Frações
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O ENSINO DE FRACOES
NA ESCOLA BASICA:
O CURRICULO COMMON CORE
NOS EUA, HUNG-HSI WU E
UMA ANALISE COMPARATIVA
EM DOIS LIVROS DIDATICOS
DO PNLD
Orientador:
Humberto Jose Bortolossi
NITEROI
AGOSTO/2015
Ana Paula Cabral Couto Pereira
Niteroi RJ
Agosto / 2015
Ficha catalografica elaborada pela Biblioteca de Pos-graduacao em Matematica da UFF
CDD: 510.7
Todos os direitos reservados.
E proibida a reproducao total ou parcial sem autorizacao da universidade, do autor e do
orientador.
Ana Paula Cabral Couto Pereira
Orientador:
Humberto Jose Bortolossi
Niteroi RJ
Agosto / 2015
Dissertacao de Mestrado Profissional sob o ttulo O Ensino de Fracoes na Escola Basica:
O Currculo Common Core nos EUA, Hung-Hsi Wu e Uma Analise Comparativa em Dois Li-
vros Didaticos do PNLD, defendida por Ana Paula Cabral Couto Pereira e aprovada em 27 de
Agosto de 2015, em Niteroi, Rio de Janeiro, pela banca examinadora constituda pelos profes-
sores:
Primeiramente, agradeco ao meu Deus que a cada dia revigorou minhas forcas e permitiu
que eu conseguisse chegar ate aqui. Ate aqui nos ajudou o Senhor 1Sm 7:12 A Ele toda gloria!
Aos meus pais, Mirtes e Nilton, pelo amor incondicional e por sempre me incentivarem e
acreditarem no meu potencial estando disponveis a qualquer coisa em todo tempo.
Ao meu esposo, Vinicius, pelo seu amor, companheirismo, amizade, parceria, incondicional
apoio e, por varias vezes, ser meu psicologo tendo a palavra certa de encorajamento e por
acreditar, mais do que eu, na minha capacidade.
Aos meus queridos filhos, Raquel e Daniel, por cada momento de descontracao em famlia
e pela motivacao dada a cada dia atraves de palavras e dos sorrisos liberados.
Aos meus irmaos, Aline e Ronaldo, por sempre estarem ao meu lado me incentivando e
a voce, Aline, pelo companheirismo inigualavel.
Ao meu estimado orientador, Humberto Bortolossi, por ter me escolhido entre tantos da
turma acreditando no meu potencial, pela sugestao do tema, pelo exemplo profissional, pela
parceria constante nesta empreitada e, mais que tudo, pela compreensao em tantos altos e baixos
desta caminhada demonstrando ser um excelente amigo.
Aos membros da douta banca, professores Anne Michelle, Letcia Rangel, Francisco Mattos
e Wanderley Rezende, por se disponibilizarem a leitura crtica do trabalho e assim exercerem
valiosas contribuicoes.
Aos professores que fizeram parte da minha trajetoria academica, por contriburem com
os alicerces que permitiram minha caminhada ate aqui. Em especial, a professora Bernadete
Coutinho, por me apresentar as maravilhas da matematica quando ainda cursava o Ensino
Medio no curso de Formacao de Professores em Macae. Aos professores, Cibele e Petrucio,
pelo estmulo a pesquisa desde da graduacao. E aos professores do Programa de Mestrado Pro-
fissional em Matematica (PROFMAT), pela competencia, dedicacao e amizade inquestionaveis
durante as aulas.
Ao Programa de mestrado PROFMAT, por tornar possvel a realizacao deste trabalho.
A CAPES pela disponibilizacao da bolsa de estudos que foram fundamentais para minha
participacao nesse programa.
Aos colegas do Mestrado da turma 2012, pela cumplicidade de nossa convivencia, em es-
pecial, aos amigos que ganhei em Friburgo, Antonio Jose, Marcone e Kurt.
Aos amigos mais chegados que irmaos, Carol e Jorge, pela incomparavel amizade e incen-
tivo a todo tempo e pela oportunidade de me tornar tia no decorrer desta trajetoria do mulequi-
nho Arthur.
Aos meus alunos de ontem, hoje e sempre, por possibilitar o meu crescimento pessoal e
profissional a partir das trocas estabelecidas no ambiente escolar.
A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltara ao seu tamanho original.
(Albert Einstein)
Resumo
Among the Mathematics content taught in our Basic School classrooms, certainly the con-
cept of fraction is one that students have more difficulties. While there is a lot of literature
addressing this issue, few references cover the curricular aspect in a full arc (i.e., detailing
what subjects and what approaches should be used in teaching fractions from the beginning to
the end) in-depthly (i.e., detailing, in an integrated way, objectives, skills, abilities and examples
of what should be worked out and, also, explaining why to work in the manner suggested).
In this context, two works worth mentioning: the Common Core State Standards prepared in
2010 and a long technical report written in 2012 by the mathematician Hung-Hsi Wu which
analysed the proposed standards for teaching fractions. In this sense, this present work consists
of three parts: (1) a translation into Portuguese of the Common Core regarding the teaching
of fractions; (2) an elaboration of a systematic summary of the technical report written by Wu;
(3) a comparative analysis of what is stated in the Common Core and Wus technical report with
what is practiced in two collections of textbooks approved by PNLD. At this time when a new
Mathematics curriculum is being discussed and formulated in Brazil, we hope this work can
be consolidated as a contribution to enrich this discussion. We also hope this work may serve
as a resource for in-service teachers, pre-service teachers and researchers interested in teaching
fractions in Basic School.
Keywords: Teaching Fractions; Curriculum; Common Core; Hung-Hsi Wu; PNLD.
Sumario
1 Introducao p. 11
1.2 Hung-Hsi Wu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 17
2 O Nvel K-3 p. 21
3 O Nvel K-4 p. 29
4 O Nvel K-5 p. 40
5 O Nvel K-6 p. 63
7 Consideracoes Finais p. 93
1 Introducao
Segundo Kendall (2011, p. 1), o surgimento dos standards (padroes curriculares) nos EUA
ocorreu no final do seculo XX com iniciativas locais dos professores dos varios distritos dos
estados norte-americanos que perceberam como as discussoes que estavam sendo realizadas
poderiam mudar o foco do ensino: no lugar do professor ensinar o que ele considera importante
(uma postura autocratica), ensinar o que e de fato importante para o aluno, assegurando que
os conceitos e habilidades fundamentais estejam presentes em todo currculo adotado. Um
marco nesse processo historico foi a publicacao em 1989 dos standards do National Council of
Teachers of Mathematics (NCTM). A partir da, secretarias de educacao estaduais comecaram
o processo de construcao de seus proprios standards, tendendo a incluir mais conteudo do que
se poderia tratar no tempo escolar disponvel. Kendall (2011, p. 6) afirma que, ironicamente,
por conta disto, caiu novamente nas maos dos professores a decisao do que os alunos deveriam
aprender: os professores tinham que decidir entre o que ensinar e o que ignorar ou passar
correndo, de forma ineficaz, por todo o conteudo proposto. Por outro lado, ainda segundo
Kendall (2011, p. 6), o movimento dos standards, ao longo do tempo, efetivamente deslegitimou
os livros didaticos como base curricular nos EUA.
A multiplicidade de standards estaduais teve uma consequencia ruim: alunos que mudavam
de um estado ou distrito para outro enfrentavam serias dificuldades para se adaptarem (Kendall
informa que, no censo americano em 2000, detectou-se que 18% da populacao escolar havia
migrado no ultimo ano e que, considerando-se um intervalo de tres anos, este numero sobe
para 30% dos alunos). Como consequencia, estudos posteriores mostraram que instrutores
universitarios apontavam que entre 60% e 70% dos alunos que ingressavam nas universidades
precisavam de disciplinas de recuperacao. Outra dificuldade e que, com tantos standards, nao
era possvel comparar o desempenho de alunos de estados e distritos diferentes e, pior, comparar
o desempenho com alunos de outros pases.
Diante deste cenario, surgiu o Common Core State Standards Initiative, um documento que
12
O Common Core nao descreve como serao ensinadas ou aprendidas as habilidades, mas
o que ensinar em cada serie escolar. Cada comunidade escolar local tem a liberdade de es-
colher os materiais, atividades e estrategias que sao mais adequadas para que os alunos atinjam
com sucesso as habilidades propostas nos padroes mas, ao usar os mesmos standards, cada es-
tudante pode ser comparado em um mesmo tipo de escala. Uma das mudancas significativas
do ensino na pratica, em particular de Matematica, e ensinar menos conteudo, mas com mais
profundidade e melhor. Os currculos de Matematica americanos sao criticados e, por vezes,
considerados com uma milha de largura e uma polegada de profundidade: ha um excesso de
conteudo em detrimento do entendimento profundo da disciplina. As habilidades descritas no
Common Core convidam a reduzir significativamente o que se ensina em Matematica e a apro-
fundar na forma e desenvolvimento que sao expostos na sala de aula, levando o aluno a fazer
analises, a aplicar a teoria em sua vida real e a ser capaz de raciocinar sobre problemas, em vez
de decorar formulas matematicas.
Do ponto de vista da pratica da Matematica, o Common Core destaca oito habilidades que
devem ser trabalhadas: (1) dar sentido aos problemas e perseverar em resolve-los; (2) raciocinar
abstrata e quantitativamente; (3) construir argumentos viaveis e criticar o raciocnio dos outros;
(4) modelar matematicamente situacoes-problema; (5) usar ferramentas apropriadas estrategi-
camente; (6) usar uma linguagem precisa; (7) procurar e fazer uso da estrutura; (8) procurar e
expressar regularidade em conclusoes que se repetem.
Do ponto de vista do conteudo da Matematica, o Common Core quer evitar que a Ma-
tematica seja trabalhada como uma lista de topicos desconexos, truques ou decorebas de proce-
dimentos mas, sim, que esta adquira a forma de um corpo coerente de conhecimento composto
de conceitos interligados. Assim, os standards sao projetados em torno de progressoes coe-
rentes de serie para serie. A aprendizagem e cuidadosamente ligada entre os diversos graus
de modo que os alunos podem construir uma nova compreensao sobre as bases construdas em
14
Durante
Antes dos standards o movimento No Common Core
dos standards
Depende do estado;
sem criterios de Os standards sao
Adequacao das
escolha explticos. projetados de forma
expectativas para Tempo disponvel =
Muitas vezes, sem a exigir 85% do tempo
o tempo de instrucao tempo necessario.
tempo suficiente para de instrucao
disponvel
atender todos disponvel.
os standards.
Os standards
A publicacao dos
direcionam
standards e seguida
O currculo e definido o currculo, mas este
Suporte ao currculo rapidamente pela
pelo livro didatico. fica sempre atrasado
construcao do
em comparacao com
currculo.
os standards.
Depende do estado; no
processo, mudou de O que e necessario
Aquilo que esta nos
descricoes tradicionais para ingressar na
O que se espera dos livros didaticos ou
para o que e necessario universidade ou ter
alunos creditos por carga
para ingressar na uma profissao; padroes
horaria.
universidade ou ter internacionais.
uma profissao.
Comparacao Responsabilizacao
infrequente dos (Accountability); Responsabilizacao
estudantes frente para entender (Accountability);
Propositos de
a uma amostra o desempenho do para informar e
avaliacao primaria
nacional; competencia aluno por grupo melhorar o ensino e
mnima em testes na (No Child Left a aprendizagem.
decada de 1970. Behind).
A reforma depende e
varia dentro do estado; Standards, currculo e
Nao sistemica; algumas sao avaliacao sao
Natureza sistemica da
reformas estabelecidas fortemente alinhadas; compartilhados entre
reforma
a nvel de distritos. estados com controle os estados e territorios
local sao menos participantes.
sistemicos.
Tabela 1.1: O sistema educativo americano antes dos standards, durante o desenvolvimento dos
standards e no Common Core (Kendall, 2011, p. 4).
15
anos anteriores. Nesta linha, o Common Core divide os conceitos-chave ao longo das series
iniciais (Elementary School e Middle School, equivalentes ao Ensino Fundamental no Brasil)
da seguinte maneira (a Tabela 1.2 mostra a equivalencia entre as series escolares dos sistemas
de ensino no Brasil e nos EUA):
Tabela 1.2: Equivalencia entre as series escolares dos sistemas de ensino no Brasil e nos EUA.
