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Técnicas de Primitivação

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Calculo Diferencial e Integral I (2012/13) - Seccao 3.

Seccao 3.5. Tecnicas de Primitivacao


Como se viu, o calculo de integrais reduz-se ao calculo de primitivas. Torna-se pois
necessario aprender mais algumas tecnicas de primitivacao. Ate agora, sabe-se apenas
fazer as primitivas ditas imediatas.

I) Primitivas Imediatas:
Z
u0 f (u) dx = F (u(x)) + C C R,
onde F e uma primitiva de f que e conhecida (em intervalos).

As tecnicas estudadas de seguida incluem primitivacao por partes, de funcoes racionais


e por substituicao. Convem no entanto observar que ha funcoes que nao sao elemen-
tamente primitivaveis, ou seja, que nao se conseguem primitivar com nenhum destes
2
metodos. Sao exemplo disto as funcoes ex , sin(x2 ), cos(x2 ). Veremos no Captulo IV
como as primitivar usando series.

II) Primitivas por partes


Sejam u, v : I R funcoes diferenciaveis num intervalo I R. Pela derivada do
produto, tem-se
(uv)0 = u0 v + uv 0 u0 v = (uv)0 uv 0 .
Primitivando, obtem-se
Regra de primitivacao por partes:
Z Z
0
u v dx = uv uv 0 dx

Exemplos
Z
x2 Z 2
x 1 x2 Z
x x2 x2
1) x log x dx = log x dx = log x dx = log x + C, C R.
2
2 2 x 2 2 2 4
(u0 = x, u = x2 ; v = log x, v 0 = x1 )
Z Z Z
1 Z
2) log x dx = 1. log x dx = x log x x dx = x log x 1 dx = x log x x +
x
C, C R. (u0 = 1, u = x; v = log x, v 0 = x1 )
Z Z
x x
3) x e dx = xe 1.ex dx = xex ex + C, C R (u0 = ex , u = ex ; v = x, v 0 = 1).
Z Z
x x
4) e cos x dx = (partes) e cos x + ex sin x dx = (partes) ex cos x + ex sin x
Z
ex cos x dx. Passando a ultima parcela para o lado esquerda da identidade, vem
Z Z
1
2 e cos x dx = e cos x + e sin x + C, C R ex cos x dx = ex (cos x + sin x) +
x x x
2
C, C R.

1
Nota. Por vezes, usa-se a regra de primitivacao por partes varias vezes consecutivas.
Por exemplo, para calcular P (x2 ex ) ou P (ex cos x) usa-se duas vezes.

A primitivacao por partes na formula de Barrow da origem a


Z b h ib Z b
u0 v dx = uv uv 0 dx
a a a

Exemplos.
Z 1 Z 1 h i1 Z 1 1
5) arctan x dx = 1. arctan x dx = (partes) x arctan x x dx = arctan 1
0 0 0 0 1 + x2
1 Z 1 2x 1h 2 1
i 1
arctan 0 2
dx = log(1 + x ) = log 2.
2 0 1+x 4 2 0 4 2
Z 2/2 Z 2/2 h i 2/2 Z 2/2 x
6) arcsin x dx = 1. arcsin x dx = (partes) x arcsin x dx =
0 0

0 0 1 x2
s
2 h i 2/2 2 1 2 2
+ 1 x2 = + 1 1= + 1.
2 4 0 8 2 8 2

III) Primitivas de funcoes racionais


Sejam P (x), Q(x) dois polinomios e considere-se

P (x)
f (x) =
Q(x)

num intervalo do seu domnio, Df = {x R : Q(x) 6= 0}.

Passo 1. Se grau P grau Q, comecar por efectuar a divisao de P (x) por Q(x) e
P (x) R(x)
extrair a parte inteira: = S(x) + , onde S(x) e a parte inteira e R(x) o
Q(x) Q(x)
resto.
Exemplo.
x2 + x + 3 5 x2 + x + 3 x2
 
Tem-se = x+2+ (verificar!), pelo que P = + 2x +
x1 x1 x1 2
5 log |x 1| + C, C R.

