
Fig 41 - Fraldas jeans para beb...................................................................... 54
Fig 42 - Figurino para Bal. .............................................................................. 54
Fig 43 - Dolce Gabana e Louis Vuitton investem em acessrios jeans. ........... 54
Fig 44 - Capacete jeans. .................................................................................. 54
Fig 45 - Tnis Levis ......................................................................................... 54
Fig 46 - All Star................................................................................................. 54
Fig 47 - Poltrona. .............................................................................................. 55

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Fig 48 - Sof em jeans. .................................................................................... 55


Fig 49 - Ronaldo Fraga desenvolve caderno em jeans. ................................... 55
Fig 50 - Painel jeans com calas resinadas. .................................................... 55
Fig 51 - Caroline Calvin com 32 calas jeans................................................... 55
Fig 52 - Quadro de Pasquale Lecreux. ............................................................. 55
Fig 53 - A experimentao enquanto produto de moda. ................................. 57
Fig 54 - Bread&Butter Barcelona 2009, Salsa jeans. ....................................... 58
Fig 55 - Exemplos de vrias performances do jeans contemporneo. ............. 59
Fig 56 - Jean Franco Ferr, 2007. .................................................................... 60
Fig 57 - J. Galliano, 2008. ................................................................................ 60
Fig 58 - Maison Martin Margiela, 2008. ............................................................ 61
Fig 59 - Chanel, primavera vero 2008. ........................................................ 61
Fig 60 - Varios modelos de jeans nos ltimos anos. ................................ 62 e 63
Fig 61 - Algodoeiro. .......................................................................................... 68
Fig 62 - Tabela de siglas das fibras Txteis. .................................................... 70
Fig 63 - Tingimento dos fios com ndigo. .......................................................... 71
Fig 64 - Tingimento sem anti-migrante. ............................................................ 74
Fig 65 - Tingimento com anti-migrante. ............................................................ 74
Fig 66 - Esquema de tear. ................................................................................ 75
Fig 67 - Principais ligamentos. ......................................................................... 76
Fig 68 - Linha Integrada. .................................................................................. 77
Fig 69 - Efeito flam de trama. ......................................................................... 78
Fig 70 - Efeito flam de urdume ....................................................................... 78
Fig 71 - Controle de qualidade. ........................................................................ 78
Fig 72 - Modelagem da cala jeans modelo 5 pockets..................................... 80
Fig 73 - Digitalizao do molde. ....................................................................... 80
Fig 74 - Encaixe eletrnico. .............................................................................. 80
Fig 75 - Enfsto eletrnico................................................................................ 81
Fig 76 - Ilustrao dos dois tipos de enfsto. ................................................... 81
Fig 77 - Maquina de corte manual e profissional operando. ............................. 82
Fig 78 - Plotter de corte eletrnico. .................................................................. 82
Fig 79 - Layout de uma oficina de costura mista. ............................................. 83
Fig 80 - Oficina de costura do jeans. ................................................................ 84
Fig 81 - Sequncia de montagem da cala jeans Senai-Cetiqt. .................... 86
Fig 82 - Sequncia de montagem da cala jeans - Santista............................. 88
Fig 83 - Imagem da 1 etiqueta de couro. ........................................................ 89
Fig 84 - Exemplos de vrios tags. .................................................................... 90
Fig 85 - Primeiras etiquetas traseiras. .............................................................. 90
Fig 86 - Filigrana original Levis. ....................................................................... 91
Fig 87 - Exemplos de filigranas contemporneas............................................. 91
Fig 88 - Filigrana Calvin Klein Jeans. ............................................................... 91
Fig 89 - Bordado Be-extreme. .......................................................................... 91
Fig 90 - Bordado com brilho. ............................................................................ 91
Fig 91 - Be-extreme. ......................................................................................... 92
Fig 92 - Bolsos traseiros. .................................................................................. 92
Fig 93 - Lavanderia industrial. .......................................................................... 93
Fig 94 - Perna pneumtica. .............................................................................. 95
Fig 95 - Processo manual de lixamento . ......................................................... 95
Fig 96 - Bricolagem e seu efeito . ..................................................................... 95
Fig 97 - Aplicao de jatos de permaganato. ................................................... 95

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Fig 98 - Resultado da aplicao de permaganato. ......................................... 95


Fig 99 - Lixado simples - processo ................................................................. 96
Fig 100 - Resultado do lixado. .......................................................................... 96
Fig 101 - Pistola de etiquetagem usada para efeitos de plissado. ................... 96
Fig 102 - Resultado: efeito plissado ................................................................. 96
Fig 103 - Desgastes por instrumentos de retfica ............................................. 97
Fig 104 - Ralados. ............................................................................................ 97
Fig 105 - Escovados. ........................................................................................ 97
Fig 106 - Pincelado. ......................................................................................... 97
Fig 107 - Patches colados. ............................................................................... 97
Fig 108 - Resinado amassado.......................................................................... 98
Fig 109 - Resinado com pigmento.................................................................... 98
Fig 110 - Efeito Rabisco. .................................................................................. 98
Fig 111 - Amassado permanente. .................................................................... 98
Fig 112 - Impresso a laser .............................................................................. 99
Fig 113 - Processos de customizao Cheap Monday. ................................... 99
Fig 114 - Estao Robtica. ........................................................................... 100
Fig 115 - Processos mecnicos de obteno de efeitos. ............................... 100
Fig 116 - Lixador Mecnico. ........................................................................... 101
Fig 117 - Base para efeitos de bigodes e material abrasivo. ....................... 101
Fig 118 - Procedimento de jato abrasivo. ....................................................... 101
Fig 119 - Prensa para resinados. ................................................................... 102
Fig 120 - Amostra denim 10,5Oz Co/ Pes/ El. ............................................... 104
Fig 121 - Amostra denim 12Oz 100%Co. ...................................................... 104
Fig 122 - Amostra denim 12Oz Co/ Pes. ....................................................... 104
Fig 123 - Amostra denim 10,5Oz 100%Co. ................................................... 104
Fig 124 - Jeans Bruto. .................................................................................... 105
Fig 125 - Destroyed Bread&Butter 2009. ...................................................... 105
Fig 126 - Levis Dirty. ...................................................................................... 106
Fig 127 - Pedras abrasivas............................................................................. 106
Fig 128 - Stone wash Bread&Butter 2009 ................................................... 107
Fig 129 - Fire wash Bread&Butter 2009 ...................................................... 107
Fig 130 - Acid wash Bread&Butter 2009...................................................... 108
Fig 131 -.Medium Distressed.......................................................................... 108
Fig 132 - Second hand. .................................................................................. 109
Fig 133 - Silver Black. .................................................................................... 109
Fig 134 - Snow wash. ..................................................................................... 110
Fig 135 - Energized. ....................................................................................... 110
Fig 136 - 3D resinado. .................................................................................... 111
Fig 137 - Jeans Color. .................................................................................... 111
Fig 138 - Exemplos de metais e mquina semi-automtica. .......................... 113
Fig 139 - O jeans atende a vrios grupos urbanos......................................... 116
Fig 140 - Trabalhadores no metr em Teer. ................................................. 117

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INTRODUO
Minha vida profissional, paralela ao magistrio, foi na sua quase totalidade,
voltada para o fazer moda. O pensar moda na prtica, foi o incio da produo
do conhecimento que hoje carrego.
Comecei na poca em que no existiam escolas de moda no pas. Isso
significava aprender fazendo e essa prxis foi evoluindo e acompanhando
minha formao quando j era estilista de vrias confeces no Bom Retiro,
depois dando assessoria para tecelagens (desenvolvendo tecidos exclusivos);
para estamparias (na criao e opes de colorao); para tinturarias e
lavanderias (montando cartela de cores para as indstrias txteis e
acompanhando os processos de lavagens de peas em denim). Mas o maior
aprendizado foi atuando na minha prpria confeco, durante toda a dcada de
1980, com duas etiquetas: Ellyclaire (feminina) e CaraMelada (infantil).
Ampliei meus conhecimentos, nesse perodo, no s no que diz respeito
criao, mas tambm ao gerenciamento do produto, em logstica e em
marketing. Essa experincia me forneceu, ao lado das informaes oriundas de
publicaes e visitas tcnicas aos vrios setores da cadeia txtil (fiao,
tecelagem, confeco e beneficiamento), um rico material de trabalho.
Ao iniciar o mestrado, um desafio se imps: o pensar moda de forma
sistemtica. Essa dissertao vem unir as duas formas de interagir com esse
rico universo: o fazer e o pensar, tratados de forma integrada.
Pesquisando a moda, na busca do objeto que constituiria o tema do trabalho,
uma pea me chamou ateno por ser emblemtica: o Jeans. Sua trajetria
carrega uma infinidade de smbolos e signos que vo da resistncia e
praticidade da roupa do trabalhador, passa pela rebeldia, arrojo e
agressividade dos movimentos contra-culturais, carrega emblemas de status e
luxo, bem como de autenticidade e estilo. Essa escolha veio, tambm, por uma
curiosidade pessoal de tentar descobrir o porque de uma pea do vesturio ser
to constante no guarda-roupa da maioria das pessoas, em quase todos os
pases. Mas o principal questionamento era o fato de acharmos linda,
bacana, cool e adquirirmos, uma pea com aspecto usado, rasgada,

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desbotada e, muitas vezes, parecendo suja, a preos que chegam algumas


vezes, a quatro dgitos.
A curiosidade sobre esses e outros aspectos me levou, a princpio, a um
levantamento histrico especfico, que acabou se revelando de suma
importncia nesse contexto. Sua prpria histria uma histria de identificao de
pequenas marcas, que ao longo da sua existncia vo se somando s novas e
compondo a identidade dessa pea na contemporaneidade.
O jeans foi escolhido como objeto dessa reflexo tambm por ser a pea que
incorpora e exterioriza a vivncia do seu usurio desde o marinheiro no sculo
XVII, do minerador e do cowboy, da juventude em vrias ocasies, at a
generalizao do seu uso no contemporneo.
Marcado pelo desgaste natural do vestir; pelas transformaes pessoais, pelas
interferncias na sua esttica hbrida, pelas desconstrues no seu
acabamento, ouso cham-lo de representante do design de moda psmoderno. Tendo sido o jeans o precursor na aceitao desses signos inferiores na
moda, (LIPOVETSKY, 1989), coloca a proposio de novos termos para a
indstria do vesturio, colaborando para outra definio de roupa: a que
colhida de ocorrncias particulares que lhes atribuem sentido (caracterstica da
ps-modernidade), j que seu sentido no vem mais de uma concepo de
moda como discurso totalizante (caracterstica da modernidade).
O estudo especifico da histria do jeans vem mostrar que ele interfere diretamente
nos processos de produo, na contemporaneidade, sedimentando tambm um
projeto de moda que ultrapassa as fronteiras do vesturio e se insere em outros
universos: do teatro, o da decorao, dos acessrios, ou mesmo das artes plsticas.
Pea do vesturio comercializada aos milhes, sua relevncia vem do fato de ser a
mais democrtica do nosso guarda-roupa, atendendo praticamente todas as
estratificaes etrias, sociais e econmicas, quer pela sua versatilidade,
autenticidade e estilo, quer pelos conceitos de liberdade e juventude (este ltimo,
perseguido por todos), aos quais est indelevelmente ligada.
O raciocnio da pesquisa segue a abordagem, em primeiro lugar da gnese do
jeans, como se expandiu pelo mundo e como se relacionou com os seus
usurios. Depois a ampliao do seu conceito e as principais estratgias que
fizeram do jeans o cone que hoje. Falaremos do processo Criativo na

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contemporaneidade e por fim da sua materialidade, onde design e tecnologia


se unem para produzir a pea do vesturio mais consumida, depois da
camiseta.
Temos ento que no primeiro captulo Metamorfoses do Jeans, essa dissertao
pretende, ao se apoiar na histria, mostrar como o jeans, nascido para servir ao
trabalho pesado, serviu tambem de suporte para a construo de novas relaes
sociais, principalmente como foi elemento de exteriorizao da rebeldia juvenil,
liberada em vrias ocasies, a partir, principalmente, dos movimentos beatniks,
hippies e punks. Alm disso, veremos como interferiu na construo da imagem e da
identidade da mulher contempornea, ora dando-lhe mais liberdade, ora valorizandolhe as formas ou equiparando-a ao homem, do qual era submissa. Gilles Lipovetsky
(1989), Daniela Calanca (2008), Patrice Bollon (1993), Antonio Jos do Carmo
(2003), Eric Hobsbaum (2000), Diana Crane (2006), Frederic Jameson (2000), Stuart
Hall (1998) e tantos outros contribuiram substancialmente para essa reflexo da
moda e sua significao no mbito social.
Identificaremos a partir da sua origem (subcaptulo que tratar da difuso do
jeans), como se disseminou para a Europa e como se sedimentou no Brasil,
tornando-se um dos nossos mais fortes segmentos no mercado interno e na
exportao da matria prima.
A ampliao do conceito jeans para outros setores da moda se torna
fundamental para a compreenso da esttica da moda contempornea. As
estratgias de autenticidade e da seduo fazem parte da maioria das
campanhas publicitrias desse produto, constituindo dois dos seus principais
atributos. Ambos sero estudados aqui, desde suas primeiras manifestaes
(por volta de 1970).
Em Processos Criativos, que constitui o Segundo Captulo, abordaremos como o
jeans, que nasce na modernidade, resgata suas origens no contemporneo, atravs
dos processos de produo caractersticos da ps-modernidade. Abre a discusso
sobre os processos de criao em moda, assim como discute a sua prpria
concepo.
Tomando autores como Lipovetsky (2004), Sexe (2007), Jameson (2000), Harvey
(2003), Poynor (2002), Baudrillard (1996) e tantos outros, podemos discutir sobre o
legado da modernidade e como o jeans se insere nesse universo, bem como seu

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comportamento como coadjuvante nos processos criativos da ps-modernidade,


para entendermos a moda como um todo.
As pesquisas de campo, principalmente em empresas como Vicunha e Santista
apoiadas por Chataignier (2006) e Catlogo do Senai-Cetiqt, subsidiaram as
informaes tcnicas apresentadas no Terceiro Captulo. Nele falaremos sobre
design (conceitos apoiados principalmente por Bomfim, 2002) e tecnologia,
trataremos da sua materialidade, desmembrando o processo de fabricao
desde a fibra, passando pela fiao, tecelagem e confeco.
Observaremos a seguir, os vrios processos pelos quais se submete depois de
pronta, ao receber o que chamamos paradoxalmente de beneficiamento. Quais
os recursos utilizados para que os desgastes do uso, os aspectos desbotados
e os furos sejam incorporados sua superfcie, dando-lhe seu aspecto final.
Aspecto esse, que mais do que ser marcado na sua exterioridade, sob
interferncias qumicas e mecnicas modificam sua prpria essncia e vo
construindo sua identidade ps-moderna.

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I - AS METAMORFOSES DO JEANS
Um olhar mais atento a qualquer um dos aspectos das vrias culturas
contemporneas, principalmente as ocidentais, nos leva a perceber que elas
so compostas por elementos dspares, mistos, muitas vezes confusos e com
difcil definio. No que diz respeito aos sistemas de produo na moda e os
processos criativos que os engendram, vemos que esses se valem de
inmeras referncias simultaneamente, assim como nos mbitos da msica, da
arquitetura, do design, no da comunicao, etc. Sendo esse um dos
pressupostos da ps-modernidade, manifestos tambm no design de moda
contemporneo, tornam presentes em sua essncia, recursos de criao que
contrariam os princpios que regiam a moda at meados do sculo passado,
quando as diretrizes da modernidade prevaleciam.
No entanto, muito se tem discutido sobre a modernidade e a ps-modernidade,
chegando alguns autores a questionar at mesmo a existncia dessa ltima.
Por se tratar de conceitos de amplo significado, convm uma reflexo mais
cuidadosa para o entendimento das idias abordadas nesta dissertao.
Embora alguns princpios da modernidade entraram na obsolescncia, ainda
hoje convivemos, no contexto da moda, com muito do seu esprito, quer seja na
fabricao seriada, quer em manter a essncia clssica do vesturio, embora
com a possibilidade de mescl-la a outras posturas. Na modernidade, os
criadores de moda se mantinham fiis a um estilo, repensando a cada estao,
suas prprias referncias assim como faziam os artistas plsticos e as escolas
com suas disciplinas estanques.
A modernidade pode ser entendida como vontade de construir sistemas,
teorias,

interpretaes

totalizantes,

como

sistema

que

acredita

na

racionalidade, no valor positivo da cincia e da tecnologia, acredita no


progresso do desenvolvimento histrico e do pensamento (LYOTARD, 1979).
Moderna a sociedade criada a partir da industrializao e da produo em
srie. O sujeito da modernidade era ainda a imagem do homem iluminista, visto
por Stuart Hall como tendo uma identidade fixa e estvel, diferente do homem
ps-moderno, que foi descentrado, resultando em identidades abertas,
contraditrias, inacabadas e fragmentadas (HALL, 2005:13).

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Nesse cenrio, foi concebido o jeans (ver glossrio pg.122): uma roupa de
uso dirio, uma pea destituda de preocupaes estticas, um objeto
funcional, um uniforme de trabalho produzido em srie. Um sujeito de
identidade fixa e estvel, com um papel e uma funo definidos dentro da
sociedade.
Para alguns autores, a terminologia ps-modernidade tem sido substituda
pela expresso modernidade tardia (JAMESON, 2000) ou modernidade
lquida (BAUMAN, 1997) ou ainda hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004).
Apesar de ser um termo questionvel, a frequncia com que filsofos,
socilogos, gegrafos, e demais pensadores contemporneos, a favor ou
contra, discutem a ps-modernidade, nos d a certeza de que ela existe.
Nesta

reflexo,

utilizaremos

conceito

para

identificar

alterao,

principalmente, dos processos criativos, no que diz respeito s normas de estilo


aplicadas na modernidade, bem como as alteraes sociais decorrentes do
ps-guerra e do rompimento das barreiras culturais.
David Harvey relaciona os conceitos modernidade e ps-modernidade, a
partir da afirmao que ser moderno ver tudo novo, a transformao de si e
do mundo. A modernidade une toda a humanidade, ultrapassando as fronteiras
da geografia, das raas, da religio, da ideologia e da nacionalidade. Ser
moderno ser parte de um Universo. Diz ele ainda que o modernismo uma
resposta esttica a condies obtidas por um processo particular de
modernizao em uma sociedade. (HARVEY, 1993). Com essa afirmao, ele
antecipa a significao do ps-modernismo, sem que, em nenhum momento,
possamos notar uma preocupao em buscar o significado do prefixo ps, no
sentido de "depois de.
No contexto da nossa reflexo, tal passagem permite identificar que se o
conceito de criao na modernidade era considerar a Destruio Criativa, isto
, a novidade tem que ser construda a partir das cinzas do antigo, na psmodernidade esse conceito se amplia, usando a interdisciplinaridade (ver
glossrio, pg 123), mesclando o antigo e o novo, o clssico e o experimental, o
natural e o tecnolgico, o local e o global, dando-nos novas e inmeras
possibilidades de criao.

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Reforamos essa noo, considerando que O sujeito assume (hoje)


identidades diferentes em diferentes momentos (HALL, 2005), ou como nos
fala Lipovetsky, no seu livro A era do vazio definindo o sujeito ps-moderno:
que a ps-modernidade transforma o indivduo, agora plural, destitudo de
referncias histricas, fragmentado, no mais sujeito de si, mas sujeitado pela
mquina, pelo virtual, afastado do simblico, hedonista e preso ao mundo de
imagens (LIPOVETSKY, 1989).
Por esses termos, o jeans foi escolhido como objeto dessa reflexo por ser a
pea que exterioriza as mudanas do sujeito que o veste, ou melhor, que
incorpora a prpria imagem do sujeito ps-moderno com suas formas
contraditrias, fragmentadas e hbridas, seus acabamentos plurais, sua esttica
inacabada e desconstruda.
I.1 GNESIS DO JEANS MODERNO
O Jeans, em sua origem, enquanto artefato moderno, nasce precocemente por
volta de 1600. Mas como sujeito ps-moderno corporifica e atualiza as aes
dos sujeitos, tanto dos que o produzem ou dos que dele fazem uso, para se
definir como cone da moda contempornea.
Baudrillard (1980) afirma que a modernidade introduziu simultaneamente um
tempo linear de progresso tcnico da produo e da histria e um tempo
cclico: o da moda. Em mais uma contradio aparente, ele nos diz que a
tradio deixa de ser a proeminncia do antigo sobre o novo; que a
modernidade d outro sentido aos dois conceitos e que ela sempre, ao
mesmo tempo nova, atual e retr, fora de poca. Nossa moda o jogo da
mudana pela mudana, diz ele.
O jeans vive, como todo objeto de moda esse paradoxo, essa constante busca
de renovao, e que para isso se reporta constantemente ao passado, na nsia
da novidade. Mas, no seu caso, profundamente maior seu envolvimento com
o passado. Este legitima atravs das marcas deixadas pelo uso, sua esttica
ps-moderna. Ele transforma, atravs da sua histria, as relaes sociais. Ele
estabelece ao longo dos anos modificaes na indstria para perpetuar as
inscries na sua superfcie.