Ha tres anos, os EUA colocaram em pratica o Common Core. Quase todos os estados
implementaram uma reforma nas suas bases curriculares. Atualmente, 43 unidades federati-
vas adotam o Common Core e estao trabalhando em sua implementacao (grande parte dessa
participacao se deve a um incentivo fiscal dado pelo governo federal a quem adotasse o Com-
17
mon Core), a excecao fica por conta de cinco estados que nao aderiram a padronizacao: Alaska,
Indiana, Minnesota, Oklahoma, Virgnia, Texas e Nebraska.
Ja estao sendo elaboradas avaliacoes para uma analise dos impactos no ensino apos a im-
plementacao do Common Core. Dois consorcios comandados pelo estado, Partnership for As-
sessment of Readiness for College and Career (PARCC) e o Smarter Balanced Assessment
Consortium (SBAC), estao trabalhando para desenvolver instrumentos que visam fornecer uma
avaliacao para garantir que os alunos estejam progredindo em direcao a atingir as habilidades
necessarias para ter sucesso na faculdade, carreira e vida. Estas avaliacoes sao esperadas para
estarem disponveis no ano escolar 2014-2015[c] .
1.2 Hung-Hsi Wu
Durante as ultimas duas decadas, Wu tem dedicado quase todo o seu tempo e conhecimento
[c] No entanto, ate o momento, nao tomamos conhecimento da publicacao de tais avaliacoes.
18
matematico para melhorar o ensino de Matematica na Educacao Basica nos EUA. Seu primeiro
contato com ensino de Matematica ocorreu em 1992, quando foi convidado a revisar um con-
junto de novos livros didaticos e a elaborar um relatorio do ponto de vista matematico, uma vez
que os livros ja tinham sido revisados por educadores. Ele ficou alarmado com a ma qualidade
dos livros escolares disponveis. Em sua visao, a matematica presente nos livros didaticos estava
bem diferente do que ele entende por matematica solida e clara. Os conteudos eram trabalha-
dos de maneira informal, quase nunca com uma definicao precisa, evitando o uso de smbolos,
tanto quanto possvel, porque preferiam expressoes verbais sobre afirmacoes simbolicas. Seu
relatorio[d] , quando saiu em abril de 1992, foi bastante criticado, sofrendo pressoes polticas e
legais (Leong, 2012).
Uma das preocupacoes de Wu se refere em como o conceito de fracao deve ser desenvol-
vido na sala de aula, uma vez que este conceito, em nvel escolar, segundo Wu, nao e algo
simples[e] . Neste sentido, Wu elaborou um relatorio tecnico especificamente sobre o ensino
de fracao e suas propriedades, Teaching Fractions According To The Common Core Standards
(Wu, 2012), esmiucando como trabalhar o que e proposto pelo Common Core em cada serie,
desde o K-3 ate o K-7. Esse documento e a base de nossa dissertacao. Como o leitor podera
perceber nos captulos seguintes, Wu tem um carater bem matematico em sua exposicao, com
uma preocupacao na apresentacao de definicoes claras seguidas de propriedades devidamente
justificadas, sempre fazendo-o de forma que seja acessvel ao Ensino Basico.
Nosso trabalho consiste de tres partes: (1) uma traducao para o Portugues das orientacoes
curriculares do Common Core no que se refere ao ensino de fracoes; (2) uma elaboracao de
um resumo sistematico do relatorio tecnico feito por Wu (2012) e (3) uma analise comparativa
do que e exposto no Common Core e Wu com o que e praticado nas colecoes de livro didatico
utilizadas no Colegio Universitario Geraldo ReisCOLUNI/UFF em Niteroi, Rio de Janeiro.
Os Captulos 2, 3, 4 e 5 sao destinados ao ensino de fracoes nas series K-3, K-4, K-5 e
K-6, respectivamente. Eles estao estruturados da seguinte maneira: apresentacao das diretrizes
gerais do Common Core para a serie em questao; exibicao dos campos de conhecimento ma-
tematico destinado a serie; descricao das orientacoes especficas do Common Core ao campo
do conhecimento relacionado as fracoes e a sistematizacao das orientacoes propostas por Wu
(2012) para a serie em relacao ao ensino de fracoes.
O trabalho realizado nestes captulos nos estimularam a investigar o que, como e quando
o conceito de fracoes e suas propriedades aparecem no contexto escolar brasileiro a luz da pro-
posta do Common Core para o ensino de fracoes e do desenvolvimento minucioso do trabalho de
Wu. Varios desdobramentos sao possveis: investigacao de propostas curriculares, investigacao
sobre a formacao inicial e continuada de professores, investigacao da pratica escolar, etc.
[e] Certamente, definir o conjunto dos numeros racionais como uma classe de equivalencia de pares ordenados
de inteiros e abissalmente nao apropriado para o Ensino Basico (Wu, 1998).
20
Como uma primeira iniciativa, escolhemos investigar o ensino de fracoes nos livros dida-
ticos por considerarmos que estes ainda desempenham um papel importante na conducao dos
conteudos na escola, uma vez que muitos professores utilizam o livro didatico como o unico
recurso pedagogico. Para a analise, escolhemos as colecoes utilizadas na escola em que traba-
lhamos, o Colegio Universitario Geraldo ReisCOLUNI/UFF. Por se tratar de uma instituicao
publica, a escolha do livro didatico e pautada pelas orientacoes fornecidas por meio do PNLD
(Plano Nacional do Livro Didatico). Utilizamos as colecoes adotadas nos Ensino Fundamen-
tal I e II, Aprender Juntos Matematica de Roberta Taboada e Angela Leite (PNLD 2013) e
Matematica de Edwaldo Bianchini (PNLD 2014), respectivamente. Nossa investigacao sera
conduzida a partir de perguntas oriundas da leitura das orientacoes de Wu. As perguntas que
propomos aparecem no final de cada captulo.
Gostaramos de deixar claro que nossa proposta aqui tem uma posicao imparcial quanto ao
que se esta sendo proposto pelo Common Core e por Wu. Existem outros documentos e pes-
quisadores que propoem outras abordagens, inclusive em oposicao a estes documentos. Assim,
nossa apresentacao tem um carater descritivo e nao avaliativo.
21
2 O Nvel K-3
Neste nvel escolar, a orientacao dada pelo Common Core e que o desenvolvimento do
conteudo matematico deve se concentrar em quatro areas importantes: (1) desenvolver a com-
preensao da multiplicacao e divisao e estrategias para multiplicacao e divisao ate 100[a] ; (2) de-
senvolver a compreensao de fracoes, especialmente fracoes unitarias (fracoes com numera-
dor 1); (3) desenvolver a compreensao da estrutura de arranjos retangulares e de area; (4) des-
crever e analisar formas bidimensionais.
Nesta serie os conteudos matematicos estao subdivididos nos seguintes campos de conhe-
cimento: Operacoes e O Pensamento Algebrico; Numeros e Operacoes na Base Dez; Numeros
e OperacoesFracoes; Medidas e Dados; Geometria.
1
1. Compreender a fracao b como a quantidade formada por uma parte quando o todo e
a
partido em b partes iguais; compreender a fracao b como a quantidade formada por a
[a] As divisoes por 100 nessa serie sao apenas com multiplos de 100, pois os numeros decimais so aparecerao na
serie seguinte.
[b] O trabalho com as fracoes no nvel K-3 esta limitado as fracoes com denominadores 2, 3, 4, 6 e 8.
22
partes de tamanho 1b .
2. Compreender uma fracao como um numero na reta numerica; representar fracoes em uma
reta numerica.
1
a. Representar uma fracao b em uma reta numerica definindo o intervalo de 0 a 1 como
o todo e particionando-o em b partes iguais. Reconhecer que cada parte tem tamanho
1 1
b e que a extremidade final da parte que comeca no ponto 0 localiza o numero b na
reta numerica.
a 1
b. Representar a fracao b em uma reta numerica marcando a comprimentos b a partir
a
do ponto 0. Reconhecer que o intervalo resultante tem comprimento b e que sua
a
extremidade final e o numero b na reta numerica.
a. Compreender que duas fracoes sao equivalentes (iguais) se elas possuem o mesmo
tamanho ou (representam) um mesmo ponto em uma reta numerica.
c. Expressar numeros inteiros como fracoes e reconhecer as fracoes que sao equiva-
lentes a numeros inteiros. Exemplos: expressar 3 na forma 3 = 31 ; reconhecer que
6
1 = 6; localizar 4
4 e 1 como o mesmo ponto em uma reta numerica.
(1) M ODELOS DISCRETOS MODELOS CONT INUOS : apesar de modelos discretos serem
mais faceis de se entender, eles sao mais restritos (exemplo: 14 , 2
4 e 3
4 de 4 canetas fazem
5
sentido, mas 11 de 4 canetas nao). Segundo Wu, modelos discretos limitam os alunos
a pensarem apenas em how many (quanto para o caso de grandezas discretas), mas
nao em how much (quanto para o caso de grandezas contnuas).
23
(2) M OTIVANDO FRAC OES USANDO AREAS DE FIGURAS GEOM ETRICAS : ao se usar figu-
ras geometricas, fracoes nao sao partes das figuras, mas, sim, suas medidas (comprimen-
tos, areas e volumes). Um quadrado e uma figura geometrica e nao um numero. Sua area
e um numero.
Segundo Wu, areas podem ser introduzidas no nvel K-3 por meio do conceito de con-
gruencia: (a) duas figuras sao congruentes se possuem o mesmo tamanho e o mesmo
formato e (b) figuras congruentes possuem a mesma area. Assumido estes fatos, a area
do quadrado unitario (o quadrado cujos lados tem comprimento 1) e, por definicao, igual
a 1 e, se este e dividido em n partes iguais (isto e, em n partes congruentes), entao cada
uma das partes, por definicao, tem area 1n .
1
Wu apresenta um exemplo de como e possvel apresentar um modelo preciso para 7 em
uma sala de aula de uma turma K-3: comece com um segmento pequeno AB e, entao,
justaponha esse segmento mais 6 vezes para obter um segmento maior AC, conforme
mostrado na figura a seguir. Declare que o comprimento de AC e igual a 1 (uma unidade)
e, usando AC como lado, desenhe um quadrado, como na figura. Neste contexto, a area
do retangulo hachurado na figura representa 17 .
.
A B C
(4) F RAC OES PR OPRIAS E IMPR OPRIAS : Wu salienta que nao ha necessidade de se introdu-
zir estes conceitos no incio do estudo de fracoes. Faze-lo pode confundir os alunos.
24
A reta numerica
(1) O IMPORTANTE PAPEL DAS FRAC OES UNIT ARIAS : do mesmo modo que o numero 1
(um) e a peca fundamental dos numeros inteiros, no sentido que todo numero inteiro e
obtido combinando-se um numero suficiente de uns, as fracoes unitarias (fracoes da
forma 1n , com n um numero inteiro positivo) sao as pecas fundamentais que permitem
definir fracoes mais gerais por meio de um processo analogo de justaposicao.
(2) O IMPORTANTE PAPEL DA RETA NUM ERICA : entre os varios modelos para fracoes, a reta
numerica merece destaque, por suas varias vantagens. Sao elas:
(a) Em comparacao com modelos de area (tais como setores circulares e retangulos),
e mais facil dividir o todo em partes iguais quando somente comprimentos estao
envolvidos.
(b) A reta numerica e um modelo que permite uma formulacao simples e precisa para
os conceitos basicos de igual, menor do que e maior do que para fracoes.
(c) Ao representar fracoes como pontos da reta numerica, diferentes interpretacoes po-
dem ser estabelecidas de acordo com o significado dado para a unidade. Por exem-
1
plo, se a unidade 1 representa o volume de um balde (digamos, em litros), entao 3
representa um terco do volume do balde em litros; se, por outro lado, a unidade 1
1
representa a altura de uma sala de aula (digamos, em metros), entao 3 representa um
terco da altura desta sala em metros.
(d) A reta numerica e um modelo pelo qual varias operacoes apresentadas para os nu-
meros inteiros se estendem naturalmente para as fracoes. Wu aponta que este tipo
de continuidade conceitual em Matematica torna o aprendizado mais facil porque ela
apresenta ao estudante um novo conceito que se integra harmoniosamente com o que
o estudante ja sabe.
0 1 2 3 4 5 etc.
25
0 1 2 3
5 .
3
5
Para representar 3 como um ponto da reta numerica, Wu propoe o seguinte esquema:
5
considera-se um segmento sobre a reta numerica de comprimento 3 que tem uma de suas
extremidades em 0 (o segmento indicado pela chave na figura anterior) e a outra extremi-
dade[a] (um ponto da reta numerica) sera rotulado por 53 . Ao rotular as demais fracoes de
denominador 3, o aluno percebera que os numeros inteiros podem ser representados por
fracoes de denominador 3, isto e, 1 = 33 , 2 = 63 , 3 = 93 , . . . (para Wu, rotular 0 por 0
3 e uma
convencao).