O problema fica reduzido a considerar a situacao em que grau P < grau Q.

Passo 2. Determinar (se possvel) os zeros de Q(x) e factorizar Q(x).


Exemplo. Com Q(x) = x3 + 5x2 + 4x vem Q(x) = x(x2 + 5x + 4) e, pela formula
resolvente, facilmente se acham as outras duas razes de Q(x), que sao 4, 1. Assim,
Q(x) = x(x + 4)(x + 1).

Passo 3. Metodo dos Coeficientes Indeterminados

Caso 1. grau Q(x) = n e Q(x) tem n razes reais e distintas 1 , 2 , . . . , n .

2
Para Q(x) = an xn + + a1 x + a0 , vem Q(x) = an (x 1 ) . . . (x n ).
Procuram-se constantes A1 , A2 , . . . , An tais que

P (x) A1 A2 An
= + + + .
Q(x) x 1 x 2 x n
Z
Ai
Note-se que, para cada uma destas parcelas: dx = Ai log |x i | + C.
x i
2x + 1
Exemplo. Primitivar (num intervalo do domnio).
x2
+ 5x + 4
Viu-se no exemplo acima que x2 + 5x + 4 tem razes 4, 1, pelo que x2 + 5x + 4 =
(x + 4)(x + 1). Procuram-se coeficientes (indeterminados ) A, B tais que
2x + 1 2x + 1 A B
= = + . (1)
x2 + 5x + 4 (x + 4)(x + 1) x+4 x+1

De (1), reduzindo ao mesmo denominador obtem-se a equacao

2x + 1 = A(x + 1) + B(x + 4). (2)

De (2), com x = 1 vem 2 + 1 = 3B B = 1/3; e com x = 4, vem 8 + 1 =


3A A = 7/3. De (1), vem agora
2x + 1 7  1  1  1  7 1
 
P 2
= P P = log |x+4| log |x+1|+C, C R.
x + 5x + 4 3 x+4 3 x+1 3 3

Caso 2. Q(x) tem k razes todas reais, mas algumas multiplas.


Se 1 , 2 , . . . , k sao as razes com multiplicidades m1 , m2 , . . . , mk , entao Q(x) = an xn +
+ a1 x + a0 tem a forma Q(x) = an (x 1 )m1 . . . (x k )mk .
Para cada factor da forma (x )m procuram-se m constantes a determinar de forma
a
A1 A2 Am
+ 2
+ + .
x (x ) (x )m
Z
A1 Z
Ar (x )r+1
Note-se que dx = A1 log |x | + C e dx = A r + C,
x (x )r r + 1
para r > 1.
Na maioria dos exemplos, consideraremos apenas o caso m = 2, mas o tratamento do
caso m > 2 e como acima. As razes simples sao tratadas como no caso 1.
Exemplo.
1x
Primitivar .
2(x + 2)2
Procuram-se coeficientes A e B tais que

1x A B 1x 2A(x + 2) + 2B
= + = , (3)
2(x + 2)2 x + 2 (x + 2)2 2(x + 2)2 2(x + 2)2

3
donde se obtem
1 x = 2A(x + 2) + 2B (4)
De (4), com x = 2 vem 3 = 2B, logo B = 3/2; e, escolhendo por exemplo x = 0, vem
1 = 4A + 2B 1 = 4A + 3 A = 1/2. Usando (3), tem-se
Z
1x Z
1/2 Z
3/2 1 3
2
dx = dx + 2
dx = log |x + 2| (x + 2)1 + C.
2(x + 2) x+2 (x + 2) 2 2

Caso 3. Q(x) tem algumas razes complexas.


