Historia Do Jeans
Historia Do Jeans
Historia Do Jeans
LISTA DE ILUSTRAES
Fig 1 - 1o Rebite. ............................................................................................. 21
Fig 2 - Multiplicidade de rebites contemporneos. .......................................... 21
Fig 3 - Mineradores americanos. ..................................................................... 21
Fig 4 - Railmens, Farmworkers e prticos Overalls. ........................................ 22
Fig 5 - Cowboys dos filmes de farwest, de John Waine a Brokeback M.. ....... 23
Fig 6 - Jeans Levis 501 de 1922..................................................................... 25
Fig 7 - 1a empresa a adotar o ziper. ................................................................ 25
Fig 8 - Marlon Brando em O Selvagem. ......................................................... 28
Fig 9 - Easy Rider - 1969................................................................................ 30
Fig 10 - Festival de Woodstock. ....................................................................... 30
Fig 11 - Marlin Monroe na dcada de 1960. ..................................................... 31
Fig 12 - Jeans Stretch, 1980. ........................................................................... 31
Fig 13 - Humberto Saad e Luiza Brunet Publicidade Dijon. .......................... 32
Fig 14 - Dcada de 1970. Cala pintada. ......................................................... 34
Fig 15 - Dcada de 1970 Look em Jeans. ..................................................... 34
Fig 16 - Cala em Patchwork. .......................................................................... 34
Fig 17 - Punks em Paris, 1979. ........................................................................ 36
Fig 18 - Beirendonck, 1997. ............................................................................. 36
Fig 19 - Vivienne Westwood, desfile 1980. ...................................................... 37
Fig 20 - Propagandas das 1as calas jeans fabricadas no Brasil...................... 38
Fig 21 - Gisele Bndchen em shorts jeans. ...................................................... 40
Fig 22 - Martin Margiela e o desconstrutivismo no vesturio............................ 43
Fig 23 - Rei Kawakubo em 1981. ..................................................................... 43
Fig 24 - Madonna na dcada de 1980.............................................................. 44
Fig 25 - Brooke Shields, 1981. ......................................................................... 45
Fig 26 - Exibio do corpo atravs do jeans..................................................... 46
Fig 27 - Jeans Fiorucci, final de 1980............................................................... 47
Fig 28 - Calvin Klein, final de 1980. .................................................................. 47
Fig 29 - Forum, 1988. ....................................................................................... 48
Fig 30 - Calvin Klein Jeans. .............................................................................. 48
Fig 31 - Publicid. Jeans, 1990. ......................................................................... 48
Fig 32 - Armani, 2007. ...................................................................................... 48
Fig 33 - Diesel, 2007. ....................................................................................... 48
Fig 34 - Dolce Gabana, 2009. .......................................................................... 49
Fig 35 - Calvin Klein, 2009. .............................................................................. 49
Fig 36 - Relanamento Jeans Levis 501. ........................................................ 49
Fig 37 - Hugo Boss, 1990. ................................................................................ 50
Fig 38 - Estao de tratamento de gua. ......................................................... 51
Fig 39 - Loja Eden 1a em Jeans 100% orgnico no Brasil............................. 51
Fig 40 - Jeans Levis com 115 anos. O mais caro do mundo. .......................... 53
Fig 41 - Fraldas jeans para beb...................................................................... 54
Fig 42 - Figurino para Bal. .............................................................................. 54
Fig 43 - Dolce Gabana e Louis Vuitton investem em acessrios jeans. ........... 54
Fig 44 - Capacete jeans. .................................................................................. 54
Fig 45 - Tnis Levis ......................................................................................... 54
Fig 46 - All Star................................................................................................. 54
Fig 47 - Poltrona. .............................................................................................. 55
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INTRODUO
Minha vida profissional, paralela ao magistrio, foi na sua quase totalidade,
voltada para o fazer moda. O pensar moda na prtica, foi o incio da produo
do conhecimento que hoje carrego.
Comecei na poca em que no existiam escolas de moda no pas. Isso
significava aprender fazendo e essa prxis foi evoluindo e acompanhando
minha formao quando j era estilista de vrias confeces no Bom Retiro,
depois dando assessoria para tecelagens (desenvolvendo tecidos exclusivos);
para estamparias (na criao e opes de colorao); para tinturarias e
lavanderias (montando cartela de cores para as indstrias txteis e
acompanhando os processos de lavagens de peas em denim). Mas o maior
aprendizado foi atuando na minha prpria confeco, durante toda a dcada de
1980, com duas etiquetas: Ellyclaire (feminina) e CaraMelada (infantil).
Ampliei meus conhecimentos, nesse perodo, no s no que diz respeito
criao, mas tambm ao gerenciamento do produto, em logstica e em
marketing. Essa experincia me forneceu, ao lado das informaes oriundas de
publicaes e visitas tcnicas aos vrios setores da cadeia txtil (fiao,
tecelagem, confeco e beneficiamento), um rico material de trabalho.
Ao iniciar o mestrado, um desafio se imps: o pensar moda de forma
sistemtica. Essa dissertao vem unir as duas formas de interagir com esse
rico universo: o fazer e o pensar, tratados de forma integrada.
Pesquisando a moda, na busca do objeto que constituiria o tema do trabalho,
uma pea me chamou ateno por ser emblemtica: o Jeans. Sua trajetria
carrega uma infinidade de smbolos e signos que vo da resistncia e
praticidade da roupa do trabalhador, passa pela rebeldia, arrojo e
agressividade dos movimentos contra-culturais, carrega emblemas de status e
luxo, bem como de autenticidade e estilo. Essa escolha veio, tambm, por uma
curiosidade pessoal de tentar descobrir o porque de uma pea do vesturio ser
to constante no guarda-roupa da maioria das pessoas, em quase todos os
pases. Mas o principal questionamento era o fato de acharmos linda,
bacana, cool e adquirirmos, uma pea com aspecto usado, rasgada,
14
15
16
17
I - AS METAMORFOSES DO JEANS
Um olhar mais atento a qualquer um dos aspectos das vrias culturas
contemporneas, principalmente as ocidentais, nos leva a perceber que elas
so compostas por elementos dspares, mistos, muitas vezes confusos e com
difcil definio. No que diz respeito aos sistemas de produo na moda e os
processos criativos que os engendram, vemos que esses se valem de
inmeras referncias simultaneamente, assim como nos mbitos da msica, da
arquitetura, do design, no da comunicao, etc. Sendo esse um dos
pressupostos da ps-modernidade, manifestos tambm no design de moda
contemporneo, tornam presentes em sua essncia, recursos de criao que
contrariam os princpios que regiam a moda at meados do sculo passado,
quando as diretrizes da modernidade prevaleciam.