0 1 2 3
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 .
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
(3) U SANDO A RETA NUM ERICA PARA DEFINIR A IGUALDADE DE FRAC OES : Wu enfatiza
que, por meio da representacao de fracoes como pontos na reta numerica, podemos definir
de maneira precisa o que significa dizer que duas fracoes sao iguais: duas fracoes
sao iguais se elas representam (rotulam) o mesmo ponto da reta numerica. A afirmacao
usual nos livros didaticos e a de que duas fracoes sao iguais se elas nomeiam a mesma
quantidade. Mas o que significa nomear a mesma quantidade? Wu observa que
a literatura em Educacao Matematica tem apontado para o fato dos alunos abusarem do
sinal de igual e que isto acontece porque os alunos nao sao ensinados de forma cuidadosa
sobre o significado preciso da igualdade entre dois objetos. Wu entao sugere que o assunto
de fracoes e um bom ponto para se comecar a tratar deste topico.
existem dois segmentos na reta numerica de comprimento 53 que possuem 0 como uma de
[a] Evidentemente,
suas extremidades. Como apenas numeros nao negativos estao sendo considerados e 0 divide a reta numerica
em duas semirretas de origem em 0, escolhe-se aquele cuja outra extremidade esta na mesma semirreta da qual 1
pertence.
26
Fracoes equivalentes
(1) U SANDO A RETA NUM ERICA PARA INTRODUZIR AS IDEIAS INICIAIS DE FRAC OES
EQUIVALENTES : Wu aponta que, por meio de experimentos com a reta numerica, os alu-
1
nos podem descobrir que muitas fracoes simples sao iguais. Por exemplo, a fracao 2 e
2
igual a 4.
0 1 2 =1
2 2 2
0 1 2 3 4 =1
4 4 4 4 4
A ideia aqui nao e fazer uma discussao mais geral sobre fracoes equivalentes (o que sera
feito na proxima serie) mas, sim, evidenciar como fracoes equivalentes aparecem quando
fracoes unitarias sao divididas. Como exemplo, Wu considera a fracao 23 . Ao se subdi-
1
vidir cada segmento de comprimento 3 em, digamos, 4 partes de mesmo comprimento,
obteremos que 2
3 = 42
43 = 8
12 .
0
3
1
3
2
3
3
3
=1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 =1 .
12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12
Comparacao de fracoes
(1) C OMPARAC AO DE FRAC OES POR MEIO DA RETA NUM ERICA : dadas duas fracoes como
dois pontos na reta numerica, Wu define que aquela a esquerda e dita ser menor (no-
tacao: <) do que aquela mais a direita e, naturalmente, aquela mais a direita e dita ser
1 3
maior (notacao: >) do que aquela mais a esquerda. Por exemplo, 4 < 4 e 2 > 32 .
0 1 2 3 4
4 4 4 4 4
3 .
0 1 2 2
Wu alerta que nao se pode comparar duas fracoes, ou seja, determinar qual e maior, a me-
nos que ambas refiram-se a mesma unidade (isto e, ao mesmo todo). Exemplo classico:
1 1
um estudante pode erroneamente pensar que 4 > 2 porque o um quarto da pizza a direita
na figura a seguir e menor do que metade da pizza a esquerda.
27
(2) C OMPARAC OES SIMPLES DE FRAC OES ACESS IVEIS AO N IVEL K -3: mesmo ainda sem
o conceito de fracoes equivalentes, Wu destaca tres tipos de comparacao de fracoes que
sao acessveis ao nvel K-3. Sao elas:
(a) Se duas fracoes tem o mesmo denominador, entao aquela com maior numerador e
a fracao maior, uma consequencia direta de como fracoes com o mesmo denominador
sao representadas como pontos na reta numerica.
(b) Para fracoes unitarias, quanto maior o denominador, menor a fracao. Esta proprie-
dade segue do fato de que se o todo e dividido em partes iguais, quanto mais partes,
menores serao essas partes. Assim, quanto maior o denominador, menor a fracao. Wu
propoe introduzir algum raciocnio relacionando a quantidade de copias de cada
1
fracao e o inteiro. Com isto, e possvel justificar que 6 < 15 , pois ao combinarmos
1 1 5
5 copias de 5 o resultado e 1 e ao combinarmos 5 copias de 6 o resultado e 6 que e
1
menor do que 1. Logo, 6 < 15 .
(c) Se duas fracoes tem o mesmo numerador, entao aquela com menor denominador e
11 11 1
a maior. Por exemplo, por que 5 > 6? Isto ocorre porque ja sabemos que 6 < 15 .
Entao, se combinarmos 11 copias de cada fracao, obtemos que 11
6 = 11 copias de 1
6
< 11 copias de 1
5 = 11
5.
Como os livros didaticos definem que uma fracao e menor do que outra? Como eles
ensinam a comparar fracoes? [p. 78]
29
3 O Nvel K-4
Nesta serie os conteudos matematicos estao subdivididos nos seguintes campos de conhe-
cimento: Operacoes e Pensamento Algebrico; Numeros e Operacoes na Base Dez; Numeros e
OperacoesFracoes; Medidas e Dados; Geometria.
Nesse nvel, o campo Numeros e OperacoesFracoes tem tres objetivos centrais: estender
a compreensao do conceito de equivalencia de fracoes e ordenacao; construir fracoes a partir
de fracoes unitarias, aplicando e ampliando os conhecimentos anteriores de operacoes com
numeros inteiros; entender a notacao decimal para fracoes e comparar fracoes decimais.
de fracoes, com atencao em como o numero e o tamanho das partes diferem, mesmo
quando as duas fracoes sao de mesmo tamanho. Utilizar este princpio para reconhecer e
gerar fracoes equivalentes.
2. Comparar duas fracoes com numeradores diferentes e denominadores diferentes, e.g., por
meio da criacao de denominadores ou numeradores comuns ou pela comparacao com uma
fracao modelo, como 12 . Reconhecer que as comparacoes sao validas apenas quando
as duas fracoes se referem ao mesmo todo. Registrar os resultados de comparacoes com
os smbolos >, = ou <, e justificar as conclusoes, e.g., por meio de um modelo visual de
fracao.
a
3. Compreender uma fracao b , com a > 1, como uma soma de fracoes de 1b .
5. Expressar uma fracao com denominador 10 como uma fracao equivalente com denomi-
nador 100 e usar esta tecnica para somar duas fracoes com denominadores 10 e 100[b] .
Por exemplo, expressar 3
10 como 30
100 e somar 3
10 + 100
4
= 34
100 .
6. Usar a notacao decimal para fracoes com denominadores 10 ou 100. Por exemplo, escre-
62
ver 0,62 como 100 ; localizar 0,62 em uma reta numerica.
7. Comparar dois numeros decimais ate a casa dos centesimos analisando seus tamanhos.
Reconhecer que as comparacoes sao validas apenas quando os numeros decimais se refe-
rem ao mesmo todo. Registrar os resultados de comparacoes com os smbolos >,=, ou
<, e justificar as conclusoes por meio de um modelo visual.
Fracoes equivalentes
(1) O FATO FUNDAMENTAL SOBRE FRAC OES EQUIVALENTES : Wu sugere que os alunos
podem entender esta propriedade por meio de modelos de area. Por exemplo, para ver
que 2
3 = 42
43 = 8
12 , considera-se o todo como a area do quadrado unitario e que este esta
[a] Uma libra internacional e equivalente a aproximadamente 453,6 gramas. Abreviacao: lb.
[b] Estudantes podem gerar fracoes equivalentes para desenvolver estrategias para somar fracoes com denomi-
nadores diferentes em geral. Mas adicao e subtracao com denominadores diferentes, em geral, nao e um requisito
para esta serie.
32
2
dividido em tres retangulos de mesma area, de modo que 3 e entao a area da regiao
hachurada na figura a seguir.
Wu observa, contudo, que fica mais complicado usar o modelo da area para reproduzir
o argumento, dado anteriormente para 23 , para fracoes maiores do que 1 (por exemplo, 17
4)
e para fracoes cujo denominador e um numero maior (por exemplo, 12). Neste caso,
Wu sugere usar a reta numerica que permite dar uma abordagem mais uniforme a esse
fato fundamental sobre fracoes equivalentes. Por exemplo, para mostrar porque 4
3 = 54
53 ,
4
observe inicialmente que 3 e igual a 4 copias de 13 . Queremos mostrar que 4
3 tambem e
1 4
igual a 20 copias de 15 . Na reta numerica, 3 e o 4o multiplo de 13 :
4
0 1 3
.
1
Dividindo-se agora cada segmento de comprimento 3 em 5 segmentos menores todos de
54
mesmo comprimento (o 5 e porque estamos considerando 53 ), obtemos a figura:
4
0 1 3
.
33
5 12 5 60 1
= = (60 copias de )
8 12 8 96 96
e
7 87 56 1
= = (56 copias de ),
12 8 12 96 96
7
conclui-se que 12 < 58 . Wu observa que esta conclusao pode ser obtida comparando-se
os produtos cruzados 7 8 e 12 5. De fato, dependendo da turma K-4, Wu sugere
a possibilidade de apresentar esta propriedade na forma de algoritmo usando notacao
a c
simbolica: se a, b, c e d sao inteiros positivos, entao b < d se, e somente se, a d < b c.
(1) ADIC AO E SUBTRAC AO DE FRAC OES COMO UMA EXTENS AO CONCEITUAL DESTAS
OPERAC OES NOS INTEIROS : Wu propoe que as ideias conceituais da adicao e subtracao
de fracoes sejam uma extensao natural das mesmas ideias conceituais ja apresentadas
para os numeros inteiros. Observe que a adicao de dois numeros inteiros, tais como 4 e 7,
34
pode ser modelada pelo comprimento total do segmento obtido pela justaposicao de dois
segmentos de comprimentos 4 e 7, sendo o comprimento total igual a 11, como ilustrado
a seguir:
4+7
0 4 11
.
7 passos
0 1 2
2 7 .
3 5
Wu salienta que, nesta serie, nao e importante saber o resultado exato da operacao, mas,
sim, a ideia conceitual relacionada a operacao. O calculo propriamente dito sera apre-
sentado somente na serie seguinte K-5. Na serie K-4, os exemplos explorados devem ser
os de fracoes com o mesmo denominador.
No caso da subtracao de dois numeros inteiros, a ideia intuitiva associada e a de tirar uma
coisa de outra. Por exemplo, 117 significa tirar 7 de 11. Em termos da reta numerica,
11 7 e o comprimento do segmento resultante quando um segmento de comprimento 7
e tirado a partir da extremidade final do segmento de comprimento 11:
11
11 7 7 .
k
O mesmo princpio se estende para o caso de fracoes: se l mn , entao kl mn e igual ao
m
comprimento do segmento que sobra quando um segmento de comprimento n e removido
a partir de uma extremidade de um segmento de comprimento kl :
35
k
l
k m
l mn n
.
Wu ressalta o fato de que, com este aparato conceitual via reta numerica, os alunos podem
ver a adicao e a subtracao de fracoes como uma extensao direta dos conceitos de adicao
e subtracao de numeros inteiros. Segundo Wu, este tipo de continuidade conceitual em
Matematica torna o aprendizado mais facil, porque mostra aos alunos que o novo conceito
se encaixa perfeitamente com o que eles ja sabem.
(2) O IMPORTANTE PAPEL DAS FRAC OES UNIT ARIAS : Wu enfatiza mais uma vez que, em
termos da adicao, as fracoes unitarias sao o alicerce para a construcao de fracoes mais
gerais. Da mesma forma que cada numero inteiro e apenas a adicao repetida de 1s, cada
fracao e a adicao repetida de uma fracao unitaria. Por exemplo, 3
5 = 15 + 15 + 15 , porque 3
5
e o comprimento total de 3 copias de 15 :
3
0 5 1
1 1 1
5 5 5 .
7 4 7+4
z }| { z }| { z }| {
7 4 1 1 1 1 1+1+ +1 7+4
+ = + + + + + = = .
5 5 5 5 5 5 5 5
De fato, este mesmo raciocnio leva o resultado geral: se somarmos fracoes com o mesmo
denominador, obtemos uma fracao com o mesmo denominador cujo numerador e a soma
dos numeradores das fracoes iniciais.