As razes reais de Q(x) sao tratadas como nos casos 1 e 2.
Quando ha razes complexas, eles aparecem aos pares de numeros complexos conjuga-
dos, pois, como os coeficientes de Q(x) sao reais, se z e um complexo e Q(z) = 0, entao
tambem Q(z) = 0.
Para o tratamento de razes complexas, estudar-se-a apenas a situacao de um par de
razes complexas conjugadas, correspondente a existir um factor de Q(x) da forma
Q1 (x) = ax2 + bx + c com = b2 4ac < 0. Neste caso, escreva-se Q1 (x) na forma

Q1 (x) = a[(x )2 + 2 ] ( > 0). (5)

Com P (x) = Ax + B, tem-se:


" #
P (x) 1 Ax + B 1 A 2(x ) A + B
= 2 2
= 2 2
+ .
Q1 (x) a (x ) + a 2 (x ) + (x )2 + 2

Cada uma das parcelas e agora primitivavel, pois


Z
2(x )
dx = log((x )2 + 2 ) + C,
(x )2 + 2
1 x 
Z
1 1 Z 1 1Z 1
dx = dx = dx = arctan +C.
(x )2 + 2 2 ( x
2
)2 + 1 ( x

)2 + 1

Note-se a situacao particular em que a = 1, = 0:

P (x) Ax + B Ax B
= 2 2
= 2 2
+ 2 ( > 0),
Q1 (x) x + x + x + 2

donde
x
Z
P (x) AZ 2x BZ A 2 2 B x
dx = dx+ dx = log(x + )+ arctan +C.
Q1 (x) 2 x2 + 2 ( x )2 + 1 2

Exemplos.
1 3x
1) Primitivar . Tem-se:
x2 + 1

4
Z
1 3x Z
3x Z
1 3
2
dx = 2
dx + 2
dx = log(x2 + 1) + arctan x + C, C R.
x +1 x +1 x +1 2

x + 21
2) Primitivar 2 .
x 2x + 4
E facil verificar que x2 2x + 4 nao tem razes reais. Escreva-se este polinomio na
forma (5): x2 2x + 4 = x2 2x + 1 1 + 4 = (x 1)2 + 3. Entao:
Z
x + 21 Z
x + 21 1 Z 2(x 1) + 2 + 1
dx = dx = dx
x2 2x + 4 (x 1)2 + 3 2 (x 1)2 + 3
!
1 Z 2(x 1) Z
3
= dx + dx
2 (x 1)2 + 3 (x 1)2 + 3
1 1Z 1
= log(x2 2x + 4) + x1 dx
2 2 ( 3 )2 + 1

1 2 3 x1
= log(x 2x + 4) + arctan( ) + C.
2 2 3

IV) Primitivacao por substituicao

Sejam I, J intervalos de R, f : I R uma funcao contnua e u : J I uma funcao


diferenciavel e injectiva.
Em I) (primitivas imediatas), viu-se que
Z
u0 f (u) dx = F (u(x)) + C C R,

onde F e uma primitiva de f (que se sabe calcular).

Suponha-se agora Zque nao e conhecida uma primitiva F (x) de f (x) em I, mas que se
pretende calcular f (x) dx.

Regra de primitivacao por substituicao:

Mudanca de variavel x = u(t): se F for uma primitiva de f (que se pretende determi-


nar),entao 
0
F (u(t)) = F 0 (u(t)) u0 (t) = f (u(t)) u0 (t)
Z Z
f (x) dx = f (u(t)) u0 (t) dt , (6)

onde em (6) a variavel t deve ser substituda por u1 (x).


dx
Nota. Em (6), e util a mnemonica seguinte: com x = u(t), tem-se = u0 (t), e
dt
passa-se do integral do lado esquerdo para o do lado direito escrevendo dx = u0 (t) dt.

5
Com uma substituicao, o objectivo e obter uma funcao f (u(t)) u0 (t), cujas primitivas
se saibam calcular. Este metodo e muito eficaz quando se conhecem algumas receitas,
i.e., substituicoes aconselhadas. De seguida, veremos apenas algumas das muitas substi-
tuicoes tpicas.

Primitivacao de funcoes que envolvem radicais:



x: substituicao x = t x = t2 (para x 0); dx = 2t dt

ax + b: substituicao ax + b = t ax+b = t2 x = a1 (t2 b) (para ax+b 0);
dx = 2ta dt

3 x: substituicao 3 x = t x = t3 ; dx = 3t2 dt

p x = x1/p : substituicao p x = t x = tp ...
x1/p , x1/q : substituicao x = tk , onde m.m.c.(p, q) = k.