No entanto, muito se tem discutido sobre a modernidade e a ps-modernidade,
chegando alguns autores a questionar at mesmo a existncia dessa ltima.
Por se tratar de conceitos de amplo significado, convm uma reflexo mais
cuidadosa para o entendimento das idias abordadas nesta dissertao.
Embora alguns princpios da modernidade entraram na obsolescncia, ainda
hoje convivemos, no contexto da moda, com muito do seu esprito, quer seja na
fabricao seriada, quer em manter a essncia clssica do vesturio, embora
com a possibilidade de mescl-la a outras posturas. Na modernidade, os
criadores de moda se mantinham fiis a um estilo, repensando a cada estao,
suas prprias referncias assim como faziam os artistas plsticos e as escolas
com suas disciplinas estanques.
A modernidade pode ser entendida como vontade de construir sistemas,
teorias,
interpretaes
totalizantes,
como
sistema
que
acredita
na
18
Nesse cenrio, foi concebido o jeans (ver glossrio pg.122): uma roupa de
uso dirio, uma pea destituda de preocupaes estticas, um objeto
funcional, um uniforme de trabalho produzido em srie. Um sujeito de
identidade fixa e estvel, com um papel e uma funo definidos dentro da
sociedade.
Para alguns autores, a terminologia ps-modernidade tem sido substituda
pela expresso modernidade tardia (JAMESON, 2000) ou modernidade
lquida (BAUMAN, 1997) ou ainda hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004).
Apesar de ser um termo questionvel, a frequncia com que filsofos,
socilogos, gegrafos, e demais pensadores contemporneos, a favor ou
contra, discutem a ps-modernidade, nos d a certeza de que ela existe.
Nesta
reflexo,
utilizaremos
conceito
para
identificar
alterao,
19
20
Temos que os primeiros europeus a utilizarem essas calas, antes mesmo dos
americanos, foram os trabalhadores do porto de Gnova. O tecido era
fabricado em Chieri, uma cidade perto de Turim (Itlia), por volta de 1600. Sua
comercializao se dava atravs desse porto, cuja cidade era a capital de uma
repblica independente e uma potncia naval. As primeiras peas foram feitas
para os genoveses da marinha porque se prestava para todos os fins. Com
essas calas, os velejadores poderiam usar tanto no molhado como no seco, e
cuja perna poderia facilmente ser enrolada (e permaneciam assim) para facilitar
enquanto subiam no convs.
A histria do uso dessa cala, no nosso ponto de vista, deve ser incorporada
para compreendermos sua esttica contempornea. At mesmo os primeiros
processos de lavagem dessa poca, j nos trazem o gnesis do que se
transformou essa pea do vesturio: estes jeans iriam ser branqueados, pois
eram arrastados em grandes redes por trs do navio. A gua do mar atritava a
superfcie enquanto a lixvia (ver glossrio, pg.124) a deixava branca.
Segundo inmeras fontes, o nome vem da aglutinao da expresso de Gene
(de Gnova) usada pelos franceses.
Muitas so as histrias sobre a primeira pea de calas jeans da modernidade,
porm a mais mencionada pelos historiadores nos reporta a Levi Strauss, que
em 1847, com a idade de 24 anos, foi da Alemanha para So Francisco para
vender produtos para mineiros na corrida do ouro. Ele tinha levado consigo as
pesadas lonas de pano que originariamente destinavam-se a fazer tendas.
Porem, os seus clientes potenciais tinham outras necessidades: realizavam um
trabalho duro e precisavam portanto de uma roupa que os ajudasse a enfrentar
os rigores que as escavaes de ouro exigiam. Atendendo s suas
solicitaes, fundou a empresa Levi Strauss tornando-se universalmente
reconhecido como o inventor do jeans em 1853. Em 1870 associou-se a um
alfaiate de nevada, chamado Jacob Davis, que introduziu a aplicao de rebites
(ver glossrio pg.124) de cobre nas laterais dos bolsos, conferindo-lhes maior
resistncia. Assim que Levi Strauss e Jacob Davis adquiriram recursos e
tecnologia industrial para a produo em srie, comearam a produzir os waist
overalls (calas usadas com suspensrios), com apenas um bolso traseiro com
21
Fig.1 - 1 rebite.
Fonte: Huiguang, 2008.
Mudando a partir de seu original em lona (tecido feito com fio resistente em
ligamento tela ver captulo III, em tecelagem) para as pesadas sarjas (tecido
22
23
Fig.5 - Cowboys dos filmes de far west, de John Waine a Brokeback Mountain. Fontes:
Sportswear, ed.48 e Huiguang, 2007.
24
eles, com as pernas mais arqueadas, mais apropriadas para a montaria, ento
surgem os cowboys overalls.
Em pouco tempo (mais ou menos nos anos 1930) a roupa dos cowboys
estava nas telas do cinema atravs de John Wayne, com as calas jeans de
bainha virada. Os filmes de far west tiveram grande sucesso e os novos
dolos espalharam o modismo no chamado cinema western, tambm
popularizado como filmes de cowboys. Nas dcadas que se seguiram,
seriados trazendo a mesma temtica como Roy Rogers e Bonanza, entre
outros, reuniam as famlias em frente aos aparelhos de TV. Hoje, os rodeios
que acontecem no interior de todo Brasil, preservam esse estilo de jeans como
seu mais legtimo representante.
As calas jeans (Levi's), que eram parte da indumentria tpica dos cowboys,
tornaram-se sinnimo de uma vida de independncia, aventura, herosmo e
virilidade. Atualmente a saga se ampliou e vimos, como no filme O segredo de
Brokeback Mountain", retratado o desbravamento (agora social) dos gays
americanos. E o jeans continua sendo escolhido como vesturio fundamental.
Os autnticos desbravadores do oeste americano que passavam o dia inteiro
na sela aprenderam a obter um jeito de deixar aquele tecido rgido de seu novo
jeans mais confortvel: entravam na gua vestidos. As calas, dessa maneira
secavam no corpo, adquirindo as formas de seu usurio. O hbito desse
primeiro processo de amaciamento e encolhimento pelos cowboys se tornou
lenda.
E j que estamos falando em lendas, algumas so realmente curiosas (embora
fossem contadas como a mais pura verdade) e que valem nos lembrarmos:
Na construo da estrada de ferro do extremo oeste Americano, uma cala
"blue-jeans", molhada e amarrada, foi utilizada para arrastar 9 vages de trem
carregados, subindo uma inclinao de 10 graus. E outra: Um trabalhador
texano ficou pendurado durante vrios minutos por um guindaste ao ser colhido
por um dos bolsos de sua cala "denim" no gancho do mesmo.