FRAC OES TER SIDO DEFINIDA : Wu constata que, nos livros didaticos, os numeros mistos
sao apresentados logo apos a introducao de fracoes e antes mesmo da adicao de fracoes ter
sido estudada. Nestes livros, um numero misto como 7 15 e definido simplesmente como
7 e 15 e o significado do e nesta definicao nao e esclarecido. De fato, 7 15 e uma notacao
para 7 + 15 (o sinal de + e omitido) e, portanto, o e significa +. Wu considera que este
desrespeito (apresentar numeros mistos antes da adicao de fracoes) com a trajetoria logica
da aprendizagem dos alunos tem contribudo para a nao-aprendizagem de fracoes. Wu
36
observa tambem que, como uma consequencia desse descaso, a conversao de um numero
misto em uma fracao impropria e dada como uma simples habilidade de memorizacao.
Este nao e o caso, pois a conversao de um numero misto em uma fracao impropria e
apenas uma questao de soma de fracoes, e.g.,
1 1 35 1 36
7 = 7+ = + = .
5 5 5 5 5
Por outro lado, Wu observa que a conversao de uma fracao impropria em um numero
misto se da pela divisao com resto. Veja que, ao dividir 47 por 6, obtemos quociente 7 e
resto 5. A maneira correta de expressar este fato e escrevendo 47 = (7 6) + 5. Portanto,
47 (7 6) + 5 7 6 5 5 5
= = + = 7+ = 7 .
6 6 6 6 6 6
Nesse processo, o aluno deve usar seus conhecimentos de adicao de fracoes com mesmo
denominador, fracoes equivalentes e a definicao de numero misto (na ultima etapa) e esse
metodo e aplicavel para todas as fracoes improprias.
5 5 5 5
+ + + + .
|8 8 {z 8 8}
n vezes
37
(2) F RAC OES COMO M ULTIPLOS DE FRAC OES UNIT ARIAS : Wu propoe olharmos uma
fracao como a multiplicacao de um numero inteiro por uma fracao unitaria. Por exemplo,
7 1 11 1
= 7 e = 11 .
5 5 3 3
7 1 11
Wu expressa as igualdades acima, dizendo que 5 e o 7o multiplo de 5 e 3 e o 11o mul-
tiplo de 13 . De modo geral, Wu traz uma nova leitura para as fracoes: a fracao m
n e
1
o m-esimo multiplo de n.
Wu acrescenta que o conceito de multiplicacao de um numero inteiro por uma fracao nos
permite transportar a forma de pensar sobre um problema de numeros inteiros para um
problema envolvendo fracoes. Por exemplo, considere o seguinte problema: se a capa-
cidade de um balde e de 2 galoes[c] e se 43 baldes de agua enchem um tanque, entao
a capacidade do tanque e de 43 2 = 86 galoes de agua. Agora, suponha que a capa-
cidade de um balde seja 2 34 de galao e que, como antes, 43 baldes de agua encham um
tanque, qual e a capacidade do tanque? A resposta e 43 2 34 de galao. Isso ocorre porque
a capacidade do tanque e igual a
3 3 3
2 + 2 + + 2 galoes.
|4 4 {z 4}
43 vezes
(1) N UMEROS DECIMAIS COM UM N UMERO FINITO DE CASAS DECIMAIS S AO NOTAC OES
PARA FRAC OES DECIMAIS : Wu destaca que nao e surpresa que as fracoes com de-
nominadores 10, 100, 1000, etc sejam especiais, visto que o sistema de numeracao que
adotamos e o decimal (de base 10). Fracoes deste tipo sao chamadas de fracoes deci-
mais. O fato fundamental sobre fracoes equivalentes nos diz, imediatamente, que uma
fracao com denominador 10 pode ser reescrita como uma fracao com denominador 100.
Por exemplo,
7 10 7 70
= = .
10 10 10 100
Wu sugere que esta pode ser a ocasiao, em uma sala de aula do nvel K-4, para discutir
o porque de 7 moedas de 10 centavos representarem o mesmo valor que 70 moedas de
1 centavo.
Segundo Wu, pelo fato das fracoes com denominadores iguais a 10, 100, 1000, etc serem
usadas com tanta frequencia, o padre jesuta alemao Christopher Clavius (15381612)
[c] Ogalao (abreviacao: gal) e uma unidade de medida de volume de lquidos, utilizada na comunidade anglo-
saxonica e corresponde a aproximadamente 3,785 litros.
38
surgiu com a ideia, em 1593, de abrevia-las usando o chamado ponto decimal. Neste
caso, escrevemos:
27 27 27
= 2.7, = 0.27 e = 0.027.
10 100 1000
Observacao: aqui no Brasil, utilizamos a notacao decimal com a vrgula e nao com
o ponto. Ou seja, 2,7 para nos e o mesmo que 2.7 nos EUA.
(2) 2,70 = 2,7 COMO UMA CONSEQU ENCIA DAS FRAC OES EQUIVALENTES : Wu observa
que um numero decimal como 2,70 e considerado como tendo duas casas decimais, a sa-
ber, 7 e 0. Entretanto, se aplicarmos a propriedade fundamental das fracoes equivalentes,
veremos entao que 2,70 = 2,7, pois, por definicao,
270 10 27 27
2,70 = = = = 2,7.
100 10 10 10
Wu afirma que e facil comparar numeros decimais quando utilizamos seu significado
(ou seja, sua definicao como fracoes decimais) e aplicamos o fato fundamental sobre
fracoes equivalentes para reescrever as fracoes envolvidas com um mesmo denominador:
2
considere, como exemplo, a comparacao entre 0,2 e 0,09, isto e, a comparacao entre 10 e
9
100 . Ja sabemos que 2
10 = 20
100 e que 20 > 9, logo 20
100 > 9
100 , ou seja, 0, 2 > 0, 09.
(3) R EPRESENTAC AO PICT ORICA DOS N UMEROS DECIMAIS COM UM N UMERO FINITO DE
CASAS DECIMAIS : Wu sugere recorrer a um desenho para obter uma compreensao mais
intuitiva do porque 0,2 > 0,09. Considerando o todo como a area de um quadrado unitario
e dividindo-o em 100 partes de mesma area, podemos representar 0,2 (equivalente a area
de 2 partes quando o todo e dividido em 10 partes de mesma area) como a area hachurada
na figura a seguir:
De modo analogo, 0,09 (a area de 9 partes quando o todo e dividido em 100 partes de
mesma area) pode ser representado pela area hachurada na seguinte figura:
39
Entao, claramente, 0,2 > 0,09. Wu salienta que este recurso visual e certamente um co-
nhecimento util, mas que isto nao deve ser tudo o que um aluno desta serie deve saber
sobre comparacoes de numeros decimais. O argumento dado anteriormente com o uso
do significado de um numero decimal e o fato fundamental sobre fracoes equivalentes e
mais importante e deve ser apresentado obrigatoriamente no nvel K-4, pois ele e univer-
salmente aplicavel a todos os numeros decimais com um numero finito de casas decimais,
enquanto que o argumento visual nao o e.
4 O Nvel K-5
Nesta serie os conteudos matematicos estao subdivididos nos seguintes campos de conhe-
cimento: Operacoes e O Pensamento Algebrico; Numeros e Operacoes na Base Dez; Numeros
e OperacoesFracoes; Medidas e Dados; Geometria.
Usar fracoes equivalentes como uma estrategia para somar e subtrair fracoes
1. Somar e subtrair fracoes com denominadores diferentes (incluindo numeros mistos) subs-
tituindo as fracoes dadas por fracoes equivalentes, de modo a produzir uma soma ou
41
3. Interpretar uma fracao como uma divisao do numerador pelo denominador ( ab = a b).
Resolver problemas envolvendo divisao de numeros inteiros que levem a respostas na
forma de fracoes ou numeros mistos, e.g., usando-se modelos visuais de fracoes ou ex-
3
pressoes para representar o problema. Por exemplo, interpretar 4 como o resultado da
3
divisao de 3 por 4, observando que 4 multiplicado por 4 e igual a 3 e que, quando tres
inteiros sao divididos igualmente entre quatro pessoas, cada pessoa recebe uma porcao
de tamanho 34 . Se 9 pessoas querem dividir igualmente pelo peso um saco de 50 libras
de arroz, quantas libras de arroz cada pessoa deve receber? Entre quais dois numeros
inteiros estara a resposta?
a
a. Interpretar o produto b q como a partes de uma particao de q em b partes iguais;
equivalentemente, como o resultado de uma sequencia de operacoes a (q b).
Por exemplo, usar um modelo visual de fracao para mostrar que 2
3 4 = 8
3 e criar
um contexto para esta igualdade. Fazer o mesmo com 2
3 45 = 8
15 . (Em geral,
a
b dc = ac
bd .)
b. Encontrar a area de um retangulo cujos comprimentos dos lados sao fracoes ladri-
lhando-o com retangulos unitarios[a] adequados e mostrar que ela e a mesma que
seria encontrada multiplicando-se os comprimentos dos lados. Multiplicar compri-
mentos laterais fracionarios para encontrar areas de retangulos e representar produ-
tos de fracoes como areas de retangulos.
[a] Isto e, retangulos cujos lados sao fracoes unitarias.
42
b. Explicando-se porque multiplicar um numero dado por uma fracao maior que 1
resulta em um produto maior do que o numero dado (reconhecendo a multiplicacao
por numeros inteiros maiores que 1 como um caso familiar); explicando-se porque
multiplicar um dado numero por uma fracao menor que 1 resulta em um produto
menor do que o numero dado; e relacionando-se o conceito de fracoes equivalentes
a
b = na
nb com o efeito de se multiplicar a
b por 1.
a. Interpretar a divisao de uma fracao unitaria por um numero inteiro diferente de zero
1
e calcular esses quocientes. Por exemplo, criar um contexto para 3 4 e usar um
modelo visual de fracao para mostrar o quociente. Utilizar a relacao entre a multi-
plicacao e a divisao para explicar que 13 4 = 1
12 porque 1
12 4 = 13 .
b. Interpretar a divisao de um numero inteiro por uma fracao unitaria e calcular esses
quocientes. Por exemplo, criar um contexto para 4 15 e usar um modelo visual de
fracao para mostrar o quociente. Utilizar a relacao entre a multiplicacao e a divisao
para explicar que 4 15 = 20 porque 20 15 = 4.
c. Resolver problemas do mundo real que envolvam divisao de fracoes unitarias por
numeros inteiros diferentes de zero e divisao de numeros inteiros por fracoes
unitarias, e.g., usando-se modelos visuais de fracao e expressoes para representar
o problema. Por exemplo, qual e a quantidade de chocolate que cada pessoa vai
1
receber se tres pessoas compartilham 2 libra de chocolate igualmente? Quantas
1
porcoes de 3 de xcara cabem em 2 xcaras de passas?
[a] Os alunos capazes de multiplicar fracoes em geral podem desenvolver estrategias para dividir fracoes em
geral raciocinando sobre a relacao entre a multiplicacao e a divisao. Mas a divisao de uma fracao por uma fracao
nao e um requisito desta serie.
43
Efetuar operacoes com numeros inteiros com varios dgitos e com numeros decimais ate
a casa dos centesimos
7. Adicionar, subtrair, multiplicar e dividir numeros decimais ate centesimos, usando mo-
delos concretos ou desenhos e estrategias baseadas no valor posicional, propriedades das
operacoes, e/ou a relacao entre adicao e subtracao; relacionar a estrategia a um metodo e
explicar por escrito o raciocnio usado.
Wu comeca chamando atencao que o estudo das fracoes e o tema dominante em Matematica
nesta serie e que requer uma discussao cuidadosa e detalhada. Ele destaca os principais topicos:
adicao e subtracao de duas fracoes quaisquer; a interpretacao de uma fracao como uma divisao;
a multiplicacao de duas fracoes quaisquer e suas aplicacoes; a aritmetica dos numeros decimais
(ate a casa dos centesimos); casos simples da divisao de fracoes.
(1) ADIC AO E SUBTRAC AO DE FRAC OES COMO UMA EXTENS AO CONCEITUAL DESTAS
OPERAC OES NOS INTEIROS VIA FRAC OES EQUIVALENTES : a primeira coisa que Wu
destaca e que, conceitualmente, nao ha diferenca entre somar e subtrair numeros inteiros
e somar e subtrair fracoes, ou seja, adicao significa juntar as coisas e subtracao significa
tirar uma coisa da outra. Wu considera que esse fato deve ser enfatizado em sala de aula.
Relembrando que esses significados ja foram trabalhados na serie anterior, Wu reve cada
significado com os exemplos 2
3 + 85 e 8
5 23 . A soma 2
3 + 85 e o comprimento total da
2
justaposicao de um segmento de comprimento 3 com outro de comprimento 85 .
.
2 8
3 5
44
.