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Temos que os primeiros europeus a utilizarem essas calas, antes mesmo dos
americanos, foram os trabalhadores do porto de Gnova. O tecido era
fabricado em Chieri, uma cidade perto de Turim (Itlia), por volta de 1600. Sua
comercializao se dava atravs desse porto, cuja cidade era a capital de uma
repblica independente e uma potncia naval. As primeiras peas foram feitas
para os genoveses da marinha porque se prestava para todos os fins. Com
essas calas, os velejadores poderiam usar tanto no molhado como no seco, e
cuja perna poderia facilmente ser enrolada (e permaneciam assim) para facilitar
enquanto subiam no convs.
A histria do uso dessa cala, no nosso ponto de vista, deve ser incorporada
para compreendermos sua esttica contempornea. At mesmo os primeiros
processos de lavagem dessa poca, j nos trazem o gnesis do que se
transformou essa pea do vesturio: estes jeans iriam ser branqueados, pois
eram arrastados em grandes redes por trs do navio. A gua do mar atritava a
superfcie enquanto a lixvia (ver glossrio, pg.124) a deixava branca.
Segundo inmeras fontes, o nome vem da aglutinao da expresso de Gene
(de Gnova) usada pelos franceses.
Muitas so as histrias sobre a primeira pea de calas jeans da modernidade,
porm a mais mencionada pelos historiadores nos reporta a Levi Strauss, que
em 1847, com a idade de 24 anos, foi da Alemanha para So Francisco para
vender produtos para mineiros na corrida do ouro. Ele tinha levado consigo as
pesadas lonas de pano que originariamente destinavam-se a fazer tendas.
Porem, os seus clientes potenciais tinham outras necessidades: realizavam um
trabalho duro e precisavam portanto de uma roupa que os ajudasse a enfrentar
os rigores que as escavaes de ouro exigiam. Atendendo s suas
solicitaes, fundou a empresa Levi Strauss tornando-se universalmente
reconhecido como o inventor do jeans em 1853. Em 1870 associou-se a um
alfaiate de nevada, chamado Jacob Davis, que introduziu a aplicao de rebites
(ver glossrio pg.124) de cobre nas laterais dos bolsos, conferindo-lhes maior
resistncia. Assim que Levi Strauss e Jacob Davis adquiriram recursos e
tecnologia industrial para a produo em srie, comearam a produzir os waist
overalls (calas usadas com suspensrios), com apenas um bolso traseiro com

21

a filigrana com desenho arqueado imitando a silhueta de uma guia, um bolso


relgio, com uma fileira de botes de presso na braguilha, os rebites de cobre
e uma cinta e botes para suspensrios.

Fig.1 - 1 rebite.
Fonte: Huiguang, 2008.

Fig.2 - Multiplicidade de rebites


contemporneos. Revista Eberle.

Em 1872 registrou a patente dessa pea que conquistou os coraes (e as


pernas) de milhes de pessoas ao redor do mundo.
Desde o incio, todas as imagens que rodeavam o jeanswear estavam l: o
pioneirismo, a tenacidade, a aventura americana no oeste e a acentuada
individualidade.

Fig.3 - Mineradores Americanos. Fonte: LHOTE, 2003 e 4.bp.blogspot.com

Mudando a partir de seu original em lona (tecido feito com fio resistente em
ligamento tela ver captulo III, em tecelagem) para as pesadas sarjas (tecido

22

tramado na diagonal), produziram-se calas que foram aprovadas no s pelos


mineradores, mas tambm adotadas como uniforme dos homens de trabalho
que compunham a tradio da Amrica: os cowboys, os ferrovirios, os
trabalhadores do campo e at mesmo, na Guerra Civil, os uniformes dos
soldados foram feitos de denim (ver glossrio, pg.120) (o termo denim uma
corruptela da expresso: sarja de Nimes cidade da Frana de onde era
originariamente importado o tecido). Sua colorao original era o bege e s em
meados da dcada de 1940, recebe o tingimento com um corante extrado da
planta vinda da ndia: o ndigo (ver glossrio, pg.124), passando assim pela
sua primeira maquiagem esttica: o ndigo blue.
Segundo Nestor Sexe (2007), to importante foi essa transformao e to
indelvel que, at hoje, quando nos referimos ao objeto jeans, imediatamente
sua identidade se revela: ns o visualizamos em azul, o original, o mais
produzido e o mais usado. Mas essa associao nos leva a concluses
maiores na medida em que o prprio tecido do qual produzido, o denim
ndigo blue perde seu lugar, pois o nome jeans se apropria da sua
materialidade e o significa.
No consenso a palavra aglutina trs significados: matria prima, forma e
funo, criando uma identidade prpria, nica, de entendimento quase
universal.

Fig.4 - railmens, farm workers e prticos overalls.


Fonte Sportswear, ed 48

23

Fig.5 - Cowboys dos filmes de far west, de John Waine a Brokeback Mountain. Fontes:
Sportswear, ed.48 e Huiguang, 2007.

Os waist overalls (como eram chamadas as calas jeans a princpio)


conquistaram os cowboys e, em 1926, a Levi's lana uma cala prpria para

24

eles, com as pernas mais arqueadas, mais apropriadas para a montaria, ento
surgem os cowboys overalls.
Em pouco tempo (mais ou menos nos anos 1930) a roupa dos cowboys
estava nas telas do cinema atravs de John Wayne, com as calas jeans de
bainha virada. Os filmes de far west tiveram grande sucesso e os novos
dolos espalharam o modismo no chamado cinema western, tambm
popularizado como filmes de cowboys. Nas dcadas que se seguiram,
seriados trazendo a mesma temtica como Roy Rogers e Bonanza, entre
outros, reuniam as famlias em frente aos aparelhos de TV. Hoje, os rodeios
que acontecem no interior de todo Brasil, preservam esse estilo de jeans como
seu mais legtimo representante.
As calas jeans (Levi's), que eram parte da indumentria tpica dos cowboys,
tornaram-se sinnimo de uma vida de independncia, aventura, herosmo e
virilidade. Atualmente a saga se ampliou e vimos, como no filme O segredo de
Brokeback Mountain", retratado o desbravamento (agora social) dos gays
americanos. E o jeans continua sendo escolhido como vesturio fundamental.
Os autnticos desbravadores do oeste americano que passavam o dia inteiro
na sela aprenderam a obter um jeito de deixar aquele tecido rgido de seu novo
jeans mais confortvel: entravam na gua vestidos. As calas, dessa maneira
secavam no corpo, adquirindo as formas de seu usurio. O hbito desse
primeiro processo de amaciamento e encolhimento pelos cowboys se tornou
lenda.
E j que estamos falando em lendas, algumas so realmente curiosas (embora
fossem contadas como a mais pura verdade) e que valem nos lembrarmos:
Na construo da estrada de ferro do extremo oeste Americano, uma cala
"blue-jeans", molhada e amarrada, foi utilizada para arrastar 9 vages de trem
carregados, subindo uma inclinao de 10 graus. E outra: Um trabalhador
texano ficou pendurado durante vrios minutos por um guindaste ao ser colhido
por um dos bolsos de sua cala "denim" no gancho do mesmo.

25

Lenda ou no, h bem pouco tempo (e


isso fato) uma moa salvou dois
trabalhadores que ficaram pendurados
em um andaime, ao sabor de um
vendaval, jogando uma jaqueta jeans
para

que

eles,

ao

segur-la,

permanecessem prximos janela e


assim pudessem ser resgatados. Esse
fato aconteceu num prdio comercial em
So Paulo, em abril de 2009.
Juntaram-se depois, detalhes como o
pesponto em fio toral laranja e a
Fig.6 - Jeans Levis 501 de 1922. Fonte:
Huiguang, 2007

etiqueta de couro na parte traseira


(introduzido em 1886). Aps a Levi's

vieram outros nomes conhecidos como Lee (fundada em zonas rurais do


estado do Kansas, em 1889) e Blue Bell, Wrangler (criada em 1904). A
Wangler especializou-se em atender o trabalhador do rancho (men western),
com caractersticas estritamente funcionais: pernas mais longas e com boca
suficientemente aberta para cair naturalmente sobre as botas, um pequeno
bolso relgio, botes flexveis, um tipo de arco pespontado nos bolsos traseiros
e os respectivos travetes (reforo em zig-zag na costura das bocas dos bolsos
em lugar dos rebites, cuja patente pertencia Levis). Todos esses elementos
foram pensados para facilitar as inmeras horas de montaria.
Somente em 1926 foi introduzido o ziper (inveno de Whitcomb Judson em
1893) pela marca Lee Cooper nas suas calas
sendo, portanto, a primeira a adotar esse tipo de
fechamento nos jeans. Um detalhe interessante
que os modelos femininos eram fechados na
lateral das peas, pois era inadmissvel, naquela
poca, que a abertura fosse frontal como as
masculinas. A prpria Lee, revoluciona novamente
ao adotar o ziper frontal para ambos os sexos
cincoenta anos depois (HUIGUANG, 2007).

Fig.7 - 1 empresa a adotar o


ziper.
Fonte: Huiguang, 2007

26

I.2 - O JEANS PS-MODERNO


I.2.A - Juventude e Rebeldia (comportamento)
A revoluo cultural, entendida no seu sentido mais amplo como uma
revoluo dos costumes, dos modos, da maneira de desfrutar o lazer e da
comunicao comercial, teve como matriz a cultura jovem, segundo Eric
Hobsbawn (2000). E nesse contexto que encontramos consonncia ao
pensamento de Lipovetsky (2004) numa sintonia para identificar o jeans como
representante da moda, na passagem do moderno para o ps-moderno, para
se instalar como termo da moda contempornea. Ao enumerar os elementos
que caracterizam a ps-modernidade afirma que:
com a extenso da lgica da moda ao conjunto
do corpo social (quando a sociedade inteira se
reestrutura segundo a lgica da seduo, da
renovao permanente e da diferenciao
marginal) que emerge o mundo ps-moderno
(LIPOVETSKY, 2004:19).
Essa ps-modernidade, segundo o autor, tem como sustentao a revoluo
cultural que se estabelece quando a parte jovem da sociedade se manifesta.
De novo vemos um deslocamento do jeans de uma esfera cultural para a outra,
resignificando sua materialidade e sua funo.
Quando o mundo ocidental saiu da depresso ps-guerra e os adolescentes e
jovens adultos comearam a se divertir como nunca, estabeleceu-se o que
chamamos de anos dourados. A indstria do entretenimento e a indstria
cultural se consolidaram. A inveno da televiso abriu inmeras possibilidades
de comunicao, divulgando novos produtos e novas modas ao lado do
cinema.
Durante dcadas, a moda infantil e juvenil foram simplesmente cpia das
roupas de seus pais, porem, durante a Segunda Guerra Mundial e
imediatamente a seguir, os jovens americanos (filhos do baby boom)
comearam a demanda e o estabelecimento da sua prpria identidade. Essa
nova identidade vem em decorrncia do descontentamento situao belicista,

27

aos extremismos totalitrios, rigidez da conduta sexual, falta de


perspectivas profissionais e a uma nova dimenso do lazer na vida cotidiana
pela emerso da indstria cultural.
Daniela Calanca nos esclarece dizendo:
O crescimento da cultura jovem ao longo dos anos
1950 e 1960 acelerou a difuso dos valores
hedonsticos e anticonformistas, exaltando a
espontaneidade, a ironia e a liberdade. O imaginrio
juvenil daqueles anos determinou a indiferena em
relao ao vesturio da haute couture, identificado como
smbolo do que era velho. Com sua grande tradio
de requinte, como seus modelos reservados a
mulheres adultas e bem de vida, essa instituio foi
desacreditada pela nova exigncia do individualismo
moderno: parecer jovem (CALANCA, 2008:206).
A categoria jovem, at ento era restrita ao seu tempo de escola, pois aps o
aprendizado de uma profisso, j eram considerados adultos e dessa maneira
passavam a agir. O surgimento do adolescente como ator consciente de si
mesmo, era cada vez mais reconhecido entusiasticamente pelos fabricantes de
bens de consumo, coloca Hobsbawm (2000), mostrando a tambm o
redirecionamento da indstria, que passa a olhar para a juventude como um
segmento diferenciado.
A partir de ento, ser jovem ou parecer jovem passa a ser um dos paradigmas
da sociedade ocidental. O jeans entra nesse momento como um dos elementos
de exteriorizao dessa condio e um dos seus smbolos mais duradouros.
Ao longo dos seus mais de 170 anos, esse ancio nunca perdeu seu papel
como legtimo representante da juventude. Foi e continua sendo a pea eleita
por ela como a fundamental, a mais usada, emblemtica e insubstituvel em
seu guarda-roupa.
Os jovens de classe mdia americana, em final da dcada de 1940 j haviam
comeado a vestir jeans, at ento considerado somente o uniforme dos
trabalhadores, como o seu prprio smbolo de uniforme fashion. Essa
escolha foi decididamente casual, porm pela conotao vulgar do trabalho
rduo, manual e mal reconhecido ao qual estava ligado, acabou irritando os
pais, educadores e a sociedade em geral que desaprovavam a opo. Esse foi,
naturalmente, o reforo para que toda a idia se solidificasse (Sportswear,

28

edio no 48). Passou-se mais de uma dcada antes que os europeus


seguissem o exemplo americano.
A partir da, ganhando ritmo nos Estados Unidos e tendo repercusses
significantes tambm na Europa e no Brasil, o papel do denim como um
uniforme anti-social se estabelece. Gangues de motos que aterrorizavam
pequenas vilas californianas no fim dos anos 1940 viam-se eles mesmos como
cowboys sculo 20, que tinham trocado os seus cavalos por HarleyDavidsons, mas mantiveram o uniforme jeans dos autnticos cowboys.

jeans estava comeando a obter uma reputao de rebeldia. Essa reputao,


posteriormente foi manipulada pela mdia para que, livre desse estigma,
pudesse atender a outros mercados.
At o incio dos anos 1950, a sua popularidade como um uniforme do jovem foi
crescendo em ritmo acelerado na Amrica do Norte e a indstria
cinematogrfica americana, cuja distribuio, nessa poca era macia, se
encarrega de disseminar suas idias. Filmes como A Wild One O
Selvagem (1953) e On the waterfront (1954), com Marlon Brando seguidos
por James Dean em Rebel whithout a cause (Rebelde sem causa, 1955)
aceleraram o processo de exportar as idias americanas para o resto do
mundo. Esses atores simbolizavam a rebeldia contra o stablishment (ver
glossrio pg. 125), a liberdade, o descomprometimento, enfim tudo que o
jovem ansiava e a decorrncia natural foi a enorme legio de seguidores.

Fig.8 - Marlon Brando em O Selvagem


fonte: Cinema Year by year, 1996.

29

Em A histria social da moda, Daniela Calanca traa um panorama sobre esse


perodo, enfatizando o aspecto anti-moda que se estabelece a. Diz ela:
Ora, mesmo radicada em um contexto histricocultural que no nem um pouco unvoco, a
fragmentao da moda est ligada tambm, e
sobretudo, a um fenmeno histrico bem preciso, isto
, s modas juvenis que surgiram depois da Segunda
Guerra Mundial, denominadas "antimodas", apesar
de o fenmeno da antimoda ser mais antigo.
Tornando absoluta a distncia em relao a tudo o
que conforme regra esttica e moral, o elemento
central da antimoda consiste na referncia a ideais,
valores e concepes da existncia radicalmente
opostos aos padres vigentes. um fenmeno que
assume formas e temas de diversas fontes culturais,
como a indignao contra o utilitarismo, naturalismo
salutar, protestos feministas, ceticismo conservador,
a "des-identificao" das minorias e a afronta da
contracultura. Os representantes da contracultura, os
beatniks dos anos 1950, os hippies dos anos 1960 e os
punks dos anos 1980 (com as suas subdivises
estilsticas: skeenheads, roqueiros, metaleiros etc.)
tentam diminuir a importncia dos grupos culturais
dominantes. Os cabelos compridos, os colares, os
braceletes, os tecidos floridos so smbolos que
marcam radicalmente a oposio a tudo o que
dominante. Os estilos proclamam, por assim dizer, a
ruptura, o desprezo pelos valores comumente
aceitos. Nesse sentido, os anos 1960 so um perodo
de grande revoluo em todo o mundo ocidental. Dos
Estados Unidos Holanda, as jovens geraes
recusam os modelos existentes e procuram novas
formas que possam manifestar uma ruptura com a
ordem constituda. Trata-se de um fenmeno de
massa que atinge todos os mbitos da existncia
cotidiana, das relaes entre os sexos concepo de
trabalho e tempo livre ( CALANCA, 2008:191).
A dcada de 1960 solidifica a postura anti-stablishment que seus usurios
haviam adotado em meados dos anos 1950: o denim gasto, o azul desbotado,
as barras pudas podem ser vistos em imagens de festivais como o de rock de
Woodstock e filmes cult como Easy Rider (Sem destino), ambos em 1969.

30

Fig.9 - Easy Rider -1969)


Fonte: sportswear ed.48

Fig.10 - Fest. de Woodstock. Fonte:


countryjoe.com/hires

E a histria da rebeldia do jeans no se esgota aqui. Ela segue paralela ao da


sua disseminao pelo mundo, como trataremos no captulo: Difuso do Jeans.
I.2.B - Identidade da mulher (construo social do gnero)
O jeans entra tambm como adjunto na elaborao da nova identidade
feminina, que a partir da se constri: mais atuante e mais liberta.
O primeiro passo para que essa construo se manifestasse, foi o que tornou o
jeanswear unissex - todos poderiam usar o mesmo modelo e sentir-se cada vez
mais

integrados

ao

quase

global

grupo

de

jovens

descontentes,

independentemente do gnero. A liberao sexual atravs das plulas


anticoncepcionais, os movimentos feministas e as reivindicaes por iguais
oportunidades no mercado de trabalho, deram s mulheres a plena aceitao
por esse tipo de produto. Foi essa demanda que fez com que as primeiras
boutiques especializadas em jeans comeassem a ser abertas, oferecendo,
porm, nada muito longe dos estilos bsicos e funcionais.
A mudana nas relaes entre homens e mulheres, teve seu reflexo no
vesturio, que passou a ter como forte referncia, o mercado de roupas
industrializadas. Anne Hollander nos diz:
Como os sexos j eram oficialmente iguais, o novo
mtodo para fugir do mito romntico era fazer com
que parecessem idnticos tomando por base o
modelo superior masculino, claro [...] O material
expressivo usado para combater a situao veio
desta vez das roupas de trabalho masculinas
produzidas em srie, mais notavelmente do
clebre blue jeans.(HOLLANDER, 1994: 207).

31

Como todo movimento gera um outro contrrio, o jeans


teve um novo e relevante componente neste perodo: o
reforo da imagem sexy. Mulheres em cidades
americanas tinham aprendido sobre o conforto e a
praticidade das calas compridas no lugar das saias e
vestidos, pois as usaram para trabalhar nas fbricas
em tempo de guerra. Na dcada de 1950, atrizes como
Marilyn Monroe e Jayne Mansfield, com suas imagens
provocantes, s tiveram de vestir jeans apertado para
mostrar de que forma a tradicional vestimenta de
trabalho poderia ser sexy.
Antes disso, sob muita resistncia, foi postada na
Vogue Americana, uma publicidade do jeans feminino Fig.11 - Marlin Monroe na
da Levis (1935). Pela primeira vez agregando-se

dcada 1960. Fonte:


sportswear, edio 48

valores de charme e modernidade praticidade j


consolidada, na tentativa de considerar o jeans como pea
fashion, podendo fazer parte do guarda-roupa dirio das
americanas. Sem muito sucesso na poca.
Somente quando as moas que trabalhavam em escritrios,
escolas e lojas, obtendo sua prpria renda e sem muito
comprometimento com o tipo de gasto masculino, em
bebidas e cigarro, que o mercado comeou a olhar para
elas com interesse particular. Tinham, segundo Hobsbawn
(2000), um maior poder aquisitivo, podendo decidir onde
gast-lo, e essa renda foi direcionada a princpio, ao
vesturio, aos cosmticos e a discos populares.
Aos poucos, o jeans feminino foi ganhando espao, atravs
Fig.12 - Jeans
Stretch, 1980.
Fonte: Sportswear
ed 48

de modelagens adequadas ao seu corpo (o perodo unissex


obrigava a que inmeras penses fossem feitas no cs das
calas para que no escorregassem das finas cinturas).

Mais tarde, por volta do final da dcada de 1970 e incio de 1980, o mercado
denim foi se direcionando predominantemente s mulheres.