25
que
eles,
ao
segur-la,
26
27
28
29
30
integrados
ao
quase
global
grupo
de
jovens
descontentes,
31
Mais tarde, por volta do final da dcada de 1970 e incio de 1980, o mercado
denim foi se direcionando predominantemente s mulheres.
32
Durante esse perodo, a expresso "Celebrity jeans" teria sido um bom nome,
pois as pessoas socialites americanas como Gloria Vanderbilt, atrizes como
Joan Collins (pr-Dinastia) e cabeleireiro Vidal Sassoon emprestaram os seus
nomes para linhas de jeans.
Aqui no Brasil, a marca Dijon associou seu produto a modelos como Luisa
Brunet e Monique Evans, conseguindo assim fortalecer a imagem da
sensualidade da mulher brasileira, pois uma parte importante do design do
jeans, nesse perodo, foi o predomnio da
sexy stretch jeans pants (o elastano que
tinha sido introduzido em meados dos anos
1960, explode na sua mistura com o denim). A
partir da ele se tornou um item fortssimo
como diferencial, tornando-o no s mais sexy,
porm muito mais confortvel, pois essa feliz
fuso de fibras proporcionou maior mobilidade,
acompanhando de perto o movimento do
corpo que as veste.
A
associao
jeans
sensualidade
vai
33
34
.
Fig.14 - Dcada 1970
Cala pintada. Fonte:
populuxebooks.com
Fig.16 - Cala em
patchwork. Fonte:
Kioto Moda, 2007
35
Oeste e previsivelmente o denim foi encontrado para ser o tecido ideal: barato
e funcional, no qual as pessoas pudessem expressar sua prpria identidade.
Os hippies inscreviam nas calas jeans suas mensagens, seus bordados, suas
flores, seus tecidos coloridos em forma de aplicaes. A liberdade que alguns
hippies e msticos pregavam ao lado da paz e do amor livre, trazia junto o
desprezo roupa limpa e arrumada, uma vez que, para eles, era um sinal de
comprometimento com o sistema. Vemos agregada a uma outra marca s que
o jeans j havia incorporado. E esse despojamento dos hippies serviu de
inspirao para os grandes fabricantes, que perceberam a oportunidade de
inovar nos acabamentos e produzir seus jeans j com esses aspectos.
O jeans assume ento um outro valor, diferente daquele original: o da
legitimao cultural que, segundo Calanca, a base para que o jeans
alcanasse o status atual. Ela segue dizendo:
O blue jeans consegue superar quase todas as
divises de classe, sexo, idade e ultrapassar os
limites regionais, nacionais e ideolgicos para se
tornar a pea de vesturio universalmente mais
aceita. Segundo os historiadores do costume, o jeans
sofreu um processo de legitimao cultural que o levou
a adquirir significados diferentes daqueles iniciais, de
outra forma no se explicaria como essa pea de
roupa monocromtica e nada refinada conseguiu
exercer tal fascnio. Considerando sua origem, a longa
identificao com a imagem do trabalhador, do duro
trabalho fsico, do oeste americano, os socilogos
afirmam que grande parte da mstica do blue jeans
parece derivar de sentimentos populares de
democracia, igualdade, independncia, liberdade e
fraternidade. (CALANCA, 2008:194).
Na dcada de 1970 essa legitimao cultural se solidifica atravs de um outro
movimento urbano: os Punks, que mesmo sem inteno, tornaram-se grandes
influenciadores do mercado de jeans, at o contemporneo.
Embora tendo como origem os grupos chamados de Garage Band em NewYork, os Punks eram o perfeito espelho da sociedade inglesa em 1977. Nessa
poca a Inglaterra passava por uma grande crise econmica e o ndice de
desemprego era alarmante. Esses jovens tinham nenhuma ou muito poucas
36
de
rock
influenciaram
toda
uma
gerao,
pelas
atitudes
37
atribuindo
mais
importncia
38
as
Fig.20- Propagandas das 1 calas jeans fabricadas no Brasil. Fonte: site bricabrac.com.br
39
instalados
em
sua
configurao:
liberdade,
autenticidade,
40
41
tecnologia).
Assim,
sucessivamente,
manchados,
desfiados,
42
43
quase
artesanal.
Os
dois
cortes
assimtricos,
peas
sem
volumes
acabamentos,
Desde seu primeiro desfile em Paris (no ano de 1981) para sua marca Comme
des Garons, foi considerada um marco de renovao da moda. Mesmo
44
juventude:
pop-star
Madonna.
pela facilitao em suaves prestaes de intervenes cirrgicas, lipoesculturas, silicones, botox etc, promove um aumento gradativo da exposio
dos corpos, agora impostos e igualitados pela mdia (VILLAA, 2007).
Baudrillard estabelece o dilogo com o marketing, colocando que Seduzir
morrer como realidade e se produzir como artifcio (BAUDRILLARD apud
CATOIRA,
2006:
contemporaneidade.
35).
Essa
premissa
encontra
consonncia
at
45
mudanas
urgiam.
fabricao
na
Inglaterra,
relativamente
um
de
jeans
usaram
como
estratgia
diferenciao
pela
46
autenticidade, outros pelo luxo, pela seduo, pela modelagem, pelo design
etc.
Todas as estratgias se mostraram eficazes, mas desde que Calvin Klein
colocou Brooke Shields, ento a ninfeta do momento, num imenso outdoor na
Times Square em New York com a afirmao: entre eu e o meu jeans no
existe mais nada, a sensualidade se instala definitivamente ao lado do jeans.
Ela est presente na concepo, na matria prima, na modelagem, na atitude
do uso e na publicidade das marcas de jeans, at hoje, como veremos adiante.
A preocupao esttica da modelagem dos corpos vem de encontro
exposio desse corpo atravs dos tecidos stretch. O jeans ganha, ento um
flego a mais, pois, pela sua estrutura mais forte do que os tecidos de Lycra
(marca da malha construda com fio de elastano, pioneira nesse segmento),
alm de colar ao corpo como uma segunda pele, ele o sustenta, promovendo
e facilitando sua re-modelagem.
A primeira empresa a fabricar o jeans com essa mistura foi a Leger Milk, da
Itlia, no final da dcada de 70, que passou a produzir o denim com certa
porcentagem de fibra elstica, com a proposta de fazer com que a roupa
tomasse formas mais prximas ao corpo. A princpio, a idia
teve poucos adeptos, mas algum tempo depois, quando a
Levi's lanou a linha feminina no Reino Unido, as inglesas,
literalmente, aderiram tendncia. Na dcada de 1980,
ento, encontrando consonncia com o cenrio do qual
falamos anteriormente, essa juno se solidifica se espalha
pelo mundo ocidental.
