Simulação Aves Festivas
Simulação Aves Festivas
Simulação Aves Festivas
1. Introduo
O Brasil se firma como um importante produtor, consumidor e exportador de carne de
frango. O consumo per capita passou de 29,91 kg em 2000 para 45 kg em 2012, sendo que a
produo brasileira saltou de 5,98 milhes de toneladas em 2000 para 12,64 milhes de
toneladas em 2012. Minas Gerais correspondeu a 7,2% da produo de carne de frangos no
Brasil e 69% da produo brasileira foi destinada ao mercado interno (UBABEF, 2013).
Considerando o mercado de carnes como um todo, a demanda por carne de frango foi a que
mais cresceu nos ltimos anos.Em parte, este aumento pode ser explicado pela regularidade
da oferta, resultando em maior estabilidade de preos, o que a torna mais atrativa sob este
ponto de vista. Em sentido contrrio, a carne bovina, altamente dependente das pastagens,
sofre queda na oferta e aumento de preos durante a entressafra. Outra razo foi que, com o
aumento da renda, as famlias das classes C, D e E passaram a consumir mais protena animal,
notadamente carne de frango, substituindo parte do consumo das protenas vegetais (JESUS
JNIOR et al., 2007).
Um importante nicho de mercado cujas principais empresas do setor de carne de
frango esto cada vez mais focadas o de aves natalinas.Os produtos natalinos possuem
aumento de demanda ano aps ano, reflexo do crescimento da renda dos consumidores nos
ltimos anos (TIPA JNIOR, 2011), caracterizando um mix com alto valor agregado e boas
margens de lucro.
Segundo Souza (2012), as aves natalinas j representam 50% das vendas em produtos
destinados ceia de Natal. Os supermercados estimam um crescimento de 6,6% nas vendas
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de aves festivas em 2013, com preos que variam de R$ 5,00 a R$ 20,00 o quilo, na tentativa
de ampliar o acesso dos consumidores a estes itens.
Para a produo das aves, os grandes abatedouros de aves utilizam linha de abate
automatizadas de grande escala, seguindo o modelo fordista de produo. Estas linhas
permitem a produo de frangos com alto grau de padronizao, oferecendo ao mercado um
produto de maior valor agregado (JESUS JNIOR et al., 2007).
Contudo, moldar uma linha produtiva in loco caracteriza-se com demasiado custo de
capital. Pensando nisto, buscam-se as tcnicas de simulao, as quais so utilizadas tanto para
projeto e avaliao de novos sistemas, como para reconfigurao fsica ou mudanas no
controle e/ou regras de operao de sistemas existentes. As suas aplicaes, segundo Chwif e
Medina (2007), tm crescido em todas as reas, auxiliando os gestores na tomada de deciso
em problemas complexos e possibilitando um melhor conhecimento dos processos nas
organizaes. A grande variedade de softwares de simulao disponveis no mercado, alguns
especficos para determinados processos, outros de carter mais generalista, favorecem a
aplicao da simulao de uma forma geral. A competio entre as empresas fabricantes
de softwares de simulao tem impulsionado o lanamento de "pacotes" cada vez mais
poderosos que oferecem novas facilidades tais como ferramentas de suporte ao processo de
modelagem, recursos de anlise estatstica e interfaces grficas intuitivas (user-friendly)
(SAKURADA e MIYAKE, 2009).
Diante deste contexto, o artigo tem como objetivo geral avaliar a melhor forma de
balanceamento do processo, de forma a se otimizar a ocupao dos postos de trabalho, diante
de cenrios. Como objetivos especficos, tm-se: montar o modelo conceitual e
computacional da linha produtiva; introduzir os cenrios e avaliar o melhor dentre eles para o
objetivo geral; propor a implantao de tal ambiente no meio industrial.
Justificando o estudo, tm-se o pequeno nmero de pesquisas em processos de
produo de aves voltadas para a grande rea de pesquisa operacional. Na parte de
modelagem e simulao, foram encontrados poucos trabalhos voltados para o processo
avcola, sendo um deles elaborado por Ebert e Villas Boas (2009), que simulou a dinmica de
atividades de um matadouro-frigorfico de aves. No existem indcios de trabalhos voltados
para a modelagem e simulao de processos de aves festivas, sendo que esse artigo poder
abrir espao para estudos futuros desse tipo peculiar de produto, pois praticamente todas as
grandes empresas possuem aves natalinas no seu portflio de produtos.
A modelagem e simulao ajuda na obteno de um maior conhecimento sobre a
forma de operao do sistema, no desenvolvimento de polticas operacionais e recursos para
aperfeioar o processo, no teste de novos conceitos e/ou sistemas antes de implemet-los e na
obteno de informaes sem incomodar o sistema atual (MIGUEL et al., 2012). Por essa
razo, foi escolhida este mtodo de pesquisa para a conquista dos objetivos desse artigo.