8
5 23 2
3
Enquanto que na serie anterior o foco estava nesta compreensao conceitual das operacoes
de adicao e subtracao, Wu mostra como o calculo propriamente dito destas operacoes
pode ser realizado facilmente com o uso de fracoes equivalentes e, mais ainda, que ele nao
difere dos calculos de adicao e subtracao que os alunos ja sabem fazer com os numeros
inteiros. Como calcular 2
3 + 85 , por exemplo? Como sabemos somar fracoes de mesmo
2
denominador, a ideia e entao encontrar fracoes equivalentes as fracoes 3 e 85 . Como
2
3 = 52
53 = 10
15 e 8
5 = 38
35 = 24 8
5 sao equivalentes, respectivamente, a 15
15 , segue-se que 23 e 10
8 2 3 8 5 2 24 10 14
= = = .
5 3 35 53 15 15
(2) A IRRELEV ANCIA DO M INIMO M ULTIPLO COMUM ( MMC ) DOS DENOMINADORES DAS
FRAC OES NAS OPERAC OES DE ADIC AO E SUBTRAC AO : como visto no item anterior,
45
FRAC OES EQUIVALENTES : Wu orienta que, antes de mais nada, e preciso estar bem
compreendido qual e o significado dos numeros decimais como fracoes decimais, pois
o algoritmo usual de adicao destes numeros nada mais e do que uma consequencia imedi-
ata deste significado. Considere o exemplo 15,6 + 2,74. Usando-se a definicao de numero
46
decimal (com um numero finito de casas decimais) e fracoes equivalentes, segue-se que:
156 274
15,6 + 2,74 = + (por definicao de numero decimal)
10 100
1560 274
= + (fracoes equivalentes) (4.1)
100 100
1560 + 274
= (4.2)
100
1834
=
100
= 18,34. (4.3)
Wu usa entao este raciocnio para explicar o algoritmo que conhecemos para somar ou
subtrair numeros decimais:
Wu compara as Igualdades (4.1), (4.2) e (4.3) com as Etapas (a), (b) e (c) da seguinte
maneira: a Etapa (a) equivale a Igualdade (4.1), pois, de fato, quando alinhamos os dois
numeros decimais por suas vrgulas decimais, o que estamos fazendo e aumentar o numero
de casas decimais em 15,6 escrevendo-o como 15,60, o que e valido pelo fato fundamen-
tal sobre fracoes equivalentes (15,6 = 156
10 = 1560
100 = 15,60); a Etapa (b) equivale a Igual-
dade (4.2) porque, quando operamos com os numeros sem a vrgula decimal, o que es-
1560 274
tamos fazendo e operar com os numeradores de 100 e 100 , ignorando momentaneamente
47
o denominador (no caso, 100), que e o que acontece quando somamos duas fracoes com
mesmo denominador; e por fim, a Etapa (c) equivale a Igualdade (4.3): como precisa-
mos dar a resposta usando numeros decimais, basta lembrar que estamos operando com
fracoes decimais com denominador 100. Encerrando, Wu afirma que ha, naturalmente,
um algoritmo semelhante para se subtrair numeros decimais.
(1) F RAC OES COMO UMA EXTENS AO DA INTERPRETAC AO DA DIVIS AO COMO UMA PAR -
TIC AO EM PARTES IGUAIS : Wu inicia esta secao relembrando o conceito de divisao de
numeros inteiros. O que significa dizer que 36 9 = 4? Para contextualizar a questao,
Wu propoe o seguinte problema: considere um reservatorio de agua com capacidade de
36 galoes. Se queremos enche-lo com 9 baldes de agua, qual deve ser a capacidade do
balde? A resposta e 4, pois se dividirmos 36 em 9 partes iguais, entao o tamanho de
cada parte e 4 porque 36 = 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 = 9 4 (pela definicao
de multiplicacao de numeros inteiros). Esse modo conceitual de interpretar a divisao e
comumente chamada de intepretacao da divisao (de numeros inteiros) como particao
em partes iguais. Mais geralmente:
m = q + + q = n q.
| {z }
n
Wu salienta que, ate este momento, os estudantes so efetuam divisoes onde o dividendo e
multiplo inteiro do divisor. Assim, nesta etapa, nao faz sentido perguntar por 37 9. No
entanto, com a disponibilidade das fracoes, Wu apresenta a extensao do significado da
divisao para quaisquer dois numeros inteiros m e n, e nao somente quando m e multiplo
de n:
m = q + + q = n q.
| {z }
n
48
.
0 1 2 3 4 5 6 7
Wu contextualiza esta interpretacao de fracao como resultado de uma divisao com o se-
guinte problema: se 9 pessoas querem compartilhar igualmente pelo peso um saco de
49
50 libras de arroz, quantas libras de arroz deve receber cada pessoa? Assim, somos con-
vidados a dividir o segmento de 0 a 50 na reta numerica (cuja unidade e 1 libra) em 9
partes iguais. Aqui entra a fracao como divisao que, em virtude da Equacao 4.4, nos da
50
como resposta ao problema o valor 9 libras de arroz.
(3) U MA QUEST AO DE ORDEM NOS DOIS SIGNIFICADOS DE FRAC AO : Wu alerta para uma
m
questao de ordem nas duas interpretacoes que temos para a fracao n na reta numerica.
m
Pela definicao, a fracao n significa m copias de um segmento de comprimento 1n . Por
1
esta definicao, comeca-se primeiro com um segmento de comprimento n para depois se
m
justapor m tais segmentos. Como divisao, a fracao n significa o tamanho de uma parte
quando um segmento de comprimento m e dividido em n partes iguais. Nesse caso,
comeca-se primeiro com segmento de comprimento m para depois dividi-lo em n partes
iguais.
Multiplicacao de fracoes
C OES : se voce beber 2 copos cheios de leite e cada copo tem capacidade de 8 fl oz.,
qual e a quantidade de leite em fl oz.[b] que voce bebe? Resposta: voce deve ter bebido
2 8 fl oz., ou seja, 16 de fl oz. de leite.
Entao, com este problema de multiplicacao de numeros inteiros em mente, Wu, agora
propoe a seguinte adaptacao, incluindo uma fracao: se voce beber dois tercos de um
copo de leite e o copo tem capacidade de 8 fl oz., qual e a quantidade de leite em fl oz.
que voce bebe? Wu entao observa que o que se quer e uma resposta matematica precisa
para um problema enunciado de forma coloquial. Segundo Wu, expressoes coloquiais
sao vagas e e preciso praticar bastante com os alunos este exerccio de traduzir uma ex-
pressao coloquial em um enunciado preciso: o que significa dois tercos de um copo?
No problema em questao, dois tercos de um copo significa o montante total de 2 partes,
quando 8 fl oz. de lquido e dividido em 3 partes iguais. No contexto da reta numerica,
[b] fl
oz. e a abreviacao de fluid ounce, que significa onca lquida, que e uma medida de volume. Aproximada-
mente, 1 fl oz. e equivalente a 29,57 ml.
50
0 1 2 3 4 5 6 7 8.
Em termos diretamente do copo de leite, este valor total das duas porcoes de um terco do
copo pode ser representado por:
Para Wu, a relacao com a situacao anterior e obvia: lembrando que dois copos foram
expressos como 2 8 fl oz., por analogia, somos tentados a dizer que
Wu considera que esse raciocnio e muito razoavel e entao sugere que o aceitemos e
sigamos em frente. Na visao do Wu, assim, a multiplicacao de uma fracao por um numero
inteiro surge naturalmente:
2 28
8 = .
3 3
Wu propoe o exerccio de considerarmos nao um copo cheio de leite, mas um copo com
apenas 5 13 fl oz. de leite.
Quanto e tres quartos desse montante? Wu relembra que isso significa que temos que
descobrir a quantidade de leite em tres partes quando 5 13 fl oz. e dividido em quatro
partes iguais. Como
1 1 16 4 4 4 4
5 = 5+ = = + + + ,
3 3 3 3 3 3 3
51
vemos que
3 1 4 4 4 4
de 5 e + + = 3 = 4 fl oz..
4 3 3 3 3 3
Wu recorda que, estendendo o que foi feito anteriormente com relacao a multiplicacao de
uma fracao por um numero inteiro, podemos expressar esse fato simbolicamente como:
3 16
= 4 fl oz..
4 3
Entao, o montante de 3 dessas partes e a quantidade total das tres partes quando 5 13 fl oz.
e dividida em 4 partes iguais:
m k k
= o comprimento de m partes quando e dividida em n partes iguais.
n ` `
m k
Wu propoe usar a frase n de ` para abreviar a sentenca da direita ou, tambem, em certas
m
ocasioes, para expressar a sentenca da direita como n copias de `k . Assim, por definicao,
m
n k` e igual a m
n copias de k` .
Wu salienta que e importante, neste momento, confirmarmos que esta definicao de multi-
plicacao de fracao nao entra em conflito com a definicao dada anteriormente para a multi-
plicacao de um numero inteiro por uma fracao. De fato, consideremos o produto m k` =
m
1 k` . De acordo com a definicao anterior, m
1 k` e igual ao comprimento de m partes
k
quando ` e dividido em 1 parte igual (o que e, obviamente, o proprio k` ), isto e,
k k k
+ + + .
|` ` {z `}
m
52
(2) M ULTIPLICAC AO DE FRAC OES E QUEST OES DE ESCALA : Wu observa que a definicao
de multiplicacao implica que
m m k k
se > 1, entao > e
n n ` `
m m k k
< 1, entao
se <
n n ` `
(evidentemente, estamos considerando que k > 0 e l > 0). Wu justifica a primeira propo-
m
sicao da seguinte maneira (a justificativa da segunda e analoga): se n > 1, entao m > n.
Logo, existe um numero inteiro c positivo, tal que, m = n + c, de modo que
m n+c n c c
= = + = 1+ .
n n n n n
Desta maneira, se dividirmos kl em n partes iguais, o montante de m destas partes e a com-
k
binacao do proprio l (que e o montante de n destas partes) mais um adicional de c destas
m
partes. Entao, por definicao, n kl e a totalidade de c dessas partes a mais do que k
l
m
e, sendo assim, n kl e maior do que kl . Nos parece que Wu, de forma coloquial, esta
usando a propriedade distributiva em seu argumento:
m k c k k c k k 1 k
= 1+ = + = +c .
n ` n ` ` n ` l n l
Wu acredita que, de um modo mais geral, esta explicacao da uma imagem intuitiva para
o fato de que, por exemplo, 4
3 A aumenta o tamanho de A em 1
3 de A (pois 4 = 3 + 1),
para qualquer fracao A,
4
3 de A
,
0 3 A 1 2A
3 de A 3 de A
5
5 de A
.
0 2
de A 3
de A A 2A
5 5
Wu destaca ainda que inicia-se aqui, de forma ingenua, o conceito de escala, cuja com-
preensao completa aparecera no estudo de semelhanca em Geometria no Ensino Medio.
53
(3) A F ORMULA DO PRODUTO DE DUAS FRAC OES : nesta parte, Wu justifica a formula do
produto de duas fracoes, a saber,
m k mk
= . (4.5)
n ` n`
Wu comeca explicando o exemplo particular 43 52 = 32
45
associado ao seguinte problema:
Se a capacidade de um balde e de 2 12 galoes e 1 13 baldes de agua enchem um recipiente,
qual e a capacidade desse recipiente?. Primeiramente, Wu reescreve o numero misto na
forma de fracao impropria, isto e, 2 12 = 5
2 e 1 13 = 4
3 e, em seguida, propoe descobrir qual
5
e o tamanho de uma parte quando 2 e dividido em 3 partes iguais. Para isso, Wu relembra
o exemplo dado inicialmente quando estavamos construindo o conceito de multiplicacao
16
de fracoes (p. 50): 3 e dividido em 4 partes iguais e cada parte e facil de se obter porque
16 e um multiplo de 4, logo, cada parte equivale a 43 . Porem, Wu observa que agora
5
(em 2 dividido em 3 partes iguais), infelizmente, 5 nao e um multiplo de 3. De modo
a contornar essa situacao, Wu lembra que podemos usar o fato fundamental sobre fracoes
equivalentes:
5 35
=
2 32
e, assim, o numerador 3 5 e certamente um multiplo de 3. Wu ainda salienta que este
raciocnio pode ser mais intuitivo, tracando-se uma imagem que corresponda a forma de
como a igualdade 52 = 32
35
e estabelecida: se subdividirmos cada um dos cinco segmentos
1
de comprimento 2 da reta numerica na figura a seguir em tres partes iguais, teremos uma
5
divisao do segmento de 0 a 2 em 15 (= 3 5) partes iguais, de modo que, ao tomar 5
5
destas partes por vez, teremos uma divisao do segmento de 0 a 2 em tres partes iguais,
como indicado na figura.