Vemos tambm que a relao do sujeito contemporneo
com seu corpo se revela em constante mutao, derrubando
as barreiras que impeam a sua plena realizao. As
ltimas dcadas viram a eliminao das fronteiras, entre o
corpo sadio e o doente (avanos das cincias mdicas), o
masculino e o feminino (gays liberando componentes
Fig.26- Exibio do
corpo atravs do
jeans.
sannasjeans.com
47
48
Fig.31 - Publicid.Jeans,1990:
Fonte:Sportswear ed.48
49
transformado
em
uma
tendncia de massa.
Ainda ao longo da dcada de 1980,
esses
valores
receberam
plena
promissores,
dos
setores.
dinmicas
Eles
se
mulheres
somaram
que
agora
50
portanto
recursos
precisam
51
52
53
cortes valorizam o corpo da mulher. Tanto que Zoomp, Colcci, Frum e outras
exportam seus jeans regularmente e Carlos Mile, da M.Officer, acaba de
inaugurar uma loja em Paris. (vitrineoeste.com.br).
Como curiosidade, a Forbes organizou uma lista interessante: a dos jeans mais
caros da histria. Entre os vrios modelos de designer e peas customizadas
com cristais e jias, o nmero um ficou com uma pea muito antiga. O jeans
Levis com 115 anos de idade foi leiloado recentemente no e-Bay americano
por incrveis 60 mil dlares (hypedesire.blogtv.uol.com.br), provando que, em
se tratando de jeans, a autenticidade leva vantagem sobre o luxo.
E o jeans vai alm. Invade outros mercados saindo do vesturio para a loja de
decorao, para a de acessrios, brinquedos, para a galeria de arte tanto como
matria prima quanto como objeto de contemplao etc. Ainda permite aos
que, no satisfeitos com o que lhes foi oferecido, reforcem a idia de
originalidade, imprimindo modificaes constantes, pessoais e nicas ao longo
da sua existncia. A seguir alguns exemplos desses novos mercados invadidos
pelo jeans, quer utilizado como matria prima, quer como objeto de
contemplao.
54
Fig.43 - Griffes famosas como Dolce & Gabana e Louis Vuitton investem em acessrios jeans.
55
Fig.47 - Poltrona.
Designboom.com
56
promovendo
um
saber
ambguo,
muitas
vezes
contraditrio.
Essa viso compartilhada por vrios autores, como por exemplo, Daniela
Calanca, (2008) quando afirma: O ps-moderno... tambm ps-industrial,
enfatiza a parte ambgua e contraditria da racionalidade, tem uma viso crtica
da cincia e da tecnologia, e prope uma concepo do saber sem os
fundamentos que esto na base do projeto moderno. Reafirma ento a idia
da ps modernidade utilizar sistemas de concepo de produtos ou idias que
no so ortodoxas, mas fruto de experimentaes e misturas muitas vezes
incoerentes.
Outros autores ainda colocam, como
57
58
pblico,
acompanhando
de
59
mesma
modernidade,
ir
alm
sua
ordem
monolgica.
60
Westwood,
smbolo
agressividade
rompimento
Fig.56 - J. F.Ferr, 2007.
Fonte: www.guiajeanswear
stablishment,
com
chancela
de
e
ao
mas
de
61
62
Tradicional (antifit)
Pata de Elefante
Semi-Beggy
Cowboy
Pantalona
Clochard
Sain-Tropez
Jogging
Oversised
Boca de Sino
Beggy
63
Hip-hop
Skinny
Cenoura
Reta
Cargo
Cropped
Cintura baixa
Cut boot
Alfaiataria
Cintura alta
Cavalo baixo
Sarouel
64
(algodo/elastano;
algodo/cupro
(ver
glossrio,
pg.120);
65
66
67
68
Responsvel pelo incio de toda a cadeia txtil, a fibra txtil, numa definio
mais simplista todo material passvel de ser fiado e tecido. Para se obter uma
definio mais precisa, necessrio definir-se a constituio qumica, que
baseada
em
polmeros.
Polmeros
so
substncias
formadas
por
69
70
III.2 - FIAO
A fibra utilizada para a fabricao do jeans basicamente a fibra natural
vegetal: o algodo (ver glossrio pg.119). Ressalva feita aos tecidos em que
se misturam outras fibras para a fabricao de produtos com diversas
qualidades, como por exemplo, o elastano que aumenta a flexibilidade ou fios
de ouro que enobrecem e valorizam o visual, ou o desenvolvimento do tecido
Cermico, que um tecido trmico, feito a partir de insero de barro
mofado na sarja (o tecido mais receptivo), seguido de uma aplicao de
impermeabilizante. Essa mistura tem como resultado um tecido que
provoca intensa sensao de frescor. Esta tcnica usada com sucesso pela
dupla do jeans fashion Marith e Franois Girbaud (CHATAIGNIER, 2006).
Para o processo de fabricao do tecido Denim os fios de urdume (ver
glossrio pg.125) (no sentido do comprimento do tecido) so tingidos antes
de entrarem no tear, e os de trama (ver glossrio pg.125) (no sentido
horizontal) so brancos. Esse tingimento, a princpio feito com o pigmento
extrado da planta ndigo, um produto que oferece baixa solidez, ou seja,
71
72
73
(ver
glossrio
pg.122).
Este
processo
pode
tingir
74
.
Fig.64 - Tingimento sem antimigrante.
III.3 TECELAGEM
Tecer significa transformar fios em tecido. No caso do jeans, tecido plano,
produzido em tear de trama e urdume. Esse processo se divide em trs
movimentos bsicos: Abertura da cala, insero da trama e batida do pente.
Abertura da cala uma abertura em formato triangular, originada pelo
movimento de subida e decida de duas camadas de fios provenientes de um
rolo de urdume, acoplados ao tear, por onde dever passar o fio de trama. O
movimento de subida e decida dos fios possvel atravs de um dispositivo
chamado quadro de lios. O nmero de quadros de lios de um tear
determina o tipo de ligamento do tecido a ser produzido e vice-versa.
Insero da trama consiste no movimento de introduo do fio de trama pela
abertura da cala. Devido alternao dos movimentos dos fios de urdume,
possibilita o ato de tramagem. Para conduzir a trama existem processos
diferenciados, dependendo do tipo de tear: lanadeira, projtil, jato de ar, jato
de gua entre outros.
Batida do pente o processo pelo qual um quadro de lminas paralelas,
chamado pente conduz o fio de trama at encost-lo ao anterior. Quando o
75
pente se desloca frente, encosta o ltimo fio de trama inserido nos demais e,
quando retorna, propicia a insero de um novo fio. O pente determina no s
a quantidade de fios por centmetro, mas tambm a largura do tecido cru.