Sobre a estrutura deste trabalho, ele conta com uma reviso terica acerca de
modelagem e simulao de sistema, comenta sobre o processo de produo de aves natalinas,
d-se uma viso geral sobre a empresa em estudo e modela-se o ambiente. Aps isso,
simulaes so realizadas e seus resultados so avaliados, propondo melhorias no sistema em
estudo de acordo com os objetivos j relatados. A simulao ser realizada no processo ps-
resfriamento, no contemplando as operaes de recepo de aves, abate e eviscerao.
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2. Reviso Terica
2.1 Modelagem e Simulao
Segundo Miguel et al. (2012), a modelagem e simulao o processo de criar e
experimentar um sistema fsico atravs de um modelo matemtico computadorizado. Um
sistema pode ser definido como um conjunto de componentes ou processos que se interagem e
que recebem entradas e oferecem resultados para algum propsito. Tambm afirmam que a
simulao computacional a representao de um sistema real por meio de um modelo sob
utilizao de um computador, trazendo a vantagem de se poder visualizar esse sistema,
implementar mudanas e responder a testes do tipo o que aconteceria se (what-if),
minimizando custos e tempo. Desse modo, o objetivo da simulao estudar o
comportamento de um sistema, sem que seja necessrio modific-lo ou mesmo constru-lo
fisicamente.
Os passos a seguir so geralmente recomendados como linha guia para estudos de
simulao: 1) Planejamento do estudo; 2) Definir o sistema; 3) Construir o Modelo; 4) Rodar
experimentos; 5) Analisar os outputs; 6) Fazer relatrio dos resultados. Montevechi et al.
(2010), resume e prope uma sequncia de passos para projetos de simulao com base nas
trs grandes etapas defendidas por Chwif e Medina (2007): concepo ou formulao do
problema, implementao do modelo e anlise dos resultados do modelo/projeto de
simulao, conforme apresenta a Figura 1.
Este mesmo passo-a-passo ser utilizado nesta pesquisa, como embasamento metdico
para seu desenvolvimento e concluses.
2.2 Balanceamento de linha de produo
Para o balanceamento da linha, deve-se, em primeiro lugar, determinar o tempo de
ciclo. O tempo de ciclo (TC) expressa a frequncia com que uma pea deve sair da linha, ou
em outras palavras, o intervalo de tempo entre duas peas consecutivas e representado pela
Equao (1).
TC= Tempo de Produo / Quantidade de peas no tempo de produo Eq.(1)
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Figura 1 - Sequncia de passos para um projeto de simulao
Fonte: Adaptado de Montevechi et al. (2010)
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Tabela 1 - Classificao das Aves Festivas
Tipo Varejo KIT 1 KIT 2 KIT 3
Peso Acima de 3,6 kg Entre 2,8 e 3,0 kg Entre 3,0 e 3,4 kg Entre 3,4 e 3,6 kg
Como a linha multiprodutos (produtos para varejo e produtos para kit), foi realizada
uma ponderao dos tempos padres de cada setor produtivo de acordo com a taxa de
utilizao da linha para cada tipo de produto, ou seja, de acordo com o tempo e quantidade de
cada um dos produtos, especificou-se o tempo padro geral da linha, conforme apresentado na
Tabela 3.
J a Tabela 4 resume estas informaes e compila, em conjunto, os dados do objeto de
estudo desta pesquisa. Com base nos dados obtidos, foi possvel efetuar o clculo dos
indicadores abaixo:
a) Tempo de ciclo: A cada 0,99 segundo, uma ave festiva precisa ser produzida;
b) Nmero Terico de Operadores: So necessrias 39 pessoas na teoria para se realizar a
produo do festivo;
c) Eficincia da linha: Com o nmero atual de colaboradores (66), a linha possui 60,94%.
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ciclos so iguais ao tempo de ciclo do processo, indicando o perfeito balanceamento do
processo.
Tabela 3 - Tempo padro de linha multiproduto
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para o modelo computacional, sem quaisquer danos que possam prejudicar a validade dos
dados, sendo construdo por meio dos seguintes passos:
I. Criao de Locais: Os locais criados foram: Rependura, Cuba 1 e 2, Injetora 1 e
2, Cuba de midos 1 e 2, Embalagem 1 e 2 (unificado o processo de colocar
termmetro, embalar e selar devido a restrio ao nmero de locais), Acomodao
na balana classificadora, Balana Classificadora, Grampear rede, Colocar rede,
Pesar e etiquetar varejo, Pesar e etiquetar kit de 3,0 a 3,4 kg, Pesar e etiquetar kit
de 2,8 a 3,0 e 3,4 a 3,6 kg, Esteira de entrada do tnel, Tnel de Congelamento,
Sala de Cortes. Foram consideradas as capacidades da balana classificadora (uma
ave), injetora (trs aves), esteira de entrada do tnel (cem aves). Os demais locais
foram considerados com capacidade infinita.