32

Durante esse perodo, a expresso "Celebrity jeans" teria sido um bom nome,
pois as pessoas socialites americanas como Gloria Vanderbilt, atrizes como
Joan Collins (pr-Dinastia) e cabeleireiro Vidal Sassoon emprestaram os seus
nomes para linhas de jeans.
Aqui no Brasil, a marca Dijon associou seu produto a modelos como Luisa
Brunet e Monique Evans, conseguindo assim fortalecer a imagem da
sensualidade da mulher brasileira, pois uma parte importante do design do
jeans, nesse perodo, foi o predomnio da
sexy stretch jeans pants (o elastano que
tinha sido introduzido em meados dos anos
1960, explode na sua mistura com o denim). A
partir da ele se tornou um item fortssimo
como diferencial, tornando-o no s mais sexy,
porm muito mais confortvel, pois essa feliz
fuso de fibras proporcionou maior mobilidade,
acompanhando de perto o movimento do
corpo que as veste.
A

associao

jeans

sensualidade

vai

ganhando espao at se tornar um dos


recursos de maior resultado na promoo
dessa pea, como veremos adiante.

Fig.13 - Humberto Saad e Luiza


Brunet publicidade Dijon. Fonte:
tribojeans.blogspot.com

I.3 - DIFUSO DO JEANS


David Harvey explica o espao/tempo na vida social esclarecendo os vnculos
materiais entre processos polticos econmicos e processos culturais. O
fundamental a idia de que o tempo e o espao no podem ser
compreendidos independentemente da ao social. O autor considera em
particular como o prprio significado e a prpria percepo de tempo e do
espao variam, mostrando que essa variao afeta valores individuais e
processos sociais de maneira fundamental. A marca da vida ps-moderna est
caracterizada por uma sociedade global sem fronteiras (ampliao do espao),
onde o lazer incorporado ao nosso cotidiano (redimensionamento do tempo).

33

I.3.A - Atravessando o Atlntico


Fabricantes de vesturio na Europa tinham comeado as suas prprias marcas
de jeans em final da dcada de 1950, mas as marcas americanas ainda eram
as mais valorizadas. O jeans recria ento do outro lado do Atlntico, a mtica
sobre o estilo de vida americano, recebendo plena aceitao. O pensamento
jovem, sem idias pr-concebidas, imbudo da novidade, da liberdade e da
experimentao, inicia, atravs do seu vesturio, um novo paradigma visual.
Lipovetsky nos ilustra bem quando fala desse perodo:
No momento em que se eclipsa o imperativo do
vesturio dispendioso, todas as formas, todos os
estilos, todos os materiais, ganham uma
legitimidade de moda: o descuidado, o tosco, o
rasgado, o descosturado, o desmazelado, o
gasto, o desfiado, o esgarado, at ento
rigorosamente excludos, vem-se incorporados
no mundo da moda. Reciclando os signos
inferiores, a moda prossegue sua dinmica
democrtica, como o fizeram, depois da metade
do sculo XIX, a arte moderna e as vanguardas
(LIPOVETSKY, 1989:121).

O mesmo Lipovetsky, em seu livro Os tempos Hipermodernos coloca nesse


perodo (a partir da dcada de 1950) as relaes comerciais como
correspondente segunda fase do consumo, pois ele deixa de ser privilgio
das classes mais abastadas e passa para o consumo de massa ao passarmos
do modelo aristocrtico ao da ideologia individualista, hedonista, alienao ou
ao domnio das necessidades pela seduo. Ele explica:
Entramos na era do Hiper, caracterizada pelo
hiper-consumo, pela hiper-modernidade e pelo
hiper-narcisismo. Encontramos assim a passagem
do capitalismo de produo para uma economia
de consumo e de comunicao de massa
(LIPOVETSKY, 2004:67).
E a disseminao do jeans se acentuou paralelamente exploso do
movimento musical Rocknroll na metade dos anos 50, atingindo no s o

34

pblico americano (incluindo aqui os habitantes da Amrica do Sul), mas


tambm o europeu. Quando Elvis Presley cantou e danou em Jailhouse rock
(1957), seu uniforme em denim transmitia com ele uma imagem potente e viril.
A imagem dos cantores de rock, assim como os versos de suas canes,
representam em si uma mensagem de ruptura diz Calanca (2008:191).
Ruptura essa que fez com que de l para os dias de hoje, o jeans e o rock se
tornassem inseparveis, consolidando-se como a expresso cultural da
juventude, nas palavras de Hobsbawm (2000).
Nos anos que se seguiram, o fenmeno Rockn Roll envolveu grupos jovens
em jeans e nomes como Beatles, Janis Joplin, Brian Jones, Jimi Hendrix e
tantos outros colocaram a Inglaterra em destaque na moda, bem como na
msica, embora os Estados Unidos ainda tivessem um forte papel influenciador
atravs do seu ideal de felicidade: The American Dream. A Califrnia se
tornou um lder inspirador com a filosofia Beach Boys: do sol, surf e diverso. O
Estado dourado parecia-se como o paraso.

.
Fig.14 - Dcada 1970
Cala pintada. Fonte:
populuxebooks.com

Fig.15 - Dcada 1970


Look em jeans.
Fonte: Pucci jeans

Fig.16 - Cala em
patchwork. Fonte:
Kioto Moda, 2007

Em meados de 1960, o aumento do movimento hippie (com suas idias


pacifistas e comunitrias) em San Francisco manteve a ateno sobre a Costa

35

Oeste e previsivelmente o denim foi encontrado para ser o tecido ideal: barato
e funcional, no qual as pessoas pudessem expressar sua prpria identidade.
Os hippies inscreviam nas calas jeans suas mensagens, seus bordados, suas
flores, seus tecidos coloridos em forma de aplicaes. A liberdade que alguns
hippies e msticos pregavam ao lado da paz e do amor livre, trazia junto o
desprezo roupa limpa e arrumada, uma vez que, para eles, era um sinal de
comprometimento com o sistema. Vemos agregada a uma outra marca s que
o jeans j havia incorporado. E esse despojamento dos hippies serviu de
inspirao para os grandes fabricantes, que perceberam a oportunidade de
inovar nos acabamentos e produzir seus jeans j com esses aspectos.
O jeans assume ento um outro valor, diferente daquele original: o da
legitimao cultural que, segundo Calanca, a base para que o jeans
alcanasse o status atual. Ela segue dizendo:
O blue jeans consegue superar quase todas as
divises de classe, sexo, idade e ultrapassar os
limites regionais, nacionais e ideolgicos para se
tornar a pea de vesturio universalmente mais
aceita. Segundo os historiadores do costume, o jeans
sofreu um processo de legitimao cultural que o levou
a adquirir significados diferentes daqueles iniciais, de
outra forma no se explicaria como essa pea de
roupa monocromtica e nada refinada conseguiu
exercer tal fascnio. Considerando sua origem, a longa
identificao com a imagem do trabalhador, do duro
trabalho fsico, do oeste americano, os socilogos
afirmam que grande parte da mstica do blue jeans
parece derivar de sentimentos populares de
democracia, igualdade, independncia, liberdade e
fraternidade. (CALANCA, 2008:194).
Na dcada de 1970 essa legitimao cultural se solidifica atravs de um outro
movimento urbano: os Punks, que mesmo sem inteno, tornaram-se grandes
influenciadores do mercado de jeans, at o contemporneo.
Embora tendo como origem os grupos chamados de Garage Band em NewYork, os Punks eram o perfeito espelho da sociedade inglesa em 1977. Nessa
poca a Inglaterra passava por uma grande crise econmica e o ndice de
desemprego era alarmante. Esses jovens tinham nenhuma ou muito poucas

36

oportunidades profissionais. Contestavam o sistema atravs da sua msica,


das atitudes irnicas e niilistas e do seu visual agressivo.
Grupos

de

rock

influenciaram

toda

uma

gerao,

pelas

atitudes

(anticonformistas, rebeldes e contestatrias), pelas letras das msicas (ou


ausncia delas), pelos sons desconexos e ensurdecedores. Tornaram-se,
como se denominava na poca, a tribo urbana mais contestadora, inclusive
na indumentria: o jeans detonado, sujo e rasgado, preso muitas vezes por
alfinetes, adornado com metais dos mais diversos, juntamente com couro
preto, tatuagens, piercings e cortes de cabelo inusitados tornaram-se a
identificao exterior da sua revolta (BOLLON, 1993). Sua imagem sobrevive
at nossos dias, embora esvaziado das significaes originais. Seus
esteretipos, hoje esto por toda parte: jeans rasgados e com aspecto de sujo,
demandam mudanas na indstria para obt-los antes da sua comercializao,
para todas as classes sociais; piercings e tatuagens so utilizados
indiscriminadamente por vrios grupos urbanos; taxas, rebites e ilhoses so
adotados at mesmo pela alta-costura. A mistura de materiais aparentemente
dspares na elaborao de uma pea torna-se comum. Na dcada de 1980,
estilistas como Vivienne Westwood e o belga Walter van Beirendonck (hoje
diretor criativo do departamento de moda da Antwerp Fine Arts Royal
Academy) ajudaram a disseminar esses signos.

Fig.17 - Punks em Paris,1979.


Fonte: Profiles.friendster.com

Fig.18 - Beirendonck, 1997.


Fonte DERYCKE

37

A inglesa Vivienne Westwood, casada com um


dos precursores do movimento Punk, adotou
seu estilo, incorporando a nova esttica dos
rasgos, dos desfiados, dos furos nos tecidos
para a passarela de moda em 1980.
Nos anos 80, o marketing e a publicidade de
moda caminharam para uma nova abordagem,
relacionando as imagens dos produtos das
marcas ao comportamento do pblico-alvo. As
campanhas passaram a dar nfase ao apelo
emocional,

atribuindo

mais

importncia

associao da emoo e identificao com a


Fig.19 - Vivienne Westwood,
desfile 1980.
Fonte: DERYCKE, 1999.

marca do que s qualidades e caractersticas


dos produtos. As primeiras marcas brasileiras a
aderirem ao novo formato de promover conceitos

ao invs de vender apenas produtos foram, em sua maioria, as que tinham um


pblico consumidor jovem, como a Triton e a Zoomp. Na poca, elas
conquistaram o consumidor com campanhas que demonstravam atitude e um
estilo de vida moderno (ZIBETTI, 2007).
I.3.B - Sedimentao Brasil
No Brasil o jeans incorporado a nossa cultura como produto da sedimentao
de um processo diferente daquele que o legitimou na cultura americana.
Seguindo o pensamento de Harvey, ele alinha-se a uma racionalidade
econmica capitalista tradicional que se revelou tipicamente concentracionista,
sustentando-se numa economia em busca do acmulo de riquezas. Ele aponta
a crise do incio dos anos setenta como um perodo de transio de um padro
de acumulao capitalista rgido (que ele denominou fordismo) e suas foras
produtivas. Essas novas experincias nos domnios de organizao industrial
surgem simultaneamente aos primeiros indcios de um regime de acumulao
inteiramente novo, associado com um sistema de regulamentao poltica e
social bem distinta: a Acumulao Flexvel.

38

Esse termo criado por Harvey, define as inovaes no processo de produo,


novas maneiras de fornecimento de servios financeiros, novos mercados,
novas tcnicas, ou seja, uma corrida em busca do moderno, do atraente. Na
verdade seria uma revoluo em todos os setores, surgindo um novo ciclo de
compreenso do espao-tempo. Explora a ligao com as novas prticas e
formas culturais, considerando: a contribuio das novas tecnologias, o
surgimento de uma prtica de obsolescncia das coisas, o papel do consumo,
da moda e a manipulao de opinio e gosto, a partir da construo de novos
sistemas de signos e imagens.
Os jovens brasileiros absorveram, como os europeus, o ideal de vida
disseminado atravs de filmes, cuja indstria ia a todo vapor: o America way of
life, e com ele, usos e alguns costumes.
Aqui no Brasil a empresa Roupas AB de S. Paulo havia lanado em 1948 a
primeira cala de brim azul: a Rancheiro. Por ser um material muito rgido,
no obteve muito sucesso, mas o jeans, durante muito tempo, foi conhecido
por esse nome. Um pouco mais tarde a Alpargatas lana as calas Rodeio
confeccionadas com o brim Coringa, porm apenas em 1956, quando lana as
calas Far-West que o mercado comea a olhar para o produto nacional
como as calas que resistem a tudo. Anos mais tarde, quando comeava o
processo de desgaste e amaciamentos mecnicos-qumicos, era comum
encontrarem-se pedras pome (usadas no processo stone washed) nos seus
bolsos.

as

Fig.20- Propagandas das 1 calas jeans fabricadas no Brasil. Fonte: site bricabrac.com.br

39

Em 1947, no entanto, a importao se fazia atravs do catlogo de vendas da


americana Sears, Roebuck and Co, que j oferecia Blue Jeans com
modelagem especial para mulheres e calas em ndigo blue, em estilo cowboy,
para adolescentes e rapazes.
A importao de jeans americano, no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro e
So Paulo, durante a dcada de 1960 era grande. Os jeans eram chamados de
cala Lee pelos jovens burgueses, devido distribuio, quase que exclusiva,
desses jeans americanos no comrcio das lojas, chamadas importadoras.
Essas calas eram as mais cobiadas pela juventude pelos signos que
estavam

instalados

em

sua

configurao:

liberdade,

autenticidade,

contestao, rebeldia etc.


Impossvel deixar de citar Renato Teixeira, ao criar o jingle com o qual a
marca US Top veiculava, em rede nacional de televiso, a publicidade de seu
produto. Todo o Brasil reconhecia e sabia cantar: Liberdade uma cala
velha, azul e desbotada, que voc pode usar do jeito que quiser (no usa quem
no quer). US Top desbota e perde o vinco (denim ndigo blue). A idia
associa claramente o uso da cala liberdade, mas principalmente,
estabelece, mais uma vez, uma direta crtica ao satus cuo, ao vesturio
tradicional, ao citar o inverso do que era esperado na poca em que foi lanado
o Tergal e o Nycron em calas que no amassavam e nem perdiam o vinco-.
As calas Lee, aos poucos, comearam a dividir espao com as produes
nacionais.
Esse processo de valorizao do produto nacional veio tambm pela
conscientizao dos fabricantes da necessidade de melhoria na qualidade das
peas, para que pudessem concorrer com os importados. Assim, em meados
da dcada de 1990, a top model brasileira Gisele Bndchen se consagra no
cenrio da moda global, ajudando a divulgar ao mundo a beleza da mulher
brasileira e despertando, tambm, o olhar do mundo para a cultura nacional e
para os produtos made in Brazil. E as marcas de jeanswear brasileiras como
Frum, Zoomp e Ellus, j solidificadas aqui, comeam a exportar seu produto.

40

Empresas como a Santista e a Vicunha


passaram a fabricar o tecido denim,
tornando-se hoje, umas das maiores
exportadoras desse produto.
Segundo dados do IEMI (Inst. de
Estudos e Marketing Industrial), o pas
produz (com dados de 2008) em torno
de 25,7 milhes de metros de tecidos
denim por ms. A empresa Vicunha
responsvel por cerca de 12 milhes de
metros a cada ms e a Santista, produz
8,5 milhes. Cedro Cachoeira, Canatiba
e Santana Txtil tambm ocupam

Fig.21- Gisele Bndchen em shorts jeans.


Fonte: 4.bp.blogspot.com

posies relevantes no mercado nacional.


A produo de calas jeans no Brasil seguiu um ritmo crescente at 2007,
tendo tido uma ligeira queda em 2008, face crise econmica mundial. A
tabela abaixo nos traz os dados da produo nacional dos ltimos anos,
segundo o IMI:
2000 - 155.174.000 peas
2001 - 193.530.000 peas
2002 - 196.464.000 peas
2003 - 198.467.000 peas
2004 - 204.207.000 peas
2005 - 216.521.000 peas
2006 - 217.180.000 peas
2007 - 225.476.628 peas
2008 - 223.627.719 peas
Atualmente esse mercado movimenta R$ 8,2 bilhes por ano, segundo dados
da ABIT (Associao Brasileira da Indstria Txtil e da Confeco).

41

I.3.C - Ampliao do conceito Jeans


O incio da grande revoluo industrial do prt--porter, (ou read to wear)
onde a produo em srie perde o estigma de roupa para as classes menos
favorecidas, pois eram mal cortadas e de acabamento duvidoso e passa a ser
o grande caminho da moda. A que atende a vrias estratificaes scioeconmicas, de maneira rpida, na verdade imediata, sem as esperas comuns
de alinhavos e provas at que a roupa estivesse pronta.
Estabelece-se tambm a, o incio das mudanas experimentais na moda, cujo
resultado inferior comea a ser aceito.
Daniela Calanca, nos ilustra dizendo que Desde seu surgimento, o prt--porter
representa uma inovao, pois a lgica implcita nele a de eliminar da imagem
pblica, a conotao negativa das confeces em srie tradicionais. A inteno dar
um novo valor estilstico ao produto industrial associado - de incio - s fibras
sintticas (CALANCA, 2008:206).
O fruto do uso hard das profisses que o utilizavam a princpio (mineradores,
camponeses, vaqueiros etc): desbotados, pudos, furos, esgarados passam a
ser sistematicamente fabricados atravs de interferncia mecnica de
abrasivos como rebolo, esmeril, lixas, pedras etc e o amassado, resultante do
uso comum de qualquer pea de vesturio, passa a ser reproduzido
industrialmente por procedimento qumico-fsico (ver o captulo sobre jeans
design

tecnologia).

Assim,

sucessivamente,

manchados,

desfiados,

repuxados saem do universo jeans para se transmutarem em malhas


desbotadas, bainhas sem acabamento, cortes irregulares, furos e rasgos
propositais nas mais diversas peas e com os mais diversos materiais.
Na Europa, por volta de 1968, Saint Tropez, que era o principal centro de
influncia da moda, comeou a ver o denim retrabalhado em bons, bolsas,
sapatos. Os fabricantes, aproveitando a receptividade, aumentaram os seus
experimentos com qualidades, lavagens, cores e padres diferenciados.
Mas medida que se inicia a dcada de 1970 e durante alguns anos,
aconteceu uma coisa incomum no mercado de moda: o jeans se torna o grande
influenciador do mercado europeu. Fabricantes como Peter Golding (Reino
Unido), Fiorucci (Itlia) e Marith et Franois Girbaud (Frana) tomam o denim
como matria prima e diversificam o estilo do que comearam a produzir.

42

Foram alm do americano original. Cinturas abaixo da linha tradicional das


calas, tachas e rebites com brilhos e bocas de sino ganham grande
popularidade entre os consumidores incessantemente vidos por variedade.
Vestia-se total denim: jaquetas, calas, bermudas, shorts, apareceram vestidos
e at mesmo a alta-costura francesa comeou a experimentao com denim - o
tecido do trabalhador tinha sido aceito por todos os nveis da sociedade. O
denim acabou criando uma nova moda, um novo estilo na Europa e que foi
prontamente aceito na maioria dos pases do mundo ocidental.
A pronta aceitao neste momento se deu pelo fato de que os respeitveis
adultos passaram de imagem modelo a imitadores dos seus filhos atravs do
uso de denim.
Nesse cenrio, a cultura jeans, indelevelmente associada juventude que
todos queriam (e ainda querem) passa a simbolizar a condio de ser
eternamente jovem.
O jeans propiciou tambm a fantasia de estilos. Liderados a partir do powerflower do movimento hippie - foram embelezados como nunca antes, muitas
vezes, a nveis duvidosos (tal excesso de ornamentos) com bordados,
aplicaes de patches (ver glossrio, pg.124), miangas e paets, tachas,
ilhoses (ver glossrio, pg.123), etc. enfim, com mil detalhes nas suas j
enormes bocas de sino. Sua superfcie tambm servia como uma espcie de
tela para smbolos, desenhos e mensagens que expressavam sua filosofia.
A dcada de 1970 traz tambem, como vimos, um dos movimentos mais
significativos em termos de radicalizao do vesturio: o Punk. Eles se
apropriaram do jeans rasgado como uma segunda pele, fazendo dele um dos
seus esteretipos mais consumidos na poca e cujo visual tem sido re-visitado
at hoje, como inspirao para novas colees.
Essa esttica anticonvencional, que nasce a partir do jeans, no nosso
entendimento, estabeleceu a possibilidade da sua apropriao por outros
segmentos do vesturio. Ganharam mercado os tecidos manchados, crepes
amassados, malhas esburacadas, trabalhos em patchwork etc.
Vemos tambem nessa mesma dcada, o surgimento do movimento da escola
Belga, tendo como principais representantes: Anne Demeleumeester e Martin
Margiela, que com seu desconstrutivismo (ver glossrio, pg.120), reforam a

43

idia do no convencional. Trabalhos voltados para um resultado de


desestruturao, tanto da imagem do corpo real, como dos acabamentos
formais ou da modelagem.

Fig.22- Martin Margiela e o desconstrutivismo no vesturio.


Fonte:www.maisonmargiela

A esse movimento, somaram-se outros: o Grunge (ver glossrio pg.122)


inspirado no movimento musical homnimo nos Estados Unidos e o Pauperism
(ver glossrio pg.124), como era chamado na Frana, tendo como principais
defensores os estilistas japoneses. Ambos apoiavam-se no despojado,
sugerindo conforto acima de tudo, com
roupas amplas, desestruturadas e um clima
naturalista,

quase

artesanal.