76
77
O tecido, quando sai do tear, mesmo que o urdume esteja tinto, como o caso
do denim, recebe o nome de tecido cru.
O beneficiamento do tecido cru est dividido em trs etapas: a Preparao, o
Beneficiamento propriamente dito e os Acabamentos especiais. No caso do
denim, seu beneficiamento se processa em uma mquina chamada linha
integrada, onde se realizam quatro processos consecutivos: chamuscagem,
amaciamento, desvio de trama e pr-encolhimento.
78
O tecido pronto, ento passa pela inspeo de qualidade, existindo para cada
empresa, um parmetro diferenciado, de acordo com a classificao do produto
(primeira ou segunda linhas).
79
III.4 - CONFECO
Como uma herana da modernidade, o processo de fabricao das peas
segue a lgica sequencial similar a qualquer outra pea do vesturio:
primeiramente, como vimos no incio desse captulo, elaborado o projeto de
design de acordo com o briefing da empresa com relao ao pblico alvo. As
pesquisas de tendncias so realizadas por vrios meios, tais como: os
bureaux de moda; os desfiles das vrias fashion weeks pelo mundo; as
macro tendncias de comportamento, os sales e feiras da cadeia txtil. No
caso especfico do jeanswear, a sua maior mostra o salo internacional
Bread & Butter, com cerca de 800 expositores de diversos pases. Outras
fontes tem hoje grande fora como influncias criativas: a rua e seus grupos, os
movimentos musicais, as diversas correntes artsticas entre outros. O designer
deve estar atento ainda s novas tecnologias, quer seja no desenvolvimento de
matria prima txtil, de aviamentos, acabamentos de lavanderia e tingimentos.
A proposta de criao das colees vem a partir de toda essa conjuno de
informaes, somadas criatividade do Designer.
Inicia-se, ento, a construo da modelagem. Modelagem o desenho
planificado, geralmente em papel craft, das partes da pea que depois de
costuradas resultem no produto vestvel em uma das numeraes de
fabricao.
A seguir procede-se a montagem na pea piloto (como chamado o prottipo
em moda), Essa pilotagem tem como objetivo verificar possveis defeitos, tanto
de modelagem quanto de costura e condies de produtividade. Se houver
alguma falha grave, essa pilotagem refeita at que a pea esteja de acordo
com o esperado.
Quando aprovada, passa-se elaborao da ampliao do molde em todos os
tamanhos que essa pea ser produzida (P, M, ou G ou ainda... 38, 40, 42,
44... dependendo do sistema adotado pela empresa).
80
Fig.72 - Modelagem da cala jeans modelo five pockets. Fonte: Santista Txtil
81
Obtem-se ento o risco com uma medida de gasto que ser usada como
referncia para a colocao das vrias folhas de tecido e que iro resultar na
produo total das peas. A esse processo damos o nome de enfesto (ver
glossrio pg.122). Essa etapa, na maioria das indstrias feita manualmente,
embora existam maquinas cujo processo automatizado, pois so acopladas a
uma estao digital.
O enfesto pode ser realizado de forma mpar (quando as folhas de tecido so
colocadas sempre com a superfcie do mesmo lado) ou par (quando a
disposio casada avesso com o direito), mas nesse caso, podemos utiliz-lo
somente se a pea for simtrica.
82
Pronto o enfesto, colocada a folha com o risco feito a partir do encaixe sobre
a ultima folha de tecido. Esse risco dever estar totalmente identificado, tendo
cada uma das partes: o nmero do modelo, a parte da pea que corresponde
aquele formato (cz, bolso esquerdo, frente esquerda etc), e a numerao a
qual pertence, bem como a linha correspondente ao fio do tecido (o de urdume)
para que o produto final no seja comprometido na sua qualidade. A seguir
vem o corte que por sua vez, tambm pode ser manual (a maioria) ou
eletrnico:
tamanho,
devidamente
feita
geralmente
pelo
quando
existe
83
Legenda
A.
B.
C.
D.
E.
F.
G.
H.
I.
J.
K.
L.
M.
N.
O.
84
DESCRIO DAS
FASES
ORDEM
PREPARAO
BOLSO
DIANTEIRO
MQUINA
PONTO
ACESSRIO
P. F. 2 Ag.
2x301
Embainhador
P. F. 2 Ag.
2x301
Ov. 3
504
P. F. 1 Ag.
301
P. F. 1 Ag.
301
Tesoura
Pespontar
(2x)
P. F. 2 Ag.
2x301
Guia p/
pesponto
DESCRIO
85
P. F. 1Ag.
301
Ov. 5
516
10
Ov. 3
504
11
P. F. 2 Ag.
2x301
Aparelho p/
dobra
12
P. F. 2 Ag.
2x301
Sapata. zper
13
P. F. 1 Ag.
301
14
P. F. 1 Ag.
301
15
Pesponto curvo
braguilha
(1x)
P. F. 2 Ag.
2x301
16
Dobrar e chulear
Pertingal
(1x)
Ov. 3
504
17
P. F. 2 Ag.
2x301
Sapata zper
18
P. F. 2 Ag.
2x301
PREPARAO
19
P.C. 2 Ag.
2x401
Aparelho de
encaixe
PALA
20
P.C. 2 Ag.
2x401
Aparelho de
encaixe
PREPARAO
BOLSO TRASEIRO
21
Embainhar bolso
traseiro
(2x)
P. F. 2 Ag.
2x301
Embainhador
22
Marcar pesponto no
bolso
(2x)
Gabarito
23
Pespontar bolso
(2x)
P. F. 2 Ag.
2x301
24
Passar bolso
(2x)
Ferro/
Gabarito
PREPARAO
BRAGUILHA
86
MONTAGEM
ACABAMENTO
25
P. F. 2 Ag.
2x301
Sapata
Compensadora
26
Revisar dianteiro
(1x)
27
Revisar traseiro
(1x)
28
Unir laterais
(2x)
Mq. brao
2x401
Aparelho de
encaixe
29
Unir entrepernas
(2x)
Ov. 5
516
30
Emendar e enrolar cs
(1x)
Ov. 3
504
31
Pregar cs inserindo
etiqueta
P.C. 2 Ag.
2x401
Aparelho de
cs
32
Aparar e descoser
ponta do cs (2x)
Tesoura
33
Rebater ponta do cs
P. F. 1 Ag.
301
34
Embainhar boca da
cala
P. F. 1 Ag.
301
Aparelho
bainha
35
Fazer passantes e
cort-los
(5x)
Colarete 2
Ag.