.
0 1 1 3 2 5
2 2 2
Entao, se 5
2 = 35
32 e dividido em 3 partes iguais, entao uma parte corresponde a 5
32 .
Portanto, 4 destas partes e igual a 45
32 e, sendo assim, segue-se que 4
3 52 = 45
32 , que
4 5
e exatamente a formula do produto das fracoes 3 e 2. Wu considera que, para uma
sala de aula do nvel K-5, exercitar este tipo de raciocnio com casos particulares (tais
como 25 43 = 24 5
53 , 6 87 = 58
67 , etc.) e suficiente para explicar a Formula 4.5, nao sendo
necessario, neste momento, envolver argumentos simbolicos para provar a formula geral.
54
(2) A LEI DO CANCELAMENTO : para calculos com fracoes, a Formula (4.5) para o pro-
duto de duas fracoes e o fato fundamental sobre fracoes equivalentes nos dao, como con-
sequencia, a lei do cancelamento. De fato, seja c um numero inteiro diferente de zero,
entao
cm k cmk mk m k
= = = . (4.6)
n c` cn` n` n `
Como uma consequencia da lei do cancelamento, Wu observa o seguinte fato: dada qual-
m
quer fracao n diferente de zero, e sempre possvel encontrar uma fracao que, quando
m n
multiplicado por n, obtem-se o numero 1, a saber, a fracao m, denominada a fracao
m
recproca de n. De fato, aplicando a lei do cancelamento duas vezes, obtemos:
n m nm n m 1 1
= = = = 1.
m n mn n m 1 1
(a) Multiplicar os dois numeros como numeros inteiros, ignorando a vrgula decimal
(obtendo entao 164 910).
(b) Converter a resposta do Item (a) em um numero decimal pela seguinte regra: esse
numero deve ter 1 + 2 (= 3) casas decimais apos a vrgula, pois 35,4 tem uma casa
decimal apos a vrgula e 4,78 tem duas casas decimais apos a vrgula (obtendo entao
164,910).
Wu considera que a explicacao para este algoritmo e extremamente simples, desde que
lembremos da definicao, a partir das fracoes decimais, de um numero decimal com um
55
Wu entao observa que o Passo (a) do algoritmo corresponde a Igualdade (4.7) e que o Pas-
so (b) corresponde a Igualdade (4.8).
7
12
.
0 M
1 7
Agora, o primeiro ponto marcado a direita de 0 corresponde a 5 da distancia de 0 a 12 .
Aplicando a definicao de multiplicacao de fracao para 15 de 7
12 e usando a formula do
produto, conclumos que este ponto marcado e
1 7 7
= .
5 12 60
7 7
60 12
.
0 M
[a] Amilha terrestre e uma unidade de medida de comprimento usada nos EUA e e equivalente a aproximada-
mente 1 609,3 metros. Abreviacao: mi.
56
(5) F ORMULA PARA O C ALCULO DA AREA DE UMA REGI AO RETANGULAR COM DIMEN -
S OES FRACION ARIAS : segundo Wu, esta e a aplicacao mais fundamental da formula do
produto de fracoes. Wu ressalta que o resultado nao esta sendo questionado (e o produdo
da medida da base pela medida da altura, como todos sabemos), mas, sim, o porque
dele ser verdadeiro. Aqui, Wu e muito cuidoso e ele comeca sua exposicao recordando
os pressupostos usuais de como (medidas de) areas sao atribudas as regioes planas:
Pressuposto (b). A area do quadrado unitario (o quadrado cujos lados tem comprimento 1)
e, por definicao, o numero 1.
Pressuposto (c). Se duas regioes sao congruentes, entao suas areas sao iguais.
Pressuposto (d). (Aditividade) Se duas regioes tem, no maximo, seus bordos ou partes
57
1
4
.
1
7
Pelo Pressuposto (d), segue-se que a area total destes 28 pequenos retangulos e igual a a-
rea do quadrado unitario e, pelo Pressuposto (b), a area do quadrado unitario e 1. Pela
1
definicao de fracao, temos que cada uma dessas 28 areas representam 28 do quadrado
1
unitario, o que e igual a 47 . Por conseguinte,
1 1 1 1 1
a area de um retangulo com lados medindo e e igual a = (4.9)
4 7 47 4 7
onde, na ultima igualdade, a formula do produto de fracoes foi usada.
1
4
.
1
7
Pela Igualdade (4.9) obtida anteriormente, cada um desses pequenos retangulos tem area
1
igual a 47 . Uma vez que o retangulo construdo contem exatamente 3 2 pequenos
retangulos congruentes, pelo Pressuposto (d), a sua area e igual a
1 1 1 32 3 2
+ + + = =
4
| 7 4 7
{z 4 7
} 4 7 4 7
32
onde, na ultima igualdade, fez-se o uso mais uma vez da formula do produto de fracoes.
Por conseguinte,
3 2 3 2
a area de um retangulo com lados medindo e e igual a .
4 7 4 7
Segundo Wu, o caso geral pode ser obtido seguindo este racicnio palavra por palavra.
Wu acredita que, para a maioria das turmas do nvel K-5, e benefico enunciar a formula
geral: se m, n, k e ` sao numeros inteiros diferentes de zero, entao
m k m k
a area de um retangulo com lados medindo e e igual a . (4.10)
n ` n `
Contudo, ao inves de tentar justificar esta formula simbolicamente, Wu acha que e mais
produtivo calcular, como foi feito anteriormente, as areas de retangulos cujos lados tem
3
medidas razoaveis, tais como 2 e 15 , 7
3 e 56 , etc.
Uma das apresentacoes pictoricas para o produto de duas fracoes e feita por meio da
intersecao de faixas horizontais e verticais no quadrado unitario, como ilustrada na figura
a seguir para a multiplicacao 34 23 :
.
1
Segundo Wu, o diagrama esta correto, porem, ele e geralmente ensinado sem nenhuma
explicacao. Ao se dividir os lados verticais do quadrado unitario em 4 partes iguais, o re-
59
(1) D IVIS AO DE FRAC OES COMO UMA EXTENS AO CONCEITUAL DESTA OPERAC AO NOS
36 = 9 4
= 49 (a multiplicacao de inteiros e comutativa)
= 9 + 9 + 9 + 9. (definicao de multiplicacao de inteiros)
Neste caso, a ideia foi verificar quantos 9s cabem em 36. Esse modo de interpretar a di-
visao e comumente chamado de intepretacao da divisao (de numeros inteiros) como
medicao, ou seja, medir o quanto um numero cabe no outro. Assim, o quociente q da
divisao 36 9 e a quantidade de 9s que cabem em 36, ou ainda, q e o numero que
satisfaz 36 = q 9. Em virtude da definicao de multiplicacao de fracoes, Wu observa que
uma equacao do tipo m = q n continua mantendo o mesmo significado de que m e igual
a q de n, mesmo se o quociente q for uma fracao e nao um numero inteiro. Com isto,
podemos estender a interpretacao da divisao m n como medicao para quaisquer m e n
inteiros (n 6= 0 e m nao necessariamente um multiplo inteiro de n):
isto e,
m = q n.
dizemos que A B = C se A = C B.
Wu deixa claro que essa definicao deve ser desvendada lentamente ao longo dos nveis
K-5 e K-6, deixando para o nvel K-5 apenas os casos mais simples. Ele, em seguida, da
alguns exemplos de como proceder:
(a) Divisao de um numero inteiro por uma fracao unitaria. Qual e o significado de
5 13 ? Se C e uma fracao tal que 5 13 = C, entao 5 = C 13 . Pelo senso comum, 3
1 1
copias de 3 e 1 e 5 copias de 1 e 5. Assim, 3 5 copias de 3 e igual a 5 e, portanto,
C = 3 5. Ja antecipando o que vira no nvel K-6, podemos escrever:
1 3
5 = 5 .
3 1
A sugestao de Wu e que, fazendo mais alguns exemplos como este, e possvel esta-
belecer que se m e n sao quaisquer numeros inteiros diferentes de zero, entao
1 n
m = m .
n 1
Wu ainda lembra que m 1n = C significa que C copias de 1
n resultam em m. Como
aplicacao, Wu apresenta o seguinte problema: quantos convidados de um jantar po-
demos servir com 8 libras de bife de carne supondo que, em media, cada convidado
1
consome 3 de uma libra de bife? Representando a quantidade de convidados por C,
temos que C copias de 1
3 dao 8. Desta maneira, C = 8 13 = 8 3 = 24 convidados.
(b) Divisao de uma fracao unitaria por um numero inteiro. Qual e o significado de
1
4 5? Se C e uma fracao tal que 14 5 = C, entao 1
4 = C 5. Agora, sabendo que
61
m n =
1
Wu encerra esta parte explicando porque esta formula geral e verdadeira: se
C, entao 1
m = C n = n C. Assim, n copias de C e igual a 1
m, isto e, C e o tamanho
1
de uma parte quando m e dividido em n partes iguais. Desta maneira, por um lado,
1 1
m n e o tamanho de uma parte quando m e dividida em n partes iguais e, por outro
lado, pela definicao de multiplicacao de fracoes, o tamanho de uma destas partes e
precisamente 1n m1 . Juntando-se estes dois fatos, conclumos que m n = n m = m1n .
1 1 1
5 O Nvel K-6
Nesta serie os conteudos matematicos estao subdivididos nos seguintes campos de conhe-
cimento: Razoes e Relacoes Proporcionais; O Sistema de Numeracao; Expressoes e Equacoes;
Geometria; Estatstica e Probabilidade.
Os alunos, neste estagio, sao conduzidos a concluir a nocao de numero racional, fechando
as ideias relacionadas as operacoes com fracoes. Apresentam-se novos conceitos: razao/pro-
porcao e taxa.
A partir desta serie, o campo Numeros e OperacoesFracoes ja nao aparece mais e surge
o campo Razoes e Relacoes Proporcionais, cujo objetivo central e compreender o conceito de
razao usa-lo para resolver problemas. No campo O Sistema de Numeracao, o Common Core
coloca como objetivos centrais: aplicar e estender os conhecimentos anteriores de multiplicacao
e divisao de numeros inteiros para dividir fracoes por fracoes e ampliar a nocao de numero para
o conjunto dos numeros racionais; multiplicar e dividir numeros com varios dgitos e encontrar
fatores e multiplos comuns.
64
Calcular fluentemente com numeros com varios dgitos e encontrar fatores comuns e
multiplos
2. Dividir numeros com varios dgitos usando o algoritmo padrao de modo fluente.
3. Somar, subtrair, multiplicar e dividir, fluentemente, numeros decimais com varios dgitos
usando o algoritmo padrao para cada operacao.
4. Encontrar o maximo divisor comum de dois numeros inteiros menores ou iguais a 100
e o mnimo multiplo comum de dois numeros inteiros inferiores ou iguais a 12. Usar
a propriedade distributiva para expressar a soma de dois numeros inteiros entre 1 e 100
como um multiplo da soma de dois numeros inteiros que nao possuem um fator comum.
Por exemplo, expressar 36 + 8 como 4 (9 + 2).
5. Compreender que os numeros positivos e negativos sao usados juntos para descrever
quantidades ou valores que tem direcoes opostas (e.g., temperatura acima/abaixo de zero,
a elevacao acima/abaixo do nvel do mar, creditos/debitos, carga eletrica positiva/nega-
tiva); usar numeros positivos e negativos para representar quantidades em contextos do
mundo real, explicando o significado do 0 (zero) em cada situacao.
(a) Reconhecer os numeros de sinais opostos como indicativo de locais em lados opos-
tos da reta numerica em relacao ao 0; reconhecer que o oposto do oposto de um
numero e o proprio numero, e.g., (3) = 3 e que 0 e o oposto dele mesmo.
66
(b) Compreender que os sinais das coordenadas de um par ordenado indicam em que
quadrante do plano o ponto esta localizado; reconhecer que quando dois pares orde-
nados diferem apenas pelos seus sinais, as posicoes dos pontos estao relacionadas
por reflexoes em um ou em ambos os eixos.
(a) Interpretar desigualdades como afirmacoes sobre a posicao de dois numeros repre-
sentados na reta numerica. Por exemplo, interpretar 3 > 7 como uma afirmacao
de que 3 esta localizado a direita de 7 na reta numerica orientada da esquerda
para a direita.