II. Criao de chegadas: Em um turno com tempo disponvel de 488 minutos,
existem chegadas contnuas de uma carcaa de frango na rependura a cada 0,71
segundos.
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Figura 3 - IDEF-SIM do processo de produo de aves festivas (Continuao)
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criada foi referente aos refugos que retornam da embalagem secundria para a
embalagem primria.
IV. Criao de redes de caminhos: Como a maioria dos operadores trabalha de
forma esttica e os processos realizados pelos operadores que transitam no so
alvo de estudo do artigo, no foram criadas redes de caminho para o modelo.
V. Criao dos processos: Os processos foram criados conforme o modelo
conceitual da Figura 2. Processos de entregas de embalagens e da produo de
midos que compem o produto festivo no foram abordados nesse modelo
computacional por no serem objeto de estudo do artigo.
VI. Criao do tempo de simulao: Foi simulado um turno de produo com tempo
disponvel de 488 minutos (29280 segundos), j computadas paradas para refeio
e pausas psicoergonmicas.
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IV. Cenrio 4 - Simulao do processo com ajustes no quadro de MO devido ao duplo layout,
com 47 pessoas.
V. Cenrio 5 - Simulao do processo com 39 pessoas e apenas 1 injetora capaz de processar
3 carcaas ao mesmo tempo.
VI. Cenrio 6 - Simulao do processo com 39 pessoas e apenas 1 injetora capaz de processar
6 carcaas ao mesmo tempo.
Como a linha de produo possui uma parte do processo duplicada em funo da falta
de capacidade das injetoras, o cenrio 4 teve simulao com o nmero de colaboradores
conforme a Tabela 6 e os resultados de cada ambiente resumidos na Tabela 7.
Tabela 6 - Reajuste dos postos operativos devido s restries de Layout
Pesar e Etiquetar
Pesar e Etiquetar
Cuba de midos
Granpear Rede
Posicionar na
Colocar rede
Termmetro
Inspecionar
Rependura
Embalar
TOTAL
Colocar
balana
Varejo
Selar
Kit
Setor
Nmero de
4 2 6 4 6 6 2 4 2 4 7 47
Colaboradores
5. Concluses
Em um perodo de extrema competitividade e forte presso em reduo de custos, a
simulao firma-se como uma poderosa ferramenta de apoio tomada de deciso e
otimizao de processos, visto seu custo de implantao ser relativamente baixo, bem como a
possibilidade de se ter resultados precisos sem a necessidade de ajustes no sistema fsico.
A coleta de dados uma etapa extremamente importante para o processo de
modelagem, visto que qualquer erro pode ocasionar a invalidao do modelo e levar a
concluses incorretas.
Com o layout atual, as reas de pesar varejo e colocar rede so os setores com
maior porcentagem de utilizao, indicando a necessidade de se realizar estudos de tempos e
mtodos para reduzir o tempo de realizao dessas atividades. As injetoras esto ociosas, no
sendo utilizadas em todo o seu tempo.
Analisando os resultados, verifica-se que o cenrio n 6 o ideal para a empresa em
estudo, visto atender s metas de produo, reduzir o estoque em processo e permitir a
reduo de 25 pessoas/turno no processo de produo, obtendo ganhos de R$92 mil reais/ms.
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Para isso, necessrio ajustar o equipamento de injeo, aumentando o nmero de agulhas e
consequentemente a velocidade da esteira da injetora.
Devido ao layout da rea de pesagem de kits e varejos, no possvel trabalhar com o
nmero de pessoas encontrado pelo clculo do balanceamento, pois os colaboradores no
conseguem se deslocar facilmente para atender a demanda de pesagem dos diferentes
produtos. necessrio adequar o arranjo fsico para clulas de manufatura.
Outro cuidado necessrio refere-se s questes ergonmicas. As tarefas exigem
esforo fsico e a reduo do quadro de lotao pode ocasionar problemas musculares
decorrentes do esforo repetitivo. vital uma avaliao ergonmica e ajuste de todos os
postos de trabalho antes da reduo de mo de obra, evitando problemas com reclamatrias
trabalhistas, absentesmo e turnover.
Como sugesto para trabalhos futuros, a empresa poder avaliar se o aumento da
capacidade dos outros locais acarretar em aumento de produo.
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