406
Aparelho
passante
36
Pregar passantes e
mosquear (21x)
Mosqueadeira
37
Casear
(1x)
Caseadeira
38
Marcar boto
(1x)
39
Pregar boto
(1x)
Botoneira
40
Limpar e revisar
(1x)
Fig.81 Sequncia de montagem da cala Jeans. Fonte: Catlogo Senai Cetiqt, 1996.
87
No.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
Descrio
Bainha bolso relgio
Pregar bolso do relgio
Overlocar espelho
Pregar espelho no forro
Overlocar vista esquerda
Overlocar vista dir.e pr.ziper
Cortar etiq. tam/comp.
Unir etiq. tam/comp.
Bainha do bolso traseiro
Dobrar bolso traseiro
Unir pontas de cs
Formar rolo de cs
Fazer passantes
Cortar passantes na medida
Casar bolsos c/frentes
Pregar bolsos dianteiros
Alinhavar bolsos dianteiros
Pregar etiq. tam/comp.
Fechar bolsos dianteiros
Casar vistas c/ dianteiros
Pregar conjunto de vistas
Pespontar vista esquerda
Unir dianteiros
Revisar dianteiros
Casar bolsos c/traseiros
Pregar bolsos traseiros
TOTAIS
0,15
0,55
0,18
0,43
0,25
0,46
0,12
0,20
0,38
0,85
0,10
0,35
0,25
0,18
0,10
0,82
0,42
0,18
0,80
0,10
0,78
0,85
0,50
0,39
0,10
1,29
88
No.
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
Fig.61 -
Descrio
Pregar palas
Unir gancho traseiro
Pespontar gancho traseiro
Destacar pala e gancho
Revisar traseiros
Casar traseiros/dianteiros
Fechar entrepernas
Fechar laterais
Destacar laterais
Virar cala
Pespontar laterais
Pregar cs
Destacar e abrir pontas de cs
Acabar pontas de cs
Pregar 07 passantes
Fazer bainha jeans
Fazer 11 travetes
Fazer 01 caseado de olho
Marcar posio do boto
Pregar 01 boto de haste
Limpeza de fios
Revisar e dobrar cala
Embalar cala
Tempo TOTAL
TOTAIS
0,48
0,32
0,28
0,90
0,39
0,53
0,86
0,81
0,33
0,19
0,36
0,93
0,68
0,97
0,72
0,72
1,10
0,28
0,08
0,11
1,98
0,73
0,20
24,73
89
Na
minha
vida
profissional,
por
vrias
vezes,
assumi
90
91
Algumas etiquetas tem vida curta, s vezes, o tempo de uma estao, mas so
criadas com o propsito de alguma mudana no estilo de vida, ainda que
temporria. Mesmo assim sustentam o compromisso de perpetuar a marca cujo
nome se mantem, transformando-se camaleonicamente, estao aps estao.
Um outro diferencial que tem quase o mesmo
comportamento das etiquetas, so as filigranas de
bolso traseiro. Seu desenho, para algumas empresas
como uma marca registrada que proporciona uma
identificao
imediata.
pespontadas,
geralmente
atualmente
encontramos
princpio
com
uma
duas
apenas
agulhas,
variedade
muito
92
93
III.5 - BENEFICIAMENTOS
Com informaes tcnicas extradas da edio do SENAI. CETIQT. Denim:
Histria, Moda e Tecnologia (1994), resgatamos as informaes de que os
processos de beneficiamento (ver glossrio, pg.119) de peas do vesturio
confeccionadas podem ser classificados em dois grupos:
1 Efeitos de desbotamento ou de envelhecimento de peas confeccionadas;
2 Tingimento de peas confeccionadas.
No caso especifico do Jeans, nos interessa acima de tudo e por razes bvias,
o primeiro tipo de beneficiamento. Os efeitos de desbotamento sobre peas j
prontas, partindo do material tinto, comearam a ter aceitao na dcada de
60, quando os "hippies" obtinham, na maioria das vezes de forma involuntria,
efeitos que eram produzidos pelo desgaste do tecido com o uso ou atravs de
lavagens caseiras, empregando solues de hipoclorito de sdio (gua
sanitria). Em seguida, esses efeitos passaram a ser obtidos em escala
industrial, atravs do emprego de produtos qumicos para provocar o
desbotamento. Para se obter o efeito de envelhecimento passou-se a utilizar a
pedra-pomes e, mais tarde, a argila nodulizada durante o procedimento de
lavagem, para promover o desgaste do tecido. O maquinrio para a obteno
destes efeitos especiais constitudo basicamente de mquina de lavar,
extrator centrfugo e secadeira de tambor rotativo ("Tumbler").
94
95
Fig.98 - Resultado
aplicao de permaganato
96
97
Fig.104 Ralados
Fonte: Foto da autora
Fig.106 Pincelado
Fonte: Foto da autora
Fig.105 Escovado
Fonte: Catlogo Santista
98
99
100
101
102
III.5.B Lavanderia
Comearemos abordando as lavagens processadas no tecido em pea, ou
seja, antes da sua confeco. A primeira interferncia que procurou dar ao
tecido um aspecto de envelhecimento precoce e que deu origem aos demais foi
o denominado "lixado" que consiste em passar o tecido, em aberto e de forma
contnua, em equipamentos normalmente improvisados, providos de cilindros
revestidos com material abrasivo (lixa fixada com cola em rolos de madeira).
O processo que se seguiu foi o denominado Bleached ou "Dlav", que,
inicialmente utilizado em veludos (corduroy), possua a denominao especial
de "Dlav Cord", sendo posteriormente aplicado em denim e brins em geral.
No processo "Dlav", o cliente pode adquirir o tecido em pea, j envelhecido
(lavado), ou adquiri-lo perfeitamente tinto, junto com uma amostra do mesmo
tecido j lavado e com o aspecto envelhecido.
Atualmente, as empresas fabricantes de denim, fornecem seus produtos com
uma gama muito grande de variaes de fios, tramagem, tingimentos e
processos de lavagem.
103
104
Fig.123 - Denim 10,5 Oz. 100% algodo. Coating. Fonte: catlogo Basf/Vintage
105
106
Dirty wash: lavagem realizada em jeans que tenha uma base estonada mdia
com sobretinta em tom caqui, dando efeito de envelhecimento. Tambm mais
indicado para a pea pronta.
Perlita e P Abrasivo:
- Alternativa para envelhecer tecidos mais leves e delicados.
Pedra Pomme
Cinasita
.
Fig.127 Pedras abrasivas. Fonte: CD Universidade Santista
Perlita
107
No exemplo, lavagem realizada com pedras vulcnicas, causando no tecido ranhuras desiguais quando batidas na mquina de lavagem industrial. A imagem
traz tambm bigodes permanentes deslocados.