Os

dois

movimentos contribuiram para que a imagem


de moda se orientasse em uma nova
direo:
inusitados,

cortes

assimtricos,

peas

sem

volumes

acabamentos,

sobreposies dspares, o avesso utilizado


como direito, subvertendo toda a percepo
tradicional do que se considerava, na poca,
uma roupa bem feita.
Rei Kawakubo, quase ao mesmo tempo,
adota uma atitude semelhante e polmica.

Fig.23- Rei Kawakubo em 1981).


Fonte: DERICKE, 1999

Desde seu primeiro desfile em Paris (no ano de 1981) para sua marca Comme
des Garons, foi considerada um marco de renovao da moda. Mesmo

44

conhecendo bem as tradies da alta-costura francesa, com seu rigor no corte


e preciso na costura, vai buscar no streetstyle londrino, inspirao para o seu
trabalho criando uma linguagem nica, apresentando roupas de malha com
furos como se houvessem desfiado ou rasgado, palets abotoados nas costas
ou colees inteiras sem acabamentos nas bainhas.
I.3.D - Jeans seduo
O culto ao corpo, que a partir do incio dos anos 1970 retoma a tendncia
iniciada, no incio do sculo XX, atinge o seu auge na dcada de 1980,
responsvel tambm pela hedonista e saudvel mania do jogging, ginstica
aerbica e suas atividades derivadas.
Nessa poca surge um cone que personifica
esses ideais de corpo e mente direcionados
para

juventude:

pop-star

Madonna.

Brincando com todos os tabus e clichs mais


comuns, Madonna apresenta seu corpo como
algo extremamente sexualizado e ao mesmo
tempo, construdo: um corpo elaborado,
resultado da ginstica aerbica, musculao e
dietas. Madonna, como percebemos, carrega
at hoje a premissa dos anos 1980, segundo a
qual possvel modelar-se e tornar-se o que se
desejar (CALANCA, 2008).
Fig.24- Madonna dcada de 1980.
Fonte: http://4.bp.blogspot.com

Essa modelagem do corpo, que nas dcadas


subsequentes atinge nveis surpreendentes

pela facilitao em suaves prestaes de intervenes cirrgicas, lipoesculturas, silicones, botox etc, promove um aumento gradativo da exposio
dos corpos, agora impostos e igualitados pela mdia (VILLAA, 2007).
Baudrillard estabelece o dilogo com o marketing, colocando que Seduzir
morrer como realidade e se produzir como artifcio (BAUDRILLARD apud
CATOIRA,

2006:

contemporaneidade.

35).

Essa

premissa

encontra

consonncia

at

45

Na sua dissertao de Mestrado: Moda e Comportamento nas Sociedades


Cariocas, Anna Clara reflete que:
O universo da moda nos oferece infinitas possibilidades
de comunicao com as pessoas dentro de uma
sociedade, que interagem com as ambies de cada
indivduo, de acordo com seu poder em discernir os
cdigos apresentados por um verdadeiro"cardpio" de
construes da imagem. [...] Estamos o tempo todo,
conectados com um mundo imagtico que nos impregna
incessantemente de novos conceitos, novas
possibilidades formadoras do vestir e, principalmente,
do pensar (sujeitos manipulados), e j que copiar
natural do ser humano, estamos sempre nos
apropriando de histrias distas da nossa realidade,
dando-lhes apenas um olhar particular ao que j est
criado (e na maioria das vezes sancionadas pelo
nosso grupo social), sempre buscando comunicar uma
identidade, onde manipular a partir da, seu prprio
personagem ("parecer ser") est na regncia autnoma
de conjuno das peas de nossas roupas, que iro
participar sociedade a construo de nossa imagem,
seja ela autoral (dotada de estilo prprio) ou movida pela
rigidez da "ditadura" da moda (quando delega o que
devemos usar e o que devemos descartar) (TAVARES,
2007:18).
Somando o desejo real ou imposto pela mdia
ao excesso de produo da dcada de 1980,
grandes

mudanas

urgiam.

fabricao

acabou se tornando um problema em relao


demanda, pois ela no acompanhou o mesmo
ritmo de crescimento - estimava-se que,
mesmo

na

Inglaterra,

relativamente

um

mercado pequeno, havia mais de 100 marcas


de jeans em 1982.
Houve, por conseqncia, uma reviravolta na
relao produo X consumo e uma queda nas
Fig.25- Brooke Shields, 1981.
Fonte:Site da marca.

vendas, tendo em vista um mercado que agora


se tornara muito competitivo. Na busca pela

manuteno e at mesmo aumento do volume de peas comercializado,


fabricantes

de

jeans

usaram

como

estratgia

diferenciao

pela

46

autenticidade, outros pelo luxo, pela seduo, pela modelagem, pelo design
etc.
Todas as estratgias se mostraram eficazes, mas desde que Calvin Klein
colocou Brooke Shields, ento a ninfeta do momento, num imenso outdoor na
Times Square em New York com a afirmao: entre eu e o meu jeans no
existe mais nada, a sensualidade se instala definitivamente ao lado do jeans.
Ela est presente na concepo, na matria prima, na modelagem, na atitude
do uso e na publicidade das marcas de jeans, at hoje, como veremos adiante.
A preocupao esttica da modelagem dos corpos vem de encontro
exposio desse corpo atravs dos tecidos stretch. O jeans ganha, ento um
flego a mais, pois, pela sua estrutura mais forte do que os tecidos de Lycra
(marca da malha construda com fio de elastano, pioneira nesse segmento),
alm de colar ao corpo como uma segunda pele, ele o sustenta, promovendo
e facilitando sua re-modelagem.
A primeira empresa a fabricar o jeans com essa mistura foi a Leger Milk, da
Itlia, no final da dcada de 70, que passou a produzir o denim com certa
porcentagem de fibra elstica, com a proposta de fazer com que a roupa
tomasse formas mais prximas ao corpo. A princpio, a idia
teve poucos adeptos, mas algum tempo depois, quando a
Levi's lanou a linha feminina no Reino Unido, as inglesas,
literalmente, aderiram tendncia. Na dcada de 1980,
ento, encontrando consonncia com o cenrio do qual
falamos anteriormente, essa juno se solidifica se espalha
pelo mundo ocidental.
Vemos tambm que a relao do sujeito contemporneo
com seu corpo se revela em constante mutao, derrubando
as barreiras que impeam a sua plena realizao. As
ltimas dcadas viram a eliminao das fronteiras, entre o
corpo sadio e o doente (avanos das cincias mdicas), o
masculino e o feminino (gays liberando componentes

Fig.26- Exibio do
corpo atravs do
jeans.
sannasjeans.com

femininos na masculinidade e lsbicas, o inverso), corpo normal e anormal


(prteses), sexualidade e bissexualidade flor da pele ou o sexo distante do
toque pelas simulaes eletrnicas etc. (COURTINE, 2008). Abre-se ento

47

espao para a revelao desse corpo em pblico, de vrias maneiras. Uma


delas...O Jeans.
Aqui no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, o movimento musical Funk
que deu origem aos bailes de mesmo nome, expem os corpos e as atitudes
sexuais de maneira aberta, utilizando o jeans como veculo dessa exposio.
A partir do final da dcada de 1980 constatou-se ento a supervalorizao do
jeans em designers como Marith e Franois Girbaud, Katharine Hamnett,
Calvin Klein, Paul Smith, e em marcas como Diesel, Miss Sixty, Replay, Forum
e Zoomp entre outras. Essas griffes fabricavam regularmente denim nas suas
colees, muitas vezes, executando uma completa linha de produtos, usando a
sensualidade e at mesmo a sexualidade, colocando-as num papel mais
evidente, como estratgia de marketing.
As publicidades passam a utilizar imagens mais agressivas e a sensualidade
que at ento era sutil, se torna cada vez mais evidenciada, alm da
explorao das formas e dos corpos ou da insinuao do ato sexual. Estratgia
essa que surtiu grande efeito para os amantes de jeans e da Calvin Klein,
Fiorucci, Diesel e outras.
Algumas reprodues das publicidades de marcas de jeans a seguir, nos do a
dimenso dessas apropriaes sensuais e do quo explcitas elas se tornaram
ao longo das ltimas dcadas.

Fig.27- Jeans Fiorucci, final de 1980. Inicio da


sensualidade. Fonte: Sportswear ed. 48.

Fig.28- Calvin Klein, final de


1980 Fonte: Sportswear ed.
48

48

Fig.29- Frum, 1988 Fonte:


o
Vogue Brasil, n 246

Fig30- Calvin Klein Jeans


Fonte:Huiguang, 2007

Fig.31 - Publicid.Jeans,1990:
Fonte:Sportswear ed.48

A partir da muitas marcas de jeans vem se utilizando dessa estratgia como


forte elemento de marketing, pois a seduo passou a ser um dos motivadores
de maior demanda no consumo. A imagem sexy est estreitamente ligada ao
jeans. Algumas marcas, inclusive, tiveram suas campanhas recentes proibidas,
tal exagero de explorao de imagens sexuais como, por exemplo, a da Dolce
& Gabbana de 2008, que sugere uma curra.

Fig.32- Armani, 2007.Fonte


o
Rolling Stone n 13/ 2007

Fig.33- Diesel, 2007. Fonte Rolling


o
Stone n 13/ 2007

49

Fig.34- Dolce Gabana, 2009


Fonte: site da marca

Fig.35- Fonte: site da marca: Calvin


Klein, 2009

I.3.E - Autenticidade e novos mercados


As principais empresas pioneiras em jeans, ao contrrio, no lugar da conotao
sexual, usaram estratgias de autenticidade para resolver o problema da
escassez de demanda. A Levi's, por
exemplo, sugeriu voltar s bases e,
ao relanar o modelo 501 com
diversas lavagens, resgatou o que
tinha sido sempre: um item cult,
mas

transformado

em

uma

tendncia de massa.
Ainda ao longo da dcada de 1980,
esses

valores

receberam

plena

aceitao dos recm formados, dos


jovens

promissores,

dos

estabelecidos gerentes de vrios


Fig.36 -Relanamento Jeans Levis 501.
Fonte: revistacatarina.com

setores.
dinmicas

Eles

se

mulheres

somaram
que

agora

50

comearam a se impor no mercado de trabalho, formando um novo grupo


urbano: o dos yuppies.
Esses bem sucedidos profissionais reforaram a idia da tradio tambm, pois
queriam ser vistos na forma correta e autntica do vesturio. Nesse aspecto,
empresas como Hugo Boss, Levis e outras tantas, atenderam perfeitamente
demanda atravs de peas com um design clssico, com pouco ou nenhum
efeito de lavagem, apenas amaciado. Esses consumidores jamais imaginaram
que haveria nas suas regras de conduta no trabalho, um dia especfico para o
jeans: the fridaywear (costume criado nos Estados Unidos e logo adotado
pelo mundo, atravs das empresas multinacionais). A sexta feira onde o rigor
do palet e gravata ou do tailleur estaria liberado, pressupondo que aps o
expediente, o happy hour daria incio ao fim de semana. Essas pessoas
jamais imaginariam tambm que estariam resgatando, atravs de seu traje de
lazer, a idia do uniforme de trabalho original.
Os anos de 1990 seguiram o caminho natural do mercado aps um grande
volume de vendas: o do habitual declnio relativo. Apesar dos rumores
ocasionais nessa poca, o denim nunca iria morrer, mas a indstria teve e
continua tendo de recorrer a novos truques para seduzir o consumidor. Novos
pesos, novos ligamentos, novas cores so desenvolvidos; lavagens inovadoras
tornam-se um trunfo precioso. Os designers vivem procura de algo fresco
para, a cada estao, comear de novo.
Nessa dcada, a indstria do jeans j est
consciente de que um nmero crescente de
consumidores est preocupado com questes
ambientais, com o consumo desenfreado, com
as posturas politicamente corretas. tambm a
dcada em que se inicia em grande escala, todo
o processo da reciclagem, em que se valoriza o
conceito da sustentabilidade e da informao
que coloca a gua como um bem finito.
Por outro lado, se torna consciente tambm de
Fig.37- Hugo Boss, 1990.
Fonte Sportswear ed. 48

que ela mesma uma indstria altamente


poluidora,

portanto

recursos

precisam

51

comeam a ser investidos para que a sua indstria, principalmente os dois


extremos da cadeia produtiva (o tingimento do fio e as lavagens no
acabamento) contribuam para a diminuio dos danos ambientais.

Fig.38- Estao de tratamento de gua. Fonte:Catlogo Comask.

Temos assim a evoluo do mercado orgnico e sustentvel que vem


ganhando fora em indstrias desse segmento. Tanto que cerca de 50% das
800 marcas que expuseram na Bread and Butter Barcelona - Janeiro/2009,
continham produtos com essas exigncias em suas colees. Os estandes,
montados com materiais reaproveitados, ganharam espao significativo para a
exposio de peas que se apresentavam com uma comunicao nica
atravs de tags, selos e etiquetas.
Confirmaram dessa forma, que atitudes ecologicamente corretas se tornaro

Fig.39- Loja da den, pioneira em jeans 100% orgnico no Brasil.


Fonte: guiajeanswear.com.br/2009

52

obrigatrias dentro do desenvolvimento das colees jeanswear para


sobrevivncia das marcas no mercado nos prximos anos. Aqui no Brasil,
depois de quatro anos de pesquisas, chegou ao mercado, em 2008, a primeira
marca nacional com uma coleo desenvolvida com produto 100% orgnico
(den). A marca controla seus artigos, desde o plantio (o de algodo orgnico,
livre de agrotxicos) at o produto final. Todas as etapas so acompanhadas
por profissionais qualificados para garantir os padres determinados pela Now Natural Organic Association e IBD - Instituto Bio Dinmico, instituies
reconhecidas nacional e internacionalmente nesse segmento.
Do produtor do algodo, passando pelos processos de fiao, tinturaria,
tecelagem, confeco, lavanderia e logstica de distribuio, somamos os
fabricantes de aviamentos e insumos txteis, motoristas etc, no Brasil, cresce a
fatia do mercado trabalhando direta ou indiretamente em torno dele.
Utilizando uma mistura de inovao, investimentos em produo, estilistas
talentosos e macia propaganda, o Brasil se tornou uma potncia entre os
maiores fabricantes de denim do mundo, cujo setor movimenta, como j
apontamos, mais de R$ 8,2 bilhes anualmente. No toa, grandes empresas
nacionais como Vicunha, Santista e Cedro Cachoeira vm investindo pesado
em inovao, produo e exportao. As duas maiores produtoras de jeans do
Brasil, Vicunha e Santista, investem boa parte de seus faturamentos nesses
laboratrios.
A Vicunha (criadora do jeans com fios de ouro para o mercado Premium), e a
maior produtora de denim no Brasil, injetou, nos ltimos trs anos, R$ 150
milhes em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. A Santista ocupa
o terceiro lugar no ranking mundial de produtores de denim e destina 0,5% de
sua receita de R$ 1,1 bilho ao desenvolvimento de novas idias.
No pas, mais especificamente em So Paulo, esto representadas as
principais lojas de jeans do mundo. Ao passear pela Oscar Freire, por exemplo,
smbolo do status e da elite, possvel visitar uma loja das grifes italianas
Diesel ou Replay e da californiana Miss Sixty, algumas das mais badaladas do
universo de jeanswear. A segunda loja da Diesel, no shopping Iguatemi, a
unidade da marca que mais vende por metro quadrado no mundo. E o caminho
inverso feito pelos talentosos estilistas brasileiros, que criam jeans cujos

53

cortes valorizam o corpo da mulher. Tanto que Zoomp, Colcci, Frum e outras
exportam seus jeans regularmente e Carlos Mile, da M.Officer, acaba de
inaugurar uma loja em Paris. (vitrineoeste.com.br).
Como curiosidade, a Forbes organizou uma lista interessante: a dos jeans mais
caros da histria. Entre os vrios modelos de designer e peas customizadas
com cristais e jias, o nmero um ficou com uma pea muito antiga. O jeans
Levis com 115 anos de idade foi leiloado recentemente no e-Bay americano
por incrveis 60 mil dlares (hypedesire.blogtv.uol.com.br), provando que, em
se tratando de jeans, a autenticidade leva vantagem sobre o luxo.

Fig.40 - Jeans Levis com 115 anos. O mais caro


do mundo. Fonte: /hypedesire.blogtv.uol.com.br

E o jeans vai alm. Invade outros mercados saindo do vesturio para a loja de
decorao, para a de acessrios, brinquedos, para a galeria de arte tanto como
matria prima quanto como objeto de contemplao etc. Ainda permite aos
que, no satisfeitos com o que lhes foi oferecido, reforcem a idia de
originalidade, imprimindo modificaes constantes, pessoais e nicas ao longo
da sua existncia. A seguir alguns exemplos desses novos mercados invadidos
pelo jeans, quer utilizado como matria prima, quer como objeto de
contemplao.

54

Fig.41 - Fraldas jeans


para beb.
Site da marca

Fig.42 - Figurino para bal.


o
Fonte: Revista Veja, n 22 de 2008

Fig.43 - Griffes famosas como Dolce & Gabana e Louis Vuitton investem em acessrios jeans.

Fig.44 Capacete jeans.


Fonte:Bemlegaus.com

Fig.45 - Tnis Levis.


lojavirus.com.br.

Fig.46 - All Star.


Radarurbano.com.br

55

Fig.47 - Poltrona.
Designboom.com

Fig.48 - Sof em jeans. Fonte: Sulit.com.ph.

Fig.49- Ronaldo Fraga


desenvolve caderno em Jeans

Fig.50- Painel com calas jeans resinadas.


Fonte: Delirius Denim.

Fig.51- Caroline Calvin com 32 calas


jeans.Fonte: revistacatarina.com.br

Fig.52- Quadro de Pasquale


Lecreux. Fonte: br.artmajeur.com

56

II. PROCESSO CRIATIVO CONTEMPORNEO


David Harvey, no seu livro A Condio ps-moderna nos traz uma reflexo
significativa para a compreenso das mudanas poltico-econmico-sociais do
sculo XX, facilitando o entendimento da dinmica da vida contempornea cujo
incio, a maioria dos autores situa na segunda metade do sculo XX. Traz
inovaes marcadas por novas condies de trabalho para suprir a demanda
vigente; traz o afloramento da indstria cultural e de entretenimento e com ela,
a indstria da produo de imagem que reorganiza nosso corpo, nossas
maneiras, o tipo de indumentria e tudo o que fundamental para a
experincia contempornea (HARVEY, 2003).
Por outro aspecto, os argumentos de Harvey alinham-se ao pensamento de
Jameson ao pontuar que a ps modernidade caracteriza-se como o perodo
do fim dos grandes relatos fim das disciplinas absolutas, do conhecimento
fechado, das grandes verdades, dos estilos puros... tendo como consequncia
a valorizao dos conhecimentos difusos, dos pequenos relatos, da inter ou
transdisciplinaridade,

promovendo

um

saber

ambguo,

muitas

vezes

contraditrio.
Essa viso compartilhada por vrios autores, como por exemplo, Daniela
Calanca, (2008) quando afirma: O ps-moderno... tambm ps-industrial,
enfatiza a parte ambgua e contraditria da racionalidade, tem uma viso crtica
da cincia e da tecnologia, e prope uma concepo do saber sem os
fundamentos que esto na base do projeto moderno. Reafirma ento a idia
da ps modernidade utilizar sistemas de concepo de produtos ou idias que
no so ortodoxas, mas fruto de experimentaes e misturas muitas vezes
incoerentes.
Outros autores ainda colocam, como

Lyotard, (1979) A fragmentao da

moda como grande relato - reflete a fragmentao cultural do ps-moderno,


e Jameson (2000) diz que uma caracterstica do ps-modernismo se
apropriar da condio da incerteza e da assimetria.
Abordando o processo criativo, no contexto desta pesquisa, vemos que a psmodernidade, ao se apropriar de uma diversidade de idias, coloca o uso do
jeans (trazendo consigo as marcas do trabalho) como uma pardia, ou

57

pastiche. Essas referncias que se mesclam na concepo do novo resultam


em peas hbridas, na maioria das vezes ambguas, mas que estimulam a
produo de um jeans enquanto objeto de moda.