(c) Compreender o valor absoluto de um numero racional como a sua distancia ate 0
na reta numerica; interpretar o valor absoluto como a magnitude de uma quantidade
positiva ou negativa em uma situacao do mundo real. Por exemplo, para um saldo
de conta de 30 dolares, escrever | 30| = 30 para descrever o tamanho da dvida
em dolares.
(d) Distinguir as comparacoes de valor absoluto das relacoes de ordem. Por exemplo,
reconhecer que um saldo de conta menor do que 30 dolares representa uma dvida
maior que 30 dolares.
Wu deixa claro logo de incio que o conceito de divisao de fracoes esta na base de toda
a discussao de fracoes nessa serie. Wu usara este conceito de forma explcita para explicar
razao, taxa e porcentagem.
67
A C = B se A = B C.
3 2
B= .
4 3
Pela definicao de divisao de fracao, isto significa que B deve satisfazer
3 2
= B , (5.1)
4 3
2
isto e, deve existir B copias de 3 em 34 . Wu observa que descobrir quantas copias de 2
3
3
cabem em 4 pode ser algo difcil, porem, com o uso do fato fundamental sobre fracoes
equivalentes, isso se torna mais simples. Observando que 23 = 12
8
e 34 = 12
9
, entao devemos
8 9
calcular quantas copias de 12 existem em 12 , isto e, queremos encontrar a fracao B que
satisfaz a igualdade
9 8
= B .
12 12
9 1 8 1
Para Wu, e facil verificar que a resposta e 8 , uma vez que 8 de 12 e 12 e nove copias de
1 9
12 e 12 . De forma alternativa, pela lei do cancelamento (p. 54),
9 8 9
= ,
8 12 12
de modo que
9 33 3 3
B= = = . (5.2)
8 24 2 4
Wu ressalta que o procedimento descrito acima nao prova que 32 34 e o quociente 34 23 ,
mas, sim, que, caso ele exista, entao esse devera ser o resultado. Nesse momento, se faz
68
3
necessario verificar se, de fato, 2 34 satisfaz a Equacao (5.1). Com efeito, usando-se
as leis associativa e comutativa da multiplicacao de fracoes, constamos que
3 3 2 3 2 3 3 3
= = 1 = .
2 4 3 2 3 4 4 4
33 42
= B .
12 12
Agora, por inspecao e pelo uso da lei do cancelamento (p. 54) podemos concluir que
33
B=
42
e, sendo assim,
3 2 33 3 3
=B= = .
4 3 42 4 2
Wu sugere que, em sala de aula, varias situacoes desse tipo sejam trabalhadas para que
os alunos percebam, por exemplo, que
2 7 2 8
= .
5 8 5 7
Esse raciocnio e considerado por Wu suficiente para estabelecer a formula geral da di-
visao de fracoes: dadas as fracoes m
n e k` , com k
` 6= 0, tem-se
m k m `
= .
n ` n k
Essa e a regra conhecida como a regra de inverter e multiplicar[a] , uma habilidade
bastante usada no calculo da divisao de fracoes.
Wu destaca que esse tipo de raciocnio tambem e importante por outra razao: ele incor-
pora uma habilidade que permite resolver varios problemas. Wu exemplifica:
[a] Aqui no Brasil, dizemos que a regra da divisao de fracoes e: repete-se a primeira fracao e multiplica-se pelo
Wu considera que duas observacoes sao pertinentes nesse contexto: (1) o processo inverter-
e-multiplicar pode ser uma ferramenta eficaz no raciocnio matematico; (2) a compre-
ensao da divisao passa, em ultima analise, pela compreensao da multiplicacao. Esse
exemplo mostra nao somente a compreensao do porque deve-se usar a divisao para resol-
ver esse tipo de problema (isso vem da afirmacao multiplicativa da Equacao (5.3)) mas,
1
tambem a descoberta do significado de 40 . Para Wu, a compreensao da divisao requer
uma base solida em multiplicacao de fracoes.
(3) T RABALHANDO A DIVIS AO DE FRAC OES POR MEIO DA INTERPRETAC AO PARTITIVA
DA DIVIS AO : Wu expoe um outro problema que pode ser trabalhado a divisao de fracoes,
so que agora com outra interpretacao para a divisao, a interpretacao partitiva.
70
Antes de resolver propriamente este problema, Wu sugere que a divisao seja motivada
pensando num problema mais simples:
Operacoes aritmeticas com numeros decimais (com um numero finito de casas decimais)
(1) D EFINIC AO DE FRAC AO COMPLEXA : uma vez que, na serie anterior, fracoes ja foram
apresentadas como o resultado de uma divisao, isto e, se m e n sao numeros inteiros,
com n 6= 0, entao m
n = m n, Wu propoe uma nova notacao para a divisao de fracoes:
m
reescrever n k` como
m
n
k
,
`
retirando o smbolo completamente. Para Wu, nao ha nenhuma razao para usar dois
smbolos quando um e suficiente e, uma vez que a notacao de fracao e o conceito de
fracao sao mais fundamentais, a opcao sera pela notacao mn .
A divisao entre duas fracoes, nesta nova notacao para a divisao, e o que Wu chama de
uma fracao complexa. Assim, se A e B sao fracoes e B 6= 0, entao A
B e uma fracao com-
plexa, onde A e B sao chamados numerador e denominador, respectivamente, da fracao
complexa. Wu ressalta que esta terminologia e consistente com o conceito usual de nu-
merador e denominador, porque uma fracao comum e tambem uma fracao complexa,
dado que se m e n sao numeros inteiros (n 6= 0), entao
m
m
= 1
n.
n 1
71
Wu mostra que o fato fundamental sobre fracoes equivalentes tambem e valido para as fra-
coes complexas, ou seja, se D e uma fracao qualquer diferente de zero, entao
DA A
= . (5.4)
DB B
A validade da Igualdade (5.4) e decorrente da regra inverter e multiplicar para a divisao
a0 b0 d0
de fracoes. De fato, considere A = a, B= b eD= d, entao
a0 d 0
DA a0 d 0 db a0 b
= da
d 0 b0
= = ,
DB db
b0 d 0 ad ab0
onde, na ultima etapa, usamos o fato fundamental sobre fracoes equivalentes. Ao aplicar
a regra inverter e multiplicar novamente, temos que
a0
a0 b A
= a
b0
= ,
ab0 b
B
o que verifica que o fato fundamental sobre fracoes equivalentes continua valido para
as fracoes complexas.
Wu considera que e suficiente olhar para alguns casos especiais, porque fica claro que
o raciocnio e completamente geral. Considere, por exemplo, 1,0027 8,5, o qual po-
1,0027
demos reescrever como 8,5 . Recordando a definicao de numeros decimais (com um
numero finito de casas decimais) como fracoes decimais, temos:
10027
1,0027 104
= 85
8,5 10
10027
104
104
= 85 4
(Igualdade (5.4))
10 10
10027
= .
85000
Assim, a divisao de 1,0027 por 8,5 e o mesmo que a divisao dos numeros inteiros 10027
por 85000.
Wu chama a atencao para o fato de que se dividimos um numero decimal (com um numero
72
finito de casas decimais) por outro, esperamos que o quociente seja expresso como um
numero decimal (com um numero finito de casas decimais) em vez de uma fracao. In-
felizmente, o quociente nao sera, na maioria das vezes, um numero decimal (com um
numero finito de casas decimais), mas um numero decimal com um numero infinito de
casas decimais, porem, esse assunto so sera tratado na proxima serie (K-7).
Porcentagem
que e, portanto,
Wu, porem, chama a atencao para o fato de que os alunos experimentam grandes difi-
culdades na aprendizagem de porcentagem. Wu considera que pode haver muitas razoes,
mas e fato que, se nao for dito aos alunos que porcentagem e mais do que uma sim-
ples ideia vaga sobre parte de 100, entao eles nao terao as ferramentas necessarias para
a aprendizagem do conceito. No entanto, Wu acredita que, com a definicao de porcen-
tagem como uma fracao complexa, e possvel desenvolver cada passo de cada uma das
74
solucoes dos problemas acima baseando-se inteiramente no que os alunos ja sabem sobre
a multiplicacao e divisao de fracoes. Isso nao e um raciocnio sutil e nao ha nenhuma
adivinhacao, afirma Wu.
Nesse captulo tentamos responder as questoes levantadas no final dos captulos anteriores a
partir das observacoes realizadas nas colecoes dos livros didaticos escolhidos (Aprender Juntos
Matematica de Roberta Taboada e Angela Leite e Matematica de Edwaldo Bianchini). Vale
salientar que, independentemente da motivacao dada pelo trabalho do Wu, consideramos que
essas perguntas sao, em si, pertinentes para o proprio ensino de fracoes.
1. Como os livros didaticos analisados definem o que e uma fracao? Eles o fazem usando
apenas metaforas e analogias?
Nossa analise: os livros nao definem fracao como um numero mas, sim, como uma
notacao de situacoes em que e preciso representar parte de um todo. Sao apresentados
apenas exemplos e, a partir desses exemplos, definem-se nomenclaturas relacionadas aos
termos de uma fracao como pode ser observado nos exemplos expostos nas Figuras 6.1 e
6.2.
Figura 6.1: Definicao apresentada para fracao (Taboada e Leite, 4o ano, p. 107).
2. Os livros didaticos analisados usam figuras geometricas ao inves de suas dimensoes (com-
primento, area, volume) como modelos de fracoes?
Nossa analise: sim. Ambas as colecoes usam figuras geometricas sem a preocupacao
de chamar a atencao para as dimensoes envolvidas. O que observamos com frequencia
76
e o uso da expressao parte pintada (ver Figura 6.3). No livro do 6o ano ainda ha um
exerccio cuja resposta sugerida no livro do professor induz o leitor a pensar erroneamente
que uma fracao so pode ser considerada quando a figura e dividida em partes de igual
forma (Figura 6.4) e que, assim, partes com formas diferentes nunca poderiam ter uma
mesma area.
Figura 6.3: Comparacao das fracoes com mesmo denominador (Taboada e Leite, 4o ano,
p. 113).
decimais) com os pontos da reta numerica (Figura 6.6). No entanto, nao ha nenhum traba-
lho posterior relacionando as fracoes com a reta numerica nos exerccios ou no desenvol-
vimento do conteudo. Nas duas colecoes, a reta numerica aparece fortemente associada,
quase que exclusivamente, aos numeros decimais.
Figura 6.5: Utilizacao da reta numerica para explicar comparacao de fracoes (Taboada e Leite,
5o ano, p. 103 e p. 105).
4. Como os livros didaticos analisados definem que duas fracoes sao iguais? Como eles
apresentam as fracoes equivalentes?
5. Como os livros didaticos analisados definem que uma fracao e menor do que outra? Como
eles ensinam a comparar fracoes? Os livros analisados apresentam a regra do produto
cruzado?
Nossa analise: na colecao dos anos finais do Ensino Fundamental I, encontramos quatro
procedimentos distintos para comparar duas fracoes: por meio visual quando as fracoes
possuem o mesmo denominador (Figura 6.3), utilizando a representacao na reta numerica
(Figura 6.5), por meio de uma comparacao de ambas com uma fracao padrao (Figu-
79
Figura 6.6: Associacao de um numero racional com um ponto na reta numerica (Bianchini,
6o ano, p. 212).
1
Figura 6.8: Comparacao de fracoes por meio da comparacao com a fracao padrao 2 (Taboada e
Leite, 5o ano, p. 172).
Figura 6.9: Comparacao de fracoes fazendo uso de fracoes equivalentes (Taboada e Leite,
5o ano, p. 173).
6. Os livros analisados passam a ideia de que toda fracao deve ser obrigatoriamente escrita
em sua forma reduzida?
7. Como os livros analisados apresentam fracoes mistas? Eles dao alguma aplicacao para
este tipo de fracao?
81
Figura 6.10: Exigencia da simplificacao de fracoes (Bianchini, 6o ano, p. 171, p. 185 e p. 191).
82
Nossa analise: no 5o ano, as fracoes mistas aparecem como uma classificacao das fracoes
quando sao apresentadas as nomenclaturas dos tipos de fracoes: proprias, improprias e
aparentes. Em sua definicao, aparece a ideia de que uma fracao mista e uma fracao que
representa mais do que um inteiro, porem sao raras as aplicacoes dessa fracao, aparecendo
apenas nos exemplos iniciais, como na Figura 6.11. Ja nos exerccios, sao exploradas
somente a escrita da fracao mista representada num modelo visual, como nos exerccios
expostos na Figura 6.12.
Figura 6.11: Apresentacao da forma mista e fracoes improprias (Taboada e Leite, 5o ano, p. 78).
Figura 6.12: Exerccios sobre formas mistas (Taboada e Leite, 5o ano, p. 82).