Fire wash: lavagem realizada em jeans escuro (ndigo ou black) com corantes
vermelhos que produzem tons prximos aos do fogo ou aos de terras
barrentas. O efeito obtm melhores resultados com peas j confeccionadas.
Fig.129 - Bread&Butter
2009. Fonte: Foto da
autora
108
109
Fig.132 - Bread&Butter.
Fonte: Foto da autora,
2009
.
Silver Black - Sprays criam efeito manchado na barra ou nas pernas das
calas, enquanto a aplicao de resina confere a toda pea um acabamento
brilhante.
.
110
Fig.134 - Bread&Butter
Barcelona.
Fonte: Foto da autora, 2009.
111
3D resinado
Acabamento resinado que proporciona a sensao de relevos, ao mesmo
tempo em que impermeabiliza a pea.
112
E mais:
Overdie: lavagem realizada por mltiplos recursos e tonalidades diferentes de
corantes, criando efeitos de sujeiras.
Mud wash: lavagem realizada em jeans escuro (azul ou black jeans) com
sobretinta verde, algumas vezes produzindo efeito de camuflado.
Pr-washed: lavagem realizada com a finalidade de amaciar o tecido, por meio
de enzimas amaciantes ou silicone. Sem acabar com a solidez do ndigo, esta
lavagem torna o produto agradvel no toque e uso. No muda o tom do tecido.
Soft rigid: lavagem realizada em tecido virgem, visando um leve amaciamento.
Algumas lavagens, como pudemos observar, envolvem uma srie de
procedimentos qumico-fsicos para se obter resultados estticos mais
agressivos, recebendo dois ou mais efeitos sobrepostos, conseguindo-se uma
diferenciao e um aspecto de envelhecimento cada vez maior.
Na contemporaneidade, como apontado no incio desse trabalho, esse sujeito
ps-moderno, no se contenta em ser homogneo e coerente. Ele se
transmuta concomitantemente, em jeans bruto, apenas amaciado; em um jeans
vintage mais limpo, beneficiado com processo de oznio; em jeans manchados
propositalmente com aplicao de corantes fazendo uma releitura do tie-dye;
em jeans detonados, com buracos ou remendados, com efeitos de manchas e
sujeiras relembrando as peas usadas pelos trabalhadores que deram origem a
criao do jeans; stone washed, com ou sem enzimas; destroyed; used;
bigode; fast pin; plissado; bigode permanente; lixado; pudo; esmerilhado;
amaciado; marmorizado, marcado a laser, raclado etc etc etc.
importante lembrar que as nomenclaturas dos efeitos e lavagens podem
mudar, dependendo no s das lavanderias industriais, como tambm das
tendncias da moda (que indicam a todo o momento novidades tambm neste
setor ) e das grifes s quais pertencem.
113
Aps sua neutralizao e secagem que pode ser feita em tambores ou fornos,
as peas entram para o acabamento na oficina, onde recebem os metais
(botes, rebites, ilhoses), aplicaes, bordados especiais etc.
114
CONSIDERAES FINAIS
Como consequncia do fazer e do pensar moda atravs desse estudo,
selecionamos a partir do jeans, trs aspectos de reflexo importantes: o
primeiro a possibilidade de identificar o jeans como sujeito ps-moderno; o
segundo a constatao das mudanas nos processos de produo que
transformaram a indstria, principalmente de beneficiamento; a terceira
constatao se refere s mudanas nos conceitos estticos da moda, que a
partir do jeans se expandiram para outros setores. Reconhecemos ainda o seu
uso como uma das mais democrticas peas do vesturio.
O jeans a pea que ao mesmo tempo moderna e ps-moderna. Ele nasceu
sob a essncia da modernidade enquanto sistema de industrializao. E ele
concomitantemente ps-moderno, pois agrega os trs princpios que, segundo
Lipovetsky, definem a ps-modernidade: a seduo, a renovao permanente e
a diferenciao marginal. Ora, o jeans sedutoramente se expe atravs de
modelagens femininas, aderentes ao corpo, com o auxlio do fio de elastano,
enquanto permite aos homens serem sensuais tanto pelas formas ajustadas,
quantos pela colocao de uma cintura abaixo das suas peas ntimas ou pela
apropriao do imaginrio sensual e sexual de ambos, utilizados como
estratgia de marketing pela maioria dos seus fabricantes.
A renovao em moda sua prpria mola propulsora, na medida em que ela
sustentada, hoje, pela busca incessante da novidade. As grandes colees que
duravam seis meses pelo menos, passaram a ser apenas o marco de mudana
das estaes, pois inmeras empresas trabalham com colees trimestrais,
mensais ou at mesmo apresentando novidades semanalmente.
No jeans, alm de acompanhar essa engrenagem, a renovao extrapola o
tempo, pois se faz dia a dia, tanto pelo desbote da sua cor quanto pelas
presses irregulares e abrasivas em sua superfcie, conferindo-lhe um aspecto
nico.
Por fim, o prprio smbolo da diferenciao marginal, por toda a quebra de
paradigmas estticos da moda, da qual precursor e que veio rompendo ao
longo dos anos. Seu resultado acontece simultaneamente ao da arte e da
prpria organizao social das metrpoles.
115
116
Atravs dessas culturas jovens, o jeans foi escolhido por mais de um grupo
como a pea de identificao: ora da sua rebeldia, ora da sua mensagem de
paz e amor, ou da sua ironia ou da sua indiferena ao que a moda estabelecia,
fragmentando assim os padres de estilo e possibilitando as mudanas
estticas das quais falamos.
117
status,
sensualidade,
reflexes
simblicas
valores
contemporneos.
At mesmo pases universalmente conhecidos como antiamericanos (e o jeans
carrega os Estados Unidos no seu DNA), esto derrubando paulatinamente as
ltimas barreiras para a sua universal aceitao, como vemos nessa foto de
trabalhadores do Ir.
118
modelos
eram
repensados
(ou
copiados)
pelo
prt--porter,
119
V. GLOSSRIO
Algodo
Um dos tecidos leves mais valorizados na moda por sua maciez e conforto, o
algodo fabricado a partir das fibras do algodoeiro. Embora o algodo puro
seja o mais apreciado por consumidores mais exigentes, muitas indstrias
txteis costumam mescl-lo com diversas fibras sintticas para a reduo do
custo do preo final. O tecido de algodo puro, considerado nobre, hoje em dia,
foi durante muito tempo utilizado somente na confeco das roupas dos
escravos brasileiros. Sua valorizao na fabrica do vesturio comeou a partir
do sculo XX. No sculo XI, o chamado algodo colorido passou a ter seu
cultivo estimulado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria, a
Embrapa. Em 2004, j era disponvel nas cores creme, verde e marrom e,
segundo os tcnicos, achados arqueolgicos mostraram algodes coloridos j
existiam h centenas de anos. Atualmente seu cultivo muito explorado na
Paraba (SABINO, 2007).