Fig.53 - A experimentao enquanto produto de moda. Marcas, manchas, rasgos, remendos,


assimetrias, lixados etc. Fonte: http://guiajeanswear

marca do designer de moda contemporneo, como John Galliano, Vivienne


Westwood, Jean Paul Gautier, Marc Jacobs, Anna Sui, Versacce, Issey Miyake
e tantos outros, valerem-se de inmeras fontes de inspirao, duplicando
estilos de diversos perodos, frequentemente justapondo-os na mesma
coleo, ou misturando elementos de estilos diferentes no mesmo traje
resultando em peas absolutamente criativas e inusitadas. E nesse caso,
vemos a histria do jeans recontada por procedimentos criativos.
Rick Poynor complementa, trazendo uma reflexo do ponto de vista do sujeito,
que agora perde a sua estabilidade, dizendo que o principal alicerce da psmodernidade, se baseia no fato da
Sociedade contempornea estar composta por
vrios grupos diferenciados, com estilos de vida e
gostos distintos, nos quais no se justifica a
manuteno dos extremismos das vanguardas
modernas (POYNOR, 2002:98).
O jeans a pea, dentre todas do nosso vesturio, que ilustra de maneira
contundente esses novos procedimentos, ao corporificar em suas formas e
processos de produo do design de moda ps-moderno. Ele personifica os
pequenos relatos definidos pelo uso, como estratgia produtivo-criativa.
Seus usurios se apropriam desses relatos que constituem a histria do
jeans - e que, via de regra, no so os seus prprios e incorpora tais signos
sua histria pessoal... Muitas vezes, uma histria escancaradamente mais

58

antiga que sua prpria existncia. Peas


que, como as da imagem, demandariam
aproximadamente trinta anos de uso para se
conseguir tal aspecto.
A indstria, j a partir da dcada de 1980,
passou a atender a demanda desse novo
mercado, vido por novidades, adequando
seu maquinrio para provocar os aspectos
gastos, desfiados, rompidos, que como
vimos, ora se impunham como moda.
Foi a partir desse perodo que se ampliou o
desenvolvimento do "design de jeans Fig.54 - Bread&Butter Barcelona 2009.
Salsa Jeans. Foto da autora.

projetos de criao visando atender um


determinado

pblico,

acompanhando

de

perto os avanos tecnolgicos, as mudanas estticas e as informaes


veiculadas atravs da cadeia txtil.
Na contemporaneidade, em plena era globalizada, em que qualquer pea
bsica como o jeans - pode ser produzida em praticamente qualquer parte
do mundo, a colocao no mercado e a preocupao com a apresentao do
produto continuaro a fazer a grande diferena.
Hoje, temos uma facilidade maior de escolhas individuais, possibilitando e at
mesmo valorizando aqueles que fazem dessas opes, sua marca pessoal.
Essa atitude se diferencia, e muito, da postura adotada at a metade do sculo
XX (quando os criadores de ento determinavam o que seria usado), trazendo
tona uma preocupao maior dos fabricantes na concepo dos modelos
principalmente no que se refere sua originalidade, bem como na tecnologia
de fabricao e logstica de distribuio.
Nossa indstria tem se mostrado altamente criativa em vrias reas e
especialmente nas artes visuais, na msica e no design em geral, bem como
no de moda. sobre esse ltimo que as transformaes mais significativas
acontecem aqui, pois passamos de uma super valorizao do importado para a
busca e explorao do nosso potencial criativo. Canevacci diz sobre a nossa
ptria: Oferece um cenrio produtivo, em que tudo pode ser contaminado,

59

deglutido, entrelaado. Essa rica desordem pode romper o domnio cultural


daquela

mesma

modernidade,

ir

alm

sua

ordem

monolgica.

(CANEVACCI,1996: p.8). Trazemos, novamente, a discusso sobre a criao


na ps-modernidade, onde contamos ainda com as palavras do arquiteto
Robert Venturi, que no seu suave manifesto estabelece alguns elementos
que genuinamente contribuem para a compreenso da idia geral:
"Gosto dos elementos hbridos mais do que dos
'puros', dos comprometidos mais do que dos
'limpos', dos retorcidos mais do que dos 'retos', dos
ambguos mais do que dos 'articulados', corrompidos quanto annimos, [...] conciliantes antes que
claros e diretos. Sou mais pela desordem cheia de
vitalidade do que pela unidade bvia" (VENTURI,
1995: 1).
Notamos ento que, com grande facilidade, as alteraes que ocorrem nos
Estados Unidos, na Europa e no Oriente, so incorporadas nossa cultura. O
purismo, a norma, a ordem, a direo, a clareza e a articulao propostas pela
modernidade, perdem espao para o hibridismo, a ambiguidade, a distoro, os
equvocos e incoerncias permitidas na ps-modernidade, e que atravs
dessa anttese da harmonia e da esttica desenvolvida ao longo de sculos,
que o defeito vira efeito e passa a ditar as regras do novo fazer. (POYNOR,
2002).

Fig.55 - Exemplos de vrias performances do jeans contemporneo. Fonte:


www.guiajeanswear.com.br

60

Essas mudanas no se restringem, como vimos, a um campo especfico, mas


a todas as manifestaes da cultura humana. Muitas normas convencionais
foram descartadas, pois no se ajustam mais a esse novo pensar; outras,
porm, convivem com as novas tecnologias e as novas propostas, criando um
universo rico em experimentaes e solues criativas.
Em moda, tais produtos constituem fruto de um grande paradoxo tendo, por um
lado, a tecnologia, cada vez mais aperfeioada sendo capaz de inventar novas
fibras; produzir fios inteligentes; tramar construes txteis de incrvel
complexidade; elaborar modelagens com requintes de ergonomia e costuras
impecveis, utilizadas no sentido oposto, associando-se ao acaso, ao singular,
ao imperfeito.
Nesse percurso, o jeans, encabea a lista de exemplos, pois poderia ser
comercializada a partir do momento em que sai da oficina de costura, mas
antes, ganha vrias lavagens, cada vez mais agressivas que literalmente
destroem o tecido ou ainda se vale de sobre-tinturas com o propsito de causar
aspectos usados e at mesmo sujos, para a sim estarem prontos para se
exibirem nas vitrinas de moda. Outro paradoxo se delineia aqui, pois a mdia
de preo do custo de uma cala jeans (hoje, em 2009) de U$ 6,50. medida
que recebe lavagens e efeitos especiais que literalmente a destroem, mais
caras vo se tornando, chegando mesmo a cifras
com de 800% de aumento.
Na ltima dcada, o
jeans sai das ruas e vai
para as passarelas de
moda, no mais como
nos anos 1980, atravs
da Rainha dos Punks
Vivienne
como

Westwood,
smbolo

agressividade
rompimento
Fig.56 - J. F.Ferr, 2007.
Fonte: www.guiajeanswear

stablishment,
com

chancela

de
e
ao
mas
de

Fig.57 - J.Galliano, 2008.


Fonte: www.guiajeanswear

61

marcas consagradas da alta costura e do prt-a-porter, como Dior, Chanel,


Fendi, Prada, Gucci etc.

Fig.58- Maison Martin


Margiela, 2008. Fonte:
www.guiajeanswear.com

Fig.59- Chanel, Primavera


Vero 2008. Fonte:
www.guiajeanswear.com

A sua forma segue uma dinmica entre o conforto e a seduo ora


escondendo, ora revelando o corpo que a contm em modelagens reta, beggy,
over-size, bocas de sino, trompete, skinny, com cinturas que vo de pouco
abaixo do busto a pouco acima dos pelos pubianos.
Essas variaes tem ganho, na contemporaneidade, um diferencial que
contradiz a Destruio Criativa de Harvey, pois no lugar de aniquilar uma
forma para surgir outra, a simultaneidade o que caracteriza o mercado atual.
A partir desse pressuposto, colocamos a histria visual dessas transformaes
no Design das calas (Desenhos da autora, 2009) ao longo desses ltimos
anos. importante enfatizar a idia de que muitas dessas modelagens esto,
hoje, lado a lado nas ruas e nas vitrinas de moda, reforando a idia de que a
moda se preocupa em agradar s vrias segmentaes do mercado e ao
lifestyle de cada consumidor.

62

Tradicional (antifit)

Pata de Elefante

Semi-Beggy

Cowboy

Pantalona

Clochard

Sain-Tropez

Jogging

Oversised

Boca de Sino

Beggy

Five Pocket (501)

63

Hip-hop

Skinny

Cenoura

Reta

Cargo

Cropped

Cintura baixa

Cut boot

Alfaiataria

Cintura alta

Cavalo baixo

Fig.60 Vrios modelos de jeans nos ltimos anos.


Desenhos de Eliana Acar, 2009

Sarouel

64

Hoje, receptivamente, o denim mistura outras fibras na sua estrutura mais


ntima

(algodo/elastano;

algodo/cupro

(ver

glossrio,

pg.120);

algodo/tencel (ver glossrio, pg.125); algodo/polister etc), adquirindo


outras configuraes no seu aspecto exterior ou no toque, quer reforando a
maciez buscada ao longo de anos, quer valorizando seu visual atravs de
reflexos metalizados, dourados ou prateados ou ainda deixando-a mais
aderente e sensual.
Acompanhando as tendncias do mercado, que coloca o luxo como um dos
novos promissores segmentos, o jeans garante seu espao com a linha
Premium, adotada pelas principais marcas. Seu diferencial fica por conta do
esmero na modelagem, nos metais e pedrarias que o acompanham, e na
prpria estrutura do tecido, que recebe at mesmo fios de ouro enobrecendo o
algodo (desenvolvimento Vicunha).
A linha Vintage garante a permanncia da historia do uso contado atravs,
agora, no s das marcas no tecido, mas vemos inclusive empresas
fornecedoras de aviamentos desenvolverem botes com banhos que imitam o
metal enferrujado.
Alm dessa, outras referncias histricas nos so reforadas diariamente,
como pudemos observar na ltima edio da Bread & Butter (Feira
internacional de jeanswear) em Barcelona.
Dentre as inmeras reportagens sobre os lanamentos do evento, somados
observao pessoal, podemos extrair informaes que ilustram bem esses
processos criativos contemporneos:
Diversas marcas como Salsa Jeans, Blue Bood, Tommy Hilfiger e Levis,
trabalharam em cima da idia de um pintor descuidado, pois estavam
presentes pingos e borres, de vrias cores, nos seus lanamentos.
Iolanda Wutzl, para o site guiajeanswear, nos diz: O velho dirty aparece nas
lavagens mais claras oferecendo um aspecto de encardido gerado com o
tempo de uso e lavagem, e nos tons de ndigo mdio pra escuro,
caracterizando um vintage extrado da cala do minerador. Essa descrio e
as propostas que vem a seguir nos oferecem a possibilidade de perceber, mais
uma vez, o quo importante a histria do uso dessa pea na composio do
seu aspecto contemporneo.

65

Outras marcas apostaram em grandes furos arredondados com tampes ou


patches contrastantes, ora por cima, ora na parte interna, inspirados na velha
Levis usada pelo minerador dos anos 1920 e tambm na cala do cowboy de
1935, Essas colees irreverentes estavam presentes em marcas como G-Star
Raw, 0/Zero Construction, Henleys, Bray Steve Alan, Salsa Jeans, Catbalou,
Killah, Christian Audigier, Cross, Datch, e muitas outras.
O efeito que fez sucesso entre os hippies dos anos 70, agora trabalhado de
forma mais cool, vem sendo explorado por marcas como Pepe Jeans, Salsa
Jeans, Umm, etc. A ITV, Industria Tessile del Vomano, presente no setor The
Source na feira, apresentou belssimas peas em tie dye.
O antigo marmorizado hoje tratado como Acid wash, aparece com aparncia
menos agressiva conquistada atravs da evoluo dos produtos qumicos. A
Salsa jeans investiu nessa lavagem em formas com cs alto e cavalos (parte
da modelagem responsvel pela abertura das pernas) ultrabaixos.
Outra linha se disps a investir em blacks descarregados, amaciados,
amassados e bigodes, mergulhados na resina para sua fixao. Eles no eram
maioria, porem ganharam destaques atravs das costuras coloridas. Firetrap,
G-Star Raw, 0/Zero Construction, Kaporal, Gio-Goi, Koyo Jeans, Bray, Teddy
Smith, apostaram nos blacks e nos tingimentos escuros.
O prximo captulo vai tentar esclarecer a parte tcnica desse produto e
mostrar a construo e o desenvolvimento do artefato jeans.

66

III. JEANS: DESIGN E TECNOLOGIA


Design uma atividade que configura objetos de
uso e sistemas de informao incorporando
valores e manifestaes culturais como anncio de
novos caminhos e possibilidades. O Design
participa da criao cultural questionando ou
reforando valores culturais de uma sociedade. O
Design apresenta as possveis interpretaes das
diversas possibilidades oferecidas pelas variveis
da
natureza
poltica,
econmica,
social,
tecnolgica (Bomfim: 1999:152).
Essa definio de Amarante Bonfim, amplia o sentido inicial das definies de
design (ver glossrio pg.121) ligado apenas forma dos objetos. Ferlauto nos
diz que com essas mudanas recentes (as da ps modernidade) O que mais
importa que aprendemos a pensar de outras maneiras traduzindo e
interpretando a viso desse novo universo de pluralidade e diversidade
(FERLAUTO, 2009).
Assim como a leitura de informaes tcnicas nos permite avanar mais
rapidamente na ampliao do conhecimento, as experimentaes prticas nos
fornecem possibilidades de inovaes mais originais e imediatas.
Segundo Sexe (2007), durante toda a era industrial e at aproximadamente a
dcada de 1970, a idia dominante do mercado latino-americano foi calcada
produo. A qualidade do produto era vendida parte, pois o fazer era o
principal paradigma da indstria. Na dcada de 1980, a produtividade passa a
ser mais importante: fazer como para conseguir uma produo maior em
menos tempo. Mas partir do incio dos anos de 1990, a qualidade passa a
compor o diferencial das peas, pois ela representa maior lucratividade, maior
visibilidade e a possibilidade de distino entre seus concorrentes. nesse
momento que o design ganha importncia e o paradigma da indstria
alterado mais uma vez: pensar o fazer. Fazer o que? A que custo? Em quanto
tempo e com qual parmetro de qualidade?
O Designer de moda dever dar as respostas. Apesar de, na sua trajetria,
esse profissional receber outras nomenclaturas: artista, arteso, costureiro,
criador, estilista etc., a figura do estilista a que mais se aproxima do designer,
pois requer as mesmas competncias e habilidades e exerce as mesmas

67

funes deste. O Designer de Moda, hoje alm de dominar o conhecimento da


sua rea especfica, tangencia, na sua atuao diria, vrios outros campos do
Design. Pesquisa seu pblico alvo, quer seja para uma pea de alta-costura ou,
e principalmente, quando se presume uma produo em escala (read to wear/
prt--porter); pesquisa as tendncias mundiais de moda; os avanos
tecnolgicos aplicados matria prima (Design de Produto); os sistemas de
fabricao e as macro-tendncias de comportamento (Design Social). Planeja;
seleciona tecidos e aviamentos; dimensiona quantitativa e qualitativamente a
coleo; cria e acompanha o desenvolvimento do produto, suas etiquetas, tags
e embalagens (Design Grfico). Alm disso, muitas vezes, orienta a divulgao
desse produto quer seja atravs de briefing na elaborao de catlogo,
produo de desfile, merchandising ou da simples exposio do produto na
vitrina (Design de Comunicao Visual).
Daniela Calanca, corrobora a idia geral dessa ampliao do conceito de
Designer de Moda, dizendo que:
Entre 1950 e 1960 surgem os primeiros atelis
estilsticos que fornecem consultorias qualificadas
para as indstrias que querem se manter
atualizadas. Quando o ateli do estilista se associa
aos critrios da produo industrial, o universo das
propostas industriais adquire um novo valor. Do
binmio indstria-projeto estilstico se espera um
produto atual e de preo acessvel. Nesse cenrio se
modifica tambm o significado da palavra estilista, que
at os anos 1950 tinha uma conotao depreciativa.
Nos projetos industriais o estilista era quem agia sobre
a exterioridade dos objetos sem modificar seu
significado intrnseco e funcional; no entanto, quando
ele comea a atuar na indstria da moda, torna-se
um mito. Entre 1960 e 1970 o balano das indstrias
de vesturio cresce continuamente, tanto nos Estados
Unidos como na Europa (CALANCA, 2008:206).
Esse profissional estabelece na contemporaneidade um parmetro de trabalho
onde a interdisciplinaridade (ver glossrio, pg.123) se torna a principal
ferramenta para o bom desempenho da sua funo. O acompanhamento das
mudanas polticas, econmicas, sociais, tecnolgicas e principalmente
culturais, faz do designer de moda uma antena do mundo contemporneo.

68

No caso especfico do Designer de Jeans, suas atribuies vo alm do


esperado para o Designer de Moda usual, pois, ainda deve estar atualizado em
relao aos novos processos de tinturaria e lavanderia. Ainda h um cuidado
extra, antes do processo se iniciar que consiste no clculo do encolhimento
natural do tecido (quando comercializado bruto) para que essa percentagem
seja adicionada s medidas padro.
As alteraes na indstria, em funo da produo de novos artigos e
acabamentos (que no caso do jeans no so poucos) vem a partir das
mudanas experimentais propostas pelos designers, na maioria das vezes
inspirados por grupos urbanos,
Vamos ento conhecer um pouco desse universo tecnolgico, que propicia na
prtica, a fabricao desse cone da ps-modernidade: a cala jeans.
III.1 - A FIBRA

Fig.61 - Algodoeiro. Fonte:


Catlogo Santista Txtil

Responsvel pelo incio de toda a cadeia txtil, a fibra txtil, numa definio
mais simplista todo material passvel de ser fiado e tecido. Para se obter uma
definio mais precisa, necessrio definir-se a constituio qumica, que
baseada

em

polmeros.

Polmeros

so

substncias

formadas

por

macromolculas, que ligadas entre si, formam um todo coeso e com


propriedades bem definidas.
Elas podem ser divididas em dois tipos bsicos:

69

1. Fibras descontnuas que so elementos lineares que possuem um


comprimento determinado, como por exemplo, as fibras de algodo.
2. Filamentos contnuos, que so elementos lineares de comprimento
indeterminado, como o fio da seda.
Sua classificao divide as fibras em Naturais e Qumicas.
As Fibras Naturais so provenientes da natureza, ou seja, de polmeros
naturais. Seu melhor exemplo o algodo, fibra base para a construo do
denim. O algodo constitudo pela Celulose que o polmero de todos os
vegetais. Dentro das fibras naturais, podemos estabelecer uma subdiviso que
as classifica em vegetais, animais ou minerais.
As fibras vegetais, por sua vez, so subdivididas de acordo com a sua origem:
sementes, caules, folhas, frutos ou raiz.
Fibras Qumicas so aquelas que exigem, na sua produo, processos de
transformao qumica e/ou fsica. Essas fibras podem ser subdivididas, por
sua vez, em artificiais e sintticas.
As fibras Artificiais so provenientes de polmero natural, como a celulose
extrada de algumas rvores e que sofrem um processo qumico. Bons
exemplos so a Viscose e o Acetato.
As fibras Sintticas, por sua vez, so fibras cujo polmero foi sintetizado a partir
de substncias extradas do petrleo. Temos como exemplos mais conhecidos
o polister e a poliamida.
De acordo com a ABNT essa classificao foi regulamentado em 1992, cujo
quadro abaixo nos d um panorama das principais fibras txteis, sua origem e
a sigla de cada uma.

70

Fig.62 - Tabela de siglas das fibras Txteis


Fonte: CD Universidade Santista

III.2 - FIAO
A fibra utilizada para a fabricao do jeans basicamente a fibra natural
vegetal: o algodo (ver glossrio pg.119). Ressalva feita aos tecidos em que
se misturam outras fibras para a fabricao de produtos com diversas
qualidades, como por exemplo, o elastano que aumenta a flexibilidade ou fios
de ouro que enobrecem e valorizam o visual, ou o desenvolvimento do tecido
Cermico, que um tecido trmico, feito a partir de insero de barro
mofado na sarja (o tecido mais receptivo), seguido de uma aplicao de
impermeabilizante. Essa mistura tem como resultado um tecido que
provoca intensa sensao de frescor. Esta tcnica usada com sucesso pela
dupla do jeans fashion Marith e Franois Girbaud (CHATAIGNIER, 2006).
Para o processo de fabricao do tecido Denim os fios de urdume (ver
glossrio pg.125) (no sentido do comprimento do tecido) so tingidos antes
de entrarem no tear, e os de trama (ver glossrio pg.125) (no sentido
horizontal) so brancos. Esse tingimento, a princpio feito com o pigmento
extrado da planta ndigo, um produto que oferece baixa solidez, ou seja,

71

perde a cor conforme o uso e as sucessivas lavagens. graas a essa


caracterstica que o jeans consegue ser to verstil. Hoje trabalhamos com o
similar sinttico que conserva as mesmas caractersticas do original. H
basicamente dois sistemas: um deles o do tingimento em corda, ou seja, os
fios so agrupados em feixes que mergulham na barca de tingimento e
posteriormente abrem em leque para secagem. O outro processo se d com o
urdume pronto, onde os fios mergulham paralelos no pigmento. H uma
curiosidade interessante nesse processo, pois o pigmento, na verdade, tem
uma colorao esverdeada que s se torna azul por oxidao, em contato com
o oxignio do ar. Vamos entender esses dois mtodos com mais detalhes:
III.2.A - Tingimento com ndigo
H mais de 5000 anos atrs, na ndia, alguns mtodos de tingimento j eram
usados para a aplicao do pigmento ndigo, sobre fibras naturais. O ndigo
natural foi obtido pela primeira vez a partir das plantas Indigofera e Isatis
tinctoria, sendo o produto azul, insolvel em gua, posteriormente dissolvido
em cubas de madeira, atravs de um processo de fermentao natural
conhecido como vattng. Esta foi a origem do nome corantes cuba (do
ingls, vat dyes). Quimicamente falando, "vatting" significa reduo, sendo,
portanto, os corantes cuba tambm conhecidos pelo nome de corantes de
reduo.