83
Figura 6.13: Adicao de fracoes com mesmo denominador (Taboada e Leite, 4o ano, p. 194 e
p. 195).
Figura 6.14: Exemplo de adicao de fracoes com mesmo denominador (Bianchini, 6o ano, p. 170
e p. 171).
85
Figura 6.15: Multiplicacao de um numero inteiro por uma fracao (Taboada e Leite, 5o ano,
p. 230).
Figura 6.16: Multiplicacao de uma fracao por um numero inteiro (Taboada e Leite, 5o ano,
p. 231).
Figura 6.18: Abordagem dada a multiplicacao de um numero inteiro por uma fracao e vice-
versa (Bianchini, 6o ano, p. 180 e p. 181).
Nossa analise: nao. Na verdade, o que se apresenta e a formula e, entao, ela e aplicada
com qualquer tipo de numero, sem nenhuma explicacao adicional.
13. Como os numeros decimais com um numero finito de casas decimais sao definidos?
Nossa analise: em ambas as colecoes, os numeros decimais sao definidos como uma
notacao para fracao decimal e, em seguida, eles sao apresentados na classe de ordens do
sistema de numeracao decimal, como pode ser observado nas Figuras 6.20 e 6.21.
Figura 6.20: Introducao aos numeros decimais (Taboada e Leite, 4o ano, p. 129).
Figura 6.21: Igualdade de decimais com ordens diferentes (Bianchini, 6o ano, p. 209).
14. Como os livros analisados justificam, por exemplo, que 2,70 = 2,7?
88
Nossa analise: esse tipo de igualdade e justificada pela equivalencia de fracoes decimais,
usando um modelo visual, como mostram as Figuras 6.22 e 6.21.
Figura 6.22: Justificativa para igualdade de numeros decimais em decimos e centesimos (Tabo-
ada e Leite, 4o ano, p. 154).
15. Os livros analisados justificam os algoritmos das operacoes com numeros decimais com
um numero finito de casas decimais?
Nossa analise: na colecao das series finais do Ensino Fundamental I, nao ha nenhuma
justificativa para os algoritmos das operacoes com numeros decimais. Esses algoritmos
aparecem com modelos a serem seguidos, sem nenhuma explicacao, como pode ser ob-
servado na Figura 6.23[a] . Ja no livro do 6o ano, a justificativa dos algoritmos e fundamen-
tada nas operacoes com fracoes decimais, como pode ser visto nos exemplos expostos nas
Figuras 6.24, 6.25 e 6.26.
Figura 6.23: Algoritmo da adicao com numeros decimais (Taboada e Leite, 4o ano, p. 218).
[a] A
proposito, esta figura pode sugerir que, ao se somar dois numeros decimais, as partes inteira e decimais
podem ser somadas de forma independente, o que nao e sempre o caso.
89
Figura 6.24: Justificativa da adicao de numeros decimais por meio das fracoes decimais (Bian-
chini, 6o ano, p. 213).
Figura 6.25: Justificativa da multiplicacao de numeros decimais por meio das fracoes decimais
(Bianchini, 6o ano, p. 218).
Figura 6.26: Justificativa da divisao de numeros decimais por meio das fracoes decimais (Bian-
chini, 6o ano, p. 226).
17. Como a divisao de fracoes e apresentada? E feita de casos simples para casos mais
complicados?
Nossa analise: no livro do 5o ano so e trabalhada a divisao de uma fracao por um numero
inteiro e, para isso, e usado o recurso da representacao da fracao num modelo visual de
area (Figura 6.27). A regra para a divisao de fracoes nao e mencionada. Ja no livro
do 6o ano, o estudo da divisao e dividido em tres casos: quando o divisor e um numero
natural; quando o dividendo e um numero natural e quando a divisao envolve duas fracoes
(exemplos nas Figuras 6.28, 6.29 e 6.30). Assim como na multiplicacao, apesar dessa
separacao em casos, o livro nao expoe ideias matematicas diferentes para cada situacao.
90
Em todos os casos, a finalizacao dos exemplos remete ao uso direto da regra da divisao
(sem sua explicacao).
Figura 6.27: Divisao de uma fracao por um numero inteiro (Taboada e Leite, 5o ano, p. 238).
Nossa analise: como uma regra, sem justificativa e que apenas funciona.
Nossa analise: nao e apresentado nenhum problema contextualizado para divisao de duas
fracoes, inclusive na introducao do assunto, como mostra a Figura 6.30. Nos exerccios,
a divisao entre fracoes aparece apenas em questoes de efetuar calculos diretos como
exemplificado na Figura 6.31.
Figura 6.28: Divisao envolvendo fracoes, onde o divisor e um numero natural (Bianchini,
6o ano, p. 188).
Figura 6.29: Divisao envolvendo fracoes onde o dividendo e um numero natural (Bianchini,
6o ano, p. 189).
7 Consideracoes Finais
No que se refere ao ensino de fracoes, pela analise do Common Core, percebemos uma
distribuicao gradual dos conteudos ao longo das series escolares (do K-3 ao K-6) com o desen-
volvimento de conceitos mais basicos aos mais complexos. As tabelas que seguem fazem uma
comparacao da disposicao por serie dos conteudos relacionados a fracao entre o proposto pelo
Common Core e os livros didaticos analisados.
Ao longo dos anos de experiencia enquanto docentes, temos constatado, de modo geral, que
as abordagens sobre fracoes se desenvolvem por meio de exemplos que buscam mostrar como
se faz, deixando em segundo plano (ou ate mesmo omitindo) a formalizacao e sistematizacao
dos conceitos. E, nesse ponto, destacamos a descricao minuciosa que o Common Core traz de
cada item a ser abordado por serie. E, bem diferente do que estamos acostumados a ver, nao
e mencionado apenas o conteudo a ser trabalhado, mas qual a intencao do conteudo na serie.
A nosso ver, as orientacoes do Common Core sugerem um trabalho conceitual mais sistema-
tizado e consolidado possibilitando ao aluno um aprendizado com significado e continuidade
conceitual, uma vez que percebemos uma conectividade dos conceitos ja trabalhados e compre-
endidos com os novos conceitos a serem apresentados.
Nos chama atencao a abordagem das fracoes no Commom Core estar diretamente e forte-
mente ligada a reta numerica, o que parece nao ser uma pratica comum no Brasil. Acreditamos
que tal fato tenha grande influencia do trabalho de Wu, uma vez que este foi colaborador direto
na redacao do documento.
Tabela 7.1: Comparacao da disposicao dos conteudos relacionados a fracao entre o proposto
pelo Common Core e os livros didaticos analisados no nvel K-3 (3o ano EF I).
Tabela 7.2: Comparacao da disposicao dos conteudos relacionados a fracao entre o proposto
pelo Common Core e os livros didaticos analisados no nvel K-4 (4o ano EF I).
95
Tabela 7.3: Comparacao da disposicao dos conteudos relacionados a fracao entre o proposto
pelo Common Core e os livros didaticos analisados no nvel K-5 (5o ano EF I).
96
Porcentagem.
Tabela 7.4: Comparacao da disposicao dos conteudos relacionados a fracao entre o proposto
pelo Common Core e os livros didaticos analisados no nvel K-6 (6o ano EF II).
97
Precisamos dizer claramente o que e uma fracao. Uma fracao tem de ser
um numero e, assim, a definicao de uma fracao como parte de um todo
nao serve. Os alunos precisam ver que as fracoes sao a extensao natural dos
numeros inteiros, de modo que as operacoes aritmeticas (+, , e ) com
numeros inteiros podem ser transferidas de maneira natural para as fracoes.
[ ] A definicao de uma fracao (ou, de fato, qualquer numero racional) como
um ponto na reta numerica obtido por um processo de particionamento servi-
ria admiravelmente para efetuar esta transicao.
(Wu, 2005, p. 2, traducao nossa)
Em conformidade com Wu, consideramos que o trabalho com a reta numerica pode con-
figurar-se como importante instrumento no aprendizado das fracoes. Uma vantagem imediata
da utilizacao da reta numerica e a percepcao da fracao como numero, pois toda fracao pode ser
associada a um ponto da reta numerica. Desta forma, cada fracao esta relacionada a um compri-
mento de segmento de reta, o que permite formulacoes simples e precisas de conceitos basicos
como igual, menor que, maior que e equivalencia, alem de estender naturalmente para
as fracoes varias operacoes ja apresentadas para os numeros inteiros. Nessa linha de raciocnio,
a utilizacao da reta numerica permite o trabalho com o significado das operacoes em si, enten-
dendo a adicao como juntar, subtracao como tirar, multiplicacao como a ideia da disposicao
retangular e a divisao tanto como particao em partes iguais como medida.
Por outro lado, num sentido completamente contrario a proposta de Wu, constatamos nos
livros didaticos analisados a ausencia da reta numerica como suporte para trabalhar os conceitos
relacionados a fracao. E um indcio de que tal fato nao se restringe as obras analisadas e
o exposto por Marinho (2013) em sua dissertacao de mestrado:
Entendemos que essa simples contraposicao ja evidencia que a proposta formulada por Wu,
pode trazer contribuicoes relevantes a discussao acerca do ensino e aprendizagem de fracoes.
(3) As regras das operacoes aritmeticas com fracoes sao apresentadas sem
relaciona-las as regras das operacoes com numeros inteiros, com os quais
os alunos tem familiaridade.
(4) Em geral, explicacoes matematicas de quase todos os aspectos essenci-
ais do conceito de fracao ficam faltando.
(Wu, 2001, p. 118, traducao nossa)
Na analise dos livros didaticos, percebemos que a introducao do conceito de fracao e feita
de modo bastante superficial. De modo geral, a abordagem dos livros se desenvolve por meio
de exemplos, como se estes fossem suficientes para promover a compreensao do conceito de
fracao. Por certo, apenas exemplos nao sao suficientes para que um aluno do Ensino Funda-
mental compreenda as fracoes como um numero de forma a ampliar os conjuntos numericos ja
conhecidos.
Nao encontramos nos livros analisados nenhuma relacao das operacoes envolvendo fracoes
com as operacoes ja conhecidas com os numeros naturais. A apresentacao e explanacao das
operacoes aritmeticas com fracoes tambem e desenvolvida somente com exemplos e tal desen-
volvimento pressupoe que seja possvel compreender o conceito matematico seguindo os passos
apresentados nos exemplos. Mais ainda, o desfecho das operacoes se resume na aplicacao direta
de algoritmos sem, ao menos, uma justificativa dos procedimentos adotados.
Em relacao ao que e proposto por Wu, queremos fazer uma consideracao sobre a abordagem
com os numeros mistos. A enfase dada aos numeros mistos por Wu faz sentido no contexto
americano, uma vez que as unidades de medida nos EUA sao as do Sistema Imperial Britanico
que faz um uso significativo dos numeros mistos. Em contrapartida, no Brasil, entendemos que
nao ha tanta relevancia em se trabalhar com os numeros escritos na forma mista, uma vez que
encontramos poucas aplicacoes praticas nessa utilizacao.
Nao coube a esse trabalho investigar quais sao as problematicas existentes no ensino de
fracoes, mas gostaramos de mencionar nossa inquietacao quanto a questao da formacao do
professor, o qual consideramos agente disparador de qualquer avanco ou modificacao no ensino.
Wu enfatiza que o conceito de fracao nao e algo simples, concordando com a pesquisadora
Liping Ma:
99
Uma outra observacao e que nao importa qual seja a melhoria curricular,
pois, em ultima analise, a sua implementacao cabe ao professor na sala de
aula. O livro pioneiro de Liping Ma, Saber e Ensinar Matematica Elemen-
tar, acabou com o mito de que a matematica elementar e simples. Em ne-
nhum lugar, a observacao de Ma e mais evidente do que no ensino de fracoes.
As fracoes sao difceis, nao so para os alunos, mas tambem para os seus pro-
fessores, que, em sua maior parte, sao as proprias vtimas de uma educacao
matematica pobre.
(Wu, 2001, p. 7, traducao nossa)
Em especial, queremos salientar que o conceito de fracao, sendo ministrado nas series ini-
ciais, fica, em sua maioria, a cargo de professores nao especialistas em Matematica e mesmo
os professores que possuem formacao matematica, frequentemente, se veem diante do problema
de desenvolver sua acao pedagogica a partir de uma formacao na qual uma serie de questoes
fundamentais na pratica escolar nao foram discutidas.
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tematica Ensino Fundamental Anos Iniciais. Secretaria de Educacao Basica, Ministerio da
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ponvel em: <https://math.berkeley.edu/wu/NCTM2005a.pdf>. Acessado em: marco de
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