Amaciante Catinico
Derivado de cidos graxos, lquido levemente amarelado, solvel em gua e
que promove o amaciamento das fibras.
Beneficiamento (txtil)
Considera-se beneficiamento todos os processos que modificam a estrutura ou
a superfcie dos tecidos crus. Amaciamento, lixamento, aplicao de resinas,
estamparia, tingimento so alguns deles.
Bricolagem
A bricolagem o termo utilizado para definir o trabalho executado com as
prprias mos, utilizando meios diferentes daqueles usados por um
profissional.
O bricoleur capaz de executar um grande nmero de tarefas diferenciadas,
mas, diferentemente do profissional, ele no as subordina posse de matrias-
120
121
desconstrudas
tm
geralmente
um
apelo
considerado
moderno
ou
122
Flam
Nome dado aos fios que possuem irregularidade de espessura. No caso dos
jeans, os tecidos feitos com esses fios recebem a denominao Ring e
podem ser horizontais, verticais (se usados na trama ou no urdume) ou Cross
Ring se utilizados nos dois sentidos.
Grunge
Estilo de algumas bandas de rock pesado como Nirvana e Pearl Jam, que
surgiram em Seatle, nos EEUU na dcada de 1990. Camises super largos em
flanela xadrez, camisetas enormes, meias caindo sobre botas, gorros etc
compunham seu visual que foi adotado como inspirao pelos criadores de
moda na poca.
Jeans
A palavra jeans uma corruptela do francs serje de Geneve, referindo-se
italiana Gnova, cidade porturia onde os marinheiros usavam calas
confeccionadas com uma sarja resistente procedente da cidade francesa de
Nimes. A palavra jeans referindo-se s calas de brim ndigo blue, s comeou
a ser utilizada a partir dos anos 40 pelos jovens americanos. Antes, tal tipo de
123
calas era chamado waist overalls nos Estados Unidos. No Brasil, eram
chamadas calas rancheiras ou calas americanas far-west ou faroeste.
Nos dicionrios americanos pesquisados, publicados antes dos anos 60, a
palavra Jean aparece como "algodo resistente usado na confeco de
macaces" e, nas edies dos anos 60, a palavra j aparece com "s", jeans,
referindo-se a "calas confeccionadas com sarja de algodo resistente". Em
1947, no entanto, o catlogo de vendas da americana Sears, Roebuck and Co
j oferecia Blue Jeans com modelagem especial para mulheres e calas em
ndigo blue, em estilo caubi, para adolescentes e rapazes (SABINO, 2007).
Ilhs(es)
Aviamento de metal, geralmente redondo e vasado ao meio, utilizado
principalmente como passante de cordes para ajustes e fechamentos.
ndigo
O pigmento para o tingimento do brim, utilizado nos jeans, vem da planta
Indigofera tinctoria, e foi usado a princpio. Sua verso sinttica s foi
desenvolvida em 1897, quando Adolfo Bayer identificou a estrutura molecular
da planta. Os jeans fabricados antes de 1920 eram, em sua grande parte,
tingidos com o ndigo natural, que dava uma tonalidade azul mais clara e um
pouco esverdeada (SABINO, 2007).
Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade diz respeito quilo que comum entre duas ou mais
disciplinas ou ramos de conhecimento a partir do estabelecimento de interrelaes. No se trata somente de associar ou somar conhecimentos advindos
de disciplinas distintas. Significa, antes de tudo, a impossibilidade de um nico
contedo ou campo de conhecimento esgotar um assunto, de modo a resultar
em uma anlise e viso mais ampla e complexa sobre este. Inter-relacionar
aponta, alm disto, para as trades pesquisa, criao, produo e reflexo,
anlise, ao.
Segundo Roland Barthes "para se fazer interdisciplinaridade, no basta tomar
um assunto (um tema) e convocar duas ou trs cincias. A interdisciplinaridade
124
Linha de produo
Formao linear das mquinas de costura de maneira que cada costureira fica
responsvel por apenas uma operao, dentro da sequncia de montagem da
pea, passando para a seguinte que est situada sua frente. Esta profissional
far a prxima costura e passar para frente e assim sucessivamente at que a
pea esteja toda montada. Opem-se clula de produo, onde a disposio
circular permite que o processo seja acompanhado por todas as costureiras.
Lixvia
Refere-se partculas minerais contidas na gua do mar, constituindo uma
soluo alcalina eficaz, utilizada para remoo de impurezas.
Patch (es)
Do ingls: remendo; mancha; em moda refere-se ao pedao de tecido utilizado
para remendar. Os trabalhos artesanais, feitos com patches, tm grande
aceitao desde os anos 1960, quando foram confeccionadas pelos hippies,
transformando a antiga colcha de retalhos em patchworks.
Pauperisme
Movimento de moda iniciado na Frana, que tinha como inspirao os
clochards (mendigos). Sua caracterstica era a sobreposio de peas com
comprimentos irregulares, a desconstruo da modelagem e o despojamento.
Os estilistas japoneses na dcada de 1980 foram seus principais divulgadores.
Rebite
Aviamento de metal geralmente colocado nas extremidades dos bolsos para
dar maior resistncia ao uso. Tambm utilizado em acessrios como bolsas,
cintos e sapatos.
125
Stablishment
Do ingls: estabilizado, consolidado, slido. Diz-se do regime social e poltico
em vigncia.
Tencel
Marca registrada de uma fibra artificial chamada Liocel.
Tie-dye
Processo de tingimento artesanal no qual os tecidos so mergulhados
alternadamente em tintas de cores diferentes. Esses tecidos podem ser
enrolados ou amarrados, criando desenhos imprevisveis.
Trama
Fios que entram no tear transversalmente atravs de vrias formas,
dependendo do tear: pina, jato de ar, jato de gua etc. Seu objetivo unir os
fios de urdume, gerando os tecidos. Os principais ligamentos so: tela, sarja e
cetim.
Urdume ou Urdidura
Disposio paralela dos fios colocados no sentido longitudinal, enrolados em
uma espcie de tambor e que vo originar o comprimento do tecido e pelos
quais vo passar os fios de trama.
126
127
128
129
130
Referncias eletrnicas:
CD Universidade Santista. Processo de produo. Diviso jeanswear. s/d
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Acesso em 09/05/2009 e 22/05/2009.
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