Fig.63 - Tingimento dos fios com ndigo. Fonte: Catlogo


Santista Txtil

72

Desde o grande crescimento dos tecidos conhecidos como denim, que


comeou na dcada de 70, o ndigo tem sido um dos mais importantes
corantes usados at os dias de hoje. Entretanto, muito pouco ndigo natural
produzido atualmente, uma vez que, por sntese qumica, se obtm um produto
muito mais consistente e econmico. A explicao da estrutura qumica do
ndigo foi apresentada por Adolf von Bayer em 1883 e o produto sinttico
colocado no mercado pela primeira vez em 1897, pela BASF.
O fato de se produzir um corante de baixa solidez, o que segundo os tcnicos
no seria um bom corante, nos d uma lio com relao ao mercado:
satisfazer s necessidades do consumidor geralmente mais importante do
que alcanar os mais altos nveis de performance tcnica.
1 - TINGIMENTO DE FIOS DE URDUME EM CORDA
Os equipamentos para este tipo de tingimento se destacam, de modo especial,
por suas dimenses, visto que podem alcanar um comprimento de 60 metros.
As cordas, normalmente em nmero de 12, 24 ou 36, so preparadas com 300
a 400 fios cada uma, podendo alcanar um comprimento de 25.000 metros. O
tingimento pode ser realizado continuamente, sem parar a mquina durante a
troca de partidas, uma vez que, ao final de cada corda, outra corda pode ser
emendada. Geralmente estas instalaes so compostas por 4 a 5 cubas de
umectao, seguidas por 6 a 8 cubas de tingimento, com sistemas de
impregnao que proporcionam tempos de imerso de 20 a 25 segundos, onde
alimentado o ndigo j reduzido e solubilizado. Entre cada cuba de
tingimento, como tambm depois da ltima, h uma passagem area que tem
como finalidade oxidar o corante antes de entrar na cuba seguinte. Isto permite
que uma camada de corante seja absorvida em cada passagem pelas cubas
de tingimento, produzindo, ao final, um tingimento intenso, apesar da baixa
afinidade do ndigo. Para se obter uma perfeita oxidao do corante, inclusive
no interior da corda, necessrio uma passagem area bastante longa, de at
dois andares, com durao de 1 a 2 minutos. Depois do tingimento e da
oxidao so realizados enxagues em 2 ou 3 barcas normalmente
temperatura ambiente, seguidos por um tratamento num banho com amaciante

73

catinico (ver glossrio pg.119). que permite melhorar a abertura da corda


para situar os fios em posio paralela antes de transferi-los para o rolo de
engomagem

(ver

glossrio

pg.122).

Este

processo

pode

tingir

aproximadamente de 10 a 18 kg de fios por minuto.


2 - TINGIMENTO DE FIOS DE URDUME EM CAMADAS
No incio da dcada de 70 foi criada uma segunda gerao de equipamentos
de tingir apropriados para conduzir paralelamente os fios de urdume, em lugar
das cordas e realizar a engomagem imediatamente aps o tingimento. Tais
instalaes tem de 1 a 3 cubas de umectaco, 4 a 8 cubas de tingimento e 3
compartimentos de enxague.
As principais vantagens deste equipamento, em relao instalao para
tingimento em cordas, so: o menor comprimento, portanto um preo inferior,
um tempo de umectao mais curto, de modo que uma cuba de umectaco
pode ser suficiente, tempos de imersso e de oxidao consideravelmente
inferiores e maior rapidez no ajuste e estabilizao dos banhos de tingimento,
visto que as capacidades das cubas so bem inferiores, se comparados com
os 2000 litros da outra instalao. Entretanto, suas principais desvantagens
so o maior consumo de hidrossulfito e propriedades de solidez inferiores.
Solidez essa, que para o mercado do jeans se torna uma vantagem, porem
deve ser controlada para que nos banhos posteriores, evite-se a migrao do
pigmento para os fios de trama. Para isso o uso de anti-migrante necessrio.
Em quaquer do dois processos podemos acrescentar um produto antimigrante a fim de no permitir que a tinta do urdume penetre nos fios de trama
na hora da lavagem

74

.
Fig.64 - Tingimento sem antimigrante.

Fig.65 - Tingimento com antimigrante

III.3 TECELAGEM
Tecer significa transformar fios em tecido. No caso do jeans, tecido plano,
produzido em tear de trama e urdume. Esse processo se divide em trs
movimentos bsicos: Abertura da cala, insero da trama e batida do pente.
Abertura da cala uma abertura em formato triangular, originada pelo
movimento de subida e decida de duas camadas de fios provenientes de um
rolo de urdume, acoplados ao tear, por onde dever passar o fio de trama. O
movimento de subida e decida dos fios possvel atravs de um dispositivo
chamado quadro de lios. O nmero de quadros de lios de um tear
determina o tipo de ligamento do tecido a ser produzido e vice-versa.
Insero da trama consiste no movimento de introduo do fio de trama pela
abertura da cala. Devido alternao dos movimentos dos fios de urdume,
possibilita o ato de tramagem. Para conduzir a trama existem processos
diferenciados, dependendo do tipo de tear: lanadeira, projtil, jato de ar, jato
de gua entre outros.
Batida do pente o processo pelo qual um quadro de lminas paralelas,
chamado pente conduz o fio de trama at encost-lo ao anterior. Quando o

75

pente se desloca frente, encosta o ltimo fio de trama inserido nos demais e,
quando retorna, propicia a insero de um novo fio. O pente determina no s
a quantidade de fios por centmetro, mas tambm a largura do tecido cru.

Fig.66 - Esquema de tear. Fonte: CD Universidade Santista Txtil

Armao ou ligamento o nome dado maneira que os fios de trama e


urdume se entrelaam no tear. As ligaes fundamentais, das quais todas as
outras so derivadas so:
Tela ou tafet o fio de trama passa sucessivamente por cima de um fio de
urdume e por baixo do fio consecutivo. Na batida seguinte invertem-se as
posies. Tem como caracterstica o alto nmero de entrelaamentos,
conferindo consequentemente, muita resistncia ao tecido.
Cetim caracterizado pelo cruzamento irregular e mais disperso. Por esse
motivo tem muita flexibilidade, menor resistncia e muito brilho.
Sarja - Caracteriza-se pelo aspecto diagonal. O fio de trama passa por cima de
dois ou trs fios do urdume e por baixo de, pelo menos, um. A trama seguinte e
as subsequentes tm o mesmo comportamento, porem defasado em um fio.
Por ter menos entrelaamentos que a tela, resulta em um tecido mais flexvel

76

alm de amassar menos. As sarjas mais comuns so 2/1 ou 3/1, conforme o


esquema a seguir:

Fig.67 - Principais ligamentos Fonte:


CD Universidade Santista Txtil

Costumamos considerar propriedades como densidade e peso para classificar


os tecidos. A densidade a quantidade de fios por centmetro. Mede-se tanto a
quantidade de fios do urdume quanto da trama, que nesse ltimo caso
chamado de batidas/cm (produzidas pelo pente).
O peso Pode ser expresso em gramas por metro quadrado (g/m2) para os
tecidos que sero tingidos posteriormente (color) ou em onas por jarda
quadrada (Oz/yd2) para os denins. A relao entre g/m2 e oz/yd2 de 33,9. Por
exemplo, quando estamos dizendo que um denim tem 14Oz, estamos nos
referindo a um tecido cujo peso de 14 Oz/yd2, ou 475 g/m2. Os mais pesados,
por exemplo, os de 12Oz ou 14Oz, suportam as lavagens mais agressivas e
so utilizados na maioria das calas e saias. Os de 10Oz ou 11Oz, so
utilizados nas peas de vero e os de 5Oz ou 7 Oz, em geral utilizados para
camisaria ou peas mais leves.

77

O tecido, quando sai do tear, mesmo que o urdume esteja tinto, como o caso
do denim, recebe o nome de tecido cru.
O beneficiamento do tecido cru est dividido em trs etapas: a Preparao, o
Beneficiamento propriamente dito e os Acabamentos especiais. No caso do
denim, seu beneficiamento se processa em uma mquina chamada linha
integrada, onde se realizam quatro processos consecutivos: chamuscagem,
amaciamento, desvio de trama e pr-encolhimento.

Fig.68 - Linha integrada. Fonte Catlogo Universidade Santista

A chamuscagem o processo pelo qual as fibras curtas e soltas so


eliminadas atravs do fogo. O amaciamento se d pela aplicao de produtos
qumicos que agem sobre os fios e o desvio de trama eliminado por trao
mecnica. Na etapa do pr-encolhimento, o tecido umedecido e seco com
uma diferena de velocidade de entrada e sada da mquina, antecipando o
encolhimento natural do tecido.
A partir da entra o controle de qualidade e o tecido est pronto para atender a
indstria de confeco. Ainda assim, alguns desses tecidos podem passar pelo
processo chamado dlav, adquirindo o seu primeiro aspecto desbotado, antes
da comercializao.

78

Outros efeitos podem ser conseguidos na prpria tecelagem, como, por


exemplo, o efeito Flam (ver glossrio pg.122) que utiliza fios com essa
caracterstica de irregularidade ora na trama, ora no urdume e algumas vezes
(cross ring) nos dois sentidos.

Fig.70 - Efeito Flam de urdume

Fig.69 - Efeito Flam de trama


.

O tecido pronto, ento passa pela inspeo de qualidade, existindo para cada
empresa, um parmetro diferenciado, de acordo com a classificao do produto
(primeira ou segunda linhas).

Fig.71 - Controle de qualidade. Fonte: Catlogo Santista Txtil.

79

III.4 - CONFECO
Como uma herana da modernidade, o processo de fabricao das peas
segue a lgica sequencial similar a qualquer outra pea do vesturio:
primeiramente, como vimos no incio desse captulo, elaborado o projeto de
design de acordo com o briefing da empresa com relao ao pblico alvo. As
pesquisas de tendncias so realizadas por vrios meios, tais como: os
bureaux de moda; os desfiles das vrias fashion weeks pelo mundo; as
macro tendncias de comportamento, os sales e feiras da cadeia txtil. No
caso especfico do jeanswear, a sua maior mostra o salo internacional
Bread & Butter, com cerca de 800 expositores de diversos pases. Outras
fontes tem hoje grande fora como influncias criativas: a rua e seus grupos, os
movimentos musicais, as diversas correntes artsticas entre outros. O designer
deve estar atento ainda s novas tecnologias, quer seja no desenvolvimento de
matria prima txtil, de aviamentos, acabamentos de lavanderia e tingimentos.
A proposta de criao das colees vem a partir de toda essa conjuno de
informaes, somadas criatividade do Designer.
Inicia-se, ento, a construo da modelagem. Modelagem o desenho
planificado, geralmente em papel craft, das partes da pea que depois de
costuradas resultem no produto vestvel em uma das numeraes de
fabricao.
A seguir procede-se a montagem na pea piloto (como chamado o prottipo
em moda), Essa pilotagem tem como objetivo verificar possveis defeitos, tanto
de modelagem quanto de costura e condies de produtividade. Se houver
alguma falha grave, essa pilotagem refeita at que a pea esteja de acordo
com o esperado.
Quando aprovada, passa-se elaborao da ampliao do molde em todos os
tamanhos que essa pea ser produzida (P, M, ou G ou ainda... 38, 40, 42,
44... dependendo do sistema adotado pela empresa).

80

Fig.72 - Modelagem da cala jeans modelo five pockets. Fonte: Santista Txtil

As peas em amarelo correspondem ao tecido denim e as duas outras devem


ser cortadas no tecido de forro.
O processo de encaixe (ver glossrio pg.121), que vem a seguir, uma
espcie de quebra cabeas onde todas as peas que compem os moldes de
todos os tamanhos, devem ser colocadas sobre a folha de tecido de maneira a
economiz-lo ao mximo (esse encaixe pode ser feito manual ou digitalmente).
Para o encaixe digital, necessria a transposio das partes do molde para o
computador. Isso se faz atravs de uma mesa digitalizadora que, com um
mouse especial, passa os pontos-chave do molde para a tela, conforme
imagem abaixo:

Fig.74 - Imagem com encaixe eletrnico de uma produo


Fig.73 - Digitalizao do molde.
Fonte: Catlogo Comask.

de jeans. As cores determinam as peas correspondentes


a cada numerao. Fonte: Audaces.com.

81

Obtem-se ento o risco com uma medida de gasto que ser usada como
referncia para a colocao das vrias folhas de tecido e que iro resultar na
produo total das peas. A esse processo damos o nome de enfesto (ver
glossrio pg.122). Essa etapa, na maioria das indstrias feita manualmente,
embora existam maquinas cujo processo automatizado, pois so acopladas a
uma estao digital.
O enfesto pode ser realizado de forma mpar (quando as folhas de tecido so
colocadas sempre com a superfcie do mesmo lado) ou par (quando a
disposio casada avesso com o direito), mas nesse caso, podemos utiliz-lo
somente se a pea for simtrica.

Fig.75 - Enfsto eletrnico. Fonte Catlogo Comask

Enfesto par (face to face)


Enfesto mpar (face up)
Fig.76 - Ilustrao dos dois tipos de enfsto.
Fonte: CD Universidade Santista.

82

Pronto o enfesto, colocada a folha com o risco feito a partir do encaixe sobre
a ultima folha de tecido. Esse risco dever estar totalmente identificado, tendo
cada uma das partes: o nmero do modelo, a parte da pea que corresponde
aquele formato (cz, bolso esquerdo, frente esquerda etc), e a numerao a
qual pertence, bem como a linha correspondente ao fio do tecido (o de urdume)
para que o produto final no seja comprometido na sua qualidade. A seguir
vem o corte que por sua vez, tambm pode ser manual (a maioria) ou
eletrnico:

Fig.77 - Mquina de corte manual e profissional operando.


Fonte: Catlogo Santista Txtil

O corte posteriormente separado


por

tamanho,

devidamente

etiquetado em todas as suas partes


com as informaes contidas no
risco e enviado para a sala de
costura. A montagem (costura) das
peas

feita

geralmente

pelo

sistema de linha de produo (ver


glossrio pg.124) ou sistema misto
linha e clula (ver glossrio
pg.120)

quando

existe

Fig.78 - Plotter de corte eletrnico.


Fonte: Santista Txtil

necessidade de uma preparao prvia de alguma parte ( bolsos por exemplo)


antes da montagem geral.

83

A seguir uma das possibilidades de disposio funcional das mquinas para a


montagem de calas jeans.

Fig.79 - Layout de uma oficina de costura mista. Fonte CD Universidade Santista

Legenda
A.
B.
C.
D.
E.
F.
G.
H.
I.
J.
K.
L.
M.
N.
O.

Mquina reta 01 agulha


Mquina reta 02 agulhas
Mquina de cs
Overlock
Mquina Fechadeira
Ferro Eltrico
Mesa auxiliar
Interlock
Mquina de caseado
Mquina de Travete
Mquina de Boto
Mquina de fazer Passante
Virador
Mquina de Ponto Corrente 01 agulha
Mquina de Ponto Corrente 02 agulhas

Passam (as de melhor qualidade) por dezesseis mquinas ou dispositivos


diferentes. No total so 40 operaes que levam em mdia pouco menos de 20

84

minutos para sua concluso (ver tabela abaixo), segundo informaes da


Comask.

Fig.80 - Oficina de Costura do jeans. Fonte Catlogo Comask

LISTA DE OPERAES E ESPECIFICAES TCNICAS - DESCRIO DO PRODUTO


OPERAES

DESCRIO DAS
FASES

ORDEM

PREPARAO

BOLSO
DIANTEIRO

MQUINA

PONTO

ACESSRIO

Embainhar bolso relgio


(1x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Embainhador

Pregar bolso relgio na


vista (1x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Chulear vista e C. vista


(2x)

Ov. 3

504

Pregar vista e C. vista


nos forros (2x)

P. F. 1 Ag.

301

Pregar forro da C. vista


no dianteiro (2x)

P. F. 1 Ag.

301

Dar piques e virar


(2x)

Tesoura

Pespontar
(2x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Guia p/
pesponto

DESCRIO

85

Prender forro da vista


no dianteiro (2x)

P. F. 1Ag.

301

Fechar fundo do forro


(2x)

Ov. 5

516

10

Chulear dianteiro direito


(1x)

Ov. 3

504

11

Orlar vista da braguilha


(1x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Aparelho p/
dobra

12

Pregar zper na vista


braguilha (1x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Sapata. zper

13

Pregar vista no dianteiro


(1x)

P. F. 1 Ag.

301

14

Virar e pespontar borda


da vista da braguilha
(1x)

P. F. 1 Ag.

301

15

Pesponto curvo
braguilha
(1x)

P. F. 2 Ag.

2x301

16

Dobrar e chulear
Pertingal
(1x)

Ov. 3

504

17

Pregar pertingal e zper


no dianteiro direito e
bainha do gancho (1x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Sapata zper

18

Unir gancho dianteiro


(1x)

P. F. 2 Ag.

2x301

PREPARAO

19

Unir pala ao traseiro


(2x)

P.C. 2 Ag.

2x401

Aparelho de
encaixe

PALA

20

Unir gancho traseiro


(1x)

P.C. 2 Ag.

2x401

Aparelho de
encaixe

PREPARAO
BOLSO TRASEIRO

21

Embainhar bolso
traseiro
(2x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Embainhador

22

Marcar pesponto no
bolso
(2x)

Gabarito

23

Pespontar bolso
(2x)

P. F. 2 Ag.

2x301

24

Passar bolso
(2x)

Ferro/
Gabarito

PREPARAO
BRAGUILHA

86

MONTAGEM

ACABAMENTO

25

Pregar bolso traseiro


inserindo etiqueta (2x)

P. F. 2 Ag.

2x301

Sapata
Compensadora

26

Revisar dianteiro
(1x)

27

Revisar traseiro
(1x)

28

Unir laterais
(2x)

Mq. brao

2x401

Aparelho de
encaixe

29

Unir entrepernas
(2x)

Ov. 5

516

30

Emendar e enrolar cs
(1x)

Ov. 3

504

31

Pregar cs inserindo
etiqueta

P.C. 2 Ag.

2x401

Aparelho de
cs

32

Aparar e descoser
ponta do cs (2x)

Tesoura

33

Rebater ponta do cs

P. F. 1 Ag.

301

34

Embainhar boca da
cala

P. F. 1 Ag.

301

Aparelho
bainha

35

Fazer passantes e
cort-los
(5x)

Colarete 2
Ag.

406

Aparelho
passante

36

Pregar passantes e
mosquear (21x)

Mosqueadeira

37

Casear
(1x)

Caseadeira

38

Marcar boto
(1x)

39

Pregar boto
(1x)

Botoneira

40

Limpar e revisar
(1x)

TEMPO TOTAL de PRODUO = 1920 min

Fig.81 Sequncia de montagem da cala Jeans. Fonte: Catlogo Senai Cetiqt, 1996.

87

A Universidade Santista nos fornece outra tabela, com pequenas variaes,


cujo tempo de produo um pouco maior como podemos verificar abaixo:
Cala five pockets :
o Tempo total = 24,13 minutos
o Quantidade de componentes = 17 (partes)
o Quantidade de operaes = 49
o Tipos de mquinas = 11 tipos diferentes + dispositivos
o Consumo de linha = 372 metros
o Consumo de tecido = 1,15 metros lineares
o Peso aproximado = 800 gramas (em denim 14oz)

No.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26

Descrio
Bainha bolso relgio
Pregar bolso do relgio
Overlocar espelho
Pregar espelho no forro
Overlocar vista esquerda
Overlocar vista dir.e pr.ziper
Cortar etiq. tam/comp.
Unir etiq. tam/comp.
Bainha do bolso traseiro
Dobrar bolso traseiro
Unir pontas de cs
Formar rolo de cs
Fazer passantes
Cortar passantes na medida
Casar bolsos c/frentes
Pregar bolsos dianteiros
Alinhavar bolsos dianteiros
Pregar etiq. tam/comp.
Fechar bolsos dianteiros
Casar vistas c/ dianteiros
Pregar conjunto de vistas
Pespontar vista esquerda
Unir dianteiros
Revisar dianteiros
Casar bolsos c/traseiros
Pregar bolsos traseiros

TOTAIS
0,15
0,55
0,18
0,43
0,25
0,46
0,12
0,20
0,38
0,85
0,10
0,35
0,25
0,18
0,10
0,82
0,42
0,18
0,80
0,10
0,78
0,85
0,50
0,39
0,10
1,29

88

No.
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
Fig.61 -

Descrio
Pregar palas
Unir gancho traseiro
Pespontar gancho traseiro
Destacar pala e gancho
Revisar traseiros
Casar traseiros/dianteiros
Fechar entrepernas
Fechar laterais
Destacar laterais
Virar cala
Pespontar laterais
Pregar cs
Destacar e abrir pontas de cs
Acabar pontas de cs
Pregar 07 passantes
Fazer bainha jeans
Fazer 11 travetes
Fazer 01 caseado de olho
Marcar posio do boto
Pregar 01 boto de haste
Limpeza de fios
Revisar e dobrar cala
Embalar cala
Tempo TOTAL

TOTAIS
0,48
0,32
0,28
0,90
0,39
0,53
0,86
0,81
0,33
0,19
0,36
0,93
0,68
0,97
0,72
0,72
1,10
0,28
0,08
0,11
1,98
0,73
0,20

24,73

Fig.82 Sequncia de montagem do jeans.