Exemplos.
x Z
1) Calcular dx.
x + 1
Com a substituicao x = t x = t2 (x > 0), vem dx = 2t dt e
Z
x Z
t Z
t2
dx = .2t dt = 2 dt. Para primitivar esta funcao racional,
x+1 t2 + 1 t2 + 1 2
efectua-se primeiro a divisao dos dois polinonios: t2t+1 = 1 t21+1 . Vem agora
Z
t2 Z
1
2 2
dt = 2 (1 2 ) dt = 2(t arctan t) + C = (note-se que t = x)
t + 1 t +1
2( x arctan x) + C.
Z
x+1
2) Calcular dx. e

Com a substituicao x + 1 = t x + 1 = t2 x = t2 1 (x > 0), vem dx = 2t dt e
Z Z
x+1
e et .2t dt = (por partes, com u0 = et , u = et e v = 2t, v 0 = 2) =
dx =
Z
2te 2 et .1 dt = 2tet 2et + C = 2et (t 1) + C = 2e x+1 ( x + 1 1) + C, C R.
t

Z
1
3) Para calcular dx, deve fazer-se a substituicao x = t4 .
x+ 4x

Primitivacao de funcoes que envolvem termos em ex ou radicais de ex :

ex : substituicao ex = t x = log t (para t 0); dx = 1t dt



ex = ex/2 : substituicao ex/2 = t x/2 = log t x = 2 log t ; etc.
ex/p , ex/q : substituicao ex = tk , onde m.m.c.(p, q) = k.

Exemplo. Z
dx
4) Calcular dx.
ex/2 + ex

6
Substituicao ex/2 = t x/2 = log t x = 2 log t (t > 0); dx = 2t dt. Vem,
Z
dx Z
1 2 Z
1
x/2 x
dx = 2
. dt = 2 2
dt. Pelo metodo dos coeficientes inde-
e +e t+t t t (1 + t)
terminados, procuram-se agora constantes A, B, C tais que
1 A B C
= + 2+ ,
t2 (1 + t) t t t+1
o que transforma o integral dado em 3 integrais que se primitivam de imediato (exer-
ccio).

Primitivacao de funcoes polinomiais em log x (e eventualmente potencias de x):

log x: substituicao log x = t x = et (x > 0)


Primitivacao de funcoes envolvendo a2 x2 (ou potencias de x a2 x2 ):

a2 x2 , para |x| < a: substituicao x = a sin t com t ]/2, /2[; dx = a cos t dt

Integracao por substituicao:

Teorema. Sejam J, I intervalos de R, u : J I diferenciavel, f : I R contnua.


Tem-se Z b Z
f (x) dx = f (u(t)) u0 (t) dt, onde a = u(), b = (u().
a

Nota. Em integrais, no metodo de substituicao e necessario mudar os limites de


integracao. Em contrapartida, nao e necessario inverter a funcao u, para apresentar
o resultado na variavel original x = u1 (t).

Exemplos.
Z e2
log x
5) Calcular dx.
1 x(1 + log2 x)
Substituicao: log x = t x = et (x > 0); vem dx = et dt. Com x = 0, vem t = 1; com
x = e2 , vem t = 2.
Z e2 Z 2 2
log x t 1 Z 2 2t 1 1

t 2
2 dx = t 2
. e dt = 2
dt = log(1+t ) = log 5.
1 x(1 + log x) 0 e (1 + t ) 2 0 1+t 2 0 2
Z 1/2
6) Calcular 1 x2 dx.
0
Substituicao x = sin t; dx = cos t dt. Para x = 0,vem t = 0, e para x = 1/2, vem
t = /6. Por outro lado, 1 x2 = 1 sin2 t = cos2 t = | cos t| = cos t. Logo,
Z 1/2 Z Z 
6 1 + cos(2t) t sin(2t) 6

6
2
1 x dx = cos t. cos t dt = dt = + = +
0 0 0 2 2 4 0 12
sin(2/6) 3
= + .
4 12 8

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