Fonte CD Universidade Santista

Existe uma defasagem entre os tempos se computarmos seus valores


sequencialmente e o compararmos ao total fornecido no final da tabela. Essa
diferena se d pelo fato de algumas preparaes (como bolso traseiro e
dianteiro, vista e cs) serem feitas simultaneamente.
As etiquetas, no mercado jeanswear constituem um captulo parte desde que
em 1886, Levi desenvolveu uma etiqueta de couro no seu jeans. O rtulo
mostrou um desenho de um par de jeans que estavam sendo puxados entre
dois cavalos. Esta foi a forma de anunciar quo forte seus jeans eram.

89

Fig.83 - Imagem da 1 etiqueta de couro.


Fonte Huiguang, 2007.

Da aos nossos dias, as fbricas lanaram mo da estratgia das etiquetas


para promover um reconhecimento instantneo da marca, e de todo
simbolismo que ela carrega. O profissional encarregado de desenvolver esse
produto um Designer Grfico, que nem sempre est representado por outra
pessoa.

Na

minha

vida

profissional,

por

vrias

vezes,

assumi

responsabilidade de desenvolver no s etiquetas, mas de alterar a prpria


identidade visual da marca, a fachada da loja ou a decorao da vitrina,
comprovando a tese de que o designer de moda, na verdade, abrange a
atuao em outros domnios, que no s o seu especfico.
H vrios tipos de etiquetas que acompanham uma pea em Denim: as
internas, obrigatrias por lei, com informaes de composio dos tecidos;
cuidados especiais na lavagem, secagem e conservao; nmero do CGC,
acompanhado do pas em que foi fabricado o produto; a etiqueta da marca,
conjunta ou separada de numerao e as externas: linguetas de bolso ou
lateral das peas, as de cs traseiro. O seu desmembramento se deu logo no
incio do processo industrial, atravs das Tags. Etiquetas, geralmente em
papel, com imagens e informaes sobre as caractersticas e conservao do
produto e que agregavam valor ao impacto visual na hora da venda.
A seguir, imagens de Tags de algumas das primeiras marcas de jeans:

90

Fig.84 Exemplos de vrios tags. Fonte: Revista Sportswear edio 48

Aos olhos dos consumidores, um jeans sem etiqueta se


torna uma simples e annima cala de algodo.
Quando a primeira marca estabeleceu um elo entre a
construo do produto e a imagem do cowboy, estava
criada a etiqueta que atestaria, mesmo muitos anos
depois, o seu status original.
Primeiramente de couro gravado, ganha espao
tambm para informar ao consumidor, detalhes sobre a
pea, como lote de fabricao, tamanho etc.
Fig.85 - Primeiras
etiquetas traseiras.
Fonte Huiguang.

Esse emblema, colocado na parte traseira das calas


vai se sofisticando em pesados metais, ricos dourados
ou modernos emborrachados, adquirindo relevos, cores

e brilhos que ao longo dos anos vo identificando as empresas e seus


consumidores.
J atendeu a trabalhadores, aventureiros, cowboys, amantes da natureza e
enamorados, acompanhando cuidadosamente seus logos com frases que o
definam. Essa mensagem era e clara e precisa: identificao.

91

Algumas etiquetas tem vida curta, s vezes, o tempo de uma estao, mas so
criadas com o propsito de alguma mudana no estilo de vida, ainda que
temporria. Mesmo assim sustentam o compromisso de perpetuar a marca cujo
nome se mantem, transformando-se camaleonicamente, estao aps estao.
Um outro diferencial que tem quase o mesmo
comportamento das etiquetas, so as filigranas de
bolso traseiro. Seu desenho, para algumas empresas
como uma marca registrada que proporciona uma
identificao

imediata.

pespontadas,

geralmente

atualmente

encontramos

princpio

com
uma

duas

apenas
agulhas,

variedade

muito

grande de bordados e cores, como podemos


observar nos exemplos a seguir:

Fig.86- Filigrana original Levis.


Fotografado pela autora

Fig.87 - Exemplos de filigranas contemporneas. Fonte: www.gardus.com.br

Fig.88 - Filigrana Calvin Klein


Jeans Fonte:
Glamour.com.br

Fig.89 - Bordado-Beextreme. Fonte: site da


marca.

Fig.90 - Bordado com


brilho. Fonte: Foto da
autora

92

Fig.91 - Be-extreme. Fonte: site


da marca

Fig.92 - Bolsos trazeiros. Fonte: Huiguang

A moda dessa sarja, que tambm deu origem a um novo segmento do


vesturio: o jeanswear expandiu-se, como percebemos, muito alm de um
modelo bsico.
Com conotaes diferenciadas, ampliou o circuito da moda e promoveu, no s
variantes dos moldes originais, como tambm modelagens para mulheres e
crianas. Mas, como vimos, a partir da dcada de 1960, o jeans mereceu mais
espao na mdia da moda, principalmente por causa de suas mltiplas
lavagens.
Dos rios que bordejavam Woodstock s
cachoeiras de Mau locais onde hippies
inventavam modismos e tingiam panos com cores
psicodlicas os truques e ritos de lavagens
ganharam fama. A indstria txtil, sempre atenta
s demandas vindas de ambos os lados da
pirmide social, tirou partido da criatividade
artesanal e mergulhou fundo nos beneficiamentos
dos coloridos e das nuances do tecido.
Lavanderias, tanto as de porte como as menores,
adaptaram-se nova era e investiram no
maquinrio para fazer milagres no tecido antigo,
usado por garimpeiros e marinheiros. Uma das
vantagens para que esse trabalho se tornasse
melhor, residia na sua estrutura resistente,
sarjada, na qual a tessitura em diagonal garantia
sucesso e promessa de maior durabilidade.
(CHATAIGNIER, 2006:112).

93

III.5 - BENEFICIAMENTOS
Com informaes tcnicas extradas da edio do SENAI. CETIQT. Denim:
Histria, Moda e Tecnologia (1994), resgatamos as informaes de que os
processos de beneficiamento (ver glossrio, pg.119) de peas do vesturio
confeccionadas podem ser classificados em dois grupos:
1 Efeitos de desbotamento ou de envelhecimento de peas confeccionadas;
2 Tingimento de peas confeccionadas.
No caso especifico do Jeans, nos interessa acima de tudo e por razes bvias,
o primeiro tipo de beneficiamento. Os efeitos de desbotamento sobre peas j
prontas, partindo do material tinto, comearam a ter aceitao na dcada de
60, quando os "hippies" obtinham, na maioria das vezes de forma involuntria,
efeitos que eram produzidos pelo desgaste do tecido com o uso ou atravs de
lavagens caseiras, empregando solues de hipoclorito de sdio (gua
sanitria). Em seguida, esses efeitos passaram a ser obtidos em escala
industrial, atravs do emprego de produtos qumicos para provocar o
desbotamento. Para se obter o efeito de envelhecimento passou-se a utilizar a
pedra-pomes e, mais tarde, a argila nodulizada durante o procedimento de
lavagem, para promover o desgaste do tecido. O maquinrio para a obteno
destes efeitos especiais constitudo basicamente de mquina de lavar,
extrator centrfugo e secadeira de tambor rotativo ("Tumbler").

Fig.93 - Lavanderia industrial. Fonte Catlogo da Comask

94

Estes efeitos podero, ainda, apresentar-se de forma regular, comumente


conhecidos como "delav", ou de forma irregular, onde so produzidos padres
ou desenhos distribudos aleatoriamente sobre o tecido. Nestes casos, os
processos ou efeitos recebem denominaes especiais como "acid wash",
"snow wash", "stone wash", etc.. .
III.5.A Os Desgastes
Responsveis pelos pequenos relatos nas peas jeans, o aspecto usado e
desgastado obtido, na maioria das vezes atravs de interferncia manual e
antecede o processo de lavanderia propriamente dito. Esse trabalho artesanal
contribui para dar ao usurio a sensao de estar vestindo uma pea exclusiva,
garantindo a satisfao de se destacar dentro do seu grupo.
Os desgastes, na sua maioria so obtidos com o auxlio de equipamentos que
originriamente foram concebidos para outras funes, resgatando dessa
maneira o j conhecido sistema da bricolagem (ver glossrio, pg.119).
Podemos citar como exemplos: o reblo para desgastes da beirada dos bolsos;
esmeril para desgastes localizados mais agressivos ou a lixa utilizada para dar
o aspecto used na pea. As lixas so um material recorrente na construo
dos desgastes e tanto pode funcionar sozinha como associada a outros
materiais, de universos distintos como raladores, pedaos de madeira com
pregos ou com outros materiais que provoquem algum tipo de desenho na
superficie txtil.
Quando usada sobre um pedao de madeira, previamente preparado com altorelvo simulando as dobras de uso, produz o que chamamos de bigodes, que
so as marcas obtidas ao sentar com a pea e se localizam na regio da
virilha. As pernas das calas, muitas vezes so introduzidas numa espcie de
forma pneumtica para que os efeitos possam ser mais facilmente
conseguidos.
No processo de obteno desse efeito o procedimento mais comum o lixado
manual, porem empresas j possuem procedimentos mecnicos (semiautomticos ou automticos) para esse fim.

95

Fig.94 - Perna pneumtica


Fonte: CD Santista Txtil

Fig.95 - Processo manual de lixamento.


Fonte: CD Santista Txtil

Fig.96 - Bricolagem e seu efeito. Fonte: CD Universidade Santista

Fig.97 - Aplicao de jatos de permaganato.


Fonte Catlogo Comask

Fig.98 - Resultado
aplicao de permaganato

96

Fig.99 - Lixados simples: processo. Fonte


Catlogo Comask

Fig.100 - Resultado lixado.


Fonte: foto da autora

Fig.101 - Pistola de etiquetagem usada para os efeitos de plissado (Fast-Pin) antes da


lavagem. Fonte CD Universidade Santista.

Fig.102 - Resultado: efeito Plissado.


Fonte: Foto da autora

97

Fig.103 - Desgastes por instrumentos de retfica: Reblo e Esmeril.


Fonte: CD Universidade Santista

Fig.104 Ralados
Fonte: Foto da autora

Fig.106 Pincelado
Fonte: Foto da autora

Fig.105 Escovado
Fonte: Catlogo Santista

Fig.107 - Patches colados


Fonte: CD Universidade Santista

98

Fig.108 - Resinado amassado


Fonte: CD Universidade Santista

Fig.109 - Resinado com pigmento


Fonte: CD Universidade Santista

Outros efeitos so consegudos aps a lavagem, quer seja por interferncia


manual, como os Rabiscos ou por processos mecnico-qumico, como o
amassado permanente ou aplicao de efeitos estampados pelo processo a
laser. Este ltimo garante uma perfeio de desenhos mesmo sobre as
costuras. A gravao se d pelo sistema de sublimao do corante atravs da
temperatura de aplicao do laser.

Fig.110- Efeito Rabisco


Fonte: Guiajeanswear.com

Fig.111- Amassado permanente.


Fonte: Foto da autora

99

Fig.112 - Impresso a Laser. Fonte: CD Universidade Santista

Mesmo depois de pronta a pea, os procedimentos no se esgotam aqui.


Temos como exemplo, entre outros, o grupo Cheap Monday que customizam
(pintam, colocam patches, bordam etc) 100 peas a cada edio e as
comercializam em lojas intinerantes.

Fig.113 - Processo de customizao. Cheap Monday.


Fonte:.guiajeanswear - maio 2009

A industria da lavanderia se utiliza tambm, paradoxalmente, de processos


mecnicos e at mesmo da robtica, para a produo de defeitos: tinta ou
areia so jateados em partes das peas, atravs de verdadeiras estaes em
que braos mecnicos conduzem os borrifadores previamente programados.

100

Fig.114 - Estao robtica. Fonte: Catlogo Comask

Fig.115 - Processos mecnicos de obteno de efeitos:


Pintura Robtica. Fonte Catlogo Comask

101

Fig.116 - Lixador mecnico. Fonte: CD Santista Txtil

Fig.117 - Base para efeitos de bigode no processo de jato abrasivo. Material


abrasivo. Fonte:CD Santista Txtil

Fig.118 - Procedimento de jato abrasivo. Fonte:CD Santista


Txtil

102

Fig.119 - Prensa para resinados. CD Santista Txtil.

III.5.B Lavanderia
Comearemos abordando as lavagens processadas no tecido em pea, ou
seja, antes da sua confeco. A primeira interferncia que procurou dar ao
tecido um aspecto de envelhecimento precoce e que deu origem aos demais foi
o denominado "lixado" que consiste em passar o tecido, em aberto e de forma
contnua, em equipamentos normalmente improvisados, providos de cilindros
revestidos com material abrasivo (lixa fixada com cola em rolos de madeira).
O processo que se seguiu foi o denominado Bleached ou "Dlav", que,
inicialmente utilizado em veludos (corduroy), possua a denominao especial
de "Dlav Cord", sendo posteriormente aplicado em denim e brins em geral.
No processo "Dlav", o cliente pode adquirir o tecido em pea, j envelhecido
(lavado), ou adquiri-lo perfeitamente tinto, junto com uma amostra do mesmo
tecido j lavado e com o aspecto envelhecido.
Atualmente, as empresas fabricantes de denim, fornecem seus produtos com
uma gama muito grande de variaes de fios, tramagem, tingimentos e
processos de lavagem.

103

Tomemos como exemplo quatro tecidos denim de diferentes pesos e


tingimentos ( Vicunha Basf) para observarmos seu comportamento em dois
processos de lavagem:
A primeira receita, cujas amostras esto do lado esquerdo, se processa da
seguinte maneira:
1. Clareamento: tempo de 30. Produtos: Albigen A 1,5% / Soda Custica
50 Be 3,0% / Setamol Ws 1,0% / Rongalit C 3,0%. Temperatura de 90o.
Resfriar. Enxaguar.
2. Neutralizao: Acido Actico 1% a 2% (10 minutos). Temperatura: frio.
Enxaguar.
3. Ensaboamento: Decol SN: 1% (10 minutos). Temperatura 80o.
Enxaguar.
Na segunda receita, (amostras da direita) temos algumas modificaes nas
percentagens dos produtos qumicos, que tornam o jeans mais delavado,
portanto com aspecto de um tempo de uso maior. Observem que o grau de
desbotamento no o mesmo em funo do tipo de tingimento e as
diversas composies:
1. Clareamento: tempo de 30. Produtos: Albigen A 2,5% / Soda Custica
50 Be 5,0% / Setamol Ws 1,0% / Rongalit C 5,0%. Temperatura de 90o.
Resfriar. Enxaguar.
2. Neutralizao: Acido Actico 1% a 2% (10 minutos). Temperatura: frio.
Enxaguar.
3. Ensaboamento: Decol SN: 1% (10 minutos). Temperatura 80o.
Enxaguar.

104

Fig.120 - Denim 10,5 Oz.83% algodo / 14% polister / 3% elastano.


Tingimento: Special Dye. Fonte: catlogo Basf/Vintage

Fig.121 - Denim 12 Oz.100% algodo. Tingimento: Coating. Fonte: catlogo


Basf/Vintage

Fig.122 - Denim 12 Oz. 84% algodo / 16% polister. Special Dye.


Fonte: catlogo Basf/Vintage

Fig.123 - Denim 10,5 Oz. 100% algodo. Coating. Fonte: catlogo Basf/Vintage

105

evidente que o corante empregado e o mtodo de tintura so os


responsveis pelo desgaste e aparncia aps a lavagem. Neste caso
especfico, os tecidos so tingidos por processos contnuos de impregnao,
empregando-se pigmentos e com baixo teor de ligantes para facilitar o
desbotamento. Abaixo, alguns dos principais processos aplicados ao jeans
confeccionados (Chataignier, 2006:59):
Jeans Bruto: Amostra do jeans bruto, ou seja, como comercializado sem
nenhum acabamento ou apenas amaciado, para facilitar a comparao com os
lavados.

Fig.124 Jeans Bruto Fonte: Foto da autora.

Destroyed: lavagem realizada com qumica corrosiva, deixando rasges em


partes das peas que foram previamente lixadas e coloridos aleatrios,
conseguidos com superposio de tintas antes da lavagem.

106

Fig.125- Bread&Butter. Fonte: Fotos da autora, 2009.

Dirty wash: lavagem realizada em jeans que tenha uma base estonada mdia
com sobretinta em tom caqui, dando efeito de envelhecimento. Tambm mais
indicado para a pea pronta.

Fig.126 - Levis Dirty. Fonte


Huiguang, 2007

Estonado ou stone-wash: Lavagem realizada com algum tipo de abrasivo


associado ou no soluo qumica. Os abrasivos podem ser:

Pedra Pomes: de origem vulcnica, pouco usada no Brasil em funo da


disponibilidade e indicada para tecidos mdios e pesados.

Pedra Cinasita: Argila expandida em fornos; bastante usada no Brasil


em funo do custo e disponibilidade; recomendada para tecidos mdios
e pesados.

Perlita e P Abrasivo:
- Alternativa para envelhecer tecidos mais leves e delicados.

Pedra Pomme

Cinasita

.
Fig.127 Pedras abrasivas. Fonte: CD Universidade Santista

Perlita

107

No exemplo, lavagem realizada com pedras vulcnicas, causando no tecido ranhuras desiguais quando batidas na mquina de lavagem industrial. A imagem
traz tambm bigodes permanentes deslocados.

Fig.128 Stone wash - Bread&Butter.


Fonte: Foto da autora, 2009.

Fire wash: lavagem realizada em jeans escuro (ndigo ou black) com corantes
vermelhos que produzem tons prximos aos do fogo ou aos de terras
barrentas. O efeito obtm melhores resultados com peas j confeccionadas.

Fig.129 - Bread&Butter
2009. Fonte: Foto da
autora

108

Marmorizados ou Acid Wash: lavagem realizada em alvejantes qumicos de


alta densidade, borrifados irregularmente, provocando efeitos de desgaste e
envelhecimento irregulares. Pode ser tambem conseguido por sistema de
amarramento como no Tie-Dye (ver glossrio pag.125). A pea a seguir ainda
sofre um processo de amassado permanente.

Fig.130 - Bread&Butter. Fonte: Foto da autora, 2009.

Mdium distressed: lavagem realizada em jeans escuro com amaciamento


prvio, sendo que o tecido lixado depois manualmente, o que torna o produto
final mais caro.

Fig.131 - Jeans Diesel.


Fonte: Huiguang, 2007

109

Second hand: lavagem realizada com pedras que proporcionam aspecto de


roupa usada na pea, como se fosse de brech; seu nome significa
exatamente o seu aspecto, o de segunda mo.

Fig.132 - Bread&Butter.
Fonte: Foto da autora,
2009
.

Silver Black - Sprays criam efeito manchado na barra ou nas pernas das
calas, enquanto a aplicao de resina confere a toda pea um acabamento
brilhante.
.

Fig.133 - Bread & Butter


2009. Fonte: Foto da autora

110

Snow wash: lavagem realizada com respingos aleatrios de material qumico


corrosivo, que embranquece a pea pronta em determinados lugares como se
fossem flocos de neve. Uma variao dela foi destaque na Bread & Butter
2009, concentrando os respingos na barra, sugerindo as calas de um pintor
descuidado.

Fig.134 - Bread&Butter
Barcelona.
Fonte: Foto da autora, 2009.

Energized Uma das lavagens mais agressivas onde lixados, bigodes,


ralados, respingos, resina, amassado, tratamento com enzimas e tingimento
esto reunidos em um nico acabamento.

Fig.135 - Bread&Butter Barcelona.


Fonte: Foto da autora, 2009.

111

3D resinado
Acabamento resinado que proporciona a sensao de relevos, ao mesmo
tempo em que impermeabiliza a pea.

Fig.136 - Bread&Butter. Fonte: Foto da autora, 2009.

Jeans color: Muitas so as opes de tingimentos coloridos para o denim,


como a proposta para o vero 2010 da Colcci, apresentada na ltima edio da
So Paulo Fashion Week, em junho de 2009.

Fig.137 - Jeans cor de rosa da Colcci


para o vero 2010. Site SPFW, 2009.

112

E mais:
Overdie: lavagem realizada por mltiplos recursos e tonalidades diferentes de
corantes, criando efeitos de sujeiras.
Mud wash: lavagem realizada em jeans escuro (azul ou black jeans) com
sobretinta verde, algumas vezes produzindo efeito de camuflado.
Pr-washed: lavagem realizada com a finalidade de amaciar o tecido, por meio
de enzimas amaciantes ou silicone. Sem acabar com a solidez do ndigo, esta
lavagem torna o produto agradvel no toque e uso. No muda o tom do tecido.
Soft rigid: lavagem realizada em tecido virgem, visando um leve amaciamento.
Algumas lavagens, como pudemos observar, envolvem uma srie de
procedimentos qumico-fsicos para se obter resultados estticos mais
agressivos, recebendo dois ou mais efeitos sobrepostos, conseguindo-se uma
diferenciao e um aspecto de envelhecimento cada vez maior.
Na contemporaneidade, como apontado no incio desse trabalho, esse sujeito
ps-moderno, no se contenta em ser homogneo e coerente. Ele se
transmuta concomitantemente, em jeans bruto, apenas amaciado; em um jeans
vintage mais limpo, beneficiado com processo de oznio; em jeans manchados
propositalmente com aplicao de corantes fazendo uma releitura do tie-dye;
em jeans detonados, com buracos ou remendados, com efeitos de manchas e
sujeiras relembrando as peas usadas pelos trabalhadores que deram origem a
criao do jeans; stone washed, com ou sem enzimas; destroyed; used;
bigode; fast pin; plissado; bigode permanente; lixado; pudo; esmerilhado;
amaciado; marmorizado, marcado a laser, raclado etc etc etc.
importante lembrar que as nomenclaturas dos efeitos e lavagens podem
mudar, dependendo no s das lavanderias industriais, como tambm das
tendncias da moda (que indicam a todo o momento novidades tambm neste
setor ) e das grifes s quais pertencem.

113

Aps sua neutralizao e secagem que pode ser feita em tambores ou fornos,
as peas entram para o acabamento na oficina, onde recebem os metais
(botes, rebites, ilhoses), aplicaes, bordados especiais etc.

Fig.138 - Exemplos de metais. Mquina semi-automtica. Fonte: Revista Eberle Fashion.

realizada, ento, a limpeza da pea e a etiquetagem externa com a


colocao dos Tags. O jeans segue seu processo de produo atravs do
controle de qualidade, cujo parmetro varivel, dependendo da marca e do
mercado a ser atingido, finalizando o ciclo com a embalagem e expedio.

114

CONSIDERAES FINAIS
Como consequncia do fazer e do pensar moda atravs desse estudo,
selecionamos a partir do jeans, trs aspectos de reflexo importantes: o
primeiro a possibilidade de identificar o jeans como sujeito ps-moderno; o
segundo a constatao das mudanas nos processos de produo que
transformaram a indstria, principalmente de beneficiamento; a terceira
constatao se refere s mudanas nos conceitos estticos da moda, que a
partir do jeans se expandiram para outros setores. Reconhecemos ainda o seu
uso como uma das mais democrticas peas do vesturio.
O jeans a pea que ao mesmo tempo moderna e ps-moderna. Ele nasceu
sob a essncia da modernidade enquanto sistema de industrializao. E ele
concomitantemente ps-moderno, pois agrega os trs princpios que, segundo
Lipovetsky, definem a ps-modernidade: a seduo, a renovao permanente e
a diferenciao marginal. Ora, o jeans sedutoramente se expe atravs de
modelagens femininas, aderentes ao corpo, com o auxlio do fio de elastano,
enquanto permite aos homens serem sensuais tanto pelas formas ajustadas,
quantos pela colocao de uma cintura abaixo das suas peas ntimas ou pela
apropriao do imaginrio sensual e sexual de ambos, utilizados como
estratgia de marketing pela maioria dos seus fabricantes.
A renovao em moda sua prpria mola propulsora, na medida em que ela
sustentada, hoje, pela busca incessante da novidade. As grandes colees que
duravam seis meses pelo menos, passaram a ser apenas o marco de mudana
das estaes, pois inmeras empresas trabalham com colees trimestrais,
mensais ou at mesmo apresentando novidades semanalmente.
No jeans, alm de acompanhar essa engrenagem, a renovao extrapola o
tempo, pois se faz dia a dia, tanto pelo desbote da sua cor quanto pelas
presses irregulares e abrasivas em sua superfcie, conferindo-lhe um aspecto
nico.
Por fim, o prprio smbolo da diferenciao marginal, por toda a quebra de
paradigmas estticos da moda, da qual precursor e que veio rompendo ao
longo dos anos. Seu resultado acontece simultaneamente ao da arte e da
prpria organizao social das metrpoles.

115

Em concordncia com o que diz Daniela Calanca (2008) e Rosane Preciosa


(2005), vivemos numa poca em que culturalmente tudo legtimo e as
experimentaes multidisciplinares tanto no campo da arte como da moda
legitimam as criaes sem regras estticas definidas. Nenhuma das duas (arte
e moda) teme romper esses limites, tomando a desmedida, o excesso, os
aspectos empobrecidos, sujos e disformes como valores autnticos nas suas
manifestaes.
O jeans sempre acolheu smbolos marginais de fragmentao, quer seja pelo
uso hard do trabalho que realizava, quer pelo vis da experimentao pela
bricolagem. Esse procedimento teve como consequncia duas direes: a
primeira foi a que ocasionou uma verdadeira revoluo em parte da indstria
txtil que precisou se adaptar a eles. A mudana vem a partir de modificaes
estruturais no seu maquinrio para intencionalmente produzir os defeitos
(entenda-se efeitos) desejados, ou ainda os conseguindo atravs de
interferncias manuais no processo de produo em srie, com o auxlio de
materiais que absolutamente no fazem parte do universo txtil (bricolagem).
A segunda foi a possibilidade que abriu para que outros segmentos da cadeia
txtil se apropriassem dessa performance marginal e a aplicassem em outros
materiais (malhas com furos, tingimentos manchados, tecidos desbotveis,
amassados, desfiados etc). Essa abertura de caminhos alternativos que s
passou a ser utilizada no final da dcada de 1970, incio dos anos 1980, por
Vivienne Westwood, Rei Kawakubo, Zandra Rhodes entre outros, encontraram
no jeans, j sedimentada, uma vivncia de mais de dez anos.
Vimos tambm que a aceitao desse tipo de vestimenta veio primeiramente
atravs de jovens que de alguma forma buscavam o vesturio de oposio aos
estilos clssicos, adotados pela alta costura ou o prt--porter e que atendiam
elite social e econmica. A diversidade das culturas urbanas de rua, a
ideologia da vestimenta como afirmao pessoal de subverso em oposio
conformidade acompanhou vrios movimentos a partir da dcada de 1950. Os
cdigos foram se multiplicando atravs do anticonformismo dos jovens:
Existencialistas, Zazous, Beatniks, Hippies, Punks, Rasta, Skinheads, New
Wave, Happers, etc

116

Atravs dessas culturas jovens, o jeans foi escolhido por mais de um grupo
como a pea de identificao: ora da sua rebeldia, ora da sua mensagem de
paz e amor, ou da sua ironia ou da sua indiferena ao que a moda estabelecia,
fragmentando assim os padres de estilo e possibilitando as mudanas
estticas das quais falamos.

Fig.139 - O Jeans atende aos vrios grupos urbanos. Montagem da autora.


Fontes: Sabino (2007), Streetwear (2007) e catlogos das marcas: Desigual,
Mod, Silvian Heach, Timezone, 2009

117

O jeans, independente dos segmentos que atende, vem satisfazendo dois


importantes aspectos quando da escolha do vesturio: o pertencimento ao
grupo e dentro desse grupo, a individualizao, o estilo, o diferencial que nos
torna nicos.
No contexto contemporneo da produo da moda, o jeans, carregando os
seus signos adquiridos ao longo de dcadas, ou simplesmente incorporando
seu resultado fisicamente, vem atendendo a praticamente todos os segmentos
econmicos, desconhecendo as diferenas culturais ou de classes sociais;
resolvendo como nenhum outro a igualdade ou hegemonia entre o masculino e
o feminino, se adaptando a qualquer ocasio de uso e se renovando
constantemente a cada lavagem. Essas possibilidades todas vo lhe
conferindo

status,

sensualidade,

reflexes

simblicas

valores

contemporneos.
At mesmo pases universalmente conhecidos como antiamericanos (e o jeans
carrega os Estados Unidos no seu DNA), esto derrubando paulatinamente as
ltimas barreiras para a sua universal aceitao, como vemos nessa foto de
trabalhadores do Ir.

Fig.140 - Trabalhadores no metr de Teer em fevereiro de 2009.


Raulnachina.folha.blog.uol.com.br.

118

Como pudemos observar ao longo dessa dissertao, o jeans enquanto pea


do vesturio, percorreu um caminho diverso daquele traado pela moda em
geral. A alta-costura, durante o final do sculo XIX e metade do sculo XX,
funcionou como uma espcie de ditadora das tendncias de moda. Ao longo
de vrias dcadas, os modelos dos criadores e posteriormente das grandes
marcas, que vestiam as classes altas, artistas e celebridades, ditaram a moda.
Esses

modelos

eram

repensados

(ou

copiados)

pelo

prt--porter,

influenciando e disseminando seus modelos s outras classes sociais at


chegar s industrias que atendem o segmento mais popular, entrando na
massificao e, consequentemente, deixando de ser moda.
J o jeans percorre o trajeto inverso, pois foi criado para vestir o trabalhador;
adotado pelos cowboys; foi escolhido pelos jovens como signo de protesto; foi
usado pelas mulheres como estandarte da sua nova posio; ganhou
popularidade ao redor do mundo; brilhou passarelas de moda; atingiu a
maturidade, renovando-se atravs do conceito premium jeans, que ao lado
dos atuais produtos de luxo no universo da moda (bolsas, culos e relgios),
torna-se mais um cone de status social.
Considerando que o Design est, sobretudo, ligado ao uso eficiente da forma,
quer seja dos produtos, servios ou processos, o jeans , dentre todas as
peas do vesturio, a que se mostra das mais eficientes sob o ponto de vista
da funcionalidade, ergonomia, desempenho, durabilidade, estilo, diferenciao,
atratividade, inovao etc.
Para o profissional da rea, como podemos perceber pela complexidade do
processo de produo, o designer deve ter um repertrio bastante amplo para
que no projeto inicial j se encontre determinada uma pea com todas as
caractersticas de reprodutibilidade e ainda deixar margem para que os
acabamentos na lavanderia, que muitas vezes so manuais, transmitam a
sensao de pea nica ao seu usurio.
Se a interdisciplinaridade pertinente ao trabalho de qualquer bom designer de
moda, no profissional do segmento jeanswear, como vimos, essa diversificao
dos saberes encontra terreno frtil. Mais do que isso: se torna fonte necessria
de criao, pois reconhece no jeans o mais puro representante do design de
moda ps-moderno.

119

V. GLOSSRIO

Algodo
Um dos tecidos leves mais valorizados na moda por sua maciez e conforto, o
algodo fabricado a partir das fibras do algodoeiro. Embora o algodo puro
seja o mais apreciado por consumidores mais exigentes, muitas indstrias
txteis costumam mescl-lo com diversas fibras sintticas para a reduo do
custo do preo final. O tecido de algodo puro, considerado nobre, hoje em dia,
foi durante muito tempo utilizado somente na confeco das roupas dos
escravos brasileiros. Sua valorizao na fabrica do vesturio comeou a partir
do sculo XX. No sculo XI, o chamado algodo colorido passou a ter seu
cultivo estimulado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria, a
Embrapa. Em 2004, j era disponvel nas cores creme, verde e marrom e,
segundo os tcnicos, achados arqueolgicos mostraram algodes coloridos j
existiam h centenas de anos. Atualmente seu cultivo muito explorado na
Paraba (SABINO, 2007).
Amaciante Catinico
Derivado de cidos graxos, lquido levemente amarelado, solvel em gua e
que promove o amaciamento das fibras.
Beneficiamento (txtil)
Considera-se beneficiamento todos os processos que modificam a estrutura ou
a superfcie dos tecidos crus. Amaciamento, lixamento, aplicao de resinas,
estamparia, tingimento so alguns deles.
Bricolagem
A bricolagem o termo utilizado para definir o trabalho executado com as
prprias mos, utilizando meios diferentes daqueles usados por um
profissional.
O bricoleur capaz de executar um grande nmero de tarefas diferenciadas,
mas, diferentemente do profissional, ele no as subordina posse de matrias-

120

primas e de ferramentas concebidas e arranjadas especificamente para a


realizao de seu projeto: o seu universo instrumental aberto e, para ele, a
regra do jogo consiste em sempre se adaptar ao equipamento de que dispe.
Clula de Produo
Formao geralmente circular das mquinas de costura, permitindo uma maior
integrao entre as operaes de montagem (costura) de uma pea do
vesturio.
Cupro
Fibra artificial tendo como base a celulose. Sua dissoluo se d atravs do
cobre e amonaco, tendo como resultado uma fibra extremamente macia.
Denim
O denim uma sarja de algodo fabricada com fios tingidos com ndigo (no
urdume) e com fios na cor natural (na trama). O nome surgiu a partir da
abreviao do francs serg de Nmes, que significa sarja de Nmes. Assim,
de Nmes passou a ser denim. Nmes uma cidade porturia na Frana e o
tecido era muito utilizado na fabricao de roupas para marinheiros. O denim e
a sarja de Nmes so, entretanto, tecidos diferentes, sendo a sarja francesa
uma mistura de l e seda e o denim americano obtido a partir do puro algodo.
(SABINO, 2007).
Desconstrudo (desconstrutivismo)
A desconstruo a capacidade de se questionar sobre o existente, no se
esgotar com o oferecido, quando o pensar e o repensar o problema conduzirem
a experimentaes em direo de uma permanente desmistificao do objeto e
suas representaes, considerando o material, a forma, a estrutura, nunca
partindo de solues auto-evidentes, aprioristicamente verdadeiras, eternas
ou universais onde o fundamental no mais estaria na produo de objetos
com significados estveis, mas no processo de significaes.
Palavra usada na moda para fazer referncia a modelos confeccionados com
corte, estrutura e construo diferentes das formas convencionais. As peas

121

desconstrudas

tm

geralmente

um

apelo

considerado

moderno

ou

vanguardista e podem ter cortes assimtricos, franzidos inesperados e tipos de


costura que costumam fugir dos padres previsveis. (SABINO, 2007)
Desengomagem
Desengomagem o processo de remoo das gomas (a maioria delas so
base de amido) que so usadas para evitar a quebra das fibras durante a
tecelagem.
Design
Bomfim (2002) nos diz que o termo vem do latim designare de + signum
(marca, sinal) significa desenvolver, conceber. A expresso Design surgiu
no sculo XVII, na Inglaterra, como traduo do termo italiano Disegno, mas
somente com o progresso da produo industrial e com a criao das Schools
of Designs a expresso passou a caracterizar uma atividade especfica.
Destroyed
Palavra que significa destrudo em ingls e utilizada para referir-se a roupas
com aspecto envelhecido e gasto, podendo possuir rasgos e desfiados
propositais. O efeito conseguido por meio de tcnicas especiais e muito
usado em calas jeans (SABINO, 2007).
Elastano
Fibra elstica formada por no mnimo 85% de poliuretano segmentado e que
sob a influncia de uma fora de trao, tem a capacidade de alongar o triplo
do comprimento original. Recupera o comprimento original quando cessa a
fora de trao. Conhecida tambm por Expandex.
Encaixe
a disposio justaposta de todas as partes que compem a modelagem da
pea a ser cortada, em todos os tamanhos, com o objetivo de economizar ao
mximo a matria prima. O bom encaixe deve respeitar o fio do tecido que

122

marcado em cada parte da modelagem. Essa marcao deve coincidir


paralelamente aos fios de urdume.
Enfesto
Colocao em camadas das vrias folhas de tecido, nas diferentes cores, para
que sejam cortadas simultaneamente todas as peas que sero produzidas.
Sobre o enfesto colocado o risco resultante do melhor encaixe.
Engomagem
Processo pelo qual passam os fios de urdume antes de entrarem no tear,
conferindo-lhes mais resistncia ao atrito e tenso.

Flam
Nome dado aos fios que possuem irregularidade de espessura. No caso dos
jeans, os tecidos feitos com esses fios recebem a denominao Ring e
podem ser horizontais, verticais (se usados na trama ou no urdume) ou Cross
Ring se utilizados nos dois sentidos.

Grunge
Estilo de algumas bandas de rock pesado como Nirvana e Pearl Jam, que
surgiram em Seatle, nos EEUU na dcada de 1990. Camises super largos em
flanela xadrez, camisetas enormes, meias caindo sobre botas, gorros etc
compunham seu visual que foi adotado como inspirao pelos criadores de
moda na poca.

Jeans
A palavra jeans uma corruptela do francs serje de Geneve, referindo-se
italiana Gnova, cidade porturia onde os marinheiros usavam calas
confeccionadas com uma sarja resistente procedente da cidade francesa de
Nimes. A palavra jeans referindo-se s calas de brim ndigo blue, s comeou
a ser utilizada a partir dos anos 40 pelos jovens americanos. Antes, tal tipo de

123

calas era chamado waist overalls nos Estados Unidos. No Brasil, eram
chamadas calas rancheiras ou calas americanas far-west ou faroeste.
Nos dicionrios americanos pesquisados, publicados antes dos anos 60, a
palavra Jean aparece como "algodo resistente usado na confeco de
macaces" e, nas edies dos anos 60, a palavra j aparece com "s", jeans,
referindo-se a "calas confeccionadas com sarja de algodo resistente". Em
1947, no entanto, o catlogo de vendas da americana Sears, Roebuck and Co
j oferecia Blue Jeans com modelagem especial para mulheres e calas em
ndigo blue, em estilo caubi, para adolescentes e rapazes (SABINO, 2007).
Ilhs(es)
Aviamento de metal, geralmente redondo e vasado ao meio, utilizado
principalmente como passante de cordes para ajustes e fechamentos.
ndigo
O pigmento para o tingimento do brim, utilizado nos jeans, vem da planta
Indigofera tinctoria, e foi usado a princpio. Sua verso sinttica s foi
desenvolvida em 1897, quando Adolfo Bayer identificou a estrutura molecular
da planta. Os jeans fabricados antes de 1920 eram, em sua grande parte,
tingidos com o ndigo natural, que dava uma tonalidade azul mais clara e um
pouco esverdeada (SABINO, 2007).
Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade diz respeito quilo que comum entre duas ou mais
disciplinas ou ramos de conhecimento a partir do estabelecimento de interrelaes. No se trata somente de associar ou somar conhecimentos advindos
de disciplinas distintas. Significa, antes de tudo, a impossibilidade de um nico
contedo ou campo de conhecimento esgotar um assunto, de modo a resultar
em uma anlise e viso mais ampla e complexa sobre este. Inter-relacionar
aponta, alm disto, para as trades pesquisa, criao, produo e reflexo,
anlise, ao.
Segundo Roland Barthes "para se fazer interdisciplinaridade, no basta tomar
um assunto (um tema) e convocar duas ou trs cincias. A interdisciplinaridade

124

consiste em criar um objeto novo que no pertena a ningum" (BARTHES,


1988, p. 99).

Linha de produo
Formao linear das mquinas de costura de maneira que cada costureira fica
responsvel por apenas uma operao, dentro da sequncia de montagem da
pea, passando para a seguinte que est situada sua frente. Esta profissional
far a prxima costura e passar para frente e assim sucessivamente at que a
pea esteja toda montada. Opem-se clula de produo, onde a disposio
circular permite que o processo seja acompanhado por todas as costureiras.
Lixvia
Refere-se partculas minerais contidas na gua do mar, constituindo uma
soluo alcalina eficaz, utilizada para remoo de impurezas.
Patch (es)
Do ingls: remendo; mancha; em moda refere-se ao pedao de tecido utilizado
para remendar. Os trabalhos artesanais, feitos com patches, tm grande
aceitao desde os anos 1960, quando foram confeccionadas pelos hippies,
transformando a antiga colcha de retalhos em patchworks.
Pauperisme
Movimento de moda iniciado na Frana, que tinha como inspirao os
clochards (mendigos). Sua caracterstica era a sobreposio de peas com
comprimentos irregulares, a desconstruo da modelagem e o despojamento.
Os estilistas japoneses na dcada de 1980 foram seus principais divulgadores.

Rebite
Aviamento de metal geralmente colocado nas extremidades dos bolsos para
dar maior resistncia ao uso. Tambm utilizado em acessrios como bolsas,
cintos e sapatos.

125

Stablishment
Do ingls: estabilizado, consolidado, slido. Diz-se do regime social e poltico
em vigncia.
Tencel
Marca registrada de uma fibra artificial chamada Liocel.
Tie-dye
Processo de tingimento artesanal no qual os tecidos so mergulhados
alternadamente em tintas de cores diferentes. Esses tecidos podem ser
enrolados ou amarrados, criando desenhos imprevisveis.

Trama
Fios que entram no tear transversalmente atravs de vrias formas,
dependendo do tear: pina, jato de ar, jato de gua etc. Seu objetivo unir os
fios de urdume, gerando os tecidos. Os principais ligamentos so: tela, sarja e
cetim.

Urdume ou Urdidura
Disposio paralela dos fios colocados no sentido longitudinal, enrolados em
uma espcie de tambor e que vo originar o comprimento do tecido e pelos
quais vo passar os fios de trama.

126

VI. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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Terra s/a,1996.
BAUDRILLARD, Jean. Troca simblica e a morte. S. Paulo: Loyola, 1996
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CALANCA, Daniela. Histria Social da Moda. S. Paulo: Editora SENAC,
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CARMO, Paulo Jos do. Culturas da rebeldia - A juventude em questo. S.
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